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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE DIREITO PROCESSUAL DESPORTIVO Por: Scheyla Althoff Decat Orientador Prof. Dr. Jean Alves Pereira Almeida Rio de Janeiro 2006

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DIREITO PROCESSUAL DESPORTIVO

Por: Scheyla Althoff Decat

Orientador

Prof. Dr. Jean Alves Pereira Almeida

Rio de Janeiro

2006

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DIREITO PROCESSUAL DESPORTIVO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito

Processual Civil.

Por: Scheyla Althoff Decat

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AGRADECIMENTOS

Ao professor Jean A. Almeida pelo incentivo e por

ter acreditado neste trabalho

A minha amiga Mônica que com seu carinho e

dedicação deu forma e vida a este trabalho

A minha amiga Carmen que de forma carinhosa

contribuiu para a complementação deste trabalho

Ao meu filho Rogério Henrique porque juntos

iniciamos e aprimoramos o estudo do Direito

Desportivo e por todo um apoio técnico

Ao Marcos Firmino dos Santos Presidente da

Federação Aquática do Estado do Rio de Janeiro

pela confiança depositada no meu trabalho frente ao

Tribunal de Justiça Desportiva da FARJ

Agradecimento Especial ao meu irmão Alberto

Henrique que mesmo longe se faz presente em

todos momentos da minha vida

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha mãe, pois sem seu

carinho, dedicação e ajuda eu não teria vencido esta

etapa tão importante na minha vida

In memorian ao meu pai que me incentivou a

participar do mundo jurídico

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo o estudo do direito processual

desportivo em todas as suas nuances, abordando a sua conceituação e

objetivo, as suas fontes englobando a lei processual desportiva, as formas de

interpretação dos dispositivos da legislação desportiva, a sua eficácia no tempo

e no espaço, a sua relação com o Direito Constitucional, discorrendo sobre os

seus princípios básicos. Serão analisados os limites da jurisdição e

competência na Justiça Desportiva, o conceito da Justiça Desportiva e sua

instituição pela Constituição Federal de 1988, a sua natureza jurídica, a

organização, estrutura e composição de seus órgãos regulados pela Lei Geral

Sobre Desporto (Lei 9615/98), além de uma discriminação detalhada das

atribuições de seus membros, da Procuradoria Desportiva e de suas

Secretarias, descrevendo sobre a jurisdição e competência do Superior

Tribunal de Justiça Desportiva, do Tribunal de Justiça Desportivo e das

Comissões Disciplinares, apresentando um quadro elucidativo no anexo 02.

Será abordados, o conceito, a natureza jurídica, a finalidade, características,

elementos identificadores e os pressupostos processuais no processo

desportivo, as condições da ação, os atos processuais, sua forma,

classificação, nulidade dos atos, os prazos, os meios de provas, o registro e

distribuição dos feitos, a intervenção de terceiro. Serão ressaltados também no

presente trabalho, os tipos de procedimentos adotados na Justiça Desportiva,

como também elucidará a respeito da súmula e do relatório de uma competição

(anexo 3), da queixa e da denúncia, analisará todos os casos pertinentes aos

processos especiais, as fases de uma sessão de instrução e julgamento com

apresentação de um organograma no anexo 4, as decisões na Justiça

Desportiva, os tipos de recurso e finalizando com o julgamentos dos recursos

perante as instâncias superiores.

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METODOLOGIA

Serão aplicados uma combinação dos métodos zetético e dialético para

trazer para o presente estudo, os conceitos, princípios, normas e regras de

procedimento estabelecido na legislação desportiva e na Constituição Federal

de 1988, discorrendo sobre cada um e demonstrando a evolução para a

solução de uma demanda desportiva. Em alguns pontos, através de uma lógica

processual, será utilizado o método dedutivo pela experiência adquirida na área

processual desportiva. Será aplicada, concomitantemente, a epistemologia

sociologista, já que o estudo visa a atingir um grupo que está sob a égide de

um regime jurídico desportivo.

Para tanto, serão utilizados livros doutrinários referentes à área do

Direito Processual e do Direito Desportivo, toda uma legislação comentada

pertinente ao tema além de uma matéria disponibilizada na Internet com

relação à Justiça Desportiva.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I – Direito Processual Desportivo 11

CAPÍTULO II – Fontes do Direito Processual Desportivo 14

CAPÍTULO III - Princípios que regem o Direito Processual Desportivo 21

CAPÍTULO IV – Justiça Desportiva 31

CAPÍTULO V – Organização, Estrutura e Composição dos Órgãos

da Justiça Desportiva 36

CAPÍTULO VI – Jurisdição e Competência das Instâncias Desportivas 39

CAPÍTULO VII – Atribuições dos Membros dos Tribunais Desportivos 41

CAPÍTULO VIII - Jurisdição, Ação e Processo 51

CAPÍTULO IX - Intervenção de Terceiro 63

CAPÍTULO X – Atos Processuais 64

CAPÍTULO XI – Prazos 73

CAPÍTULO XII – As Provas no Processo Desportivo 78

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CAPÍTULO XIII – Registro e Distribuição 85

CAPÍTULO XIV– Procedimento Sumário 87

CAPÍTULO XV – Procedimento Especial 93

CAPÍTULO XVI – Sessão de Instrução e Julgamento 107

CAPÍTULO XVII - Decisões no Processo Desportivo 111

CAPÍTULO XVIII – Recursos 118

CAPÍTULO XIX – Sessão de Julgamento nos Tribunais Desportivo 128

CONCLUSÃO 130

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 133

BIBLIOGRAFIA CITADA 135

ANEXOS 140

ÍNDICE 145

FOLHA DE AVALIAÇÃO 151

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INTRODUÇÃO

A intenção do presente estudo é levar através de uma linguagem

eminentemente didática, a todos aqueles que de alguma maneira estão ligados

ao esporte e principalmente aos estudantes e aos profissionais do direito, toda

uma matéria pertinente ao direito processual desportivo, dentro de um sistema

harmônico, mas sem fugir a nomenclatura jurídica.

Posso dizer, como estudiosa da matéria, que existe uma carência de

informação e conhecimento, não só das pessoas física e jurídica ligadas ao

desporto, mas, e principalmente por parte dos profissionais de direito que

começam a militar nesta área, de todo um ordenamento jurídico-desportivo

previsto no Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que classifico como

peculiar.

Busca o presente trabalho, como o próprio tema sugere, demonstrar

todos os aspectos processuais no Direito Desportivo, sempre ancorados no

sistema jurídico e amparados nos preceitos constitucionais.

Analisará no primeiro momento, o direito processual desportivo como o

ramo da ciência jurídica que trata do complexo das normas reguladoras do

exercício da jurisdição desportiva, que tem por objetivo a própria ordem

jurídica, seguindo com a apresentação de suas fontes e dos princípios que o

regem. Apontará o funcionamento da Justiça Desportiva, justiça esta instituída

pela Constituição Federal de 1988, precisamente no seu artigo 217 parágrafos

1º e 2º, ocasionando um grande avanço para o desporto nacional, a

organização, estrutura e composição de seus órgãos, com a apresentação de

um organograma no anexo 1, a jurisdição e competência das instâncias

desportivas minuciosamente descriminadas em um quadro constante do anexo

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2, como também as atribuições de seus membros. Em seguida será analisada

toda uma estrutura processual desportiva que repousa na trilogia, jurisdição,

ação e processo, além de discorrer sobre os atos processuais em todos os

seus momentos, indicará os prazos, as provas admitidas e o registro e

distribuição dos feitos. Serão estudadas as duas formas de procedimento

adotadas pelo ordenamento jurídico desportivo, com a inclusão de um modelo

de relatório que se faz acompanhar da súmula no anexo 3, demonstrando

também a celeridade e eficácia de suas decisões. Abordará a cerca da sessão

de instrução e julgamento como momento único, apresentando um

organograma de seu desenvolvimento no anexo 4. Finalizará o presente

estudo discorrendo sobre o os tipos de recurso, o procedimento recursal e a

sessão de julgamento nos Tribunais Desportivos.

Após a exposição sobre todos os pontos a cerca dos aspectos

processuais do direito desportivo, lançando mão de entendimentos de grandes

processualistas e esboçando outros, terá alcançado o objetivo do presente

trabalho, esperando que seja um instrumento inovador e esclarecedor deste

Direito magnífico que se chama Desportivo.

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CAPÍTULO I

DIREITO PROCESSUAL DESPORTIVO

“As formas são necessárias, mas o

formalismo é uma deformação.”

Liebman

1.1- Conceito

Toda atividade do ser humano sempre se exterioriza através de suas

relações com seus semelhantes, ou através de suas ações, já que o Direito

pressupõe, necessariamente, a existência daquele ser e daquela atividade. E

no intuito de proteger a personalidade deste ser e disciplinar-lhe em sua

atividade, dentro de um contexto social de que faz parte, é que o Direito

procura estabelecer, entre os homens, uma relação mais harmoniosa dentro da

sociedade.

Porém, razão assiste ao ilustre processualista Humberto Theodoro

Junior quando fala que:

“Impossível à vida em sociedade sem uma

normatização do comportamento humano. Daí surgir

o Direito como conjunto das normas gerais e

positivas, disciplinadoras da vida social. Mas não

basta traçar a norma de conduta. O equilíbrio e o

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desenvolvimento sociais só ocorrem se a

observância das regras jurídicas fizer-se obrigatória.”1

É justamente para manter a harmonia na sociedade desportiva, que se

utiliza um método indispensável à função jurisdicional, chamado processo,

podendo ser denominado processo desportivo, que é um instrumento a serviço

do direito material. Vale lembrar que o Direito Processual é essencialmente

uno, uma vez que os princípios da jurisdição e do processo é comum a todos

os ramos do direito.

Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrine Grinover e Cândido Rangel

Dinamarco proclamam que:

“chama-se direito processual o complexo de normas

e princípios que regem tal método de trabalho

(procedimento), ou seja, o exercício conjugado da

jurisdição pelo Estado-juiz, da ação do demandante

e da defesa do demandado”.2

Trazendo esta definição ao tema, objeto do presente estudo, tem-se

por Direito Processual Desportivo o conjunto de princípios e normas

reguladoras que disciplinam a composição das demandas desportivas. Em

síntese, é o ramo da ciência jurídica que trata do complexo das normas

reguladoras do exercício da jurisdição desportiva, podendo ser considerado

uma das variações do direito processual. Nesse sentido, afirma Humberto

Theodoro Junior que:

“modernamente se registra uma tendência entre os

doutrinadores em estudar a teoria geral do processo,

nela englobando os princípios que são comuns a

todos os seus diversos ramos”. 3

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1.2- Objetivo

O Direito Processual Desportivo tem por objetivo principal resguardar a

própria ordem jurídica, pois ao solucionar as questões, a justiça desportiva

cumpre uma função pública, assegurando o império da legislação brasileira do

desporto nacional e da paz social. Ao aplicar as regras e normas do Direito

Processual Desportivo define-se a vontade concreta da lei diante de uma

infração disciplinar cometida.

Assim, todos aqueles que no território nacional estiverem submetidos

às entidades compreendidas pelo Sistema Nacional do Desporto e todas as

pessoas física ou jurídica que lhes forem direta ou indiretamente filiadas ou

vinculadas são passíveis de um procedimento desportivo.

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CAPÍTULO II

FONTES DO DIREITO PROCESSUAL DESPORTIVO

2.1- Noções Gerais

Basicamente as fontes do direito processual desportivo são as mesmas

do direito em geral, ou seja, a principal que é a lei, pelo fato de ser de caráter

público, a Constituição, a doutrina e a jurisprudência.

Em alguns casos, por falta de coerência do legislador, a obscuridade e

a imprecisão dos textos legais são supridas pelo entendimento doutrinário e

jurisprudencial, surgindo, assim, novas concepções sobre a matéria.

2.2- Lei Processual Desportiva

É a lei processual desportiva que rege o processo desportivo e tem

como objeto o conjunto de regras e normas pertinentes a sua jurisdição, quais

sejam:

a) as regras de organização da Justiça Desportiva, competência de

seus órgãos, distribuição e atribuições de seus membros, procuradores e

secretário;

b) regras sobre os procedimentos adotados na Justiça Desportiva;

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c) normas e princípios gerais e específicos de interpretação da sua

função jurisdicional e do direito de ação, os pressupostos processuais, os

meios de prova admitidos, os meios de solucionar os casos de omissão e

lacunas na lei e os conflitos intertemporais de normas.

A Lei Processual Desportiva foi compilada sob a forma de código,

precisamente, o Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que além do

Procedimento Desportivo dispõe sobre as Medidas Disciplinares cabíveis pela

ocorrência de infração disciplinar. Trata-se do primeiro código de conduta,

disciplina e justiça desportiva à altura das necessidades do desporto nacional,

após a Justiça Desportiva ser alçada e reconhecida na Constituição Federal de

1988, e adequado a Lei Geral Sobre Desporto(Lei nº 9615/98 com alteração

pelas Leis 9.981/2000, nº 10.672/2001 e a Lei nº 10.671/2003.

Álvaro Melo Filho assevera que: “...o desporto é,

sobretudo, é antes de tudo, uma criatura da lei, pois,

sem o direito, o desporto carece de sentido,

porquanto nenhuma atividade humana é mais

regulamentada que o desporto. Com efeito “regras

do jogo”, “Códigos de Justiça Desportivas”,

“regulamentos técnicos de competições”, “leis de

transferências de atletas”, “estatutos” “estatutos e

regulamentos de entes desportivos”,

“regulamentação de dopping”, atestam que, sem

regras e normatização, o desporto torna-se caótico e

desordenado, à falta de regras jurídicas para dizer

quem ganha e quem perde”.4

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2.3- Interpretação e Integração da Lei Processual Desportiva

São aplicáveis a lei processual desportiva, as regras gerais de

hermenêutica, ex vi, o art.283 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva “ A

interpretação das normas deste Código far-se-á com observância das regras

gerais de hermenêutica, visando à defesa da disciplina e da moralidade do

desporto”.

Tal atividade consiste em extrair da norma o seu correto significado, ou

seja, à vontade da lei. O que significa, que o auditor julgador deverá dominar os

conceitos de hermenêutica e as espécies de interpretação, sejam elas quanto à

origem ou quanto aos efeitos.

Quanto à origem:

a) autêntica ou legal –efetuada pelo órgão encarregado da elaboração do texto

que através de orientação jurisprudencial dos tribunais desportivos modifica a

legislação para adequá-la ao novo entendimento.

b) judicial – é a interpretação tida como definitiva nas decisões no âmbito da

justiça desportiva.

c) doutrinária –a interpretação é feita de acordo com o sistema em que está

enquadrada a norma processual desportiva.

Quanto aos efeitos:

a) declarativa – é a interpretação do próprio texto da lei, melhor dizendo, as

palavras expressam o espírito da lei na sua medida exata.

b)extensiva – aplicação do texto a casos que, não estando incluídos no

significado de suas palavras, estão incluídos em seu espírito.

c) restritiva – o intérprete elimina a amplitude das palavras que constam no

texto.

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Carlos Maximiliano citando Max Gmür diz que: “O

jurista, esclarecido pela Hermenêutica, descobre, em

Código, ou, em um ato escrito, a frase implícita, mais

diretamente aplicável a um fato do que o texto

expresso. Multiplica as utilidades de uma obra;

afirma o que o legislador decretaria, se previsse o

incidente e o quisesse prevenir ou resolver; intervém

como auxiliar prestimoso da realização do Direito.

Granjeia especiais determinações, não por meio de

novos dispositivos materializados, e, sim, pela

concretização e desdobramento prático dos

preceitos formais. Não perturba a harmonia do

conjunto, nem altera as linhas arquitetônicas da

obra; desce aos alicerces, e dali arranca tesouros de

idéias, latentes até aquele dia, porém vivazes e

lúcidos”. 5

No caso de omissão ou lacunas na lei processual desportiva, estas

serão supridas pelos princípios gerais de direito e pelos princípios que regem o

processo desportivo ou por analogia. A essa atividade se dá o nome de

integração, o que significa que o julgador efetua a complementação da norma

concreta, que não foi prevista pelo legislador.

A lei processual desportiva, no entanto, veda as decisões por analogia

no que se refere à definição e qualificação de infrações, constituindo, pois, uma

exceção a sua aplicação.

Podemos dizer que interpretação e a integração se comunicam e se

completam na justa aplicação do direito, devendo o intérprete atentar para o

fato de que na interpretação busca-se o sentido da norma e na integração a

sua complementação.

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2.4- Eficácia da Lei Processual Desportiva no Tempo e no

Espaço

O Direito Processual Desportivo não foge a regra de que toda a norma

jurídica limita-se no tempo e no espaço, aplicando durante um lapso de tempo

em um determinado território.

2.4.1- No Tempo

A sua eficácia temporal esta sujeita as regras gerais de direito

intertemporal previstas nos art. 1º, 2º e 3º da Lei de Introdução do Código Civil

e terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito e a coisa

julgada conforme preceitua o art. 6ª da LICC, direito este que a Constituição

Federal assegura no seu art. 5º inciso XXXVI.

Para tanto, os processos desportivos que iniciarem na vigência da lei

nova por estas serão regulados, em contrapartida a lei nova não incidirá sobre

os processos findos. Tratando-se de processos em curso, a lei processual

desportiva determina que devem ser mantidas as regras da lei anterior, ex vi, o

que dispõe o art. 286 do CBJD: “Este Código entrará em vigor na data de sua

publicação, mantidas as regras anteriores aos processos em curso”.

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2.4.2- No Espaço

A lei processual desportiva tem aplicação em todo território nacional,

impondo, portanto, o princípio da territorialidade, “lex fori”, da qual ficam

submetidas às entidades compreendidas pelo Sistema Nacional do Desporto e

todas as pessoas físicas e jurídicas que lhes forem direta ou indiretamente

filiadas ou vinculadas.

2.5- Relação do Direito Processual Desportivo com o Direito

Constitucional

Não há como negar a relação do direito processual desportivo com o

direito constitucional, estabelecendo o equilíbrio e o real conhecimento que

deve ter o auditor julgador no que concerne ao processo e a seus princípios.

Nos moldes da Constituição Federal o direito processual desportivo estabelece

o equilíbrio e o real conhecimento de seus princípios, fixa a estrutura e a

competência dos órgãos da Justiça Desportiva, o direito de ação, as formas de

procedimentos e demais atos que falaremos mais adiante.

Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido

Dinamarco afirmam que

“Todo o direito processual, como ramo do direito

público, tem suas linhas fundamentais traçadas pelo

direito constitucional, que fixa a estrutura dos órgãos

jurisdicionais, que garante a distribuição da justiça e

a declaração do direito objetivo, que estabelece

alguns princípios processuais. E seguem dizendo

que “Alguns dos princípios gerais que informam são,

ao menos inicialmente, princípios constitucionais ou

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seus corolários: em virtude deles o processo

apresenta certos aspectos, como o do juiz natural, o

da publicidade das audiências, o da posição do juiz

no processo, o da subordinação da jurisdição à lei, o

da declaração e atuação do direito objetivo; e, ainda,

os poderes do juiz no processo, o direito de ação e

de defesa, a função do Ministério Público,

assistência judiciária”. 6

Visando proteger o ordenamento jurídico, a Justiça Desportiva foi

constitucionalizada e prevista nos parágrafos 1º e 2º do art. 217 da Lei Maior,

com atribuições de dirimir conflitos de natureza desportiva e competência

limitada ao processo e julgamento de infrações disciplinares definidas no

código desportivo.

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CAPÍTULO III

PRINCÍPIOS QUE REGEM O DIREITO PROCESSUAL

DESPORTIVO

3.1- Noções Gerais

Cada sistema processual se alicerça em princípios gerais que se

estendem a todos os ordenamentos, como também em outros que lhes são

próprios e específicos.

Como bem os define José Afonso da Silva

“Os princípios são ordenações que se irradiam e

imantam os sistemas de normas”. 7

Os princípios norteadores do regime jurídico desportivo e previstos no

Código Brasileiro de Justiça Desportiva em seu art. 2º, têm como objetivo

assegurar a proteção e a garantia do direito de todas as pessoas física e

jurídica que direta ou indiretamente tenham relação com as atividades

desportivas e a sua inobservância pode acarretar a nulidade do processo

desportivo.

Marcílio César Ramos Krieger em seu comentário coloca que:

“os princípios fundamentais dão viabilidade prática

tanto a garantia constitucional do desporto como

direito fundamental, quanto ao da autonomia das

entidades práticas e dirigentes – autonomia

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pressupõe o respeito às normas constitucionais

quanto às normas e regras internacionais das

respectivas modalidades”. 8

Tem como função precípua, auxiliar no processo interpretativo das

regras e normas, permitindo o preenchimento de suas lacunas e na solução

dos casos omissos.(art.282 CBJD).

Podemos afirmar que por um feito inédito, o novo Código Brasileiro de

Justiça Desportiva em seu Livro I – Capítulo I - art. 2º traz o rol de princípios

orientadores, fato este nunca adotado em códigos anteriores. Vejamos cada

um separadamente.

3.2- Princípio da Ampla Defesa e do Contraditório

Princípios Constitucionais, que asseguram as partes (acusação e

defesa) a produzir suas alegações, provas e fatos capazes de elucidar,

desmentir as acusações que lhe forem feitas, como também proteger os seus

direitos. E nesse sentido, respeitando o princípio da ampla defesa e do

contraditório é que o art. 56 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva dispõe

que “Todos os meios legais, bem assim os moralmente legítimos, ainda que

não especificados neste código, são hábeis para provar a verdade dos fatos

alegados no processo desportivo”

Obrigado a proferir decisões rápidas e com celeridade processual

inerente às competições desportivas, os auditores das instâncias desportivas

devem permitir que o acusado tenha todas as condições de exercer a sua

defesa. As decisões devem estar fundamentadas na certeza dos fatos, não

podendo, entretanto, subsistir qualquer decisão condenatória fundamentada na

dúvida.

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Nesse diapasão, a lei processual desportiva inovou no que diz respeito

à súmula e o relatório de árbitros, auxiliares e representantes da entidade

promotora do evento desportivo, atribuindo presunção de veracidade a súmula,

ou seja, ela servirá de base para a formulação da denúncia pela Procuradoria

ou como meio de prova, no entanto, não constituindo verdade absoluta (art. 58

CBJD). Diante disso é possível contraditar a narrativa do árbitro constante da

súmula do evento desportivo, ou até provar fatos antidesportivos não

informados pela mesma, garantindo, assim, a ampla defesa e o contraditório.

3.3- Princípio da Celeridade

Uma das peculiaridades do regime jurídico desportivo é o dinamismo

com que são cumpridos os atos processuais, evitando com isso que decisões

tardias ou infrações não apreciadas em tempo hábil acarretem prejuízos

irreparáveis ao sistema desportivo, principalmente com relação aos atletas

como também às competições, o que viria de encontro ao ordenamento

jurídico. É de bom alvitre lembrar que a Constituição Federal determinou o

prazo de 60(sessenta) dias para a solução definitiva do litígio desportivo.

Inácio Nunes diz que

“o principio da celeridade na prestação de Justiça é

desejo agasalhado na alma de toda a sociedade e

na mente de todos quantos têm por mister a

aplicação da lei”. 9

No mesmo sentido já dizia Carnelutti que “justiça tardia,

freqüentemente é uma justiça pela metade”.

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3.4- Principio da Economia Processual

Sua finalidade é evitar que atos desnecessários sejam praticados,

comprometendo a agilidade no alcance da finalidade a que se propõe a Justiça

Desportiva. Ela está estruturada e aparelhada para agir rápido e cumprir com

suas obrigações sem morosidade. O rigor no formalismo não é aplicado ao

processo desportivo.

3.5-Princípio da Impessoalidade

A Justiça Desportiva dispensa um tratamento isonômico a todos os

participantes dos eventos desportivos sobre sua jurisdição. Se houve a prática

de uma infração disciplinar, para as instâncias desportivas não importa se o

denunciado é o árbitro, atleta, técnicos, dirigente de entidade de prática

desportiva, entidade administrativa do desporto e seus funcionários ou até

membro do Tribunal de Justiça Desportiva, o caso dever ser processado e

julgado sem distinção. Para tanto, exige-se que o auditor julgador disponha de

conhecimentos técnico-jurídicos desportivos capazes de permitir-lhe uma

avaliação correta da caracterização da infração.

3.6-Princípio de Independência

A Justiça Desportiva deve atuar com autonomia e total independência

das entidades administrativas do desporto, sendo vinculada apenas com

relação à parte econômica, haja vista que a mantença da estrutura de suas

instâncias é de competência das entidades.

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3.7- Principio da Legalidade

Tido como o mais importante dos princípios, assegura plenamente o

cumprimento do disposto no art. 5º da Constituição Federal, precisamente nos

incisos II, XXXVI, XXXIX, LV, LVI, LVII. LX e LXXVII pertinentes ao regime

jurídico desportivo.

Sob o aspecto formal, que também é chamada de princípio da reserva

legal, esta estabelecido nos parágrafos 1º e 2º art. 217 da Lei Maior, que ao

instituir a Justiça Desportiva remeteu a sua regulamentação à lei ordinária

competente, que no caso é a Lei Geral Sobre Desportos(Lei 9615/98), onde no

caput do art. 50 determina a competência do Código Brasileiro de Justiça

Desportiva, no que se refere a organização, funcionamento e atribuições da

Justiça Desportiva, nos termos constitucionais, ao processo e julgamento das

infrações disciplinares e às competições desportivas. Por sua vez o Livro II do

CBJD vêm enumerando as medidas disciplinares, especificando as disposições

legais. Portanto constituem o princípio da reserva legal do Direito Desportivo

Brasileiro, a Constituição Federal(art. II e art. 217 parágrafo 1º), a Lei Geral

Sobre Desportos(art. 1º, parágrafo 1º e art. 50) e o Código Brasileiro de Justiça

Brasileiro.

No que tange ao seu aspecto material, ou princípio da tipicidade, está

estabelecido nos moldes do que preceitua o art. 5º inciso XXXIX da CF,

quando dispõe que “não há crime, sem lei anterior que o defina, nem pena sem

prévia cominação legal”; no CBJD quando em seu art. 153 dispõe que “é

punível toda infração disciplinar, tipificada no presente Código”, definindo ainda

no art. 156 que “Infrações Disciplinares para os efeitos deste código é toda

ação ou omissão antidesportiva, típica e culpável”. Nos dispositivos

subseqüentes do CBJD estão explicitadas as condições em que tais ações ou

omissões constituem violação a serem punidas pela Justiça Desportiva.

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3.8-Princípio da Moralidade

A moralidade desportiva é voltada para os valores basilares da prática

desportiva, como o respeito aos atletas e entre os atletas, aos desportistas em

geral e ao “fair play” como também ao próprio expectador. A prática da

imoralidade gera a contaminação de todo um sistema desportivo, viciando

qualquer ato, sujeitando o mesmo ao controle da Justiça Desportiva.

3.9- Princípio da Motivação

Diz-se da exposição das razões de fato e de direito que servem de

base para uma decisão. Os votos dos auditores devem ser fundamentados,

pois o acusado necessita conhecer e compreender as razões da procedência

ou não de uma denúncia contra si formulada, possibilitando ao mesmo o

exercício do amplo direito de recurso. Compete ainda aos auditores a

expedição de acórdãos na própria seção de julgamento, se requerido pela

parte. Para tanto, a instrução processual e os fundamentos do colegiado “a

quo”, que são as Comissões Disciplinares, devem ficar de alguma maneira

consignados.

3.10-Princípio da Oficialidade

Atualmente, não é uma prática comum nas instâncias desportivas,

através de seus Presidentes, a atuação de ofício em casos isolados.

Necessário se faz que a parte interessada formule queixa encaminhando ao

Tribunal de Justiça Desportiva da modalidade, que o analisará. Sendo

admissível o pedido, este será remetido à apreciação do Procurador. Somente

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nos casos mais complexos, que coloquem em risco a paz, a moralidade e a

disciplina desportiva, principalmente hoje com a evolução e profissionalização

das competições e os interesse envolvidos, a atuação da Justiça Desportiva se

faz obrigatória.

3.11- Princípio da Oralidade

Como as decisões na Justiça Desportiva devem ser proferidas com

rapidez, certos atos processuais são produzidos oralmente e está ligado

diretamente com o princípio da celeridade, podendo os mesmos ser produzido

por escrito. No entanto, alguns atos dependem de forma escrita como a

denúncia, a citação e a intimação.

3.12- Princípio da Proporcionalidade

O poder discricionário na apreciação das provas e no convencimento

do auditor julgador não o autoriza a agir com excessos. Uma vez exercida tal

postura, fica caracterizado o desvio de finalidade e abuso de poder. O poder de

decisão requer do auditor julgador, que está investido na função jurídico-

desportiva, a exteriorização de atos coerentes e sensatos.

3.13- Princípio da Publicidade

É dever das instâncias desportivas divulgar os seus atos, a fim de que

a sociedade desportiva, sujeita ao Código Brasileiro de Justiça Desportiva,

tome conhecimento ou mesmo para esclarecimento de interesse individual.

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Trata-se de um dos componentes de controle da legitimidade. Com exceção do

sigilo e circunstâncias de ordem interna, as decisões e os procedimentos

devem ser disponibilizados através de publicação por edital, boletim ou por

meios eletrônicos, a fim de não obstacular os procedimentos e providências por

parte do litigante interessado. Quando houver casos envolvendo atletas

menores, devem ser observadas as exigências elencadas pelo Estatuto da

Criança e do Adolescente(ECA), tanto no que se refere aos atos processuais

de comunicação como também no que tange as sessões de julgamento.

O sistema de publicidade dos atos processuais na Justiça Desportiva

garante a independência, imparcialidade, autoridade e responsabilidade dos

auditores.

3.14- Princípio da Razoabilidade

É um atributo exigível dos membros das instâncias desportivas. Os

auditores julgadores devem atuar com bom senso, ponderação e prudência

ante o infortúnio de situações deferidas a seu encargo, atendo-se a

razoabilidade da sanção e ao objetivo maior que é o da moralização do

desporto nacional.

3.15- Princípios Intrínsecos do Direito Processual Desportivo

Além dos princípios geradores do Direito Processual Desportivo,

existem princípios, que apesar de não constarem explicitados na legislação

processual desportiva, foram prestigiados e que na prática a sua aplicação é

ostensiva, constituindo verdadeiras normas jurídicas.

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Paulo Marcos Schmitt discorrendo sobre os princípios que norteiam o

direito processual desportivo coloca que

“Entretanto, embora não expresso formalmente pelo

notório conhecimento doutrinário e jurisprudencial

que possui, o uso dos princípios precede qualquer

omissão contida na lei. Vai além. Os princípios

informam a correta interpretação de todo o aparelho

legal. Não basta conhecer a codificação desportiva,

faz-se necessário o seu estudo conceitual e

principiológico. Uma codificação é editada com uma

finalidade específica. Distanciar-se desse fim – o

espírito da lei – significa incorrer em erro invencível

de interpretação, qual seja, desprezar os seus

princípios explícitos e implícitos”.10

3.15.1- Princípio da Verdade Real

Os auditores têm o dever de investigar como os fatos se passaram na

realidade. Na instrução ou até mesmo antes de proferir a decisão, os auditores,

para exercerem o juízo de certeza dos fatos apresentados, podem propor ao

órgão judicante que se faça uma diligência a fim de dirimir dúvida sobre algum

ponto relevante, adiando, assim, o julgamento.

3.15.2- Princípio Devido Processo Legal

Tem por objetivo assegurar aos desportistas em geral a garantia de um

processo desenvolvido na forma que estabelece a lei, ou seja, o due process of

law acolhido pelo art. 5º inciso LIV da Constituição Federal. Garante ao

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acusado a plenitude de defesa, como o direito de ser ouvido, de ser informado

pessoalmente de todos os atos processuais, de se manifestar após ter sido

denunciado, à publicidade e motivação das decisões, ao duplo grau de

jurisdição, a revisão da decisões e a imutabilidade das decisões favoráveis

transitadas em julgado.

3.15.3- Princípio da Transparência

Todos os atos decisórios na Justiça Desportiva são de natureza

pública, não correndo em segredo, salvo exceções previstas por lei.

3.15.4- Princípio da Informalidade

O processo desportivo dispensa o rigor das formas, pois seria

incompatível e lesivo para com a sua própria finalidade.

3.15.5- Princípio do Impulso Oficial

Consiste em atribuir ao órgão jurisdicional desportivo a incumbência de

mover o processo de fase a fase até a decisão final, não dependendo do

impulso das partes, haja vista a relevância do interesse da Justiça Desportiva

na rápida e eficaz solução das demandas.

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CAPÍTULO IV

JUSTIÇA DESPORTIVA

4.1- Conceito

Podemos conceituá-la como o conjunto de instâncias autônomas e

independentes das entidades de administração do desporto, dotadas de

personalidade de direito público ou privada, tendo como atribuição, dirimir as

questões de natureza desportivas definidas no Código Brasileiro de Justiça

Desportiva.

Sebastião José Roque define lides tipicamente desportivas como

“controvérsias que, por sua natureza e pelas

circunstâncias em que soem acontecer, não

extrapolam os limites e o terreno da competição

desportiva tout court, sendo, por isso, desejável que

venham a ser dirimidas “interna corporis”, pelos

próprios órgãos da Justiça Desportiva”. 11

A Justiça Desportiva Brasileira foi instituída pela Constituição Federal

de 1988, com caráter administrativo, precisamente nos parágrafos 1º e 2º do

art. 217, garantindo a sua primazia para o julgamento dos fatos relativos ao

desporto e regulada pela Lei Geral Sobre Desportos (Lei 9615/98).

Art. 217. É dever do estado fomentar práticas desportivas formais e

não-informais, como direito de cada um, observados:

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Parágrafo Primeiro: O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à

disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da

justiça desportiva, regulada em lei.

Parágrafo Segundo: A justiça desportiva terá o prazo máximo de

60(sessenta) dias, contados da instauração do processo, para proferir decisão

final.

No que diz respeito aos preceitos acima citados, a Constituição Federal

vislumbrou toda uma problemática com relação ao congestionamento da

Justiça Comum o que dificultaria a tramitação rápida e célere, já que na prática

desportiva a demora no andamento das demandas desportivas prejudicaria

sobremaneira os atletas como também o andamento das competições, partidas

ou equivalentes, que possuem um calendário inadiável e que não poderiam

ficar a mercê de sua morosidade, aliado ao fato do despreparo da Justiça

Estatal no que diz respeito às questões jurídicas desportivas, uma vez que é

exigido dos julgadores o conhecimento da técnica jurídica desportiva, sendo

certo que há peculiaridades da legislação desportiva afeitas somente por quem

milita nos desportos.

Álvaro Melo Filho comenta que

“os parágrafos 1º e 2º do art. 217, evidentemente,

não acabam, mas limitam e restringe a interferência

do Poder Judiciário nos desportos, sem aniquilar a

garantia constitucional que assegura o acesso das

pessoas físicas e jurídicas a Justiça Comum para

defesa de seus direitos. A fórmula obriga, apenas, o

exaurimento das instâncias da Justiça Desportiva,

ou, se ela não proferir decisão final, no prazo de 60

(sessenta) dias, no máximo, contados da

instauração do processo. Era essa, assim, a medida

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necessária, profilática e inibidora de despachos e

decisões da Justiça Estadual com efeitos

irreversíveis e danosos às competições e à disciplina

desportiva, muitas vezes gerando frustrações

coletivas e desnaturando a função social e educativa

do próprio desporto”. 12

Marcílio Cesar Ramos Krieger assinala que

“Os bens jurídico-desportivos, como o “fair play”, o

respeito aos atletas e aos desportistas em geral

devem ser preservados. É para isto que existe a

Justiça Desportiva, exercendo função delegada pela

Constituição Federal para processar e julgar as

infrações contra a disciplina e a organização

desportivas”.13

Adquire, portanto, a Justiça Desportiva a condição de contencioso

administrativo, constitucionalmente reconhecido para processar e julgar as

ações relativas ao desporto, usando procedimentos próprios e aplicando às

sanções previstas no Livro II do Código Brasileiro de Justiça Desportiva.

Acentua Inácio Nunes que

“Em boa hora e em face do preceito constitucional, o

CBJD procura eliminar a possibilidade de que, por

interposta pessoa (“laranja”), alguém ou alguma

entidade possa beneficiar-se de ações judiciais

perante a Justiça comum sem análise prévia da

Justiça Desportiva.. e a entidade desportiva ou o

atleta individualmente que se utilizar de tal

subterfúgio será excluído do campeonato e ainda

sofrerá a multa de valor entre R$ 50.000,00

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(cinqüenta mil reais) e R$ 500.000,00 (quinhentos

mil reais) (art. 231)”. 14

Há que se ressaltar, que ao institucionalizar a Justiça Desportiva,

tirando-a dos textos das leis e dos regulamentos ordinários, a Constituição

Federal de 1988 lhe outorgou um valor jamais concedido a qualquer outro

órgão administrativo judicante.

O regime jurídico desportivo e seus princípios guardam conceitos cujo

único objetivo está centralizado no alcance de uma finalidade, seja ela privada,

calcada na autonomia constitucional conferidas aos órgãos judicantes, no que

se refere a sua organização e funcionamento ou pública, haja vista que tanto a

administração do desporto quanto os administrados possuem prerrogativas e

direitos.

4.2- Natureza Jurídica

Deve ser entendida como um sistema de justiça reguladora,

fiscalizadora e disciplinadora de atos praticados pelos desportistas em geral,

que vão de encontro a moral do desporto nacional. Para Sebastião José Roque

“a Justiça Desportiva é um sistema de julgamento

que caminha de forma paralela à jurisdição normal:

objetiva dirimir as lides surgidas no campo

desportivo. Mais precisamente, envolve pessoas

físicas e jurídicas registradas nas federações

esportivas e atos praticados nas competições

esportivas promovidas pelas federações. Não atinge

atos que não sejam praticados em decorrência de

atividades desportivas promovidas pelas entidades

reguladoras do esporte nacional, ou internacional, a

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que estiver filiada a respectiva federação

esportiva”.15

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CAPÍTULO V

ORGANIZAÇÃO, ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DOS

ÓRGÃOS DA JUSTIÇA DESPORTIVA

5.1- Organização e Estrutura

Aos órgãos da Justiça Desportiva a Lei Geral Sobre Desportos, Lei

9.615/98, em seu artigo 52, prevê uma estrutura orgânica e hierárquica,

reconhecendo-os como entes autônomos e independentes das entidades de

administração desportiva de cada modalidade, atuando com absoluta

independência decisória, sendo vedadas quaisquer intervenções por parte das

mencionadas entidades.

“Art. 52. Os órgãos integrantes da Justiça desportiva são autônomos e

independentes das entidades de administração do desporto de cada sistema,

compondo-se do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, funcionando junto às

entidades nacionais de administração do desporto; dos Tribunais de Justiça

Desportiva, funcionando junto as entidade regionais da administração do

desporto, e as Comissões Disciplinares, com competência para processar e

julgar as questões previstas nos Códigos de Justiça Desportiva, sempre

assegurados a ampla defesa e o contraditório”.

Na Justiça Desportiva haverá tantos Superiores Tribunal de Justiça

Desportiva quantas forem às entidades nacionais de administração do desporto

e tantos Tribunais de Justiça Desportiva quantas forem às entidades estaduais

de administração do desporto.

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Exemplificando através de duas modalidades distintas: Junto a

Confederação Brasileira do Futebol – CBF funciona um Superior Tribunal de

Justiça Desportiva que julga a nível nacional somente as questões ligadas ao

futebol. Junto a Federação Aquática do Estado do Rio de Janeiro – FARJ

funciona um Tribunal de Justiça Desportiva que julga a nível estadual as

questões que diz respeito aos esportes aquáticos(natação, pólo-aquático, nado

sincronizado e saltos ornamentais).

Para um melhor entendimento veja o organograma no Anexo 01.

Inácio Nunes coloca que

“Ao lado da Federação Estadual de cada

modalidade desportiva, haverá um TJD para julgar

os fatos do respectivo esporte (competência)

exclusivamente dentro do território daquele estado

(jurisdição), nas competições organizadas pela

respectiva Federação”. 16

5.2- Composição

A composição dos Tribunais Desportivos vem preceituada no artigo 55

da Lei Geral Sobre Desportos, Lei 9.615/98 e nos artigos 4º e 5º do Código

Brasileiro de Justiça Desportiva.

Os membros que compõem as três instâncias da Justiça Desportiva

são chamados de auditores, os quais exerce função delegada pela

Constituição Federal, aumentando, com isso, a responsabilidade judicanti

desportiva. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva e o Tribunal de Justiça

Desportiva de cada modalidade é formado de nove membros, dos quais dois

indicados pela entidade nacional de administração do desporto, dois indicados

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pelas entidades de prática desportiva, dois indicados pelo Conselho Federal da

Ordem dos Advogados do Brasil, um indicado pelo órgão de classe

representante dos árbitros e dois indicados pelo órgão de classe representante

dos atletas.

As Comissões Disciplinares órgãos que funcionam como primeira

instância junto ao STJD e o TJD, devem ser compostas de 5(cinco) membros

indicados pelos tribunais da respectiva modalidade, sendo certo que não

podem ser componentes dos mencionados tribunais, conforme determina o

artigo 6ª do Código Brasileiro de Justiça Desportiva. Cada Tribunal poderá criar

tantas Comissões Disciplinares que julgar necessário para agilizar as

demandas desportivas.

Os três órgãos judicantes terão sempre um Presidente e um Vice-

Presidente que cumulará a função de Corregedor, eleitos na forma da lei e de

seu Regimento Interno. Todas as deliberações e julgamentos só se darão com

a presença da maioria de seus auditores. O quorum mínimo para o julgamento

tanto no STJD como no TJD é de cinco auditores e na Comissão Disciplinar o

quorum mínimo é de três auditores.

Assim, todos os órgãos da Justiça Desportiva são denominados colegiados.

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CAPÍTULO VI

JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA DAS INSTÂNCIAS

DESPORTIVAS

6.1- Noções Gerais

Em sede de Justiça Desportiva, a jurisdição pode ser definida como o

poder conferido aos órgãos judicantes desportivos dentro do limite territorial de

cada um, para o conhecimento e solução de determinadas demandas

desportivas.

Os órgãos judicantes estão diretamente relacionados com os limites de

atuação das entidades da administração do desporto, seja ele nacional

(confederações) ou regional ou estadual (federações) e por modalidade

esportiva.

O Superior Tribunal de Justiça Desportiva e o Tribunal de Justiça

Desportiva além de terem a competência para julgar os processos especiais,

são órgãos judicantes que atuam em grau de recurso em 2ª instância como

também em 3ª instância no caso de haver o esgotamento da matéria no

Tribunal de Justiça Desportiva. As Comissões Disciplinares, salvo as hipóteses

de competência originária do STJD e do TJD, são órgãos de 1ª instância,

cabendo aos mesmos processar e julgar as infrações disciplinares cometidas

por pessoas física ou jurídica que estejam submetidas ao Código Brasileiro de

Justiça Desportiva.

Para melhor entendimento a respeito da distribuição de competência,

veja o quadro elucidativo referente à competência do Superior Tribunal de

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Justiça Desportiva e sua Comissão Disciplinar e do Tribunal de Justiça

Desportiva e sua Comissão Disciplinar no Anexo 3.

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CAPÍTULO VII

ATRIBUIÇÕES DOS MEMBROS DA JUSTIÇA

DESPORTIVA

7.1- Do Presidente e Vice-Presidente

Cabe ao Presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva e do

Tribunal de Justiça Desportiva a responsabilidade pela boa atuação da Justiça

Desportiva, além do bom desempenho dos processos disciplinares que são

exercidos por profissionais capacitados para a função, além de notório saber

jurídico.

O Presidente do STJD e do TJD tem por dever orientar a preparação

da pauta das sessões de julgamento, ter a capacidade de conduzir as

atividades, a fim de apurar todos os fatos durante as sessões. Cabe a ele

nomear o auditor relator de cada processo e a ele será atribuído o voto de

qualidade em caso de empate.

7.1.1- Atribuições

As atribuições dos Presidentes dos órgãos judicantes estão elencadas

no art. 9º do CBJD, além das que lhes forem conferidas por lei e pelo

Regimento Interno. Estão assim distribuídas:

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zelar pelo perfeito funcionamento da Justiça Desportiva e fazer cumprir

suas decisões;

ordenar a restauração de autos;

dar imediata ciência, por escrito, das vagas verificadas no Tribunal ao

presidente da entidade indicante;

determinar sindicâncias e aplicar a pena de advertência e suspensão aos

seus funcionários;

sortear ou designar os relatores dos processos;

dar publicidade às decisões prolatadas;

representar o respectivo órgão judicante nas solenidades e atos oficiais,

podendo delegar essa função a qualquer dos auditores;

designar dia e hora para as sessões ordinárias e extraordinárias e dirigir os

trabalhos;

dar posse aos auditores do respectivo órgão judicante e de suas Comissões

Disciplinares, aos Procuradores e aos Secretários;

exigir da entidade de administração o ressarcimento das despesas

correntes e dos custos de funcionamento do tribunal e prestar-lhe contas;

acolher e processar os recursos voluntários e os necessários;

conceder efeito suspensivo a qualquer recurso, em decisão fundamentada,

quando a simples devolução da matéria possa causar prejuízo irreparável

ao recorrente;

conceder licença do exercício de suas funções aos auditores, inclusive aos

das Comissões Disciplinares, procuradores, secretários e demais auxiliares;

Em casos excepcionais e visando o interesse do desporto nacional,

além das atribuições acima descriminadas, o Presidente do STJD e TJD

poderá, através de ato fundamentado, permitir o ajuizamento de qualquer

medida não prevista no Código Brasileiro de Justiça Desportiva, desde que

requerida no prazo de 5 (cinco) contados da decisão do ato, do despacho ou

da inequívoca ciência do fato, podendo conceder efeito suspensivo ou liminar

quando houver fundado receio de dano irreparável.

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Deve o Vice-Presidente dos órgãos judicantes conforme determina o

art. 10 da CBJD, substituir o Presidente nos eventuais impedimentos e

definitivamente quando da vacância; representar o órgão judicante nas

solenidades e atos oficiais, quando essa função lhe for delegada e exercer as

funções de Corregedor da Justiça Desportiva na forma que dispuser o

regimento interno.

7.2- Do Presidente da Comissão Disciplinar

As atribuições do Presidente da Comissão Disciplinar devem estar

estabelecidas no regimento interno do respectivo Superior Tribunal de Justiça

Desportiva e do Tribunal de Justiça Desportiva, estando, no entanto, previsto

no parágrafo segundo do art. 9º do Código Brasileiro de Justiça Desportiva

que examinará os requisitos de admissibilidade do recurso, encaminhando-o à

instância superior.

7.3- Dos Auditores

Os auditores são membros dos tribunais desportivos, responsáveis

pelo julgamento das questões disciplinares, de notório saber jurídico e conduta

ilibada além de serem profundos conhecedores das normas aplicadas no

desenvolvimento de sua atuação junto as instâncias desportivas.

Serão incompatíveis para exercer o cargo de Auditor todos aqueles que

por ventura sejam membros do Conselho Nacional do Desporto, os dirigentes

das entidades de prática desportiva e os dirigentes e funcionários das

entidades de administração do desporto.

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7.3.1- Posse e Mandato

A posse dos auditores dos tribunais desportivos deve ocorrer de

conformidade com o Regimento Interno de cada órgão, seja no STJD ou no

TJD, conforme determina o art. 11 do CBJD.

“Art. 11. Os membros dos órgãos judicantes serão empossados na

conformidade do que dispuser o respectivo regimento interno de cada órgão”.

O mandato atualmente é de 4 (quatro) anos permitida, no entanto, a

recondução, de acordo com o parágrafo segundo do art. 55 da Lei Geral Sobre

Desporto(Lei 9.615/98). Inácio Nunes comenta que

“Os mandatos dos Auditores têm sua duração

prevista em lei, que atualmente é de quatro anos,

permitidas reconduções. Como o CBJD não limitou o

número permitido, seus membros podem eternizar-

se como Auditores dos tribunais, sem qualquer

renovação de seus quadros”. 17

7.3.2- Requisitos de Atuação dos Auditores

A função jurisdicional exercida pelos auditores, seja no STJD, no TJD

ou nas Comissões Disciplinares, para ser válida e eficaz necessita de alguns

requisitos:

1) Estar investido do poder de jurisdição;

2) Atuar dentro dos limites de atribuições asseguradas pela lei desportiva;

3) Atuar com imparcialidade, isento de qualquer influência das partes

envolvidas e das pressões exercidas pelos interessados;

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4) Não estar subordinado a nenhum outro tribunal, se colocando acima de

qualquer poder político ou das massas que por ventura exerçam pressão sobre

suas decisões;

5) Deve se ater somente à ordem processual desportiva;

Neste sentido Álvaro Melo Filho faz a seguinte colocação:

“Adite-se, por oportuno, que o desporto empolga e

leva as massas a delírios, porém, o integrante da

Justiça Desportiva, aquele que trata da disciplina e

das infrações ocorridas nos certames, não pode

envolver-se nas mesmas paixões dos torcedores

comuns. E, como se trata de Justiça Desportiva, só

em ter presente a expressão justiça, exige de seus

membros, por ocasião do veredicto, despir-se de

todas as impurezas de seu ego, tirando a camisa

dos clubes que torcem e esquecendo de suas cores

desportivas, devem prolatar uma decisão justa,

humana e compatível com o fim do desporto. No

momento da decisão, nada de represálias ou de

vindictas, e devem sempre pensar em promover o

desporto e não a si mesmos. Por isso, não há lugar

na Justiça Desportiva para torcedores apaixonados,

conquanto paixão e justiça nunca se misturam,e,

quando isto ocorre, o resultado já é consabido:

injustiça”. 18

7.3.3- Suspeição e Impedimentos

Conforme acontece na Justiça Comum, o procedimento desportivo é pautado

nos princípios gerais de direito e nas garantias constitucionais, que possibilitam

a segurança das partes envolvidas de obter um resultado correto e justo.

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Para tanto, os membros auditores dos tribunais desportivos devem

apresentar um considerável conhecimento técnico-jurídico desportivo e

principalmente, devem estar totalmente desvinculados do litígio que vão julgar.

O próprio auditor, diante de um caso concreto deve declarar seu

impedimento para atuar em um determinado processo, seja porque é parente

(consangüinio ou afim), seja porque é sócio, fiador, patrão, avalista ou tenha

alguma ligação mais íntima com qualquer das partes. Caso não declare o seu

impedimento, qualquer das partes ou mesmo a Procuradoria Desportiva que

atue perante o Tribunal ou Comissão Disciplinar poderá argüir, fato este que

será julgado pelo Tribunal ou pela Comissão Disciplinar, não sendo admitido,

entretanto, a interposição de recurso da decisão prolatada.

7.3.4- Vacância

Ocorrendo a Vacância, por morte, renúncia, ou por motivo de

condenação pela própria Justiça Desportiva ou pela Justiça Comum, o

Presidente do órgão judicante comunicará imediatamente ao órgão indicante

competente para preencher a vaga. Caso o órgão indicante não preencha a

vaga em 30 (trinta) dias, o respectivo órgão judicante designará um substituto

para ocupar interinamente o cargo, já que os trabalhos das instâncias

desportivas não podem ser interrompidos.

7.3.5- Competência

Além das atribuições definidas no regimento interno de cada órgão

judicante, compete aos auditores:

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a obrigatoriedade de seu comparecimento nas sessões, quando for

convocado, com antecedência mínima de 20 minutos;

empenhar-se para o cumprimento das leis, das normas contidas no CBJD,

além de zelar pelo prestígio das instituições desportivas;

se manifestar rigorosamente dentro dos prazos processuais;

representar contra qualquer irregularidade, infrações disciplinares ou sobre

fatos ocorridos nas competições dos quais tomou conhecimento;

apreciar livremente as provas apresentadas nos autos, visando sempre o

interesse do desporto, proferindo decisão fundamentada;

deverá devolver à Secretaria do Tribunal, em até 48 horas, qualquer

processo que tenha em seu poder e que esteja incluído em pauta;

7.3.6- Livre Acesso

Para desempenhar plenamente as suas funções, os membros dos

tribunais desportivos deverão ter livre acesso a locais públicos ou privados,

destinados ao evento desportivo da modalidade de competência do órgão

judicante, devendo ser reservados aos mesmos assentos em setor designado

para as autoridades desportivas, como determinado no parágrafo único do art.

20 do CBJD.

A atuação da Justiça Desportiva, nestes casos, é tida como preventiva.

Como é o caso da presença da Comissão Disciplinar em um evento desportivo,

que tem como função preventiva no caso de ocorrência de uma infração

disciplinar durante a competição, partida ou similar. O direito ao livre acesso

visa também o cumprimento de determinados atos processuais, em dado

momento, necessitam de serem realizados durante uma competição, como no

caso da citação e da intimação de determinada pessoa para o julgamento de

um processo disciplinar.

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Caso seja obstaculado ou dificultado o acesso de qualquer membro a

praça desportiva e aí incluindo a pessoa do Secretário do órgão judicante que

comparece no local para cumprir alguma diligência, deverá ser comunicado o

fato ao Presidente do STJD ou TJD de sua jurisdição, que poderá interditar,

liminarmente, o local para a prática de qualquer atividade relativa à respectiva

modalidade, intimando a entidade da administração do desporto para que

tomem as medidas cabíveis para o cumprimento da decisão sob pena de

suspensão até que o faça.

7.4- Da Procuradoria Desportiva

Junto a Justiça Desportiva atua a Procuradoria Desportiva, cuja

competência e organização são regulamentadas pelo Código Brasileiro de

Justiça Desportiva, pelo Regimento Interno de cada órgão judicante e no

Estatuto da Entidade de Administração do Desporto de cada modalidade.

Guardadas as devidas proporções, a Procuradoria Desportiva

desempenha um papel semelhante ao do Ministério Público.

Perante cada Tribunal funcionam sempre dois Procuradores, que são

nomeados pelo respectivo órgão judicante. Cabe aos Procuradores oferecer

denúncia nos processos distribuídos aos Tribunais e Comissões Disciplinares

como também emitir pareceres e interpor recursos, de acordo com previsão

legal, exercendo as atribuições determinadas pelo art. 21 incisos I e II do

Código Brasileiro de Justiça Desportiva.

Os Procuradores terão livre acesso às praças desportivas, onde

estejam sendo realizadas competições, partida ou equivalentes da modalidade

do órgão judicante e também estarão sujeitos a declaração de impedimento ou

incompatibilidade imposta aos auditores. Determina o artigo 22 do Código

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Brasileiro de Justiça Desportiva que: “Aplicam-se aos procuradores o disposto

no art. 20, e no que couber, as incompatibilidades e impedimentos impostos

aos auditores, assim declarados pelo respectivo órgão judicante, na forma do

inciso IV do artigo 14”.

7.5- Da Secretaria

Cada Tribunal Desportivo dispõe de uma Secretaria com as atribuições

previstas no Código Brasileiro de Justiça Desportiva e no Regimento Interno de

cada órgão judicante.

Fazem parte de suas atribuições à execução cartorial dos atos e

termos processuais; recebimento de documentos e diligenciar a distribuição de

correspondências; classificar os processos e efetuar o competente registro;

confeccionar as pautas das sessões de julgamento; redigir a ata das sessões;

elaborar ofícios, intimações e citações e demais questões administrativas das

instâncias desportivas. O Secretário tem a competência de secretariar as

sessões dos órgãos judicantes.

7.6- Dos Defensores

O art. 29 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva preceitua que

“Qualquer pessoa maior e capaz poderá funcionar como defensor, observados

os impedimentos legais”.

Considero frágil o mencionado dispositivo, uma vez que o legislador

não atentou para o fato de que o defensor, necessariamente, para atuar junto

aos Tribunais Desportivos, deve possuir um considerável conhecimento

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técnico-jurídico da matéria. Ter apenas o conhecimento jurídico não basta, se

faz necessário conhecer das normas e regras da modalidade em que vai atuar.

Que me desculpe o legislador, “qualquer pessoa maior e capaz não estará apta

a funcionar como defensor”, haja vista que até para os operadores do direito

que militam na área desportiva demanda um estudo aprofundado da matéria, a

fim de suprir certas dificuldades. Pelo desconhecimento da matéria, um

defensor muitas vezes poderá prejudicar irremediavelmente à parte.

Apesar do código não exigir a presença de um advogado, esta praxe

não constitui uma regra absoluta, já que nas sessões de julgamento os

advogados se fazem presentes, atuando como defensores.

A Habilitação de defensor para intervenção no processo depende de

declaração formalizada pela parte, podendo, no entanto, as entidades de

administração do desporto e da prática desportiva credenciar defensores para

atuar em seu favor, de seus dirigentes, dos atletas e de outras pessoas que

lhes forem subordinadas, salvo quando colidentes os interesses

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CAPÍTULO VIII

JURISDIÇÃO, AÇÃO E PROCESSO

8.1- Jurisdição

Jurisdição é o poder de deliberação regularmente conferida aos órgãos

judicantes desportivo através de seus auditores, para o conhecimento de

questões que vão de encontro a disciplina desportiva, agindo em substituição

às partes.

Para Liebman “o órgão jurisdicional é, na verdade,

convocado para remover a incerteza ou reparar a

transgressão, mediante um juízo que preste a

reafirmar e restabelecer o império do direito, quer

declarando qual seja a regra do caso concreto, quer

aplicando as ulteriores medidas de reparação ou

sanção revistas pelo direito.” 19

É uma função reconhecida constitucionalmente, tanto que o parágrafo

primeiro do art. 217 dispõe que “O Poder Judiciário só admitirá ações relativas

à disciplina e às competições desportivas após esgotarem as instâncias da

Justiça Desportiva, regulada em lei”.

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8.1.1- Princípios da Jurisdição

A jurisdição desportiva é informada por princípios universalmente

conhecidos, a saber:

a) princípio da investidura – a jurisdição é exercida pelos auditores investidos

na autoridade de julgador.

b) princípio da aderência ao território – os órgãos judicantes têm o seu limite

territorial de acordo com as entidades da administração do desporto de cada

modalidade.

c) princípio da indelegabilidade – o auditor deve exercer os poderes que lhe

foram conferidos de uma forma exclusiva e indelegável.

d) princípio da inevitabilidade – a autoridade dos órgãos judicantes impõe-se

por si mesma, independente da vontade das partes.

e) princípio da inafastabilidade ou do controle jurisdicional – a lei processual

desportiva não pode excluir da apreciação pela Justiça Desportiva qualquer

infração disciplinar ou ameaça a direito e nem o auditor a pretexto de omissão

ou lacuna da lei, escusar de proferir decisão.

f) princípio do juiz natural – nenhum desportista será privado de um julgamento

por auditores independentes e imparciais, ou seja, é o que chamamos de

garantia do juiz competente.

g)princípio do duplo grau de jurisdição – é a possibilidade de revisão das

decisões por via de recurso, de ações por infração disciplinares já julgadas pela

Comissão Disciplinar, órgão da primeira instância do TJD e STJD.

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8.1.2 – Poderes Inerentes a Jurisdição

São os que por sua natureza se tornam inseparáveis quais sejam:

1- Poder Jurisdicional – é o poder concedido ao auditor para a aplicação do

caso concreto as regras legais e regulamentares previstas.

2- Poder de Polícia – O Auditor Presidente da Comissão Disciplinar (órgão de

1ª instância), o Auditor Presidente do Tribunal de Justiça Desportiva e do

Superior Tribunal de Justiça Desportiva de cada modalidade exercem o poder

de polícia, que os autorizam a manter a ordem nas seções de julgamento.

8.1.3– Competência

Humberto Theodoro Junior comenta que

“Houve época que se confundiam os conceitos de

jurisdição e competência. Em nossos dias, porém,

isto não mais ocorre entre processualistas, que

ensinam de maneira muito clara que a competência

é apenas a medida da jurisdição, isto é, a

determinação da esfera de atribuições dos órgãos

encarregados da função jurisdicional”. 20

A competência é a medida e o limite da jurisdição dentro da qual os

auditores dos órgãos judicantes desportivos poderão dizer o direito e a

extensão do seu poder de julgar. Para Hely Lopes Meirelles

“Entende-se por competência administrativa o poder

atribuído ao agente da Administração para o

desempenho específico de suas funções. A

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competência resulta da lei e por ela é limitada. Todo

ato emanado de agente incompetente, ou realizado

além do limite de que dispõe a autoridade incumbida

de sua prática, é inválido, por lhe faltar um elemento

básico de perfeição, qual seja, o poder jurídico para

manifestar a vontade da Administração”. 21

No direito processual desportivo existe três espécies de competência:

a) Competência em razão da matéria (ratione materiae) - Limita-se unicamente

a processar e julgar as infrações disciplinares e às competições desportivas,

competência essa delegada pela Constituição Federal.

b) Competência em razão da pessoa (ratione persona) – Os órgãos judicantes

desportivos tem competência para julgar todas as entidades compreendidas

pelo Sistema Nacional do Desporto como também todas as pessoas físicas e

jurídicas que lhes forem direta ou indiretamente filiadas ou vinculadas.

c) Competência em razão do lugar (ratione loci) – é extensiva a todo território

nacional, sendo necessário observar os limites territoriais de cada entidade de

administração do desporto e respectiva modalidade. Para cada modalidade

desportiva existe uma federação e uma confederação. As competições,

campeonatos ou partidas organizadas pelas federações são de âmbito

estadual e as organizadas pelas confederações de âmbito nacional ou

interestadual, se foram por elas organizadas.

8.2- Ação

É um direito, uma garantia constitucional que possui o atleta, a

entidade da prática desportiva ou da administração do desporto que se sinta

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lesado ou prejudicado de exercer o seu direito público subjetivo, de provocar o

órgão de justiça desportiva e até mesmo para prevenir danos irreparáveis.

Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrine Grinover e Cândido

Rangel Dinamarco dizem que

“..é o direito ao exercício da atividade de

jurisdicional (ou o poder de exigir esse exercício).

Mediante o exercício da ação provoca-se a

jurisdição, que por sua vez se exerce através

daquele complexo de atos que é o processo”. 22

Para que se possa exigir, no caso concreto, a prestação jurisdicional,

faz-se necessário o preenchimento das condições da ação que são:

possibilidade jurídica do pedido; interesse de agir e a legitimidade para a

causa.

8.2.1- Possibilidade Jurídica do Pedido

O seu conceito no processo desportivo é aferido positivamente, se o

ordenamento jurídico desportivo, em abstrato, o admitir expressamente. A

denúncia será rejeitada quando o fato narrado na queixa ou reclamação ou no

protesto, evidentemente não constituir infração disciplinar.

No âmbito do processo desportivo, a apreciação da possibilidade

jurídica do pedido deve ser analisada sobre a causa de pedir (causa petendi),

mas, ao mesmo tempo, desvinculada de qualquer prova que porventura possa

existir. É feita uma análise do fato da maneira que foi narrado na queixa,

reclamação ou protesto, sem, no entanto, perquirir se essa constitui ou não a

verdade real, para que se possa concluir se o ordenamento jurídico desportivo,

in casu, comina-lhe, em abstrato, uma pena. Se for verificado que realmente

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houve a ocorrência de uma infração disciplinar, passa, então, a ser apreciada a

causa petendi, após os fatos colhidos na instrução, ou seja, a aferição dos

fatos em concreto, conforme ocorreram e não como foram narrados. Diante

disso, o auditor relator do processo proferirá o seu voto seguido dos votos dos

demais membros auditores, sendo a decisão final proferida pelo auditor

Presidente da Comissão Disciplinar. A mesma análise será feita no

procedimento especial, nos casos de Mandado de Segurança, Impugnação de

Partida, Prova ou Equivalente em cada Modalidade ou de seu Resultado,

Reabilitação, Dopagem, Infrações Punidas com Eliminação Inquérito,

Suspensão, Desfiliação ou Desvinculação impostas pelas entidades de

administração do desporto, na Revisão e nas demais medidas admitidas no

parágrafo terceiro do art. 9º do CBJD, os quais serão apreciados e julgados

pelos órgãos de segunda instância.

8.2.2- Interesse de Agir

Devem ser verificadas a necessidade e utilidade do uso das vias

jurisdicionais para a defesa do interesse material pretendido como também

sua adequação ao procedimento que possibilite a atuação da vontade concreta

da legislação processual desportiva, tudo de acordo como o devido processo

legal. Diz-se da necessidade, já que é impossível se impor uma pena

disciplinar ao desportista tido como infrator, sem o devido processo legal.

Caso fique demonstrada a inutilidade do provimento jurisdicional, dar-

se-á pela inexistência do interesse de agir.

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8.2.3- Legitimação para a causa (Legitimatio ad causam)

Diz-se da legitimação para ocupar tanto o pólo ativo da relação

processual, o que é feito pelo Procurador da Comissão Disciplinar (no

procedimento sumário), na denúncia do infrator ou do pólo passivo, que seria o

próprio autor da infração disciplinar, o qual possui a capacidade para estar no

pólo passivo, em nome próprio, e na defesa de seu próprio interesse. Em

suma, determina que o Autor (Procurador no procedimento sumário) seja

aquele a quem a lei desportiva assegura o direito de invocar a tutela

jurisdicional e o Acusado aquele contra o qual o Autor pretenda uma punição

por uma infração disciplinar cometida.

8.3- Processo Desportivo

O processo desportivo é o instrumento de atuação da jurisdição, sem o

qual não há como solucionar os litígios. É composto de um elemento objetivo,

que seria a cadeia de atos e fatos coordenados, juridicamente perfeitos e com

o objetivo de preparar o provimento final que é a decisão e de um elemento

subjetivo que é a relação jurídica processual propriamente dita. Em suma, é o

ordenamento sistemático de atos específicos e peculiares a cada caso, visando

decisões que ponham termo a conflitos desportivos, aplicando o direito ao seu

caso concreto.

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8.3.1- Natureza Jurídica

Sua natureza jurídica é de uma relação processual, caracterizado como

um nexo que une e disciplina a conduta dos sujeitos processuais, no

desenrolar do procedimento desportivo.

8.3.2- Finalidade do Processo Desportivo

O processo desportivo tem por finalidade precípua, a proteção dos

direitos dos atletas, das entidades de prática desportiva(os clubes) e das

entidades da administração(federação e confederação), aí relacionados os

seus funcionários, atender aos objetivos da prática desportiva e a observância

das regras das competições, partidas ou equivalentes, reprimindo

veementemente às atitudes antidesportivas. Para tanto se faz mister definir em

cada caso submetido a julgamento, o tipo de infração disciplinar cometida,

identificar os culpados, aplicar as sanções impostas pela legislação desportiva

e exigir reparação com relação a eventuais efeitos danosos causados ao

desporto.

Pela sua finalidade, o processo desportivo adota um sistema

concentrado de instrução e julgamento, que se desenvolve com brevidade, sem

comprometer a segurança na apuração dos fatos e na correta aplicação da

instrução procedimental, mediante a reunião de elementos probatórios,

admitindo todas as provas legais (art. 56 do CBJD), para que no final seja

proferida uma decisão fundamentada, clara e precisa.

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8.3.3 Características Peculiares do Processo Desportivo

A sua característica principal é a informalidade, respeitando, no

entanto, os princípios que envolvem a proteção dos direitos fundamentais do

contraditório, da ampla defesa e do duplo grau de jurisdição, assegurando a

correta aplicação do direito desportivo. Diga-se, que o formalismo é

incompatível e lesivo à própria finalidade do processo desportivo, além de ser

desnecessário. O art. 36 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva dispõe

que “Os atos do processo desportivo não dependem de forma determinada

senão quando este código expressamente o exigir, reputando-se válidos os

que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial”.

Outra característica peculiar do processo desportivo é o do impulso

oficial, haja vista que uma vez instaurado o processo, seja qual for a forma de

procedimento, o seu andamento não depende de iniciativa ou provocação de

qualquer das partes, aplicando-se, portanto, o princípio da oficialidade previsto

no art. 2º do CBJD. Em nenhum momento o processo poderá ficar paralisado,

já que na maioria das vezes dependem de soluções rápidas, evitando-se,

assim, gerar prejuízos tanto aos atletas bem como a todos os envolvidos nas

competições, partidas ou equivalentes.

8.3.4 – Elementos Identificadores da Relação Processual

Desportiva

Na relação processual desportiva, são três os elementos que o

identificam, diferenciando, no entanto, do direito material.

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8.3.4.1- Sujeitos Processuais

No Procedimento Sumário:

Órgão Judicante

Procurador (autor)

Acusado

No Procedimento Especial:

Órgão Judicante

Autor

Procurador

8.3.4.2- Objeto da Relação Processual

É a própria prestação jurisdicional requerida ao órgão judicante. No

procedimento sumário é a apuração da ocorrência de uma infração disciplinar

cometida e no procedimento especial são as medidas especiais requeridas aos

órgãos judicantes, em caráter de urgência. Cito o Mandado de Garantia, a

Impugnação da Partida ou o Resultado dentre outras.

8.3.5- Pressupostos Processuais

São requisitos para a constituição de uma relação processual válida,

que ao lado das condições da ação, formam os requisitos de admissibilidade

do julgamento do mérito:

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Subjetivos – relacionados aos principais sujeitos da relação processual

desportiva.

Quanto aos auditores:

a) Investidura (art. 11/12 e 13 do CBJD e nos regimentos

internos dos órgãos judicantes)

b) Competência (art. 19 do CBJD e nos regimentos internos dos

órgãos judicantes)

c) Imparcialidade (art. 18 do CBJD e nos regimentos internos dos

órgãos judicantes)

Quanto às partes:

a) capacidade de ser parte – é a capacidade de ser parte e de

estar em juízo(art. 1ª do CC)

b) capacidade processual – consiste na aptidão de participar da

relação processual

Objetivo - Será observado, intrinsecamente, a regularidade processual

(regularidade na citação) e extrinsecamente a inexistência de ato impeditivo.

8.3.6-Procedimentos

Podemos conceituá-lo como a forma pela qual o processo se realiza

em cada caso concreto, ou seja, o rito processual.

Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini e Cândido Dinamarco

comentam que

“A soma dos atos do próprio processo, visto pelo

aspecto de sua interligação e de sua unidade

teleológica, é o procedimento”. 23

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Para Cândido Rangel Dinamarco

“....o procedimento tem valor de penhor da

legalidade. A lei traça o modelo dos atos do

processo, sua seqüência, seu encadeamento,

disciplinando com isso o exercício do poder e

oferecendo a todos a garantia de que cada

procedimento a ser realizado em concreto terá

conformidade com o modelo preestabelecido:

desvios ou omissões quanto a esse plano de

trabalho e participação constituem violações à

garantia constitucional do devido processo legal”. 24

O processo desportivo desenvolve-se por impulso oficial e obedece a

dois procedimentos: sumário e especial.

a) o procedimento sumário – adotado para o julgamento de processos

que tratam das infrações disciplinares previstas no Código Brasileiro de Justiça

Desportiva (artigos 185 a 280).

b) o procedimento especial – visa o processamento e julgamento de

casos mais complexos previstos nos artigos 80 e seguintes do Código

Brasileiro de Justiça Desportiva.

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CAPÍTULO IX

INTERVENÇÃO DE TERCEIRO

Pode ocorrer no direito processual desportivo, no caso de haver

legítimo interesse (art.55 do CBJD), a figura da intervenção de terceiro, em

qualquer grau de jurisdição. Ocorre quando alguém como parte interessada

ingressa em processo pendente entre outras partes, podendo ser requerida

somente até a véspera da sessão de julgamento. É sempre voluntária e

espontânea e ao mesmo tempo facultativa para o terceiro. Considera-se,

também, como uma forma de intervenção do terceiro prejudicado. Não sendo

admitido, entretanto, como assistente da Procuradoria.

Coloca Inácio Nunes, que

“Quando instaurado um processo desportivo, além

das partes diretamente envolvidas, ocorrendo que

uma terceira pessoa, física ou jurídica, tenha

legítimo interesse no seu desenvolvimento e na

decisão final, porque tal lhe aproveita ou a prejudica,

poderá requerer, até a véspera da sessão de

julgamento, seja-lhe admitido intervir no processo

como terceiro interessado, mas nuca como

assistente da Procuradoria”.25

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CAPÍTULO X

ATOS PROCESSUAIS DESPORTIVOS

10.1- Conceito

Como ato processual temos a conduta dos sujeitos do processo que

tenha por efeito a criação, modificação ou extinção de situações jurídicas

processuais desportivas.

Para Chiovenda são

“atos jurídicos processuais os que têm importância

jurídica em respeito à relação processual, isto é, os

atos que têm por conseqüência imediata a

constituição, conservação, o desenvolvimento, a

modificação ou a definição de uma relação

processual”.26

10.2- Formas dos Atos Processuais

Inácio Nunes menciona que

“Somente quando o CBJD exigir determinada forma

para o desenvolvimento do processo terá ela que ser

respeitada, sendo certo que, ainda que

determinadas formalidades não sejam entendidas,

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os atos praticados de outro modo serão

considerados válidos desde que preencham a

finalidade que desejem alcançar. É o princípio da

informalidade, não contemplado pelo art. 2º”. 27

O Código Brasileiro de Justiça Desportiva preceitua que o processo

desportivo não corre em segredo de justiça, já que é de caráter público, salvo

as exceções previstas em lei; que todas as decisões proferidas deverão ser

fundamentadas, mesmo que sucintamente; o acórdão só será redigido quando

requerido pela parte e deverá conter, resumidamente, relatório,

fundamentação, parte dispositiva e, quando houver, a divergência; as decisões

proferidas pelos órgãos da Justiça desportiva devem ser publicadas na forma

da lei, podendo, em face do princípio da celeridade, ser feita via edital ou

Internet e a Secretaria numerará e rubricará todas as folhas dos autos,

fazendo constar em notas datadas e rubricadas, os termos de juntada,

conclusão e outros.

No que diz respeito ao acórdão, nas instâncias superiores se faz

necessário à feitura do acórdão, sendo dispensado algumas vezes na primeira

instância por força do art. 39 do CVJD, apesar de ser uma decisão prolatada

por um colegiado.

Mesmo que o CBJD em seu art. 36 dispense o uso de certos

formalismos, necessários se faz, a observação e o estudo de determinados

pontos de suma importância com relação às formas aplicáveis aos atos

processuais desportivos, senão vejamos:

1- Quanto ao lugar – os atos processuais têm lugar na sede do Juízo

Desportivo, com exceção dos casos que a lei ou a própria natureza exigirem a

sua prática em lugar diverso. Exemplo: Citação, Intimação e a Inspeção.

2- Quanto ao tempo – existem dois aspectos:

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a) Com relação à época em que os atos devem ser praticados - Leva em

consideração que os atos processuais devem ser realizados nos dias úteis, no

horário de funcionamento da Secretaria dos órgãos judicantes, não sendo

realizados, portanto no sábado, domingo e feriado. Com exceção da citação e

intimação que poderão ser efetuadas fora do horário de funcionamento da

Secretaria.

b) Com relação aos prazos estabelecidos – É o lapso temporal que devem ser

praticados os atos. De uma maneira geral, o transcurso do prazo enseja a

perda do direito de praticar determinado ato processual, ocorrendo a preclusão

temporal (art. 44 do CBJD).

3- Quanto ao modo podem ser:

a) Quanto à linguagem – O modo de expressão pode ser escrito e oral. Pela

rapidez com que as decisões na Justiça Desportiva devem ser proferidas, a

maior parte dos atos são produzidos oralmente até para que seja respeitado o

prazo constitucional de 60(sessenta) dias. Determinados atos como a

intimação, citação e a denúncia obrigatoriamente dependem de forma escrita.

b) Quanto à atividade – O processo desportivo inicia-se pelo impulso oficial do

Procurador através da denúncia. Cabe ao órgão judicante dar andamento ao

feito determinando à prática dos atos processuais pertinentes.

4- Quanto ao Rito – O rito processual é determinado de acordo com a natureza

da relação jurídica levada a Justiça Desportiva (sumário ou especial).

10.3- Classificação dos Atos Processuais

Os atos processuais na Justiça Desportiva podem ser classificados de

duas maneiras; simples e complexos.

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1. Atos processuais simples – geralmente são em maior número:

entrada da súmula, queixa, reclamação ou protesto na Secretaria do

órgão judicante ou petições referentes aos processos especiais;

registro e remessa ao Presidente do órgão judicante para apreciação e

despacho:

autuação do processo;

no caso de procedimento sumário remessa a Procuradoria da Comissão

Disciplinar para fazer a denúncia ou não; no caso dos processos

especiais a remessa será para o Procurador emitir parecer;

remessa ao Presidente da Comissão Disciplinar para designar o auditor

relator do feito, marcar a data da audiência e determinar a citação do

acusado e intimações ou para os órgãos de segunda instância nos

procedimento especiais.

citação

intimação

decisão

2. Atos processuais complexos – se apresentam como um conglomerado de

vários atos unidos para uma finalidade comum. Temos então:

a sessão de instrução e julgamento junto a Comissão Disciplinar, órgão

de primeira instância com a reunião do denunciado, Procurador, Auditor

Relator do feito, demais Auditores com a apresentação de provas

documentais, a inquirição do acusado, da oitiva das testemunhas, da

presença de peritos, além de tomar a termo as alegações finais do

Procurador e dos defensores.

O mesmo segmento se presta à sessão de instrução e julgamento dos

processos especiais de competência do Tribunal de Justiça e do

Superior Tribunal de Justiça.

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a sessão de julgamento no Tribunal de Justiça Desportiva e no Superior

Tribunal de Justiça Desportiva, onde não há produção de provas,

somente se ouvem os defensores e o Procurador, passando-se a

discussão e votação dos auditores.

10.4- Documentação dos Atos Processuais

Como na Justiça Desportiva a maioria dos atos se realizam oralmente,

e pela necessidade dos mesmos ficarem documentados no processo, como é o

caso dos atos praticados nas sessões, a formalização destes atos é feita

através de termos.

Também se lavram termos para os atos de movimentação do processo

realizado na Secretaria do STJD e TJD, como por exemplo: termo de juntada,

conclusão, certidões, remessa dentre outros.

10.5- Nulidade

Visando fixar garantias para as partes, em determinadas circunstâncias

o ordenamento desportivo decreta a ineficácia de um ato praticado.

A nulidade deve ser argüida tão logo a parte tome conhecimento dela e

na primeira oportunidade em que tiver que se manifestar nos autos do

processo desportivo.

Assim preceitua o art. 53 do CBJD: “A nulidade dos atos deve ser

alegada na primeira oportunidade em que couber à parte manifestar-se nos

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autos e só será declarada se ficar comprovada a inobservância ou violação dos

princípios que orientam o processo desportivo”.

Detectado o vício do ato processual, o órgão judicante desportivo, ao

declarar a nulidade definirá de pronto os atos atingidos, determinando as

providências necessárias para que sejam retificados ou repetidos da maneira

correta.

No entanto, quando o ato processual alcança a finalidade a que se

destina, não será declarada a sua nulidade ainda que não obedecida à forma

prescrita em lei para a sua execução. Se, por acaso, a forma não for essencial

para a prática de determinado ato, a nulidade não será declarada, como,

também, se a solução do mérito puder vir a favorecer a parte a quem a

declaração de nulidade aproveitaria. É de bom alvitre alertar, que aquele que

der causa a uma nulidade processual não poderá argüi-la em benefício próprio.

10.6- Comunicação dos Atos Processuais

A comunicação dos atos é realizada através da citação e da intimação,

que são formas processuais para que as pessoas físicas (atletas, árbitros,

técnicos) ou jurídicas (entidades de administração do desporto, entidades da

prática desportiva) tomem conhecimento dos atos e termos do processo.

10.6.1- Citação

A citação é o ato pelo qual se chama a juízo a parte contra quem está

sendo imputada à prática de uma infração disciplinar e que deve comparecer

para se defender.

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É indispensável e importante, como elemento instaurador do princípio

do contraditório no processo, que a citação seja válida, pois, do contrário, todo

o processo se contamina de irreparável nulidade.

Caso a parte, apesar da validade da citação, não compareça a sessão

de instrução e julgamento, ou deixe de atender ao chamado no prazo legal, o

processo correrá à sua revelia, não sendo possível uma nova citação.

O art. 50 do CBJD dispõe que “Feita a citação, por qualquer das formas

estabelecidas, o processo terá seguimento em todos os seus termos,

independentemente do comparecimento do citado”.

Parágrafo único. “O comparecimento da parte supre a falta ou a

irregularidade da citação. Se a parte, ao comparecer, alegar que o faz para

argüi-la e a argüição for acolhida, considerar-se-á feita a citação na data do

comparecimento, adiando-se o julgado para a sessão subseqüente”.

10.6.2- Intimação

A intimação é o ato pelo qual se dá ciência à pessoa física ou jurídica

dos atos e termos do processo desportivo, para que se faça ou deixe de fazer

alguma coisa.

Quanto aos seus efeitos, trata-se de um mecanismo indispensável ao

andamento do processo desportivo, sendo um instrumento que serve para dar

efetividade ao sistema de preclusão.

Pode ocorrer, também, a intimação do acusado na sessão de instrução

e julgamento, junto a Comissão Disciplina em fase de primeiro grau, que

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decorre, ipso iure, da prolação da decisão. Aperfeiçoa-se através do registro da

decisão na ata de julgamento ou através de termo.

10.6.3- Modos de Realizar a Citação e a Intimação

No processo desportivo a citação ou a intimação far-se-á da seguinte

maneira:

a) pessoalmente

b) por edital (pela Internet ou afixado na sede da entidade de

administração do desporto da modalidade)

c) através de telegrama

d) através de fac simile

e) por ofício dirigido à entidade à qual o destinatário estiver

vinculado.

O parágrafo único do artigo 47 do Código Brasileiro de Justiça

Desportiva estabelece que “Desde que possível a comprovação de entrega,

poderão ser utilizados outros meios eletrônicos, para efeito do previsto no

caput”.

No entanto, o cumprimento de qualquer dos meios de citação ou

intimação disponibilizados pelo Código Brasileiro de Justiça Desportiva no seu

artigo 47, buscando, assim, a celeridade do processo desportivo, devem ser

comprovados nos autos.

Cabe ressaltar, destarte, que o intimado pelo órgão judicante que não

cumprir a ordem, fica sujeito às cominações previstas no Capítulo III do Título

VI artigos 224 e 225 do mesmo diploma legal.

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Art. 224. Deixar de comparecer, injustificadamente ao órgão de Justiça

Desportiva, quando regularmente intimado.

PENA: suspensão de 30(trinta) a 240 (duzentos e quarenta) dias.

Art. 225. Deixar a entidade desportiva de tomar providências para o

comparecimento a órgão da Justiça Desportiva, quando intimado por seu

intermédio, de qualquer pessoa que lhe seja subordinada.

PENA: multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 50.000,00

(cinqüenta mil reais).

Pode-se notar o rigor das normas inseridas no Código Brasileiro de

Justiça Desportiva.

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CAPÍTULO XI

PRAZOS

11.1- Disposições Gerais

Podemos dizer que prazo é o lapso de tempo em que o ato processual

das partes pode ser praticado, sob pena de preclusão.

Nesse sentido, merece ser lembrada a imagem de Couture, para quem

“o processo não é uma coisa feita, um caminho que

se deva percorrer, senão uma coisa que deve fazer

ao largo do tempo. Os prazos são, pois, os lapsos

outorgados para a realização dos atos

processuais”.28

No processo desportivo os atos processuais serão realizados nos

prazos previstos no artigo 42 e seguintes do Código Brasileiro de Justiça

Desportiva. Diz o dispositivo: “Os atos relacionados ao processo desportivo

serão realizados nos prazos previstos por este Código”.

O prazo é sempre delimitado por dois termos: o inicial ( dies a quo) e o

final (dies ad quem).

Em processo o termo inicial ocorre quando nasce à faculdade da parte

de promover o ato (citação e intimação) e pelo termo final quando se extingue a

faculdade de promover aquele determinado ato, ou seja, é o momento que

encerra o lapso de tempo previsto na legislação desportiva.

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11.2- Natureza dos Prazos

Os prazos processuais dividem-se em peremptórios e dilatórios.

Tratando-se de processo desportivo os prazos são quase sempre

peremptórios, exceto em casos mais complexos e em determinados atos

praticados no processo especial que podem ser dilatórios, como veremos

adiante. Cito como exemplo o Inquérito.

Será dilatório quando o Presidente, embora fixado na legislação

desportiva, admite a sua ampliação desde que seja provado a sua necessidade

e o grau de dificuldade em cumprir o ato no prazo legal.

Tem-se por peremptório aquele prazo que não pode ser alterado. Cito

o prazo para interpor recurso voluntário e aquele definido no art. 42 do Código

Brasileiro de Justiça Desportiva.

11.3- Classificação dos Prazos

Podemos classificar os prazos no processo desportivo da seguinte

maneira:

a) legais – são aqueles fixados no Código Brasileiro de Justiça Desportiva,

como o prazo de três dias para a prática de ato processual a cargo da parte; o

prazo de vinte dias para impetrar mandado de garantia.

b) judiciais – aqueles determinados pelo Presidente do órgão judicante, como o

prazo para apresentação do laudo pericial; designação da data da sessão de

julgamento; quando houver omissão na legislação fixará o prazo para a prática

de um ato processual que não poderá ser superior a três dias.

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11.4- Prazo para as Partes

Quando houver omissão com relação ao prazo que deva ser praticado

determinado ato processual, o Presidente do órgão judicante o fixará, levando

em conta a complexidade da causa e do ato a ser praticado, prazo este que

não poderá exceder a três dias. Se não houver preceito normativo e nem

fixação por parte do Presidente do órgão judicante, será sempre de três dias a

prática do ato processual a cargo da parte no processo desportivo. Nos casos

mais complexos que seguem o procedimento especial os prazos para as partes

estão previstos no art. 80 e seguintes do CBJD.

A Procuradoria Desportiva terá o prazo de dois dias para apresentar a

denúncia no processo desportivo disciplinar sob o rito sumário e de três dias

para emitir parecer nos processos especiais e nos recursos necessário e

voluntário.

Ao terceiro interessado é determinado o prazo de três dias para

interpor recurso voluntário, a contar da data da proclamação da decisão.

11.5- Prazo para os Presidentes, Auditores e Secretaria

Os Presidentes dos órgãos judicantes terão que cumprir os seguintes prazos;

a) 02 (dois) dias para despachos e decisões;

b) 03 (três) dias para a remessa de recurso (necessário ou voluntário) para a

instância hierarquicamente superior;

c) 24 (vinte e quatro) horas para despacho nos processo especial de dopagem.

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Prazos a cargo dos auditores:

a) 03 (três) dias para apresentar relatório;

b) 48 (quarenta e oito) horas para a devolução do processo que esteja incluído

em pauta;

c) 10 (dez) dias para apresentar o acórdão a contar da data do julgamento.

Prazos a cargo da Secretaria:

a) 02 (dois) dias para a prática dos atos processuais a seu cargo;

b) 03 (três) dias para remessa do recurso necessário a instância superior;

c) 02 (dois) dias para a remessa do recurso voluntário a instância superior.

11.6- Termo Inicial e Final

Os prazos começam a correr a partir da intimação ou citação da parte

ou de seu representante, e serão contados excluindo-se o dia do início (dia que

a parte recebe a intimação ou citação) e incluindo-se o dia do vencimento,

salvo disposição em contrário. A contagem dos prazos processuais é contínuo

e não se interrompem ou suspendem no sábado, domingo e feriado. Será

prorrogado se o termo inicial ou final cair no sábado, domingo e feriado, ou, se

porventura, não houver expediente normal na sede do órgão judicante.

Decorrido o prazo, extingue-se para a parte o direito de praticar o ato,

independente de declaração pelo órgão judicante.

11.7- Preclusão

O art. 44 do código Brasileiro de Justiça desportiva dispõe o seguinte:

“Decorrido o prazo, extingue-se para a parte, independente de declaração, o

direito de praticar o ato”.

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Dá-se o nome de preclusão a perda da faculdade ou direito processual

pelo não exercício em tempo hábil. Como adverte Couture

“A preclusão está no processo moderno, erigida à

classe de um princípio básico ou fundamental do

procedimento. Manifesta-se em razão da

necessidade de que as diversas etapas do processo

se desenvolve de maneira sucessiva, sempre para

frente, mediante fechamento definitivo de cada uma

delas, impedindo-se o regresso a etapas e

movimentos processuais já extintos e consumados”.29

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CAPÍTULO XII

AS PROVAS NO PROCESSO DESPORTIVO

12.1- Conceito

Prova é o instrumento por meio do qual se forma a convicção dos

auditores julgadores a respeito da ocorrência ou inocorrência de uma infração

disciplinar.

No dizer de Couture

“...prova é demonstrar de algum modo a certeza de

um fato ou a veracidade de uma afirmação”.30

O Código Brasileiro de Justiça Desportiva em seu art. 56 dispõe que

“Todos os meios legais, bem assim os moralmente legitimados, ainda que não

especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos

alegados no processo desportivo”.

Podemos considerar como provas moralmente legitimadas, os indícios

e as presunções, como é o caso da súmula e o relatório da competição,

partida ou equivalente.

O artigo 58 do CBJD assim determina: “A súmula e o relatório dos

árbitros, auxiliares e representantes da entidade ou aquele que lhe faça às

vezes, gozarão da presunção relativa de veracidade.

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Parágrafo Primeiro.”A presunção de veracidade contida no caput deste

artigo servirá de base para a formulação da denúncia pela procuradoria ou

como meio de prova, não constituindo verdade absoluta”.

Será inadmissível no processo desportivo a prova obtida por meios

ilícitos, proibição esta prevista no art. 5º, LVI da Constituição Federal de 1988.

Quando a Constituição fala em prova ilícita ela estendeu a proibição também

às provas ilegítimas.

Fernando Capez, ao se referir às provas ilícitas comenta que

“As provas obtidas por meios ilícitos constituem

espécie das chamadas provas vedadas. Prova

vedada é aquela produzida em contrariedade a uma

norma legal específica. A vedação pode ser imposta

por norma de direito material ou processual.

Conforme a natureza desta, a prova poderá ser

catalogada como ilícita ou ilegítima,

respectivamente”.31

Todas as provas no processo desportivo deverão ser produzidas na

sessão de instrução e julgamento. No caso da parte não ter a possibilidade de

apresentar determinada prova, dada a sua complexidade ou por motivos

alheios a sua vontade, desde que comprovados, o julgamento será suspenso,

sendo transferido para a sessão seguinte.

12.2- Meios de Provas

A convicção dos auditores deve ser estabelecida segundo as provas

juridicamente admissíveis. Os meios de provas especificados no direito

processual desportivo estão assim distribuídas:

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a) Depoimento Pessoal – art. 60 do CBJD

b) Prova Documental – art. 61 do CBJD

c) Exibição de Documento ou Coisa – art. 62 do CBJD

d) Prova Testemunhal – art. 63 do CBJD

e) Através de Meios Audiovisuais – art. 65 do CBJD

f) Prova Pericial – art. 68 do CBJD

g) Inspeção – art. 70 do CBJD

12.2.1- Depoimento Pessoal

Uma das principais provas no processo desportivo é o depoimento da

parte a quem está sendo imputada à prática de uma infração disciplinar. É o

momento que o acusado exercerá o seu direito de defesa e quando sustentará,

oralmente, as razões por que improcedem os fatos narrados na súmula da

competição, partida ou equivalente, ou na queixa que motivou a sua denúncia,

ao mesmo tempo, se os fatos forem verídicos, poderá alegar quais foram os

motivos que o levaram a prática de um ato antidesportivo. Trata-se, in casu, de

um ato personalíssimo, não sendo admitido sequer um procurador com

poderes expressos para prestar o depoimento em nome da parte.

O depoimento pessoal pode ser determinado de ofício pelo Presidente

do Tribunal ou da Comissão Disciplinar ou a pedido da Procuradoria ou da

parte interessada. Deverá ser tomado no início da sessão de instrução e

julgamento e será feito pelo auditor relator do processo diretamente ao

acusado, não sendo permitida a intervenção por parte de seu defensor.

O depoimento do acusado como das testemunhas deve ser reduzido a

termo, assinado pelo interrogado, pelo auditor relator e pelo Presidente da

sessão.

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12.2.2- Prova Documental

É de competência da parte interessada produzir a prova documental

que porventura entenda necessária. Poderá também requerer a exibição de

documento ou de coisa de que não disponha ou que não tenha acesso, sendo

necessária a sua requisição para que se possam apurar os fatos.

12.2.3- Exibição de Documento ou Coisa

Dispõe o art. 62 do CBJD que “O Presidente do órgão judicante poderá

ordenar de ofício ou a requerimento motivado da parte, a exibição de

documentos ou coisa necessária à apuração dos fatos”.

São requisitos para o pedido:

1- a individualização completa do documento ou da coisa requerida;

2- mencionar a finalidade da prova, apontando os fatos que se relacione com o

documento ou com a coisa;

3- dizer quais as circunstâncias que se funda a parte requerente para afirmar

que a documentação ou a coisa pretendida existe e que está em poder de um

terceiro.

12.2.4- Prova Testemunhal

É incumbência da parte interessada, apresentar na sessão de

instrução e julgamento, as testemunhas que pretenda ouvir, que não poderão

ser em número maior do que nove.

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As testemunhas são inquiridas diretamente pelo auditor relator e as

perguntas formuladas pela Procuradoria e pelas partes ou seus defensores são

feitas através do Presidente da sessão. Em primeiro lugar são ouvidas as

testemunhas arroladas pela Procuradoria e após as arroladas pelas partes, que

devem ser ouvidas separadamente, não podendo uma ouvir o depoimento do

outra.

Quando for do interesse do desporto, o órgão judicante poderá ouvir o

testemunho de pessoa considerada civilmente incapaz ou suspeita, não lhe

deferindo, no entanto, o compromisso e atribuindo a prova o valor que possa

merecer.

Por exigência constitucional, a testemunha em depoimento tem o dever

de dizer a verdade, já que é considerado crime prestar falso testemunho no

processo desportivo.

12.2.5- Os Meios Audivisuais

Serão apreciadas, com a devida cautela, as provas fotográficas,

fonográficas, cinematográficas, de vídeo tape e as imagens por qualquer meio

eletrônico, uma vez que deve ser verificada a sua procedência, ficando a cargo

da parte que as queiram produzir, o pagamento das despesas com as

providências que o órgão judicante determinar, podendo ser requeridas até o

dia anterior da sessão de instrução e julgamento.

Caso a parte possua qualquer uma das provas acima mencionadas,

deverá depositá-la em juízo, precisamente, na Secretaria do Tribunal, até 24

(vinte e quatro) horas antes da sessão de julgamento, sob pena de não ser

aceita a sua exibição.

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12.2.6- Prova Pericial

Será deferida a prova pericial, quando o exame de fatos probantes

depender de conhecimentos técnicos ou especiais e quando ela for de

utilidade, diante dos elementos já disponíveis e apresentados para exame.

Deferida a prova pericial, o Presidente do órgão judicante, nomeará um

perito que deverá recair sobre um profissional com competência técnica no que

se refere à matéria em discussão, formulará os quesitos e fixará o prazo de 48

(quarenta e oito) horas a partir de sua intimação para a entrega do laudo,

sendo certo, que em casos excepcionais poderá o Presidente do órgão

judicante prorrogar o prazo para a apresentação do laudo. As partes poderão

no prazo de 24 (vinte e quatro) horas indicar assiste técnico para acompanhar

a perícia e formular quesitos.

Cabe aqui esclarecer, que o perito só será intimado do prazo de 48

(quarenta e oito) horas para apresentação do laudo, após ter se esgotado o

prazo de 24 (vinte e quatro) horas concedido as parte para indicar assistente

técnico.

12.2.7- Inspeção

Existem determinados fatos que somente podem ser comprovados

através da realização de uma investigação. Diante destas circunstâncias, o

Presidente do órgão judicante a requerimento da Procuradoria ou da parte

interessada, poderá promover a realização de inspeção com o intuito de buscar

esclarecimentos sobre fatos que interessam à decisão da questão desportiva.

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A inspeção pode ser relacionada:

a) a pessoas – verificar as condições de saúde ou as condições em que

treinam os atletas e os desportistas em geral.

b) a coisas – verificar as condições das raias ou azulejos de determinada

piscina.

c) a lugares – verificar as condições de um campo de futebol ou de um parque

aquático.

Durante a realização da inspeção, o auditor poderá ser assistido por

um ou mais peritos, por ser um ato pessoal do membro do Tribunal Desportivo.

No entanto, é assegurado as partes o direito de assistir a inspeção.

Com a conclusão da inspeção, o auditor mandará que seja lavrado um

auto circunstanciado, fazendo menção de tudo quanto for útil e necessário ao

julgamento do feito (art. 71 do CBJD)

O correto seria, que o relator se fizesse acompanhar do Secretário do

órgão judicante e durante a inspeção já se iniciasse a lavratura do competente

auto, de modo que cada fato apurado ficasse logo registrado, sendo redigido o

auto no próprio local da inspeção, evitando desta maneira as controvérsias e as

impugnações.

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CAPÍTULO XIII

REGISTRO E DISTRIBUIÇÃO

13.1- Noções Básicas

Código Brasileiro de Justiça Desportiva no Capítulo IX do Título III art.

72 sob o título “DO REGISTRO E DISTRIBUIÇÃO” dispõe que “O registro e

distribuição dos processos submetidos à Justiça Desportiva serão regulados no

regimento interno do respectivo órgão judicante”.

Todos os processos desportivos estão sujeitos à registro. Após a

autuação o registro é feito em livro próprio da Secretaria do órgão judicante,

observando sempre uma seqüência numeral de ordem de entrada em cartório.

Os processos de competência do Superior Tribunal de Justiça

Desportiva e Tribunal de Justiça Desportiva e de suas Comissões Disciplinares

serão distribuídos por classe aos auditores, tanto no que se refere aos

processos disciplinares como aos processos especiais (mandado de

segurança, inquérito, doping e outros).

13.2- Pagamento dos Emolumentos

Perante a Justiça Desportiva se faz necessário o recolhimento dos

emolumentos referentes aos processos especiais (inquérito, impugnação da

partida ou resultado, mandado de garantia, reabilitação, dopagem, infrações

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punidas com eliminação, suspensão, desfiliação ou desvinculação impostas

pela entidade de administração ou de prática desportiva, revisão e nas demais

medidas admitidas no parágrafo terceiro do art. 9º do CBJD) como também aos

recursos voluntário e necessário.

Compete ao Corregedor de Justiça Desportiva, através de uma

Portaria, fixar e manter atualizado os valores dos emolumentos (custas

processuais). A tabela contendo a descriminação dos valores deverá ficar

afixada na Secretaria do órgão judicante.

A isenção do recolhimento dos emolumentos só será concedida nos

procedimentos oriundos da Procuradoria Desportiva.

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CAPÍTULO XIV

PROCEDIMENTO SUMÁRIO

14.1- Noções Básicas

O procedimento sumário é adotado para o julgamento dos processos

que dizem respeito às infrações disciplinares. Entende-se por infração

disciplinar a conduta, por ação ou omissão, que de alguma forma venha a

violar o Código Brasileiro de Justiça Desportiva, seja por ferir o decoro e ou a

dignidade do esporte ou por prejudicar o correto desenvolvimento das relações

atinentes ao desporto.

O processo desportivo disciplinar pelo rito sumário tem início através

da denúncia oferecida pelo Procurador, ex officio, ou quando provocado por

queixa a ele dirigida pela parte interessada em que se instaure o processo,

porém, para que este ato aconteça, deverá a parte autora apresentar

informações contundentes e pormenorizadas sobre o fato alegado.

No momento em que a entidade de administração do desporto receber

a súmula e o relatório de uma competição e verificar a ocorrência de alguma

irregularidade anotada no documento, determinará a remessa dos mesmos,

através de ofício ou despacho, a Secretaria do Tribunal competente (STJD ou

TJD) no prazo de um dia a partir de seu recebimento. O Secretário, por sua

vez, providenciará a remessa ao Presidente do órgão judicante que no prazo

de dois dias determinará, de início, a juntada da documentação (súmula e

relatório) sua autuação e a conseqüente remessa dos autos a Procuradoria da

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Comissão Disciplinar, para que se manifeste pela denúncia, quando entender

que possa ter havido a prática de uma infração disciplinar, ou se assim não

entender, sua promoção será no sentido do arquivamento.

Oferecida a denúncia, o Presidente da Comissão Disciplinar, no prazo

de dois dias, acolhendo a denúncia, nomeará o auditor relator, designará dia e

hora para a sessão de instrução e julgamento e determinará que a Secretaria

cumpra os atos necessários de comunicação processual a todas as partes

(citação e intimação).

Caso haja incidência de suspensão preventiva, os autos deverão ser

encaminhados ao Presidente do Tribunal para a sua apreciação.

Faz-se mister lembrar, que no caso do Procurador se manifestar pelo

não oferecimento da denúncia, por entender que os fatos que lhe foram

apresentados não configuram uma infração disciplinar, opinará pelo

arquivamento dos autos fundamentando seu entendimento. Se o Presidente

não concordar com os motivos apontados pelo Procurador, remeterá os autos a

outro Procurador em exercício perante o órgão judicante, para que reexamine o

caso. Se o segundo Procurador concordar com as razões expostas pelo seu

colega, o Presidente determinará o arquivamento do processo por força do

disposto no parágrafo segundo do art. 78 do CBJD.

Fica patente que no âmbito da Justiça Desportiva, o órgão responsável

pela titularidade da ação disciplinar desportiva é a Procuradoria, constituindo,

assim, um pressuposto necessário, já que através de iniciativa própria ou de

terceiros se faz necessário a sua manifestação.

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14.1.1- Súmula e Relatório da Competição

A súmula e o relatório de uma competição é o documento no qual os

árbitros relatam os fatos ocorridos durante o evento desportivo, que gozam de

relativa presunção de veracidade, servindo como meio de prova para o

oferecimento da denúncia. Pode-se dizer que a súmula é o espelho escrito de

uma competição. No entanto, os fatos narrados no relatório não constituem

verdade absoluta, podendo, inclusive, se tornarem ineficazes diante de outros

meios de prova idôneos.

A súmula de qualquer competição, partida ou equivalente deve fazer

constar as seguintes informações:

1- O nome da entidade de administração do desporto da modalidade;

2- o nome do evento e a modalidade (exemplo: Troféu Brasil de Natação,

Campeonato Brasileiro de Futebol);

3- a categoria (exemplo: Junior. Sênior);

4- o local que será realizado o evento;

5- a data e o horário;

6- as equipes participantes;

7- os nomes dos atletas;

8- o nome do árbitro e de seus auxiliares;

9- o operador do placar eletrônico;

10- o operador de computador;

11- o anunciador caso a modalidade exija;

No relatório da competição, partida ou equivalente que faz parte da

súmula, deverão ser relatadas todas as questões ocorridas durante a

competição, as infrações cometidas, inclusive, os protestos.

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Veja como deve ser elaborado o relatório da súmula para uma

competição, seguindo o modelo sugerido pelo Ministério do Esporte no Anexo

03.

14.1.2- Queixa

O art. 74 do CBJD dispõe que “Qualquer pessoa poderá provocar a

iniciativa da procuradoria, fornecendo-lhe informação circunstanciada sobre o

fato”

A introdução deste artigo no Código Brasileiro de Justiça Desportiva foi

de grande significado, pois veio contribuir para preservação da ordem

Desportiva, haja vista que qualquer pessoa que tenha conhecimento ou

presencie a prática de irregularidades prevista no CBJD, desde que forneça as

informações necessárias para que a Procuradoria tenha elementos que

caracterize a existência de uma infração, para desencadear o processo

desportivo disciplinar, ou seja, a descrição do fato em todas as circunstâncias

deve ser precisa.

Para que a parte interessada acione a Justiça Desportiva através de

uma queixa, o seu pedido deverá preencher as seguintes condições:

a) a qualificação da parte autora;

b) a demonstração inequívoca de sua condição de parte interessada;

c) a narrativa minuciosa do fato;

d) o dispositivo legal que entenda ter sido violado;

O prazo para que a parte formule a queixa é aquele previsto no

parágrafo segundo do art. 42 do CBJD: “Não havendo preceito normativo nem

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fixação de prazo pelo presidente do Órgão Judicante, será de 3 (três) dias o

prazo para a prática de ato processual a cargo da parte”.

Luiz Zveiter analisando a queixa ressalta que

“existem situações em que a conduta não surte

efeitos imediatos ou, ainda, quando a consumação

se prolonga no tempo. Nestes casos, conhecida a

infração quando ultrapassado o prazo, poderá ser

acionada a Procuradoria nos termos do art. 74 do

CBJD”.32

14-2- Denúncia

A denúncia é a peça acusatória inaugural da ação disciplinar. É através

dela que o Procurador revela a existência de uma ocorrência em uma

competição, partida ou equivalente, que configura uma infração disciplinar

prevista no Código Brasileiro de Justiça Desportiva.

A denúncia deverá conter três requisitos:

1. descrição sumária da infração disciplinar;

2. a qualificação do infrator;

3. o dispositivo legal infringido;

A Procuradoria ao formular a denúncia, descreverá os fatos que deram

ensejo a prática da infração, qualificando o infrator, fazendo constar o

dispositivo violado e a forma pela qual a Procuradoria tomou conhecimento, se

através da súmula e o relatório da competição ou se através de uma queixa.

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14.3- Suspensão Preventiva

Quando a gravidade do ato ou fato infracional justifique a aplicação da

pena preventiva de suspensão, esta será formulada pela Procuradoria

Desportiva (art. 35 do CBJD) e remetida ao Presidente do órgão judicante

(STJD ou TJD) para análise de sua incidência. Importante salientar, que

somente os Presidentes do Superior Tribunal de Justiça Desportiva e do

Tribunal de Justiça Desportiva poderão aplicar a suspensão preventiva, ex vi, o

disposto no inciso II do parágrafo terceiro do art. 78 do Código Brasileiro de

Justiça Desportiva.

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CAPÍTULO XV

PROCEDIMENTO ESPECIAL

15.1- Conceito

Procedimento especial é um rito próprio adotado para o processamento

junto a Justiça Desportiva de casos que demandam medidas especiais. O

pedido deve ser formulado junto ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva ou

ao Tribunal de Justiça Desportiva, haja vista a sua competência no que refere à

matéria.

Aplica-se o procedimento especial nos seguintes casos:

1- Inquérito (art. 81 CBJD)

2- Impugnação de partida, prova ou equivalente em cada modalidade ou de

seu resultado (art. 84 CBJD)

3- Mandado de segurança (art. 88 CBJD)

4- Reabilitação (art. 90 CBJD)

5- Dopagem (art. 101 CBJD)

6- Infrações cometidas com eliminação (art. 107 CBJD)

7- Suspensão, Desfiliação ou Desvinculação imposta pelas Entidades de

Administração do Desporto ou de prática desportiva (art. 111 CBJD)

8- Revisão (art. 112 CBJD)

9- Demais Medidas admitidas no parágrafo terceiro do art. 9º do CBJD

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15.2- Inquérito

O inquérito como difere da sistemática do procedimento sumário, haja

vista que o seu objetivo é a apuração da existência e da autoria de uma

infração disciplinar, foi incluído no rol dos processos especiais.

Ocorre a instauração de um inquérito quando houver desconhecimento

com relação ao autor e da existência de uma infração disciplinar. A instauração

é efetuada pelo Presidente do órgão judicante (STJD ou TJD) de ofício ou a

requerimento da Procuradoria ou da parte interessada. O pedido deverá conter,

além daqueles atos complementares que podem ser determinados pelo

Presidente do órgão judicante, no caso:

a) a indicação dos elementos que fundamentam o pedido;

b) a descriminação das provas a serem produzidas;

c) o rol das testemunhas a serem ouvidas.

Se presentes todos os requisitos para a instauração do inquérito, o

Presidente do órgão judicante designará o auditor relator processante que terá

o prazo de quinze dias para sua conclusão, podendo ser prorrogado por mais

quinze dias, de acordo com a complexidade do caso (art. 82 CBJD), marcará

data e hora para a Sessão Especial, quando deverão ser ouvidas as pessoas

arroladas, e determinará que se proceda às intimações.

Se for verificada a inexistência dos elementos indispensáveis à

instauração do inquérito, o pedido será indeferido pelo Presidente.

O pedido de Instauração de Inquérito deve se fazer acompanhar do

comprovante de recolhimento dos emolumentos, com exceção daquele

formulado pela Procuradoria.

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15.3- Impugnação de Partida, Prova ou Equivalente em cada

modalidade ou de seu Resultado

Este instituto surgiu no mundo jurídico desportivo como um direito do

atleta ou de uma equipe acionar a Justiça Desportiva, quando se sentirem

prejudicados. A impugnação poderá versar sobre a validade da competição,

partida ou equivalente ou exclusivamente no que tange ao seu resultado,

objetivando a sua anulação por não terem sido observadas as normas ou

regras estabelecidas para a modalidade.

Com relação à impugnação de uma partida podemos citar o caso de

um jogo de vôlei cuja rede não estava colocada na altura determinada pelas

regras da modalidade. No que diz respeito à impugnação do resultado, quando

“por exemplo” em uma competição de natação, na prova de revezamento

4x100 metros nado livre uma das equipes se torna campeã, entretanto, quando

uma filmagem da prova é apresentada e revela claramente que o terceiro

nadador escapou ao pular na água. As demais equipes ou a imediatamente

prejudicada poderá impugnar o resultado daquela prova do revezamento.

São partes legítimas para propor a impugnação:

a) as pessoas físicas ou jurídicas que tenham disputado a partida, prova ou

equivalente em cada modalidade;

b) as que tenham imediato e comprovado interesse no resultado, desde que

participantes da mesma competição;

O pedido de impugnação deverá ser firmado pelo impugnante ou por

procurador com poderes especiais, dirigido ao Presidente do órgão judicante

em duas vias, juntando os documentos comprobatórios dos fatos alegados

como também a comprovação do pagamento dos emolumentos.

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O prazo para apresentar a impugnação é de dois dias a contar da data

da entrada da súmula e o relatório na entidade de administração do desporto

da modalidade. A petição inicial do impugnante será liminarmente indeferida

pelo Presidente do órgão judicante quando:

1- for manifestadamente inepta;

2- a parte for ilegítima;

3- faltar alguma das condições da ação;

4- não for comprovado o pagamento dos emolumentos;

Ao receber a impugnação o Presidente do órgão judicante verificará se

estão presentes todos os requisitos elencados no parágrafo segundo do art. 84

do CBJD. Se admitida a inicial, o Presidente designará o auditor relator para o

feito e abrirá vistas a parte interessada para se pronunciar sobre a impugnação

pelo prazo de dois dias e igual prazo será concedido a Procuradoria. Em ato

contínuo o Presidente através de ofício comunicará a instauração do processo

ao Presidente da entidade de administração do desporto, promotora do evento

(confederação ou federação), determinando que não aprove a partida ou ser for

o caso, o resultado, até que haja uma decisão final do órgão judicante sobre o

pedido formulado.

Após a manifestação do impugnado e da Procuradoria, o processo será

incluído em pauta para julgamento.

15.4- Mandado de Garantia

O mandado de garantia na Justiça Desportiva caberá sempre a quem

sofrer violação em seu direito líquido e certo ou tenha justo receio de sofrê-la

por ato praticado de forma ilegal e abusiva por parte de qualquer autoridade

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desportiva. No entanto, não será concedido contra ato ou decisão que houver

sido recebido sem o efeito suspensivo.

O prazo para impetrar o mandado de garantia é de vinte dias contados

do dia que a autoridade desportiva, ilegal ou abusivamente praticou o ato ou

tomou a decisão contra qual se volta o impetrante. Exemplificando: um nadador

é desclassificado indevidamente pelo árbitro geral, sob a alegação de o atleta

ter se movimentado na hora da largada. Mesmo havendo uma filmagem da

prova comprovando que o nadador não se movimentou o resultado foi mantido

porque o árbitro geral não a aceitou como meio de prova, ficando caracterizado

o ato ilegal e abusivo cometido pela mencionada autoridade, já que sua atitude

veio a prejudicar o atleta na obtenção de índice para o Campeonato Mundial.

A petição do mandado de garantia deverá ser instruída com a

documentação (todos os tipos de provas elencadas no CBJD) necessária à

comprovação da ilegalidade, em duas vias, ambas acompanhadas da mesma

documentação além do comprovante do pagamento dos emolumentos, sendo

que uma via da inicial e documentação será enviada a autoridade apontada

como coatora, a fim de que preste as informações.

Ao receber a inicial o Presidente (do STJD ou TJD) examinará se a

petição atende aos requisitos legais (art. 90 do CBJD) para a sua impetração.

Poderá o Presidente do órgão judicante indeferir, liminarmente, o pedido, caso

o impetrante não cumpra com os requisitos legais ou se cumprindo poderá

conceder medida liminar para garantir o impetrante, se entender que a demora

possa tornar a prestação ineficaz. No caso de indeferimento da liminar, o

impetrante poderá interpor recurso para o Tribunal.

Caso o Presidente denegue o pedido sem apreciar o mérito, poderá o

impetrante renovar o seu pedido e se este lhe for negado novamente, da

decisão caberá recurso voluntário para o respectivo órgão judicante (art. 98

CBJD).

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Findo o prazo para a autoridade coatora prestar as informações, o

Presidente do órgão judicante, com elas ou sem elas, após designar o auditor

relator para o feito, determinará aa remessa dos autos a Procuradoria para que

se manifeste em dois dias. Devolvido o processo pela Procuradoria, será

designada a data e hora para o julgamento. Contra a decisão proferida no

mandado de garantia caberá recurso voluntário para a instância imediatamente

superior.

15.5- Reabilitação

Toda a pessoa física que tenha sido condenada a pena de eliminação

poderá usar do instituto da reabilitação, depois de decorridos quatro anos do

trânsito em julgado da decisão. Pela leitura dos artigos 99 e 100 do CBJD,

conclui-se que a reabilitação alcança somente aqueles que tenham sofrido a

pena de eliminação, não sendo admitidas à reabilitação das demais penas

cominadas no Código. O pedido de reabilitação deverá ser formulado ao órgão

judicante da Justiça Desportiva que aplicou a penalidade e sobre o pedido se

pronunciará a Procuradoria.

O pedido deverá ser instruído com a documentação que a requerente

julgar necessária e ainda:

a) com a prova que exerce uma profissão ou se tem uma atividade escolar;

b) a declaração de três pessoas idôneas vinculadas ao desporto que atestem

plenamente as condições de reabilitação;

c) o comprovante de pagamento dos emolumentos.

O Presidente do órgão judicante, ao receber a inicial, verificando que

foram cumpridos todos os requisitos para o pedido dará vistas a Procuradoria

pelo prazo de três dias para emitir parecer. Com a devolução do processo, o

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Presidente designará o auditor relator para o feito e incluirá o processo em

pauta para julgamento.

15.6- Dopagem

Tem-se por dopagem, o meio pelo qual um atleta se utiliza de

substâncias ou métodos inadequados, com intuito de obter vantagens em seus

resultados.

Alberto Puga comentando sobre o assunto, coloca que

“O ‘Conceito-de-Partida’, edificado no art. 101 visou

buscar referência às normas nacionais e

internacionais, a exemplo das referenciadas pelo

Comitê Olímpico Internacional (COI) e da World Anti-

Doping Agency (WADA), traduzindo-se pela ‘ação de

dopagem’, seja pela utilização de substância

proibida (forma clássica), seja pelo emprego de

método proibido (forma requintada), ou ainda por

qualquer outro meio proibido (forma aberta), que

tenham por escopo a ‘obtenção’ de forma

artificializada de rendimento (performance,

resultado) mental ou físico do atleta, com destaque

da inserção feita pelo Doutor Eduardo Henrique De

Rose, na reunião do Conselho Nacional de Esporte

(CNE), Brasília, 22 de dezembro de 2003, ‘agressão

à saúde e ao espírito do jogo’, e, nesse passo,

integrando desporto de saúde, bem como

destacando uma das valências que é ‘o jogo’.” 33

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Configurado o doping, ou seja, o resultado anormal na análise

antidopagem de uma atleta, o Presidente da entidade de administração do

desporto (confederação ou federação) ou quem o represente, remeterá em

vinte e quatro horas o laudo correspondente, acompanhado da contraprova ao

Presidente do órgão judicante (STJD ou TJD) que também, no mesmo prazo

decretará o afastamento preventivo do atleta pelo prazo mínimo de trinta dias,

por se tratar de uma infração gravíssima, tendo por objetivo a proteção do

mundo desportivo, ou seja, o atleta é afastado por ter desrespeitado as normas

e regras nacional e internacional do desporto, se constituindo em um mau

exemplo para os demais atletas.

No mesmo despacho determinará o Presidente que o atleta, a entidade

de prática desportiva a que pertença, a entidade de administração do desporto

e outras pessoas que contribuíram para este fim (médicos, nutricionista,

preparador físico e outros), ofereça defesa escrita e apresentem as provas que

tiverem sobre o ocorrido no prazo de cinco dias. Findo o prazo, tenha sido

oferecida defesa ou não, o Presidente do órgão judicante nas vinte e quatro

horas subseqüentes remeterá os autos a Procuradoria para oferecer denúncia

no prazo de dois dias. Oferecida a denúncia o Presidente do órgão judicante

nas vinte e quatro horas seguintes ao seu recebimento, designará o auditor

relator para o feito e marcará dia e hora para a sessão de instrução e

julgamento no prazo máximo de dez dias.

A decisão proclamada na sessão produzirá efeito a partir do dia

imediato, independente da presença ou não das partes ou de seus

procuradores, mas desde que tenham sido citados regularmente.

Ressalte-se que da penalidade advinda da decisão, serão computados

os dias estipulados para o afastamento preventivo.

A decisão proferida fica sujeita a recurso necessário, conforme

preceitua o inciso II do art. 143 do CBJD, o qual será remetido no prazo de três

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dias a instância superior, ressalvada a hipótese de interposição de recurso

voluntário, que no caso só poderá ser recebido sob o efeito devolutivo.

Diz o já citado Alberto Puga:

“Ressalte-se nesse procedimento especial de

dopagem: a) a importância do princípio da ampla

defesa (seja pela defesa escrita, seja na produção

de provas); b) o exercício do princípio da celeridade,

com a duração aproximada de até 21 (vinte e um)

dias na 1ª Instância e duração aproximada de até 17

(dezessete) dias na 2ª Instância; c) o princípio do

contraditório, pela dialética entre a Procuradoria e a

parte denunciada; d) a previsibilidade do recurso

necessário ou ex officio destacando o papel

decisório da 2ª Instância, garantindo a eficácia e

exeqüibilidade da decisão”. 34

15.7- Infrações Punidas com Eliminação

As infrações cometidas cuja pena é a de eliminação são,

necessariamente, apreciadas em um procedimento especial por se tratar da

penalidade mais grave no meio desportivo (doping, eliminação na reincidência

pela prática de infrações contra a moral desportiva e os demais previstos no

CBJD) e por ser o procedimento que concede o máximo de garantias na

produção de provas.

Ao receber a denúncia o Presidente do órgão judicante (STJD ou TJD)

determinará a citação do denunciado para que apresente defesa escrita no

prazo de três dias, na qual poderão ser requeridas as demais provas a serem

produzidas. O Presidente no mesmo despacho poderá decretar a suspensão

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preventiva do denunciado, até o julgamento final do processo, desde que

requerida pela Procuradoria e que seja justificável em face da gravidade da

infração cometida. Ao receber a defesa, decidirá sobre o deferimento ou não

das diligências requeridas. Caso entenda pelo indeferimento de todas ou de

alguma, este deverá vir fundamentado e ficará passível de recurso. Realizadas

as diligências e com a conclusão da instrução, o Presidente do órgão judicante

designará o relator para o feito, marcará dia e hora para a sessão de

julgamento e determinará a intimação do denunciado.

15.8-Suspensão, Desfiliação ou Desvinculação Impostas Pelas

Entidades de Administração ou de Prática Desportiva

No caso da imposição por parte das entidades da administração do

desporto (confederações ou federações) ou das entidades da prática

desportiva (clubes) da pena de suspensão, desfiliação ou desvinculação, sob a

alegação de preservar a ordem desportiva, estas somente serão efetivadas

após a apreciação e a decisão definitiva proferida no âmbito da Justiça

Desportiva.

A entidade que impôs a penalidade, obrigatoriamente deverá

encaminhar ao órgão judicante (STJD ou TJD) nos termos dos artigos 25 e 27

incisos II alíneas c do CBJD, o recurso voluntário previsto no art. 146 do

mesmo diploma legal.

15.9- Revisão

A decisão, tal como ocorre com qualquer ato jurídico, pode conter vício

ou nulidade, daí a existência do instituto da revisão no direito processual

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desportivo. Trata-se de uma ação proposta contra uma decisão transitada em

julgado, visando a sua revisão.

A revisão pode ser admitida quando:

1- a decisão houver resultado de manifesto erro de fato ou de falsa prova –

quando os auditores ao analisarem a ocorrência de uma infração disciplinar

cometida votam por uma pena baseada em um dispositivo diverso daquele

aplicado ao caso em discussão, ou fundamenta o seu voto baseado em provas

falsas.

2- a decisão tiver sido proferida contra literal disposição de lei ou contra a

evidência da prova – quando do julgamento e manifestação dos votos os

auditores enquadram a infração disciplinar ocorrida a uma figura jurídica que

não lhe é adequada ou despreze uma prova esclarecedora da questão em

discussão.

Humberto Theodoro Junior ao discorrer sobre o assunto afirma que

“O melhor entendimento, ao nosso modo de ver, é o

de Amaral Santos, para quem sentença proferida

contra literal dispositivo de lei não é apenas a que

ofende a letra escrita de um diploma legal:’é aquela

que ofende flagrantemente a lei, tanto quanto

quando a decisão é repulsiva à lei (error in

judicando), como quando proferida com absoluto

menosprezo do modo e forma estabelecida em lei

para a sua prolação (erro in procedendo)”.35

3- após a decisão, se descobrirem provas da inocência do punido – a

obtenção, após a decisão transitada em julgado, de provas que podem

inocentar o apenado, estas deverão ser de relevante significado e que,

obrigatoriamente, já existissem ao tempo em que foi prolatada a decisão,

porém a sua existência era ignorada pelo punido. Deve ficar provado no pedido

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de revisão, que o simples fato das provas existirem é o bastante para

assegurar ao punido um resultado diverso do obtido pela decisão impugnada,

além de lhe ser favorável.

A revisão só pode ser requerida pelo prejudicado, através de petição

escrita e instruída com as provas que a justifiquem e o comprovante do

pagamento dos emolumentos, sempre com a intervenção da Procuradoria.

O prazo para a proposição da revisão é até três anos a partir do

trânsito em julgado da decisão condenatória, e só poderá ser reiterado se

forem apresentadas novas provas.

O órgão judicante (STJD ou TJD) poderá manter a punição, ou se

julgar procedente o pedido total ou parcialmente, poderá alterar a classificação

da infração. Absolver o requerente, modificar a pena ou anular a decisão, não

podendo, no entanto, atribuir uma pena maior do que aquela anteriormente

imposta.

Há que se ressaltar, que não cabe revisão contra decisão absolutória

ou contra pena referente à perda de pontos, classificação ou renda, após a

homologação definitiva da competição.

15.10- Demais Medidas Admitidas no Parágrafo Terceiro do

Artigo 9º

Seguem o rito especial as demais medidas admitidas no parágrafo

terceiro do art. 9º do CBJD. O mencionado diploma legal prevê a propositura

de qualquer medida não especificada no código, atribuindo ao Presidente do

Superior Tribunal de Justiça Desportiva e ao Tribunal de Justiça Desportiva a

competência para admiti-las ou não, através de ato fundamentado e somente

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em casos excepcionais concedendo ou não o efeito suspensivo ou liminar,

dependendo das circunstâncias e quando houver fundado receio de que possa

ocorrer “dano irreparável”.

A medida deve ser proposta no prazo de cinco dias contados do ato ou

despacho e seguirá o rito estabelecido em legislação pertinente.

Entre as medidas que poderão ser propostas estão a figura das

cautelares inominadas prevista no art. 798 e seguintes e do efeito suspensivo

previsto no artigo 558 ambas do Código de Processo Civil.

Faz-se mister assinalar, que o “dano irreparável” mencionado no

parágrafo terceiro do art. 9º do Código Brasileiro de Justiça Desportiva pode,

com perfeição, ser assimilado ao periculum in mora, típico e constante da tutela

de urgência, ou seja, ele deve ser provável, não basta à plausibilidade ou a

eventualidade. A plausibilidade do dano deverá ser avaliada pelo Presidente do

Tribunal de Justiça Desportiva ou do Superior Tribunal de Justiça segundo as

regras do convencimento de que a demora na prestação jurisdicional possa

importar um dano irreparável à parte.

Neste raciocínio, a concessão do efeito suspensivo aos recursos

necessário e voluntário, quando ficar demonstrado que a devolução da matéria

ao órgão hierarquicamente superior pode causar prejuízos irreparáveis, já

constitui uma prática nos Tribunais Desportivos por força do inciso XII do art. 9ª

do CBJD.

Pode-se falar também na figura dos embargos de declaração prevista

no artigo 535 e seguintes do Código de Processo Civil, nos casos de omissão,

contradição e obscuridade contidas nas decisões da Justiça Desportiva, já que

qualquer decisão é passível de um equívoco, inclusive aquela prolatada pelo

órgão da Justiça Desportiva, pois apesar de ser proclamada em audiência,

deverá ser reduzida a termo ou vir através de acórdão. Salutar, portanto, a

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adoção dos embargos de declaração, vez que uma decisão que contenha em

certos pontos a obscuridade, a contradição ou omissão acaba não espelhando

a veracidade do julgado.

Neste diapasão, Valed Perry que foi um dos integrantes da Comissão

Especial incumbida da elaboração do atual Código Brasileiro de Justiça

Desportiva acentua que

“O artigo 9º deste Código, em seu parágrafo terceiro,

prevê que o presidente do STJD e do TJD, dentro de

sua competência, em casos excepcionais e no

interesse do desporto, poderá permitir o ajuizamento

de qualquer medida não prevista no Código, desde

que requerida no prazo de 5 (cinco) dias contados

da decisão, ato ou despacho, como, por exemplo,

uma medida cautelar ou embargos de declaração.

Nesses casos, o processo obedecerá ao rito

estabelecido na legislação pertinente”.36

A respeito dos embargos de declaração Barbosa Moreira assevera que

“é inconcebível que fiquem sem remédio a

obscuridade, a contradição ou a omissão existente

no procedimento jurisdicional”. 37

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CAPÍTULO XVI

SESSÃO DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO

16.1- Desenvolvimento

Com a conclusão do processo, a Secretaria do órgão judicante o

incluirá em pauta para julgamento, seguindo uma ordem numérica dos

processos, tendo a preferência o pedido de Mandado de Garantia, quando a

sessão for realizada no Tribunal de Justiça Desportiva ou no Superior Tribunal

de Justiça Desportiva

As sessões serão públicas, sendo que a critério do Presidente do órgão

judicante e por motivo de ordem pública algumas delas poderão ser secretas,

mas sempre garantida a presença do Procurador, das partes e de seus

representantes.

A primeira verificação é se há quorum. Se até trinta minutos após a

hora marcada para a sessão não houver auditores em número legal, desde que

requerido pelas partes, o julgamento do processo será adiado para a sessão

seguinte, ficando intimadas às partes presentes. Havendo quorum será aberta

a sessão de instrução e julgamento pelo Presidente do órgão judicante e os

processos julgados em ordem cronológica da pauta.

No caso da impossibilidade de comparecimento do auditor relator

designado para o feito e para evitar o adiamento do julgamento do processo,

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poderá ser redistribuído a outro relator presente a sessão que se julgue apto a

proceder ao relatório do processo, julgando-o na mesma sessão.

Após a apresentação do relatório, as provas que foram deferidas serão

produzidas na seguinte ordem:

1 - Documental;

2 - Cinematográfica;

3 - Fonográfica;

4 - Depoimento Pessoal (inquirição do acusado);

5 - Testemunhal:

6 - Outras pertinentes ao caso.

Concluída a fase instrutória serão concedidos dez minutos ao

Procurador para sustentar ou não, a denúncia e igual prazo ao denunciado

para pessoalmente ou através de seu defensor, sustentar oralmente as suas

razões de defesa. No caso de duas ou mais partes serem representadas pelo

mesmo defensor, o prazo para a sustentação oral será de quinze minutos ou se

necessário e a critério do Presidente do órgão judicante o prazo poderá ser

prorrogado, até mesmo em respeito ao princípio da ampla defesa.

Poderá ocorrer o caso de o Procurador entender que o mais justo seria

atribuir a infração disciplinar cometida uma tipificação diversa da aplicada

inicialmente, ou seja, a que for mais branda para o denunciado, deixando,

neste caso, de sustentar oralmente a sua denúncia. Porém não lhe é permitido

requerer uma pena superior àquela prevista na denúncia. Poderá também, o

Procurador requerer o arquivamento do processo, retirando, neste caso, a

denúncia, por entender que não se trata de um caso passível de condenação.

Tal tipo de procedimento é adotado quando existe um entendimento firmado

pelo órgão judicante sobre a matéria, no sentido de que aquele caso específico

não comporta uma condenação.

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No caso de haver um pedido de diligência por parte de algum auditor,

em sendo acatado pela maioria de seus pares, será imediatamente cumprida.

Se for impossível de ser realizada de pronto, o julgamento será adiado e o

processo será julgando na sessão subseqüente ao cumprimento da mesma.

Se houver pedido de esclarecimentos por parte de um dos auditores,

este lhe será prestado pelo relator do feito ou pelas partes, sendo certo que

cada auditor poderá se manifestar sobre a matéria objeto do julgamento por

duas vezes, e os que não tiverem presente no momento da leitura do relatório,

deverão permanecer calados e não poderão votar.

Durante o transcurso da sessão de julgamento poderá qualquer dos

auditores julgadores pedir exame dos autos em Conselho, caso em que a

sessão se tornará secreta, para discussão unicamente entres os auditores.

Poderão permanecer no recinto o Procurador quando não for parte, e o

Secretário.

Poderá ocorrer, também, o pedido de vista dos autos, quando um dos

auditores ainda não tiver a certeza de seu voto, ocasião em que examinará os

autos até criar o seu convencimento. Ressalte-se que o pedido de vista no

prazo estipulado pelo Presidente não impedirá que o processo seja julgado na

mesma sessão. Se, porém, for concedido um prazo maior ao auditor, frente a

uma complexidade da matéria, o julgamento do processo terá prosseguimento

na sessão subseqüente, deixando claro, que a sessão não poderá ser

reiniciada sem a presença do relator que pediu vistas ao processo. Em

determinados casos e quando mais de um auditor pedir vistas, esta será

comum a todos (art. 128 do CBJD).

Com o atendimento do pedido de diligência e esclarecimento, inicia-se

o julgamento pelos votos primeiro do relator designado para o feito, em seguida

do Vice-Presidente e após os demais auditores. O Presidente do órgão

judicante votará por último, pois em caso de empate na votação, a ele é

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atribuído o voto de qualidade, salvo quando se tratar de imposição de pena

disciplinar, que no caso prevalecerão os votos mais favoráveis ao acusado. Se

verificado que não houve maioria na votação para a aplicação da pena, devido

à diversidade de votos, será considerado, então, o voto do auditor por uma

pena maior, como tendo votado a pena em concreto imediatamente inferior.

Com a apuração dos votos e proclamado o resultado do julgamento, a

decisão proferida pelo órgão judicante produzirá efeito a partir do dia seguinte,

independente de publicação ou da presença das partes e seus defensores,

desde que regularmente intimados para a sessão de julgamento.

Por derradeiro, todos os processos que forem incluídos em pauta

deverão estar disponíveis na Secretaria do Tribunal na véspera da sessão, sob

pena de ser requerida o adiamento da sessão pela parte interessada.

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CAPÍTULO XVII

DECISÕES NA JUSTIÇA DESPORTIVA

17.1- Definição

É através do voto fundamentado que os auditores decidem uma

questão desportiva e põe termo ao processo, haja vista tratar-se de uma

decisão proferida por um colegiado. Com a decisão na forma de acórdão,

consuma-se a função jurisdicional aplicando-se a lei ao caso concreto. No

entanto, a decisão deverá ser clara e precisa, sendo incompatível com a

dúvida. Destaca-se, que as decisões no âmbito da Justiça Desportiva poderão

ser consignadas em um termo, prática esta adotada a nível de primeiro grau ou

através de acórdão, por determinação do Presidente ou ainda quando

requerido pela parte.

17.2- Natureza Jurídica

A natureza jurídica da decisão em processo desportivo é de uma

manifestação por meio de seus órgãos judicantes, com a finalidade de apurar e

encerrar a questão advinda de um ato de indisciplina desportiva, qualificada por

uma pretensão resistida, mediante a aplicação do ordenamento legal

desportivo ao caso concreto, extinguindo, assim, qualquer controvérsia que

porventura possa existir.

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17.3- Classificação das Decisões no Direito Processual

Desportivo

As decisões classificam em:

1- Declaratórias – As decisões declaram o que ficou decidido, explicitando a

norma jurídica concreta que vai ser aplicada, certificando, assim, a existência

do direito.

2- Condenatórias – São as que julgam total ou parcialmente a pretensão

punitiva, determinando que se realizem e tornem efetivas as sanções. A

condenação seria a formulação de uma ordem contida na lei.

3- Absolutórias – São aquelas que não acolhem o pedido de condenação do

denunciado por uma infração disciplinar. Em suma, a denúncia formulada pelo

Procurador é rejeitada no seu todo.

Cabe ressaltar, que a maioria das decisões no direito processual

desportivo possuem sempre uma classificação dúplice. Assim, no caso “por

exemplo” a decisão condenatória além de imputar ao acusado a pena de

suspensão por 90 (noventa) dias por ofensa moral cometida contra um árbitro,

declara, também, que houve a prática da infração e o dispositivo infringido,

que, no caso, é o artigo 187 inciso II do CBJD.

17.4- Requisitos formais da decisão

Também chamados de parte intrínseca da decisão. São eles:

a) Relatório – É uma exposição histórica do que ocorreu nos autos até o seu

julgamento. O relatório é o elemento válido da decisão, ele prepara o processo

para ser julgado.

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b) Motivação ou fundamentação – O auditor relator está obrigado a indicar os

motivos de fato e de direito que motivaram a sua convicção, construindo a sua

decisão a partir do exame das alegações relevantes formuladas pelas partes,

como também do enquadramento da infração disciplinar nas normas legais

aplicáveis ao caso, levando-o ao final a proferir o seu voto. Os demais

auditores presentes à sessão, também estão obrigados a fundamentar os seus

votos. Portanto, reveste-se de nulidade o ato decisório que deixa de examinar

um fundamento relevante em que se apóia a acusação ou a defesa técnica do

acusado, descumprindo, assim, o mandamento constitucional que impõe a

qualquer juiz ou tribunal o dever de motivar a sentença ou o acórdão (art. 93, IX

CF), como também ao art. 39 do CBJD.

c) Conclusão ou dispositivo – É a decisão propriamente dita, na qual o órgão

colegiado, após a sua fundamentação, julga o acusado, prestando, assim, a

sua tutela jurisdicional.

17.5- Efeitos da Decisão

Nas decisões declaratórias e condenatórias, vias de regra, produzem

efeitos ex tunc. A decisão declaratória retroage à época em que se formou a

relação jurídica ou quando se verificou a situação jurídica. Com relação a

decisão condenatória ela retroage à data da citação. Trata-se de uma regra

geral.

O direito processual desportivo adota para as suas decisões a regra

geral para os seus feitos, salvo exceções. Na decisão declaratória de um

processo especial de Revisão, sendo julgado procedente o pedido, produzirão

seus efeitos ex tunc, retroagem, portanto, à época em que se verificou a

situação jurídica. Em contrapartida, no processo especial de Reabilitação seus

efeitos se produzirão ex nunc, ou seja, se projeta para frente.

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As decisões nos processos desportivos disciplinares, normalmente

produzem efeitos ex nunc, salvo quando ao denunciado já tenha sido imputada

a pena de suspensão preventiva ou automática no ato de citação.

17.6- Publicação

As decisões poderão ser publicadas da seguinte forma:

a) na própria sessão de instrução e julgamento, quando após a votação, o

Presidente do órgão judicante declarar oralmente a decisão, ditando o teor da

mesma para que o Secretário lance no respectivo termo;

b) através de edital afixado na sede da entidade da administração do desporto

ou no endereço do órgão judicante competente na Internet e alternativamente

através de boletim enviado a entidade à qual o destinatário estiver vinculado.

Como a decisão é um ato processual, deve ser público para produzir os

seus efeitos. Quando é proferida na própria sessão de instrução e julgamento,

a publicação consiste na leitura da decisão pelo Presidente do órgão judicante,

estando as partes presentes ou não, mas desde que tenham sido intimadas da

sessão. Apesar de ter se tornada publica na própria sessão, será também

publicada por edital afixado na sede da entidade de administração do desporto,

pela internet ou através de boletim.

O teor da decisão proferida na sessão de julgamento fará parte da

própria Ata ou através de um termo de decisão a ela anexado.

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17.7- Eficácia das Decisões junto ao Poder Judiciário

As decisões finais dos Tribunais de Justiça Desportivos são

impugnáveis nos termos gerais de direito, respeitados os preceitos

estabelecidos nos parágrafos 1º e 2º do artigo 217 da Constituição Federal de

1988, permanecendo, portanto, eficazes os seus efeitos. Diz-se das decisões

finais, já que esgotadas foram todas as instâncias da Justiça Desportiva.

Para tanto a Lei Geral Sobre Desporto, Lei 9615/98 assim dispõe nos

seus parágrafos 1ª e 2º do art. 52:

Parágrafo primeiro – Sem prejuízo do disposto neste artigo, as

decisões finais dos Tribunais de Justiça Desportiva são impugnáveis nos

termos gerais de direito, respeitados os pressupostos processuais

estabelecidos nos parágrafos 1º e 2º do art. 217 da Constituição Federal.

Parágrafo segundo – O recurso ao Poder Judiciário não prejudicará os

efeitos desportivos validamente produzidos em conseqüência da decisão

proferida pelos Tribunais de Justiça Desportiva.

17.8- Coisa Julgada

A decisão transitada em julgado não mais sujeita a reforma dentro do

processo ou por meio de outro processo, transita em julgado, como é o caso de

uma decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (art. 136

parágrafo primeiro do CBJD) e todas as decisões proferidas pelo Tribunal de

Justiça Desportiva (art. 136 parágrafo segundo do CBJD) que impuserem

multa até R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

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A coisa julgada se configura de duas formas:

a) Coisa julgada formal – Quando a decisão não possa ser mais reexaminada,

ocorrendo à extinção do direito àquele processo. É a imutabilidade da decisão

como ato processual.

b) Coisa julgada material – É a imutabilidade da decisão no mesmo processo.

Nenhum órgão judicante da Justiça Desportiva pode voltar a julgar àquele

processo.

Todavia, nos casos previstos no artigo 112 do Código Brasileiro de

Justiça Desportiva, tida como exceção as decisões após o trânsito em julgado,

poderão ser revistas. Porém não será admitida a revisão contra decisão

absolutória ou de decisão condenatória que tenha imputado a pena referente a

perda de pontos, classificação ou renda, após a homologação definitiva da

competição.

17.8.1- Limites da Coisa Julgada

Podem ser objetivos e subjetivos, senão vejamos:

Limites objetivos – Somente o dispositivo ou conclusão da decisão é que está

apto a revestir-se da autoridade da coisa julgada material. Todas as demais

questões solucionadas na motivação da decisão que levam a um resultado do

caso em discussão estão excluídas da coisa julgada.

Liebman em sua obra “Efficacia ed autorità della Sentenza”

assevera que “As res judicata não envolve a

sentença como um todo, pois não se inclui na coisa

julgada ‘a atividade desenvolvida pelo julgador para

preparar e justificar a decisão’. Na verdade só o

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comando concreto pronunciado pelo juiz torna-se

imutável por força da coisa julgada”.38

Limites subjetivos – A decisão faz coisa julgada entre as partes, não trazendo

prejuízos nem benefícios a terceiros, que poderão insurgir contra a mesma, já

que não são atingidas pela coisa julgada. Diz-se do terceiro prejudicado toda

pessoa física ou jurídica, que, sem ter sido parte em determinado processo,

seja titular de uma relação jurídica material afetada por uma decisão. Cito o

caso de um técnico da equipe principal de vôlei de um determinado clube,

praticar uma infração disciplinar durante uma partida disputada pelo

Campeonato Estadual. A infração cometida foi caracterizada como ofensa

moral, sendo-lhe imputada à pena de suspensão por 70 (setenta) dias. O clube

sentindo-se prejudicado, haja vista que sua equipe não poderia contar com a

presença do técnico em dois jogos subseqüentes, interpõe recurso voluntário

de terceiro prejudicado contra a decisão proferida pela Comissão Disciplinar,

órgão de primeiro grau do Tribunal de Justiça Desportiva da modalidade, sob a

alegação de que tal decisão não poderia ser mantida, uma vez que traria danos

irreparáveis para o clube, já que a equipe ficaria sem o seu comandante em

partidas decisivas do campeonato. Havia, portanto, uma relação jurídica

material entre o técnico e o clube e esta relação foi afetada pela decisão.

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CAPÍTULO XVIII

RECURSOS

18.1- Conceito

Pode-se conceituar o recurso como um meio de obter nova apreciação

da decisão, com o fim de sanar qualquer controvérsia ou vício que porventura

polua a decisão. Visa a obter, portanto, o reexame de uma decisão pelo

mesmo órgão judicante ou por outro hierarquicamente superior.

18.2- Natureza Jurídica

Há muita discussão a respeito da natureza jurídica do recurso. Entendo

que pode ser considerada como uma extensão ou mesmo continuação do

próprio direito de ação, com o cunho finalístico de extinguir qualquer

controvérsia que venha a existir.

18.3- Princípios Recursais

1- Princípio do Duplo Grau de Jurisdição – É a possibilidade da revisão das

decisões, por via de recurso, dos processos julgados pela Comissão Disciplinar

que é o órgão de primeira instância.

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2- Princípio da Correspondência - Deve haver, obrigatoriamente, uma

correspondência entre os tipos de recurso e os tipos de decisão a serem

atacadas. Em resumo, para cada espécie de decisão existe um recurso próprio.

3- Princípio da singularidade – A regra geral é de que só cabe um recurso por

vez, mas há exceção, como no caso de interposição de recurso necessário e

voluntário contra decisão em processo especial referente às Infrações Punidas

com Eliminação.

4- Princípio da Fungibilidade – É a possibilidade de um recurso poder ser

recebido por outro. A interposição equivocada de um recurso não impede o seu

conhecimento, desde que interposto dentro do prazo e que não tenha havido

má-fé ou a presença de erro grosseiro.

5- Princípio da reformatio in pejus – As instâncias superiores não podem, em

grau de recurso, agravar a situação do recorrente, sem que haja acusação

neste sentido. Entretanto, as instâncias superiores podem atenuá-la, segundo o

seu melhor entendimento.

18.4- Fundamento

O inconformismo de qualquer pessoa diante de uma decisão a conduz

a buscar um novo entendimento da matéria, junto à instância superior ou até

pela possibilidade de ter havido erro.

Fernando Capez analisando o tema afirma que

“Os recursos estão fundamentados na necessidade

psicológica do vencido, na falibilidade humana e no

combate ao arbítrio”.39

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No caso da ocorrência de erro na decisão, este pode ser de duas

espécies: error in judicando e error in procedendo.

Ocorre o error in judicando quando os auditores na conclusão de seus

votos opinam como sendo verdadeira uma questão ocorrida que não condiz

com a realidade da infração disciplinar em discussão, tendo como resultado um

erro de fato, ou ainda quando erram ao aplicar uma pena que não se enquadra

ao tipo de infração disciplinar cometida pelo acusado, desaguando em um erro

de direito.

No que tange ao error in procedendo, este se refere a violação das

normas processuais ocorridas no curso do processo ou quando da

proclamação da decisão.

Tourinho Filho assevera que

“sabendo os juízes que suas decisões poderá ser

reexaminadas, procurarão eles ser mais diligentes,

mais estudiosos, procurando fugir do erro e da má-

fé. Somente tal circunstância seria suficiente para

justificar o recurso. Não houvesse a possibilidade do

reexame, os Juízes, muitas e muitas vezes, se

descuidariam, decidiriam sem maior meticulosidade,

pois estariam seguros de que seu erro, sua

displicência, sua má-fé não seriam objeto de

censura pelos órgãos superiores”.40

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18.5- Pressupostos Processuais do Recurso

Os pressupostos processuais para que se possa interpor recurso

podem ser objetivos e subjetivos.

Pressupostos processuais objetivos:

a) cabimento – o recurso deve estar necessariamente previsto na legislação

desportiva.

b) adequação – o recurso deve ser adequado à decisão que se quer impugnar.

c) tempestividade – o recurso deverá ser interposto dentro do prazo prescrito

na legislação desportiva. Os prazos recursais são fatais, contínuos e

peremptórios, não se interrompe por férias, domingos ou feriados e começam a

correr a partir do primeiro dia seguinte a leitura da decisão em sessão de

instrução e julgamento, ou através de publicação por edital afixado na entidade

de administração do desporto, via internet ou através de boletim.

d) regularidade – deve preencher as formalidades previstas nos artigos 143 e

seguintes e 146 e seguintes do Código Brasileiro de Justiça Desportiva. Deverá

ser interposto através de petição.

e) preparo – a falta do recolhimento do valor dos emolumentos devidos gera a

deserção. Somente será dispensado do preparo o recurso interposto pela

Procuradoria Desportiva.

f) fatos impeditivos – são aqueles fatos que impedem a interposição do recurso

como também de seu recebimento, ou seja, eles surgem antes mesmo do

recurso interposto. Um dos fatos impeditivos é a renúncia.

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g) fatos extintivos – são aqueles supervenientes à interposição do recurso e

impedem o seu conhecimento. Constitui fato extintivo: a deserção e a

desistência.

h) motivação e forma – deve ser indicado pelo recorrente as razões de fato e

de direito que o levaram a interpor o recurso como também obedecer a forma

determinada pela legislação desportiva.

Pressupostos processuais subjetivos:

a) interesse jurídico – só se admitirá recurso da parte que tiver interesse

processual de recorrer, a fim de obter uma decisão mais vantajosa, ou ainda,

quando a parte pretenda algo no processo que lhe tenha sido negado pelo

órgão da primeira instância, trazendo, tal decisão sérios prejuízos.

b) legitimidade – todo recurso deve coincidir com a posição da parte no

processo. São legitimados para interpor o recurso: o punido, a Procuradoria

Desportiva e o terceiro interessado.

18.6- Peculiaridade do Recurso de Terceiro Interessado

No recurso de terceiro interessado existem certas peculiaridades, como

no que se refere à forma ou modalidade de intervenção de terceiro. Pode-se

dizer que se equivale ao assistente para todos os efeitos. Só não poderá

funcionar como assistente da Procuradoria.

Na Lição de Liebman

“são legitimados a recorrer apenas os terceiros que

teriam podido, como assistentes, ou seja, aqueles

que mantenham uma relação jurídica com a parte

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assistida, e que possam sofrer prejuízos em

decorrência do resultado adverso da causa”.41

Como interveniente apenas para coadjuvar a parte assistida. O terceiro

que recorre no processo alheio não pode defender direito próprio que exclua o

direito do acusado. Deve ter por objetivo tão somente defender a parte

apenada.

O prazo para o terceiro interessado recorrer é o mesmo do punido pela

decisão de primeiro grau.

A Procuradoria Desportiva tem legitimidade para recorrer, só não llhe

sendo permitida a sua desistência.

18.7- Juízo de Admissibilidade

O recurso interposto pela parte, contra decisão prolatada pela

Comissão Disciplinar deverá ser examinado a sua admissibilidade em dois

momentos:

1º. Pelo Presidente da Comissão Disciplinar no que tange ao

cumprimento dos pressupostos recursais e ao seu fundamento, exercendo o

primeiro juízo de admissibilidade da peça recursal.

2º. Pelo Presidente do Tribunal de Justiça Desportiva ou pelo Superior

Tribunal de Justiça Desportiva, que além de examinar mais uma vez a

existência dos pressupostos processuais e o fundamento do recurso, a fim de

ser admitido ou não, analisará o mérito, exercendo, assim, o segundo juízo de

admissibilidade.

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18.8- Efeitos do Recurso

Apesar do art. 147 do Código Brasileiro de Justiça desportiva dispor

que: “Os recursos não terão efeito suspensivo, salvo quando houver previsão

lega, ou concedido nos termos do disposto no inciso XII do art. 9º do presente

código”, o direito processual desportivo prevê os dois tipos: o efeito devolutivo

e o efeito suspensivo.

a) Efeito Devolutivo – É o aplicado a todos os recursos, e consiste em trans

ferir a instância superior toda uma matéria objeto da decisão atacada, nem

mais nem menos, de acordo com o disposto no art. 142 do CBJD,

estabelecendo o que se chama “tantum devolutum quantum appelatum”. Em

suma, o efeito devolutivo é sempre adotado no primeiro momento, salvo

exceções.

b) Efeito Suspensivo – Pela a concessão do efeito suspensivo a um recurso

interposto, a decisão não poderá ser executada até que ocorra o seu

julgamento final. Funciona como condição suspensiva de eficácia da decisão,

esta concedida nos termos do inciso XII do art. 9º do CBJD que dispõe:

“conceder efeito suspensivo a qualquer recurso, em decisão fundamentada,

quando a simples devolução da matéria possa causar prejuízo irreparável ao

recorrente”.

18.9- Tipos de Recurso

O direito processual desportivo prevê dois tipos de recurso: recurso

necessário e recurso voluntário.

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18.9.1- Recurso Necessário

O recurso necessário é interposto de ofício pelo Presidente da

Comissão Disciplinar, órgão de primeira instância, de uma decisão, que, por

força de dispositivo legal, está obrigada a ser reexaminada pelo órgão judicante

hierarquicamente superior, independente de ter havido manifestação pela

parte, pela Procuradoria ou por terceiro interessado. O Presidente da Comissão

Disciplinar ao proclamar o resultado do julgamento, declara formalizado o

recurso e determina o envio do processo a instância superior no prazo de três

dias.

Aplica-se ao recurso necessário o princípio do duplo grau de jurisdição,

haja vista que algumas matérias devem ser decididas duas vezes e por órgãos

judicantes diferentes, podendo modificar a decisão na sua totalidade ou

parcialmente.

Caberá recurso necessário da decisão:

1- que comine pena de eliminação;

2- proferida em processo relativo à corrupção, concussão, prevaricação,

dopagem e agressão física;

3- proferida em processo movido contra membro de entidade dirigente ou

presidente de entidade de prática desportiva ou membro da Justiça Desportiva.

A Secretaria, após a determinação do Presidente da Comissão

Disciplinar, providenciará no prazo de três dias a remessa do processo ao

órgão judicante superior (TJD ou STJD), salvo se houver ao mesmo tempo a

interposição de recurso voluntário por qualquer das partes.

É de suma importância assinalar, que o órgão judicante superior só

poderá modificar a tipificação da infração se imputada outra com o mesmo tipo

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de penalidade, por força do art. 145 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva.

Exemplificando: Se o acusado for enquadrado em um artigo cuja pena seja de

suspensão por prova, a instância superior somente poderá modificá-la para

outro dispositivo cuja pena também seja de suspensão por prova e não “por

exemplo” suspensão calculada em dias.

18.9.2- Recurso Voluntário

Caberá recurso voluntário de qualquer decisão dos órgãos da Justiça

Desportiva, salvo o previsto no parágrafo primeiro do artigo 136 do CBJD que

estabelece que as decisões do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD)

são irrecorríveis e no seu parágrafo segundo preceitua que “igualmente

irrecorríveis as decisões do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) que

impuserem multa até R$ 5.000,00(cinco mil reais)”.

Poderão interpor recurso voluntário: o punido, pela parte vencida, pelo

terceiro interessado e pela Procuradoria que não poderá desistir do recurso por

ela interposto.

O recorrente deverá oferecer suas razões de recurso no prazo de três

dias a contar da proclamação do resultado do julgamento, para a instância

hierarquicamente superior, acompanhado da prova do recolhimento do valor

dos emolumentos sob pena de deserção. A parte contrária poderá impugnar o

recurso no prazo de três dias a contar do despacho que lhe deu vista do

processo. Após a manifestação da parte contrária, a Procuradoria terá também

o prazo de três dias para emitir o seu parecer, quando não for ela a própria

recorrente. Destaque-se, que no caso de recurso voluntário interposto pela

Procuradoria à penalidade poderá ser agravada.

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O recurso voluntário será recebido no efeito devolutivo, salvo se a parte

requerer e o Presidente do órgão judicante (TJD ou STJD), verificando que se

a punição começar a ser cumprida, sem que o órgão da instância superior

tenha reexaminado o processo, pode causar danos irreparáveis, o efeito

suspensivo poderá ser concedido com fulcro no inciso XII do art. 9º do CBJD.

O recurso deverá ser protocolado na Secretaria do órgão judicante

(TJD ou STJD). Em caso de urgência este poderá ser interposto por telegrama,

fac símile, por via postal ou e-mail, devendo, no entanto, o requerente

comprovar que enviou o original do recurso no prazo de três dias, sob pena de

não ser conhecido pela instância superior.

O recurso será admitido para o Presidente da Comissão Disciplinar que

procederá ao exame de admissibilidade. Admitido o recurso, a Secretaria no

prazo de dois dias remeterá o processo à instância superior.

Dispõe o art. 140 do CBJD que “No recurso voluntário, salvo se

interposto pela Procuradoria, a penalidade não poderá ser agravada”. O que

significa que no recurso interposto pela parte a pena não poderá ser agravada,

somente mantida ou diminuída. A proibição da reformatio in pejus tem por

objetivo evitar que o órgão judicante (TJD ou STJD) decida no sentido de

agravar a situação do recorrente, que no caso acarretaria o descumprimento do

princípio do efeito devolutivo, ou pelo fato de não haver recurso da parte

contrária.

Admitido o recurso na instância superior, o Presidente (TJD ou STJD)

designará o auditor para o feito e marcará o julgamento. A Procuradoria e as

partes e seus defensores serão informados pela Secretaria do dia e hora

designados para a sessão de julgamento com dois dias de antecedência.

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128

CAPÍTULO XIX

SESSÃO DE JULGAMENTO NOS TRIBUNAIS

DESPORTIVO

19.1- Desenvolvimento

Nas sessões de julgamento no Superior Tribunal de Justiça Desportiva

e no Tribunal de Justiça Desportiva serão observadas as pautas previamente

elaboradas pela Secretaria, seguindo sempre uma ordem numérica.

Terão sempre preferência os processos especiais e os pedidos de

preferência formulados pelas partes presentes e prioridade terão as que

residirem fora da sede do órgão judicante.

As sessões de julgamento serão públicas, podendo o Presidente, por

motivo de ordem e de segurança, determinar que a sessão seja secreta,

permanecendo presentes a Procuradoria, as partes e seus representantes.

Impossibilitado o auditor relator, anteriormente designado para o feito,

de comparecer a sessão, fato este que deverá ser comprovado, o processo

poderá ser redistribuído para outro auditor, que em se julgando apto a proceder

ao relatório, o processo será julgado na mesma sessão.

No dia e hora designados, havendo quorum, que deverá ser de no

mínimo cinco auditores, o Presidente declarará aberta à sessão de julgamento.

Em seguida dará a palavra para o auditor relator para que proceda ao relatório.

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Concluído o relatório, será dado o prazo de dez minutos, sucessivamente, à

Procuradoria e a cada uma das partes, para sustentação oral. Caso duas ou

mais partes forem representadas pelo mesmo defensor, o prazo será de quinze

minutos, prorrogados a critério do Presidente do órgão judicante.

No desenrolar do julgamento poderá qualquer dos julgadores pedir

exame do processo em Conselho, tornando-se, então, secreta a sessão, para

discussão unicamente entre eles, podendo permanecer no recinto, o

Procurador, se não for parte, e o Secretário.

Se algum dos auditores pretender esclarecimentos a cerca da questão

em discussão, este ser lhe a fornecido pelo relator do feito.

Após todos os pontos esclarecidos, o Presidente do órgão judicante

dará início a votação na seguinte ordem: o primeiro a votar é o auditor relator

seguido do Vice-Presidente do órgão judicante e após os demais auditores por

ordem de antiguidade e por último o Presidente. Em caso de empate na

votação ao Presidente é atribuído o voto de qualidade. Finda a votação, o

Presidente anunciará a decisão: designará para lavrar o acórdão, se

necessário, o auditor que houver proferido o primeiro voto vencedor, se vencido

o auditor relator em ponto principal do mérito; e redigirá a minuta da ata de

julgamento, nela mencionando a decisão anunciada, o auditor relator

designado e os nomes dos votantes e dos que, vencedores, tiverem

manifestado desejo de fazer declaração de voto.

De conformidade com as notas constantes da minuta da ata, o

Secretário certificará no processo o ocorrido ou a ele juntará a cópia da ata da

decisão, fazendo os autos conclusos ao auditor relator para a lavratura do

acórdão, caso este não tiver sido apresentado na mesma sessão.

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130

CONCLUSÃO

Ao concluir este tema, que é da maior relevância, já se terá nutrido a

sólida convicção de que o conjunto de princípios e normas reguladoras do

exercício da jurisdição desportiva, presentes no direito processual desportivo,

dispensa o rigor das formas, priorizando-se a própria finalidade do processo, ou

seja, uma prestação jurisdicional rápida, transparente e precisa.

Constata-se que o processo desportivo adota um sistema concentrado

de instrução e julgamento que dispensa, volto a dizer, todo um formalismo

nocivo, que além de desnecessário e incompatível é lesivo a sua finalidade, e

cuja celeridade não constitui uma ameaça à segurança na apuração dos fatos

e no correto cumprimento de toda uma forma procedimental. Pode-se notar,

que em apenas uma sessão de instrução e julgamento é reunida toda uma

matéria probatória, as quais são discutidas, examinadas e decididas em um

único momento, sem, no entanto, comprometer o respeito aos princípios

constitucionais da ampla defesa e do contraditório, uma vez que as partes

promovem a defesa de seus interesses de forma oral e sempre na presença de

um colegiado, seja ele da Comissão Disciplinar ou dos Tribunais Desportivos.

Comprovado ficou, que o processo desportivo tem por objetivo a

proteção dos direitos desportivos dos atletas, das entidades da administração

do desporto e das entidades da prática desportiva, os quais são chamados pelo

já citado Marcílio César Ramos Krieger, de “bens jurídico-desportivo”, de

atender aos objetivos da prática desportiva, priorizando o interesse coletivo e a

observância das regras das competições ou equivalentes, sempre reprimindo

as atitudes antidesportista. E para que este objetivo seja alcançado, se faz

necessário definir quais sejam as responsabilidades desportivas, identificar os

culpados pela prática de uma infração contrária a disciplina desportiva,

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aplicando as sanções a ela pertinente e, pelo efeito danoso advindo desta

prática, exigir uma reparação.

Pelo que foi exposto ao longo deste trabalho, ficou patente que a

atuação da Justiça Desportiva deve se apresentar através de uma

independência absoluta de suas decisões, não sendo permitida qualquer

intervenção emanada das entidades administrativas do desporto. Porém, para

que esta engrenagem funcione, se faz mister que os membros que compõe os

órgãos da Justiça Desportiva de cada modalidade, sejam donos de um

conhecimento técnico-jurídico apurado, a fim de que julguem com competência

e segurança as questões desportivas, não se deixando curvar frente a

eventuais tentativas de jogadas políticas, que infelizmente existem em

determinadas situações. Forço-me a dizer, que é lamentável a existência de

alguns “coronéis” no mundo do desporto, que sempre tentam beneficiar alguns

em detrimento de outros, principalmente com relação aos atletas, que na

maioria das vezes se vêem prejudicados nos seus resultados, pelo exercício de

um protecionismo interesseiro e hipócrita.

Ficou demonstrado, também, a fundamentalidade da figura do

operador do direito para exercer a função de Defensor. O Código Brasileiro de

Justiça Desportiva ao estabelecer no seu art. 29 que “Qualquer pessoa maior e

capaz poderá funcionar como defensor observados os impedimentos legais”,

deixa claro a fragilidade deste dispositivo, pois o que se vê nos Tribunais

Desportivos é que a dificuldade já existe para o profissional de direito que

começa a militar na área desportiva, mesmo conhecedor dos trâmites

processuais e já com um ritmo de audiência, que fará para uma pessoa que

não traga consiga esta bagagem.

Verifica-se que o Código Brasileiro de Justiça Desportiva procurou

consolidar, com muita prudência e coerência, toda uma matéria pertinente ao

procedimento na Justiça Desportiva. Porém, para conhecê-lo é necessário

desenvolver um estudo conceitual e principiológico, a fim de entender a sua

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132

finalidade específica como também conhecer as suas peculiaridades. Claro

que, em se tratando de uma obra jurídica e sobre tudo humana, contém

algumas imperfeições como ocorre em qualquer outro código de normas, Pode-

se dizer, que seu objetivo maior é inibir as condutas antidesportistas, seja pela

via preventiva ou repressiva, sem, no entanto, deixar de atender o lado

educacional do desporto.

Destaca-se, por fim, a força da decisão final proferida pelos órgãos da

Justiça Desportiva, a qual não caiba mais recurso, tornando-se definitiva, pois

até no caso do inconformismo da parte que propõe uma ação junto a Justiça

Comum, esta, por si só, não tem a conseqüência de desfazer ou influir nos

efeitos desportivos validamente produzidos em face da decisão proferida na

Justiça Desportiva, haja vista o preceito contido no parágrafo segundo do artigo

217 da Constituição Federal de 1988.

Finalizando, o Direito Processual Desportivo é a matéria primordial,

para se conhecer todos os aspectos processuais adotados pela Justiça

Desportiva no trâmite de seus processos. Foi gratificante discorrer sobre este

tema, pois penso ter suprido uma carência existente na área processual

desportiva, contribuindo, desta maneira, com um Direito que evolui a cada dia.

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133

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1- THEODORO, Humberto Junior. Curso de Processo Civil. 20ª ed. Vol. I

Forense, 1997.

2- CINTRA, Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO,

Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 13ª ed. RT, 1997.

3- DINAMARCO, Cândido Rangel. Instrumentalidade do Processo. 4ª ed.

Malheiros, 1994.

4- MEIRELLES, Hely Lopes. Curso de Direito Administrativo. 17ª ed. Malheiros.

5- MELO, Álvaro Filho. Direito Desportivo Novos Rumos. Ed. Del Rey, 2004.

6- MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 14ª ed.

Forense, 1994.

7- AFONSO, José da Silva. Curso de Direito Constitucional Positivo. 8ª ed.

Malheiros, 1992.

8- CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 7ª ed. Saraiva, 2001.

9- NUNES, Afonso. Novo Código de Justiça Desportiva Comentado. Ed. Lúmen

Júris, 2004

10- BOUDENS, Emile. CPI CBF: Textos e Contextos III – Justiça Desportiva

2002. Disponível em http://www.camara.gov.br/internet/diretoria/conleg/estudos

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11-LEGISLAÇÃO

Código Brasileiro de Justiça Desportiva – Comentários e Legislação. Editado

pelo Ministério do Esporte 2004.

Lei Geral Sobre Desporto – Lei nº 9.615/98

Constituição da República Federativa do Brasil. Ed. Auriverde 2005

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135

BIBLIOGRAFIA CITADA

1- THEODORO, Humberto Junior - Curso de Direito Processual Civil, Vol. I, 20ª

ed. Forense, 1997 p. 05.

2- CINTRA, Antonio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pellegrini,

DINAMARCO, Candido Rangel - Teoria Geral do Processo 13ª Ed. RT, 1997

p. 40.

3- THEODORO, Humberto Junior - Curso de Direito Processual Civil – Vol. I,

20ª ed. Forense, 1997, p.08.

4- MELO, Álvaro Filho - Direito Desportivo Novos Rumos – Ed. Del Rey 2004 –

p. 04.

5- MAXIMILIANO, Carlos cit. Max Gmür - Hermenêutica e Aplicação do Direito

13ª ed. Forense, 1994, p.14.

6- CINTRA, Antonio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pellegrini,

DINAMARCO, Candido Rangel – Teoria Geral do Processo – 13ª Ed. RT, 1997

p.46.

7- AFONSO, José da Silva - Curso de Direito Constitucional Positivo, 8ª ed.

Malheiros, 1992 - p.85.

8 – KRIEGER, Marcílio Cesar Ramos – Lei Pelé e Legislação Desportiva

Brasileira Anotada. Ed. Forense, 1999 p. 34.

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136

9 - NUNES, Inácio - Novo Código Brasileiro de Justiça Desportiva Comentado.

2005 – Ed. Lúmen Júris p.06.

10 – SCHMITT, Paulo Marcos - Código Brasileiro de Justiça Desportiva –

Comentários e Legislação – Editado pelo Ministério do Esporte 2004 – p. 26.

11 – ROQUE, Sebastião José. Citação de Emile Boudens – Consultor

Legislativo da área XV – Educação, Desporto, Bens Culturais, Diversões e

Espetáculos Públicos – Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados

Brasília-DF – CPI CBF/NIKE: Textos e Contextos III) Justiça Desportiva

Fevereiro de 2002 p. 10, disponível na

http://www.camara.gov.br/internet/diretoria/conleg/estudos.

12 – MELO, Álvaro Filho - Código Brasileiro de Justiça Desportiva –

Comentários e Legislação – Editada pelo Ministério do Esporte p. 11.

13 – KRIEGER, Marcílio César Ramos - Código Brasileiro de Justiça

Desportiva – Comentários e Legislação – Editada pelo Ministério do Esporte p.

77.

14 – NUNES, Inácio - Novo Código de Justiça Desportiva Comentado 2004 Ed.

Lúmen Júris p.68.

15 – ROQUE, Sebastião José. Citação de Emilie Boudens – Consultor

Legislativo da Área XV– Educação, Desporto, Bens Culturais, Diversões e

Espetáculos – Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados Brasília-DF

CPI CBF/NIKE: Texto e Contexto III) Justiça Desportiva – Fevereiro de 2002 p.

10, disponível no http://www.camara.gov.br/internet/diretoria/conleg/estudos.

16 – NUNES, Inácio - Novo Código Brasileiro de Justiça Desportiva

Comentado. Ed. Lúmen Júris, 2004 p. 18.

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137

17 – NUNES, Inácio - Novo Código Brasileiro de Justiça Desportiva

Comentado. Ed. Lúmen Júris, 2004 p. 14.

18 – MELO, Álvaro Filho - Código Brasileiro de Justiça Desportiva –

Comentários e Legislação – Editado pelo Ministério do Esporte 2004 – p. 20.

19 – LIEBMAN - Citação de Humberto de H. Theodoro Junior na obra Curso

de Direito Processual Civil. 20ª ed. Forense,1997 p. 37.

20 – THEODORO, Humberto Junior - Curso de Direito Processual Civil. 20ª Ed.

Vol. I, Forense, 1997 p. 153/154.

21 – MEIRELLES, Hely Lopes. – Direito Administrativo Brasileiro 17ª ed.

Malheiros pág. 134.

22 – CINTRA, Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO,

Cândido Rangel - Teoria Geral do Processo 13º ed. RT, 1997 p. 259.

23 – CINTRA, Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO,

Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo 13ª ed. RT, 1997 p. 324.

24 – DINAMARCO, Cândido Rangel. Instrumentalidade do Processo – 4ª ed.

Malheiros, 1994 p. 127.

25 – NUNES, Inácio – Novo Código Brasileiro de Justiça Desportiva

Comentado. Ed. Lúmen Júris, 2004 p.27/28.

26 – CHIOVENDA - Citação de Humberto Theodoro Junior – Curso de Direito

Processual Civil – 20ª ed. Vol. I, Forense, 1997 p. 216.

27 – NUNES, Inácio - Novo Código Brasileiro de Justiça Desportiva – 2004 Ed.

Lúmen Júris p.32/33.

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138

28 – COUTURE. Citação de Humberto Theodoro Junior na obra Curso de

Direito Processual Civil. 20ª ed. Vol. I, Forense, 1997 p. 239.

29 – COUTURE. Citação de Humberto Theodoro Junior na obra Curso de

Direito Processual Civil. 20ª vol. I, Forense, 1997 p. 246.

30 – COUTURE – Citação de Humberto Theodoro Junior. Curso de Direito

Processual Civil. 20ª ed. Vol. I, Forense 1997 pág. 416

31 – CAPEZ, Fernando - Curso de Processo Penal. 7º Ed. Saraiva, 2001 p.31.

32 – ZVEITER, Luiz - Código Brasileiro de Justiça Desportiva – Comentários e

Legislação – Editado pelo Ministério do Esporte 2004 p. 63.

33 – PUGA, Alberto - Código Brasileiro de Justiça Desportiva – Comentários e

Legislação – Editado pelo Ministério do Esporte 2004 p.125.

34 – PUGA, Alberto - Código Brasileiro de Justiça Desportiva – Comentários e

Legislação – Editado pelo Ministério do Esporte 2004 – p. 127.

35 – THEODORO, Humberto Junior - Curso de Direito Processual Civil. 20ª ed.

Vol. I, Forense, 1997 p. 643.

36 - PERRY, Valed. Código Brasileiro de Justiça Desportiva – Comentários e

Legislação – Editado pelo Ministério do Esporte 2004 p. 76

37 – MOREIRA, Barbosa. Citação de Humberto Theodoro Junior – Curso de

Direito Processual Civil Vol I 20ª ed. Forense, 1997 p. 586.

38 – LIEBMAN. Citação Humberto Theodoro Junior – Curso de Direito

Processual Civil. Vol I 20ª ed. 1997 Forense p. 534.

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39 – CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 7ª ed. Saraiva 2001 p. 385.

40 - FILHO, Tourinho. Citação de Fernando Capez em Curso de Processo

Penal. – 7ª ed. Saraiva 2001 p.385.

41 – LIEBMAN. Citação de Humberto Theodoro Junior. Curso de Direito

Processual Civil. 20ª ed. Vol I Forense, 1997 p. 555.

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140

ANEXOS

ÍNDICES DE ANEXOS

Anexo 1 - Organograma Justiça Desportiva

Anexo 2 - Quadro Competência dos Órgãos da Justiça Desportiva

Anexo 3 –Súmula e Relatório

Anexo 4 - Organograma Sessão de Julgamento

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141

SUPERIOR TRIBUNALDE

JUSTIÇA DESPORTIVASTJD

TRIBUNAL DEJUSTIÇA DESPORTIVA

TJD

COMISSÃO DISCIPLINARCD

COLEGIADO DE PRIMEIRA INSTANCIA

COMISSÃO DISCIPLINARCD

COLEGIADO DE PRIMEIRA INSTANCIA

JUSTIÇA DESPORTIVA

ENTIDADE NACIONAL DE

ADMINISTRAÇÃO DO DESPORTO

ENTIDADE REGIONAL DE

ADMINISTRAÇÃO DO DESPORTO

ANEXO 1

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ANEXO 2

COMPETÊNCIA STJDArt. 25 CBJD

COMPETÊNCIA TJDArt. 27 CBJD

I) Processar e Julgar Originariamente I) Processar e Julgar Originariamente

a) seus auditores, os de suas Comissões Disciplinares e os procuradores;

b) os litígios entre entidades regionais de administração do desporto;

c) os membros de poderes e órgãos da entidade nacional de administração do desporto;

d) os mandados de garantia contra atos dos poderes das entidades nacionais de administração do desporto e outras autoridades desportivas;

e) a revisão de suas próprias decisões e as de suas Comissões disciplinares;

f) os pedidos de reabilitação;g) os conflitos de competência entre tribunais de

Justiça Desportiva;

a) os seus auditores, os de suas Comissões Disciplinares e procuradores;

b) os mandados de segurança contra ato dos poderes das entidades regionais da administração do desporto;

c) os dirigentes da entidade regional de administração do desporto e das entidades de prática desportiva;

d) a revisão de suas próprias decisões e as de suas Comissões Disciplinares;

e) os pedidos de reabilitação

II) Julgar em Grau de Recurso II) Julgar em Grau de Recurso

a) as decisões de suas Comissões Disciplinares(CD) e dos Tribunais de Justiça Desportiva (TJD);

b) os atos e despachos do Presidente do Tribunal;

c) as penalidades aplicadas pelas entidades nacional de administração do desporto e de prática desportiva, que lhe sejam filiadas, que imponham sanção administrativa de suspensão, desfiliação ou desvinculação.

a) as decisões de suas Comissões Disciplinares (CD);

b) os atos e despachos do presidente do Tribunal;

c) as penalidades aplicadas pela entidade regional de administração do desporto e de prática desportiva que imponham sanção administrativa de suspensão, desfiliação ou desvinculação.

Compete ainda Compete aindaIII) declarar os impedimentos e incompatibilidades

de seus auditores e procuradores;IV) criar Comissões Disciplinares e indicar seus

auditores, destituí-los e declarar a incompatibilidade;

V) instaurar inquéritos;VI) estabelecer súmulas de sua jurisprudência

predominante;VII) requisitar ou solicitar informações para

esclarecimento de matéria submetida à sua apreciação;

VIII) expedir instruções aos Tribunais de Justiça Desportiva e as Comissões Disciplinares;

IX) elaborar e aprovar o seu Regimento Interno;X) declarar vacância do cargo de seus auditores

e procuradores;XI) deliberar sobre casos omissos.

III) declarar os impedimentos e incompatibilidades de seus auditores e procuradores;

IV) criar Comissões Disciplinares e indicar-lhes os auditores, podendo instituí-las para que funcionem junto às ligas constituídas na forma da legislação anterior;

V) declarar a incompatibilidade dos auditores das Comissões Disciplinares;

VI) instaurar inquéritos;VII) requisitar ou solicitar informações para

esclarecimento de matéria submetida à sua apreciação;

VIII) elaborar e aprovar o seu Regimento Interno;IX) deliberar sobre casos omissos.

COMPETÊNCIA DA COMISSÃODISCIPLINAR JUNTO AO STJD

Art. 26 CBJD

COMPETÊNCIA DA COMISSÃODISCIPLINAR JUNTO AO TJD

Art. 28CBJDI) processar e julgar as ocorrências em

competições interestaduais promovidas, organizadas ou autorizadas por entidade nacional de administração do desporto e em competições internacionais amistosas;

II) declarar os impedimentos de seus auditores.

I) processar e julgar as infrações disciplinares praticadas em competições por pessoas físicas ou jurídicas, direta ou indiretamente subordinadas às entidades regionais de administração do desporto e de prática desportiva;

II) declarar os impedimentos de seus auditores.

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143

ANEXO 3

SÚMULA

RELATÓRIO

1 - DADOS GERAIS DA COMPETIÇÃO, PARTIDA OU EQUIVALENTE:

Nome do Evento

Categoria:

Local:

Jogo/Prova/Partida:

Data:

Horário:

Horário de encerramento:

ÁRBITRO(s):

2 – IDENTIFICAÇÃO

RELATANTE (s):

RELATADO (s):

3 – OCORRÊNCIAS relatar com objetividade, descrevendo o momento em que se deu(deram) o(s) fato(s), os envolvidos e suas efetivas participações, as providências adotadas (regras aplicadas) e as expressões literalmente proferidas (se houverem).

É o relatório,

Nome e assinatura do Relatante

ENCAMINHAMENTO: Comissão Organizadora:

Recebido por:

Data: Horário:

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I 11

Direito Processual Desportivo

1.1 - Conceito 11

1.2 - Objetivo 13

CAPÍTULO II 14

Fontes do Direito Processual Desportivo

2.1 - Noções Gerais 14

2.2 - Lei Processual Desportiva 14

2.3 - Interpretação e Integração da Lei Processual Desportiva 16

2.4 - Eficácia da Lei Processual desportiva no Tempo e no Espaço 18

2.4.1 - No Tempo 18

2.4.2 - No Espaço 19

2.5 - Relação da Lei Processual Desportiva com o Direito Constitucional 19

CAPÍTULO III 21

Princípios que regem o Direito Processual Desportivo

3.1 - Noções Gerais 21

3.2 - Princípio da Ampla Defesa e do Contraditório 22

3.3 - Princípio da Celeridade 23

3.4 - Princípio da Economia Processual 24

3.5 - Princípio da Impessoalidade 24

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3.6 - Princípio da Independência 24

3.7 - Princípio da Legalidade 25

3.8 - Princípio da Moralidade 26

3.9 - Princípio da Motivação 26

3.10 - Princípio da Oficialidade 26

3.11 - Princípio da Oralidade 27

3.12 - Princípio da Proporcionalidade 27

3.13 - Princípio da Publicidade 27

3.14 - Princípio da Razoabilidade 28

3.15 - Princípios Intrínsecos do Direito Processual Desportivo 28

3.15.1 - Princípio da Verdade Real 29

3.15.2 - Princípio do Devido Processo Legal 29

3.15.3 - Princípio da Transparência 30

3.15.4 - Princípio da Informalidade 30

3.15.5 - Princípio do Impulso Oficial 30

CAPÍTULO IV 31

Justiça Desportiva

4.1 - Conceito 31

4.2 - Natureza Jurídica 34

CAPÍTULO V 36

Organização, Estrutura e Composição dos Órgãos da Justiça Desportiva

5.1 - Organização e Estrutura 36

5.2 - Composição 37

CAPÍTULO VI 39

Jurisdição e Competência das Instâncias Desportivas

6.1 - Noções Gerais 39

CAPÍTULO VII 41

Atribuições dos Membros dos Tribunais Desportivos

7.1 - Do Presidente e Vice-Presidente 41

7.1.1 - Atribuições 41

7.2 - Do Presidente da Comissão Disciplinar 43

7.3 - Auditores 43

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7.3.1 - Posse e Mandato 44

7.3.2 - Requisitos de Atuação dos Auditores 44

7.3.3 - Suspeição e Impedimentos 45

7.3.4 - Vacância 46

7.3.5 - Competência 46

7.3.6 - Livre Acesso 47

7.4 - Procuradoria Desportiva 48

7.5 - Secretaria 49

7.6 - Defensores 49

CAPÍTULO VIII 51

Jurisdição, Ação e Processo

8.1 - Jurisdição 51

8.1.1 - Princípios da Jurisdição 52

8.1.2 - Poderes Inerentes a Jurisdição 53

8.1.3 - Competência 53

8.2 - Ação 54

8.2.1 - Possibilidade Jurídica do Pedido 55

8.2.2 - Interesse de Agir 56

8.2.3 - Legitimação para a causa (Legitimatio ad causam) 57

8.3 - Processo Desportivo 57

8.3.1 - Natureza Jurídica 58

8.3.2 - Finalidade 58

8.3.3 - Características Peculiares do Processo Desportivo 59

8.3.4 - Elementos Identificadores da Relação Processual 59

8.3.4.1 - Sujeitos Processuais 60

8.3.4.2 - Objeto da Relação Processual 60

8.3.5 - Pressupostos processuais 60

8.3.6 - Procedimentos 61

CAPÍTULO IX 63

Intervenção de Terceiro

CAPÍTULO X 64

Atos Processuais

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10.1 - Conceito 64

10.2 - Formas dos Atos Processuais 64

10.3 - Classificação dos Atos Processuais 66

10.4 - Documentação dos Atos Processuais 68

10.5 - Nulidade 68

10.6 - Comunicação dos Atos Processuais 69

10.6.1 - Citação 69

10.6.2 - Intimação 70

10.6.3 - Modos de Realizar a Citação e Intimação 71

CAPÍTULO XI 73

Prazos

11.1 - Disposições Gerais 73

11.2 - Natureza dos Prazos 74

11.3 - Classificação dos Prazos 74

11.4 - Prazo para as Partes 75

11.5 - Prazo para os Presidentes, Auditores e Secretaria 75

11.6 - Termo Inicial e Final 76

11.7 - Preclusão 76

CAPÍTULO XII 78

As Provas no Processo Desportivo

12.1 - Conceito 78

12.2 - Meios de Prova 79

12.2.1 - Depoimento Pessoal 80

12.2.2 - Prova Documental 81

12.2.3 - Exibição de Documento ou Coisa 81

12.2.4 - Prova Testemunhal 81

12.2.5 - Os Meios Audiovisuais 82

12.2.6 - Prova Pericial 83

12.2.7 - Inspeção 83

CAPÍTULO XIII 85

Registro e Distribuição

13.1 - Noções Básicas 85

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13.2 - Pagamento dos Emolumentos 85

CAPÍTULO XIV 87

Procedimento Sumário

14.1 - Noções Gerais 87

14.1.1 - Súmula e Relatório da Competição 89

14.1.2 - Queixa 90

14.2 - Denúncia 91

14.3 - Suspensão Preventiva 92

CAPÍTULO XV 93

Procedimento Especial

15.1 - Conceitos 93

15.2 - Inquérito 94

15.3 - Impugnação de Partida, Prova ou Equivalente em

cada Modalidade ou de seu Resultado 95

15.4 - Mandado de Garantia 96

15.5 - Reabilitação 98

15.6 - Dopagem 99

15.7 - Infrações Punidas com Eliminação 101

15.8 - Suspensão, Desfiliação ou Desvinculação Imposta

pelas Entidades de Administração ou de Prática Desportiva 102

15.9 - Revisão 102

15.10 - Demais Medidas Admitidas no Parágrafo Terceiro do Artigo 9º 104

CAPÍTULO XVI 107

Sessão de Instrução e Julgamento

16.1 - Desenvolvimento 107

CAPÍTULO XVII 111

Decisões na Justiça Desportiva

17.1 - Definição 111

17.2 - Natureza Jurídica 111

17.3 - Classificação das Decisões no Direito Processual Desportivo 112

17.4 - Requisitos Formais da Decisão 112

17.5 - Efeitos da Decisão 113

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17.6 - Publicação 114

17.7 - Eficácia das Decisões junto ao Poder Judiciário 115

17.8 - Coisa Julgada 115

17.8.1- Limites da Coisa Julgada 116

CAPÍTULO XVIII 118

Recursos

18.1 - Conceito 118

18.2 - Natureza Jurídica 118

18.3 - Princípios Recursais 118

18.4 - Fundamento 119

18.5 - Pressupostos Processuais do Recurso 121

18.6 - Peculiaridades do Recurso de Terceiro Interessado 122

18.7 - Juízo de Admissibilidade 123

18.8 - Efeitos do Recurso 124

18.9 - Tipos de Recurso 124

18.9.1 - Recurso Necessário 125

18.9.2 - Recurso Voluntário 126

CAPÍTULO XIX 128

Sessão de Julgamento nos Tribunais Desportivos

19.1 - Desenvolvimento 128

CONCLUSÃO 130

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 133

BIBLIOGRAFIA CITADA 135

ANEXOS 140

ÍNDICE 145

FOLHA DE AVALIAÇÃO 151

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Pós-Graduação “Lato Sensu”

Título da Monografia: Direito Processual Desportivo

Autor: Scheyla Althoff Decat

Data da entrega: 25 de janeiro de 2006

Avaliado por: Conceito: