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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE DESAFIOS DE GESTÃO NO SERVIÇO PÚBLICO Por: Roberto dos Santos Bezerra Orientador Prof. Marcelo Martins Saldanha da Gama Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DESAFIOS DE GESTÃO NO SERVIÇO PÚBLICO

Por: Roberto dos Santos Bezerra

Orientador

Prof. Marcelo Martins Saldanha da Gama

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DESAFIOS DE GESTÃO NO SERVIÇO PÚBLICO

Apresentação de monografia ao Instituto A vez do

Mestre - Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Gestão de Recursos Humanos.

Por Roberto dos Santos Bezerra

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AGRADECIMENTOS

À Minha Esposa Luciana, pelo seu

apoio, cuidando de Nossas Filhas

Maria Carolina e Roberta, permitindo

que eu me dedicasse ao curso e à

monografia.

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DEDICATÓRIA

À Minha Mãe, D. Rosa, pelo exemplo

maior de coragem, resignação e

sabedoria que tive na vida.

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo abordar a problemática da desmotivação

dos servidores públicos no país, fazendo uma abordagem sobre a cultura

organizacional mais encontrada nas instituições públicas do Brasil.

Por mais paradoxal que seja, apesar de atualmente no serviço público

encontrarmos em sua grande maioria profissionais altamente qualificados,

muitas vezes deparamo-nos com serviços mal executados e, o que é pior,

somos tratados mal pelos servidores que têm por obrigação legal tratar com

urbanidade o cidadão que recorre aos serviços públicos. Infelizmente tudo isso

é fruto da desmotivação pessoal daqueles que se propuseram a enveredar-se

pelo árduo processo de admissão para os cargos públicos efetivos: concurso

público. Porém, o enorme esforço despendido pelo candidato para alcançar o

tão almejado cargo que lhe dará a estabilidade necessária para que tenha uma

boa qualidade de vida é deixado de lado quando este mesmo candidato, agora

já empossado e no exercício do cargo, começa a esmorecer na realização de

suas tarefas, encontrando vários motivos para não produzir aquilo que é capaz.

Na verdade, cremos que a causa mais comum para essa desmotivação é a

dificuldade de o funcionário perceber a importância do seu trabalho – muitas

vezes monótono e desinteressante – para o resultado final de qualquer órgão

público: a satisfação das necessidades do cidadão, tais como: fornecimento de

energia elétrica, acesso a tratamentos médicos, serviço de coleta de lixo etc.

Cremos que o gestor, seja num nível mais elevado, ou o chefe imediato deve

ter muita atenção à questão pessoal no ambiente de trabalho, procurando

motivar seus colaboradores no cumprimento de seus deveres, mostrando-lhes

a importância de cumprir bem com seus deveres profissionais, principalmente

por meio do melhor dos métodos de convencimento: o próprio exemplo de bem

proceder!

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METODOLOGIA

As metodologias utilizadas para formar esta monografia foram

pesquisas bibliográficas a diversos autores e observação de casos ocorridos

em minha vida profissional como Servidor Público no Ministério Público

Federal.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Afinal, quem é o servidor público? 10

CAPÍTULO II - Servidores e Perfis 15

CAPÍTULO III – Em busca de soluções 27

CONCLUSÃO 35

BIBLIOGRAFIA 38

ÍNDICE 39

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INTRODUÇÃO

Embora possamos definir cultura organizacional como um sistema de

valores compartilhados pelos funcionários de uma instituição, seja privada ou

pública, que faz com que esta instituição se diferencie de todas as outras,

podemos traçar linhas gerais do que acontece na maioria das instituições

públicas no país: funcionários sempre insatisfeitos com o trabalho que

exercem, normalmente predispostos a trabalhar pouco, gerando como

resultado um trabalho de baixa qualidade, mormente no que se refere à

velocidade de realização, muito aquém daquela em que poderia ser realizada.

Com relação à velocidade, não é raro encontrarmos servidores que

propositalmente procuram executar seu trabalho de forma lenta, visando com

isso a atingir dois objetivos principais:

1º - separar parte da jornada de trabalho para tratar de interesses

pessoais, tais como: idas ao banco, telefonemas para amigos, acesso a sites

na internet que nada têm a ver com o trabalho, leitura e envio de e-mails, bate-

papo com os colegas etc.

2º - fazer com que seu superior hierárquico acostume-se com seu lento

ritmo de trabalho, para que nunca lhe passem muitas atribuições,

Há também aqueles que fazem exatamente o oposto: trabalham de

forma extremamente veloz, muitas vezes motivado pelo mesmo motivo

enumerado acima – sobra de tempo na jornada para tratar de interesses

pessoais. Porém, realizam seus misteres de forma desleixada, pouco se

preocupando com a qualidade daquilo que fazem, gerando como resultado um

retrabalho para seus supervisores, uma vez que terão que fazer novamente

aquilo que o primeiro não se dispôs a fazer bem feito. E é comum fazerem isso

de forma premeditada, a fim de que seus chefes cada vez menos contem com

eles para as tarefas mais complexas e relevantes, já que não são dignos de

confiança naquilo que fazem.

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A esta altura da leitura aqueles que se dispuserem a ler esta

monografia devem estar se perguntando: “Nossa! Você está nivelando por

baixo os servidores públicos...coitados!” E minha resposta é: sim! Realmente

estou tomando como exemplo os maus funcionários, já que é este o foco do

trabalho. Precisamos, seja como líderes, gestores, supervisores ou chefes, nos

preparar para lidar com situações difíceis, já que lidar com o ser humano é algo

muito complexo, ainda mais quando este ser humano, agora na condição de

servidor público estável, pouco se importa com o resultado de seu trabalho,

vendo em seu cargo público tão-somente um meio de ganhar dinheiro.

Porém, para que eu não fixe minha visão apenas no mau servidor,

afirmo que ele não é o maior culpado, mas sim primeiramente seu chefe

imediato, que ao acostumar-se com a pífia contribuição desse relapso servidor,

prefere sobrecarregar os outros que trabalham bem, passando-lhes a cota de

tarefas que caberia ao desidioso colaborador realizar. Afinal é mais cômodo

pedir para que o bom colaborador faça um pouco mais, do que se dispor a

entrar em confronto com aquele que no linguajar popular “não quer nada”.

Diante do problema supramencionado, tentaremos encontrar soluções

para gestores públicos aplicarem em seus universos profissionais, visando a

minimizar esse mal que é uma praga no serviço público: o

descomprometimento dos servidores com seu trabalho.

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CAPÍTULO I

AFINAL, QUEM É O SERVIDOR PÚBLICO?

Quando, na condição de cidadãos, nos dirigimos a um órgão público,

muitas vezes vemo-nos em situação bastante delicada: ora somos atendidos

de forma displicente, ou até mesmo de maneira hostil, ora nem conseguimos

nos fazer ouvir. Do outro lado, um servidor estressado, mal-humorado e sem a

menor paciência para nos ouvir, dando-nos respostas ríspidas, como se

tivéssemos a obrigação de saber aquilo que para ele é óbvio. Mas dificilmente

paramos para pensar: quem é essa pessoa por trás desta expressão

carrancuda? Por que me trata assim, já que indiretamente pagamos com

nossos impostos – e não são poucos – seu salário? Para responder a estes

questionamentos, devemos retroagir no tempo e acompanhar a evolução dela

desde seu início profissional.

Vivemos num país com altos índices de desemprego. Há poucas

oportunidades em relação à quantidade de profissionais que todos os anos

partem dos bancos escolares para o mercado de trabalho. Na verdade, uma

boa parcela daqueles que terminam pelo menos o ensino médio – e são

poucos, se comparados àqueles que iniciaram com eles o ensino fundamental

– vêem-se numa situação bastante desconfortável: em geral sentem-se mal

preparados para enfrentar os disputadíssimos vestibulares para as

universidades públicas e não raro encontramos alunos que não têm nem em

mente o que cursar na faculdade, já que contar com sua aspiração profissional

por determinada carreira nem sempre é um bom caminho, uma vez que muitas

carreiras são extremamente sem campo de trabalho ou são muito mal

remuneradas.

Diante disso, é muito comum o jovem sentir-se desnorteado com

relação a que fazer de sua vida profissional. Em contraponto a essa

tormentosa indecisão, a mídia oferece a opção salvadora: CONCURSOS

PÚBLICOS. Jornais especializados vendem as vantagens de entrar para o

serviço público: altos salários, planos de carreira, benefícios e, principalmente,

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a tão almejada estabilidade. E não é somente o jovem em início de carreira

profissional que se vê seduzido por tão tentadoras vantagens. Muitos

profissionais de quase todas as áreas do conhecimento humano sentem-se

tentados a largarem seus empregos ou seus empreendimentos em troca de

um cargo público efetivo.

A princípio, tudo parece fazer muito sentido, afinal na iniciativa privada

o vínculo empregatício é muito tênue. O fato de trabalhar por muito tempo

numa empresa privada não é garantia de que lá continuaremos até a

aposentadoria. Inclusive é comum haver demissões, muitas vezes em massa,

de funcionários, em vista da crise econômica que nos assola há décadas.

No que diz respeito àqueles que preferem aventurar-se num

empreendimento próprio, o risco é ainda maior, já que hoje em dia não é fácil

se estabelecer empresarialmente, em virtude de vários fatores, dentre os quais

podemos enumerar: a alta carga tributária que sofrem as pequenas e médias

empresas, a concorrência cada vez mais acirrada e o tempo que leva para

qualquer nova empresa se equilibrar financeiramente.

Em vista de tantas dificuldades na iniciativa privada e na gestão do

próprio negócio, a cada dia cada vez mais pessoas, sejam jovens, adultos e

até mesmo idosos, têm voltado suas atenções e energias para o que parece

ser um oásis nesse cenário tão árduo – o serviço público. E há atualmente

uma verdadeira multidão silenciosa que, enquanto muitos se divertem,

descansam ou matam o tempo, está num ritmo animalesco, visando a vencer a

astronômica relação candidato/vaga dos concursos. Cada vez mais abrem-se

cursos preparatórios, diga-se de passagem alguns nem tão aptos assim, que

prometem levar o candidato à vitória. Essa procura por concursos e materiais

didáticos especializados gera um nicho promissor no mercado, justamente por

ir na contra-mão da crise: quanto mais desemprego e falta de mercado de

trabalho, mais pessoas dispostas a se prepararem para os concursos públicos.

O próprio avanço tecnológico, vale ressaltar o advento da internet,

principalmente a partir da segunda metade da década de 90, veio para

aumentar ainda mais as opções para quem quer se preparar para as provas.

Há diversos cursos on-line, de variados formatos, que são vendidos para

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aqueles candidatos que preferem preparar-se no conforto de seus lares, sem

precisarem despender tempo e dinheiro no deslocamento até o curso

presencial, ainda com a vantagem de não se exporem a riscos de sofrerem os

vários tipos de violência tão comuns nas grandes cidades. Há também sites

especializados em trocas de informações acerca dos concursos: os chamados

fóruns de discussão, que ajudam bastante aos candidatos a trocarem

experiências sobre as provas em andamento.

Uma vez freqüentando um curso preparatório, o candidato descobre

um mundo novo. Faz amizades com outras pessoas que estão ali obviamente

com o mesmo objetivo, que é ser aprovado, e há uma troca de energia

bastante positiva, já que aquele que realmente deseja obter êxito precisa se

empenhar muito nos estudos, em face não apenas da dificuldade das provas e

dos mínimos para aprovação em cada disciplina, mas principalmente pela

disputa acirrada que é um certame desta natureza, fazendo com que um

vestibular para uma faculdade pública pareça uma simples brincadeira, se

comparado aos concursos mais badalados.

E essa imersão no universo dos “concurseiros” é salutar justamente

pelo fato de o candidato precisar estudar numa intensidade de tempo e esforço

dificilmente encontrada em outro cenário de preparação profissional. E é nos

cursinhos que o candidato descobre que há pessoas que se preparam tanto

assim. Não é raro encontrarmos pessoas estudando para concursos durante

10, 12, 14 horas por dia, incluindo feriados e finais de semana. E infelizmente

é muito comum aquele que está na maratona em busca de conhecimento se

deparar com comentários negativos de amigos e familiares, do tipo “Você vai

ficar maluco...” ou “Para que estudar tanto?! Vamos sair um pouco...”. Por isso

podemos afirmar que é fundamental freqüentar cursos preparatórios,

principalmente os presenciais, para lograr êxitos nas provas.

Após algum tempo de preparação, que pode variar dependendo de

fatores como capacidade pessoal, empenho e – por que não dizer – um pouco

de sorte, o candidato finalmente consegue passar num concurso dentro do

número de vagas. É o momento de apresentar exames médicos e, no caso de

alguns concursos específicos para cargos de carreira policial ou que requeiram

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condicionamento físicio privilegiado, fazer alguns testes físicos

complementares, que também podem reprovar os candidatos menos aptos.

Porém, apesar de todo o esforço despendido e do incontestável mérito

daquele que toma posse e entra em exercício, o observador mais perspicaz

percebe que faltou algo que a princípio pode parecer irrelevante, mas que seria

a mola-mestra na correção, ou pelo menos diminuição, do problema do

desleixo do servidor: uma reflexão da parte do candidato sobre a

responsabilidade social que ele assume ao exercer uma função pública, seja

ela qual for. Nos cursos preparatórios, os professores são altamente

qualificados, até porque, se não forem, a turma providencia logo um abaixo-

assinado, exigindo dos dirigentes do curso a imediata troca, já que todos estão

ali interessados em aprender e não em receber um certificado de conclusão.

Mas, apesar da qualificação, os professores focam apenas no conhecimento

do conteúdo programático das provas, não induzindo os alunos a refletirem na

importância das atribuições do cargo que estão almejando. Normalmente são

evidenciadas as vantagens pecuniárias, os recessos, as jornadas de trabalho

por vezes flexíveis etc, distraídos tanto os candidatos quantos os mestres, da

necessidade de quem é em última análise o beneficiado de toda e qualquer

atividade estatal – o cidadão. Mas esta alienação não é culpa exclusiva de

quem está ali para preparar o candidato. A questão é bem mais profunda, é

cultural.

O brasileiro, até hoje influenciado pela batizada Lei de Gerson “eu

gosto de levar vantagem em tudo”, é induzido desde os primeiros anos

escolares a estudar para crescer e ganhar dinheiro. Dificilmente vemos pais

que realmente se preocupam em educar seus filhos para serem felizes em

realizarem-se profissionalmente sobre condutas éticas, não! Os pais querem

que seus filhos acumulem riquezas materiais, independente do tipo de atitudes

que deixem em seus rastros de vida. Se não falam explicitamente, incentivam

as crianças a isso por insinuações sutis: “Quando chegar a hora do lanche na

escola, comam tudo sozinho! Não dividam com ninguém” ou “Não empreste

seu apontador para ninguém, pois podem quebrar e ele custou caro”. Além de

frases aparentemente inocentes como as acima, mas que lançam na mente

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dos pequenos os germens do egoísmo, o próprio modus vivendi dos pais são

muitas vezes uma triste referência para aqueles que um dia estarão exercendo

uma função pública.

É comum o pai não poupar críticas aos políticos, à polícia e à

quantidade de impostos e, na primeira oportunidade, sonegarem o Imposto de

Renda, baseando-se em pseudojustificativas de que “o dinheiro que pagamos

de imposto vai para o bolso daqueles ladrões”, ou avançarem sinais de

trânsito, desde que o guarda não esteja presente para multá-lo. Com isso, a

criança vai assimilando que a lei vale mais para os outros do que para ele e

que só deve segui-la nos casos em que for punida caso não a siga. Torna-se

um adulto individualista e, por conseguinte, um servidor público despreocupado

em dar o melhor de si no desempenho da função, com um caráter desvirtuado

da ética, apenas disposto a usufruir as vantagens, pouco ou nada se

importando com o resultado do seu trabalho em prol da sociedade.

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CAPÍTULO II

SERVIDORES E PERFIS

É interessante notar que no conteúdo programação das provas não é

comum vermos disciplinas que levem os candidatos a refletirem sobre a

relevância das atribuições dos cargos, quando muito são elas elencadas. Com

isso, o candidato torna-se uma espécie de “franco-atirador”, preocupando-se

apenas com a aprovação. O exercício do cargo passa a não ter importância.

Os Departamentos de Recursos Humanos encontram uma grande

dificuldade de lotar (e muitas vezes relotar) o servidor, por conta da ausência

da entrevista, tão comum na iniciativa privada, no processo seletivo. Está certo

que no serviço público deve haver o máximo de objetividade na aprovação dos

candidatos, para que não haja apadrinhamentos. Mas, por conta desta mesma

objetividade, o gestor de RH se vê em alguns casos numa situação crítica, pois

não tem a seu favor os modelos de recrutamento e seleção mais adequados

para contratar pessoas com o perfil para o cargo disponível.

Não há dúvida de que cada instituição tem sua própria cultura

organizacional e, em virtude desta diversidade, cada órgão público, cada

unidade deste órgão e até mesmo cada setor de cada unidade tem sua

característica própria.

Porém, não é difícil enumerar os tipos mais comuns de servidores que

encontrarmos nos órgãos públicos do país:

a) Servidores altamente comprometidos: São pouco encontrados e

sem sombra de dúvidas são aqueles que todo gestor gostaria de ter em sua

equipe. Levam o trabalho a sério, exercem com zelo suas tarefas, pois

percebem o resultado daquilo que fazem em prol da sociedade e se esforçam

para dar sempre o melhor de si. É comum continuarem a fazer outros

concursos para cargos melhores, mas nem por isso esmorecem no cargo que

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vêem como transitório. Em geral, são os mais felizes, apesar de sempre

sobrecarregados, já que são lembrados toda vez que surge um trabalho

complexo. Costumam extrapolar a jornada diária de trabalho, às vezes em

prejuízo de sua vida pessoal, quando as circunstâncias exigem. Outra

característica marcante deste grupo é a coragem com que enfrentam

circunstâncias adversas, tipo sindicâncias ou processos administrativos

disciplinares. Essa coragem advém da sua paz de consciência, condição

exclusivamente alcançada por aqueles que não tentam enganar ninguém e se

exercem funções de chefia, é porque fizeram por merecer recebê-las.

Apesar da dedicação e tempo dispensados ao trabalho, é freqüente

neste grupo seleto a aprovação em novos concursos para cargos melhores. E

eles, em vez de baixarem seus ritmos no trabalho que já tem dia certo para

terminar, quando da posse ao novo cargo, mantêm o mesmo esforço até suas

saídas. Para nossa sorte, em vista da mudança de mentalidade que aos

poucos passa nossa sociedade, cada vez mais encontramos estes excelentes

profissionais.

b) Servidores parcialmente comprometidos: são os mais

freqüentes. Trabalham bem, porém não dão o seu melhor. Oscilam entre

momentos de dedicação plena e de um certo retardamento na execução

daquilo que lhes cabe fazer. É comum separar parte do dia para leitura de e-

mail’s, telefonemas pessoais ou um bate-papo com colegas de setor. Seus

temperamentos costumam mais ser instáveis que o daqueles altamente

comprometidos, variando momentos de entusiasmo e desânimo com sua vida

profissional. Eventualmente queixam-se do que fazem e pensam em mudar de

vida, mas seus próprios ritmos mornos de encarar suas rotinas lhes

transformam em acomodados em potencial. Alguns conseguem quebrar esse

ostracismo e tentam estudar para concursos cujas carreiras são mais

promissoras, tanto financeira quanto profissionalmente. Dentre estes,

pouquíssimos conseguem readquirir o pique que tinham quando fizeram seus

concursos, já que antes vinham de situações de desemprego ou subempregos

e agora já têm um trabalho estável, o que os faz desistir assim que começam a

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encontrar dificuldades na nova preparação para concursos melhores e, por

isso, mais difíceis.

Costumam ser pontuais, mas encerram suas atividades no momento

em que dá a hora de encerrar o expediente. Quando solicitados para ir além,

acatam o pedido, mas não o fariam voluntariamente. Também é comum não

serem pró-ativos no sentido de, ao terminarem seus trabalhos, procurarem ser

úteis em tarefas pendentes de quem as façam. Não chegam a ser um

problema para seus chefes e, dependendo do ambiente no qual estejam

inseridos, podem até mesmo ser o melhor servidor disponível para seus

superiores imediatos, se os demais colegas de setor forem do tipo abaixo.

c) Servidores descomprometidos: Verdadeira chaga no serviço

público do país. Apesar de não serem os mais freqüentes, ainda há um

número considerável desta classe, embora felizmente cada vez menos tenham

espaço na maioria dos órgãos públicos, em virtude da mudança de

mentalidade que aos poucos se opera e da reformulação da gestão pública

nos últimos anos. Muitas vezes são pessoas com enorme potencial para somar

com suas forças de trabalho em seus grupos, mas têm cristalizados em suas

mentes paradigmas negativos para quem trabalha em instituições cujos

objetivos são prestar serviços de qualidade a uma sociedade tão carente de

tudo como é o caso da sociedade brasileira.

Estes relapsos servidores nada mais são que o fruto de uma sociedade

em que se valoriza o ter em detrimento do ser com todas as conseqüências daí

advindas. Muitas vezes preparam-se para concursos já maquinando formas de

não trabalhar quando forem aprovados ou então escolhem para concorrer a

vagas em órgãos que já possuem a fama de uma cultura de mau atendimento

e desídia de seus funcionários. Outros não necessariamente preparam-se com

esta má intenção em mente, mas ao verem-se empossados, tudo fazem para

trabalhar pouco.

Na verdade, com o tempo tornam-se verdadeiros cultores do ócio,

especializando-se em artimanhas para se livrarem de todo o trabalho, ou pelo

menos daqueles mais complexos e de maior responsabilidade. Procuram fazer

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o mínimo, na intenção clara de serem cada vez menos exigidos por seus

superiores, dando a entender que não possuem competência para tarefas que

requeiram maior conhecimento técnico. Com o tempo, criam o hábito de usar o

horário do expediente quase que exclusivamente para tratar de interesses

pessoais, só trabalhando quando já resolveram suas questões particulares.

Procuram ser amáveis com seus colegas de trabalho, para lhes

granjear a simpatia, a fim de que sempre o vejam como o colega “gente boa”.

Quando se sentem isolados, sendo os únicos do setor com este perfil, tentam

de toda forma seduzir os companheiros parcialmente comprometidos (e por

isso mais influenciáveis) para diminuírem seus ritmos de trabalho, usando de

formas sutis de convencimento. Temem destoarem num ambiente sério de

trabalho e por isso procuram de todas as formas reduzir o ritmo dos colegas,

passando-lhes uma mensagem de que o bom da vida é não trabalhar e viver à

toa. Evidenciam para os que lhes dão ouvidos os riscos de assumirem maiores

responsabilidades, realçando apenas o lado negativo do trabalho.

Também procuram rotular os colegas altamente comprometidos como

“puxa-sacos” das chefias, sempre engendrando maneiras de ridicularizá-los

quando não estão presentes, fazendo comentários como “Fulano quer é

aparecer, trabalhando dessa maneira. Nem curte a vida como nós...”.

Valendo-se das suas condições de servidores estáveis, são ousados

em suas desídias: ausentam-se de suas salas por longos períodos e criticam

com veemência todas as novas idéias de realização de tarefas, ainda mais

quando estas criam melhores mecanismos de controle das atividades

realizadas. Além disso, inventam mil desculpas para justificarem suas faltas,

usando um dos principais artifícios disponíveis: a licença médica.

Lamentavelmente o afastamento para tratamento de saúde é a nosso ver o

principal artifício para aqueles que não querem trabalhar. Inventam – e às

vezes de tanto inventar acabam por somatizar – várias doenças, recorrendo a

médicos particulares de especialidades diferentes, onde afirmam estar

sentindo dores e estes médicos, não querendo se comprometer, normalmente

concedem atestados, liberando-os do trabalho por alguns dias. Estes maus

funcionários usam e abusam das licenças médicas, as quais deveriam ser

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usadas somente em situações necessárias. E esses abusos se operam

principalmente com alegações de problemas psicológicos, pois em essência

nestas doenças são mais difíceis de detectar as fraudes. E não param por aí,

com relação aos atestados: há notícias de casos de médicos sem ética

alguma, que vendem atestados, variando o preço conforme o tempo de

dispensa e há também funcionários que simplesmente falsificam atestados.

Um verdadeiro absurdo!

Para encerrar a descrição do perfil deste 3º grupo, vale ressaltar que,

embora eles tenham atitudes audaciosas em burlar os mecanismos de

controle, ao contrário daqueles do 1º grupo, que têm uma postura corajosa

ante qualquer questionamento sobre aquilo que fazem, estes têm uma

personalidade frágil, pois no fundo sabem que estão errados e vivem com

medo de a qualquer momento serem desmascarados em suas armações para

não trabalhar.

Aparentemente estes casos seriam de fácil resolução, se os chefes

imediatos fossem mais firmes com servidores desse perfil, tendo coragem de

questionarem diretamente seus colaboradores sobre suas atitudes erradas e

reportando aos seus superiores os fatos que destoassem do aceitável num

ambiente onde se exige profissionalismo, mas o caso não é assim tão simples,

como veremos a seguir.

Acreditamos que, por mais paradoxal que possa parecer numa análise

superficial, o maior culpado pelas atitudes negligentes supracitadas não são os

próprios servidores que as executam, mas sim os chefes imediatos e mediatos,

os quais aceitam passivamente estes desvios de conduta. A avaliação de

desempenho, um dos principais instrumentos para diagnosticar e corrigir tais

deslizes, existe em todo órgão público. Porém, salvo casos excepcionais, é

extremamente mal utilizada, já que a cultura vigente nas instituições ainda é

muito corporativista, ou seja, a praxe é dar nota máxima para todo colaborador,

sendo ele bom ou ruim. E isso se deve porque o chefe imediato, que é quem

geralmente avalia seu subordinado, prefere fazer “vista grossa” e nivelar todos

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por cima, pois agindo assim não se indispõe com ninguém, embora corra o

risco de gerar ressentimentos nos bons funcionários, caso estes descubram

que aquele seu colega improdutivo recebeu a mesma nota que a deles, que se

esforçam por executar bem suas tarefas.

Esta questão da escolha da chefia no serviço público é um dos

principais pontos a ser analisados pelos gestores, pois é a “pedra de toque”

para alcançar resultados satisfatórios de produtividade. Merece muita atenção

daqueles que têm poder para comissionar um servidor para exercer uma

função de liderança.

Diferentemente da iniciativa privada, onde o processo seletivo já é

direcionado para cada cargo da empresa, tais como operador de

telemarketing, supervisor de vendas, gerentes de estoques, executivos etc.,

nos concursos públicos o processo é bem diferente, pois as vagas oferecidas

são para cargos de execução, não de supervisão ou de gestão. O funcionário é

admitido por sua performance nas provas, onde lhes é cobrado conhecimentos

técnicos. Se a capacidade de se relacionar com os outros no ambiente de

trabalho já não lhe é medida, muito menos a de gerenciar tarefas e/ou liderar

pessoas. E são justamente estes funcionários que futuramente receberão

funções de gerenciamento que requerem uma boa capacidade de liderança.

A forma como se opera essa promoção do funcionário, saindo de uma

função de execução para uma de chefia é muitas vezes errada, pois incorre-se

nos seguintes equívocos:

1º Escolhe-se o funcionário mais antigo do setor, partindo-se da

desgastada premissa de que “antiguidade é posto”. E nada impede –

chegando até mesmo a ser comum - que o funcionário mais antigo seja

justamente aquele menos comprometido com o trabalho. E se ele, quando

teoricamente era supervisionado por seu chefe imediato, já não trabalhava

bem e de forma sutil já se esquivava de seus afazeres, imaginemos agora que

recebeu uma função de chefia e pode delegar todas as tarefas – inclusive as

suas – para os outros colegas.

2º Escolhe-se o funcionário que melhor executa as tarefas e melhor

conhece a rotina de trabalhos do setor. De início, podemos pensar que esta é

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a opção mais acertada, pois é baseada no mérito. Mas, nada impede de este

funcionário, apesar de exímio executor de suas funções, não ter preparo

técnico ou emocional para exercer uma função de liderança e também de

maior responsabilidade. Com isso, dois problemas surgem: perde-se um bom

executor e ganha-se um mau líder.

Não estamos querendo dizer que uma das duas formas acima não

possa vir a dar certo. O que estamos discutindo é a melhor maneira de

escolher os líderes numa instituição pública e que, apesar de toda a dificuldade

apontada, em virtude do processo seletivo sem foco no gerenciamento, é

possível quase sempre fazer boas escolhas, desde haja uma observação

apurada dos gestores. Porém, somente mais à frente abordaremos estas

alternativas, já que este capítulo atém-se principalmente à descrição dos perfis.

Três fatores que fazem grande diferença na postura dos chefes do

serviço público, quando comparados aos da iniciativa privada são:

1º) enquanto aquele das empresas particulares muitas vezes já entra

na empresa exercendo funções de gerenciamento, aquele do serviço público,

antes de ser nomeado chefe, exercia até então função similar aos seus

colaboradores e normalmente sente-se desconfortável nesta nova posição de

chefia, pois é normal os demais servidores não o tratarem como chefes de

fato.

2º) O da iniciativa privada tem a favor uma cultura organizacional que

dá poderes maiores para os chefes, muitas vezes podendo inclusive demitir

seus colaboradores ou pelo menos sinalizar para seus superiores que

substituam um mau funcionário sob seu comando. Já o do serviço público,

além de não ter em mãos o poder da demissão ou indicação para tanto, sofre

o estigma de estar se vendendo por uma função de confiança, uma vez que

como chefe tem obrigação de questionar más condutas dos colegas,

“atrapalhando” a vida daqueles que não querem trabalhar.

3º) Por último, mas não menos importante, é a diferença do resultado

de uma má atuação do chefe: enquanto o da iniciativa privada corre sempre o

risco de ser demitido, caso não cumpra bem o seu papel, e por isso em geral

têm posturas mais enérgicas com seus subordinados, os do serviço público

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sabem que, se não forem bem como chefes, perderão apenas a função de

confiança, que quase sempre não é uma parcela significativa do total de sua

remuneração, e somente retornarão às atividades inerentes a seus cargos sem

atribuições de chefe. E nesta questão ainda há o perigo de o ex-chefe, que

tentou corrigir os vícios de trabalho dos maus funcionários, quando de volta às

suas funções antigas, ainda ser rechaçado por aqueles que, em suas visões

corrompidas pelas más tendências, o viam como alguém que os traiu, já que

agiu de acordo com a cúpula da instituição, que para eles (maus funcionários)

está sempre perseguindo-os.

Agora vamos enumerar alguns tipos de chefes, normalmente

encontrados nas instituições públicas:

a) Chefes escolhidos por serem os mais antigos: às vezes podem

ser escolhidos por seus superiores, por acharem que os mais antigos, além de

serem os mais respeitados, são os que melhor conhecem o trabalho e serão,

em tese, os mais aptos a liderar. Em outros casos, podem ser escolhidos

estrategicamente, a fim de formar conluios entre amigos que passam a ficar

em posição privilegiada, formando o que se denomina na linguagem informal

de “panelinhas”, tão comuns em qualquer instituição humana.

Em muitas vezes esse modo de escolha não dá bons resultados,

principalmente pela tendência natural da maior qualificação dos mais novos,

que provém de concursos cada vez mais disputados, em vista da crescente

corrida ao serviço público nos últimos anos. O resultado desta escolha é um

chefe menos capacitado tecnicamente e também menos motivado, já que os

mais antigos não costumam ter o ritmo de trabalho tão vigoroso quanto os

mais novos.

Com isso, é comum um retrocesso no setor, começando com uma

diminuição gradual no ritmo daqueles que ficam insatisfeitos por terem que se

submeter a um chefe menos capaz, chegando a pequenas rebeliões nos

setores, em vista desta insatisfação crescente.

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Felizmente, está havendo lentamente uma mudança de paradigma,

saindo daquele onde se imaginava haver uma hierarquia do mais velho em

relação aos novatos, dizemos imaginária, pois não há norma neste sentido no

serviço público civil, ficando esta regra informal apenas por conta da

mentalidade daqueles que, por chegaram primeiro, achavam que tinham mais

direito que os outros. Atualmente há uma tendência em se valorizar mais

aquele que melhor executa as tarefas, como veremos abaixo no próximo perfil

de chefes.

b) Chefes escolhidos por serem os mais técnicos e operosos: em

relação ao critério de escolha anterior, pode-se dizer que em tese esta opção

conta com algumas vantagens, mas também não é a melhor das alternativas,

já que também tem seus problemas implícitos.

Como vantagens, podemos elencar:

1ª) Ao escolherem aqueles que melhor se saem na execução de suas

tarefas e acabam por se destacarem, o critério passa a ser impessoal;

2ª) O foco passa da antiguidade, que é algo imutável, para o mérito,

que é fruto não só da capacidade técnica, mas principalmente do esforço

pessoal do funcionário, passando a ser um estímulo para os demais da equipe,

que passam a perceber que só depende de si mesmos para conquistar

promoções futuras;

3ª) o chefe que chega a este posto por mérito próprio tem a seu favor

a poderosa força do exemplo, que vale mais que qualquer discurso e serve

como uma espécie de blindagem contra as críticas que praticamente todo

chefe recebe, justamente por ser encontrar numa posição de destaque, que o

sujeita a elas (críticas).

Mas também há uma desvantagem que pode variar de intensidade

conforme o preparo ou despreparo do novo chefe para lidar com a liderança

que passa a exercer. É que o fato de o funcionário ser um bom executor de

tarefas não pressupõe que seja também um bom líder, pois a liderança

envolve aspectos muito mais difíceis de mensurar e adquirir por meio do

estudo em livros. Envolve o que há de mais complexo num ambiente de

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trabalho: a relação interpessoal. E esse tipo de inteligência esteve durante

muito tempo em último plano no processo educacional de nosso país, o qual

sempre se pautou em oferecer simplesmente conhecimento, não se

preocupando em formar pessoas capazes de lidar bem no convívio com outras

pessoas. Como resultado, vemos o grande despreparo pelo qual passam

grande número de pessoas em nossa sociedade. Aprendem a trabalhar para

ganhar dinheiro, mas dificilmente são incentivados a viajar para dentro de si

mesmos, num processo franco de autoconhecimento, que fatalmente lhes

proporcionaria melhores condições de se relacionar. E esse despreparo se

torna mais latente em situações de exposição, como é o caso das chefias no

ambiente de trabalho.

c) Chefes escolhidos por suas capacidades de liderança: esta sem

dúvida é a melhor das alternativas e deve ser buscada pelos gestores.

Tomando com parâmetro a concisa e feliz definição de liderança descrita no

livro O Monge e O Executivo, de autoria de James C. Hunter “Liderança é a

habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente

visando atingir aos objetivos identificados como sendo para o bem

comum” vemos que se encaixa perfeitamente no que é necessário para um

chefe se estabelecer no serviço público.

Como já evidenciamos nas páginas anteriores, aquele que exerce um

cargo de chefia numa instituição pública carece de uma série de poderes que

são conferidos aos seus congêneres da iniciativa privada. Por isso, o chefe do

órgão público, para exercer uma liderança eficaz, precisa de autoridade. Mas

afinal, poder e autoridade não seriam sinônimos? A resposta é não! Podem até

confundirem-se em alguns casos, pois alguém pode ter poder e autoridade ao

mesmo tempo, mas não é a mesma coisa. Façamos um resumo de cada um:

Poder: é uma condição, em virtude de um cargo ou posição, que lhe

permite forçar alguém a obedecer, sob pena de uma punição, caso se recuse.

Por ser uma condição, num ambiente profissional pode ser concedido ou

tomado de alguém.

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Autoridade: tem a ver com uma capacidade, uma espécie de

habilidade, de persuadir alguém a fazer aquilo que você deseja que ela faça,

mas sem fazer uso de qualquer ameaça, por meio apenas da influência do

líder.

Como agora podemos facilmente constatar, um líder com autoridade

encaixa-se perfeitamente na opção que os gestores devem se valer, quando

da necessidade de se suprir uma vaga de chefia. Este chefe tem atributos que

naturalmente lhe dão uma liderança natural, sem necessidade do cargo de

chefe. Ele deve ter características que lhe dêem moral no ambiente de

trabalho, tais como:

a) Deve ser altamente comprometido com seu trabalho, agindo da

forma como descrevemos quando da caracterização deste tipo de servidor;

b) Deve tratar seus colegas com respeito, trazendo em sua conduta um

alto grau de empatia, que é a capacidade de se colocar no lugar do outro, mas

com o cuidado de se colocar naquela posição não com seus conceitos e

premissas provavelmente já mais evoluídos e abrangentes, mas sim tentando

enxergar com os olhos do outro, da forma como o outro pode ver e sentir. Com

isso, seu grau de tolerância aumentará muito;

c) Deve ter uma postura positiva e entusiástica, não a ponto de agir

com exageros, como se nenhum problema pudesse afetá-lo, mas agindo com

serenidade diante das adversidades.

Para que consiga atingir as características supracitadas, o líder deve

gostar das pessoas. Prezar a convivência humana. Ver seus colaboradores

não apenas como meras peças de reposição, mas como seres complexos que

precisam de atenção e, por que não dizer, de carinho nas relações

profissionais.

Para encerrar este capítulo queremos deixar claro que aquele que

passa a exercer uma função de comando sofre pressões que muitas vezes

desconhecia, ou pelo menos imaginava mais fáceis de lidar, sejam externas ou

internas.

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Como exemplo de pressões externas temos:

a) a inveja dos demais membros da equipe, que se sentem ressentidos

por terem que obedecer a um chefe que, dentro de seus pontos-de-vista, não é

tão bom quanto eles. E é muito comum cada pessoa ver em si mais as

próprias qualidades que seus defeitos, geralmente supervalorizando-se e

achando que fariam melhor que o chefe, se estivesse em seu lugar;

b) se querem realizar um trabalho sério, gerarão inimizades naqueles

maus funcionários que passam a ser, pelo novo chefe, obrigados a trabalhar;

c) terão pela frente toda uma série de dissabores que o trabalho

operacional, que lida apenas com as tarefas em si e não com as pessoas do

grupo, não lhe gerava.

Com relação às pressões internas, podemos evidenciar:

a) a vaidade que pode aflorar ao assumir um papel de realce na

instituição, tornando o novo chefe presunçoso, expondo-o a toda sorte de

descontroles emocionais, quando em situações difíceis em sua nova rotina,

seja advindos de fatores meramente técnicos ou provenientes de

questionamentos de sua equipe, quanto às suas atitudes como chefe;

b) a sensação de ser injustamente julgado por sua equipe, pois por

estar em situação de relevo, fica bem mais exposto às críticas alheias, que

mais cedo ou mais tarde lhe chegarão aos ouvidos e lhe testarão a capacidade

de manter-se sereno diante da maledicência.

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CAPÍTULO III

EM BUSCA DE SOLUÇÕES

Após percorrermos a saga do candidato ao cargo público e elencarmos

os principais tipos de servidores e chefes no serviço público, passemos a

discorrer sobre alternativas que permitam ao gestor alcançar bons resultados.

Dentre as rotinas da instituição é preciso que haja uma boa

comunicação. Diz-nos o autor Albuquerque (2007, p. 105):

Uma ferramenta muito poderosa para o comando com

certeza é a comunicação, tanto que ela é considerada

uma das competências essenciais para o êxito

profissional. E nos relacionamentos humanos tem seu

valor potencializado.

Com efeito, grandes males poderão ser evitados, caso haja mais

diálogo no ambiente de trabalho. Porém, existe uma cultura não só no serviço

público, como em toda nossa sociedade, que nos incentiva a calar, ao invés de

expor aos outros aquilo que pensamos. De certa forma, é preciso ter coragem

para dar nossa opinião, ainda mais quando essa opinião pode nos custar a

simpatia ou, o que todos tememos, antipatia de nossos chefes.

Os gestores precisam fomentar um ambiente propício ao diálogo, a fim

de que seus colaboradores tenham chance de dizer o que pensam sobre seu

trabalho, dando novas idéias que visem a lhes proporcionar melhores

condições de execução de suas tarefas e também visem a uma maior

qualidade de vida profissional.

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Um outro aspecto bastante relevante para os gestores e chefes é que

quanto maior a comunicação na instituição, mais eles podem conhecer suas

equipes, seja nos aspectos positivos ou negativos. É o que nos aponta

Robbins (2005, p. 279):

Quanto melhor você conhece alguém, mais precisamente

pode prever o que ele vai fazer. A previsibilidade aumenta

a confiança – mesmo que a previsão seja de que a

pessoa não é digna dela – porque as formas como o

outro provavelmente violará os acordos podem ser

previstas! Quanto maior a comunicação e a regularidade

das interações que temos com alguém, mais essa forma

de confiança pode ser desenvolvida e aplicada.

Hoje, mais do que nunca, temos opções tecnológicas para que haja

uma boa comunicação, como o rádio, o celular, o e-mail etc. Todas estas

formas devem ser usadas, já que quanto maior a interação, maiores serão as

chances de entendimento e boa execução do trabalho.

Com relação à linguagem escrita, além dos recursos virtuais, sempre

tivemos os papéis, onde eram e são impressos Ofícios, Portarias, Memorandos

e outros. Nesse aspecto, além da vantagem da formalidade em si, diz Robbins

(2005, p. 235):

Uma vantagem adicional da comunicação escrita está no

seu próprio processo. Normalmente, somos mais

cuidadosos na escolha das palavras quando escrevemos

do que quando falamos. Prestamos mais atenção ao que

queremos transmitir em uma mensagem escrita do que

em uma mensagem oral. Por este motivo, a comunicação

escrita costuma ser melhor elaborada, mais lógica e clara.

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Embora concordemos integralmente com o acima citado, devemos

alertar aos gestores que não devemos nos valer exclusivamente da linguagem

escrita, pois, apesar de seu inegável valor, ela tem a enorme desvantagem de

não trazer em si o feedback, ou seja, a percepção e a troca de impressões que

uma conversa pode fornecer. E é muito comum haver na linguagem escrita

dúvidas quanto ao sentido exato do que se diz, levando freqüentemente aquele

que lê a uma interpretação bem diferente daquela que o emissor quis passar.

Inclusive, não é raro as pessoas se desentenderem em trocas de e-mail,

justamente por não haver no meio escrito condições de o emissor transmitir

exatamente o que quer dizer, uma vez que não tem a seu favor a visualização

do interlocutor, nem as dúvidas deste é esclarecida no mesmo instante em que

surgem, o que normalmente aconteceria numa conversa ao vivo ou pelo

telefone. Em vista disso, devemos ter cuidado redobrado em tudo o que é

escrito no ambiente de trabalho, tanto quem escreve quanto quem lê.

Um dos resultados que o gestor deve buscar é a qualidade dos

serviços prestados. Mas na prática, como alcançar esta meta?

Para nos ajudar, valemo-nos do que nos explica Chiavenato (1999, p.

391):

A gestão da qualidade total nas organizações depende

fundamentalmente da otimização do potencial humano e

isto depende de quão bem as pessoas se sentem

trabalhando na organização.

Por isso é tão importante gerar qualidade de vida aos funcionários.

Todos queremos ter um bom ambiente de trabalho e o gestor tem uma

responsabilidade muito grande nessa busca. Ele deve propiciar os melhores

recursos materiais possíveis a seus liderados. Como exemplo, citamos os

móveis de uma instituição, que devem ser o mais ergonômicos e funcionais

possível. É o que nos transmite Paladini (1997, p. 148):

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Insira em seu trabalho o que de melhor existe por aí. Se

precisar, copie; modifique; adapte; teste; implante; ainda

que experimentalmente. Saiba que as boas idéias não

são exclusivamente suas. E não se esqueça de fixar o

objetivo de ser o melhor, sempre. Isto “significa uma

postura que não se fixa em objetivos momentâneos,

passageiros, mas permanentes.”.

Desta forma não ficaremos “engessados” num modelo que, por

imaginarmos estar dando certo, não deve ser modificado. O mundo modifica-

se cada vez mais rápido e os gestores devem estar atentos às mudanças que

possam afetar suas empresas.

Agindo assim, tenderão a levar seus colaboradores a um estado de

excelência em tudo que fizerem, conforme também nos informa Paladini,

(1997, p.210):

A maior contribuição que um funcionário pode oferecer à

empresa consiste em adotar, em cada uma de suas

próprias atividades, em seu dia-a-dia mesmo, os

princípios da qualidade.

Uma das maiores dificuldades que os gestores encontram ao tentar

alterar a cultura de um órgão para melhor é o comodismo dos servidores. O ser

humano traz em si uma grande resistência às mudanças, pois teme aquilo que

desconhece. Essa resistência torna-se ainda mais forte nas instituições

públicas, em vista da mentalidade de boa parte dos funcionários, que por

terem estabilidade, não se preocupam em acompanhar o dinamismo que

gravita em torno deles. Porém, caso não queiram colaborar, ficarão em

situação cada vez mais difícil, já que as mudanças ocorrem

independentemente de nossa aceitação. Felizes daqueles que se adaptam

rapidamente e de boa-vontade ao novo, pois se sentirão melhor do que

aqueles que tentam conter a marcha do progresso. É o que nos demonstra Las

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Casas (2006, p. 175): “Na prática, o que ocorre é que tendemos a nos apegar

aos procedimentos que estamos acostumados. Devemos ambicionar a

criatividade a todo instante.”

E como aqueles que ocupam posições de líder devem agir para

adaptarem-se às mudanças? Fiquemos com o ensinamento do autor Ribeiro

(2004, p. 146):

Para ser e manter-se bem sucedido em um mundo de

mudanças, é preciso saber prosperar em ambientes

difíceis. Estar atento a tudo que acontecer ao redor e

tornar-se adaptável às variações do meio.

Para direcionar seus colaboradores a uma postura mais flexível, é

importante que os líderes saibam que cada pessoa tem objetivos diferentes em

seus trabalhos. Cada um tem habilidades e talentos únicos, por isso a

contribuição para os objetivos organizacionais variará de pessoa para pessoa.

Cabe ao gestor encontrar formas de motivar seus funcionários a darem o

melhor de si nas atividades em que se sentirem melhor.

Os líderes devem motivar seus seguidores, incentivando-os da melhor

maneira possível. De acordo do Paladini (1997, p. 109):

A motivação envolve atividades desempenhadas com

interesse, determinação, entusiasmo, dedicação e

empenho. Isto é: vontade de fazer. É uma energia interna,

um movimento que nasce no interior das pessoas. Uma

pessoa motivada para a qualidade significa alguém que

acredita na importância da qualidade.

É fundamental que os servidores sintam-se bem nos seus ambientes

de trabalho, encarando suas jornadas como um momento agradável de suas

vidas. Aquele que trabalha satisfeito, além de sentir-se bem, contagia com sua

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alegria todos à sua volta. É o que nos recomenda Chiavenato (1999, p. 391):

“A gestão da qualidade total nas organizações depende fundamentalmente da

otimização do potencial humano e isto depende de quão bem as pessoas se

sentem trabalhando na organização.”

Aquele que quiser ser um bom líder devem esforçar-se para apurar sua

visão do que ocorre à sua volta, deve desenvolver ao máximo sua inteligência,

a fim de poder se comunicar bem e tomar decisões eficazes. Devem também

respeitar e valorizar seus colaboradores, sendo gentil e honesto em tudo o que

fizer. Na verdade um líder aproxima-se muito da figura do professor.

Valendo-nos do que escreveu Ribeiro (2004, p. 162):

Para ter a colaboração da sua equipe, um líder precisa

apreciar sinceramente os esforços e a competência de

seus liderados, assim como deve saber recompensar

aqueles que lhe dizem a verdade, não importando quão

desagradável ela possa ser. E mais: ele precisa ser justo

para com todos, mas tem o dever de ser generoso para

com os que têm mérito.

Conforme podemos apreender desta última citação, o bom chefe não é

aquele que trata a todos igualmente bem, mas sim aquele que trata a cada um

como merece.

Se voltarmos ao capítulo II deste trabalho, veremos que há, salvo

pequenas variações, apenas 3 tipos de servidores: os altamente

comprometidos, os parcialmente comprometidos e os descomprometidos. Ora,

tratar a todos da mesma forma seria injusto e incoerente. Um bom líder deve

agir de acordo com as circunstâncias e também com o tipo de servidor em

questão. Para tornar mais didática a explanação, dividamos em 3 partes a

conduta do bom gestor de acordo com cada tipo de colaborador:

a) Servidores altamente comprometidos: devem receber de seus

chefes reconhecimento pelos seus esforços em prol da organização. Os seus

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superiores precisam deixar explícita de todas as formas possíveis sua

satisfação com eles. Há quem defenda a tese que o elogio leva ao comodismo.

Não acreditamos em tal pensamento, muito pelo contrário! Funcionários que

recebem elogios sentem-se cada vez mais motivados a continuar se

esforçando para atingir um alto nível em suas tarefas. De maneira inversa,

aquele que trabalha bem e nunca é reconhecido, embora sua conduta não seja

visando somente ao reconhecimento de seu trabalho, tende a se desmotivar

diante do constante silêncio de seus superiores hierárquicos com relação aos

seus feitos. É importante também que o líder, ao se deparar com erros e

equívocos dos funcionários deste grupo, leve em consideração todo o histórico

deste bom servidor, relevando quanto possível suas faltas, até mesmo usando

como lema a popular e sábia expressão “Só erra quem trabalha!”.

b) Servidores parcialmente comprometidos: seus líderes precisam

reconhecer todas as suas virtudes, devendo elogiá-los por isso, não somente

diretamente a eles como também a seus superiores. Porém, seus chefes

devem sempre incentivá-los a crescer profissionalmente, fazendo críticas

construtivas sobre os aspectos negativos de suas condutas, mas sempre com

o máximo cuidado para não melindrá-los. Se sentirem que isso não vai gerar

um clima de ciúmes, deve citar os melhores funcionários que tiver como

modelos destes que, embora bons, poderiam ser melhores. Também neste

caso o líder deve agir com prudência diante de um erro, pois sabe que ele é

um bom funcionário, mas como todos nós, é passível de erros. Caso a falta

seja por uma atitude relapsa, deve exigir dele um maior comprometimento,

usando de todo o cuidado quando tiver que tecer uma crítica, a qual deve

sempre ser antecedida de um elogio sincero de suas virtudes, pois assim o

psicológico do subordinado ficará mais aberto, exemplo: “Você é um bom

funcionário, esforçado, pontual, mas poderia ser mais caprichoso e atento em

suas tarefas...”

c) Servidores descomprometidos: Este obviamente é o pior grupo de

funcionários com o qual o líder deve se deparar. E infelizmente é comum

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encontrarmos chefes que se conformam com a inércia destes maus

funcionários e tomam justamente a atitude que os cultores da ociosidade

anseiam: passam a não contar mais com eles para trabalhos mais complexos

e exaustivos, deixando-os livres para fazerem (ou melhor, não fazerem) o que

quiserem.

Porém, o bom chefe - consciente de que não está gerindo sua própria

empresa, na qual poderia fazer o que bem lhe entendesse – tem a obrigação

de lutar para conter todo e qualquer tipo de abuso. Precisa ser firme com estes

servidores, indagando diretamente deles o que pretendem com semelhantes

abusos. Deve deixar claro que não concorda com essa postura negligente com

seus serviços, inclusive tendo a coragem de informar aos seus superiores tudo

o que acontece sob sua chefia, mesmo que estas informações gerem

sindicâncias ou processos administrativos disciplinares. É claro que antes

disso deve tentar convencê-los a mudar de atitude e deve também dar tempo

para que se corrijam. Mas, caso percebam que nada muda, não devem

titubear em representar contra eles. É muito comum nesta hora o chefe pensar

que, levando o caso à frente, pode prejudicar aquele funcionário, que

geralmente tem uma família que dele depende financeiramente. Todavia, deve

ser justo, afinal quem paga o salário deste mau funcionário não é ele, mas sim

os cidadãos, que merecem serviços melhor executados. Além disso, sempre

haverá bons candidatos, aprovados em concursos, aguardando ser chamados

para trabalhar e o cargo público deve ser preenchido por pessoas dispostas a

trabalhar.

Sem dúvida não é fácil para um chefe agir desta forma, pois além do

lado emocional da questão, ele pode sofrer algum tipo de retaliação da parte

do mau funcionário exposto por sua causa. Porém, o chefe recebe uma função

de confiança e deve honrá-la, não lhe sendo facultada uma postura também

negligente.

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CONCLUSÃO

A fim de que chegássemos até aqui, percorremos toda a trajetória que

normalmente levam as pessoas, desde a preparação para o concurso até a

aprovação e a posse, a se tornarem servidores públicos. E é de vital

importância aos gestores conhecerem a essência daqueles a quem pretendem

liderar. Se não for assim, corre-se o risco de fracassarem como líderes.

Uma vez percorrida esta trajetória, elencados os tipos de servidores e

de chefes que encontrarão sob seus comandos, e também passando por

conceitos e modos de comunicação, qualidade, liderança e motivação,

chegamos ao ponto de terminar este trabalho, discorrendo agora sobre as

qualidades e ações que devem ter os gestores no serviço público. São elas:

a) Deve ser altamente comprometido: Para que chegue a este nível,

nunca deve esquecer-se de que trabalha para o povo, o qual espera dele tudo

que possa oferecer e que fazendo seu máximo não fez mais do que sua

obrigação;

b) É capaz de levar seus subordinados a também se

comprometerem: com seu exemplo contagia sua equipe a segui-lo em busca

do resultado almejado;

c) Apesar da heterogeneidade, mantém a equipe unida: embora lide

com pessoas tão diferentes entre si, consegue manter o grupo coeso,

inspirando sempre confiança em seus colaboradores;

d) Acredita no potencial de todos da equipe: ao sentirem-se

valorizados, seus seguidores esforçam-se em fazer o melhor;

e) É um bom ouvinte: somente aquele que se dispõe a ouvir e

ponderar o que sua equipe diz, tem condições plenas de superar problemas e

alcançar metas;

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f) Não deve se ater às palavras, mas sim agir a todo momento: não

deve apenas cobrar, mas também mostrar como se faz e mesmo nos piores

momentos deve estar junto a seus subordinados;

g) Deve conhecer o trabalho de seus liderados: para liderar, é

preciso saber o que deve ser feito, conhecendo cada minúcia da tarefa a ser

realizada;

h) Tem capacidade de reconhecer seus próprios erros: diferente do

que muitos imaginam, os líderes devem reconhecer seus erros, pois além de

melhorarem com isso, demonstram toda a sua grandeza, diante de sua

humildade;

i) Demonstra firmeza, quando necessário: embora de temperamento

sereno, o bom líder deve ser firme em situações que requeiram uma postura

austera, sem contudo descontrolar-se emocionalmente;

j) É criativo: diante de situações inusitadas, tem talento para adaptar-

se às circunstâncias;

l) Procura se manter atualizado: deve ter em mente que nunca

sabemos tudo e que estudar e observar o que nos cerca é sempre a melhor

receita de sucesso. Deve também incentivar sua equipe a fazer o mesmo, sem

receio de se ver superado por algum liderado;

m) Propõe Mudanças: precisa ver sempre além, vislumbrando o

futuro e antecipando-se em propor mudanças que levem a maior eficiência e

eficácia dos serviços;

n) É determinado: procura levar até o fim seus projetos profissionais,

superando obstáculos que fariam sucumbir os de ânimo mais frágil;

o) Planeja suas ações: estabelece metas, afinal atualmente não há

espaço para ações improvisadas, sendo o planejamento estratégico de vital

importância.

Finalizamos nosso trabalho desejo votos de sucesso para todos

aqueles que estão no serviço público, seja em cargos de gestão, chefias ou

não. Nunca é demais afirmar que, embora tenhamos dedicado boa parte de

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nosso trabalho a apontar maus servidores, acreditamos que o serviço público

no país tem melhorado sensivelmente nos últimos anos e que esta melhora

deve-se não somente às ações do governo, mas principalmente ao esforço

individual de cada servidor que honra seu salário, dando o melhor de si.

Citando Martin Luther King Júnior, quando disse “o que me

impressiona não é a gritaria dos maus, mas o silêncio dos bons”, desejamos

que todos os gestores tenham coragem de ousar, dirigindo suas instituições na

estrada da excelência em seus serviços e que

SEJAM VOCÊS A MUDANÇA QUE QUEREM VER NO MUNDO!

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BIBLIOGRAFIA

ALBUQUERQUE, Jamil. A arte de lidar com pessoas: A inteligência

interpessoal aplicada. São Paulo. Planeta do Brasil, 2007.

ROBBINS, Stephen P. Comportamento Organizacional. 11. ed. São

Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.

CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas: o novo papel dos

recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

PALADINI, Edson Pacheco. Qualidade total na prática. Implantação e

avaliação de sistemas de qualidade total. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1997.

LAS CASAS, Luzzi Alexandre: Qualidade total em servições:

conceitos, exercícios e casos práticos. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2004.

RIBEIRO, Lair. Saber Viver: pessoalmente, profissionalmente,

financeiramente. Belo Horizonte: Leitura, 2004.

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ÍNDICE

AGRADECIMENTOS 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Afinal, quem é o servidor público? 10

CAPÍTULO II - Servidores e Perfis 15

CAPÍTULO III – Em busca de soluções 27

CONCLUSÃO 35

BIBLIOGRAFIA 38

ÍNDICE 39