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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA DOLO EVENTUAL NOS CRIMES COMETIDOS NO TRÂNSITO Por: Camila Chaves Santos Orientador Prof. Jean Alves Rio de Janeiro 2013 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · dolo eventual nos homicídios praticados na direção de veículo automotor, mais precisamente quando conexos com os crimes definidos

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

DOLO EVENTUAL NOS CRIMES COMETIDOS NO TRÂNSITO

Por: Camila Chaves Santos

Orientador

Prof. Jean Alves

Rio de Janeiro

2013

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

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PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

DOLO EVENTUAL NOS CRIMES COMETIDOS NO TRÂNSITO

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Direito e Processo Penal.

Por: Camila Chaves Santos

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RESUMO

O presente trabalho visa a abordar a temática referente à possibilidade

de homicídio doloso em direção de veículo automotivo. Teremos uma análise

dos principais crimes que culminam em homicídio doloso no trânsito, eleitos

embriaguez ao volante, disputa em competição automobilística não autorizada

e velocidade incompatível, bem como uma abordagem sobre a diferenciação

entre dolo e culpa e uma reflexão sobre quando se pode considerar o

homicídio no trânsito um crime doloso, destacando o posicionamento de

doutrinadores pátrios, bem como a análise da Lei n° 9.503 de 23 de setembro

de 1997 (Código de Trânsito Brasileiro).

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METODOLOGIA

Os métodos utilizados para o desenvolvimento do presente trabalho

foram consultas à jurisprudência, à legislação, bem como a doutrinas diversas

e internet.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - O trânsito no Brasil 09

1.1 Definição do termo “trânsito” 09 1.2 O primeiro acidente de trânsito no Brasil 10 1.3 Origem da legislação brasileira de trânsito 10

CAPÍTULO II - Os principais crimes que podem caracterizar o dolo eventual 12

2.1 Disputa em competição automobilística não autorizada (racha) 12 2.2 Embriaguez ao volante 14 2.3 Velocidade incompatível 16

CAPÍTULO III – Dolo eventual e culpa consciente 18

3.1 O dolo e a culpa 18 3.2 O dolo eventual e a culpa consciente 21 3.3 Jurisprudência brasileira e o dolo eventual nos 27 crimes de trânsito

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39

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INTRODUÇÃO

Devido ao crescimento exponencial nas estatísticas de acidentes com

vítimas fatais nas rodovias brasileiras causadas principalmente por motoristas

embriagados, realizando “rachas” ou em alta velocidade, a doutrina e os

Tribunais apresentam divergências acerca do reconhecimento do dolo eventual

na conduta do agente que, nessas condições, ocasiona a morte de pessoas

conduzindo veículo automotor, diante da linha tênue que separa o dolo

eventual da culpa consciente.

O presente trabalho busca demonstrar a possibilidade da aplicação do

dolo eventual nos homicídios praticados na direção de veículo automotor, mais

precisamente quando conexos com os crimes definidos nos artigos 306

(embriaguez ao volante), 308 (racha ou pega) e 311 (excesso de velocidade)

da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 - Código de Trânsito Brasileiro.

É de suma importância verificar a correta aplicação do dolo eventual

nos crimes de homicídio no trânsito, diante da ameaça a um dos principais

bens jurídicos protegido pelo ordenamento jurídico brasileiro, a “vida”, pois a

falta de uma punição mais severa aos motoristas inconsequentes gera uma

sensação de impunidade, acarretando maior número de mortes no trânsito

brasileiro, fazendo com que a sociedade não possa desfrutar de um trânsito

seguro, nos termos do artigo 1º, §2º, do Código de Trânsito Brasileiro.

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CAPÍTULO I

O TRÂNSITO NO BRASIL

1.1 DEFINIÇÃO DO TERMO “TRÂNSITO”

Conforme o art. 1°, § 1° do Código de Trânsito Brasileiro (CTB, 2009,

p.21), “Considera-se como trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos,

animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação,

parada, estacionamento e operação de carga ou descarga”.

Tomando por base as definições feitas pelo legislador no Código de

Trânsito Brasileiro, trânsito é tudo aquilo que se movimenta, se locomove de

alguma forma, através de veículos ou animais, até mesmo aquele que se

movimenta de maneira solitária.

A definição de trânsito conforme o Dicionário Michaelis é a seguinte:

“trân.si.to (zi) sm (lat transitu) 1 Ação ou efeito de

transitar. 2 Passagem, trajeto. 3 O movimento de

pedestres e veículos que transitam nas cidades ou nas

estradas. 4Abertura, lugar por onde se passa;

passagem. 5 Mudança, passagem. 6 Morte,

passamento. 7 Faculdade de fazer passar mercadorias

através de um Estado, de uma cidade, sem pagar direitos

de entrada. 8 Topogr Instrumento de agrimensor que

serve para medir ângulos horizontais. 9 Certo instrumento

náutico.”

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Portanto, a movimentação é o que define “trânsito”, seja ela do tipo

que for.

1.2 O PRIMEIRO ACIDENTE DE TRÂNSITO NO

BRASIL

O primeiro acidente de automóvel ocorrido no Brasil aconteceu em

1887, quatro anos após a chegada do primeiro veiculo automotor em nosso

país, no Rio de Janeiro, mais precisamente no bairro de Botafogo.

Foi Olavo Bilac, jornalista importante e renomado poeta,que, ao guiar o

automóvel de seu amigo José do Patrocínio, jornalista, escritor e ativista

político a favor da abolição da escravatura, não tendo a menor noção sobre

direção de automóveis, acabou por colidir com uma árvore em velocidade de

4km/h.

O veículo era importado da França e tinha motor movido a vapor d’água,

equipado com fornalha, caldeira e chaminé. O acidente ocorreu no caminho

para a barra da tijuca.

1.3 ORIGEM DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE

TRÂNSITO

Em 27 de Outubro de 1910, treze anos após a chegada do primeiro

veículo automotor ao Brasil e também do primeiro acidente de trânsito de que

se tem notícia no país, surgiu a primeira legislação de trânsito, que tinha como

objetivo regular os serviços de transporte por veículo automotivo. A referida

legislação fixava, por exemplo, a necessidade de verificação das condições

dos automóveis com o escopo de tutelar a segurança dos próprios usuários e

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também dos pedestres. A partir da consolidação da indústria automobilística no

país e do consequente aumento do número de veículos nas ruas, surgiu a

necessidade de uma regulamentação maior. Assim, em 21 de setembro de

1966 foi aprovado o Código Nacional de Trânsito (CNT), Lein° 5.108, que já

previa as infrações de trânsito, cuja maioria se encontrava no capítulo

chamado “Dos deveres e Proibições”. Nos artigos desse capítulo eram

descritos os deveres, proibições e ainda as penalidades referentes a cada

descumprimento agrupadas do grupo 1 ao 4, sendo o grupo 1 a mais grave e o

grupo 4 a mais leve.Tal legislação foi regulamentada dois anos mais tarde e

ficou vigente até a implantação do atual Código de Trânsito Brasileiro (CTB).

CAPÍTULO II

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OS PRINCIPAIS CRIMES QUE PODEM CARACTERIZAR

O DOLO EVENTUAL

2.1 DISPUTA EM COMPETIÇÃO AUTOMOBILÍSTICA

NÃO AUTORIZADA (RACHA)

O artigo 308 do Código de Trânsito Brasileiro dispõe o seguinte:

Art. 308 – Participar, na direção de veículo automotor, em

via pública, de corrida, disputa ou competição

automobilística não autorizada pela autoridade

competente, desde que resulte dano potencial à

incolumidade pública ou privada:

Penas - detenção, de seis meses a dois anos, multa e

suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a

habilitação para dirigir veículo automotor.

A grande quantidade de acidentes graves em virtude dos chamados

“rachas” motivou o legislador a tipificar esta conduta como um crime de trânsito

e não mais como uma mera contravenção penal, conforme era previsto

anteriormente no artigo 34 da Lei de Contravenções Penais. O bem jurídico

tutelado nesse caso é a incolumidade pública e, de forma secundária, a

incolumidade individual ou privada daquela pessoa que sofreu dano por conta

da prática de “racha”.

O sujeito ativo são todos os condutores participantes, sendo irrelevante

o fato da pessoa ser ou não habilitada a conduzir veículo pelo órgão

competente. É um crime de concurso necessário, ou seja, não há possibilidade

de ser praticado por uma única pessoa. Assim, para que seja enquadrado

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como crime de disputa em competição automobilística não autorizada,

necessariamente deve haver a participação de dois ou mais motoristas. Os

“co-pilotos”, promotores do evento e os fiscais da competição respondem como

partícipes. O sujeito passivo principal é a coletividade, enquanto o secundário

são as pessoas vítimas do perigo de dano. Para configuração do crime não é

necessário ter uma vítima determinada, basta a situação de perigo à

incolumidade pública ou privada.

A expressão “competição automobilística” que o artigo supracitado nos

demonstra, foi utilizada de forma genérica, com a finalidade de incluir todas as

competições, como por exemplo, envolvendo motocicletas, caminhões, ônibus,

caminhonetes etc. A lei se refere dessa forma para abranger o maior número

de condutas.

A seguir, o posicionamento de doutrinadores acerca do tema:

- Júlio Fabbrini Mirabete: “Querer o perigo ou aceitar o

risco de sua

ocorrência equivale a consentir no risco do resultado

(morte ou lesão corporal).” MIRABETE, Júlio Fabbrini.

Manual de Direito Penal.

- José Marcos Marrone: “Se da corrida, disputa ou

competição não autorizada resultar evento mais grave

(lesão ou morte), configura-se o dolo eventual (art. 18, I,

2ª parte, do Código Penal), respondendo o condutor pelo

delito de homicídio doloso ou lesão corporal dolosa. Fica

absorvido o crime do art. 308 do CTB. ” Reforçando o

mesmo entendimento o autor continua: “Efetivamente,

aquele que participa de ‘racha’, em via pública, tem

consciência dos riscos envolvidos, aceitando-os, motivo

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pelo qual merece ser responsabilizado por crime doloso.”

MARRONE, José Marcos.

2.2 EMBRIAGUEZ AO VOLANTE

O crime de embriaguez ao volante encontra-se disciplinado no Código

de Trânsito Brasileiro em seu artigo 306. Consta dele:

Art. 306 – Conduzir veículo automotor, na via pública, sob

a influência de álcool ou substância de efeitos análogos,

expondo a dano potencial a incolumidade de outrem:

Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e

suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a

habilitação para dirigir veículo automotor.

Anteriormente a conduta de dirigir embriagado enquadrava-se no art. 34

da Lei de Contravenções Penais (Decreto-Lei n° 3.688, de 3 de Outubro de

1941), era abarcado pelo crime de direção perigosa de veículo em via pública.

Com o Código Brasileiro de Trânsito, o legislador elevou essa conduta à crime.

Este artigo 34 foi revogado em parte, pois há várias formas de se praticar

direção perigosa de veículo automotor em via pública, as quais não haviam

sido tipificadas no Código Brasileiro de Trânsito.

Esse crime visa a tutelar o bem jurídico da segurança pública no que

tange ao trânsito de veículos e, em última análise, à vida e integridade física da

coletividade.

Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo desse crime, não tendo

relevância o fato da pessoa ser ou não habilitada pelo órgão competente a

conduzir veículos automotores. Para ser enquadrada nesse crime, a pessoa

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deve estar sob influência de álcool ou substâncias de efeitos análogos. O

sujeito passivo é a coletividade, pois não há necessidade de vítima específica

para a caracterização deste crime, tendo em vista que o que se protege é a

própria coletividade, que foi exposta à perigo graças àquela conduta perigosa.

Entretanto, existe a possibilidade de haver um sujeito passivo secundário, uma

pessoa determinada que esteja correndo diretamente o risco ou o perigo de

dano.

O artigo em foco, não traz um limite tolerado de álcool ou substância

análoga a estar presente no sangue. Assim, considera-se suficiente para o

enquadramento no crime a condução sob influência de álcool ou substância

análoga, seja por qualquer quantidade. Já para efeitos de infração

administrativa, o Código Brasileiro de Trânsito estabeleceu um limite de 6

decigramas por litro de sangue. É importante ressaltar que é necessário que

haja nexo causal entre estar sob influencia de álcool ou substância análoga

com a condução anormal do veículo. Se a hipótese é de ter ingerido tais

substâncias e continuar a dirigir de forma regular, não haverá crime, mas pode

permanecer a infração administrativa.

Neste sentido leciona Gomes:

O estar "sob influência" exige a exteriorização de um fato

(de um plus) que vai além da embriaguez, mas derivado

dela (nexo de causalidade). Ou seja: não basta a

embriaguez (o estar alcoolizado), impõe-se a

comprovação de que o agente estava sob "sua

influência", que se manifesta numa direção anormal (que

coloca em risco concreto a segurança viária). [...]. Basta

que a direção tenha sido anormal (em zig-zag, v.g.): isso

já é suficiente para se colocar em risco a segurança

viária. (GOMES, 2008).

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A prova da influência do álcool pode ser pericial ou testemunhal. O

agente não é obrigado a realizar o teste do bafômetro, mas será encaminhado

a autoridade policial, que o submeterá a exames clínicos com a finalidade de

apurar a embriaguez.

2.3 VELOCIDADE INCOMPATÍVEL

Este crime encontra-se tipificado no artigo 311 do Código Brasileiro de

Trânsito:

Art. 311 – Trafegar em velocidade incompatível com a

segurança nas proximidades de escolas, hospitais,

estações de embarque e desembarque de passageiros,

logradouros estreitos, ou onde haja grande movimentação

ou concentração de pessoas, gerando perigo de dano:

Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

O excesso de velocidade em determinados locais foi transformado em

crime previsto no Código Brasileiro de Trânsito, mas segundo o doutrinador

Fernando Capez:

“O legislador, preocupado em proteger a segurança viária

de locais onde exista elevado número de pessoas,

criminalizou a conduta de imprimir velocidade

incompatível em suas proximidades. Entretanto, teria

agido melhor se tivesse dado redação mais genérica ao

dispositivo, de forma a abranger quaisquer manobras

perigosas na direção do veículo, realizadas nas

proximidades de hospitais, escolas etc. Dessa forma,

como a Lei menciona apenas o excesso de velocidade,

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as demais condutas tipificarão tão somente a

contravenção de direção perigosa (LCP, art. 34). “CAPEZ,

Fernando. Curso de direito penal, volume 4: legislação

penal especial. 2. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2007,

p. 316.

O renomado doutrinador nos sugere que foi infeliz o legislador ao

tipificar apenas o excesso de velocidade, esquecendo das manobras perigosas

na direção de veículo automotor perto das localidades descritas no artigo 311

do Código de Trânsito Brasileiro.

O bem jurídico protegido nesse crime é a incolumidade pública, no que

tange a segurança no trânsito de veículos. O sujeito ativo pode ser qualquer

pessoa, habilitada para dirigir veículos ou não. E o sujeito passivo principal é a

coletividade e o sujeito passivo secundário são as pessoas que eventualmente

ficarem expostas à situação de perigo.

CAPÍTULO III

DOLO EVENTUAL E CULPA CONSCIENTE

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3.1 O DOLO E A CULPA

É considerada dolosa aquela conduta em que o agente tem a vontade

de realizar o resultado ou a consciência de que está realizando uma conduta

que se encontra descrita no tipo penal.

Essa conduta é composta de uma fase interna e outra externa. A fase

interna acontece quando se passa o fato nos pensamentos do futuro agente.

Nessa fase ainda não se pode considerar que houve crime, pois não pode ser

tipificada a conduta de planejar em pensamentos um crime. Já na fase

externa é exteriorizada a vontade que antes era só pensada. É nessa fase que

o crime é efetivamente cometido.

Nas palavras de Julio Fabbrini Mirabete:

“Dolo é a vontade dirigida à realização do tipo penal.

Assim, pode-se definir o dolo como a consciência e a

vontade na realização da conduta típica, ou a vontade da

ação orientada para a realização do tipo.” in “Manual de

Direito Penal”, vol. I, pág. 139

Para Cezar Roberto Bitencourt:

“É indispensável uma determinada relação de vontade

entre o resultado e o agente e é exatamente esse

elemento volitivo que distingue o dolo da culpa. Como

lucidamente sustenta Alberto Silva Franco: ‘Tolerar o

resultado, consentir em sua provocação, estar a ele

conforme, assumir o risco de produzi-lo não passam de

formas diversas de expressar um único momento, o de

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aprovar o resultado alcançado, enfim, o de querê-lo’’. in

“Manual de direito Penal”, Parte Geral, vol. 1, pág. 205

Já o crime considerado culposo é aquele realizado por meio de uma

conduta não voluntária, podendo ser uma ação ou uma omissão que acaba por

produzir um resultado antijurídico não desejado nem planejado pelo agente,

mas que poderia, entretanto, ser evitado, pois era previsível. Dessa maneira,

são elementos do crime tido como culposo: a conduta do agente, a não

observância do dever de cuidado objetivo, o resultado involuntário lesivo, a

previsibilidade desse resultado e a tipificação do crime.

No crime culposo não importa ao que o agente visa com aquela

conduta, mas sim o meio e a maneira inadequada como o agente atua. O

crime culposo sempre advém de uma imprudência, negligência ou imperícia do

agente.

Imprudente é o agente que comete a ação de maneira descuidada. A

imprudência se caracteriza por ser sempre um comportamento positivo, Outra

característica é que a culpa ocorre simultaneamente com a conduta, ou seja, a

ação em si já gera o perigo.

É considerado negligente aquele agente que se omitiu. É o

comportamento negativo da culpa. É quando a pessoa não age de forma a se

precaver dos riscos previsíveis.

Já a imperícia se caracteriza quando um profissional age com falta de

habilidade ou conhecimento em assunto relacionado à sua função.

Segundo Cezar Roberto Bitencourt:

“Imprudência é a prática de uma conduta arriscada ou

perigosa”.

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“Negligência é a displicência no agir, a falta de

precaução, a indiferença do agente, que, podendo adotar

as cautelas necessárias, não o faz”.

“Imperícia é a falta de capacidade, despreparo ou

insuficiência de conhecimento técnico para o exercício de

arte, profissão ou ofício”.

(Manual de Direito Penal, Parte Geral, Vol. 1, pág. 205)

Para Julio Fabbrini Mirabete:

“Tem-se conceituado na doutrina o crime culposo como a

conduta voluntária (ação ou omissão) que produz

resultado antijurídico não querido, mas previsível, e

excepcionalmente previsto, que podia, com a devida

atenção, ser evitado”. in “Manual de Direito Penal”, vol. I,

pág. 139

Na doutrina de Cezar Roberto Bitencourt:

“Culpa é a inobservância do dever objetivo de cuidado

manifestada numa conduta produtora de um resultado

não querido, objetivamente previsível”. in “Manual de

direito Penal”, Parte Geral, vol. 1, pág. 205

3.2 O DOLO EVENTUAL E A CULPA CONSCIENTE

Os trágicos acidentes de trânsito que acontecem diariamente devido a

violações das normas de cuidado trazem à baila a polêmica sobre a natureza

dolosa ou culposa desses delitos. Tal tema é de suma importância, tendo em

vista que determina a competência para julgamento do crime. Quando o

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homicídio é enquadrado como dolo eventual a competência é do Tribunal do

Júri, já quando é considerado culpa consciente a competência é do juiz

singular.

O dolo eventual se caracteriza quando o agente, embora não deseje

diretamente o resultado, aceita a possibilidade ou probabilidade de produzi-lo.

O agente não deseja o resultado, pois se assim fosse, seria considerado crime

cometido com dolo direto e não eventual. Assim, são a previsibilidade do

resultado, o desejo de agir e a assunção do risco que caracterizam o dolo

eventual. Embora o agente não se importe com o resultado em si, há a plena

aceitação de correr o risco de tê-lo produzido.

Agir com dolo direto significa contar com a sorte, pois há a plena

consciência da possibilidade e previsibilidade do dano e, ainda assim, o agente

não se importa e prossegue na sua conduta.

No Código Penal, o crime doloso está definido no artigo 18, inciso I. In

fine, especificado o dolo eventual:

Art. 18, inciso I: “Diz-se o crime: I – doloso quando o

agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-

lo;”De acordo com Julio Fabbrini Mirabete, in “Manual de

Direito Penal”, vol. I, pág. 141, no dolo eventual “a

vontade do agente não está dirigida para a obtenção do

resultado; o que ele quer é algo diverso, mas prevendo

que o evento possa ocorrer, assume assim mesmo o risco

de causá-lo”.

Para Cezar Roberto Bitencourt:

“Haverá dolo eventual quando o agente não quiser

diretamente a realização do tipo, mas a aceitar como

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possível ou até provável, assumindo o risco da produção

do resultado (art. 18, in fine, do CP). No dolo eventual o

agente prevê o resultado como provável, ou, ao menos,

como possível, mas, apesar de prevê-lo, age aceitando o

risco de produzi-lo. Como afirmava Hungria, assumir o

risco é alguma coisa mais que ter consciência de correr o

risco: é consentir previamente no resultado, caso este

venha efetivamente a ocorrer” in “Manual de direito

Penal”, Parte Geral, vol. 1, pág. 205

Conforme o mestre Miguel Reale Júnior:

“O dolo é eventual quando o agente inclui o resultado

possível, de forma indiferente, como resultado da ação

que decide realizar, assentindo em sua realização, que

confia possa se dar” in “Instituições de Direito Penal”,

Parte Geral, vol. I, pág. 219 e seguintes.

Nelson Hungria comenta o seguinte:

“Na conceituação do dolus eventualis, VON LISZT e

FRANK aderem iniludivelmente à teoria da vontade

quando, em tal caso, declaram insuficiente a simples

representação do resultado e exigem para este o

consentimento do agente. Ora, consentir no resultado não

é senão um modo de querê-lo (Pronuncia o ministro

CAMPOS na sua Exposição de motivos: ‘É inegável que

arriscar-se conscientemente a produzir um evento vale

tanto quanto querê-lo: ainda que sem interesse nele, o

agente o ratifica ex ante, presta anuência ao seu

advento’)” in “Comentários ao Código Penal”, vol. I, Tomo

II, Ed.Forense, 4ª edição, nas págs 114 e seguintes.

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Já a culpa consciente acontece quando o agente é capaz de prever o

resultado, porém acredita totalmente que não irá produzi-lo. Confia o agente

que sua ação terá exatamente o resultado que ele pretende e não aquele

resultado lesivo que previu anteriormente. Dessa maneira, o resultado lesivo

em caso de culpa consciente acontece por um erro de cálculo ou erro na

execução do ato. Não basta a simples previsão do resultado para caracterizar

a culpa consciente, é necessário que o agente também tenha no momento da

ação a plena consciência da infração ao dever de cuidado.

A culpa consciente tem como principal característica a confiança do

agente que não irá produzir um resultado desfavorável.

O crime culposo está definido também no artigo 18, apenas que em seu

inciso II. Art. 18, inciso II: “Diz-se o crime: II – culposo, quando o agente deu

causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia”.

Na hipótese de homicídio culposo praticado na direção de veículo, diz o

artigo 302, da Lei 9.503/97 (Código Nacional de Trânsito):

“Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de

veículo automotor: Penas – detenção, de 2 (dois) a 4

(quatro) anos, e suspensão ou proibição de se obter a

permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor”.

Para Cezar Roberto Bitencourt:

“Há culpa consciente, também chamada culpa com

previsão, quando o agente, deixando de observar a

diligência a que estava obrigado, prevê um resultado,

previsível, mas confia convictamente que ele não ocorra.

Quando o agente, embora prevendo o resultado, espera

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sinceramente que este não se verifique, estar-se-á diante

de culpa consciente e não de dolo eventual”. in “Manual

de direito Penal”, Parte Geral, vol. 1, pág. 205

Conforme Miguel Reale Júnior:

“Sucede, todavia, que na culpa consciente tem o agente

conhecimento de que o resultado pode ocorrer, no que

não dá seu assentimento, próprio do dolo eventual”. in

“Instituições de Direito Penal”, Parte Geral, vol. I, pág. 219

e seguintes

Imagine, por exemplo, que um agente enfurecido por uma briga de rua

atropele e mate pessoas depois de passar a conduzir o carro praticando

manobras perigosas e arriscadas, gritando pela janela que as pessoas saiam

da frente, pois passará por cima de quem estiver no caminho. Temos também

o caso concreto em que um agente na direção de veículo automotor que queria

passar por uma via onde ciclistas realizavam uma manifestação, bloqueando o

fluxo de carros, simplesmente acelerou o carro atropelando dezenas de

ciclistas, imprimindo fuga logo em seguida. Esses dois casos são exemplos

claros de dolo eventual.

Por outro lado, se um pai sai de uma festa de família depois de beber

dois copos de cerveja e no trajeto causa um acidente e com isso a morte de

um filho que estava dentro do carro. Nesse caso, não se pode afirmar que o

infrator agiu com dolo eventual apenas porque tomou dois copos de bebida

alcoólica. Da mesma maneira, não há como afirmar que houve dolo eventual

na conduta de um filho que, levando o pai para um pronto socorro, imprime

velocidade excessiva no automóvel e causa um acidente matando o próprio

pai. Esses dois últimos casos exemplificam o que seria um homicídio na

modalidade de culpa consciente, pois, embora previsível o resultado, o agente

tinha a certeza inabalável de que o resultado danoso não aconteceria.

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O limite tênue que existe entre a culpa consciente e o dolo eventual está

no fato de que na primeira se conhece o risco de que o resultado danoso

ocorra e a confiança, certeza e segurança do agente que esse resultado

danoso jamais irá acontecer, pois ele crê que, de alguma maneira ele evitará o

resultado danoso ou este simplesmente não acontecerá, no segundo, o dolo

eventual, o agente já aceita, assume o risco do dano, não se importando se

ocorrerá ou não, pois isso não o fará deixar de agir.

Julio Fabbrini Mirabete ensina:

“A culpa consciente avizinha-se do dolo eventual, mas

com ela não se confunde. Naquela (na culpa consciente),

o agente, embora prevendo o resultado, não o aceita

como possível. Nesse (no dolo eventual), o agente prevê

o resultado, não se importando que venha ele a ocorrer.”

in “Manual de Direito Penal”, vol. I, pág. 142.

Para Fernando Capez, membro do Ministério Público:

“A culpa consciente difere do dolo eventual, porque neste

o agente prevê o resultado, mas não se importa que ele

ocorra (‘se eu continuar dirigindo assim, posso vir a matar

alguém, mas não importa; se acontecer, tudo bem, eu vou

prosseguir’). Na culpa consciente, embora prevendo o

que possa vir a acontecer, o agente repudia essa

possibilidade (‘se eu continuar dirigindo assim, posso vir a

matar alguém, mas estou certo de que isso, embora

possível não ocorrerá’). O traço distintivo entre ambos,

portanto, é que no dolo eventual o agente diz: ‘não

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importa’, enquanto na culpa consciente supõe: ‘é

possível, mas não vai acontecer de forma alguma’ ”. in

“Curso de Direito Penal”, Parte Geral, Vol. 1, pág. 187.

De acordo com Miguel Reale Júnior:

“No dolo eventual une-se o assentimento à assunção do

risco, a partir da posição do agente de que confia que

pode ocorrer o resultado e assim mesmo age. Na culpa

consciente assoma ao espírito do agente a possibilidade

de causação do resultado, mas confia ele que este

resultado não sucederá. Na culpa consciente o agente

considera que tudo andará bem, tudo vai dar certo”. in

“Instituições de Direito Penal”, Parte Geral, vol. I, pág.

222.

Conforme Nelson Hungria:

“Há, entre elas, é certo, um traço comum: a previsão do

resultado antijurídico; mas, enquanto no dolo eventual o

agente presta anuência ao advento desse resultado,

preferindo arriscar-se a produzi-lo, ao invés de renunciar

à ação, na culpa consciente, ao contrário, o agente

repele, embora inconsideradamente, a hipótese de

superveniência do resultado, e empreende a ação na

esperança ou persuasão de que este não ocorrerá”. in

“Comentários ao Código Penal”, vol. I, Tomo II,

Ed.Forense, 4ª edição, pág. 116.

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Fica demonstrado então, grosso modo, que o espaço entre confiar e

desejar é o que separa o dolo eventual da culpa consciente.

3.3 A JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA E O DOLO

EVENTUAL NOS CRIMES DE TRÂNSITO

Em nosso país a jurisprudência vem cada vez mais reconhecendo o

dolo eventual em homicídios no trânsito em situações de competições

automobilísticas não autorizadas, também conhecidas como “rachas”,

embriaguez ao volante e velocidade excessiva. Além dessas condições

citadas, é necessário que seja concomitante o fato do agente ter assumido o

risco de produzir o resultado.

Nesse sentido, o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça:

HOMICÍDIO NO TRÂNSITO. ANÁLISE DOS

ELEMENTOS CONSTANTES NO

ACÓRDÃORECORRIDO. REEXAME DE MATERIAL

FÁTICO/PROBATÓRIO. AUSÊNCIA. DOLOEVENTUAL

x CULPA CONSCIENTE. COMPETÊNCIA. TRIBUNAL

DO JÚRI.RESTABELECIMENTO DA SENTENÇA DE

PRONÚNCIA.

1. O restabelecimento do decisum que remeteu o

agravante à Júri Popular não demanda reexame do

material fático/probatório dos autos,mas mera revaloração

dos elementos utilizados na apreciação dos fatos pelo

Tribunal local e pelo Juiz de primeiro grau.

2. A decisão de pronúncia encerra simples juízo de

admissibilidade da acusação, exigindo o ordenamento

jurídico somente o exame da ocorrência do crime e de

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indícios de sua autoria, não se demandando aqueles

requisitos de certeza necessários à prolação de um édito

condenatório, sendo que, nessa fase processual, as

questões resolvem-se a favor da sociedade.

3. Afirmar se o Réu agiu com dolo eventual ou culpa

consciente é tarefa que deve ser analisada pela Corte

Popular, juiz natural da causa, de acordo com a narrativa

dos fatos constantes da denúncia e com o auxílio do

conjunto fático/probatório produzido no âmbito do devido

processo legal.

4. Na hipótese, tendo a provisional indicado a existência

de crime doloso contra a vida - embriaguez ao volante,

excesso de velocidade e condução do veículo na

contramão de direção, sem proceder à qualquer juízo de

valor acerca da sua motivação, é caso de submeter o Réu

ao Tribunal do Júri.

5. Recurso especial provido para restabelecer a sentença

de pronúncia.

REsp 1279458 / MG RECURSO ESPECIAL

2011/0214784-7

Nesse julgado pode-se aferir que, de acordo com o posicionamento do

Superior Tribunal de Justiça, em caso de dúvida se o homicídio foi praticado de

forma dolosa ou culposa, não há impedimento para o julgamento em Júri

Popular, tendo em vista que na fase de pronúncia se aplica o princípio do in

dubio pro societate. Nesse caso, decidirá o corpo de jurados se o crime foi

doloso ou culposo.

Em situação similar, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro,

ao julgar conflito de jurisdição, atribuiu a competência também ao Tribunal do

Júri. Vejamos:

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CONFLITO DE JURISDIÇÃO. Crimes de homicí-dios,

consumado e tentado, ambos na direção de veículo

automotor. Dolo eventual.Presença, em tese.

Competência do Tribunal do Júri. As circunstâncias em

que os fatos se desenvolveram indicam que o condutor

do veículo automotor praticou, em tese, os crimes contra

os transeuntes de forma dolosa, eis que se lançou, em

tresloucada fuga, a conduzir a sua máquina em

velocidade incompatível com o local, em

verdadeiro racha com o motociclista que o perseguia, e,

inclusive, na contramão de direção; não hesitou o

motorista em avançar sinalizações de trânsito que lhes

eram adversas, até atropelar pedestres que,

ordeiramente, cruzavam a via pública na faixa a eles

destinadas, matando a moça e ferindo gravemente o pai

da mesma, resultados estes plenamente previsíveis e

aceitos por aquele. O condutor de veículo automotor que

se lança a trafegar na forma retratada nos autos tem

plena consciência de que corre o risco de provocar

violentas colisões e sérios atropelamentos de

transeuntes; se ele, ainda assim, assume tais riscos,

indiferente aos resultados que podem se verificar, atua

com dolo, no caso eventual.

DES. MOACIR PESSOA DE ARAUJO - Julgamento:

30/10/2007 - PRIMEIRA CAMARA CRIMINAL Data de

Julgamento: 30/10/2007.

No mesmo sentido o Tribunal de Justiça de Santa Catarina:

TJ-SC - Recurso Criminal RCCR 208176 SC

1999.020817-6 (TJ-SC)

Data de publicação: 15/02/2000

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30

Ementa: PRONÚNCIA - HOMICÍDIO - TRÂNSITO -

EMBRIAGUEZ - DOLOEVENTUAL - PRETENDIDA

DESPRONÚNCIA POR ANEMIA PROBATÓRIA -

IMPOSSIBILIDADE - DÚVIDA RESOLVIDA PRO

SOCIETATE - DECISÃO MANTIDA. Para a decisão de

pronúncia basta mero juízo de admissibilidade da

acusação, para que seja decidida pelo Júri; eventuais

dúvidas, nesta fase, são resolvidas em favor da

sociedade.

Pode-se perceber um posicionamento firme da jurisprudência no sentido

de que, pairando alguma dúvida sobre se houve dolo eventual ou culpa

consciente no homicídio, profere-se a sentença de pronúncia deixando a

dúvida para ser dissipada no âmbito do Júri Popular.

Porém, nem todo caso de homicídio no trânsito deixa dúvidas acerca da

vontade do agente, havendo casos em que o magistrado não profere a

sentença de pronúncia por ter a plena convicção de que se trata de crime

culposo.

STJ - HABEAS CORPUS HC 58826 RS 2006/0099967-9

(STJ)

Data de publicação: 08/09/2009

Ementa: PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS

CORPUS. 1. HOMICÍDIO. CRIME DE

TRÂNSITO. EMBRIAGUEZ. DOLO EVENTUAL. AFERIÇ

ÃO AUTOMÁTICA. IMPOSSIBILIDADE. 2. ORDEM

CONCEDIDA. 1. Em delitos de trânsito, não é possível a

conclusão automática de ocorrência de dolo eventual

apenas com base em embriaguez do agente. Sendo os

crimes de trânsito em regra culposos, impõe-se a

indicação de elementos concretos dos autos que

indiquem o oposto, demonstrando que o agente tenha

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assumido o risco do advento do dano, em flagrante

indiferença ao bem jurídico tutelado. 2. Ordem concedida

para, reformando o acórdão impugnado, manter a decisão

do magistrado de origem, que desclassificou o delito para

homicídio culposo e determinou a remessa dos autos

para o juízo comum.

Nesse mesmo sentido:

TJ-SE - RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

RECSENSES 2010302076 SE (TJ-SE)

Data de publicação: 02/08/2010

Ementa: HOMICÍDIO - CRIME DE TRÂNSITO -

EMBRIAGUEZ - DOLO EVENTUAL - AFERIÇAO

AUTOMÁTICA - IMPOSSIBILIDADE -

DESCLASSIFICAÇAO PARA HOMICÍDIO CULPOSO -

RECURSO PROVIDO, POR MAIORIA . 1. Em delito de

trânsito, ou se demonstra o dolo direto, ou se reduz em

demasia a possibilidade dodolo eventual ante a

perspectiva de que o próprio agente ativo da relação

penal substantiva poderia ser, também, vítima fatal do

evento a que deu causa. 2. Aembriaguez não autoriza a

presução de dolo eventual, o que importaria em odiosa

conclusão automática da existência de um elemento

subjetivo do tipo, indemonstrado. 3. Recurso provido para

desclassificar o delito para homicídio culposo. 4. Decisão

por maioria.

Nos dois julgados acima o posicionamento foi o mesmo. Posicionaram-

se ambos pela impossibilidade da aferição automática do dolo eventual pelo

simples fato do condutor do veículo estar alcoolizado. A situação de

embriaguez do condutor não pode ser a única condição para que o crime seja

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enquadrado na modalidade doloso, pois, como visto anteriormente, para se

configurar o dolo eventual é necessário que o agente preveja o resultado

danoso e consinta com esse resultado.

No julgado que segue, houve condenação do júri por homicídio com

dolo eventual não só pelo agente estar embriagado, mas por ter também

imprimido alta velocidade na condução do veículo, demonstrando assim não se

importar com os possíveis e previsíveis resultados lesivos.

HABEAS CORPUS. PENAL. CRIME DE HOMICÍCIO

PRATICADO NA CONDUÇÃO DE VEÍCULO

AUTOMOTOR. PLEITO DE DESCLASSIFICAÇÃO PARA

O DELITO PREVISTO NO ARTIGO 302 DO CÓDIGO

DE TRÂNSITO BRASILEIRO. DEBATE ACERCA DO

ELEMENTO VOLITIVO DO AGENTE. CULPA

CONSCIENTE X DOLO EVENTUAL. CONDENAÇÃO

PELO TRIBUNAL DO JÚRI. CIRCUNSTÂNCIA QUE

OBSTA O ENFRENTAMENTO DA QUESTÃO.

REEXAME DE PROVA. ORDEM DENEGADA. I - O órgão

constitucionalmente competente para julgar os crimes

contra a vida e, portanto, apreciar as questões atinentes

ao elemento subjetivo da conduta do agente aqui

suscitadas – o Tribunal do Júri - concluiu pela prática do

crime de homicídio com dolo eventual, de modo que não

cabe a este Tribunal, na via estreita do habeas corpus,

decidir de modo diverso. II - A jurisprudência desta Corte

está assentada no sentido de que o pleito de

desclassificação de crime não tem lugar na estreita via do

habeas corpus por demandar aprofundado exame do

conjunto fático-probatório da causa. Precedentes. III –

Não tem aplicação o precedente invocado pela defesa,

qual seja, o HC 107.801/SP, por se tratar de situação

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diversa da ora apreciada. Naquela hipótese, a Primeira

Turma entendeu que o crime de homicídio praticado na

condução de veículo sob a influência de álcool somente

poderia ser considerado doloso se comprovado que

a embriaguez foi preordenada. No caso sob exame, o

paciente foi condenado pela prática de homicídio doloso

por imprimir velocidade excessiva ao veículo que dirigia,

e, ainda, por estar sob influência do álcool, circunstância

apta a demonstrar que o réu aceitou a ocorrência do

resultado e agiu, portanto, com dolo eventual. IV - Habeas

Corpus denegado.

HC 115352 / DF - DISTRITO FEDERAL

HABEAS CORPUS

Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI

Julgamento: 16/04/2013 Órgão Julgador: Segunda

Turma

A seguir, um caso de “racha” que causou a morte de inocentes. O crime

foi capitulado na modalidade de dolo eventual:

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS

CORPUS. CRIME DE COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL

DO JÚRI. "RACHA" AUTOMOBILÍSTICO.HOMICÍDIO

DOLOSO. DOLO EVENTUAL. NOVA VALORAÇÃO DE

ELEMENTOS FÁTICO-JURÍDICOS, E NÃO

REAPRECIAÇÃO DE MATERIAL PROBATÓRIO.

DENEGAÇÃO. 1. A questão de direito, objeto de

controvérsia neste writ, consiste na eventual análise de

material fático-probatório pelo Superior Tribunal de

Justiça, o que eventualmente repercutirá na configuração

do dolo eventual ou da culpa consciente relacionada à

conduta do paciente no evento fatal relacionado à

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infração de trânsito que gerou a morte dos cinco

ocupantes do veículo atingido. 2. O Superior Tribunal de

Justiça, ao dar provimento ao recurso especial interposto

pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais,

atribuiu nova valoração dos elementos fático-jurídicos

existentes nos autos, qualificando-os como homicídio

doloso, razão pela qual não procedeu ao revolvimento de

material probatório para divergir da conclusão alcançada

pelo Tribunal de Justiça. 3. O dolo eventual compreende

a hipótese em que o sujeito não quer diretamente a

realização do tipo penal, mas a aceita como possível ou

provável (assume o risco da produção do resultado, na

redação do art. 18 , I , in fine, do CP ). 4. Das várias

teorias que buscam justificar o dolo eventual, sobressai a

teoria do consentimento (ou da assunção), consoante a

qual o dolo exige que o agente consinta em causar o

resultado, além de considerá-lo como possível. 5. A

questão central diz respeito à distinção entre dolo

eventual e culpa consciente que, como se sabe,

apresentam aspecto comum: a previsão do resultado

ilícito. No caso concreto, a narração contida na denúncia

dá conta de que o paciente e o co-réu conduziam seus

respectivos veículos, realizando aquilo que

coloquialmente se denominou "pega" ou "racha", em alta

velocidade, em plena rodovia, atingindo um terceiro

veículo (onde estavam as vítimas). 6. Para configuração

do dolo eventual não é necessário o consentimento

explícito do agente, nem sua consciência reflexiva em

relação às circunstâncias do evento. Faz-se

imprescindível que o dolo eventual se extraia das

circunstâncias do evento, e não da mente do autor, eis

que não se exige uma declaração expressa do agente. 7.

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O dolo eventual não poderia ser descartado ou julgado

inadmissível na fase do iudicium accusationis. Não houve

julgamento contrário à orientação contida na Súmula 07,

do STJ, eis que apenas se procedeu à revaloração dos

elementos admitidos pelo acórdão da Corte local,

tratando-se de quaestio juris, e não de quaestio facti. 8.

Habeas corpus denegado.

STF - HABEAS CORPUS HC 91159 MG (STF)

Data de publicação: 23/10/2008

Para José Marcos Marrone:

[b] se da corrida, disputa ou competição não autorizada

resultar evento mais grave (lesão ou morte), configura-se

o dolo eventual (art. 18, I, 2a parte, do Código Penal),

respondendo o condutor pelo delito de homicídio doloso

ou lesão corporal dolosa. Fica absorvido o crime do art.

308 do CTB (b) Efetivamente, aquele que participa de

‘racha’, em via publica, tem consciência dos riscos

envolvidos, aceitando-os, motivo pelo qual merece ser

responsabilizado por crime doloso. em Delitos de Transito

Brasileiro: Lei n. 9.503/97. São Paulo: Atlas, 1998, p. 76.

Vimos que nos crimes de trânsito pode ocorrer o dolo eventual, apesar

da regra do tipo ser culposo. A comprovação não é fácil, depende do caso

concreto, tendo em vista que só mesmo sabendo a real vontade e intenção do

agente para proceder à capitulação. A dificuldade existe porque tal intenção é

algo de foro muito íntimo, que só pode ser descoberta por meio da valoração

probatória. Assim, é necessária a prova do elemento subjetivo que norteou a

conduta do agente. A apuração do dolo vai depender, portanto, de cada caso.

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As principais circunstâncias capazes de caracterizar o dolo eventual são

as já faladas anteriormente: velocidade excessiva, “racha”, embriaguez ao

volante, causando acidente com vítima fatal. Nesses casos, o condutor

assume o risco e consente o resultado.

CONCLUSÃO

O presente trabalho buscou fazer uma análise sobre as hipóteses

principais de capitulação de crimes de homicídio no trânsito como dolo

eventual, tomando por base opiniões doutrinárias e posicionamentos

jurisprudenciais diversos de nosso ordenamento jurídico. Vimos a definição de

cada uma dessas condutas, quais sejam, embriaguez ao volante, “racha” e

excesso de velocidade; uma breve explanação sobre dolo e culpa; abordamos

a diferenciação existente entre dolo eventual e culpa consciente e

demonstramos o posicionamento de nosso judiciário acerca do tema.

Diante de tudo o que foi exposto, percebemos que, apesar dos crimes

de trânsito serem considerados culposos por natureza, o dolo eventual passou

a ser reconhecido em casos em que o condutor cria risco demasiado sem se

importar com resultado lesivo que produz aos demais no trânsito. Esse

entendimento da doutrina e jurisprudência visa a combater o desrespeito à vida

no trânsito, procurando aplicar penas mais severas a condutores que praticam

crimes ao volante.

A tarefa de enquadrar um crime de homicídio no trânsito como dolo

eventual nem sempre é fácil, porém, vimos que, na dúvida, o magistrado age

visando somente ao bem da sociedade e concede a sentença de pronúncia ao

Tribunal do Júri, ao qual caberá decidir pelo dolo ou culpa caso a caso.

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A capitulação do crime como dolo ou culpa é de ímpar importância, pois

há extrema disparidade entre as penas e, ao mesmo tempo, às vezes é muito

difícil decidir entre o dolo ou a culpa, pois a prova pode não ser de fácil

obtenção e a vontade legítima mora no íntimo do agente. Quando não há

provas contundentes acerca do consentimento com o resultado lesivo

característico do dolo eventual, o mais prudente é considerar a modalidade

culposa para evitar injustiças.

Assim, diante da tendência jurisprudencial a reconhecer o dolo eventual

em crimes no trânsito e, consequentemente, atribuir penas mais gravosas,

espera-se que o cidadão condutor de veículo automotor se conscientize e

pratique uma direção mais segura para ele e para o resto da sociedade.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito Penal, Parte Geral, vol. 1.

CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal, volume 4: legislação penal especial.

2. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2007.

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Parte Geral, Vol. 1.

CÓDIGO BRASILEIRO DE TRÂNSITO - LEI Nº 9.503, DE 23 DE SETEMBRO

DE 1997.

DICIONÁRIO MICHAELIS

http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/definicao/transito%20_1057601.

html acesso em 26/06/2013.

GOMES. Luiz Flávio. Reforma do Código de Trânsito (Lei 11.705/2008): novo

delito de embriaguez ao volante. Disponível em: < http://www.lfg.com.br25

junho.2008>. Acesso em 19/07/2013.

HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal, vol. I, Tomo II, Ed.Forense,

4ª edição.

JÚNIOR, Miguel Reale. Instituições de Direito Penal, Parte Geral, vol. I.

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MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal.