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UNIVERSI DADE CA NDI DO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PR OJETO A VEZ DO MESTRE Respon sabilidade Tributária nas Sociedade s Limitadas Por: Marcos Alexandre da Costa Orientador Prof.ª Cláudia Gurgel Rio de Janeiro 2006

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Responsabilidade Tributária nas Sociedades Limitadas

Por: Marcos Alexandre da Costa

Orientador

Prof.ª Cláudia Gurgel

Rio de Janeiro

2006

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA NAS SOCIEDADES

LIMITADAS

Apresentação de monografia à Universidade

Cândido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito

Tributário.

Por: Marcos Alexandre da Costa

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Dedico este trabalho monográfico, bem como a

conclusão do curso de Pós-graduação em

Direito Tibutário,

a Deus, por sua luz e presença,

e a todos àqueles a quem amo e que, por

fazerem parte do meu percurso, apoiaram-me

e compreenderam-me nos momentos de

ausência e me incentivaram nos momentos de

desânimo.

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RESUMO

A definição da responsabilidade tributária dos sócios nas sociedades limitadas

ganha importância capital no ordenamento jurídico, pois, trata-se da preservação de

direitos patrimoniais que podem ser atingidos, caso haja o descumprimento de deter-

minada obrigação tributária pelo sujeito passivo. A individualização da responsabili-

dade deve ser precisa, a fim de manter a incolumidade do Princípio da Legalidade um

dos pilares de todo o sistema tributário pátrio, mantendo a segurança jurídica da

relação tributária do contribuinte com a Fazenda Pública.

Objetivou-se no presente trabalho realizar uma análise investigativa sobre a

natureza jurídica da responsabilidade tributária dos sócios de uma sociedade limitada,

onde buscou-se sintetizar as diversas correntes doutrinárias e jurisprudenciais em face

da responsabilidade encampada no CTN, tais como responsabilidade solidária e obje-

tiva, responsabilidade supletiva, responsabilidade por substituição e pessoal. Para

tanto, deu-se ênfase aos critérios e aos princípios constitucionais utilizados para deter-

minação da imputação da responsabilidade tributária na sociedade limitada, realizando

uma análise sistemática e teleológica da responsabilidade de terceiros, individuali-

zando e colocando em discussão os pressupostos necessários para a sua imputação

ao sócio gerente.

Ao longo da análise da imputação da responsabilidade tributária, será feito um

estudo minucioso sobre a dissolução irregular da empresa e a presunção de responsa-

bilidade dos sócios sobre as dívidas tributárias, busca na jurisprudência e na doutrina,

as posições mais adotadas pelos Tribunais, bem como, os reflexos no campo pro-

cessual, na formação do título executivo, no redirecionamento da execução fiscal para

o sócio gerente bem como a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade

jurídica no Direito Tributário.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................06

CAPÍTULO I - RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA: CARACTERIZANDO O

“TERCEIRO” RESPONSÁVEL..........................................................................09

1.1 O sentido do termo responsável..................................................................09

1.2 O responsável como terceiro.......................................................................11

1.3 Sujeito passivo da obrigação principal e sanções pecuniárias....................13

1.4 Sujeito passivo responsável........................................................................15

1.5 Terceiro responsável e responsabilidade do contribuinte............................17

1.6 Responsabilidade pessoal de terceiros.......................................................18

CAPÍTULO II - RESPONSABILIDADE DE SÓCIOS DE PESSOAS JURÍDI-

CAS E REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO FISCAL................................20

2.1 Fundamento constitucional da responsabilidade tributária.........................20

2.2 Relação da norma tributária com a norma introdutória de responsabili-

dade...................................................................................................................21

2.3 A Responsabilidade Tributária dos Sócios e a interpretação do art. 135

à luz do CTN......................................................................................................25

2.4 Sobre o artigo 134, inc. VII, do CTN............................................................29

2.5 O artigo 135, inc. I, do CTN.........................................................................30

CAPÍTULO III - A RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA DOS SÓCIOS DA

SOCIEDADE LIMITADA....................................................................................37

3.1 Pessoa jurídica............................................................................................37

3.2 Princípio da separação patrimonial.............................................................41

3.3 Conceito de pessoa jurídica........................................................................42

3.4 Função social da pessoa jurídica................................................................44

3.5 Distinção entre tipos societários e entre o ato do administrador e da

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pessoa jurídica...................................................................................................47

3.6 O não pagamento de tributo como infração à lei.........................................55

3.7 O sócio-gerente e sua responsabilidade na liquidação de sociedades de

pessoas.............................................................................................................58

CAPÍTULO IV - A TEORIA DA DESPERSONIFICAÇÃO DA PERSONALI-

DADE JURÍDICA NO DIREITO TRIBUTÁRIO..................................................63

4.1Origem da teoria da desconsideração da pessoa jurídica...........................63

4.2 O direito tributário e a desconsideração da personalidade jurídica............65

4.3 Imputação de responsabilidade, separação patrimonial e aplicação.........66

4.4 Adoção da teoria da desconsideração da personalidade jurídica pelo

direito tributário.................................................................................................68

CONCLUSÃO...................................................................................................74

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................76

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INTRODUÇÃO

Objetiva-se o presente trabalho, verificar as hipóteses em que o sócio de

uma sociedade limitada poderá ter seu patrimônio atingido por dívidas

tributárias da referida sociedade, analisando as diversas correntes doutrinárias

e a posição dos Tribunais Superiores, ao mesmo tempo, colocar em discussão

as diversas correntes doutrinárias e jurisprudenciais sobre a questão, tais

como, a responsabilidade solidária e objetiva, a responsabilidade supletiva ou

subsidiária e a responsabilidade por substituição e pessoal.

Buscar-se-á colocar em discussão a possibilidade de redirecionamento

da execução fiscal para o sócio da sociedade limitada à luz da teoria da des-

personificação da pessoa jurídica em matéria tributária no contexto do Estado

Contemporâneo.

Procurar-se-á demonstrar a relação existente entre a norma tributária e a

norma introdutora de responsabilidade foi tratada pelo legislador pátrio como

sendo a figura do responsável tributário no Código Tributário Nacional. Con-

tudo, essa figura que não tem sido bem apreendida pela maior parte da dou-

trina se encontra disciplinada neste diploma legal pelos artigos 128 a 138.

Como há de se observar, a norma que introduz a responsabilidade

tributária à esfera jurídica do responsável de modo pessoal, ou seja, anulando

a responsabilidade do contribuinte se encontra inserta no art. 135 do CTN,

onde é introduzida a dívida pessoal e ilimitadamente à esfera jurídica do admi-

nistrador (terceiro). Isso implica que uma nova pessoa que não o ocupante do

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pólo passivo da relação tributária estará obrigada a entregar certa quantia de

dinheiro ao Fisco.

Essa nova relação jurídica se forma de modo a manter um nexo de

dependência da relação principal. Isso porque o nascimento da obrigação para

o responsável pressupõe a prévia ou concomitante incidência da norma tribu-

tária, a qual irá quantificar a respectiva obrigação introduzida à esfera jurídica

do administrador.

Junto a esse fim, será colocada em discussão a possibilidade de redi-

recionamento da execução fiscal para o sócio da sociedade limitada à luz da

teoria da despersonificação da pessoa jurídica em matéria tributária.

Diante de tais premissas, julga-se de relevância o tema responsabilidade

tributária nas sociedades limitadas é considerado para a segurança jurídica das

relações fisco-contribuinte, a partir do crédito tributário exigido pela Fazenda

Pública via ação de execução fiscal ao atingir o patrimônio do sujeito passivo,

que é a pessoa jurídica, sendo que, excepcionalmente poderá atingir os sócios

da referida sociedade, o que justifica a escolha do tema, justamente, por tratar-

se de direitos patrimoniais.

A responsabilidade do sócio na sociedade limitada será amplamente

debatida no âmbito da legislação, doutrina, jurisprudência e no direito compa-

rado. Será uma pesquisa exploratória com base no método descritivo por ser

um método de abordagem, constituído de procedimentos gerais que norteiam o

desenvolvimento das etapas fundamentais de uma pesquisa científica. Através

deste procedimento é que foram constituídas as etapas concretas para a inves-

tigação com a finalidade de melhor explicar os fenômenos menos abstratos.

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A monografia está estruturada em capítulos que manterão correlação

direta com os objetivos e cuja divisão acontecerá muito mais para fins didáticos

do que para estabelecer limites entre as várias abordagens, uma vez que, no

todo, estarão voltadas para a mesma face do problema.

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CAPÍTULO I

RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA:

CARACTERIZANDO O “TERCEIRO” RESPONSÁVEL

1.1 O sentido do termo responsável

Para melhor entendimento, cabe inicialmente lembrar, que o sujeito

passivo da obrigação tributária principal , segundo o art. 121 do Código

Tributário Nacional, “é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou

penalidade pecuniária”, em consonância com o disposto no art. 113, § 1º, onde

a obrigação principal é definida pelo seu conteúdo pecuniário.

Desta feita, o art. 122 do mesmo diploma legal, conceitua o sujeito

passivo da obrigação acessória “a pessoa obrigada às prestações que

constituam seu objeto”, ou seja, se o objeto da obrigação acessória é uma

prestação positiva ou negativa não pecuniária – fazer ou não fazer alguma

coisa, que não seja dar dinheiro, nos termos do § 2º do art. 113 -, o devedor

dessa obrigação é a pessoa que estiver obrigada a efetuar a respectiva

prestação.

Com efeito, como previsto pelo parágrafo único, alínea I, do art. 121 do

Código Tributário, o sujeito passivo da obrigação é o contribuinte, quando este

“tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o fato gerador”,

qualificando-se, portanto como o responsável, sendo ambos (contribuinte e

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responsável), devedores de quantia em dinheiro, já que se trata de obrigação

principal e esta tem sempre por conteúdo uma prestação pecuniária.

Segundo opinião de Rubens Gomes de Souza:

As noções expostas para caracterização do contribuinte correspondem ao que a doutrina, costuma chamar de sujeição passiva direta, isto é, o contribuinte seria o sujeito passivo direto,

enquanto o responsável seria o sujeito passivo indireto.1

Assim sendo, não se deve confundir o sujeito passivo indireto com o

sujeito passivo de tributo indireto, pois o tributo indireto é aquele que, embora

onerando o contribuinte (de direito), atingirá de modo reflexo, um terceiro, que

será chamado contribuinte ‘de fato’; por oposição, o tributo direto atinge o

próprio contribuinte de direito, que acumularia também a condição de

contribuinte de fato. Em princípio, o sujeito passivo indireto, que pode estar

presente tanto em tributos diretos como em tributos indiretos, é um terceiro que

de direito e não de fato é eleito como devedor da obrigação tributária.

Nesse caso, a presença do responsável como devedor na obrigação

tributária irá traduzir uma modificação subjetiva no pólo passivo da obrigação,

na posição que, naturalmente, seria ocupada pela figura do contribuinte.

Logo,

contribuinte é alguém que, naturalmente, seria o personagem a contracenar com o Fisco, se a lei não optasse por colocar outro figurante em seu lugar (ou a seu lado), desde o momento da ocorrência do fato ou em razão de certos eventos futuros (sucessão

do contribuinte, por exemplo).2

_________________1SOUZA, Rubens Gomes de. Compêndio de legislação tributária. São Paulo: Resenha

Tributária, 1975, p. 92.2Ibidem, p. 92.

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A identificação do contribuinte facilita a análise do responsável. Recorde-

se que, na definição legal, o sujeito passivo diz-se responsável “quando, sem

revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição

expressa de lei" (CTN. art. 121, parágrafo único, II).

Esse conceito, tecnicamente pobre, é dado por exclusão: se alguém é

devedor da obrigação principal e não é definível como contribuinte, ele será

responsável.

No sentido de que o responsável há de ser obrigado por expressa

disposição legal, segunda noção contida nesse dispositivo, é considerada

despicienda, pois ela está, evidentemente, inspirada na idéia que, segundo

Amílcar de Araújo Falcão, “o contribuinte não precisaria ser explicitado na lei,

pois o intérprete o identificaria a partir da mera descrição do fato gerador, ao

contrário do responsável, que necessitaria dessa empresa indicação na lei”.3

No entanto, a definição do contribuinte precisa estar contida na lei e é o

próprio Código Tributário Nacional que o proclama, quando, no art. 97,

explicitando o princípio constitucional da legalidade, diz que “somente a lei

pode definir o sujeito passivo da obrigação principal” (art. 97, inc. III, in fine).

1.2 O responsável como terceiro

Como se observa, a figura do responsável aparece na problemática da

obrigação tributária principal por uma série de razões que são valorizadas pelo

legislador do definir a sujeição passiva tributária.

_________________3FALCÃO, Amílcar de Araújo. Fato gerador da obrigação tributária. 2. ed. anotada por Geraldo

Ataliba. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1971.

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Após ser definido o fato gerador e localizada naturalmente a pessoa que

deveria, ou poderia ocupar o pólo passivo da obrigação tributário na condição

de contribuinte, o legislador pode ignorar esse personagem e eleger como

sujeito passivo outra pessoa que tenha relação com o fato gerador. Esse

personagem, que não é o contribuinte, nem, obviamente ocupa o lugar do

credor, é um ‘terceiro’, que não participa do binômio Fisco-contribuinte.

Segundo informa Ormezindo de Paiva:

A eleição desse terceiro, para figurar no pólo passivo da obrigação tributária decorre de razões, que vão desde a conveniência até a necessidade. Entretanto, há situações em que a única via possível para tornar eficaz a incidência do tributo é a eleição do terceiro responsável. Imagine-se, por exemplo, o imposto de renda sobre rendimentos de não residentes no País: a lei tem de escolher um terceiro, nesse caso, a fonte pagadora, como sujeito passivo, na

condição de responsável para viabilizar a incidência do tributo.4

Noutros casos, “são razões de conveniência para simplificar a

arrecadação ou para garantir sua eficácia que determinam a eleição do terceiro

como responsável”, como remete Henry Tilbery.5 Essas razões ficam evidentes

quando se analisa as normas do CTN sobre a responsabilidade tributária.

É óbvio que para figurar como sujeito passivo da obrigação tributária a

escolha de um ‘terceiro’ não pode ser feita de modo arbitrário, sendo que para

essa eleição, é o Código que fornece critérios em diversas situações, elegendo

ele próprio os responsáveis.

__________________4PAIVA, Ormezindo Ribeiro de. Incidência na fonte. 8. ed. São Paulo: Resenha Tributária,

1983. p. 287.5TILBERY, Henry. Responsabilidade tributária in Direito tributário. São Paulo Bushatsky, 1972.

v. 2. p. 73-77. O autor arrola diversas razões: impossibilidade ou dificuldade de atingir o contribuinte natural: maior comodidade e melhor eficiência da arrecadação; responsabilização por intervenção no ato ou no fato (como se dá com administradores, tabeliães, etc.), responsabilização de intervenientes por causa de omissões ou infrações.

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O terceiro é elegível como sujeito passivo à vista de um liame indireto

com o fato gerador, como por exemplo, embora o fato gerador do imposto de

renda, seja realizado por uma pessoa, aquela que aufere renda, a lei tem a

possibilidade de escolher um terceiro, vinculado a esse fato gerador, ou seja, a

fonte pagadora, como sujeito passivo da obrigação.

Assim, a figura do terceiro responsável, nem sempre surgirá no

momento em que o fato gerador se realiza. Como exemplo, pode-se citar, os

casos de responsabilidade por sucessão, em que o liame do sucessor com o

fato gerador da obrigação dar-se-á por causa do evento sucessório, ou seja,

Antonio, falecido, era devedor, na condição de contribuinte, do imposto de

renda; Bernardo, herdeiro de Antonio, é sujeito passivo, na condição de

responsável, da obrigação porventura não satisfeita por Antonio; há, aí, uma

relação indireta (via herança) entre o responsável e o fato gerador (renda

auferida por Antonio. Nesse caso, inexiste a herança e por decorrência não

haverá responsabilidade de sucessor.

1.3 Sujeito passivo da obrigação principal e sanções

pecuniárias

Pelo exposto, falou-se até aqui sobre sujeição passiva da obrigação

principal levando-se em conta a opinião de Luciano Amaro6 ao afirmar que

“contribuinte é a pessoa que tem relação pessoal e direta com o fato gerador

do tributo e o responsável é um terceiro que, em razão de algum vínculo com o

_________________6AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 10. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 296.

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fato gerador, é eleito como devedor com tributo”.

No entanto, o Código Tributário Nacional qualifica como sujeito passivo

da obrigação principal não só o devedor de tributo, mas também a pessoa

obrigada ao pagamento de penalidade pecuniária. Segundo o Código, o sujeito

passivo da obrigação principal pode apresentar-se como tal, mesmo que não

deva outra coisa além de uma penalidade pecuniária que lhe tenha sido

aplicada por uma infração.

Aduz, ainda, Luciano Amaro:

Certamente, que ninguém duvidará de que contribuinte seja a pessoa que recolhe tributos, mas não se concebe a idéia de contribuinte referida a alguém não na condição de pagador de tributo, mas na de pagador de multa pecuniária, o que na linguagem do Código, se alguém que tem "relação pessoal e direta" com o fato gerador do tributo é contribuinte, quem tem a "relação pessoal e direta" com uma inflação é infrator, nunca contribuinte. Por outro lado, é também impensável é a idéia de sujeito passivo responsável como alguém que “não tem relação pessoal e direta com a infração” mas é eleito, por disposição expressa de lei para pagar a penalidade pecuniária

cominada para uma infração que não tenha sido praticada por ele. 7

Fica, portanto, evidente, que as categorias de contribuinte e de

responsável foram estruturadas a partir do fato gerador do tributo, e não do

"fato gerador da penalidade pecuniária", qualificação que o Código acaba, pelo

menos implicitamente, dando à infração tributária.

A questão do vínculo entre o infrator ou agente e a infração ou ação/

omissão, não é colocada em termos de “relação pessoal e direta" ou relação

oblíqua" com o “fato gerador".

É por isso que, ao tratar da sujeição aos efeitos legais da infração, o

CTN abandona as noções de contribuinte e de responsável do parágrafo único

_________________7Ibidem, p. 296.

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do art. 121, falando em “responsabilidade por infrações" (art. 136 a 138), onde,

visivelmente, o diploma refere-se a alguém que, além ou a par de ser infrator,

tanto pode ser contribuinte de tributo quanto pode ocupar a condição de

responsável por tributo, como, ainda, pode não ser nem uma coisa nem outra,

mas apresentar-se como mero sujeito passivo de obrigação acessória, cujo

descumprimento pode colocá-lo na posição de infrator. Responsável, no que

tange à responsabilidade por infrações, é a pessoa (não necessariamente o

contribuinte de algum tributo) que, por ter praticado uma infração, deve

responder por ela. Vale dizer, deve submeter-se às conseqüências legais de

seu ato ilícito.8

1.4 Sujeito passivo responsável

Várias são as técnicas mediante as quais a lei pode pôr na condição de

responsável, alguém no pólo passivo da obrigação tributária, diante das

diferentes razões de conveniência ou de necessidade que motivam a eleição

de um terceiro como responsável tributário.

Antes mesmo da promulgação do Código Tributário Nacional, a doutrina

costumava identificar duas modalidades básicas: a da substituição e a da

interferência, sendo que a diferença entre ambas é na substituição, a lei desde

logo põe o terceiro no lugar da pessoa que seria definível como contribuinte, ou

seja, a obrigação tributária já nasce com seu pólo passivo ocupado por um

substituto legal tributário, enquanto que, de maneira diversa, na interferência, a

_________________8Ibidem, p. 298-299.

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obrigação de um devedor, que pode ser um contribuinte ou um responsável, é

deslocada para outra pessoa, em razão de algum evento.

Por exemplo, incorporada à empresa “BETA”, a obrigação tributária de

que ela era sujeito passivo, na condição de contribuinte ou de responsável, é

transferida para a incorporadora, que passa a figurar como responsável. Pode

ocorrer, portanto, que a obrigação tributária de um sujeito passivo que já

possua a condição de responsável se transfira para outra pessoa, que também

se dirá responsável. A sucessão é apresentada como o exemplo mais típico de

responsabilidade por transferência, pois a obrigação que era do sucedido

desloca-se, em razão do evento sucessório, para a pessoa do sucessor.

Antes do advento do Código Tributário Nacional, Rubens Gomes de

Sousa, expôs uma classificação dos modos de sujeição passiva indireta,

desdobrando a transferência em três subespécies: a sucessão, a solidariedade

e a responsabilidade, expressão esta que, veio a ser empregada no CTN, para

designar de forma genérica todos os casos de sujeição passiva indireta, que

abrangem, naquela classificação doutrinária, os casos de substituição e os de

transferência.9

Atente-se, que a razão que com mais freqüência se apresenta para

ensejar a solidariedade é a omissão de dever de diligência ou a vigilância, a

par da comunhão de interesses, pois, nas situações em que a lei impõe ao

“terceiro" que, por alguma circunstância, está vinculado ao fato gerador, a

tomada de determinada providência para impedir ou dificultar a eventual

omissão do contribuinte, no que respeita ao cumprimento do dever de escolher

_________________9SOUZA, Rubens Gomes de. Compêndio de legislação tributária, p. 92-93.

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o tributo, caso o terceiro não adote essa providência, a lei o responsabiliza

solidariamente pelo tributo.

1.5 Terceiro responsável e responsabilidade do contribuinte

O Código Tributário Nacional em seu art. 121, parágrafo único, alínea II,

autoriza, aparentemente, que qualquer indivíduo que não tenha relação

pessoal e direta com o fato gerador, possa ser posto na condição de

responsável, desde que isso se dê por lei expressa.10

Já o art. 128 do Código diz que a lei pode eleger o terceiro como

responsável, se ele estiver vinculado ao fato gerador, ao mesmo tempo que

admite que, eleito o terceiro, a lei exclua a responsabilidade do contribuinte ou

mantenha este como responsável subsidiário ao prever que ao contribuinte

pode ser atribuída responsabilidade em caráter supletivo caso o responsável

nada pague ou pague menos que o devido.

O Código ao falar em responsabilidade do contribuinte, não usa o

vocábulo no sentido correspondente ao art. 121, parágrafo único, alínea II, em

que se cuida do responsável como sujeito passivo “que não se confunde com

o contribuinte”, ou que não "reveste” a condição de contribuinte, mas fala de

responsabilidade do contribuinte no sentido de “sujeição do contribuinte ao

cumprimento da obrigação”.11

O art. 128 também não se refere expressamente à solidariedade, talvez

_________________10

Henry Tilbery preocupou-se com o tema ‘Responsabilidade’, Direito tributário, p. 77 e segs.11

AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro, op. cit., p. 305.

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por tê-la disciplinado em artigos anteriores. Em rigor, porém, todas essas

situações poderiam estar expressas e não apenas implícitas no texto desse

artigo, que se proclama "disposição geral" do capítulo da responsabilidade

tributária.

1.6 Responsabilidade pessoal de terceiros

Reza o artigo 135 do Código Tributário Nacional:

São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatuto:I – as pessoas referidas no artigo anterior;II – os mandatários, prepostos e empregados;III – os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado.

Como se observa, o dispositivo acima, exclui o pólo passivo da

obrigação a figura do contribuinte, que, em princípio, seria a pessoa em cujo

nome e por cuja conta agiria o terceiro, ao dispor no sentido de que o executor

do ato responda pessoalmente. Não se trata, portanto, de responsabilidade

subsidiária do terceiro, nem de responsabilidade solidária. Somente o terceiro

responde, ‘pessoalmente’.

Para que incida o dispositivo, um requisito básico é necessário para

haver a prática de ato para o qual o terceiro não detinha poderes ou de ato que

tenha infringido a lei, o contrato social ou o estatuto de uma sociedade. Se

inexistir esse ato irregular, não cabe a invocação do preceito em tela. Poderá

aplicar-se, porém, o disposto no art. 134, que se contenta com a participação

(por ação ou omissão) do terceiro para responsabilizá-lo subsidiariamente.

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O problema está em definir os atos a que se refere o art. 135, intuindo

que há de se tratar de atos praticados em nome de outrem (o representado,

preponente, administrado, mandante), que seria o contribuinte pelo terceiro

(administrador, mandatário etc. ). Com excesso de poderes, por exemplo, mas

em nome do administrado, do mandante do preponente. Com violação da lei,

mas também em nome de outrem. Com infringência do contrato ou estatuto,

mas sempre em nome da sociedade.

Muitas hipóteses se enquadram em mais de uma dessas situações: um

ato praticado com excesso de poderes pode violar, a um só tempo, o estatuto e

a lei; um ato ilegal certamente não será praticado no exercício de poderes

regulares. Para que a responsabilidade se desloque do contribuinte para o

terceiro, é preciso que o ato por este praticado escape totalmente das

atribuições de gestão ou administração, que freqüentemente se dá em

situações nas quais o representado ou administrado é (no plano privado, assim

como o Fisco, no plano público), vítima de ilicitude praticada pelo representante

ou administrador.

Luciano Amaro lembra que:

O art. 208 do Código Tributário Nacional contempla outra hipótese de responsabilidade de terceiro, qual seja, a do funcionário que, "com dolo ou fraude", expeça certidão negativa que contenha erro contra a Fazenda Pública, sem prejuízo da responsabilidade criminal e funcional que couber (parágrafo único do mesmo artigo). Também nessa hipótese o Código prevê a responsabilidade pessoal do

funcionário pelo crédito tributário e os juros de mora.12

________________12

AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro, op. cit., p. 305.

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20

CAPÍTULO II

RESPONSABILIDADE DE SÓCIOS DE PESSOAS

JURÍDICAS E REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO

FISCAL

2.1 Fundamento constitucional da responsabilidade tributária

O legislador constituinte brasileiro, com o intuito de delimitar o campo

tributável de cada uma das pessoas políticas - União, Estados, Municípios e

Distrito Federal -, disciplinou de maneira rígida e minuciosa a tributação.

Amparando, desta forma, o contribuinte com um rol de direitos e garantias

fundamentais que as pessoas políticas de nosso Estado devem respeitar ao

criar in abstracto tributos ou ultrapassar essas regras e resvalar para o campo

da inconstitucionalidade.

Entre as garantias postas na Constituição Federal encontra-se implícito

que, dentro de vigente sistema constitucional tributário, somente poderá ser

contribuinte quem está coligado com a regra-matriz do tributo, isto significa que

só poderá ter parte de sua riqueza transferida aos cofres públicos quem

participou da realização do fato imponível. Por isso, o legislador encontra-se

impedido de, arbitrariamente, eleger os sujeitos que figurarão no pólo passivo

da obrigação tributária.

Esse limite constitucional tem o intuito de garantir que, independente-

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mente, da pessoa que preencha a relação jurídica tributária, quem suportará o

ônus desse encargo será a pessoa que demonstre capacidade para recolher o

tributo, ou seja, o contribuinte. Garante-se, assim, a capacidade contributiva.

Mas é Hector Villegas quem explica esse limite:

Quando o legislador constrói a hipótese de incidência, deseja que essa pessoa suporte, sofra, no seu patrimônio, a diminuição, o detrimento - em seu patrimônio - que significa o tributo. E o mais eficiente que pode fazer - no plano jurídico - é dar uma via legal para colocar, a cargo dessa pessoa, o peso econômico do tributo. E isso ele pode fazer de diversas formas. Não há uma forma única, há uma

série delas.12

Assim, apesar da pessoa que suportará o encargo tributário ser aquela

designada na regra-matriz, excepcionalmente - com o intuito de operacionalizar

a arrecadação tributária por parte do Estado ou de impor uma sanção

administrativo-fiscal pelo descumprimento de dado dever -, o legislador poderá

deslocar a qualidade de sujeito passivo de uma pessoa para outra; instituindo

no pólo passivo da obrigação tributária não o promovente do fato imponível,

mas um terceiro expressamente referido na lei. São esses terceiros, que

excepcionalmente poderão ocupar o pólo passivo da relação jurídica tributária,

matéria que ora será estudada.

2.2 Relação da norma tributária com a norma introdutora de

responsabilidade

Para iniciar o esboço de um plano lógico no qual a responsabilidade

_________________12

VILLEGAS, Hector B.. Destinatário legal tributário. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, Revista de Direito Privado, vol., 30, p. 274-275.

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se insere se faz conveniente realizar-se uma introdução de conceitos jurídicos

que serão de grande serventia para auxiliar na interpretação do dispositivo

objeto desse estudo (art. 135). Assim, estudar-se-á, a relação da norma

introdutora13 de responsabilidade com a norma tributária.

Sempre que se estiver diante de um caso de responsabilidade tributária

ter-se-á pelo menos duas normas atuando conjuntamente14. A primeira contém

em sua hipótese um fato descrito que quando ocorrido no mundo fático

desencadeará o nascimento de uma dada obrigação tributária. A segunda

contém em sua hipótese um fato descrito que quando ocorrido no mundo fático

irá introduzir uma obrigação a terceira pessoa vinculada ao fato gerador da

obrigação tributária15.

Existe entre a norma tributária e a norma introdutora de responsabilidade

uma relação de dependência, isso porque a obrigação do responsável está

quantificada naquela. Assim, o nascimento da obrigação para o responsável

pressupõe a prévia ou concomitante incidência da norma tributária, a qual

irá quantificar a respectiva obrigação introduzida à esfera jurídica do adminis-________________13

Ressalte-se que não será utilizado, aqui, o verbo "transferir" para a responsabilidade, isso porque não será considerado que ocorra uma transferência, pois muitas vezes o que ocorre é um reforço na responsabilidade, como por exemplo, o art. 134 que responsabiliza esse terceiro de maneira subsidiária. Por isso será utilizado o vocábulo "introduzir" ao invés de "transferir" usado por grande parte da doutrina. Assim, essa norma que introduz a responsabilidade poderá fazê-la pessoalmente (art. 135 do CTN), subsidiariamente (art.134), preferencialmente (art. 133, II, interpretação prevalente na doutrina e na jurisprudência) ou, até mesmo solidariamente. 14

As normas que serão trabalhadas apresentam estrutura hipotética, ou seja, essas normas possuem um fato descrito na hipótese normativa que quando ocorrido no mundo real tem por conseqüência, através de um juízo disjuntivo, desencadear o evento descrito no mandamento normativo. Assim, poderá se perceber que essas normas possuem duas partes estruturadas de maneira lógica: uma hipótese descrita que desencadeará uma conseqüência. Dessa estrutura lógica poderá ser proferida a seguinte fórmula: dada a hipótese A deve ser a conseqüência C.15

No mesmo sentido: BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. 11, ed. e compl. à luz da Constituição de 1988 até a emenda constitucional n.º 10/1996. Rio de janeiro: Forense, 2001. p. 724.

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trador (terceiro). Quanto a essa relação, Marçal Justen Filho16 informa que:

Nunca será possível desvincular a norma não autônoma da norma autônoma, embora a recíproca não seja válida, ou seja, não há possibilidade de manter-se a norma acessória por si só, se for revogada (por exemplo) a norma autônoma. Igualmente, nunca será viável incidir apenas a norma não autônoma, sem que isso retire a validade da norma autônoma. E, também, será possível que em dadas circunstâncias, apenas seja aplicável a norma autônoma, sem que se aplique a norma não autônoma (aliás, isso será o usual e comum).

Como conseqüência dessa dependência existe o caso em que se a

norma primária estiver sujeita a qualquer exoneração como isenção,

imunidade, ou outro benefício extintivo, redutor, ou excludente do crédito

tributário não existirá obrigação ao responsável, pois essa norma está

interligada de maneira dependente à norma principal.

No entanto, diferentemente do que muitos pensam, essa relação se

instaura de modo exógeno.17 Ou seja, diferentemente da norma de substi-

tuição, que modifica o aspecto subjetivo do mandamento da norma primária, a

norma de responsabilidade atua de modo exógeno sobre a norma primária, isto

é, introduz um dever jurídico ao responsável pressupondo o nascimento da

obrigação principal para o contribuinte ou o substituto.

Afirma-se, então, que essa norma não irá alterar nenhum dos aspectos

da estrutura da norma tributária. Essa norma apenas irá introduzir a terceira

pessoa vinculada indiretamente ao fato gerador da respectiva obrigação à res-

ponsabilidade pelo pagamento do tributo, podendo ou não anular a obrigação

___________________16

JUSTEN FILHO, Marçal. Sujeição passiva tributária. Tese de doutorado, 1985. p. 272 17

O que se quer dizer com norma exógena é que "as normas exógenas não alteram a estrutura interna da norma tributária, quer a hipótese, quer a conseqüência, nem negam a tributabilidade da hipótese: pressupõe o prévio nascimento da obrigação tributária". (BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao poder de tributar, p. 398- 400)

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do ocupante do pólo passivo da relação tributária.

O que realmente nos demonstra o fato de essa norma não alterar o

aspecto subjetivo do mandamento da norma tributária é o fato de o sujeito

passivo da relação principal em alguns casos continuar permanecendo

conjuntamente com o responsável tributário, ou seja, a obrigação do ocupante

do pólo passivo da relação tributária não se anula. Como por exemplo no art.

134 do CTN no qual a responsabilidade é subsidiária ou seja, "solidária".

Diferentemente da substituição em que existe o contribuinte de fato e o

contribuinte de direito e que sempre esse será responsável pelo recolhimento

do tributo, ou seja, o verdadeiro contribuinte passa a ser o substituto. Na norma

de responsabilidade o contribuinte poderá subsistir, conjuntamente com o

responsável, obrigado ao recolhimento do tributo. Isso, claramente demonstra

que a atuação dessa norma se dá de modo exógeno sobre a estrutura da

norma primária ou tributária.

As normas-de-conduta que acabou-se de descrever, classificam-se em

duas espécies de normas: as impositivas e sancionantes, mas a diferença que

residiria entre ambas explica Sacha Calmon18:

A diferença entre elas é simples. As impositivas têm hipótese de incidência composta de fatos jurígenos lícitos e, por conseqüência, comandos que impõe direitos e deveres (relações jurídicas). As sancionantes são feitas de hipótese de incidência que representam fatos ilícitos e de conseqüências que consubstanciam, sempre, sanções (castigos, penas).

___________________18

COELHO, Sacha Calmon Navarro. Teoria geral do tributo e da exoneração tributária. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1982. p. 78.

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25

2.3 A Responsabilidade Tributária dos Sócios e a interpretação

do art. 135 à luz do CTN

Após ter sido esclarecido como se dá a relação entre a norma tributária

e a norma introdutora de responsabilidade, pode-se dizer que essa relação foi

esboçada com o intuito de esclarecer porque é que a obrigação introduzida à

esfera jurídica do responsável está quantificada na norma tributária, como

também para explicar porque os benefícios do crédito tributário se introduzem à

esfera jurídica do terceiro responsável.

Da mesma forma que se verá a maneira como o legislador pátrio tratou a

figura do responsável tributário no Código Tributário Nacional, onde se procurar

mostrar essa figura que não tem sido bem apreendida pela maior parte da

doutrina e que está disciplinada neste Código nos arts. 128 a 138.

Foi delineado também, o sistema lógico ao qual as normas introdutoras

de responsabilidade se inserem na sistemática do Código Tributário Nacional,

ao mesmo tempo que verificou-se que existem normas introdutoras de

responsabilidade impositivas e sancionatórias e que o regime jurídico existente,

apesar da coincidência de requisitos exigidos pelo art. 128, é diferente

conforme o fato descrito no antecedente dessa norma seja lícito ou ilícito.

Para tanto, faz-se necessário para melhor entendimento do assunto, que

o objetivo será realizar uma análise sucinta acerca da interpretação do artigo

135 do Código Tributário Nacional, frisando, que mesmo que fosse possível

fazer uma interpretação isolada de um dispositivo de lei19 de fato, a exegese

__________________19

Na verdade, a lei, considerada isoladamente, não passa de uma fórmula literal legislativa sem qualquer valor jurídico. O significado jurídico dessa fórmula literal legislativa somente é

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dada ao artigo não seria a mais adequada, nem se encaixaria de forma perfeita

ao seu significado.

O art. 135 do CTN contém norma de exceção, isto é, a regra é a

responsabilidade da pessoa jurídica. Excepcionalmente, quando sócios ou

dirigentes agirem com excesso de poderes ou infração de lei, há

responsabilidade pessoal destes, até porque, nesses casos, o ato reputa-se

praticado pelas pessoas físicas, e não pela pessoa jurídica.

Todavia, a interpretação que considera o inadimplemento de tributos

como ato contrário à lei, praticado pelos representantes de pessoas jurídicas

de direito privado (CTN, art. 135, inc. III), ou pelos sócios das sociedades de

pessoas (CTN, art. 135, inc. I), transforma a exceção em regra geral inexorável.

Isso porque o descumprimento de qualquer dever jurídico é, em última análise,

contrário a alguma lei ou contrato20. Adotada coerentemente a tese, não

haveria um único caso no qual responderia a pessoa jurídica21, o que impli-

__________________continuação da nota 19: determinado pelas demais normas do ordenamento. (Cfr. Alfredo Augusto Becker. Teoria Geral do Direito Tributário. 3. ed., São Paulo: Lejus, 1998. p. 115; Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado. Prefácio, tomo 1, 3. ed., Rio de Janeiro: Borsoi, 1970, p. Xll e Xlll).20

Realmente, se partirmos da premissa de que o não-pagamento de um tributo é infração à lei praticada pelo sócio, diretor ou gerente, ensejando assim a sua responsabilidade pessoal, o não-pagamento de uma duplicata no vencimento também o será. O atraso no pagamento de férias ou do 13° salário também, por violar a CLT. Do mesmo modo a venda de um equipamento defeituoso, por conflitar com o Código de Defesa do Consumidor. Os sócios das sociedades de pessoas e os representantes das demais pessoas jurídicas de direito privado seriam, enfim responsáveis pessoalmente pelo cumprimento de todo e qualquer dever jurídico da sociedade, pois o seu descumprimento violaria alguma lei. (MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 123).21

Inteiramente equivocada seria a pretensão de se argumentar, no presente caso, como a teoria da "desconsideração da personalidade jurídica". Mesmo sem discutir a tese da desconsideração, é importante lembrar que esta somente se aplica quando a pessoa jurídica é utilizada pelos sócios como instrumento de fraude. Em outros termos, preconiza-se a desconsideração da pessoa jurídica quando esta tenha sido constituída já com o fito de lograr terceiros. Não é o que ocorre, por exemplo, no caso de uma sociedade comercial constituída para a consecução de fins lícitos, e que se toma inadimplente por um revés financeiro. Nesse sentido, aliás, já decidiu o STF (Ac. un. da 1ª T do STF - Rel. Min. Neri da Silveira - RE 108728/SP – Diário de Justiça da União, 14-11-91, p, 16358 - Ementário v. 1642-02, p. 246).

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27

que implicaria a sua total extinção22. Essa conclusão, obviamente, não pode

ser acolhida como razoável pelo hermeneuta Carlos Maximiliano23, quando ele

afirma:

Deve o direito ser interpretado convenientemente: não de modo que a ordem legal envolva um absurdo, prescreva inconveniências, vá Ter conclusões insubsistentes ou impossíveis. Também se prefere a exegese de que resulte eficiente a providência legal ou válido o ato, a que torna aquela sem efeito, inócua, ou este, juridicamente nulo.

Aliás, nem se deve argumentar, de forma incoerente, que nem todo

inadimplemento é infração à lei, mas somente o inadimplemento de tributos,

em função do disposto no artigo 135 do Código Tributário Nacional, levando-se

em conta que o artigo 135 tem redação semelhante à do artigo 10 da Lei das

Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada (Decreto n.° 3.708, de

10 de janeiro de 1919), e à do artigo 158 da Lei das Sociedades por Ações (Lei

n.° 6.404, de 15 de dezembro de 1976) não fazendo qualquer referência a uma

responsabilidade distinta apenas para fins tributários, o que segundo opinião de

Hugo de Brito Machado Segundo24:

Quando o CTN altera, para fins fiscais, determinado instituto ou regramento de direito privado, o faz de forma expressa e clara. Exemplo disso é a redação do seu artigo 195, explícito ao afirmar a inaplicabilidade, para os efeitos da legislação tributária, de quaisquer disposições legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias, livros, arquivos, documentos, papéis etc.

Atente-se que o artigo 135 tem redação semelhante à do artigo 10 da

________________________22

MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário, p. 12323

MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996, p. 166.24

MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Problemas de processo judiciário tributário (coord. Valdir de Oliveira Rocha). (Vários autores).São Paulo: Dialética, 2000. p. 130.

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28

Lei das Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada (Decreto n.°

3.708, de 10 de janeiro de 1919), e à do artigo 158 da Lei das Sociedades por

Ações (Lei n° 6.404, de 15 de dezembro de 1976) não fazendo qualquer

referência a uma responsabilidade distinta apenas para fins tributários, o que

de acordo com a opinião de Hugo de Brito Machado Segundo:

Quando o CTN altera, para fins fiscais, determinado instituto ou regramento de direito privado, o faz de forma expressa e clara. Exemplo disso é a redação do seu artigo 195, explícito ao afirmar a inaplicabilidade, para os efeitos da legislação tributária, de quaisquer disposições legais excludentes ou limitativas do direito de examinar

mercadorias, livros, arquivos, documentos, papéis etc.25

Remete, ainda o autor que:

As sociedades civis e comerciais, e a responsabilidade de seus integrantes, já possuem um preciso e conhecido significado jurídico, determinado pelo Direito Privado. A menos que no CTN houvesse norma expressa em sentido contrário, o que, aliás, seria validade duvidosa. Entre outros motivos, por implicar violação do artigo 5º, caput e incisos XVIII e XIX da Constituição Federal de 1988, não poder-se-ia atribuir a essa mesma responsabilidade um esquisito

significado do novo direito tributário.26

Logo, não é possível olvidar na exegese do artigo 135, inc. III, do CTN, o

caráter sistêmico do direito. Deve o intérprete atentar para o inciso I do mesmo

artigo, para o artigo 134 do mesmo Código, e para as disposições do direito

civil e comercial, notadamente para as regras de responsabilidade dos sócios

pelas dívidas das sociedades em geral.

__________________25

MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Problemas de processo judiciário tributário, p. 130.26

Misabel Abreu Machado Derzi, em notas de atualização ao “Direito Tributário Brasileiro”. de Aliomar Baleeiro, 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 754.

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29

2.4 Sobre o artigo 134, inc. VII, do CTN

O Código Tributário Nacional, ao disciplinar a responsabilidade tributária

de terceiros, dispõe, em seu artigo 134, o seguinte:

Art. 134 - No caso de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte, respondem solidariamente com este nos atos em que intervierem ou pelas omissões de que forem responsáveis:(...) VII - os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas.

Como se verifica, trata-se de responsabilidade subsidiária. Apenas no

caso de impossibilidade da pessoa jurídica é que será exigido o tributo de seus

sócios. “É certo que o artigo emprega a expressão "solidariamente". Essa

expressão, porém, presta-se para estabelecer entre de solidariedade entre os

sócios, no adimplemento do tributo pelo qual são responsáveis de forma

subsidiária à sociedade”27. Aliás, o dispositivo, tem conteúdo semelhante ao do

artigo 350 o Código Comercial, que assevera que "os bens dos sócios não

podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados

todos os bens sociais”.

A questão colocada, diz respeito às sociedades de pessoas que

possuem formas de limitação à responsabilidade de seus sócios, tais como a

sociedade de capital e indústria, ou a própria sociedade por quotas de

responsabilidade limitada. Indaga-se, então: estariam todos os sócios, em caso

de liquidação da sociedade, ilimitadamente responsáveis pelos débitos

tributários desta?

Evidente, que a resposta é não. O CTN não revogou a legislação_________________27

Ibidem, p. 131.

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30

comercial específica, não fazendo no artigo 134 qualquer referência nesse

sentido. Assim, a responsabilidade a que se refere o artigo dar-se-á nos termos

da legislação de regência de cada tipo societário. Além disso, há valioso

argumento no sentido de que a expressão "sociedade de pessoas", na

hipótese, é imprecisão técnica do legislador, que na verdade faz referência às

sociedades com responsabilidade ilimitada de seus sócios28. Aliás, a

solidariedade entre os sócios é apontada pelos comercialistas como traço

marcante das sociedades de pessoas, tende sido o inconveniente que fez

surgirem as sociedades por quotas, que não seriam, nesse ponto, a elas

equiparadas29. Nesse sentido, inclusive, doutrina Aliomar Baleeiro: “sociedades

de pessoas, no art. 134 do CTN, são as em nome coletivo e outras, que não se

enquadram nas categorias de sociedades anônimas ou por quotas de

responsabilidade limitada."30

2.5 O artigo 135, inc. I, do CTN

As disposições do artigo 135 do CTN são bem diferentes das do artigo

anterior. Seu suporte fático se compõe da prática de um ato não auto-

__________________28

O conceito de sociedade de pessoas é puramente doutrinário, não havendo qualquer precisão normativa a seu respeito. Portanto, não se trata, aqui, de um significado normativo, ou de lógica jurídica, mas de uma classificação criada pela doutrina, que inclusive sobre ela diverge. 29

"Em meio aos inconvenientes da solidariedade, traço marcante das sociedades de pessoas, e à complexidade das sociedades por ações, surgiria na Alemanha, em 20 de abril de 1892, a sociedade por quotas de responsabilidade limitada, ou simplesmente sociedade por quotas" (ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das sociedades comerciais. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 127).30

BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. 11. ed. e compl. à luz da Constituição de 1988 até a emenda constitucional n.º 10/1996. Rio de janeiro: Forense, 2001, p. 735.

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rizado pelo contribuinte, e como conseqüência, atribui a responsabilidade

pessoal, por substituição, ao agente que o praticou.

Dispõe o art. 135, inciso I: "São pessoalmente responsáveis pelos

créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos

praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou

estatuto: I - as pessoas referidas no artigo anterior;" completando-o dispõe o

inciso VII do art. 134 do CTN: "VII - os sócios, no caso de liquidação de

sociedade de pessoas".

Pelo dispositivo transcrito, os sócios de sociedades de pessoas, que

devem ser entendidos como os sócios com responsabilidade ilimitada pelos

débitos da pessoa jurídica que integram, referidos pelo inciso VIl do artigo 134,

respondem pessoalmente pelos débitos da pessoa jurídica. Entretanto, como

dito, exige-se para essa substituição a prática de ato com excesso de poderes,

infração à lei ou ao contrato social. A combinação dos dois dispositivos torna

claro que o CTN considera coisas diferentes a "impossibilidade de exigência do

cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte" (art. 134) e a prática de

atos "com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos"

(art. 135), tanto que comina responsabilidade solidária no primeiro caso, e

responsabilidade pessoal no segundo.

Em outras palavras, o dispositivo impõe que as pessoas referidas no

artigo anterior terão a responsabilidade agravada quando agirem com malícia e

má-fé contra aqueles que presentam (retira-se a subsidiariedade, anula-se a

obrigação do contribuinte e se introduz à obrigação de modo pessoal e ilimitado

ao terceiro responsável). Assim, o inciso I do art. 135 agrava a

responsabilidade dos terceiros enumerados no art. 134 quando esses

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praticarem atos dolosos com excesso de poderes ou infração de lei, contrato

social ou estatuto. Ou seja, os incisos contidos no art. 134 passam a ser

interpretados conjuntamente com o caput do artigo 135.

Mas, talvez algo tenha chamado a atenção, ou seja, o fato de está-se

tratando da responsabilidade dos administradores e esse comando legal estar

se referindo ao sócio, embora possa em um primeiro momento parecer uma

contradição, adianta-se logo que não é, veja-se.

Na maioria das espécies societárias do ordenamento pátrio a gerência é

exercida de modo simples, ou seja, são os próprios sócios quem administram a

empresa. No entanto, o sócio é aquele que integraliza o capital societário

enquanto o administrador é aquele que realmente exerce a atividade de

gerência, portanto figuras distintas. Ou seja, mesmo quando o sócio está

exercendo a atividade de gerência (sócio-gerente) esse não atua como sócio

(em nome próprio), mas sim em nome da empresa (como órgão societário).

Assim, segundo os requisitos expostos, o único sócio que poderá vir a

ser responsabilizado é aquele que pratica atos, ou seja, o sócio-gerente. Isso

porque segundo o comando contido no art. 135 é condição necessária para

que ocorra a incidência a existência de um ato imputado à determinada

pessoa. Ou seja, está-se querendo dizer o óbvio, que não se pode atribuir

responsabilidade aquele sócio que não praticou nenhum ato de gerência, pois

isso como já foi visto violaria princípios como legalidade e segurança jurídica.

É um avanço nas decisões do STJ que mostra os primeiros passos de

um longo caminho a trilhar:

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TRIBUTÁRIO - SOCIEDADE LIMITADA - RESPONSABILIDADE DOSÓCIO PELAS OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS DA PESSOA JURÍDICA (CTN, ART. 173, III) - SÓCIO-GERENTE – TRANS-FERÊNCIA DE COTAS SEM DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE -RESPONSABILIDADE DO SUCESSOR - CTN, ARTS. 135 e 136. 1. o Sócio e a pessoa jurídica formada por ele são pessoas distintas (Código Civil, art. 20). Um não responde pelas obrigações da outra. II - em se tratando de sociedade limitada, a responsabilidade do cotista, por dívidas da pessoa jurídica, restringe-se ao valor do capital ainda não realizado ( Decreto n.º 3708/1919, art. 9º). Ela desaparece, tão logo se integralize o capital. III - O CTN, no inc. III do art. 135, impõe responsabilidade - não ao sócio - mas ao gerente, diretor ou equivalente. Assim, o sócio-gerente é responsável, não por ser sócio,

mas por haver exercido a gerência. IV - Quando o gerente . . . . 31

No entanto, alguns intérpretes têm retirado desse comando legal a

seguinte conclusão, basta ser um sócio de uma empresa que realizou uma

dissolução irregular para que a pessoa jurídica seja desconsiderada e os bens

desses sócios sejam atingidos. Mas, trata-se essa conclusão de um equívoco

hermenêutico, pois se o sócio não exercia a gerência não podia praticar atos e,

assim, não poderia ser responsabilizado.

Como exemplo de insistência ao equívoco pode-se citar:

Execução fiscal - penhora - incidência sobre bens particulares de sócios - admissibilidade - enceramento irregular de sociedade -responsabilidade solidária dos sócios em geral e não exclusivamente do sócio gerente - artigos 134, inciso VII, e 135, inciso I e III do código

tributário nacional - recurso provido.32

Nessa lógica, como já afirmado, apenas o sócio-gerente é que pode ser

responsabilizado. Mas, para que ocorra a responsabilização dessa espécie de

sócio nossas autoridades fazendárias têm dado um "jeitinho" para ludibriar o

_________________31

Jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça (Resp 101.597/PR, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, Diário de Justiça da União, de 14.04.1997).32

Jornal do Tribunal de Justiça, vol. 125, p. 123. No mesmo sentido: Recurso Especial 102.913-7 - RJ - 2º T - j. 13.12.84 - Rel. Min. Décio Miranda - v.u – Diário de Justiça da União, 22.2.85) e Apelação sumária, n. 142257 - São Vicente - 7º c – julg. 2.3.83 - Rel. Juiz Silva Ferreira v.u.

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34

nexo pessoal e direto entre o ato praticado e o responsável exigido pelo caput

do art. 135 e, assim, introduzir a responsabilidade pelas dívidas tributárias à

esfera jurídica desses administradores.

Para tanto, as autoridades têm usado a figura da presunção jurídica para

que o nexo seja estabelecido. Presunção segundo os ensinamentos de Iso

Chaitz Scherkerkewitz:

É a suposição da existência de um fato desconhecido que é tido como verdadeiro e conseqüente de outro fato conhecido. O fato carece de produção probatória, apoiando-se no fato desconhecido utiliza-se do conceito de verdade provável da conseqüência tirada do

fato conhecido.33

Tem-se, assim, simplesmente presumido que quando haja dissolução

irregular os sócios-gerentes tenham praticado o ato ensejador do dano

causado ao erário. Como exemplo de decisões nesse sentido:

Execução fiscal - Embargos opostos por sócio quotista, gerente da empresa devedora, como responsável substituto, em face da dissolução irregular da sociedade. Art. 135, III, do Código Tributário Nacional. Constitui infração de lei, com conseqüente responsabilidade do sócio-gerente, pelos débitos fiscais da empresa, como devedor substituto, a dissolução irregular da sociedade, mediante a mera paralisação de suas atividades. Gerente, para os efeitos em tela, e aquele como tal

considerado no recurso provido.34

Ainda mais, por incrível que pareça, a jurisprudência já vem mani-

festando quase que unanimemente a tese de que basta figurar como sócio-

gerente de dada empresa para que a norma incida.

Em lapidar decisão, a apelação:_________________33

SCHERKERKEWITZ, Iso Chaitz. O uso das presunções e ficções no direito tributário. Revista tributária e de finanças públicas, vol. 31. 2000. p. 87-88.34

Diário de Justiça de 27-5-91, p. 6055 - Resp n.º 008838/SP, Rel. Min, Ilmar Galvão). No mesmo sentido: Jornal do Tribunal de Justiça, 134, p. 84. Como também: Jornal do Tribunal de Justiça, 152, p. 55.

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35

Sem a prova de saída de mercadoria do estabelecimento autuado, que não recebeu a mercadoria não pedida, não pode a fazenda pública pretender o recebimento do tributo. A presunção de infração é figura jurídico-fiscal imaginária. A presunção em matéria fiscal se assemelha à suspeita em matéria penal. É simples presunção iuris tantum, que pode ser desfeita pela prova contrária. O direito fiscal e de interpretação estrita. O ilícito fiscal deve constituir-se em um fato perfeitamente definido na lei tributária ou fiscal, sem o que não nasce

o fato gerador da infração, a tipicidade.35

No entanto, o Fisco diante da existência de um ilícito, ao realizar tal

presunção, atribui através de um processo dedutivo a realização desse ilícito a

determinada pessoa. E no sistema pátrio existe, como direito assegurado

pela Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, inc. LVII, “a presunção de

inocência”. Assim, uma presunção constitucionalmente assegurada não pode

ser desconsiderada por presunção comum criada pelo intérprete.

TRIBUTÁRIO - DÍVIDA ATIVA INSCRITA - CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITOS - PESSOA FÍSICA - SÓCIOS - CTN, Art. 135, III. A pessoa jurídica, com personalidade própria, não se confunde com a pessoa de seus sócios. Constitui-se, pois, delírio fiscal, à uma troca de substituição tributária, atribuir-se a responsabilidade substitutiva (art. 135, caput, do CTN) para os sócios diretores ou gerentes antes

de apurado o ilícito (recurso improvido).36

Além do mais, para que possa ser atribuída a responsabilidade ao sócio-

gerente há que se comprovar a vontade (dolo) do administrador em frau-

dar o Fisco e desviar os bens garantidores do crédito fiscal. O elemento

subjetivo do ato não pode ser presumido, sob pena de se quebrar o direito de

defesa constitucionalmente assegurado no art. 5º, incisos LIV e LV da Cons-

tituição Federal de 1988.

É a explicação de Eduardo Fortunato Bim:_________________35

Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Ap. 90.944/Capital, rel. des. Roque Batista, j. 22.04.1975.36

Jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça, Resp 139.872/CE, Rel. Min. Milton Luiz Pereira, Diário de Justiça, de 10.08.1998.

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Dizer que a dissolução irregular da sociedade é infração à lei não permite ao intérprete presumir, ou melhor, prescindir do elemento subjetivo da conduta, ou seja, não permite ao intérprete concluir que nos casos de dissolução irregular existiu dolo ou culpa, que houve intenção ou negligência do administrador em desviar os bens sociais em prejuízo do Fisco ou que esse desvio realmente ocorreu.

Afirma, ainda:

Consideramos essa a melhor interpretação. Isso, porque quando se responsabiliza o administrador corre-se o risco de não se respon-sabilizar ninguém, pois diante dos grandes conglomerados empre-sariais existentes nos dias atuais esses não teriam condições de com seu patrimônio arcarem com as dívidas sociais, estaríamos descon-

siderando os interesses fazendários.37

Portanto faz-se necessário buscar o equilíbrio entre os deveres, direitos e

responsabilidades tanto das autoridades públicas quanto dos administradores

societários, demonstrando os limites de atuação impostos a cada uma das

respectivas funções. Buscando assim, a composição de interesses para os

conflitos que envolvam os gestores da propriedade empresária, especifi-

camente em matéria tributária, em contraposição aos interesses fazendários.

__________________37

BIM, Eduardo Fortunato. Dissolução irregular da empresa não enseja responsabilidade tributária de seus administradores. Revista Tributária e de finanças públicas, v. 41, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 140.

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CAPÍTULO III

A RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA DOS SÓCIOS DA

SOCIEDADE LIMITADA

3.1 Pessoa jurídica

O conceito de pessoa jurídica tem a mesma incerteza que a sua

constante evolução histórica, impossibilitando, dessa forma, a definição de um

marco preciso quanto ao seu surgimento.

Destaque-se, inicialmente, a grande influência do Direito Canônico no

instituto, quando Washington de Barros Monteiro38, sustenta que "foi o direito

canônico que desenvolveu tal instituto com o incremento das fundações, então

denominadas corpus mysticum. Qualquer oficio eclesiástico, provido de

patrimônio próprio, era considerado ente autônomo”, tendo em vista a

necessidade de considerar a Igreja como uma universalidade diversa das

pessoas que dela participavam.

Com base nessas idéias Robert Caenegen destaca, dentre os princípios

elaborados pelos canonistas em relação à Pessoa Jurídica: "a autonomia da

associação: quaisquer pessoas tinham o direito de unir-se com o objetivo

___________________38

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. 36. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 99.

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de formarem uma corporação que diferençava dos próprios integrantes".39

Para os romanos, a origem da expressão pessoa vem de persona que

significa máscara, palavra relacionada ao teatro, indicando idéia de repre-

sentação.

Conforme remete Schulz40:

Os romanos não conheceram a pessoa jurídica enquanto ficção, pois, de acordo com a sua organização social corporativa, o patrimônio em comum, ou seja, todos eram co-proprietários. Destaca ainda que o conceito e a expressão pessoa jurídica foram criados por Mommsen no final do século XIX e apresenta uma crítica contundente à idéia doinstituto acusando-a de supérflua e prejudicial pelas dificuldades que cria.

Entretanto, uma visão crítica do conceito de pessoa jurídica é

apresentada pela doutrina filosófico-analítica. Conforme destaca Carmen Boldó

Roda41:

A versão mais avançada da revisão do conceito de pessoa jurídica oferecem os autores integrantes da doutrina filosófico-analítica, que empregam como principal instrumento a análise da linguagem com o que a ciência jurídica descreve a pessoa jurídica, responsabilidade, propriedade e obrigações, por uma linguagem mais articulada em que tais posições sejam diversas segundo o conteúdo específico que assumem: já se referem aos indivíduos considerados uti singule ou uti universi.

Dessa forma, nasce o instituto após o surgimento do Estado e alcança

contornos definidos após a Revolução Francesa, especialmente no Estado

_____________________39

CAENEGEN, Robert C. Van. Uma introdução histórica ao direito privado. Trad. Carlos Eduardo Lima Machado. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 94.40

SCHULZ, Fritz. Derecho romano clásico. Trad. José Santa Cruz Teigeiro. Barcelona: Bosch, 1960. p. 83 apud BODNAR, Zenildo. Responsabilidade tributária do sócio-administrador. Curitiba; Juruá, 2006. p. 156.41

RODA, Carmen Boldó. Levantamiento del velo y persona jurídica en el derecho privado espanhol. Madrid: Aranzado, 1996. p. 490 apud BODNAR, Zenildo. Responsabilidade tributária do sócio-administrador, p. 156.

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contemporâneo, que incentiva e protege as atividades empresariais que

contribuem para o progresso dos povos.

Atualmente, segundo concepção de Luiz Edson Fachin42, a pessoa

jurídica é reconhecida como titular de direitos e obrigações nas relações

jurídicas surge da vontade humana, sendo uma realidade jurídica reconhecida

antes mesmo do preenchimento de requisitos formais – isso para proteger a

boa-fé e a confiança de terceiros. Acrescenta o autor: “supera-se, gradati-

vamente, a dependência da atribuição de personalidade somente após o

registro formal, em diversas hipóteses de resguardar a boa fé de terceiros”.43

O reconhecimento da capacidade de direito a entes abstratos tem como

principal razão a otimização das habilidades humanas que, reunidas em

comunhão de esforços, atingem suas finalidades com mais facilidade e

competência. Este é o ensinamento de Caio Mário da Silva Pereira44:

[...] a complexidade da vida civil e a necessidade da conjugação de esforços de vários indivíduos para a consecução de objetivos comuns ou de interesse social, ao mesmo passo que aconselham e estimulam a agregação e polarização de suas atividades, sugerem ao direito equiparar à própria pessoa humana certos agrupamentos de indivíduos e certas destinações patrimoniais e lhe aconselham atribuir capacidade de ação aos entes abstratos assim gerados.

O Direito, ao reconhecer essa realidade, incentiva a criação de entes

personalizados, ao mesmo tempo que reconhece-lhes a personalidade. Trata-

se da função promocional do Direito, conforme explica Norberto Bobbio, pela

____________________42

FACHIN, Luiz Edson. Teoria crítica do direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 135.43

Ibidem, p. 135.44

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 185. Cf. também. RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. v. 4, p. 86

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40

qual o direito "intenta competir à ação, induzindo os indivíduos a praticarem

condutas necessárias ao resultado modificador, que se vislumbra como

desejável".45

Complementado por Marçal Justen Filho46 ao afirmar que:

[...] para estimular a realização dessas associações e incentivar os seres humanos à concentração de recursos e esforços, o Estado vale-se da personificação societária. A atribuição de personalidade jurídica corresponde, assim, a uma sanção positiva ou premial, no sentido de um beneficio assegurado pelo direito a quem adotar a conduta desejada.

Nos tempos atuais, a necessidade de otimizar habilidades e multiplicar

competências é ainda maior em função da dinâmica da vida moderna, que está

a exigir a cada dia novas descobertas e a congregação de habilidades para

que as missões hodiernas sejam alcançadas.

Restando evidenciada nesse contexto, a importante função social que a

pessoa jurídica desempenha na Sociedade em prol do bem comum, suprindo a

própria deficiência humana.

O Direito está sempre a serviço dos homens, devendo-se, porém,

considerar a realidade dos fatos e as novas exigências sociais, e assim

reconhecer mecanismos e técnicas a bem do desenvolvimento humano.

Faz-se necessário destacar que o reconhecimento da personalidade

como centro de imputação de deveres e ponto-base nas relações jurídicas

apresenta contornos específicos em cada ramo do direito de acordo com as

suas exigências e características. Assim o reconhecimento da personalidade_____________________45

BOBBIO, Norberto apud BODNAR, Zenildo. Responsabilidade tributária do socio-administrador, p. 15746

JUSTEN FILHO, Marçal. Desconsideração da personalidade jurídica no direito brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990. p. 49.

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no direito tributário não é idêntico ao direito civil, processual ou penal.

Como se vê a pessoa jurídica tem existência própria, isto é, inde-

pendente dos indivíduos que a integram na conjugação de esforços e recursos

comuns , objetivam alcançar um fim comum, ou seja, o que lhe serviu de causa

determinante, podendo resultar da união de mais de uma pessoa física para

atingir determinado objetivo (sociedades), da destinação de um patrimônio para

um determinado fim (fundações), ou ainda, de lei (pessoas jurídicas de direito

público).47

3.2 Princípio da separação patrimonial

A primeira conseqüência do reconhecimento da personalidade é a

separação do patrimônio da pessoa jurídica e de seus integrantes ou

dirigentes, sendo que a desconsideração deste princípio basilar é a negação da

própria pessoa jurídica.

Conforme salienta José Lamartine de Oliveira48, a separação patrimonial

e a limitação da responsabilidade do sócio "[...] longe de ser um 'privilégio' é um

princípio da mais alta importância que também deverá dominar as regras

jurídicas que venham a compor o futuro direito empresarial geral".

Este princípio deve ser respeitado inclusive pelos sócios, pois eventual

____________________47

Como disposto no Código Civil de 2002, Lei 10.406, no arts. 40 a 44, as pessoa jurídicas são: 1) de direito público: interno (União, Estados, DF, Territórios, Municípios, autarquias e demais entidades de caráter público criadas por lei) ou externo (Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público) -, e 2) de direito privado (as associações, sociedades e fundações). 48

OLIVEIRA, José Lamartine Corrêa de. A dupla crise da pessoa jurídica. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 409.

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42

confusão patrimonial poderá justificar a desconsideração da personalidade

jurídica nos termos do art. 50 do Código Civil de 2002.

3.3 Conceito de pessoa jurídica

O conceito de pessoa jurídica sofreu alterações ao longo da evolução do

instituto, estando ainda em fase de consolidação. A melhor conceituação é

aquela que apresenta as suas principais características. Salienta-se que não

existe conceito incorreto e sim, incompleto.

A capacidade para ser titular de relações jurídicas, ou seja, sujeito de

direitos e obrigações, não é atributo exclusivo de seres dotados de inteligência,

uma vez que o Estado reconhece esse poder também a entes coletivos.

Vários são os conceitos apresentados pela doutrina, senão veja-se:

Washington de Barros Monteiro49 conceitua Pessoa Jurídica como

sendo "[...] associações ou instituições formadas para a realização de um fim e

reconhecidas pela ordem jurídica como sujeitos de direitos".

Para Silvio Rodrigues50, as Pessoas Jurídicas são "[...] entidades a que

a lei empresta personalidade, isto é, são seres que atuam na vida jurídica, com

personalidade diversa da dos indivíduos que os compõem, capazes de serem

sujeitos de direitos e obrigações na ordem civil'.

Enquanto que Orlando Gomes conceitua as pessoas jurídicas, sintetica-

mente, como "[...] grupos humanos dotados de personalidade, para a reali-

__________________49

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil, p. 99. 50

RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil, p. 86.

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43

zação de fim comum".51

De acordo com a visão de Luiz Edson Fachin52:

A pessoa jurídica nada mais é do que um ente inicialmente moldado à semelhança das pessoas naturais, e que progressivamente foi se apartando da formulação das pessoas naturais para compor uma realidade técnica, dotada de uma certa vida jurídica própria, no intuito de contribuir, do ponto de vista as relações jurídicas, para o trânsito de bens, coisas e interesses.

Como é de se observar, os conceitos da doutrina tradicional até agora

apresentados, não fazem referência à função social da pessoa jurídica,

missão sem a qual a mesma não merece reconhecimento.

Dessa feita, sem nenhuma pretensão de trazer um conceito perfeito,

mas procurando adequá-lo e operacioná-lo à pesquisa, Zenildo Bodnar propõe:

Pessoa jurídica é o grupo de pessoas ou conjunto de bens ao qual o Estado reconhece a aptidão para ser sujeito de direito e obrigações, com existência distinta da de seus membros e com a função social de realizar também os interesses da coletividade, especialmente o dever de contribuir com os gastos públicos. É um grupo de pessoas, mas pode ser também um conjunto de bens como ocorre com as

fundações. 53

É a esse grupo de pessoas ou conjunto de bens que o Estado reco-

nhece sua personalidade jurídica, ou seja, a aptidão genérica para atuar nas

relações jurídicas como titular de direitos e sujeito a obrigações, destacan-

do-se que a pessoa jurídica tem existência distinta da dos seus membros,

especialmente em relação ao patrimônio, sendo que os bens dos sócios não

se confundem com os bens da pessoa jurídica.

Ressalte-se, por fim, que a pessoa jurídica tem uma importante missão__________________51

GOMES, Orlando. lntrodução ao direito civil. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 186.52

FACHIN, Luiz Edson. Teoria critica do direito civil, p. 134.53

BODNAR, Zenildo. Responsabilidade tributária do sócio-administrador, p. 156.

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social a cumprir, atender os interesses não apenas de seus sócios, mas

também de toda a comunidade, é justo aí, que entra a responsabilidade das

‘sociedades limitadas’, que o Estado confere personalidade para este fim e não

para a facilitação de fraudes e falcatruas.

Enfim, como preleciona Paulo Dourado de Gusmão54:

A pessoa jurídica é construção da técnica jurídica, que atribui personalidade a uma associação de pessoas, a um patrimônio ou serviço público, reconhecendo-lhe interesses e prerrogativas distintos dos sócios administradores ou destinatários. É um ente criado, primeiro, pelos costumes, depois pelo direito. Tem autonomia jurídica em relação aos sócios, administradores ou destinatários. É centro de imputação de direitos e obrigações, independente dos indivíduos que a compõem ou a que ela se destinam ou que por ela agem e que por ela deliberam.

3.4 Função social da pessoa jurídica

Com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 foi

inaugurada a ‘Sociedade’, apresentando-se com ela novos valores e objetivos

a trilhar, especialmente considerando-se o que dispunha o antigo Código Civil

de 1916, tido até como um estatuto de privilégios fundado nos ideais do

liberalismo.

De acordo com Zenildo Bodnar55, nos dias atuais, todo o direito deve

estar voltado para “garantir a dignidade da pessoa humana como valor

absoluto”, e não estar apenas a “serviço da satisfação de interesses individuais

e egoísticos”. Para isso:

__________________54

GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 29. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 27455

BODNAR, Zenildo. Curso objetivo de direito de propriedade. Curitiba: Juruá, 2004. p. 37-39.

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45

A tarefa maior do Estado é garantir a todos a existência digna conforme os preceitos da justiça social, e para que este ideal seja alcançado, os institutos e direitos também devem exercer funções relacionadas ao bem-estar da comunidade.

Quanto à função social da propriedade o autor destaca:

O proprietário não pode mais ser um monarca absoluto de seu 'sagrado' direito com atitudes parasitárias de comodismo, pois tem uma hipoteca social importante que grava e onera a sua propriedade, a qual não pode ser um instrumento utilizado apenas para satisfação de interesses egoísticos e excessivamente personalistas, mas sim,

um direito com profundo espírito social.56

Como se vê, a Constituição exige que os direitos e instituições cumpram

função social, e dessa exigência não está excluída a pessoa jurídica, posto que

se traduz em uma manifestação especial da propriedade.

Em relação à propriedade privada e aos bens de produção Eros

Roberto Grau57 destaca que:

A nova ordem constitucional teve o condão de não apenas afetá-los pela função social - conúbio entre os incisos II e III do art. 170 - mas, além disso, de subordinar o exercício dessa propriedade aos ditames da justiça social e de transformar esse mesmo exercício em instrumento para a realização do fim de assegurar a todos existência digna.

Enfatiza Flávia Lefèvre Guimarães58 que a personalidade jurídica se ex-

pressa como modalidade especial de exercício do direito de propriedade, de-

vendo, portanto, cumprir função social.

A pessoa jurídica cumpre a sua função social quando respeita os valores

e exigências sociais estatuídas na Constituição Federal de 1988 e demais leis_____________________56

Ibidem, p. 38.57

GRAU, Eros Roberto. Ordem econômica na Constituição de 1988: interpretação e crítica, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990. p. 247.58

GUIMARÃES, Flávia Lefévre. Desconsideração da personalidade jurídica no código de defesa do consumidor. São Paulo: Max Limonad, 1998. p. 183.

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vigentes, quando honra com seus compromissos perante a Fazenda Pública,

tendo em vista a importância social da tributação.

É importante que a pessoa jurídica cumpra com as suas ‘obrigações

tributárias’, pois, sem tributos, o Estado também não realizaria a sua função

social, uma vez que a tributação é o instrumento de que se vale o Estado

contemporâneo para cumpri-la. É portanto, pertinente a análise da função

social da empresa, sendo que neste caso, a empresa, é entendida como

corporação, posto que esta é a manifestação mais eloqüente de pessoa

jurídica relacionada com a tributação.

Ao tratar da função social da empresa, Lucíola Lopes Nerilo59 aduz que:

Quando a empresa comete crimes contra a economia popular, não obedece aos ditames das leis trabalhistas, consumeristas (rectius), fiscais e previdenciárias, está se confrontando com o bem público e, conseqüentemente, a empresa não cumpre o seu papel social.

Em se tratando de empresa, a própria Lei n.º 6.404, de 1976, estabelece

norma específica sobre o tema em seu art. 114 “O administrador deve exercer

as atribuições que a lei e o estatuto lhe conferem para lograr os fins e no

interesse da companhia, satisfeitas as exigências do bem público e da função

social da empresa”. Assim, o sujeito não exercitará seus direitos de modo

egoísta, mas tendo em vista a função deles e a finalidade social que objetivam.

O ato conforme a lei se for contrário a essa finalidade é abusivo e, em conse-

qüência, atentatório ao direito.

A solidariedade, a boa-fé, a função social e a confiança não são proble-

mas exclusivos da sociologia, são importantes valores referentes a princípios_________________59

NERILO, Luciola Fabrete Lopes. O Regime Jurídico da Responsabilidade Civil dos Administradores de Sociedades por Ações no Brasil e na Argentina. Dissertação Mestrado em Direito. UFSC/Florianópolis, 2001, p. 119.

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47

que devem nortear a aplicação do Direito, para a consecução da verdadeira

justiça.

O mecanismo mais eficaz para recolocar a pessoa jurídica nas trilhas

normais do atendimento de sua função social é a aplicação da teoria da

desconsideração da personalidade jurídica.

Para tanto, Onofre Alves Batista Jr.60 explica:

A própria desatenção, assim, à função social da empresa, traçada na CRFB/88, impõe uma vinculação tendencial ao legislador, de romper com manobras e ficções capazes de colocar em check a função social da empresa. Exatamente por essa razão o mesmo direito que criou a separação dos patrimônios, oferece, quando vê contrariado o espírito de seu mundo, formas de romper com a fraude e com a simulação, em atenção ao interesse social. Trata-se da doutrina da ‘desconsideração da personalidade jurídica'.

Nestes termos, sendo a pessoa jurídica uma manifestação do direito de

propriedade, somente será reconhecida e protegida quando cumprir com a sua

função social. Ao mesmo tempo em que a pessoa jurídica serve como impor-

tante e estratégico instrumento para otimizar as capacidades humanas,

cumprindo notável função social, pode também ser utilizada como poderoso

instrumento de condutas ilícitas, servindo como um verdadeiro escudo a

serviços de pessoas mal intencionadas.

3.5 Distinção entre tipos societários e entre o ato do adminis-

trador e da pessoa jurídica

O art. 135 do CTN em seu inciso III não faz nenhuma referência a sócios

____________________60

BATISTA JR., Onofre Alves. Responsabilidade tributaria do sócio não gerente: o laranja, a fraude á lei e a desconsideração da personalidade jurídica. Revista da Procuradoria Geral da Fazenda Estadual Minas Gerais, n. 35, p. 56.64, jul./set. 1998. p. 60.

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nem mesmo a tipos societários, mas refere-se à figura de diretor, gerente e

representante, em alusão àqueles que atuam em nome do contribuinte pessoa

jurídica, como órgãos.

Destaque-se, contudo, que entre o sócio e diretor, ou gerente existe uma

diferença evidenciada pelo fato de que o sócio aporta capital na formação do

patrimônio da pessoa jurídica e, em princípio, não participa de seu

funcionamento, não tendo, por isso, responsabilidade pelo que acontece na

empresa, enquanto que o diretor ou gerente será o órgão através do qual a

sociedade se manifesta.

É certo que o sócio, em sociedades como a em nome coletivo, é res-

ponsável também pela gerência da pessoa jurídica, não tendo sentido para ele

a distinção aqui apontada. Ressaltando-se que nesse caso, a responsabili-

dade já está regulada pelos artigos 134, inciso VII e 135, inciso I, do Código

Tribunal Nacional.

É evidente, que a distinção entre sócio e diretor tem relevo somente nos

tipos societários que permitem a separação entre um e outro, como as

sociedades limitadas e as sociedades anônimas. Nestas, só aquele que age

em nome do contribuinte pode, nessa condição, cometer infrações ao contrato

ou à lei, capazes de fazer incidir o artigo 135, inc. III, do CTN.

O sócio que não tem poderes de direção ou gerência, nada obstante a

insistência de algumas autoridades fiscais, não é pessoalmente responsável

pelas dívidas da sociedade.

Nesse sentido, tem decidido a Primeira Seção do Egrégio Superior

Tribunal de Justiça:

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TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVOR REGIMENTAL CONTRA DECISÃO QUE NEGOU SEGUIMENTO A EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. SOCIEDADE LIMITADA. DISSOLUÇÃO. SÓCIO-GERENTE. RESPONSABILI-DADE TRIBU-TÁRIA. LIMITES. PRECEDENTES.

1. Agravo Regimental interposto contra decisão que, com base na jurisprudência remansosa desta Casa, entendeu não emprestar cami-nhada a ERESp, negando-lhe, assim, seguimento.2. Cuida o presente caso de se buscar definição acerca da possi-bilidade de se cobrar integralmente de ex-sócio de uma empresa tributo por ela não recolhido, quando o mesmo já não exercia mais atos de adminis-tração da mesma, reclamando-se ofensa ao art. 135, do CTN.3. De acordo com o nosso ordenamento jurídico-tributário, os sócios (diretores, gerentes ou representantes da pessoa jurídica) são res-ponsáveis, por substituição, pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes da prática de ato ou fato eivado de excesso de poderes ou com infração de lei, contrato social ou estatutos, nos termos do art. 135, inc. III, do CTN.4. A solidariedade do sócio pela dívida da sociedade só se manifesta, todavia, quando comprovado que, no exercício de sua administração, praticou os atos elencados na forma do art. 135, caput, do CTN. Há impossibilidade, pois, de se cogitar na atribuição de tal responsa-bilidade substitutiva quando sequer estava o sócio investido das funções diretivas da sociedade.5. In casu, a execução abrange período anterior a época de respon-sabilidade do embargado e as dívidas anteriores (ou posteriores) à perma-nência do sócio na empresa não podem, via de regra, atingi-lo, até mesmo porque ausente qualquer prova de liame entre o embargado e os fatos geradores dos períodos restantes.6. Não se encontra ultrapassado o posicionamento esposado no deci-sório guerreado, mas, sim, o julgado citado do ano de 1996 que não mais se amolda ao entendimento desta Corte Superior. Precedentes.

7. Agravo regimental improvido." 61

Pelo exposto, a responsabilidade tributária de sócios e representantes

de pessoas jurídicas de direito privado pode ser assim sintetizada:

a) nas sociedades cujos sócios respondem ilimitadamente, há responsa-

bilidade subsidiária destes62, em caso de impossibilidade econômica da pessoa

jurídica; e responsabilidade pessoal do sócio que agir com excesso de

poderes, contra a lei ou o contrito social;

b) nas sociedades cujos sócios respondem de forma limitada, há respon-

___________________61

BRASIL. Jurisprudências. Ac. un. da 1ª Seção do STJ - AERESP 109.639/RS - Rel. Min. José Delgado – DJ 28/02/2000, p. 32.

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sabilidade subsidiária de cada um, limitada nos termos da lei comercial, no

caso de impossibilidade econômica da pessoa jurídica; e responsabilidade

pessoal e ilimitada do gerente, diretor ou representante que agir com excesso

de poderes, contra a lei ou o contrato social.

Constatou-se, outrossim, que esse ato praticado com excesso de

poderes, com ofensa de lei ou do contrato a que se referem o artigo 135 do

CTN, o art. 10 do Decreto 3.807/1919 e o art. 158 da Lei n.º 6.404/1976 não

pode ser entendido como mero inadimplemento de tributos.

Para um adequado entendimento com base no art. 135 do CTN, o

importante é saber ‘quem’ praticou infração à lei, se a pessoa jurídica através

de seu órgão, ou se a pessoa natural que a corporifica.

Não se pode pretender que a pessoa jurídica somente pratique atos

lícitos, excluindo de sua responsabilidade a violação de normas jurídicas,

supostamente imputável apenas aos seus sócios ou dirigentes. Se o ato foi

praticado pela pessoa jurídica, através de órgão seu, a responsabilidade é da

pessoa jurídica, e não da pessoa física que validamente exercia a função de

órgão. Ao revés, como informa Pontes de Miranda63, "se a pessoa ou as pes-

soas que compõem o órgão atuam fora dos limites da competência, o ato não é

ato de órgão; portanto, não é ato da pessoa jurídica".

Dessa forma, os diretores e sócios-gerentes apenas podem ser respon-

sabilizados, nos termos do artigo 135 do CTN, quanto atuem fora dos limites de

____________________62

Como já destacado, os sócios respondem subsidiariamente em relação à sociedade, e solidariamente entre si.63

PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito civil. 5. ed. Rio de Janeiro: Borsoi, 1978, p. 290.

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sua competência. Essa atuação, obviamente, é aquela que se dá com “infração

das normas que limitam essa competência, que são exatamente a lei

societária”, o contrato social ou os estatutos.

Chegou-se a essa conclusão através de um exame detido na legislação

comercial, que não difere substancialmente das disposições específicas do

CTN. O artigo 10 da Lei das Sociedades por Quotas determina a responsabi-

lidade pessoal do sócio-gerente por atos praticados com violação do contrato

ou da lei.

Nesse caso, o "contrato" não é um contrato de mútuo, ou de compra e

venda. É o contrato social. Da mesma maneira, a "lei" referida no dispositivo

não é qualquer lei, mas a lei análoga ao contrato social, qual seja, a lei

societária. Essa é a lição de Fran Martins64 e de Amador Paes de Almeida65:

O sócio gerente que agir contra os dispositivos do contrato ou da lei, que ê a norma pública que regula, não só a formação da sociedade, corno o seu funcionamento, se torna passível de responder solidária e ilimitadamente pelos atos praticados.

A violação da lei se traduz pela transgressão às disposições legais, tais como a prática de atos de gestão por sócios proibidos de fazê-lo, gestão fraudulenta, dissolução irregular da sociedade etc..

Sendo assim, a violação da lei societária pode ocorrer, dando azo à

responsabilização do sócio-gerente ou diretor, em dois momentos distintos. O

primeiro, quando o fato gerador é praticado pelo diretor ou sócio-gerente fora

de suas funções, extrapolando os limites impostos pelos atos constitutivos ou

pela lei societária. É o caso, por exemplo, do sócio-gerente que realiza opera-

_________________64

MARTINS, Fran. Sociedade por quotas no direito brasileiro e estrangeiro. 3. ed., Rio de Janeiro, Forense, 1981, vol. II, p. 717.65

ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 27.

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ção mercantil vedada pelo contrato social. O segundo, quando embora o fato

gerador tenha sido realizado pela pessoa jurídica, a dívida tributaria não for

adimplida em virtude de ato contrário à lei societária praticado pelo diretor ou

sócio-gerente, como é o caso da liquidação irregular da sociedade, do desvio

de recursos desta para a pessoa natural do diretor, ou quaisquer outros atos

que, no dizer de Misabel Abreu Machado Derzi66, “embora praticados em nome

do contribuinte, são contrários aos seus interesses”.

Portanto, para a aferição dessa responsabilidade, é inteiramente

irrelevante a natureza do tributo não pago. Ressaltando-se que não foi da

pessoa jurídica o ato que infringiu a lei, não pagando o tributo, mas do seu

diretor ou sócio, enquanto pessoa natural.

É um avanço nas decisões do STJ que já mostra os primeiros passos

de um longo caminho a trilhar:

TRIBUTÁRIO - SOCIEDADE LIMITADA - RESPONSABILIDADE DO SÓCIO PELAS OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS DA PESSOA JURÍDICA (CTN, ART. 173, III) - SÓCIO-GERENTE – TRANS-FERÊNCIA DE COTAS SEM DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE -RESPONSABILIDADE DO SUCESSOR –CTN, arts. 135 e 136. 1. o Sócio e a pessoa jurídica formada por ele são pessoas distintas (Código Civil, art. 19). Um não responde pelas obrigações da outra. II - em se tratando de sociedade limitada, a responsabilidade do cotista, por dívidas da pessoa jurídica, restringe--se ao valor do capital ainda não realizado (Decreto n.º 3708/1919, art. 9º). Ela desaparece, tão logo se integralize o capital. III – O CTN, no inc. III do art. 135, impõe responsabilidade - não ao sócio - mas ao gerente, diretor ou equivalente. Assim, o sócio-gerente é responsável, não por ser sócio, mas por haver exercido a gerência. IV - Quando o gerente.... ( STJ (Resp 101.597/PR, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, Dj de 14.04.1997)

Quando o administrador pratica ato dentro dos marcos delimitadores dos

atos societários pratica ato da pessoa jurídica e não ato seu. Ato seu pode ser

___________________66

Derzi Misabel Abreu Machado em notas de atualização ao Direito Tributário Brasileiro, de Aliomar Baleeiro, 11. ed.. Rio de Janeiro. Forense, 1999, p. 757.

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considerado apenas aqueles atos que extrapolem os limites dos marcos

definidores desses atos ou, melhor dizendo, que não estejam autorizados em

lei ou nos estatutos sociais da empresa.

Nesse mesmo sentido Pontes de Miranda67 assevera que:

Se as pessoas jurídicas fossem incapazes, os atos dos seus órgãos não seriam atos seus. Ora, o que a vida nos apresenta é exatamente a atividade das pessoas jurídicas através de seus órgãos: os atos são seus praticados por pessoas físicas. Aquela concepção, romanística, foi ultrapassada. Os atos dos órgãos , que se não confundem com os dos mandatários da pessoa jurídica, são atos das próprias pessoas jurídicas: têm elas vontade, que se exprime; daí a sua responsa-bilidade pelos atos ilícitos deles, que sejam seus.

O art. 135, assim, responsabiliza aqueles que praticaram atos não

autorizados pelos marcos delimitadores presentes na dialética societária,

criando uma maior segurança jurídica nessas relações. Esse é o objetivo desse

dispositivo, ou seja, sancionar aqueles administradores que praticaram atos

que não estavam autorizados, responsabilizando-os pelos débitos criados além

do permitido.

Assim, um administrador que haja dentro dos padrões diligentes previsto

pelo art. 1.011, do Código Civil de 2002 e pelo art. 153, da Lei n.º 6.404/76 e

ético-sociais (art. 154 da Lei n.º 6.404/76) aos quais incube a todo e qualquer

gestor não poderá ser responsabilizado, pois esse ato será um ato da pessoa

jurídica e não um ato seu. O ato que poderá ser atribuído a esse administrador

será um ato que extrapole os poderes conferidos a esse administrador na

dialética societária.

Esse ato do administrador, que não contribuirá em absolutamente nada

__________________67

PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de Direito Privado. Rio de Janeiro: Borsoi, 1970. p. 413.

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para preencher o fato descrito na hipótese normativa tributária, deverá estar

direta e pessoalmente relacionado com o mesmo. Ou seja, entre o fato

praticado pelo administrador (responsável), o qual se subsume ao fato descrito

na norma introdutora de responsabilidade, e o próprio há um vínculo lógico

direto e pessoal68. Esse nexo lógico é justamente o que irá determinar a

pessoa física do administrador ao qual a responsabilidade tributária será

atribuída. Observe a decisão abaixo:

RESPONSABILIDADE PESSOAL - REPRESENTANTES DE PES-SOAS JURÍDICAS - CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITOS.

A pessoa jurídica tem existência distinta de seus membros e os sócios não respondem pelas dívidas da sociedade, a não ser quando diretores, gerentes e representantes dela ajam com infração à lei, ao contrato social ou estatuto. (STJ Resp 79155/CE, Rel. Min. Garcia Vieira, DJ de 08.06.1988). Daí a necessidade do vínculo direto e pessoal, pois os sócios não podem ser responsabilizados por atos dos administradores, ou seja, por atos de terceiros.

Assim, para que ocorra a responsabilização dos administradores, além

de existir um ato fora dos padrões de diligência e ética de atuação determina-

nados em lei e nos estatutos da sociedade empresarial, o administrador deverá

possuir a intenção de agir dessa forma contra os seus representados, ou seja,

para que ocorra a incidência normativa do art. 135 é característico o dolo.

Mizabel Derzi69 assim explica essa exigência:

O terceiro que age com dolo, contrariando a lei, o mandato, o contrato social ou o estatuto, dos quais decorrem seus deveres, em relação ao contribuinte, de representação e administração, torna-se, no lugar do próprio contribuinte, o único responsável pelos tributos decor-rentes daquela infração. É que o representante, o mandatário e o administrador com poderes de decisão - inclusive aqueles arroladosno art. 134, podem abusar dos poderes que têm, em detrimento dos interesses do contribuinte.

__________________68

BALEEIRO, Aliomar. Direto tributário brasileiro, 2001, p. 738.69

MACHADO, Derzi Mizabel Abreu. Da unidade do injusto penal tributário. Revista de direito tributário 63, p. 221.

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Donde conclui-se, que para que ocorra a incidência normativa do art.

135 do CTN especificamente aos administradores se faz necessário que exista

um ato doloso, que esteja direta e pessoalmente imputado à pessoa física do

administrador, praticado com excesso de poderes, infração de lei, contrato

social ou estatuto que resulte em uma obrigação tributária não autorizada

(dano ou prejuízo).

3.6 O não pagamento de tributo como infração à lei

Com base no o Projeto de Lei Complementar n.º 73/2003 que

declara em seu art. 2º:

Para efeito de interpretação do art. 135 da Lei n.º 5.172, de 1966 -Código Tributário Nacional, configura infração de lei a falta de recolhimento do tributo devido, independentemente de demonstração de dolo ou culpa, sem que haja pedido de autofalência no prazo de sessenta dias após o vencimento.

Está claro que o legislador pretende que, caso não haja pedido de auto-

falência no prazo de 60 dias após o vencimento do tributo, interpretando-se

como infração à lei contida no caput do 135 a simples falta de recolhimento do

tributo. Esse dispositivo faria com que os administradores respondessem com

seu patrimônio pessoal pelos tributos não recolhidos pela empresa.

Anote-se que nos últimos anos essa interpretação vem prevalecendo no

Supremo Tribunal de Justiça:

EXECUÇÃO FISCAL - PENHORA DE BENS PARTICULARES DE SÓCIO GERENTE - DESNECESSIDADE DE PRÉVIA APURAÇÃO DE RESPONSABILIDADE PESSOAL. Infringe a lei o sócio-gerente que deixa de recolher, tempestivamente, os tributos devidos pela firma devedora e, como responsável tributário, pode ser citado e ter seus bens particulares penhorados,

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mesmo que seu nome não conste da certidão da dívida ativa. Inexigibilidade de prévia apuração da responsabilidade. Recurso provido. (RESP n.º 0029506/MG, Rel. Min. Garcia Vieira, DJ de 23.392, p. 03437)

Assim, através desse chamado ‘delírio jurídico’, os administradores

passariam a ser responsabilizados pelos atos praticados pela sociedade, pois

como visto, quando o administrador pratica ato dentro dos marcos

delimitadores dos atos societários pratica ato da pessoa jurídica e não ato seu.

Ato seu pode ser considerado apenas aqueles atos que extrapolem os limites

dos marcos definidores desses atos ou, melhor dizendo, que não estejam

autorizados em lei ou nos estatutos sociais da empresa.

Com essa redação, então, mesmo quando o administrador deixa de

recolher tributo devido pela sociedade não por vontade própria mas por

dificuldade em que a empresa se encontra, agindo com toda diligência e ética-

social a qual incube a todo gestor, esse poderá ser responsabilizado. Ou seja,

os gestores de nossas sociedades passarão a ser responsabilizados por atos

autorizados pelos marcos delimitadores presentes na dialética societária (atos

praticados pelos órgãos da pessoa jurídica, portanto atos dessa), não

importando mais se houve a pratica de atos ilícitos com dolo ou culpa, ou se

essa inadimplência ocorreu por meras dificuldades em que a sociedade se

encontra.

Ao se atribuir responsabilidade aos administradores pelo não pagamento

de tributos devidos pela sociedade, ou seja, pelo ilícito da sociedade e não do

administrador, quebra-se o vínculo lógico direto e pessoal e por conseqüência

se atribui a responsabilidade por créditos tributários devidos por terceiros.

Juridicamente, isso significa que pessoa diversa que não aquela designada

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constitucionalmente suportará o ônus tributário, viola-se a capacidade contri-

butiva (art. 145, § 1º, Constituição Federal).

Mesmo no caso de tributos que repercutem não se justifica a atribuição

de responsabilidade aos administradores quando esses deixam de recolher os

tributos por dificuldades da empresa. Isso porque dentro da estrutura da norma

tributária não há espaço para um terceiro, o qual arca com o ônus do crédito

tributário, o contribuinte é a empresa e não o terceiro contribuinte de fato.

Assim, quando o administrador deixa de recolher tributos, mesmo os que

repercutem, o ilícito continua sendo da empresa, pois o contribuinte indepen-

dentemente da repercussão é a pessoa jurídica. Não se pode através de

fenômenos econômicos aplicar a norma tributária, para se interpretar um ente

jurídico deve se considerar esse no meio jurídico e não atribuir conseqüências

jurídicas baseadas em fenômenos econômicos.

No entanto, apesar de majoritária a atribuição de responsabilidade aos

administradores pelo não pagamento de tributos devidos pela sociedade não é

essa posição unânime:

TRIBUTÁRIO - SOCIEDADE ANÔNIMA E/OU SOCIEDADE POR COTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA - LIMITES DA RES-PONSABILIDADE DO DIRETOR E/OU SÓCIO-GERENTE.

Quem está obrigado a recolher os tributos devidos pela empresa é a pessoa jurídica, e, não obstante ela atue por intermédio de seu órgão, o diretor ou o sócio-gerente, a obrigação tributária é daquela e não destes. Sempre, portanto, que a empresa deixa de recolher o tributo na data do respectivo vencimento, a impontualidade ou a inadimplência é da pessoa jurídica, não do diretor ou do sócio-gerente, que só respondem, e excepcionalmente, pelo débito, se resultar de atos praticados com excesso de mandato ou infração à lei, contrato social ou estatutos, exatamente nos termos do que dispõe o art. 135, inc. III, do CTN. Recurso especial conhecido e improvido. (STJ, REsp 100739/SP, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ de 01.02.1999)

Nem se diga que no caso ocorre a apropriação indébita capaz de carac-

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terizar o ilícito gerador, pois para a caracterização do crime tributário é

imprescindível o elemento subjetivo, como a explica Mizabel Derzi70:

Os delitos de fundo tributário, exigem, para sua configuração, a prática dolosa de ações ou omissões descritas na lei penal, específicas, e não somente o não recolhimento dos tributos devidos.

Portanto, pode-se finalizar afirmando que para que se caracterize o ato

ensejador da responsabilidade é necessário se diferenciar o ato do adminis-

trador do ato da pessoa jurídica, pena a se desconsiderar princípios basilares

do Estado Democrático de Direito pátrio. Esse ato atribuído ao administrador

que poderá ensejar a responsabilidade é aquele que extrapola de forma dolosa

os limites impostos nos devidos termos societários e que cause um dano ao

patrimônio empresarial, fora dessa esfera esse ato não poderá ser atribuído ao

administrador pois é ato da pessoa jurídica. Contudo, defende-se a inconstitu-

cionalidade desse dispositivo contido no projeto de Lei Complementar n.º

73/2003.

3.7 O sócio-gerente e sua responsabilidade na liquidação de

sociedades de pessoas

O art. 135, inciso I impõe que as pessoas referidas no inciso VII do art.

134 do CTN "os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas",

terão a responsabilidade agravada quando agirem com malícia e má-fé contra

____________________70

MACHADO, Derzi Mizabel Abreu. Da unidade do injusto penal tributário. Revista de direito tributário 63, p. 221.

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aqueles que representam (retira-se a subsidiariedade, anula-se a obrigação do

contribuinte e se introduz à obrigação de modo pessoal e ilimitado ao terceiro

responsável). Assim, o inciso I do art. 135 agrava a responsabilidade dos

terceiros enumerados no art. 134 quando esses praticarem atos dolosos com

excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatuto. Ou seja, os

incisos contidos no art. 134 passam a ser interpretados conjuntamente com o

caput do artigo 135.

Abre-se aqui um parêntese para explicitar que, embora possa uma

contradição, adiante-se que não , pois na maioria das espécies societárias do

ordenamento brasileiro a gerência é exercida de modo simples, ou seja, são os

próprios sócios quem administram a empresa. No entanto, o sócio é aquele

que integraliza o capital societário enquanto o administrador é aquele que

realmente exerce a atividade de gerência, portanto figuras distintas. Ou seja,

mesmo quando o sócio está exercendo a atividade de gerência (sócio-gerente)

esse não atua como sócio (em nome próprio), mas sim em nome da empresa

(como órgão societário).

Assim, segundo os requisitos expostos aqui, o único sócio que poderá

vir a ser responsabilizado é aquele que pratica atos, ou seja, o sócio-gerente.

Isso porque segundo o comando contido no art. 135 é condição necessária

para que ocorra a incidência a existência de um ato imputado à determinada

pessoa. Ou seja, quer-se dizer o óbvio, que não se pode atribuir responsa-

bilidade aquele sócio que não praticou nenhum ato de gerência, pois isso

violaria princípios como legalidade e segurança jurídica.

É um avanço nas decisões do STJ que mostra os primeiros passos de

um longo caminho a trilhar:

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TRIBUTÁRIO - SOCIEDADE LIMITADA - RESPONSABILIDADE DO SÓCIO PELAS OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS DA PESSOA JURÍ-DICA (CTN, ART. 173, III) - SÓCIO-GERENTE – TRANSFE-RÊNCIA DE COTAS SEM DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE – RESPONSA-BILIDADE DO SUCESSOR - CTN, ARTS. 135 e 136.

1. o Sócio e a pessoa jurídica formada por ele são pessoas distintas (Código Civil, art. 20). Um não responde pelas obrigações da outra. II - em se tratando de sociedade limitada, a responsabilidade do cotista, por dívidas da pessoa jurídica, restringe-se ao valor do capital ainda não realizado ( Decreto n.º 3708/1919, art. 9º). Ela desaparece, tão logo se integralize o capital. III - O CTN, no inc. III do art. 135, impõe responsabilidade - não ao sócio - mas ao gerente, diretor ou equivalente. Assim, o sócio-gerente é responsável, não por ser sócio, mas por haver exercido a gerencia. IV - Quando o gerente . . . . ( STJ (Resp 101.597/PR, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, Dj de 14.04.1997)

Nessa lógica, apenas o sócio-gerente é que pode ser responsabilizado.

Mas, para que ocorra a responsabilização dessa espécie de sócio as autori-

dades fazendárias têm dado um "jeitinho" para ludibriar o nexo pessoal e direto

entre o ato praticado e o responsável exigido pelo caput do art. 135 e, assim,

introduzir a responsabilidade pelas dívidas tributárias à esfera jurídica desses

administradores.

As autoridades têm usado a figura da presunção jurídica para que o

nexo seja estabelecido. Assim, tem-se simplesmente presumido que quando

haja dissolução irregular os sócios-gerentes tenham praticado o ato ensejador

do dano causado ao erário. Ainda mais, por incrível que pareça, a

jurisprudência já vem manifestando quase que unanimemente a tese de que

basta figurar como sócio-gerente de dada empresa para que a norma incida.

Em lapidar decisão:

Sem a prova de saída de mercadoria do estabelecimento autuado, que não recebeu a mercadoria não pedida, não pode a fazenda pública pretender o recebimento do tributo. A presunção de infração é figura jurídico-fiscal imaginária. A presunção em matéria fiscal se assemelha à suspeita em matéria penal. É simples presunção iuris tantum, que pode ser desfeita pela prova contrária. O direito fiscal é de interpretação estrita. O ilícito fiscal deve constituir-se em um fato

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perfeitamente definido na lei tributária ou fiscal, sem o que não nasce o fato gerador da infração, a tipicidade. (TJRJ, Ap. 90.944/Capital, rel. des. Roque Batista, j. 22.04.1975)

No entanto, ao realizar tal presunção, o Fisco, diante da existência de

um ilícito, atribui através de um processo dedutivo a realização desse ilícito a

determinada pessoa. No sistema pátrio existe, como direito constitucionalmente

assegurado (art. 5º, inc. LVII), a presunção de inocência. Assim, uma presun-

ção constitucionalmente assegurada não pode ser desconsiderada por pre-

sunção comum criada pelo intérprete.

TRIBUTÁRIO - DÍVIDA ATIVA INSCRITA - CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITOS - PESSOA FÍSICA - SÓCIOS - CTN, Art. 135, III. A pessoa jurídica, com personalidade própria, não se confunde com a pessoa de seus sócios. Constitui-se, pois, delírio fiscal, à uma troca de substituição tributária, atribuir-se a responsabilidade substitutiva (art. 135, caput, do CTN) para os sócios diretores ou gerentes antes de apurado o ilícito. (Recurso improvido (STJ, Resp 139.872/CE, Rel. Min. Milton Luiz Pereira, DJ de 10.08.1998)

Para que possa ser atribuída a responsabilidade ao sócio-gerente há

que se comprovar a vontade (dolo) do administrador em fraudar o Fisco e

desviar os bens garantidores do crédito fiscal. O elemento subjetivo do ato não

pode ser presumido, sob pena de se quebrar o direito de defesa constitu-

cionalmente assegurado no art. 5º, inciso LIV e LV. É a explicação de Eduardo

Fortunato Bim71 ao afirmar que:

A dissolução irregular da sociedade é infração à lei não permite ao intérprete presumir, ou melhor, prescindir do elemento subjetivo da conduta, ou seja, não permite ao intérprete concluir que nos casos de dissolução irregular existiu dolo ou culpa, que houve intenção ou negligência do administrador em desviar os bens sociais em prejuízo do Fisco ou que esse desvio realmente ocorreu.

Essa interpretação é considerada como a melhor, porque quando se

responsabiliza o administrador corre-se o risco de não se responsabilizar

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ninguém, pois diante dos grandes conglomerados empresariais existentes nos

dias de hoje, esses não teriam condições de com seu patrimônio arcarem com

as dívidas sociais, estariam assim, desconsiderando os interesses fazendários.

___________________71

BIM, Eduardo Fortunato. Dissolução irregular da empresa não enseja responsabilidade tribu-tária de seus administradores. Revista Tributária e de finanças públicas, n. 41. p. 140

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CAPÍTULO IV

A TEORIA DA DESPERSONIFICAÇÃO DA

PERSONALIDADE JURÍDICA NO DIREITO TRIBUTÁRIO

4.1Origem da teoria da desconsideração da pessoa jurídica

Através dos estudos de Rolf Serick é que foi sistematizada no ano de

1953, em sua tese de doutorado, a teoria da desconsideração da pessoa

jurídica, onde é relatado pela primeira vez os casos mais comuns de utilização

da pessoa jurídica e ressaltada a caracterização do abuso quando há um

desvio estrutural ou de forma, com prejuízo de terceiros. Para tanto, o autor

explica que:

... o caso típico é aquele em que o sujeito empreende uma pessoa jurídica por ela mesma controlada, uma determinada atividade e não empreende para a qual ele sim era empenhado. Enfim é possível

utilizar a forma da pessoa jurídica em prejuízo de terceiro.72

A origem da teoria na jurisprudência germânica, encontram-se, segundo

informam Luiz Guilherme Marinoni e Marcos Aurélio Lima Jr.73, em decisões

pelos idos de 1920, do tribunal do Reich, que viria a superar o princípio da

separação entre a pessoa jurídica e o sócio único.

__________________72

SERIK, Rolf apud BODNAR, Zenildo. Responsabilidade tributária do sócio-administrador, op.cit., p. 166. 73

MARINONI, Luiz Guilherme; LIMA JÚNIOR, Marcos Aurélio de. Fraude: configuração: Prova: Desconsideração da Personalidade Jurídica. Revista dos Tribunais, Fascículo Civil, São Paulo, v. 783, p. 137-164, jan. 2001.

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No Brasil, Rubens Requião, foi o primeiro a estudar o assunto com

profundidade, destacando sempre a importância da teoria para reprimir a

utilização abusiva da pessoa jurídica. Segundo sua lição74:

O jurista norte-americano Wormser, que desde 1912 versou a doutrina, procurou delinear o seu conceito, professando que, ‘quando o conceito de pessoa jurídica (corporate entity) se emprega para defraudar os credores, para subtrair-se a uma obrigação existente, para desviar a aplicação de uma lei, para construir ou conservar um monopólio ou para proteger velhacos ou delinqüentes, os tribunais poderão prescindir da personalidade jurídica e considerar que a sociedade é um conjunto de homens que participam ativamente de tais atos e farão justiça entre pessoas reais.

Fabio Ulhoa Coelho75 defende que a teoria da desconsideração da

personalidade jurídica visa, justamente, “impedir as fraudes e os abusos de

direito, perpretados com utilização do instituto da pessoa jurídica” e conclui:

A teoria é uma elaboração teórica destinada à coibição das práticas fraudulentas que se valem da pessoa jurídica. E é, ao mesmo tempo, uma tentativa de preservar o instituto da pessoa jurídica, ao mostrar que o problema não reside no próprio instituto, mas no mau uso que se pode fazer dele. Ainda, é uma tentativa de resguardar a própria pessoa jurídica que foi utilizada na realização da fraude, ao atingir nunca a validade de seu ato constitutivo, mas apenas a sua eficácia episódica.

Enfim, como pode se perceber, a aplicação da teoria objetiva

desconsiderar o princípio da separação patrimonial entre a pessoa jurídica e os

seus membros, imputando a responsabilidade patrimonial diretamente ao sócio

responsável pela prática de condutas lesivas executadas com infração à lei ou

abuso de direito, ou seja, por ato abusivo.

____________________74

REQUIÃO, Rubens. Abuso de direito e fraude através da personalidade jurídica: disregard doctine. Aspectos modernos de Direito Comercial, São Paulo, 1977, v. I, p. 12-24.75

COELHO, Fabio Ulhoa. Desconsideração da personalidade jurídica. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1989. p. 13-14.

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65

4.2 O direito tributário e a desconsideração da personalidade

jurídica

Diante do que buscou-se apresentar sobre a teoria da desconsideração

da personalidade jurídica diante da responsabilidade tributária, releva-se por

necessária investigar a possibilidade jurídica diante de sua aplicação no Direito

Tributário e ainda, constatar se a mesma está ou não, positivada no CTN no

art. 135.

Em razão da falta de clareza do legislador não é possível extrair com

certeza se o disposto no art. 135 do CTN é ou não, a positivação da teoria da

desconsideração da personalidade jurídica no direito tributário, nem se esta

tenha sido a intenção dos responsáveis pela elaboração do CTN. Assim sendo,

tem-se que o assunto é extremamente polêmico na doutrina, sendo que a

jurisprudência não tem dado muita atenção ao tema. Com a finalidade de

avaliar a questão será feita uma análise comparativa entre os dois institutos.

Como restou claro, o objetivo da teoria da desconsideração da

personalidade jurídica é coibir a utilização indevida da pessoa jurídica que não

atende a sua função social, punindo o sócio pela prática de ato abusivo com a

sujeição do seu patrimônio à satisfação dos interesses das pessoas lesadas.

Ao considerar-se a natureza jurídica da responsabilidade do sócio em

matéria tributária e sua finalidade, bem como, os pressupostos para a respon-

sabilização, vislumbra-se uma grande coincidência entre os dois institutos

jurídicos.

Ao comparar os dois institutos jurídicos é possível identificar a existência

de grandes semelhanças entre ambos, como, a imputação da responsa-

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bilidade, o princípio da separação patrimonial, institutos de proteção da pessoa

jurídica e a aplicação excepcional e ainda as questões processuais.

Os dois institutos apresentam a mesma finalidade, qual seja, evitar e

reprimir a prática de ato abusivo76. Contudo, “os atos praticados com excesso

de poder ou infração à lei”, são expressões utilizadas pelo CTN, caracterizam

ato abusivo para justificar a responsabilização do sócio, assim como a infração

à lei, o abuso de direito e o comportamento contrário à boa-fé são condutas

que autorizam a desconsideração da personalidade jurídica.

4.3 Imputação de responsabilidade, separação patrimonial e

aplicação

Tanto na desconsideração da personalidade jurídica, quanto na atri-

buição de responsabilidade ao sócio, nos termos do art. 135 do CTN, as

imputações de responsabilidades ocorrem em desfavor da pessoa responsável

pela prática do ato abusivo, ou ao menos, que tenha influência decisiva na sua

ocorrência, possuindo poder de mando ou decisão no seio da pessoa jurídica.

Na teoria da desconsideração, a responsabilidade é atribuída somente a

quem praticar ato abusivo ou é por ele beneficiado, não atingindo todos os

sócios, uma vez que, além de estes não terem praticado condutas concernen-

__________________76

Ressalte-se que a terminologia utilizada pela legislação e pela doutrina, em relação aos dois institutos, quanto à sua finalidade, não é uniforme. Utilizam-se as expressões: fraude à lei, abuso de direito, excesso de poder, ato lesivo, desvio de finalidade, ato ilícito, ilícito praticado pelo sócio, dentre outras. Para os fins deste trabalho, será utilizada apenas a expressão ato abusivo, conforme conceito operacional proposto. BODNAR, Zenildo. Responsabilidade tributária do sócio-administrador, p. 185.

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tes ao desvio de função da pessoa jurídica, são também vítimas do abuso

perpetrado.

Em matéria tributária, o art. 135 inc. III, do CTN indica expressamente

as pessoas que serão responsabilizadas pela prática de ato abusivo, dentre

eles "os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito

privado", ou seja, aqueles que foram autores das condutas lesivas vedadas, ou

que as permitiram.

A teoria da desconsideração da personalidade jurídica e a responsa-

bilidade tributária do sócio respeitam o princípio da separação patrimonial entre

a pessoa jurídica e os seus integrantes.

Mesmo quando a pessoa jurídica é desconsiderada, o patrimônio do

sócio é atingido apenas para reparar a lesão causada pelo ato abusivo

praticado, o mesmo acontecendo no atual sistema de responsabilização do

sócio, no Direito Tributário.

Segundo ressalta Zenildo Bodnar77:

Os dois institutos são protetores da pessoa jurídica nos seus momentos de crise ocasionada pelo mau comportamento de seus dirigentes, na medida em que a imputação da responsabilidade, ultrapassando episodicamente os limites da personificação, deses-timula a prática de atos abusivos e recoloca a pessoa jurídica nas suas trilhas normais, para que continue cumprindo com sua função social.

A função da desconsideração e da imputação à responsabilidade

tributária ao sócio não é acabar com a pessoa jurídica, mas tão-somente, com

eventuais lesões ocasionadas em razão de suas disfunções.

Um outro aspecto que merece ser destacado é que tanto a desconside-

_________________77

BODNAR, Zenildo. Responsabilidade tributaria do sócio-administrador, p. 186.

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ração quanto a responsabilidade tributária do sócio são aplicáveis apenas

excepcionalmente, quando demonstrada a sua real necessidade em face da

impossibilidade de a pessoa lesada obter a reparação diretamente da pessoa

jurídica.

Esse ponto comum, afirma o autor em tese78:

Decorre da conclusão acerca da natureza jurídica da responsabili-dade tributária do sócio, a qual, além de subjetiva, é também subsi-diária, ou seja, somente após o esgotamento ou insuficiência dos bens da pessoa jurídica é que a responsabilidade do sócio poderá ser invocada.

Finalmente, há a constatação de que, no plano processual, tanto a teoria

da desconsideração da personalidade jurídica como a da responsabilização do

sócio exigem a observância rigorosa do princípio constitucional do devido

processo legal, do qual decorrem a ampla defesa e o contraditório.

Assim, o direito de propriedade do sócio somente poderá ser atingido

quando o ato abusivo for apurado em regular procedimento administrativo ou

judicial, no qual sejam oportunizadas ao réu ou interessado todas as garantias

constitucionais, mediante a observância dos critérios definidos em leis.

4.4 Adoção da teoria da desconsideração da personalidade

jurídica pelo direito tributário

Não é ponto pacífico na doutrina, a aplicação da teoria da des-

consideração da personalidade jurídica no Direito Tributário. Essa controvérsia

decorre, principalmente, da rigorosa necessidade de observância do princípio

___________________78Ibidem, p. 187.

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da legalidade em matéria tributária, bem como, das diferenças apontadas entre

a teoria da desconsideração da personalidade jurídica e a imputação direta de

responsabilidade pessoal do sócio, pela lei, sem necessidade de superar a

pessoa jurídica.

De acordo com opinião de Humberto Theodoro Júnior79:

A principal controvérsia existente no Brasil, é notável, embora seja nítida a tendência ao reconhecimento da adoção da teoria da desconsideração, especialmente pela evolução da jurisprudência. Esta consolidou o entendimento no sentido de que a responsabilidade do sócio, nos termos do art. 135, inc. III, do CTN, é subjetiva e sempre subsidiária e tem também objetivo sancionatório.

O autor cita, ainda, a palestra proferida no final de 2001 pela Ministra

Eliana Calmon, sobre os novos rumos da jurisprudência do Superior Tribunal

de Justiça, na qual ela defende que “o art. 135, inc. lll, do CTN, deve ser

aplicado ante a conduta culposa do administrador”; e mais, que “a

inadimplência da Pessoa Jurídica não pode ser imputada ao Sócio

Responsável e que a responsabilidade tem natureza subsidiária e subjetiva”.

Uma das posições favoráveis à adoção da teoria da desconsideração da

personalidade jurídica pelo Direito Tributário, é por ser a teoria da desconsi-

deração uma solução enérgica e eficaz para conduzir a pessoa jurídica aos

caminhos da licitude e do atendimento de sua função social, no plano do Direito

Privado, com muito mais razão deve também ser utilizada pelo Direito Público,

especialmente pelo Direito Tributário, tendo em vista a importância da

função social da tributação para a sobrevivência do Estado.

Ao comentar o art. 135 do CTN Luiz Emygidio Franco da Rosa Júnior,

___________________79

HEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei de execução fiscal. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 41-42.

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faz referência à teoria da desconsideração da personalidade jurídica, ao

mesmo tempo que enfatiza que:

A regra é a personificação jurídica da sociedade, e, por isso, ela é quem responde pelas obrigações sociais. Assim, a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica deve ser feita em caráter excepcional, quando o administrador se vale do véu da personalidade jurídica, para, agindo com má-fé, prejudicar credores

da sociedade.80

Por outro lado, Marçal Justen Filho81 demonstra preocupação com o

princípio da legalidade em matéria tributária, na análise da aplicação da teoria

da desconsideração. Ressaltando-se que a pessoa jurídica deve ser respeitada

por aquele princípio, e que a imputação de responsabilidade ao sócio deve

ocorrer somente quando houver lei autorizando.

Para Flávia Lefèvre Guimarães82:

A regra do art. 135 do CT restringe a desconsideração da personalidade jurídica aos casos em que se comprove ato ilícito (excesso de poder ou infração à lei), cuja autoria seja do terceiro que passará a ser responsável.

Ricardo Lobo Torres83 defende que a desconsideração em matéria

tributária independe de previsão legal e pode ser aplicada diretamente pelos

tribunais quando a pessoa jurídica for utilizada indevidamente com prejuízos

para a Fazenda Pública.

__________________80

ROSA JÚNIOR, Luiz Emygidio Franco da. Manual de direito financeiro & direito tributário. 14. ed. São Paulo: Renovar, 2000. p. 524.81

JUSTEN FILHO, Marçal. Desconsideração da personalidade jurídica no direito brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987. p. 107-116.82

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TORRES, Ricardo Lobo. Normas de interpretação e integração do direito público. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense,2000. p. 156.

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A jurisprudência pátria tende a aceitar progressivamente a aplicação da

teoria da desconsideração. Sobre o tenra, merece destaque importante decisão

do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul por sua colenda 1ª Câmara Cível, sendo Relatório o Desembargador Athos Gusmão Carneiro, com os ensinamentos de Fábio Konder Comparato, em caso de dívida fiscal, não bastasse à responsabilidade pessoal, no caso, decorrente do Código Tributário Nacional, louvou-se com o argumento de reforço, na teoria da desconsideração da pessoa, jurí-dica, fazendo o sócio-gerente responder com seus bens particulares, eis que detentor de 99,2% do capital, caracterizando-se uma sociedade fictícia, ilustrando que: 'A assertiva de que a pessoa da não se confunde com a do sócio é um princípio jurídico básico, não um tabu, e merece ser desconsiderada quando a ‘sociedade' é apenas um alter ego e seu controlador, em verdade comerciante em nome individual' - (RJJRGS, 115/301 ou RT, 592/172).

José Jayme Oliveira84 observa que em decisões do Tribunal Regional

Federal da 1ª Região e do Tribunal de Alçada Cível de São Paulo, utiliza-se

como fundamento para a responsabilização do sócio a teoria da descon-

sideração da personalidade jurídica, nos seguintes termos:

Art. 135, III do CTN. ‘O superamento da personalidade jurídica -disregard of legal entity - (doutrina da penetração ) - tem por objetivo atingir a responsabilidade dos sócios, mas não dos seus familiares, como pais, filhos e outros’ - AC 93.0132355-9 MG. TRF, 1ª R., 3ª T., Rel. Juiz Tourinho Neto, DJU 09/12/93.

Art. 135, III do CTN – ‘Estando a sociedade comercial em situação irregular, cujos bens desapareceram, mas aquela continua a existir, é justo que sejam penhorados bens de seus sócios, que bastem para o pagamento da dívida assumida pela empresa, aplicando-se, no caso, a teoria da desconsideração da personalidade jurídica’ – AI 543.309-2. 1ª TACivS. 4ª TC., Rel. Juiz Térsio José Negrato . RT 703/95.

O que se pode observar, é que mesmo para aqueles que não aceitam a

aplicação da teoria da desconsideração no Direito Tributário, a interpretação e

aplicação do art. 135, inc. III, do CTN, à luz dessa teoria, contribui para a com-__________________84

OLIVEIRA, José Jayme de Macedo. Código tributário nacional: comentários, doutrina e jurisprudência. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 346.

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72

preensão do complexo tema da responsabilidade tributária de terceiros, garan-

tindo, assim, mais segurança jurídica nas relações interpessoais. Isso porque

com este critério, analisa-se o preceito de forma ampla e sistemática; respei-

tando o patrimônio de terceiros, na medida em que serão observados critérios

adequados para o direcionamento da cobrança dos créditos tributários; bem

como, assegura a observância do devido processo legal, tanto no proce-

dimento administrativo quanto na cobrança judicial dos créditos tributários.

Conforme assinala Renato Lopes Becho85:

(...) para afastar a pessoalidade da empresa é preciso caminho próprio (desconsideração da personalidade jurídica). Sem haver cautela, se a passagem da pessoa jurídica para a pessoa física (sócio ou administrador) puder ser feita sem critérios rígidos, nós teremos rompido com uma estrutura milenar de separação, com prejuízo evidente para o desenvolvimento social.

O Direito Tributário que toma como base a realidade econômica, não

pode deixar de considerar os fatos subjacentes a todas as relações jurídicas

tributárias. Assim, a interpretação adequada das relações jurídicas tributárias

exige que seja observada em primeiro lugar a realidade econômica, ainda que

em detrimento da forma jurídica, quando esta é utilizada abusivamente. Esta

também é base fundamental para a aplicação da teoria da desconsideração, ou

seja, o prestígio da realidade em detrimento da forma ou aparência conferida à

determinada relação jurídica.

A manipulação fraudulenta das formas de Direito Privado, pela utilização

abusiva da pessoa jurídica, com intuito de evitar a incidência da tributação,

deve ser reprimida, e um dos instrumentos eficazes para este desiderato é,

__________________85

BECHO, Renato Lopes. Sujeição passiva e responsabilidade tributária. São Paulo: Dialética, 2000. p. 73.

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73

sem dúvida, a desconsideração da personalidade jurídica, objetivando-se, com

a relativização das formas, obter-se uma disciplina realística dos fatos.

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74

CONCLUSÃO

Objetivou-se na presente pesquisa, delinear o papel do sócio de uma

sociedade limitada que teve seu patrimônio atingido por dívidas tributárias da

referida sociedade, onde analisou-se idéias de autores sobre o tema e a

posição dos Tribunais Superiores.

Constatou-se que uma das controvérsias encontrada na pesquisa, diz

respeito à responsabilidade dos sócios da sociedade por cotas, pois conforme

entendimento inicial, a sociedade por cotas de responsabilidade limitada não

era uma sociedade de pessoas, já que os seus sócios não respondiam pela

dívida social.

Buscou-se mostrar, que apesar dessa controvérsia sobre a responsa-

bilidade dos sócios, no caso da liquidação da sociedade de pessoas sobre a

responsabilidade dos sócios da sociedade por cotas, o Supremo Tribunal

acabou admitindo a responsabilidade do sócio da sociedade limitada, desde

que, ao exercer a função de gerência, deixasse de pagar regularmente os

impostos e não providenciasse a extinção da sociedade na forma prevista em

lei, mas, para que fato tal acontecesse, o STF conjugou, como visto, o art. 134,

inc. VII com o art. 135, inc. III, equiparando o não-recolhimento de tributos à

prática de atos com infração de lei, contrato ou estatutos.

Demonstrou-se que a responsabilidade de que cuida o art. 135, objeto

desta pesquisa, é a solidariedade ab initio, ou seja, o responsável é aquele que

se coloca junto do contribuinte desde a ocorrência do fato gerador e, nesses

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75

casos, pouco importa que o contribuinte tenha ou não patrimônio para

responder pela obrigação tributária, pois sendo a Fazenda credora, é ela quem

pode dirigir a execução contra o contribuinte ou o responsável.

Inobstante o entendimento acima, procurou-se delinear, através de um

juízo lógico a inconstitucionalidade do projeto de Lei Complementar n.º 73/2003

e o equívoco hermenêutico de se responsabilizar os agentes societários pelo

ilícito cometido pela empresa (mero não pagamento de tributo). Bem como

objetivou-se traçar os requisitos para que, na dissolução irregular de empresas,

atinja-se o patrimônio pessoal dos sócios sem que haja o desrespeito aos

direitos destes.

Contudo, restou, pois, que a responsabilidade tributária dos sócios nos

termos do art. 135 do CTN, constitui realmente um esboço da teoria da

desconsideração da personalidade jurídica do Direito Tributário, contribuindo

para essa conclusão, a evolução da jurisprudência e da doutrina quanto à

compreensão do que vem a ser “ato praticado com infração à lei”, de modo

especial quando vem relacionado com a inadimplência tributária e com a

dissolução irregular da sociedade.

Enfim, espera-se ter contribuído para a discussão sobre tema tão

controvertido que é a responsabilidade tributária nas sociedades limitadas à luz

da teoria da despersonificação da pessoa jurídica em matéria tributária no

contexto do Estado Contemporâneo.

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