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1 <> <> <> <> UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE <> <> <> <> <> RESSOCIALIZAÇÃO DO MENOR INFRATOR <> <> POR: MARIA MANUELA DA FONSECA AMORIM <> <> Orientador Prof. Francis Rajzman Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

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RESSOCIALIZAÇÃO DO MENOR INFRATOR

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<>

POR: MARIA MANUELA DA FONSECA AMORIM <>

<>

Orientador

Prof. Francis Rajzman

Rio de Janeiro

2012

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FOLHA DE ROSTO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

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RESSOCIALIZAÇÃO DO MENOR INFRATOR <>

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Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

em Direito Penal

Por: Maria Manuela da Fonseca Amorin

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus amigos de curso,

principalmente ao Nélio e ao meu

marido Flávio, pela força e apoio, que

todos me deram quando pensei em

desistir.

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DEDICATÓRIA

Dedico está monografia para minhas

filhas Beatriz, Laura e meu marido

Flávio por todo o carinho, atenção e

compreensão que deram durante este

período de estudos.

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LISTA DE SIGLAS

ART Artigo

ASPLAG Assessoria de Planejamento e Gestão

CBIA Centro Brasileiro para Infância e Adolescência

CEDOP Centro de Documentação e Pesquisa

CF Constituição Federal

CP Código Penal

CPP Código de Processo Penal

CTR Centro de Triagem e Recepção

CREAS Centros de Referência de Assistência Social

DEGASE Departamento Geral de Ações Socioeducativas

DETRAN Departamento Estadual de Trânsito

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

ESGSE Escola de Gestão Socioeducativa Paulo Freire

INC Inciso

ONG Organização Não Governamental

SAM Serviço de Assistência A Menores

SEI Sistema Estadual de Identificação do Estado do Rio de Janeiro

SIAD Sistema de Identificação de Adolescentes

SINASE Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

SUAS Sistema Único de Assistência Social

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RESUMO

A escolha deste tema para o projeto se refere a analisar que o direito

da criança e do adolescente, ramo do Direito Público, constituindo um sistema

penal paralelo, teve ao longo da história distintas abordagens. Este mesmo

direito é assegurado em sua plenitude, pela ordem constitucional fazendo com

que as crianças e os adolescentes sejam reconhecidos como sujeitos e

titulares de direitos. A história considerou crianças e adolescentes como

escravos, como objetos, instrumentos assistenciais das políticas públicas,

portadores de patologia social passíveis de tratamento. Analisa-se a evolução

da situação de crianças e adolescentes, do foco social ao jurídico, ou seja, da

consideração tutelar, assistencialista, ao reconhecimento da titularidade de

direitos e responsabilidade penal pela prática de atos ilícitos.

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METODOLOGIA

A monografia foi desenvolvida através uma pesquisa bibliográfica em

livros de doutrinadores pessoas relacionadas com o tema para esclarecer os

conceitos de ressocialização, menor infrator e medidas socioeducativas. Estes

dados bibliográficos depois de coletados e organizados serão analisados e

distribuídos na introdução, capítulos e conclusão para a estruturação e

montagem do Trabalho de Conclusão de Curso. Esta análise será feita por

meio de fichamento dos textos, avaliação de estatísticas e resumos de artigos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 7

CAPITULO I – ENTENDIMENTO SOBRE MENOR INFRATOR NO ECA 11

CAPITULO II – POSSIBILIDADE DE RESSOCIALIZAÇÃO E USO DE

MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

22

CAPITULO III – MENOR INFRATOR: AÇÃO SOCIOEDUCATIVA E A

IMPOSIÇÃO DAS MEDIDAS

44

CONCLUSÃO 56

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 59

BIBLIOGRAFIA CITADA 61

ÍNDICE 63

FOLHA DE AVALIAÇÃO 64

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INTRODUÇÃO

A sociedade está consciente que deve discutir e refletir a condição do

adolescente no Brasil se faz questão nos dias de hoje para a manutenção da

ordem social em contextos de presente e de futuro próximo. Tal entendimento

emerge da observância de uma crise generalizada na instituição basilar de toda

e qualquer sociedade a família. Sob esta ótica, pode-se afirmar que são muitos

os fatores que tem contribuído para o agravamento desta crise que abala não

só o conceito, mas os valeres morais e éticos no núcleo social.

Dentre tantos fatores desagregados, aponta-se o consumo de drogas

lícitas e ilícitas, com aquele que tem atravessado de forma aniquiladora a vida

da maioria dos adolescentes que cometeram algum tipo de ato infracional, e

que, após o devido processo legal foram responsabilizados pelo ato cometido,

logo ficando sob a custódia do Estado e inseridos no atendimento

socioeducativo de forma a cumprirem algum tipo de medida sócio educativa

como prevê o artigo 103 do Estatuto da Criança e do Adolescente “Considera-

se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal”.

Várias são as expressões empregadas para referir-se ao efeito

desejado do trabalho com o jovem em conflito com a lei, em cumprimento de

medidas sócioeducativas, particularmente em privação de liberdade dentre elas

existem reinserção social, readaptação, ajustamento social, integração à

família e sociedade, todas enfocando a situação dos adolescentes infratores.

De acordo com o entendimento do Estado, a partir da criação do

Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/90 em 13 de julho de 1990,

essas medidas, significam uma chamada à responsabilização do jovem, em

face da transgressão cometida. No entanto, avalia-se, o que dá a essas

medidas o caráter socioeducativo, fazendo com que o trabalho desenvolvido

nas Instituições diferencie-se do cumprimento de pena. Estrutura física,

formação de recursos humanos, ações educativas e trabalho transdisciplinar

são alguns dos aspectos implicados nesta questão.

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11A violência intrafamiliar contra criança e adolescente não está

desvinculada das demais questões sociais, especialmente da violência social.

Está violência tende a piorar com o tempo, a violência psicológica emocional,

verbal, simbólica, entre outras, pode ser tão marcante quanto a violência física.

A violência contra a infância e adolescência pode estar delimitada, ao mesmo

tempo em que se entrega à violência social, intrafamiliar, conjugal, entre outras.

As violências não constituem, assim, apenas um modo de delineamento do

espaço social exterior de forma isolada, fragmentada, mas revelam também

interioridades e subjetividades relacionadas nas quais estão implicadas tanto o

agressor destas violências como também os sujeitos sociais que são atingidos

por tais práticas.

Diante desse entendimento questiona-se: A quem pertence a

responsabilidade da ressocialização do menor infrator, a família ou ao Estado?

Este estudo tem por objetivo geral analisar a situação do futuro dos

menores brasileiros e consequentemente do pais está em risco e precisa-se

tomar providências urgentes para mudar esse futuro. Tem por objetivos

específicos: definir as expressões ressocializar, medidas socioeducativas;

estabelecer a responsabilidade pela educação do menor é da família, e

também do Estado; descrever as formas de ressocialização previstas para

criança e adolescentes; enumerar as medidas socioeducativas previstas para

crianças e adolescentes infratoras.

Uma família sem emprego, sem educação, sem assistência não terá

condições de educar seus filhos. O menor na escola, nas ruas, na família.

A importância na escolha deste tema refere-se ao maior desafio do

Estatuto da criança e do adolescente é o trabalho para imprimir uma nova

direção ao tratamento dado às novas gerações, assumindo desta forma, uma

nova ética no lidar com crianças e adolescentes. A substituição da doutrina de

situação irregular pela concepção de proteção integral no estabelecimento das

ações, notadamente, no caso de envolvimento das novas gerações em

situação de conflito com a lei, é exemplar neste sentido. As idéias que

subjazem a constituição cidadã e o ECA estão ai impressa no afã de consolidar

a certeza de que, ao invés de serem simplesmente tutelados pela família ou

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12pelo estado, crianças e adolescentes são credores de relacionamentos e

vinculação social próprios, adequados à sua condição de pessoa em

desenvolvimento. Contudo, mostra-se a necessidade de lutar

emergencialmente pela transformação da criação e o método de informação

das crianças e dos adolescentes para que possam ser inseridos na sociedade

como um ser humano honesto e digno de uma vida normal.

Esta monografia possuí a seguinte estrutura: introdução, destacando o

problema, os objetivos geral e específico, justificativa, metodologia; capitulo I

abordará o entendimento sobre menor infrator no ECA, destacando o

envolvimento da droga nas atitudes do menor infrator; capitulo II abordará a

possibilidade de ressocialização e uso de medidas socioeducativas, descreverá

as ações e medidas socioeducativas; capitulo III abordará o menor infrator,

destacando a ação socioeducativa e a imposição das medidas; conclusão

finalizará com o entendimento que a ressocialização do menor infrator é um

direito e consequentemente uma forma de retirar das ruas as crianças e os

adolescentes que cometem atos infracionais.

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CAPÍTULO I

ENTENDIMENTO SOBRE MENOR INFRATOR NO ECA

No Brasil, as crianças e adolescentes são os cidadãos que mais sofrem

violações em seus direitos, por todos os segmentos da sociedade. Pode-se ver

na realidade, que eles são vítimas de maus-tratos, violência sexual, física,

psíquica; são explorados no trabalho; traficados, adotados ilegalmente; morrem

de fome, pela tortura, desaparecem pelo extermínio; alojam-se em cadeias

públicas e instituições de atendimento.

Até o inicio do séc. XX o menor era preterido como criança e

equiparado aos adultos, com o grande diferencial de representar mão de obra

barata e ser facilmente dominado por sua fragilidade. A criança brasileira,

principalmente, traz em si um triste passado, em parte devido à colonização

portuguesa.

Na Europa em geral, e em Portugal em particular, à época do

descobrimento do Brasil, a mortalidade infantil era muito alta em além mar,

alcançando a criança a idade em média de 14 anos, que juntado ao fato de

extrema pobreza das famílias, levava a considerá-las “pouco mais que

animais”, segundo Mary Del Piore, “cuja força de trabalho deveria ser

aproveitada ao máximo enquanto durassem suas curtas vidas”. ( )

A Coroa portuguesa recrutava tais crianças para servirem em suas

embarcações, como grumetes, representando mais ou menos 25% da

tripulação, exercendo trabalhos que iam além de suas forças físicas, com seus

corpos franzinos e mal nutridos, comendo menos que os adultos, embora para

o trabalho fossem considerados como tal, e alimentos de péssima qualidade,

acabando por morrer durante as travessias.

Desconheciam o que era ser criança, ter uma família e ser tratada

como ser humano. Os próprios pais as empurravam para seu destino, livrando-

se de mais uma boca a alimentar, e em contrapartida, mais uma forma também

de aumentar seu sustento.

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14A criança era tão desvalorizada que em caso de perigo de naufrágio,

os comandantes não se preocupavam em salvá-las primeiro, porém eram as

primeiras a ser jogadas ao mar quando necessário, o que demonstrava sua

pouca importância para os adultos, inclusive para os religiosos que faziam

parte da tripulação, que se quedavam indiferentes à sua sorte, para os quais

valia a máxima: antes elas do que eu.

Esses mesmo religiosos vinham para cá catequizar as crianças

indígenas, e serviam para seu objetivo principal que era se aproximarem dos

grupos indígenas para dominá-los. Como se vê, as crianças não podiam se

apoiar nem mesmo na religião, pois o interesse de seus seguidores era tão

somente para obter proveito próprio.

Os jesuítas introduziram nas tribos ‘o amor pelos filhos’, incentivando

os pais a castigá-los, assim como eram castigados pelos religiosos, através de

açoites e palmatórias, uma forma de bem educá-los e obter seu respeito.

A situação do menor só começou a melhorar a partir do final do séc.

XIX, quando olhares mais benévolos e piedosos começaram a se interessar

por sua real situação de criança, que necessita de orientação, apoio, e

melhores condições para sobreviver e se tornar um adulto digno e com saúde,

embora persista até os dias de hoje a figura do dominado e dominador, este

último travestido de diferentes formas e oculto por máscaras.

Apesar dos esforços infelizmente a imagem que tentam nos transmitir

da criança inocente, que deve ser amada e respeitada, com direito a lazer,

educação, moradia e saúde, está a quilômetros luz da realidade com a qual se

convive no dia a dia, ao se deparar com a criança delitiva, traiçoeira, maldosa,

e indiferente aos males que pode causar, com suas atitudes, a si mesma e ao

próximo.

A violência entre crianças e adolescentes aumenta de forma

vertiginosa e assustadora. Se antes não tinham leis que os protegessem, hoje

as leis existem, como servem de longos e desgastantes debates, todos muito

preocupados com sua sorte, uns por se sentirem ameaçados, muitos por

motivos políticos e poucos porque se preocupam verdadeiramente em mudar

seu futuro. Mas os resultados são tão pequenos que não se chega a sentir

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15seus efeitos, ou até mesmo chega-se à triste conclusão de não haver mais

solução. A infância perdeu-se pelo caminho, antes por trabalhos desumanos,

hoje por atos também desumanos, só que em posição diferente.

Geralmente quando se fala em menor infrator logo vem à idéia aqueles

criados na pobreza, os migrantes de regiões carentes, meninos de rua e de

comunidades, analfabetos, ignorantes, criados entre traficantes e marginais,

com pais alcoólatras, e sofrendo todo tipo de agressões psicológicas ou físicas.

Atualmente, no entanto, esse mal vem atingindo em grande escala, os

menores e adolescentes oriundos das classes média e alta, que

aparentemente não se enquadram em nenhuma ou na maioria dessas causas.

E o mais desesperador é verificar que essas crianças, independente de

classe social estão carentes, de amor, de afeto, de cuidados. São

abandonadas à própria sorte, umas porque os pais não têm condições

financeiras, psicológicas ou morais para cuidá-las, outras porque os pais

embora tenham tais condições, estão muito mais preocupados em ganhar

dinheiro ou se divertir, do que em perder tempo cuidando de filhos.

Credita-se muitas vezes à liberação feminina, o abandono dos filhos.

Deixou de existir a figura da mulher do lar, que vivia pura e simplesmente para

a família, marido e filhos, e dessa forma, sobrava-lhe muito mais tempo para

cuidar de sua educação. Essa liberação ocorreu a partir dos meados do século

passado, mas os menores infratores como se viu acima, existem a muito mais

tempo do que isso. Não se pode negar que a mulher agüenta uma sobrecarga

de trabalho e preocupações, mas muitas delas conseguem criar e educar seus

filhos tornando-os pessoas de bem.

Antes do maior para o menor, hoje do menor para o maior, como se

esta geração quisesse se vingar do que aconteceu no passado. Só que

vingadores e vingados carregam uma carga que não lhes pertence e sofrem as

conseqüências daquilo que não praticaram, enquanto pessoas imbuídas de

falsa piedade aproveitam da situação para se promoverem, enquanto na

realidade nada fazem em prol de uma infância melhor.

Não se pode confundir imputabilidade penal e impunidade conduz a um

outro raciocínio os adolescentes não estão sujeitos à lei penal comum, mas

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16respondem pelo Estatuto, em face da disposição constitucional prevista no art.

288, in fine, da CF/88, que dispõe: "São penalmente inimputáveis os menores

de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial". A lei especial

mencionada é o Estatuto, que impõe medidas socioeducativas aos infratores

maiores de 12 anos e menores de 18. No Direito Penal comum, no sentido hoje

estabelecido, possui vinculação da imputabilidade após 18 anos, como prevê o

art. 27 do CP.

Há que se fazer, todavia, uma breve distinção entre impunidade e

inimputabilidade penal considerada causa legal de exclusão da culpabilidade,

ou seja, de exclusão da responsabilidade penal, significa uma absoluta

irresponsabilidade pessoal ou social diante do crime ou contravenção penal

(ato infracional) praticado, tendo como base apenas a idade cronológica. Esse

é o panorama jurídico pretendido pela primeira parte do preceito constitucional

do art. 228. A impunidade, por sua vez, é a situação daquele que escapou à

punição ou que não é punido ou castigado.

Entretanto a segunda parte da mesma norma conduz o intérprete a

reconhecer que uma legislação especial determinará regras e mecanismos de

responsabilização para os autores de ato infracional com idade inferior a 18

anos. Isso significa que esses sujeitos não ficarão impunes, mas deverão ser

submetidos ao procedimento definido pela legislação especial.

Como afirma Antonio Fernando do Amaral e Silva, não se pode

confundir "imputabilidade e responsabilidade; tem-se que os adolescentes

respondem frente ao Estatuto respectivo, porquanto são imputáveis diante

daquela lei" (1998, p. 270). Assim, inimputabilidade não implica impunidade,

vez que o Estatuto estabelece medidas de responsabilização compatíveis com

a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento dos autores de ato

infracional.

Mário Volpi contesta alguns mitos que “condicionam e de certa forma

prejudicam a compreensão da prática de infrações penais por adolescentes. O

primeiro mito é o do hiperdimensionamento do problema; o segundo, da

periculosidade; o terceiro, da irresponsabilidade” (2001, p. 15). De fato, Mário

Volpi explica que, “nos meios de comunicação social, nas expressões e

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17opiniões de autoridades e profissionais que atuam com o tema e, até mesmo, o

cidadão comum, quando inquiridos sobre o assunto afirmam que são milhões

de adolescentes que praticam infrações penais” (2001, p. 18).

A má-fé e a falta de informação apropriada sobre esse possível

aumento da criminalidade juvenil gera um terrorismo informativo e um estado

de alarme público, que somente produzem dano à sociedade, multiplicando os

problemas já existentes.

De acordo com De Plácido e Silva: A imputabilidade, derivado de imputare a possibilidade de atribuir responsabilidade pela violação de determinada lei, seja ela penal, civil, comercial, administrativa ou juvenil, não se confunde com a responsabilidade, da qual é pressuposto (1982, p. 15).

O segundo mito, também perverso e, sobretudo, incompleto, designa a

tendência de adolescentes praticarem delitos cada vez mais graves, cujas

bases são insuficientes para alicerçar um recrudescimento de sanções penais

aos adolescentes. O autor cita pesquisa realizada pelo Ministério da Justiça,

em 2000, que conclui que “a maioria absoluta dos atos infracionais praticados

por adolescentes são crimes contra o patrimônio. A prática de crimes graves

não é privilégio de adolescentes” (1982, p.18).

O terceiro mito corresponde à inimputabilidade tardia do adolescente.

Esse mito é sustentado pela idéia de que:

O adolescente estaria mais propenso a praticar atos infracionais porque a legislação não oferece punição mais severa. Neste caso existe uma certa confusão entre os conceitos de inimputabilidade penal e impunidade. Arremata o citado autor, que o fato de um adolescente ser inimputável não o exime de ser responsabilizado com medidas socioeducativas, inclusive com a privação de liberdade, por até três anos (VOLPI, 2001, p. 64).

A propósito, João Batista Costa Saraiva lembra que “a exclusão da

responsabilidade penal, pela inimputabilidade, não conduz à afirmação

peremptória da irresponsabilidade pessoal ou social” (2002, p. 63).

A adequação da conduta do infrator ao sistema penal comum poderia

sugerir o retorno à teoria do discernimento, cujo fundamento propugna pelo

conhecimento, pelo infrator, do caráter criminoso de sua conduta. A admissão

dessa teoria, para os menores de 18 anos, colocaria os adolescentes autores

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18de ato infracional no mesmo patamar dos insanos mentais, o que seria uma

incoerência diante do sistema de reprovação e controle instaurado no Estado

de Direito.

Aos adolescentes entre 12 e 18 anos não se pode imputar, pois, uma

responsabilidade penal pela legislação penal comum. O processo penal comum

tem como objetivo principal à sanção do infrator; todavia, pode-se agregar a

este, mais duas finalidades: a) a tutela da liberdade jurídica, especialmente a

proteção da liberdade física do ser humano; b) a garantia de prevenção e

repressão de atos penalmente relevantes.

Ao adolescente, entretanto, pode-se atribuir responsabilidade com

fundamento nas normas preconizadas pelo Estatuto, donde poderão responder

pelos atos infracionais que praticarem, submetendo-se às medidas

socioeducativas previstas no art. 112 do ECA. Essa distinção é importante,

para dirimir a suspeita ou a errada concepção que se faz de que o Estatuto

propõe tratamento aos infratores menores de 18 anos.

De acordo com o art. 2º do ECA, considera-se criança para os efeitos

dessa lei a pessoa até 12 anos incompletos, e adolescente aquela entre 12 e

18 anos de idade. A matéria pertinente ao Título III do Estatuto da Criança e do

Adolescente, correspondente à disciplina da "Prática do Ato Infracional", traduz

um Direito Penal juvenil, um avanço do ordenamento jurídico brasileiro no

tratamento da infração penal cometida por adolescentes, que, todavia, não

deixa de constituir matéria penal.

Seguindo tal concepção, ao tratar especificamente do Título III da Lei

nº 8.069/1990, trata-se do direito penal juvenil brasileiro, que integra o

ordenamento jurídico brasileiro como disciplina da ciência penal. É possível

ainda, considerar que essa parte do Estatuto da Criança e do Adolescente

constitui um subsistema integrante do sistema de garantias da Lei nº 8.069/90

que, no dizer de alguns operadores, é denominado subsistema infracional.

O Estatuto da Criança e do Adolescente não se restringe, à disciplina

da vigilância ou da tutela de parte da infância e da adolescência. Trata-se de

um extenso catálogo de direitos de todas as crianças e adolescentes, e dos

correspondentes deveres da família, do Estado e da sociedade. Importante

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19sublinhar que, ao reconhecer na criança e no adolescente a titulariedade de

direitos, também o faz no que diz respeito às responsabilidades. Sob o nome

de Justiça de Menores, esse sistema encobriu ao longo dos anos, a aplicação

de penas de forma ampliada e ilimitada, favorecendo a formação de um saber

supostamente científico, baseado nas idéias de observação, tratamento e

institucionalização.

Em 1985, o Instituto Interamericano de Direitos Humanos emitiu um

informe, sobre sistemas de justiça penal destacando a dispersão, e falta de

coerência entre os fins a que se destinam as Justiças de Menores e os meios

para realizá-los. O informe mencionado, além de criticar a doutrina da situação

irregular ora vigente, apontou do ponto de vista normativo a falta de garantias

processuais e a imprecisão dos requisitos para a imposição de medidas, assim

como sua duração indeterminada.

De fato, desde 1979 a interpretação do Pacto de Direitos Civis e

Políticos pelo Comitê de Direitos Humanos, levou ao reconhecimento de

garantias penais substantivas e processuais no âmbito das legislações de

menores. Como decorrência da doutrina no qual determina, que a

aplicabilidade dos direitos e garantias reconhecidos a todas as pessoas diante

do sistema penal não está no reconhecimento pelo direito interno de sua

natureza penal e tampouco na tipificação das condutas, mas sim nas

conseqüências que sua aplicação pode implicar para o interessado.

O Comitê de Direitos Humanos interpretou o artigo 142 do Pacto de

Direitos Civis e Políticos a fim de resolver a questão da aplicação de garantias

processuais a menores, que enquanto inimputáveis não podiam ser "acusados

pela prática de delitos". É justamente a condição de pessoa humana de

crianças e adolescentes o que imprime nova configuração ao direito penal

juvenil. Ressalte-se que as crianças e os adolescentes gozam de direitos

consagrados para todos os seres humanos, cujo dever de promoção e garantia

é do Estado. Pelo princípio da igualdade, reconhece-se ainda a existência de

proteções jurídicas e direitos específicos a certos grupos de pessoas, entre os

quais estão a infância e a adolescência.

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20O Serviço de Assistência a Menores - SAM foi instituído pelo Decreto-

lei nº 3.799/1941, no âmbito do Ministério da Justiça e Negócios Interiores. O

SAM tinha como missão amparar, socialmente, os menores carentes,

abandonados e infratores, centralizando a execução de uma política de

atendimento, de caráter corretivo-repressivo-assistencial em todo o território

nacional. O SAM tem um nítido quadro social no Brasil, as crianças e

adolescentes são a parcela de cidadãos que mais sofre violações em seus

direitos, por todos os segmentos da sociedade. Vê-se, na realidade, que eles

são vítimas de maus-tratos, violência sexual, física, psíquica; são explorados

no trabalho; são traficados, desaparecem; são adotados ilegalmente; morrem

de fome, pela tortura, pelo extermínio; alojam-se em cadeias públicas e

instituições de atendimento, que nada mais são do que sucessoras do SAM.

Na verdade, o SAM foi criado para cumprir as medidas aplicadas aos

infratores pelo juiz tomando-se mais uma administradora de instituições do que

de fato, uma política de atendimento ao infrator. O art. 2º do citado Decreto-lei

consolidava a finalidade do SAM:

a) sistematizar e orientar os serviços de assistência a menores desvalidos e delinqüentes, internados em estabelecimentos oficiais e particulares; b) proceder à investigação social e ao exame médico-psico-pedagógico dos menores desvalidos e delinqüentes; c) abrigar os menores à disposição do Juízo de Menores do Distrito Federal: d) recolher os menores em estabelecimentos adequados a fim de ministrar-Ihes educação, instrução e tratamento sômato-psíquico até o seu desligamento; e) estudar as causas do abandono e da delinqüência infantil, para a orientação dos poderes públicos; f) promover a publicação periódica dos resultados de pesquisas, estudos e estatísticas (LIBERATI, 2006, p. 63).

Apesar da aparente organização, o SAM funcionava como um sistema

penitenciário para a população menor de 18 anos, ou seja, de internação total.

No entanto a execução de sua política de atendimento era diferenciada para os

menores infratores que eram colocados em internatos e casas de correção dos

menores abandonados e carentes que eram internados em patronatos

agrícolas e estabelecimentos de aprendizagem de ofícios. O que mais

chamava a atenção nas atividades do SAM era a naturalidade com que se

internavam crianças e adolescentes. O indicador da institucionalização estava

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21na classe social, na pobreza, na miséria, na falta de condições psicológicas e

da carência assistencial dos pais.

O abandono, a vadiagem, a mendicância eram motivos suficientes para

a intervenção judicial, que determinava a internação como forma de

ressocialização ou de recuperação da criança e do adolescente. Tudo

desconforme com as normas contidas na Constituição Federal de 1988 e leis

regulamentadoras. Sem entender, a população leiga e jurídica debate sobre

formas de recrudescer a punição aos jovens que conflitam com a lei. Esse

sentimento aterrorizante e, sobretudo, carente de segurança pública, em geral,

estimula o debate, gerando conclusões, como a diminuição da idade da

imputabilidade, o aumento e o agravamento de sanções privativas de

liberdade1.

1.1 Influência da droga na ação infracional do adolescente

A questão a respeito das drogas, sempre foi uma problemática para

toda a população brasileira, contudo, somente na década de 1990, que

surgiram ideias, discursos, sugestões a respeito de uma possível legislação,

mas abrangente. Muitos autores criticaram e outros elogiaram.

Ao longo dos anos, muitos autores têm buscado entendimentos sobre o

uso das drogas pelas crianças e adolescentes. Essa nova política criminal a

respeito das drogas tem buscado esclarecer sobre a forma errônea e

condenativa de penalizar o usuário ou do dependente de drogas em relação a

sua permanência no sistema penal.

Dentro desta nova forma de pensar, alguns autores se dividem entre

duas correntes de entendimento. A primeira corrente de pensamento é a

proibicionista dirige-se contra a produção não autorizada e o tráfico ilícito de

1Alguns Projetos de Lei e de Emenda à Constituição tramitam na Câmara dos Deputados com a finalidade de reduzir a inimputabilidade penal na CF (art. 228) ou aumentar o tempo de internação (privação parcial ou total da liberdade), previsto na Lei n. 8.069/1990. Exemplos: PL n. 2.182/ 1999; PL n. 2.511/2000: PL n. 3.700/2000: PL n. 6.923/2002: PL n. 2.847/2000: PL n. 852/2003: PL n. 907/2003: PEC n. 179/2003; PEC n. 171/1993

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22drogas, enquanto que a prevencionista é aplicada para o usuário e para o

dependente.

Observando-se estas duas correntes de pensamento percebe-se que

as políticas de atenção e de reinserção social do usuário e do dependente tem

sido utilizadas como equilíbrio entre as atividades de prevenção do uso

indevido das drogas, e de repressão à sua produção não autorizada e ao

tráfico ilícito das mencionadas drogas. Entretanto, de acordo com Gomes

mesmo depois da descriminalização penal do consumo de drogas no Brasil não

mais se impõe prisão ao usuário ou ao dependente, tal conduta permanece

ilícita, já que sobre ela recaem as conseqüências previstas no art. 28 (GOMES,

2007). Neste caos, as atuações policiais continuarão ocorrendo, porém, não se

imporá, em nenhum caso, a prisão do usuário ou dependente, apenas

acontecerá à apreensão das drogas que estiverem com ele.

Um aspecto interessante de ser analisado que veio junto com a nova

lei de repressão ao tráfico de drogas refere-se aos requisitos necessários para

aplicação da pena base que fundamentada a penalização da Lei Antidrogas.

Foi através do artigo 42 da mencionada Lei Antidrogas, que surgiu a alteração

da penalização de crimes de porte de drogas. Isso se explica porque

antigamente, o Código Penal tipificava no seu artigo 59 que a natureza e a

quantidade estabelecida da substância da mesma forma que o artigo 42 da

mencionada Lei nº 11.343/2006.

A única diferença básica é que a lei inseriu na tipificação as

circunstâncias que vão determinar as penas-base, dando dessa forma um

ponto de partida para que o juiz leve em consideração à fixação da pena

sobrepondo-se as outras penas.

Uma grande inovação legal trouxe a Lei nº 11.343/2006 que passou a

tipificar como sendo crime a conduta de semear, cultivar ou colher, para

consumo pessoal, plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de

substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.

No art. 12, §1º, da Lei nº 6.368/76, previa a conduta de semear,

cultivar, fazer a colheita de planta destinada à preparação de entorpecente ou

de substância que determine dependência física ou psíquica, essa figura,

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23constituía crime equiparado ao tráfico, muito se discutia de que forma a

conduta de semear, cultivar ou fazer a colheita para uso próprio, configurava o

crime do art. 12, § 1º ou o revogado art. 16 que previa sobre o porte de drogas

para uso próprio.

A respeito do tema existiam três posições: a primeira aborda sobre o

fato enquadrava-se no art. 16. ; a segunda sobre o fato enquadrava-se no art.

12, § 1º, inciso II e a terceira que se refere ao fato ser atípico. Prevalecia a

primeira posição, que tinha como justificativa a incidência da expressão in

bonam partem. Para evitar-se um maior mal, aplicava-se assim a semelhança

com relação às figuras do art. 16 que determinava como crime trazer consigo,

guardar e adquirir para uso próprio e enquadrava-se nele o plantio para fins de

uso. Não parecia ser a correta solução.

Para uso próprio o plantio não estava previsto em nenhum lugar, e nem

como figura equiparada ao art. 12, ou como figura analógica ao art. 16: de fato

atípico era tratado. E não se consistia em estender o alcance da norma do art.

16, para evitar o enquadramento no art.12, mas sim em aplicar o art. 16 a uma

hipótese não descrita como crime. O princípio da reserva legal por essa razão

era violado e por estes motivos nos moldes da Lei nº 11.343/2006 esse fato

passou a constituir crime.

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24

CAPÍTULO II

POSSIBILIDADE DE RESSOCIALIZAÇÃO E USO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

A criminalidade aumentou entre os jovens, mas a população também

aumentou paralelamente, e ninguém se preparou devidamente para

acompanhar essa evolução. Constroem-se cada vez mais prisões, e as

instituições de proteção ao menor e adolescente continuam as mesmas, sem

condições de dar-lhes o que realmente necessitam (GOMIDE, 2007).

Estudiosos sobre o tema argumentam sobre a possibilidade de

ressocialização do menor infrator, mas deve-se entender em que

circunstâncias ocorrer esta forma de ressocialização.

A socialização entre as pessoas é a assimilação de hábitos

característicos de determinado grupo social, através do qual um indivíduo se

torna membro de uma comunidade, assimilando a cultura que lhe é própria, e

realizado através da comunicação gestual ou verbal.

Esse processo de socialização inicia-se, contudo, após o nascimento, e

através, primeiramente, da família e posteriormente, da escola, dos meios de

comunicação de massas e dos grupos de referência que são compostos por

artistas, cantores, atores, atletas, super-heróis favoritos, etc. E através deste

conjunto o indivíduo desenvolve sua personalidade, e é inserido na

comunidade em que habita, dando continuidade ao sistema social (GOMIDE,

2007).

A socialização é composta de valores, crenças, normas e atitudes

inerentes ao grupo em que este indivíduo é inserido. Portanto, como se falar de

ressocialização daquele menor que sequer foi socializado, tendo em vista que

o processo inicia-se com o nascimento, e é ininterrupto.

O indivíduo antisocial independe de classe econômica. Sabe-se quanto

é difícil criar-se uma criança em meios à pobreza, porém não é mais fácil criá-

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25las em meio ao luxo. As dificuldades existem em toda a escola social, o que

difere são os valores que lhe são passados.

Os menores criados em comunidades dominadas pelo tráfico, pela

marginalidade, sem estrutura ou valores morais, filhos de pais viciados, de

mães que têm que deixá-las entregue a si mesmas, para trabalhar e sustentá-

las, adquirirá, com raras exceções todos os hábitos com os quais convive

desde que nasceu. Assim como os menores criados em condomínios de luxo,

que também por vezes tem pais viciados, que sobrevivem à custa de golpes

milionários, que dão propina para escapar de uma multa de trânsito, sonegam

impostos, e usam de sua influência para levar vantagem, não se importando

quem está em seu caminho (MACEDO, 2008).

A única diferença entre os dois é o dinheiro... No entanto, nas

instituições disciplinares só encontrar-se-á os primeiros, porque os segundos

justamente devido à influência paterna continuam na escalada nos pequenos

ou grandes delitos, com muito mais certeza da impunidade (MACEDO, 2008).

Se os primeiros, por vezes, não tem pais capazes de educá-los, por

que também não foram devidamente educados, os segundos tem pais com

todas as condições, e por isso acham que o dinheiro tudo compra, e que seus

filhos tudo podem. O crime não tem preconceito de cor, raça, sexo ou religião,

e pode aflorar em qualquer ambiente que lhe for propício, não sendo a pobreza

fator essencial para o cometimento de crimes.

Há vários exemplos recentes de jovens de classes média e média alta,

que cometeram crimes injustificáveis que abalaram o pais por sua crueldade, e

frieza. Dentre alguns se pode citar: o caso do menino João Helio, de 6 anos de

idade, arrastado até à morte por mais de 7 km, pelas ruas da zona norte, após

o carro em que se encontrava ser roubado por cinco indivíduos, entre eles um

menor de 17 anos; ou os jovens que atearam fogo ao índio patachó em

Brasília, e estão soltos, todos filhos de políticos e de juiz; ou a jovem Suzane

von Richthofen, que matou os pais com a ajuda do namorado e irmão, Tinha

casa, saúde, pais e educação acima da média. Nos dois últimos casos pessoas

consideradas normais com vida acima do padrão, e que aparentemente não

teriam motivo para cometer tais crimes; ou ainda um jovem em São Paulo, filho

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26de deputado, o qual munido de uma arma no valor de mais ou menos duzentos

mil reais, que atropelou e matou um senhor, porque dirigia seu “possante” em

alta velocidade. Foi preso, o pai pagou fiança em valor quase equivalente ao do

automóvel, e encontra-se solto, pronto para ganhar um novo brinquedinho com

o qual continuará matando.

Percebe-se que muitos foram protegidos por seus pais, e muitos foram

considerados menores infratores porque são viciados em drogas, quantos

freqüentam as comunidades e se apaixonam por outros jovens de conduta

desviada.

Para Luciana Facchini: É preciso levar em consideração a faixa etária da criança. Entre os três e seis anos, a utilização de contos adaptados, com menor agressividade, é considerada benéfica, porque a criança ainda vive em um mundo protegido e inocente. Mas a partir dos seis anos, quando começam a ir para a escola e passam a ficar mais expostas à violência, o melhor seria a história original (apud, MACEDO, 2008, p. 122)

Cada estudioso procura a razão de tanta violência em relação as

crianças e jovens, passando do lógico ao absurdo. Os irmãos Grimm devem

estar a se revirar no túmulo, culpados, por serem um dos causadores dessa

situação. Só falta aparecer alguém mais fanático e entusiasta, que resolva sair

por aí rasgando todos os exemplares da literatura clássica infantil, incluindo

Monteiro Lobato também acusado de insuflar o racismo a seus leitores mirins.

O Estado, a sociedade e a família, entes de responsabilização da

infância e juventude, vêm produzindo uma série de violações a crianças e

adolescentes, carentes ou infratores. A violência, o descaso, a ausência

familiar, entre outros, compõem a situação em que a infância e juventude se

encontram. Dilemas que provocam a construção de crianças e adolescentes

vulneráveis, ausente de valores, de preceitos, de perspectivas para o futuro.

Segundo Alessandro Baratta: Antes de falar em educação e reinserção social é necessário, fazer um exame do sistema de valores e dos modelos de comportamentos presente na sociedade em que se quer inserir o preso. Um tal exame não pode senão levar à conclusão de que a verdadeira reeducação deveria começar pela sociedade, antes que pelo condenado. Antes de querer modificar os excluídos, é preciso modificar a sociedade excludente, atingindo, assim a raiz do mecanismo de exclusão (apud MACEDO, 2008, p. 124)

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27Segundo Wilson Donizeti Liberati é “direito individual do adolescente

cumprir a medida socioeducativa imposta, num processo de execução

realizado sob a égide do devido processo legal e penal” (2006, p. 202). Com

este entendimento, o estudo busca fundamentos para a inserção, no

formalismo jurídico, de um processo regular de execução que cumpra a

finalidade da medida de dar uma resposta ao ato infracional praticado, de inibir

a reincidência, além de orientar o jovem para o convívio social, por meio de

técnicas e processos pedagógicos.

O processo de execução delineado com as regras, de um

procedimento permite reunir e organizar atos processuais executórios de tal

forma que a restrição escolhida na sentença condenatória possa ser realizada,

não autorizando que o infrator sofra prejuízo nos demais direitos, que não

foram por ela atingidos.

Para justificar a necessidade de um processo de execução especial de

medidas socioeducativas, parte-se do estudo sobre a nova ordem da proteção

integral, consagrada na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do

Adolescente e na Convenção sobre os Direitos da Criança. A doutrina da

completude de direitos da pessoa em desenvolvimento, resgata a angústia de

crianças e adolescentes por práticas assistencialistas, que os tomavam

cidadãos de segunda categoria. A partir do momento em que os direitos de

crianças e adolescentes são assegurados, em sua plenitude, pela ordem

constitucional, há verdadeira revolução no cenário jurídico, obrigando todo o

sistema judicial a considerar crianças e adolescentes como protagonistas de

direitos e não mais como objetos de políticas supletivas ou compensatórias.

Agora, crianças e adolescentes são sujeitos e titulares de direitos,

protagonistas de sua própria história. Para isso ser possível, houve a

necessidade de mudanças na legislação e na aplicação prática das políticas de

atendimento, além é claro, de intensa capacitação dos operadores do direito.

Isto se fez por meio da participação da sociedade, que fez inserir emenda

constitucional de iniciativa popular, originando o art. 227 e posteriormente sua

regulamentação, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

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28Ao regulamentar esta regra, o Estatuto inseriu no parágrafo único do

art. 4º, a garantia de prioridade, que compreende a primazia de receber

proteção e socorro em quaisquer circunstâncias. De precedência do

atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública e preferência na

formulação e na execução das políticas sociais públicas e de destinação

privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à

infância e à juventude (GOMIDE, 2007). A história considerou crianças e

adolescentes de diversas maneiras: como escravos, como objetos, como

instrumentos assistenciais das políticas públicas, como portadores de patologia

social passíveis de tratamento. Analisa-se a evolução da situação de crianças e

adolescentes, do foco social ao jurídico, ou seja, da consideração tutelar,

assistencialista, quase patética, ao reconhecimento da titularidade de direitos e

responsabilidade penal pela prática de atos ilícitos.

Segundo Wilson Donizeti Liberati é “direito individual do adolescente

cumprir a medida socioeducativa imposta, num processo de execução

realizado sob a égide do devido processo legal e penal” (2006, p. 205). Com

este entendimento, o estudo busca fundamentos para a inserção, no

formalismo jurídico, de um processo regular de execução que cumpra a

finalidade da medida de dar uma resposta ao ato infracional praticado, de inibir

a reincidência, além de orientar o jovem para o convívio social, por meio de

técnicas e processos pedagógicos.

O processo de execução delineado com as regras, de um

procedimento permite reunir e organizar atos processuais executórios de tal

forma que a restrição escolhida na sentença condenatória possa ser realizada,

não autorizando que o infrator sofra prejuízo nos demais direitos, que não

foram por ela atingidos.

Para justificar a necessidade de um processo de execução especial de

medidas socioeducativas, parte-se do estudo sobre a nova ordem da proteção

integral, consagrada na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do

Adolescente e na Convenção sobre os Direitos da Criança. A doutrina da

completude de direitos da pessoa em desenvolvimento, resgata a angústia de

crianças e adolescentes por práticas assistencialistas, que os tomavam

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29cidadãos de segunda categoria. A partir do momento em que os direitos de

crianças e adolescentes são assegurados, em sua plenitude, pela ordem

constitucional, há verdadeira revolução no cenário jurídico, obrigando todo o

sistema judicial a considerar crianças e adolescentes como protagonistas de

direitos e não mais como objetos de políticas supletivas ou compensatórias.

Agora, crianças e adolescentes são sujeitos e titulares de direitos,

protagonistas de sua própria história. Para isso ser possível, houve a

necessidade de mudanças na legislação e na aplicação prática das políticas de

atendimento, além é claro, de intensa capacitação dos operadores do direito.

Isto se fez por meio da participação da sociedade, que fez inserir emenda

constitucional de iniciativa popular, originando o art. 227 e posteriormente sua

regulamentação, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

A medida socioeducativa tem natureza penal, representa o exercício do

poder coercitivo do Estado e implica necessariamente uma limitação ou

restrição de direitos ou de liberdade. De uma perspectiva estrutural qualitativa,

não difere das penas. A medida socioeducativa cumpre o mesmo papel de

controle social que a pena, possuindo as mesmas finalidades e idêntico

conteúdo. Quanto à finalidade da pena, vale retomar as três principais teorias

que buscaram legitimar a repressão estatal. De um lado a teoria absoluta, que

atribui à pena a finalidade retributiva e, portanto, a mera imposição de um mal

àquele que violou a norma penal. A pena, nessa perspectiva, encontra em si

mesma a sua justificação (MACEDO, 2008).

Em sentido oposto, a teoria relativa concebe um sentido prático para a

pena, correspondente à sua capacidade de inibir a prática delituosa. Essa

inibição pode ser dirigida para a generalidade dos cidadãos, por meio da

intimidação. Trata-se da prevenção geral como finalidade ou efeito principal.

Quando a inibição é direcionada ao sujeito que praticou o delito, fala-se em

prevenção especial, reconhecendo que o ordenamento jurídico brasileiro reflete

ambas as concepções, de modo que faz referência expressa às finalidades de

reprovação e prevenção ao crime2.

2Exposição de Motivos da Nova Parte Geral do Código Penal – Lei nº 7.209/84.

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30Assim, no que se refere às finalidades preventivas geral e especial da

pena, a medida socioeducativa também leva em conta o delito cometido e

fundamenta-se na responsabilidade ética do delinqüente. Em ambas as

espécies de sanções, o objetivo é alcançar uma adequação da resposta em

relação ao sujeito e ao fato cometido. Ainda de acordo com Karyna Batista

Sposato:

Para os adolescentes, o princípio da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento impõe que a prevenção especial das medidas se realize por intermédio de projetos educativos e pedagógicos, em atendimento às necessidades pessoais e ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários de cada jovem. O conteúdo correspondente à prevenção especial, em se tratando das penas criminais, pode ser elucidado pelas disposições do art. 41 da LEP (Lei de Execução Penal), concernentes ao direito do trabalho e remuneração e ao exercício de atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas desde que compatíveis com a execução da pena (2006, p. 115).

Dessa forma, a medida socioeducativa é espécie de sanção penal,

visto que representa a resposta do Estado diante do cometimento de um ato

infracional praticado por adolescente, e revela a mesma seleção de condutas

antijurídicas que se exercem para a imposição de uma pena.

A prevenção especial, delimitada pelo princípio de condição peculiar de

pessoa em desenvolvimento, tem por objetivo evitar a reincidência e, com

efeito, impedir a vulnerabilidade dos adolescentes ao sistema de controle social

e à marginalização. Poder-se afirmar também, que para o alcance de tais

objetivos a medida socioeducativa lança mão de um conteúdo estratégico

correspondente à educação, o que em última instância significa que a

intervenção do Estado diante do cometimento de um ato ilícito e antijurídico por

um adolescente não se move pelo castigo, e tampouco pela retribuição.

2.1 Ressocialização e tipos de medidas socioeducativas

Apesar do processo de ressocialização ser uma forma de readaptar o

menor infrator a sociedade, enquanto tal fato não ocorre a única forma de frear,

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31de limitar algumas condutas errôneas das crianças e dos adolescentes são as

medidas socioeducativas.

Partindo do entendimento da medida socioeducativa como sendo uma

sanção penal, ao lado da pena criminal destinada aos imputáveis e das

medidas de segurança previstas aos adultos inimputáveis, cabe considerar

suas diferentes modalidades em conformidade com os princípios penais

básicos e os princípios fundamentais do direito penal juvenil (CUNHA, 2008). O

Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu art. 112, exige que se tenha um

rigoroso nexo de causalidade entre a conduta praticada pelo adolescente e o

dano causado. A conduta dolosa, ou ao menos culposa, que atentou contra

bens jurídicos protegidos em normas incriminadoras é, ao lado da lesão ao

bem jurídico, o critério para a imposição de medida socioeducativa. A

verificação da prática de um ato infracional não é condição suficiente para a

imposição de uma medida privativa da liberdade, que, somente é admitida na

inexistência de outra mais adequada. Segundo o art. 112 da Lei nº 8.069/90:

Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I – advertência, obrigação de reparar o dano; II – prestação de serviços à comunidade; III – liberdade assistida; IV – inserção em regime de semiliberdade; V – e internação em estabelecimento educacional; VI – qualquer uma das previstas no art. 101, incisos I a VI.

Assim se a imposição de pena exige a demonstração da autoria e

materialidade, o mesmo se estabelece para as medidas socioeducativas,

consoante o art. 114 da Lei nº 8.069/1990: "A imposição das medidas previstas

nos incisos II a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas suficientes da

autoria e da materialidade da infração, ressalvada a hipótese de remissão, nos

termos do artigo 127." Nesse caso, o Estatuto da Criança e do Adolescente é

expresso ao recomendar a aplicação preferencial de medidas que não

prejudiquem a socialização dos adolescentes, conforme o art. 100 da Lei: "Na

aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas,

preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e

comunitários”. (CUNHA, 2008)

As medidas socioeducativas dividem-se em medidas não privativas de

liberdade (advertência, reparação de dano, prestação de serviços à

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32comunidade e liberdade assistida) e medidas privativas de liberdade

(semiliberdade e internação). De acordo com Karyna Batista Sposato dentre as

medidas não privativas de liberdade (advertência, reparação de dano,

prestação de serviços à comunidade e liberdade assistida) pode-se descrever

que (2006, p. 120):

a) Advertência

A medida de advertência, consoante o art. 115 do ECA, é a mais leve

das medidas socioeducativas, pois implica uma censura verbal com finalidade

informativa, formativa e imediata acerca da prática da infração e suas

conseqüências. Esta advertência é executada pelo juiz da infância e juventude,

é admitida sempre que há prova da materialidade e indícios suficientes da

autoria. O caráter intimidatório se perfaz com a leitura do ato infracional na

presença dos responsáveis legais pelo adolescente autor do ato infracional, e o

caráter pedagógico pressupõem um procedimento ritualístico, com vistas a

obter do adolescente um comprometimento de que tal fato não se repetirá.

Realiza-se uma audiência admonitória, e a medida deve ser reduzida a termo e

assinada pelas partes.

b) Obrigação de reparar o dano

À medida que impõe a reparação do dano causado pela prática de ato

infracional destina-se precisamente às infrações com reflexos patrimoniais. A

reparação de dano se faz a partir da restituição do bem, do ressarcimento e de

outras formas de compensação da vítima. Caracteriza-se como uma medida

coercitiva e educativa, levando o adolescente a reconhecer o erro e repará-lo.

Em determinados casos, recomenda-se a aplicação conjunta de medidas de

proteção. O parágrafo único do art. 116 do ECA, ao definir essa medida,

garante sua substituição por outra mais adequada, desde que manifesta a

impossibilidade do adolescente de cumpri-la.

c) Prestação de serviços à comunidade

A medida socioeducativa de prestação de serviços à comunidade

guarda semelhanças com a pena restritiva de direitos dessa natureza

introduzida no ordenamento jurídico brasileiro pela Lei nº 7.210/1984, a Lei de

Execução Penal, e posteriormente prevista como pena substitutiva à prisão na

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33Lei nº 9.714/1998, conhecida como Lei das Penas Alternativas. Entretanto,

diferentemente da pena de prestação de serviço social comunitário, a medida

socioeducativa de prestação de serviços não é aplicada em substituição à

medida de privação da liberdade. Sua imposição se dá em adequação ao ato

infracional praticado e às condições pessoais do adolescente, não podendo

exceder o período máximo de seis meses.

A diferença quanto ao limite temporal é importante, para a pena de

prestação de serviço social comunitário, seis meses é o limite mínimo de pena

privativa de liberdade imposta para que seja possível a substituição, enquanto

para a medida de prestação de serviços o mesmo período refere-se ao limite

máximo de cumprimento autorizado pelo Estatuto. A interpretação do art. 117

do ECA, define essa medida, possibilitando verificar o ponto de vista de sua

caracterização. A prestação de serviços comunitários consiste na realização de

tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente há seis meses,

junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos

congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais.

Percebe-se que essa medida possui um forte chamado comunitário e

educativo tanto para o jovem infrator quanto para a comunidade, que por sua

vez poderá responsabilizar-se pelo desenvolvimento integral desse

adolescente. Nesse sentido, o envolvimento da comunidade por meio de

órgãos governamentais, clubes de serviços, entidades sociais e Outros é

fundamental na operacionalização dessa medida, que só se efetiva a partir da

participação e supervisão do Estado. É importante ressaltar que a medida

jamais poderá consistir em atividades repetitivas, humilhantes, discriminatórias.

Segundo o art. 112, § 2º, do ECA, em hipótese alguma será admitida a

prestação de trabalho forçado. Deve preferir a dimensão social e comunitária

do trabalho realizado, levando em consideração as aptidões e habilidades do

adolescente sentenciado. Ainda sobre as atividades, a lei proíbe que interfiram

na freqüência escolar ou na jornada normal de trabalho do jovem, devendo ser

cumpridas durante jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados,

domingos e feriados ou em dias úteis. A prestação de serviços como forma de

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34compensação da vítima pode ser admitida desde que haja concordância do

adolescente.

d) Liberdade assistida

A medida de liberdade assistida substituiu a medida de liberdade

vigiada prevista nas outras legislações. A alteração corresponde exatamente à

tentativa de superação do caráter de vigilância sobre o adolescente e à

introdução dos objetivos de acompanhamento, auxílio e orientação ao

adolescente durante sua execução.

A medida de liberdade assistida fundamenta-se pela manutenção dos

vínculos sociais e comunitários, pela manutenção da liberdade do adolescente,

sem deixar de exercer uma limitação no exercício de seus direitos. Nessa

perspectiva, argumenta Antonio Chaves “o acompanhamento da vida social do

adolescente na escola, trabalho e família tem por finalidade impedir a

reincidência e obter a certeza da reeducação” (1994, p. 132). É inegável, desse

modo, a semelhança da liberdade assistida com o instituto da suspensão

condicional da pena, no caso o sursis do direito penal, que corresponde à

suspensão da execução da pena privativa de liberdade não superior a dois

anos, no prazo de dois a quatro anos.

Durante prazo da comprovação das provas, o sentenciado deve

cumprir com condições legalmente impostas, fixadas na sentença, que

descumpridas ensejam a revogação obrigatória da suspensão e o retorno ao

cumprimento da pena de prisão. As condições devem variar de acordo com a

personalidade do sentenciado e podem incluir a freqüência a cursos

educacionais e profissionalizantes. Essa liberdade assistida é imposta ao

adolescente em sentença socioeducativa, não como forma de suspensão da

ação socioeducativa, e tampouco em substituição à internação.

Conforme dispõem os arts. 118 e 119 do ECA, a liberdade assistida

possui um prazo que deve ser fixado na sentença pelo juiz, que no mínimo será

de seis meses, durante os quais o adolescente deverá demonstrar sua

matrícula e permanência na escola, apresentando informações sobre sua

freqüência e desempenho escolar, e também devendo demonstrar esforços

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35para sua profissionalização. O art. 119 oferece os elementos característicos da

medida:

Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da autoridade competente, a realização dos seguintes encargos, entre outros: I - promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-Ihes orientação e inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social; II - supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula; III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho; e IV - apresentar relatório do caso.

A supervisão e o acompanhamento da medida, que podem ser

compreendidos também como a fiscalização, cabe um orientador, que poderá

ser um assistente social, um psicólogo ou um educador que faça parte do

programa de liberdade assistida indicado ao adolescente. Vale mencionar que

atualmente existem dois tipos principais de programas de liberdade assistida:

os desenvolvidos por instituições governamentais, municipais ou estaduais; e

os realizados por organizações não governamentais comunitárias ou religiosas.

Em ambos, os orientadores têm a atribuição de avaliação do adolescente no

cumprimento da medida e comunicação ao juízo para que este prorrogue,

substitua ou acabe com a medida.

Todo programa de liberdade assistida exige, portanto, uma equipe de

orientadores sociais, remunerados ou não, para o cumprimento do art. 119 do

ECA. Tanto o programa como os membros da equipe têm o potencial de

constituir-se numa referência permanente para o adolescente e sua família, na

medida em que o Estatuto impõe ao orienta dor, entre outros encargos: a

promoção social do adolescente e sua família, fornecendo-Ihes orientação e

inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou comunitário de auxílio e

assistência social; a supervisão da freqüência e do aproveitamento escolar do

adolescente, promovendo até mesmo sua matrícula; diligências no sentido da

profissionalização do adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho; e

a apresentação do relatório do caso.

A liberdade assistida poderá ser desenvolvida por grupos comunitários

com orientadores voluntários, desde que sejam capacitados, supervisionados e

integrados à rede de atendimento ao adolescente. A modalidade de Liberdade

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36Assistida Comunitária (LAC), quando bem aplicada, tem-se mostrado muito

eficiente devido ao grau de envolvimento da comunidade e de inserção no

cotidiano dos adolescentes acompanhados, devendo ser estimulada e apoiada

(CUNHA, 2008).

Uma de suas maiores vantagens é o comprometimento da comunidade

no processo socioeducativo, bem como no aprimoramento da convivência

familiar e comunitária. Embora uma medida possa durar seis meses, os jovens

acompanhados por programas culturais, esportivos, educativos e

profissionalizantes podem continuar a ser acompanhados pelos educadores

comunitários. A relação entre a equipe responsável e o adolescente pode ser

alterada e qualificada, deixando de ser compreendida como mera

obrigatoriedade e ação de controle social, para tornar-se relação de

compromisso entre adultos e jovens da comunidade.

Preferencialmente, os programas de liberdade assistida devem ser

estruturados em nível municipal, nas comunidades de origem do adolescente.

Devem, ainda, ser gerenciados e desenvolvidos pelo órgão executor em nível

municipal, em parceria com o Judiciário, que supervisiona e acompanha suas

ações. De acordo com João Batista Costa Saraiva:

Apesar de concebida como a medida de ouro do sistema socioeducativo, a liberdade assistida ainda não possui uma definição detalhada. As obrigações de estudar e profissionalizar-se, embora apareçam como seu núcleo básico, são direitos de todos os adolescentes. O direito de acesso e permanência na escola e de profissionalização não pode se confundir com o conteúdo sancionatório da medida. Em alguns casos, os adolescentes sentenciados com liberdade assistida possuem restrições no seu direito de ir e vir no que diz respeito especialmente aos horários para recolherem-se e aos locais não-recomendados (2002, p. 105).

O art. 118 do ECA, que também se refere a essa modalidade de

medida socioeducativa, menciona somente o prazo mínimo, a figura do

orientador e a possibilidade de prorrogação, revogação ou substituição da

medida:

A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. § 1.º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento. § 2.º A liberdade assistida será fixada pelo

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37prazo mínimo de 6 (seis) meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o Defensor.

Outro aspecto é a substituição da liberdade assistida, que em grande

parte das situações equivale à regressão da medida em meio aberto para a

privação da liberdade. O art. 122 do ECA autoriza a imposição da medida de

internação no caso de descumprimento reiterado e injustificado de medida

anteriormente imposta, porém restringe sua execução ao prazo máximo de três

meses.

Entende-se que essa hipótese configura o que se convencionou

denominar internação-sanção, em que, decorridos os três meses,

automaticamente converte-se novamente na medida anterior. Sendo assim,

compreende-se que a medida de liberdade assistida fundamenta-se na

concepção de acompanhamento personalizado, garantindo os aspectos de:

proteção, inserção comunitária, manutenção de vínculos familiares, freqüência

à escola e inserção no mercado de trabalho e em cursos profissionalizantes e

formativos (MACEDO, 2008).

De acordo com Karyna Batista Sposato dentre as medidas privativas

de liberdade (semiliberdade e internação) pode-se descrever (2006, p. 127):

a) Semiliberdade

A semiliberdade consiste na medida intermediária entre a internação e

o meio aberto. É modalidade de medida privativa da liberdade, com

possibilidade de realização de atividades externas não possuindo prazo

determinado. Suas conseqüências implicam o afastamento do adolescente do

convívio familiar e da comunidade de origem, ao restringir sua liberdade, sem,

no entanto privá-lo totalmente de seu direito de ir e vir. As atividades externas,

especialmente de escolarização e profissionalização, juntamente com

atividades pedagógicas que devem ser promovidas no interior dos semi-

internatos, são a garantia do conteúdo pedagógico estratégico que toda medida

socioeducativa deve conter. Desse modo, assim como na medida de

internação, a semiliberdade deve manter uma ampla relação com os serviços e

programas sociais e formativos no âmbito externo à unidade de moradia. Essa

medida é cabível como forma de transição para o meio aberto, representa uma

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38alternativa à imposição da medida de internação. Como afirma o art. 120 do

ECA:

O regime de semiliberdade pode ser determinado desde o início, ou como forma de transição para o meio aberto, possibilitada a realização de atividades externas, independentemente de autorização judicial. § 1.° É obrigatória a escolarização e a profissionalização, devendo, sempre que possível, ser utilizados os recursos existentes na comunidade. § 2.° A medida não comporta prazo determinado, aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à internação.

A semiliberdade coincide com o Instituto Penal Agrícola, Industrial ou

similar, ou ainda com a Casa do Albergado, locais que se destinam ao

cumprimento de penas privativas de liberdade em regime aberto, conforme

dispõem os arts. 33 do Código Penal (CP) e 91 e 93 da Lei de Execução Penal

(LEP). O próprio legislador estatutário, no artigo mencionado, referiu-se a

semiliberdade como regime. Sobre sua execução, o Conselho Nacional de

Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente - Conanda estabeleceu nos

arts. 1º e 2º da Resolução nº 47 que:

Art. 1.º O regime de semiliberdade, como medida socioeducativa autônoma, deve ser executado de forma a ocupar o adolescente em atividades educativas, de profissionalização e de lazer, durante o período diurno, sob o rigoroso acompanhamento e controle de equipe multidisciplinar especializada, e encaminhado ao convívio familiar no período noturno, sempre que possível. Art. 2.º A convivência familiar e comunitária do adolescente sob o regime de semiliberdade deverá ser, igualmente, supervisionada pela mesma equipe multidisciplinar. Parágrafo único. A equipe multidisciplinar especializada incumbida do atendimento do adolescente na execução da medida de que trata este artigo, deverá encaminhar, semestralmente, relatório circunstanciado e propositivo ao Juiz da Infância e Juventude competente.

b) Medida de internação

A medida de internação corresponde a mais grave das medidas

socioeducativas, pelo grau de interferência na esfera de liberdade individual

dos jovens. Dispõe o art. 121 do ECA:

A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. § 1. º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário. § 2.º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção

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39ser reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses. § 3.º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos. § 4.º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de semiliberdade ou de liberdade assistida. § 5.º A liberação será compulsória aos 21(vinte e um) anos de idade. § 6.º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização judicial, ouvido o Ministério Público.

A medida de internação consiste em real e efetiva privação de

liberdade em estabelecimento destinado a adolescentes, porém assemelhado

aos estabelecimentos prisionais, dadas suas características de instituição total.

Como decorre da disposição legal estatutária, a medida de internação

não poderá exceder a três anos, mas sua imposição é indeterminada, sujeita à

periódica reavaliação pelo setor técnico das unidades de privação de liberdade.

O fato de a medida de internação não ser apreciada é um dos traços distintivos

em relação às penas criminais. Todavia nas medidas socioeducativas, a

prevenção especial realiza-se mediante conteúdo estratégico, conteúdo este

capaz de propiciar ao jovem a aquisição de condições objetivas que lhe

permitam enfrentar desafios do cotidiano sem a utilização de recursos que

importem a violação de direitos de outrem (MACEDO, 2008). Tal aquisição de

condições objetivas consiste num processo dinâmico, que é justamente o

processo socioeducativo, que se realiza continuamente no decorrer do

cumprimento da medida. E, considerando que cada adolescente é um sujeito

único e distinto, cada um terá desenvolvimento próprio, sendo avaliado

periodicamente pelos técnicos responsáveis e, sobretudo, pela autoridade

judiciária, que deverá decidir sobre a necessidade ou não da manutenção da

medida de internação.

Nesse contexto, a avaliação periódica adquire especial importância,

uma vez que é por meio dela que se pode aferir o desenvolvimento de cada

jovem no curso da medida. O prazo de seis meses estabelecido pela lei

corresponde ao decurso máximo permitido e não a uma regra que deva ser

seguida pelas instituições encarregadas da execução da medida, ou seja, o

adolescente deve ser avaliado no mínimo a cada seis meses. Com o intuito de

evitar a ausência de avaliação, os juízes têm-se manifestado nas sentenças,

estabelecendo prazos determinados para cada adolescente dentro do marco

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40legal. Outro aspecto ainda pouco observado refere-se à possibilidade de o

adolescente realizar atividades externas à unidade de privação. Quanto à

escolha da medida de internação como a mais adequada, observe-se o art.

122:

A medida de internação só poderá ser aplicada quando: I- tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa; II- por reiteração no cometimento de outras infrações graves; e III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta. § 1.° O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses. § 2.° Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada.

A redação do art. 122 descrito acima conduz à verificação de

pressupostos ou condições objetivas para a imposição da medida. São eles: a

grave ameaça ou violência à pessoa no cometimento do ato infracional; a

reiteração no cometimento de outras infrações graves; ou o descumprimento

reiterado e injustificável de medida anteriormente imposta. Ressalte-se ainda

que o § 2° do referido artigo é taxativo ao estabelecer que em nenhuma

hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada. Resta

seu caráter altamente aflitivo e, portanto, de último recurso a ser utilizado.

Assim sendo, mesmo que as circunstâncias do ato infracional correspondam às

condições descritas no art. 122, isto não significa que seja escolhida e

autorizada automaticamente à medida de internação (GOMIDE, 2007).

Não é a simples alusão à gravidade do ato praticado que determina a

escolha da medida privativa de liberdade. A imposição da internação somente

é admitida da conjunção de todos os elementos e não somente da verificação

sobre se o ato é grave. Ainda sobre a adequação da medida de internação e

sua natureza excepcional, Paulo Afonso Garrido de Paula entende que:

O traço de instrumentalidade da tutela diferenciada consiste na concepção de que a medida socioeducativa serve como instrumento de defesa social, ao mesmo tempo em que se consubstancia como meio de intervenção no desenvolvimento do jovem. Da interpretação dos elementos dessa instrumentalidade é que se extrai a adequação da medida socioeducativa a ser definida no caso concreto, não guardando relação direta com o ato infracional praticado. Por isso o legislador não vinculou diretamente certo ato infracional com determinada medida socioeducativa, ficando sempre ao encargo da autoridade judiciária compor os elementos da instrumentalidade, à luz das particularidades do caso concreto (2002, p. 145).

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41

Assim sendo, a privação de liberdade, somente é cabível diante da

verificação dos pressupostos objetivos e como condição necessária para que

se realize a socioeducação do adolescente. Durante o período de internação,

inclusive provisória, serão obrigatórias a utilização de atividades pedagógicas

de acordo com o art. 123, parágrafo único da Lei nº 8.069/90. Ainda que

Estatuto tenha cuidado de definir de forma expressa os direitos dos

adolescentes privados de liberdade, o cumprimento e o respeito aos

dispositivos do art. 124 ainda encontram acentuada resistência nas instituições

de privação de liberdade de adolescentes:

São direitos do adolescente privado de liberdade, entre outros, os seguintes: I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do Ministério Público; II - peticionar diretamente a qualquer autoridade; III - avistar-se reservadamente com seu defensor; IV - ser informado de sua situação processual sempre que solicitada; V - ser tratado com respeito e dignidade; VI - permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável; VII - receber visitas, ao menos semanalmente; VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos; IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio pessoal; X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene e salubridade; XI - receber escolarização e profissionalização; XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer; XIII - ter acesso aos meios de comunicação social; XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e desde que assim o deseje; XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local seguro para guardá-los, recebendo comprovante daqueles porventura depositados em poder da entidade; XVI - receber, quando de sua desinternação, os documentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade. § 1.º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade. § 2.º A autoridade judiciária poderá suspender temporariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialidade aos interesses do adolescente.

A restrição da liberdade deve significar apenas limitação do exercício

pleno do direito de ir e vir e não de outros direitos constitucionais.

2.2 Situação do menor perante a lei

Para compreender-se a situação do menor perante a lei, é importante

destacar que o Código Penal do Império, publicado em 16.12.1830, assim

dispunha:

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42“Art. 10. Também não se julgarão criminosos:

1º Os menores de quatorze anos.

Art. 13. Se se provar que os menores de quatorze anos, que tiverem

cometido crimes, obraram com discernimento, deverão ser recolhidos ás casas

de correção, pelo tempo que ao Juiz parecer, com tanto que o recolhimento

não exceda á idade de dezesete anos”.

O Código Penal da Republica, 1890, embora continuasse a considerar

criminosos os menores de 14 a 17 anos, passou a punir também aqueles com

idade entre 09 e 14 anos, desde que provado terem agido com discernimento,

e cuja punição consistia em recolhimento a estabelecimentos disciplinares

industriais pelo tempo que o juiz achasse necessário, não devendo ultrapassar

os 17 anos.

Este código, no entanto, marca a primeira grande fase de atuação do

Estado frente ao menor infrator ao atacar a questão social da infância infratora

em seus aspectos mais fundamentais: "a imputabilidade absoluta; o tratamento

diferenciado para menores infratores; os lugares especiais para o recolhimento

dessas crianças; a vadiagem infantil, e o comportamento sexual dessas

crianças" (MARCÍLIO, 2000, p. 40).

As primeiras estatísticas criminais, elaboradas em 1900, já revelam,

segundo Mary Del Priore (1999, apud MACEDO, 2008) que "esses filhos da

rua, então chamados de pivetes (sic), eram responsáveis por furtos,

gatunagem, vadiagem e ferimentos, tendo na malícia e na esperteza as

principais armas de sobrevivência. [g] já sabemos desde o início do século: a

rua é um meio de vida".

Adriana de Resende B. Vianna (1999, apud MACEDO, 2008), investiga

o processo de construção de um personagem social, o "menor" ("menoridade"

possuindo sentidos diferentes dos de "infância"), através da atuação da polícia

(relação menor - polícia) e da classificação desses indivíduos (o termo "menor"

seguido de adjetivos como "vadio", "abandonado", entre outros).

A partir de 1999 foram criadas várias instituições para proteger a

infância desamparada, entre elas pode-se citar o Instituto de Proteção e

Amparo à Infância (IPAI), fundado em 1899, no Rio de Janeiro, pelo Dr.

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43Moncorvo Filho; o Instituto Disciplinar de São Paulo (São Paulo); a Escola

Premonitória Quinze de Novembro (Rio de Janeiro); a Escola de Menores

Abandonados (Rio de Janeiro); a Colônia Correcional de Dois Rios (Rio de

Janeiro), e o Instituto João Pinheiro (Minas Gerais).

Segundo Maria Luiza Marcílio (2000, apud MACEDO, 2008, p. 41), o

objetivo dessas instituições era proporcionar "uma educação saudável,

regeneradora, em um ambiente disciplinar e normatizado, onde se ensinaria

particularmente o amor ao trabalho, o culto à pátria, os valores éticos de uma

sociedade liberal-burguesa". Essas instituições ensinavam as letras e também

algum ofício, para que as crianças, entendidas no período como "matéria

facilmente moldável", se transformassem em cidadãos disciplinados e

trabalhadores.

No século XX médicos e legisladores criaram instituições de

confinamento para que crianças fossem transformadas em cidadãos úteis e

produtivos, e os “menores da rua” do Século XIX, passaram a “menores de

rua”, no século XX.

Ao que tudo indica a mudança de preposição foi a única que ocorreu

na situação do menor, tendo em vista, que nenhuma melhoria se percebeu no

século XXI.

Com a promulgação do Código de Menores de 1979, foram criadas as

entidades de assistência e proteção ao menor infrator pelo Poder Público, e

atendendo às reinvidicações por melhoria em suas condições, foi editado o

Estatuto da Criança e do Adolescente, em 13.07.90, que reproduz o artigo 227

da Constituição Federal, quanto às garantia das crianças e adolescentes, que

passam a ser considerados sujeitos de direito assegurado pela Família, Estado

e Sociedade.

No antigo Código de Menores, o menor infrator não tinha direito à

defesa, bastando para seu julgamento que o juiz o achasse perigoso,

prendendo-o, sem prazo para ser libertado, ficando a liberdade a critério de

avaliações realizadas no prazo máximo de dois anos, até que fosse

considerado apto a ser colocado em liberdade. Era, portanto, um julgamento

arbitrário. Não resta dúvidas que o ECA (Lei nº 8.069/90) surgiu cheio de boas

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44intenções para beneficiar o menor infrator, como pode-se constatar em seus

artigos.

Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação

dos direitos da criança e do adolescente.

Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a informação, cultura,

lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem

sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem da prevenção

especial outras decorrentes dos princípios por ela adotados.

Art. 73. A inobservância das normas de prevenção importará em

responsabilidade da pessoa física ou jurídica, nos termos desta Lei.

Quem está sendo responsabilizado, afinal, pelos oito milhões de

crianças abandonadas no Brasil, sem os direitos garantidos em lei? Destas,

segundo dados da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, 60 mil

adolescentes estão cumprindo medidas sócio educativas, sendo 14 mil em

regime de internação e os demais em regime aberto.

No Rio de Janeiro, somente na Comarca da Capital, tem 3097 menores

cumprindo medida socioeducativa, sendo 1043 por crimes contra a pessoa e

1170 contra o patrimônio. E qual a finalidade das medidas socioeducativas?

Exatamente ressocializar o menor para o retorno à convivência social e

familiar, de forma livre e responsável (GOIMITT, 2011)

A medida socioeducativa de internação é o sinal de que todas as

outras foram em vão, não surtindo o efeito desejado. Porém, para que isso

ocorresse seria necessário instituições bem aparelhadas, muito mais

profissionais competentes, e principalmente, a efetiva vontade das autoridades

em educar e preparar não só o menor infrator , mas também o carente para se

tornar um homem de bem, sociável, e verdadeiramente inserido no contexto

social, com todos os seus direitos garantidos, e seus deveres cumpridos, além

do acompanhamento familiar.

No ECA, o artigo 94 determina que: “As entidades que desenvolvem

programas de internação têm as seguintes obrigações, entre outras: I -

observar os direitos e garantias de que são titulares os adolescentes; II - não

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45restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de restrição na decisão de

internação; III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas unidades e

grupos reduzidos; IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e

dignidade ao adolescente; V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da

preservação dos vínculos familiares; VI - comunicar à autoridade judiciária,

periodicamente, os casos em que se mostre inviável ou impossível o

reatamento dos vínculos familiares; VII - oferecer instalações físicas em

condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e os

objetos necessários à higiene pessoal; VIII - oferecer vestuário e alimentação

suficientes e adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos; IX -

oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontológicos e farmacêuticos; X -

propiciar escolarização e profissionalização; XI - propiciar atividades culturais,

esportivas e de lazer; XII - propiciar assistência religiosa àqueles que

desejarem, de acordo com suas crenças; XIII - proceder a estudo social e

pessoal de cada caso; XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo

máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à autoridade competente;

XV - informar, periodicamente, o adolescente internado sobre sua situação

processual; XVI - comunicar às autoridades competentes todos os casos de

adolescentes portadores de moléstias infecto-contagiosas; XVII - fornecer

comprovante de depósito dos pertences dos adolescentes; XVIII - manter

programas destinados ao apoio e acompanhamento de egressos; XIX -

providenciar os documentos necessários ao exercício da cidadania àqueles

que não os tiverem.”

Paula Goimitt destaca entre outros estudiosos que: Escolas correcionais são organizações formais, com código de comportamento bem definidos, que proporcionam ambiente para aprendizagem de novas respostas sociais. O sistema de valores em que os menores infratores são submetidos é, inevitavelmente, mais criminoso do que o do mundo externo, porque todos os internos cometeram algum tipo de delito, aperfeiçoando assim suas habilidades para o crime (2011, p. 2).

Efetivamente a proposta é excelente, mas a prática é bem diversa.

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46

CAPÍTULO III

MENOR INFRATOR: AÇÃO SOCIOEDUCATIVA E A IMPOSIÇÃO DAS MEDIDAS

Entendida como imprescindível à resposta socioeducativa tem início o

processo de apuração do ato infracional, adstrito a todos os requisitos formais,

tais como pressupostos objetivos da representação inicial apta, competência do

juízo, citação inicial válida, intimação dos pais ou responsável, oitiva familiar,

defesa prévia, regular instrução do feito e sentença formal. Tais requisitos

encontram-se reforçados no art. 111 do ECA. Assim, determina o art. 182 do

ECA:

Se, por qualquer razão, o representante do Ministério Público não promover o arquivamento ou conceder a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária, propondo a instauração de procedimento para aplicação da medida socioeducativa que se afigurar a mais adequada. § 1.° A representação será oferecida por petição, que conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas, podendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada pela autoridade judiciária. § 2. ° A representação independe de prova pré-constituída da autoria e materialidade.

Não obstante a representação pelo Ministério Público implicar o

reconhecimento do ato infracional, a regra do § 2.° supramencionado abre a

possibilidade de instauração do procedimento sem prova pré-constituída da

materialidade e autoria do fato, o que fere as garantias jurídico-processuais do

adolescente.

Se de um lado é a representação que gera a providência de

designação da audiência de apresentação, conforme o art. 184 do ECA, de

antemão enseja em determinados casos a decretação da internação provisória,

evidente restrição de liberdade do adolescente, que no mínimo pode afigurar-

se como constrangimento ilegal em face da inexistência de indícios suficientes

de autoria e materialidade.

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47Uma vez oferecida à representação, independentemente de decretada

a internação provisória, a lei estabelece que cabe à autoridade judiciária

designar data para a audiência de apresentação do adolescente e de seus pais

ou responsáveis. A audiência é de realização compulsória e pode definir a

medida a ser aplicada.

Por essa razão, a audiência de apresentação exige a presença do

defensor, que possui prazo de três dias a partir da data da audiência para

oferecer a defesa prévia. Contudo, na própria audiência o magistrado pode

entender adequada a remissão, que nesse caso opera como perdão que

extingue o processo, ou a suspensão com imposição de medida não privativa

de liberdade. Essa hipótese de remissão após o oferecimento da

representação, porém antes da sentença, somente pode ser concedida pelo

juiz, ouvido o Ministério Público na audiência, e está prevista no art. 188 do

ECA.

Raras são as hipóteses de realização de audiência em continuação. A

regra é a definição da medida socioeducativa já na primeira audiência, muitas

vezes sem a oitiva de testemunhas. Se a defesa entender importante que suas

testemunhas sejam ouvidas, deverá pleitear a realização de nova audiência.

Discute-se por parte da defesa a conveniência e oportunidade de exigir nova

audiência quando o jovem se encontra internado provisoriamente, pois as

vicissitudes são tão grandes que é possível que, abreviando-se o tempo de

definição da medida, seja imposta uma medida mais branda do que a que o

jovem cumpre ainda na fase de conhecimento. De todo modo, a questão

principal é fazer valer o disposto no art. 189 da lei, no sentido de que qualquer

medida imposta esteja respaldada pela comprovação inequívoca da existência

do ato infracional, com provas da autoria.

As condições sóciopolíticas e o grau de organização das instituições

encarregadas do cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente são

elementos fundamentais ante a tarefa de verificação da eficácia e do grau de

efetividade que tem a lei. Por esse prisma, de acordo com José Eduardo Faria

fica evidenciado o mesmo contraste histórico que se observa na análise da

eficácia da ordem constitucional a partir de 1988: "um contraste histórico entre

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48o formal e o real, entre o que é concedido em direito, porém negado em termos

concretos" (1997, apud MACEDO, 2008, p. 193).

Tomando por base o conceito de eficácia em Kelsen, tem-se que, seja

para a ordem jurídica como um todo, seja para a norma jurídica em particular, a

eficácia desponta como uma condição de validade. Essa relação entre validade

e eficácia é fundamental, na medida em que a última fortalece a fixação

positiva da norma e sua capacidade de produzir efeitos jurídicos na regulação

de situações, relações e comportamentos que estejam previstos.

Em outras palavras, a eficácia diz respeito à aplicabilidade e à

exigibilidade das diferentes normas em vigor, ou seja, à demonstração de

validade, no mesmo sentido de existência do sistema legal. Tratando-se de

concepção rigorosamente lógico-formal, não levam em consideração os

objetivos que possam estar por detrás de cada norma, ou mesmo de todo o

sistema legal. Pode-se dizer, ainda, que não importa se a lei é justa ou se foi

devidamente aplicada, mas que esteja em conformidade com o ordenamento.

Ainda, como argumenta José Eduardo Faria, “o direito nessa perspectiva não

passa de uma moldura vazia de valores ideológicos e desvinculada de seu

contexto sociopolítico e econômico” (1997, apud MACEDO, 2008, p. 195).

Já do ponto de vista sociológico, as normas são efetivas quando as

condições socioeconômicas, políticas, culturais e ideológicas favorecem seu

reconhecimento e a aceitação por parte de seus destinatários. Ainda de acordo

com José Eduardo faria:

Essa dimensão substantiva possibilita uma dupla análise: a visão crítica dos objetivos previstos pelas normas e seu resultado em determinado contexto sociopolítico, e a avaliação histórica da efetiva aplicação material das normas diante de valores culturais enraizados entre os diferentes destinatários das leis num determinado sistema social (1997, apud MACEDO, 2008, p. 196).

Este segundo aspecto permite afirmar que a eficácia também se

demonstra pelo grau de "internalização" das leis, dos códigos e das normas, de

modo que os cidadãos incorporem que tais regras não devem ser violadas.

Desde Beccaria, reconhece-se a "instabilidade errante das

interpretações" (1997, p. 63). No caso do direito penal juvenil, diversas são as

distorções e falhas de hermenêutica. Não só isso, a verificação dos

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49procedimentos atinentes à justiça juvenil revela acentuada resistência às

mudanças introduzidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. A aplicação

e a execução das medidas socioeducativas não refletem a concretização dos

princípios e garantias que informam o sistema.

A tentativa é a de demonstrar os principais entraves à observância da

legislação, especialmente no tocante ao contraditório, à presunção da

inocência, e à proporcionalidade das sanções. Conforme regulamenta a Lei nº

8.069/1990, a apreensão de adolescentes somente é admissível em flagrante

de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária

competente, correspondendo ao que dispõe o art. 106 do ECA. Essa regra

impede que sejam realizadas apreensões com o fim de averiguação, ou ainda

em caso de adolescente em situação de rua que não tenha cometido nenhum

ilícito, e corresponde em exata medida à garantia constitucional do art. 5.°,

incisos LXIII e LXIV, de que ninguém será detido senão em flagrante delito.

De outra parte, a definição de flagrante delito também é indispensável

para a legitimidade da apreensão de um adolescente. Nesse ponto, devem

valer as regras do art. 302 do CPP, pelas quais o flagrante se estabelece

quando o adolescente: está cometendo ato descrito como crime ou

contravenção penal; acaba de cometê-lo ou é perseguido, logo após, pela

autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa em situação que faça

presumir ser autor de ato infracional; e, por fim, quando é encontrado logo

depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que também façam

presumir ser ele o autor do fato.

Da mesma forma que para os adultos, o flagrante constitui dever de

ofício das autoridades policiais e seus agentes, sem prejuízo, contudo, de que

qualquer do povo o faça. Está disciplinado no art. 172 do ECA, com destaque

ao parágrafo único: O adolescente apreendido em flagrante de ato infracional

será, desde logo, encaminhado à autoridade policial competente. Parágrafo

único. Havendo repartição policial especializada para atendimento de

adolescente e em se tratando de ato infracional praticado em co-autoria com

maior, prevalecerá a atribuição da repartição especializada, que após as

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50providências necessárias e conforme o caso, encaminhará o adulto à

repartição policial própria.

A norma do parágrafo único do artigo mencionado é na maior parte das

vezes aplicada às avessas. A inexistência de repartições especializadas que

consistiriam em Delegacias Especializadas da Criança e do Adolescente

favorece que os adolescentes que atuaram em concurso com adultos sejam

conduzidos em camburões da polícia algemados, em franco descumprimento

da lei, e não raro permaneçam em celas e carceragens de distritos policiais. A

bem da verdade, mesmo atuando individualmente, a falta de unidades de

atendimento inicial descentralizadas e regionalizadas, competência dos

Poderes Executivos estaduais, tem permitido essa situação. De acordo com o

art. 178 do ECA: O adolescente a quem se atribua a autoria de ato infracional

não poderá ser conduzido ou transportado em compartimento fechado de

veículo policial, em condições atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem

risco à sua integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade.

Vale dizer, ainda, que, na hipótese de concurso de agentes envolvendo

um adolescente e um adulto, deve-se lavrar um único auto de prisão em

flagrante para o maior de 18 anos e de apreensão para o adolescente.

A apreensão do adolescente é condicionada a regras bastante rígidas.

A primeira delas corresponde ao texto do art. 107 do ECA, que determina que a

apreensão de qualquer adolescente e o local onde se encontra recolhido sejam

incontinenti comunicados à autoridade judiciária competente e à família do

apreendido, ou pessoa por ele indica da. E o mesmo dispositivo, em seu

parágrafo único, exige que a imediata liberação do adolescente seja

examinada, sob pena de responsabilidade.

Do dispositivo estatutário decorre, portanto, o dever da autoridade

policial na comunicação do juiz e da família do adolescente. O art. 147, § 1º, do

ECA define a competência da autoridade judiciária em se tratando de ato

infracional como a autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as

regras e conexão, continência e prevenção. Correspondente às disposições

dos arts. 76, 77 e 83 do CPP e também ao art. 4º do CP no que se refere ao

domicílio da culpa.

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51O descumprimento desse dever tem conseqüências danosas para o

adolescente, uma vez que o art. 174 do ECA condiciona a pronta liberação do

adolescente ao comparecimento dos pais ou do responsável e à assinatura por

parte destes de termo de compromisso e responsabilidade atestando que o

jovem irá apresentar-se ao representante do Ministério Público no mesmo dia

ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato.

Destaque-se, ainda, que a não-liberação do adolescente, tendo

comparecido os responsáveis, é exceção à regra da imediata liberação, restrita

aos casos de ato infracional de gravidade e de repercussão social, quando a

internação do adolescente seja condição para sua segurança pessoal ou para

a manutenção da ordem pública.

Em pesquisa realizada pelo Instituto Latino-Americano das Nações

Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente - Ilanud/Brasil

com 2.100 adolescentes apreendidos no período de junho de 2000 a abril de

2001 (REVISTA LLANUD, 2003), constatou-se que em apenas metade dos

casos (50,6%) os adolescentes tiveram suas famílias contatadas pela polícia,

nos termos do art. 107 do ECA. Quando questionados se a família estava

presente quando da lavratura do boletim de ocorrência, apenas 39,9% dos

adolescentes responderam positivamente e 36,5% não souberam sequer

responder à pergunta. Essa é uma questão de extrema importância, pois a

ausência da família opera em prejuízo do jovem, sendo que em grande parte

das situações as famílias não possuem condições financeiras para deslocar-se,

residem em bairros distantes ou não possuem telefone.

O art. 174 do ECA evidencia que a comunicação da família é um direito

dos adolescentes que foram apreendidos, pois, uma vez comparecendo a

família na delegacia, os adolescentes devem ser imediatamente liberados, sob

termo de compromisso de apresentação ao representante do Ministério Público

no mesmo dia ou no primeiro dia útil imediato.

A não-liberação do adolescente quando da presença dos pais ou

responsáveis restringe-se às hipóteses de prática de ato infracional grave ou

de repercussão social, com ameaça à segurança pessoal do jovem ou

necessidade de manutenção da ordem pública.

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52A condição especial ou peculiar de pessoa em desenvolvimento,

conferida à criança e ao adolescente pela norma estatutária, com fulcro na

orientação constitucional, deve ser o motivo sobre o qual se assenta a

prestação jurisdicional e, em especial, a jurisdição executiva. Em relação a

pretensão socioeducativa torna-se necessário observar a representação da

criança e do adolescente.

A representação invoca a tutela jurisdicional para que tal resposta se

efetive. O inciso III do art. 180 do ECA, no entanto, não especifica prazo para o

oferecimento da representação. Trata-se, portanto, de um dos temas mais

polêmicos na atualidade, que levanta as seguintes questões: O poder-dever do

Estado de aplicação de medidas socioeducativas é perpétuo? Ou melhor, quais

os limites para a imposição de uma medida socioeducativa levando em conta a

ação do tempo? Dois aspectos importantes emergem desse questionamento. O

primeiro é o referente ao poder-dever do Estado em aplicar as medidas

socioeducativas subordinadas à verificação da personalidade do adolescente

na época de imposição da medida e não à época do fato, sob pena de perder

suas finalidades principais de prevenção e socialização. O segundo

corresponde à caracterização do sistema de justiça da infância e juventude,

que se sustenta na celeridade e pronta prestação jurisdicional como condições

necessárias para que a intervenção socioeducativa tenha eficácia.

A medida somente apresenta eficácia pedagógica se possuir um

vínculo de ligação no tempo e espaço com o ato praticado, de modo a

funcionar como instrumento de socialização efetiva e não de mera retribuição.

Se quebrado esse compromisso, a medida perde suas finalidades principais, e

apenas se converte em imposição de um mal, em castigo e retribuição

descompromissados.

Se de um lado se reconhece o caráter sancionatório das medidas

socioeducativas elencadas no art. 112 do ECA, de outro reforça-se que o

direito penal juvenil distingue-se do direito penal tradicional tendo em vista seus

destinatários. A condição de desenvolvimento dos jovens impõe que a resposta

estatal tenha um conteúdo eminentemente pedagógico, capaz de propiciar a

aquisição de condições positivas objetivas. Evidentemente, o direito penal

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53juvenil não pode ser mais severo que o direito penal, ou, ainda, a justiça da

Infância e juventude não pode ser mais seletiva e estigmatizante que o sistema

criminal.

Para os adultos, as regras do art. 109 do CP permitem que, de acordo

com a gravidade do ato, determinadas punições não ocorram quando o tempo

já extinguiu sua lembrança ou quando o indivíduo já demonstrou sua

readaptação ao convívio social. Melhor dizendo, as regras do art. 100 e ss. do

CP e também as disposições do Código de Processo Penal limitam o poder de

agir pela prescrição e decadência.

No campo do direito penal juvenil, a doutrina e a jurisprudência ainda

se omitem sobre a eventual incidência do instituto da prescrição na apuração

de atos infracionais e conseqüente imposição de medidas socioeducativas.

Atualmente, diante do silêncio da legislação estatutária sobre prazo

prescricional, a reflexão vem sendo orientada pela conjunção dos princípios

que informam o sistema. Conforme Paulo Afonso Garrido de Paula: "Uma das

características marcantes das medidas socioeducativas é a precariedade,

entendida como sua natureza provisória, ou seja, cumpridas suas finalidades

desaparece por completo sua razão de ser (2002, p. 149)."

De outro lado, tomadas às finalidades já mencionadas da prevenção e

da reeducação e socialização, em consonância com os princípios da proteção

integral e da condição peculiar de desenvolvimento dos adolescentes a quem

se impõem às medidas, resta inequívoca a conclusão de que a ação do tempo

faz desaparecer o interesse do Estado não só em constatar a infração como

também em executar a medida. Alguns tribunais também têm reconhecido a

prescrição tanto da pretensão socioeducativa como da pretensão executiva da

medida.

Dependendo da medida imposta, será cumprida: em estabelecimento

fechado, em unidade de moradia da semiliberdade ou em unidade de

internação; ou em programa governamental ou não-governamental, em regime

aberto.

Ao discutir as modalidades de medidas socioeducativas, os respectivos

regimes e as peculiaridades de cada uma das medidas já foram detalhados. No

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54entanto, há dois aspectos referentes à execução que incidem sobre todas elas:

a progressividade e a fungibilidade.

A progressividade das medidas tem ligação direta com o princípio de

respeito à condição peculiar de desenvolvimento do adolescente e revela-se de

forma concreta na indeterminação de prazos, que são indicados pelo Estatuto

como máximos ou mínimos legais. Por exemplo, a medida de internação não

comporta prazo determinado, não podendo, contudo, exceder a marca de três

anos de privação da liberdade do adolescente. Já a medida de liberdade

assistida somente pode ser imposta pelo prazo mínimo de seis meses.

O legislador objetivou com isso reforçar que cada medida terá uma

duração própria em face da peculiaridade de cada adolescente no curso do

processo socioeducativo que lhe é imposto. A permanência do jovem, a

prorrogação da medida ou sua extinção, tudo isso depende do

desenvolvimento de cada adolescente e dos efeitos positivos que as medidas

possam surtir.

A fungibilidade se dá pela possibilidade de substituição da medida

socioeducativa a qualquer tempo, a fim de adequar a resposta estatal ao

dinamismo que o processo socioeducativo possui, e também ao

desenvolvimento do adolescente durante o cumprimento da medida.

As duas características indicam, portanto, que as medidas devem ser

executadas de forma progressiva, respeitando o desenvolvimento de cada

jovem, e também por isso podem ser modificadas a qualquer momento. Essas

duas características são interligadas. Ocorre que a avaliação de cada

adolescente no cumprimento da medida é realizada pelos orientadores ou

técnicos que encaminham seus relatórios de acompanhamento ao juiz da

execução.

Especialmente na medida de internação, essa avaliação é realizada

por psicólogos ou assistentes sociais do corpo da Fundação do Bem-Estar do

Menor, com periodicidade obrigatória determinada na sentença. Aliás, o art.

121, § 2.°, do ECA determina que a internação seja reavaliada, mediante

decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses.

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55A reavaliação é realizada pelo juiz, que deve fundamentar sua decisão

pela manutenção, substituição ou extinção da medida. Entretanto, o magistrado

o faz mediante as informações que recebe dos técnicos que acompanham o

adolescente. Somente o relatório que recebe o nome de "técnico conclusivo"

traz uma avaliação mais detalhada, já que indica que a medida já cumpriu sua

finalidade e deve ser concluída. O resultado perverso é que somente este

último recebe a devida atenção por parte da justiça. Representantes do

Ministério Público, juízes da execução e mesmo os defensores só se debruçam

sobre os relatórios quando rotulados de conclusivos. Esta prática retira do juiz

a tarefa de avaliar de fato periodicamente a medida e, por fim, impede qualquer

progressão ou substituição de medida sem a anuência da própria Febem ou

daqueles que diretamente acompanham o adolescente.

É importante ressaltar que a substituição de uma medida por outra

somente pode ser admitida com a observância do devido processo legal.

Podendo significar uma regressão para situação mais severa, o adolescente

deve ser ouvido, do contrário implicaria uma reforma de sentença sem a

existência de recurso, o que corresponderia na esfera penal a uma substituição

de pena por despacho interlocutório. É o tema da regressão de medida.

A regressão de medida socioeducativa é cabível quando o adolescente

descumpre medida anteriormente imposta pelo juiz. Nesse caso, pode sofrer

uma sanção, que se convencionou chamar de "internação-sanção". Essa

medida e sanção é aplicada pelo juiz da execução (Departamento de Execução

da Infância e Juventude) e tem prazo máximo de três meses, como já foi

discutido ao tratar da internação. Deve-se entender essa internação-sanção

como a conjunção dos dois pressupostos: o não-cumprimento reiterado e

injustificado da medida anteriormente imposta.

Na prática, essa internação-sanção sofre inúmeras distorções. Em vez

de ser aplicada apenas pelo juiz da execução, visto decorrer do

descumprimento de outra medida acompanhada pelo Departamento de

Execuções da Infância e Juventude (DEIJ), é freqüentemente aplicada pelo juiz

da Vara do conhecimento. Isso ocorre quando o jovem, já inserido em medida

anterior distinta da internação, envolve-se em nova infração. Essa nova

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56infração gera um novo processo na Vara do conhecimento e, ao aplicar a

medida, o juiz toma essa nova infração como indicadora de descumprimento da

medida anteriormente fixada (acompanhada no DEIJ), aplicando a internação-

sanção.

Não bastasse a usurpação da competência do DEIJ, o juiz ainda

estabelece um prazo determinado, e não sujeito à avaliação, apontando a

exata data em que o jovem deve ser liberado. Por fim, é evidente que, com

base em suposto descumprimento de medida anterior, sequer avalia a

proporcionalidade dessa sanção em face do ato infracional praticado. Discutiu-

se também em que medida o cometimento de nova infração possa configurar

descumprimento da sanção, já que não são raros os casos de adolescentes

inseridos no regime de semiliberdade ou liberdade assistida que apresentam

cumprimento adequado à sentença, cumprindo com suas obrigações, mas que

por outro lado ainda inflacionam.

Em casos como esses, normalmente o jovem é liberado na data

determinada, ou seja, após os três meses da internação-sanção. Contudo, há

casos em que, antes de liberar o adolescente, o juiz sugere uma avaliação pela

equipe técnica do juízo, composta por assistente social e psicóloga, que

reiteradamente manifesta-se pela permanência do adolescente, substituindo

assim a internação-sanção por internação por tempo indeterminado, havendo a

regressão de sua medida.

Essa regressão não corresponde à regressão prevista pelo art. 118 da

LEP, destinada a condenados adultos. Nesta há uma regressão de regime de

cumprimento da pena, para regime mais rigoroso. Portanto, não há uma

substituição da resposta penal ao ilícito cometido. No caso dos adolescentes,

quando ocorre a regressão da internação-sanção (máximo três meses) para

internação por prazo indeterminado, tem-se uma efetiva substituição da

resposta sancionatória por medida mais drástica.

Paralelamente, mesmo a regressão de regime presente na LEP não

dispensa que o condenado seja previamente ouvido. Observa-se, ainda, nas

decisões que fazem regredir a medida dos adolescentes, que muitas vezes

estes não são sequer ouvidos, sendo impedidos, assim, de expressar as

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57razões do descumprimento de medida anteriormente imposta, e não podendo

resistir adequadamente ao pressuposto do descumprimento injustificado.

Muito embora o art. 99 do ECA preveja a substituição e/ou cumulação

de outras medidas a qualquer tempo, a medida de internação está

condicionada à excepcionalidade e brevidade, conforme já mencionado.

Ademais, a internação só deve ser aplicada nos casos em que não há qualquer

outra medida adequada. O legislador foi taxativo quanto às hipóteses de

aplicação no art. 122 da lei.

Com efeito, a aplicação da internação-sanção nas hipóteses de

cometimento de novo ato, e sua posterior conversão em internação definitiva,

têm sido mais um instrumento de banalização da medida de internação, sem

qualquer observância de sua adequação à gravidade do ato e às condições

pessoais do adolescente. Não só a imposição da medida de internação é fonte

de violação aos direitos dos adolescentes. Hoje, é público e notório que a

execução da medida nas unidades de privação de liberdade é o exemplo

extremo do terror e da falência do sistema.

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58

CONCLUSÃO

A prática de atos infracionais cometidos por menores de idade é um

assunto que gera polêmica. Algumas abordagens, especialmente em

momentos de comoção nacional levam a população a crer que há um aumento

da violência praticada pela população infanto-juvenil. Tal equivoco interpretado

acaba contribuindo para que a sociedade veja na redução da maioridade penal

a solução para tais problemas.

É importante ressaltar que o Estatuto da Criança e Adolescente, ECA

não protege os autores de ato infracional, eles são responsabilizados por seus

atos, mas de acordo com sua condição especial de cidadão em

desenvolvimento. Os artigos 100 “Na aplicação das medidas levar-se-ão em

conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao

fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários” ao 125 “É dever do

Estado zelar pela integridade física e mental dos internos, cabendo-lhe adotar

as medidas adequadas de contenção e segurança” do ECA dispõem os

mecanismos legais pelos quais as crianças e adolescentes em conflito com a

lei devem ser submetidos.

No entanto, é importante lembrar que as crianças respondem pelos

seus atos, mas junto aos seus pais ou responsáveis, o que se chama de

medidas de proteção, já os adolescentes respondem junto ao juizado da

infância e da juventude, através de medidas sócio educativas. O ato ilícito

praticado por menores de 18 anos é aquele tipificado nas leis penais, e, em

especial no Código Penal.

Desde as primeiras disposições pelos Códigos Penais retribucionistas,

passando pelas legislações de menores, até a entrada em vigor da Lei nº

8.069/1990, conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente, a disciplina

sobre o exercício do poder punitivo do Estado diante do cometimento de delitos

por menores de 18 anos tem-se utilizado conceitos neutralizadores de sua

natureza penal, garantindo maior controle.

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59A imposição de medidas socioeducativas para adolescentes autores de

infração penal tem um lugar seletivo, restrito e simbólico. Assim como as

penas, essas medidas possuem conotação de reprovação e finalidade social.

Restringem direitos e interferem diretamente na esfera de liberdade dos

adolescentes autores de ato infracional. A desmistificação dessa realidade

punitiva tem como conseqüência de um lado, o reconhecimento para os

adolescentes de garantias e princípios essenciais ao Estado democrático e

social de direito, presentes na aplicação do chamado direito penal de adultos,

de outro, a consolidação de princípios especiais, constitucionalmente previstos.

Muito embora a legislação brasileira tenha avançado significativamente na

superação do direito menorista tutelar, a resistência em reconhecer a natureza

penal das medidas e do procedimento de sua imposição faz que muitas

garantias hoje consolidadas no campo do direito penal não sejam estendidas

aos adolescentes.

Este estudo justifica-se pelo entendimento de que no Brasil vive-se em

um Estado democrático de direito, “destinado a assegurar o exercício dos

direitos sociais e individuais, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a

igualdade e a justiça como os valores supremos de uma sociedade fraterna,

pluralista e sem preconceitos” de acordo com o Preâmbulo da Constituição

Federal de 1988, tendo como fundamentos, entre outros, a cidadania e a

dignidade da pessoa humana como prevê o artigo 1º da Constituição Federal

de 1988.

No imediatismo que caracteriza os dias atuais, poucos são os

momentos de reflexão crítica dos porquês que motivam os fazeres no

cotidiano. Pensar sobre os destinos que, os adolescentes tem a chance de

construir requer uma série e persistente preocupação sobre as oportunidades

que lhes são oferecidas, tendo sempre em vista a efetivação dos direitos já

instituídos em lei.

Mas, embora com todos os direitos da criança e do adolescente

assegurado em lei, às funções sociais do Estado, da sociedade, da família em

relação ao desenvolvimento de práticas relativas a questão dos mesmos,

devem estar integradas e articuladas também a efetivação das práticas sociais

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60em termo de proteção social e lembrando que se deve existir uma preocupação

maior com a formação, transformação e a recuperação do adolescente infrator.

A negligência familiar se configura através de faltas constantes às

aulas, de roupas rasgadas, de falta de higiene, entre outros sinais. Essa

caracterização é carregada de concepções discriminatórias que recaem,

principalmente, sobre as camadas pobres da sociedade, pois é comum

associar a negligência à pobreza. A negligência é atribuída a famílias que

vivem em situação de miséria, de pobreza e de vulnerabilidade, sendo

duplamente perversa, pois o desleixo social, por si só, constitui uma grave

questão social.

Enfim, é preciso desmestificar estes processos que atravessam a

realidade da sociedade e reconhecer que estes casos estão além do âmbito

familiar, como uma questão de ordem pública.

A imposição de medidas sócio-educativas para adolescentes autores

de infração penal tem um lugar seletivo, restrito e simbólico. Assim como as

penas, essas medidas possuem conotação de reprovação e finalidade social.

Restringem direitos e interferem diretamente na esfera de liberdade dos

adolescentes autores de ato infracional.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal nº 8069 de 13/07/1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm. Acesso em: 30.abr.2011. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: Parte Especial. 10 ed, São Paulo: Saraiva, 2004. COSTA, Antonio Carlos Gomes (coord.). Socioeducação: Estrutura e funcionamento da comunidade Educativa. Brasília: Secretaria Especial de Direitos Humanos, 2006. COSTA, Nelson Nery. Monografia Jurídica brasileira. Rio de Janeiro: Forense, 2006. CURY, Munir (coord.). Estatuto da Criança e do Adolescente comentado: comentários jurídicos e sociais. 7 ed. São Paulo: Malheiros, 2005. FREUD, SIGMUND (1930/1929). Mal-estar na civilização. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio e Janeiro: Imago, 1976, V. XXI. GOMES, Luiz Flávio. Código Penal, Código de Processo Penal, Constituição Federal. 6 ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. JOYCE ANGHER, Anne. VadeMecum Acadêmico de Direito. 6 ed., São Paulo: Rideel, 2008. MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. 18 ed., São Paulo: Atlas, 2006. MORAIS, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. São Paulo: Atlas, 2002. MOTTA, Maria Antonieta Pisano. Mães Abandonadas: a entrega de um filho em adoção. São Paulo: Cortez, 2001. NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal comentado. 10. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 9 ed., Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2005.

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BIBLIOGRAFIA CITADA

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INDICE

FOLHA DE ROSTO ........................................................................................... 2

AGRADECIMENTOS ......................................................................................... 4

DEDICATÓRIA ................................................................................................... 5

RESUMO ........................................................................................................... 7

METODOLOGIA ................................................................................................ 8

SUMÁRIO .......................................................................................................... 9

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10

CAPÍTULO I ..................................................................................................... 13

ENTENDIMENTO SOBRE MENOR INFRATOR NO ECA ............................... 13

1.1 Influência da droga na ação infracional do adolescente ............................ 21

CAPÍTULO II .................................................................................................... 24

POSSIBILIDADE DE RESSOCIALIZAÇÃO E USO DE MEDIDAS

SOCIOEDUCATIVAS ....................................................................................... 24

2.1 Ressocialização e tipos de medidas socioeducativas ................................ 30

2.2 Situação do menor perante a lei ................................................................ 41

CAPÍTULO III ................................................................................................... 46

MENOR INFRATOR: AÇÃO SOCIOEDUCATIVA E A IMPOSIÇÃO DAS

MEDIDAS ......................................................................................................... 46

CONCLUSÃO .................................................................................................. 58

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ....................................................................... 61

BIBLIOGRAFIA CITADA .................................................................................. 63

INDICE ............................................................................................................. 65

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes

Título da Monografia: Ressocialização do menor Infrator

Autora: Maria Manuela da Fonseca Amorin

Data da entrega:

Avaliado por: Prof Conceito: