Upload
buitruc
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
EDUCAÇÃO PSICOMOTORA NO MEIO AQUÁTICO PARA
CRIANÇAS DE ZERO A TRÊS ANOS
POR KATHYANE RIBEIRO CASTELLS SILVESTRE
ORIENTADOR: VILSON SERGIO DE CARVALHO
RIO DE JANEIRO
2007
2UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
EDUCAÇÃO PSICOMOTORA NO MEIO AQUÁTICO PARA
CRIANÇAS DE ZERO A TRÊS ANOS
Refletir sobre as contribuições que a
educação psicomotora no meio aquático
trazem para o desenvolvimento de crianças
de zero a três anos.
RIO DE JANEIRO
2007
3AGRADECIMENTO
Agradeço a Deus em primeiro lugar, pela
força, coragem e fé.
A meus amigos de turma, professores, e os
meus pais em especial.
4DEDICATÓRIA
Dedico em especial, aos meus alunos de
natação. Pela força, coragem e vontade de
aprender. Ofereço com muito amor e
carinho.
5
RESUMO
O presente trabalho pretende, através de um breve estudo de cunho bibliográfico, analisar a prática da natação como um dos aspectos que facilita o desenvolvimento psicomotor da criança. Em minha pesquisa levei em conta que a criança, ao longo de sua vida, passa por diversas transformações, biológicas, físicas e emocionais. Inicialmente procurei discutir o desenvolvimento psicomotor, como se inicia, quais os seus objetivos e as estruturas que o compõem, destacando a sua importância no desenvolvimento global da criança. Posteriormente analisei na natação as suas principais características e objetivos e sua importante contribuição para o desenvolvimento da criança, promovendo melhorias nas suas capacidades físicas, cognitivas, afetivas e motoras.
6
METODOLOGIA
A metodologia utilizada no desenvolvimento deste trabalho foi baseada em
pesquisas de caráter exploratório sem hipótese prévia. Onde buscou-se construir
as junções entre atividades no meio aquático e educação psicomotora.
7SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..............................................................................................p.09
CAPITULO I
- Desenvolvimento Psicomotor...................................................................p.11
1.1 – A criança e o movimento......................................................................p.11
1.2 – Desenvolvimento motor ........................................................................p.12
1.3 – Desenvolvimento Cronológico Psicomotor ...........................................p.13
1.3.1 – O primeiro ano de vida ......................................................................p.13
1.3.2 – A infância ...........................................................................................p.16
CAPITULO II
- Importância da Educação Psicomotora na Educação Infantil ..............p.18
CAPITULO III
- A Importância da Psicomotricidade na Educação Infantil ....................p.20
3.1 – Conceitos ..............................................................................................p.20
3.2 – Funções ................................................................................................p.21
3.2.1 – Coordenação dinâmica global ...........................................................p.21
3.2.2 – Coordenação motora fina ..................................................................p.22
3.2.3 – Postura ..............................................................................................p.23
3.2.4 – Tônus ................................................................................................p.23
3.2.5 – Equilíbrio ...........................................................................................p.24
3.2.6 – Esquema Corporal ............................................................................p.24
3.2.7 – Lateralidade ......................................................................................p.28
3.2.8 – Relaxamento .....................................................................................p.29
3.2.9 – Orientação Espacial ..........................................................................p.30
3.2.10 – Organização Temporal ...................................................................p.32
83.2.11 – Ritmo ..............................................................................................p.32
3.3 – Áreas de atuação ................................................................................p.34
3.3.1 – Estimulação psicomotora ...................................................................p.34
3.3.2 – Educação psicomotora ......................................................................p.34
3.3.3 – Reeducação psicomotora ..................................................................p.35
3.3.4 – Terapia psicomotora ..........................................................................p.36
CAPITULO IV
- Psicomotricidade no Meio Aquático ........................................................p.37
CONCLUSÃO ................................................................................................p.41
REFERÊNCIAS .............................................................................................p.42
FOLHA DE AVALIAÇÃO ............................................................................. p.43
9INTRODUÇÃO
O desenvolvimento da personalidade da criança, que compreende as mudanças
ocorridas no organismo durante o processo de crescimento e desenvolvimento, tem
merecido uma atenção cada vez maior por parte dos educadores. Tendo como base esta
premissa, no presente estudo, será abordada a importância da psicomotricidade no
desenvolvimento da criança, dando–se ênfase a essa especificidade no meio aquático.
Quando se trabalha com a educação física, principalmente com a educação infantil,
é de fundamental importância o conhecimento e aplicação da psicomotricidade, pois esta
faz parte de todos os atos da criança.
A psicomotricidade está presente nos movimentos mais simples e naturais do ser
humano, por isso esse trabalho se endereça não só aos profissionais e estudantes de
educação física, mas também as famílias em geral. Desta forma, pretende-se contribuir de
maneira preventiva, no que diz respeito à educação infantil promovendo através, da visão
da psicomotricidade, um aumento da auto-estima de professores e alunos, e com isso, maior
confiança no trabalho educativo.
Através do trabalho de revisão de literatura buscou-se responder as seguintes
questões: Como a educação psicomotora pode melhorar o desenvolvimento da criança? O
que é psicomotricidade? Seus conceitos? Onde atua? Como ocorre o desenvolvimento
cronológico psicomotor? Como é a psicomotricidade no meio aquático? Além de inúmeras
outras questões importantes relacionadas a esse assunto.
Sendo assim, a primeira parte desta revisão de literatura analisou o desenvolvimento
psicomotor, motor e cronológico psicomotor de uma criança desde o seu primeiro ano de
vida até seu terceiro ano. Em seguida, analisou-se a importância da Educação Física
durante a educação infantil.
Em um terceiro momento, estudou-se também o porque a psicomotricidade dentro da
educação infantil é de fundamental importância, mostrando o conceito de educação
psicomotora, coordenação dinâmica global, coordenação motora fina, postura, tônus,
10equilíbrio, esquema corporal, lateralidade, relaxamento, orientação espacial, organização
temporal e ritmo, além das áreas de atuação da psicomotricidade.
E, por último, o trabalho enfocou a psicomotricidade e suas aplicações no meio aquático,
buscando mostrar o que se é trabalhado em uma aula de natação e como ela pode intervir
no desenvolvimento de uma criança.
11Capitulo I - O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR
1.1 A criança e o movimento
A criança atua no mundo por meio de seus movimentos. Dispõe para tal de suas
capacidades motoras, intelectuais e afetivas, estabelecendo a relação com o mundo
conforme sua carga tônica pessoal, a qual é construída no dia-a-dia com as estimulações e
limitações que o meio e as pessoas impõem. O movimento é o elemento vital no
crescimento e desenvolvimento da criança.
As vivências corporais, por sua vez, são de grande importância, pois oferecem a
base para o indivíduo desenvolver sua independência e autonomia, assim como a
maturidade sócio-emocional. Ao experimentar diferentes situações, a criança sempre se
encontra em relação com os outros, com o espaço e com os objetos, trocando conteúdos
entre seu “eu” e o mundo através desses outros (pais, educadores).
Entende-se aqui por desenvolvimento humano o desenvolvimento integrado do
crescimento, da maturação, das experiências pelas quais as crianças passam e a adaptação
desse corpo no ambiente, respeitando-se as individualidades de cada pessoa, sua herança,
bem como as condições ambientais, nas quais esse indivíduo está inserido. Esse
desenvolvimento inclui os aspectos: físicos, motores, afetivo-sociais, relacionais e
cognitivos.
“O desenvolvimento psicomotor caracteriza-se pela maturação que integra o movimento, o ritmo, a
construção espacial, o reconhecimento dos objetos, das posições, a imagem do nosso corpo e a palavra”.
(BUENO, 1998, p. 124.)
O desenvolvimento psicomotor pode ser considerado não apenas por classificações
cronológicas, mas por etapas ou estágios que apresentam características de um processo
reacional e relacional, não fixos segundo a maturação do indivíduo.
Segundo Bueno (1998), o desenvolvimento humano ainda segue princípios básicos
que valem ressaltar, pois se refere a qualquer indivíduo em todas as faixas econômicas e
culturais:
12 Desenvolvimento céfalo-caudal – o desenvolvimento é ordenado e previsível, onde
as primeiras aquisições se iniciam na região da cabeça e evoluem em direção aos pés. O
sistema nervoso também se desenvolve dessa forma.
Desenvolvimento próximo-distal – segue a direção da região central para es
extremidades. O controle processa-se do tronco para os braços, mãos e dedos.
Desenvolvimento geral para específico – ocorre em relação aos comportamentos
como no controle motor, em que haverá controle da musculatura grossa antes dos
movimentos da musculatura fina. Em outros termos, os movimentos vão ser simples e
generalizados no início e específicos e refinados futuramente.
O desenvolvimento humano vem sendo estudado sofrendo classificações, que
obedecem as distintas tendências das diferentes escolas de pensamento (européia,
americana, soviética etc.). Contudo, elas têm algo em comum: a visão geralmente é
direcionada para os aspectos motores (psicomotor), cognitivos (intelectual) e sócio-afetivos
(sócio-emocionais).
1.2 Desenvolvimento motor
O educador (principalmente o professor de educação física) deve atuar respeitando
cada etapa da vida da criança. O processo de desenvolvimento motor revela-se
principalmente através de mudanças no comportamento tais como: crianças de 0 a 6 anos
estão primeiramente envolvidas em aprender a se mover eficientemente. Portanto, a melhor
maneira de observar o processo de desenvolvimento motor é através do desenvolvimento
progressivo das habilidades de movimentos. Uma variedade de fatores cognitivos, afetivos
e motores influenciam e são influenciados pelo desenvolvimento de habilidades de
movimento sendo esses fatores muito importantes para essa pesquisa.
Conforme Gallahue & Ozmun (2001):
“É importante estudar o desenvolvimento motor, começando pelas experiências motoras precoces da
primeira infância, para compreender melhor o desenvolvimento que ocorre antes de as crianças entrarem na
escola, e também, para aprender mais sobre o conceito desenvolvimentista de como os humanos aprendem a
mover-se”. (p.192)
13 Os movimentos podem ser divididos em: reflexos, quando são involuntários (nos
primeiros meses de vida); básicos, necessários ao desenvolvimento posterior de outras
habilidades; perceptivo-motores, onde a percepção antecede a resposta motora e é muito
importante para o desenvolvimento de crianças de 0 a 6 anos, já que o funcionamento
cognitivo é fundamental para o aprendizado simbólico e conceitual; habilidades físicas, que
são elementos que determinam à adequação do desempenho de uma criança;
especializados, que exigem uma forma motora com alto grau de eficiência (séries mais
avançadas) e criativos que se referem ao desenvolvimento motor expressivo e
interpretativo.
1.3 O desenvolvimento cronológico psicomotor
Segundo Bueno (1998) a criança e o adulto apresentam alguns padrões de
desenvolvimento previsíveis. Será apresentada aqui uma síntese do desenvolvimento
psicomotor desde o nascimento até a terceira idade, fruto de nosso estudo bibliográfico e a
observação.
1.3.1 O primeiro ano de vida
Ao nascer, o indivíduo apresenta reações automático-reflexas. Algumas são mais
reflexas (sucção), as quais são chamadas organizações instintivas.
1º mês:
X Reação de atenção inata começa a olhar, deixa de chorar quando alguém se
aproxima;
X Comunica suas necessidades através do choro.
2º mês:
X Segue com os olhos os estímulos;
X Emite sons vocais;
X Brinca com as mãos
X Figuras combinadas podem desencadear um sorriso.
14
3ºmês:
X Sacode o chocalho involuntariamente;
X Sorri em resposta a outro sorriso;
X Sai do estágio reflexo entrando no mundo humano pela comunicação do
sorriso.
4º mês:
X Aproxima-se dos objetos apalpando-os;
X Ri alto, esconde-se;
X Rola;
X Começa a orientar-se no espaço.
5º mês:
X Pega objetos ao seu alcance
X Senta-se com apoio;
X Leva os pés a boca;
X O desenvolvimento da preensão muda à visão do mundo.
6º mês:
X Utiliza seu corpo e objetos no espaço;
X Balbucia;
X Alimentação sólida e com colher.
7º a 8º mês:
X Procura objetos caídos, joga-os;
X Simboliza presença e ausência (cadê, achou!);
X Simboliza a aceitação e a rejeição, sorrindo ou chorando conforme quem vê;
X Preensão ativa do polegar;
X Crise de angústia distônica, ou seja, chora quando a mãe não está perto;
15X Estabelece relação percebida e reconhecida do objeto;
X Reconhece-se alegremente no espelho;
X Transfere objetos de uma mão para outra;
X Repete os atos que lhe interessam, ou seja, bate palmas, dá pontapés em
brinquedos suspensos no berço para vê-los alcançar;
X Começa demonstrar compreensão das palavras e emite sons, parecendo
gostar de ouvir sua própria voz;
X Engatinha;
X Vocaliza sílabas.
9º mês:
X Mantém-se de pé com apoio
X Pega objetos escondidos a sua frente;
X Primeiras palavras de duas sílabas servindo para nomear tudo, instituindo-se
assim a memória;
X Movimento pinça.
10º mês:
X Coloca-se em pé sozinho;
X Bebe no copo;
X Repete os sons ouvidos;
X Interrompe a ação ao ouvir ordens;
X Aprende a falar as primeiras palavras juntando sílabas;
X Instituem-se as noções de defesa e proibição.
11º a 12º mês:
X Desenvolvimento da marcha com domínio do espaço físico e simbólico;
X Linguagem: diz três ou quatro palavras, aumentando assim a perspectiva de
pensamento;
X Entende frases curtas.
16
1.3.2 A infância
15º a 18º meses:
X Anda sozinho;
X Apresenta linguagem de ação com organizações rítmicas;
X Maturação neurológica para controle esfincteriano (início da percepção);
X Já faz rabiscos.
2 anos:
X Noção de totalidade corporal (mas não relaciona as partes);
X Reconhece diferença sexual;
X Usa colher e lápis;
X Salta com os pés juntos;
X O real está confuso com a fantasia – o que pensa e imagina é sempre mais
verdadeiro e realizável para a criança;
X Controle total dos esfíncteres;
X O vocabulário aumenta.
3 anos:
X Utiliza o pronome “eu” - tomada de consciência de si;
X Reconhece e explica ações;
X È capaz de classificar, identificar e comparar;
X Vocabulário em torno de 200 palavras;
X Demonstra cooperação;
X Salta em um pé só, dois ou três passos;
X Anda de velocípede;
X Sobe e desce escadas alternando os passos;
X A coordenação motora fina se aperfeiçoa;
X Idade dos “porquês”;
X Começa a se meter nas conversas dos adultos;
17X Começa a usa a tesoura.
As experiências motoras da criança são decisivas na elaboração que darão
origem às formas de raciocínio, em cada fase do desenvolvimento. As estruturas do
comportamento humano são essencialmente de ordem motora e só mais tarde de ordem
mental. À medida que o contato com o meio vai se enriquecendo, o papel da
psicomotricidade tem maior influencia na conscientização dos movimentos. Com isso
pensa-se que a psicomotricidade está diretamente ligada as etapas de maturação, formando
uma base indispensável à toda criança.
18Capítulo II - IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
O conhecimento do mundo da criança principalmente na primeira infância depende
das interações dela com os outros e com as coisas.
Para Le Boulch (1982):
“A criança desde o nascimento apresenta potencialidades para desenvolver-se, mas que elas não
dependem só da maturação dos processos orgânicos, senão também o intercâmbio com o outrem e que isto é
de maior importância na primeira infância. Este intercâmbio tem uma influência determinante na orientação
do temperamento e da personalidade e é através destas relações com as outras pessoas que o “ser” se
descobre e que a personalidade se constrói pouco a pouco.” (p.13)
O conhecimento de si próprio é insuficiente para estabelecer relações de grupo e,
por isso, a criança centra-se em seus brinquedos, em suas próprias atividades e em seus
interesses.
Algumas escolas não levam muito em consideração à importância do brinquedo e da
atividade física para a criança, preocupando-se apenas com os aspectos relativos à
alfabetização. Esquecem aspectos do desenvolvimento de vital importância tais como: o
social e o psicomotor.
A aprendizagem deve ser significativa nas primeiras fases da vida, pois depende mais
do que em qualquer outra, da ação corporal. Ferreira (2000) “afirma que a ação motora, o
movimento, a habilidade e a experiência, são conceitos fundamentais para o currículo da
educação física infantil”.( p.45)
Brincadeiras e atividades que desenvolvam habilidades nas crianças são elementos
relevantes e têm como objetivo transmitir a elas confiança em si mesmas, compreensão de
seu meio ambiente e disposição à comunicação. Isto só é possível quando a criança conhece
sua própria capacidade de expressão. Uma possibilidade de expressão importante na
infância é o movimento, que transmite à criança a sensação de espaço, tempo e material;
além disso, o movimento é estimulante, encoraja e aumenta o espaço de ação. Assim, a
criança aprende a fazer uso, não só de objetos, mas também de si mesma.
19 O professor de Educação Física deve possibilitar a seu aluno que em cada período
de sua vida, possa utilizar, da melhor maneira possível, uma boa qualidade de movimentos,
de acordo com a orientação teórica e os modelos apresentados, ou seja, que aos três anos,
por exemplo, possam correr ou andar com certa habilidade, que aos seis anos possam saltar
de certa forma, sem deixar de incluir a relação afetiva como motor da aprendizagem.
Diante das características da criança na primeira infância, não há por que não
valorizar a Educação Física. Se o contexto for significativo para a criança, o jogo, como
qualquer outro recurso pedagógico, tem conseqüências importantes no seu
desenvolvimento.
Na primeira infância, mais do que em qualquer período subseqüente, o brinquedo e
o jogo são fundamentais para a vida das crianças. As atividades lúdicas dentro da escola,
orientadas pelo professor devem ter objetivos educacionais como em qualquer outra
atividade. A ação corporal dos alunos de creches e pré-escolas ainda predomina sobre a
ação mental, por isso os professores devem estar permanentemente preocupados com
desenvolvimento psicomotor.
20Capítulo III. A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
A estimulação do desenvolvimento psicomotor é fundamental na construção da
consciência dos movimentos corporais integrados a emoção que os acompanha. A fase mais
importante para trabalhar os principais aspectos do desenvolvimento (motor, intelectual e
sócio-emocional) é a faixa que compreende do nascimento aos 8 anos aproximadamente.
(BUENO, 1998). É nesse período que se instalam as principais dificuldades em todas as
áreas de relação com o meio ao qual está inserida a criança e que, se não forem exploradas
e trabalhadas poderão trazer prejuízos tais como: dificuldades na escrita, na leitura, na fala,
na sociabilização, entre outros. Após esse período há um refinamento de suas capacidades
básicas, refinamento esse possível apenas com a boa integridade de suas condutas
psicomotoras, subdivididas didaticamente em funcionais e relacionais. Observando o
indivíduo de forma global, a psicomotricidade faz-se necessária tanto para prevenção e
tratamento das dificuldades quanto para exploração do potencial ativo de cada um.
Portanto, explanaremos os conceitos dentro de um potencial ativo existente em cada ser
humano.
3.1 Conceitos
Conforme Liliane Carvalho (2003): É uma ciência que na realidade tem como infra-
estrutura outras ciências que auxiliam no diagnóstico e análise do corpo em expressão.
Cabe a ela o papel tanto preventivo como corretivo de todo e qualquer problema que venha
a aparecer.
À Educação psicomotora concerne uma formação de base indispensável a toda
criança que seja normal ou com problemas. Responde a uma dupla finalidade: assegurar o
desenvolvimento funcional tendo em conta as possibilidades da criança e ajudar sua
afetividade a expandir-se e a equilibrar-se através do intercâmbio com o ambiente humano.
Segundo Jean Claude Coste: ”é a ciência encruzilhada, onde se cruzam e se
encontram múltiplos pontos de vista biológicos, psicológicos, psicanalíticos, sociológicos e
lingüísticos”. ( Coste, 1978 p.145).
213.2. Funções
3.2.1 Coordenação Dinâmica Global
A coordenação dinâmica global ou geral é considerada como a possibilidade de
controle dos movimentos amplos do nosso corpo. Ela permite a possibilidade de contrair
grupos musculares diferentes de uma forma independente, inibindo os movimentos
parasitas, como as paratonias (perturbação do tônus muscular – debilidade motora
consistindo principalmente numa dificuldade do relaxamento voluntário) e sincinesias
(tendência patológica para a execução simétrica de qualquer movimento, de qualquer
contração muscular que executa um membro sem que a associação possua um significado
funcional). Segundo Alves (1981), para que essa coordenação ocorra, é necessária uma
perfeita harmonia de grupos musculares colocados em movimento ou repouso. Sua função
é permitir, da forma mais eficaz e econômica possível, movimentos que interessam a vários
segmentos corporais, implicados em um gesto ou em uma atitude.
Para Damasceno (1992) “a criança progressivamente se descobre através de uma
atividade corporal ou instintiva a princípio, diferenciada e intencional depois, e esta
atividade lhe permite descobrir o mundo que a rodeia”.(p.39)
A coordenação geral apresenta-se sob dois aspectos: coordenação estática, a qual se
realiza em repouso e que, conforme Alves, citado por Bueno (1998): “resulta do equilíbrio
entre ação dos grupos musculares antagonistas, estabelecendo-se em função do tônus e
permite a conservação voluntária de atitudes”(p.52), “e a coordenação dinâmica, que é a
colocação em ação simultânea de grupos musculares diferentes, com vista à execução de
movimentos voluntários mais ou menos complexos” (p.53).
Compreende movimentos com membros inferiores em simultaneidade com
membros superiores como: correr, trepar, saltar, arremessar bolas, levar objetos, andar,
marchar, suspender-se, lançar etc.
Segundo La Pierre (1986):
“A descoberta deste ‘poder agir’, associada ao poder sentir, vai trazer uma nova dimensão ao
prazer primitivo do movimento. É o prazer de pegar o objeto dar-lhe movimento, de deslocá-lo, de lançá-lo,
de modificar sua forma, de fazer barulho com ele”. (p.19)
22
A coordenação estática está subordinada a um bom controle postural, enquanto um
bom automatismo depende de uma adequada coordenação dinâmica.
Para um bom desenvolvimento da coordenação dinâmica global, as atividades
devem seguir uma progressão simples para outras sucessivas e combinadas, seguindo do
amplo para o específico.
3.2.2 Coordenação motora fina
É considerada como a capacidade de controlar os pequenos músculos para
exercícios refinados como: recorte, perfuração, colagem, encaixe, entre outros. Envolve a
coordenação viso-manual ou oculomanual, a coordenação viso-motora ou oculomotora e a
coordenação musculo-facial.
A coordenação viso-motora é definida como a “capacidade de coordenar os
movimentos em relação ao alvo visual”.
A coordenação viso-manual é a coordenação entre visão e o tato, os segmentos da
cabeça e das mãos, que juntamente permitem à criança poder segurar o objeto e controlar o
movimento para o objetivo, por meio do instrumento de apoio ou não, do que os olhos
vêem. Como exemplo bem refinado da coordenação viso-motora citamos a escrita. As
atividades devem ser iniciadas por exercícios com o corpo inteiro. Elas devem atingir três
particularidades da coordenação: a destreza, a velocidade e a precisão. Essas três
habilidades desenvolvidas traduzirão em uma escrita com um bom desempenho na
qualidade, legibilidade, capricho e ritmo.
A coordenação músculo-facial refere-se aos movimentos refinados da face
propriamente ditos e é fundamental na aquisição da fala, da mastigação e da deglutição.
Para profissionais da psicomotricidade, saber utilizar-se das expressões fisionômicas
configura-se grande instrumento de ação na relação com aquele que é atendido, seja ele
adulto ou criança. Saber falar através do olhar e da expressão revela mais que simplesmente
falar.
233.2.3 Postura
A postura está diretamente relacionada com o tônus, constituindo uma unidade
tônico-postural cujo controle facilita a possibilidade de canalizar a energia tônica necessária
para realizar os gestos, prolongar uma ação ou levar o corpo a uma posição determinada.
Esse controle depende do nível de maturação, da força muscular e das características
psicomotoras do indivíduo. À sua vez, atua tanto sobre o plano da motricidade fina como
da motricidade global, facilitando o equilíbrio postural, ou seja, é necessário que o
indivíduo seja capaz de dominar cada postura para executar a ação pretendida e a cada
modificação de postura o tônus se modifica para ajustar a nova postura. A criança só
aprenderá habilidades em determinada postura (sentada, em pé, deitada) se mantiver uma
postura adequada e dominada.
A distonia é uma perturbação tônica que tem duas modalidades: distonia de atitude e
a distonia neurovegetativa. A distonia de atitude consiste em qualquer posição, pois se
relaciona com a tensão muscular. Nelas normalmente o movimento está rígido, fixado. (ex:
torcicolo). A distonia neurovegetativa relaciona-se a transtornos emocionais ou afetivos
devido a um desequilíbrio neurovegetativo. A manifesta-se por um estado de hipotensão.
Em ambos os casos de distonia o relaxamento é o mais aconselhado.
3.2.4 Tônus
Referindo-se ao tono muscular, Ganong, citado por Bueno (1998), indica que “a
resistência de um músculo à distensão é comumente referida como seu tônus ou
tono”(p.53). Em outras palavras, refere-se à firmeza à palpação e está presente tanto nos
músculos em repouso como em movimento. O desenvolvimento do tônus é uma condição
básica para aquisição de movimentos manuais coordenados, ou seja, para uma boa
coordenação viso-manual. Com o tônus anormal, necessariamente a imagem sensorial de
seus movimentos e ações será anormal.
Wallon, citado por Ferreira (2000) comenta que “em nível corporal existe uma
organização tônica ligada às vivências emocionais e afetivas, sendo uma forma de lidar
com o significado simbólico da vivência e que não podemos evitar”. (p.34)
24 Os estados de mudanças emocionais como a angústia, a depressão, a hiperatividade
física e os distúrbios psíquicos estão intimamente relacionados com o tônus. É a
maleabilidade nas relações afetivas, por meio do diálogo tônico-afetivo estabelecido entre
os indivíduos, que instituirá a verdadeira comunicação.
3.2.5 Equilíbrio
O equilíbrio é à base de toda coordenação dinâmica global. É a noção de
distribuição do peso em relação a um espaço e há um tempo e relação ao eixo de gravidade.
O equilíbrio depende essencialmente do sistema labiríntico e do sistema plantar.
O equilíbrio pode ser estático ou dinâmico. O primeiro apresenta mais dificuldade,
sendo mais abstrato e exigindo mais concentração. Contudo, seu controle é importantíssimo
para uma futura e adequada aprendizagem. Suas formas de ação referem-se à capacidade de
sustentar-se em diferentes situações, mesmo as mais difíceis (com olhos fechados, sobre
um pé, sobre um plano inclinado, de cócoras).
O equilíbrio dinâmico está em estreita relação com a constituição estato-poderal,
com as funções tônico-motoras, com os membros e os órgãos, tanto sensoriais como
motores. Wallon, apud Ferreira (2000) comenta que “toda parte do corpo que se move
tende a mover o centro de gravidade” (p.35) e por isso quando o corpo está em movimento
a dificuldade se acentua e as contrações compensadoras de cada movimento parcial devem
combinar-se em uma espécie de equilíbrio fluído e progressivo, visando atingir o gesto
harmonioso.
Na evolução psicomotora da criança é necessário que ela tome consciência do seu
contato com o solo e com a mobilidade da articulação do pé e do tornozelo para uma boa
progressão para a aquisição da marcha.
3.2.6 Esquema corporal
O esquema corporal é um elemento indispensável para a formação da personalidade
da criança, sendo seu núcleo central, pois reflete o equilíbrio entre as funções psicomotoras
e sua maturidade emocional. A consciência corporal é alcançada pela percepção do mundo
25exterior, da mesma forma que a consciência do mundo exterior acontece por meio do corpo.
E a linguagem que a criança estabelece através desse corpo é de fundamental importância
no processo educativo. Escobar, citado por Bueno (1998) comenta “A linguagem
fundamental é a ação, pois somente a ação é a comunicação com o mundo” (p.55).
A imagem corporal, ou seja, a intuição que a criança tem de seu corpo em relação
ao espaço dos objetos e das pessoas, propiciará a relação deste com o outro de maneira
normal, (aqui entendida como socialmente aceita) ou de forma patológica (distúrbios de
imagem)1 .
O Esquema corporal, segundo Le Boulch (1983) é:
“uma instituição de conjunto ou conhecimento imediato que temos de nosso corpo em posição
estática ou em movimento, na relação das suas diferentes partes, entre si e, sobretudo, nas relações com o
espaço e os objetos que nos circundam”. (p.37)
A própria criança percebe-se e percebe os seres e as coisas que a cercam em função
de seu corpo próprio. Sua personalidade se desenvolverá graças a uma progressiva tomada
de consciência corporal, de seu ser, de suas possibilidades de agir e transformar o mundo a
sua volta.
A estruturação espaço-temporal fundamenta-se nas bases do esquema corporal sem
o qual a criança, não reconhecendo a si mesma, só muito dificilmente poderia apreender o
espaço que a rodeia.
Várias condutas psicomotoras dependem do esquema corporal: o equilíbrio, a
coordenação viso-motora, a percepção de movimentos, de posição no espaço, e a
linguagem corporal e verbal (ou verbo-motora).
Dessa forma, os prejuízos na formação do esquema corporal refletem-se sob
múltiplas formas: a criança torna-se desajustada, demonstra dificuldade de compreensão de
palavras que designam posição espacial (dentro/ fora, em cima/ em baixo etc.), é incapaz de
1 Cohen,Ruth “Psicose e Imagem Corporal”, capitulo 12 em: Imagem e Esquema Corporal org: Carlos Alberto de M.Ferreira e Rita Thompson, SP, editora Lovise (2002)
26perceber as diferenças de letras (/p/ por /b/ por /d/, /p/ por /q/ etc.) e palavras (porco /
corpo), numerais (24 /42) e outros.
O desenvolvimento do esquema corporal também representa a função de
socialização do indivíduo. As primeiras experiências sociais realizam-se com corpo das
pessoas significantes que rodeiam a criança e as atitudes mantidas são percebidas por ela,
que aprende a relacionar essas atitudes com o mundo exterior.
Um esquema corporal bem integrado implica:
X A percepção e o controle do próprio corpo;
X Imagem corporal
X Um equilíbrio postural econômico;
X Uma lateralidade bem definida
X A independência dos segmentos em relação ao tronco e uns em relação aos
outros;
X O controle e o equilíbrio das pulsões ou inibições estreitamente associadas ao
esquema corporal e ao controle da respiração.
Torna-se muito importante ainda comentar sobre dois conceitos, muito comumente
confundidos com esquema corporal: imagem corporal e o eixo corporal, mas que estão em
íntima relação com este.
O conceito de imagem corporal, segundo LE BOULCH (1981) é:
“A imagem corporal realiza-se dentro do conjunto do processo simbólico, vindo a ser uma imitação
idealizada e interiorizada. Ou seja, a imagem corporal expressa essa intuição que tem o próprio corpo em
relação ao espaço dos objetos e das pessoas. Ela se forma como uma imagem totalizada, mas é obtida pelas
experiências fragmentadas no tempo e no espaço. Essas experiências são construídas a partir do
desenvolvimento, mas garantidas com o relacional, com o investimento do outro em nós e nosso investimento
no outro. O ser humano se constrói no enredamento do contato com o outro” (p.43)
Se o indivíduo não constrói sua imagem de forma acabada não permite a relação, e
entrada do outro, não se modifica e por fim não se vê. Para Ferreira (2000) “a imagem
corporal é o modo como a pessoa percebe e sente a respeito de seu próprio corpo. Essa
capacidade será exemplificada nas inteligências pessoais”.(p.55)
27 Lacan, citado por Cohen (2002) chama de “estádio do espelho” a imagem da forma
humana, que entre seis meses e dois anos e meio, domina toda dialética do comportamento
da criança. O interesse da criança por sua imagem se manifesta através do diálogo tônico
que estabelece com aquele que cuida. É pela relação afetiva que o sujeito se identifica
primordialmente com a imagem visual de um outro (adulto) para só depois construir seu
corpo próprio.2
Em relação ao eixo corporal, diremos que está representado pela coluna vertebral,
assegurando a armadura e a unidade do tronco. A coluna vertebral reúne vários sistemas:
X Sistema nervoso central, constituído pela medula espinhal, limitada à direita e
à esquerda pelas cadeias do sistema nervoso simpático-vegetativo;
X Sistema ósseo, constituído pelas vértebras;
X Sistema muscular.
Diversos autores falam da grande influência dos fatores emocionais e labirínticos
sobre o eixo corporal. Muitas vezes as perturbações sociais, emocionais e relacionais são
causadoras de distúrbios psicomotores, afetando o equilíbrio, organização espacial,
lateralidade e o esquema corporal entre outros.
Cada parte da coluna tem função precisa, a qual faz parte do eixo corporal, um
sistema investido de funções tônicas, motoras e de orientação espacial. A integração do
eixo corporal é, portanto, um elemento essencial para constituição do esquema corporal. A
educação psicomotora se dirigirá fundamentalmente à tomada de consciência desse eixo e a
função referencial que exerce. Pelo contrário, uma defeituosa integração do eixo corporal
leva consigo perturbações da percepção espacial do indivíduo, as quais dificultam o
reconhecimento e a unificação do próprio corpo.
Ferreira (2000) comenta o fato acima citado dizendo que “o conhecimento que a
criança tem do próprio corpo, da relação das partes entre si incluindo o conhecimento das
funções que realizam as diferentes partes do corpo”.(p.49)
2 Cohen Psicose e Imagem Corporal em: capitulo 12 ( 2002)
283.2.7 Lateralidade
É a capacidade motora de percepção integrada dos dois lados do corpo: direito e
esquerdo. É o elemento fundamental de relação e orientação com o mundo exterior.
A lateralidade liga-se ao desenvolvimento do esquema corporal. A predominância
de um dos lados do corpo se faz em função do hemisfério cerebral.
Ferreira (2000) diz que:
“a lateralidade se refere ao espaço interno do indivíduo, capacitando-o a utilizar um lado do corpo com
maior desembaraço do que o outro, em atividades que requeiram habilidade, caracterizando-se por uma
assimetria funcional”.(p.50)
As atividades motoras são controladas por um dos hemisférios cerebrais,
considerado dominante. Algumas funções e operações estão sob a dominância direita,
outras sob a esquerda, de acordo a estrutura do organismo humano. Essa dominância é
relativa mesmo no que refere à organização neurológica e cerebral e podem ocorrer
numerosas substituições e compensações.
Canongia, citado por Bueno (1998) diz que a lateralidade é “o emprego de
preferências dos membros de uma metade a outra do corpo”.(p.56)
Le Boulch (1981) define como:
“a tradução de uma predominância motriz levada aos segmentos direitos ou esquerdos e em relação a uma
aceleração da maturação dos centros sensitivos motores de um dos hemisférios cerebrais”.(p.44)
Noções de dominância lateral
Durante o crescimento naturalmente se define uma dominância lateral na criança, ou
seja, será mais forte, mais ágil do lado direito ou esquerdo do seu corpo. Este fato é
observado do ponto de vista da força (chutar a bola, martelar) e da precisão (desenhar,
recortar) no nível dos membros inferiores e superiores, dos olhos e dos ouvidos. Pode-se
observar:
Lateralidade homogênia - dominância destra ou canhota no nível de todas as
observações (membros superiores, inferiores, olhos, ouvidos).
29 Lateralidade cruzada – destra da mão, canhoto do pé, do olho ouvido ou vice-versa.
Ambidestra – é tão hábil do lado esquerdo quanto do direito.
Um dos questionamentos comuns é quando se define a lateralidade. Normalmente a
partir dos 7 meses de vida, a criança passa, em função da maturação neurológica, a segurar
objetos com uma das mãos. Ela exercita a transferência de uma para outra mão e sua
preferência flutua de um para outro lado. Bueno (1998) diz que “a partir do final do
primeiro ano de vida, a lateralidade começa a se evidenciar e, normalmente em torno de 2
anos, a lateralidade já está constituída. Mas só é destra ou sinistra em torno dos 6 a 7 anos”.
(p.60)
A definição do nosso lado dominante está relacionada a vários fatores (culturais,
ambientais, neurológicos etc.). Estes valores referem-se à coação de alguns professores no
uso da mão esquerda, à imitação dos colegas de classe, à maturação fisiológica etc. Existem
estudos concluindo que a lateralidade existe um fator hereditário, não se desprezando o
valor do meio social educativo.
Conforme Bueno (1998):
“Existe uma grande diferença entre lateralidade e o conhecimento da criança de direita-esquerda. A
lateralidade é a dominância de um lado em relação ao outro em nível de força e precisão e o conhecimento
de direita-esquerda é apenas o domínio dos termos em questão”.(p.60)
Há muitos distúrbios psicomotores relacionados à lateralidade. É evidente que não
se pode forçar a mudança do lado dominante da criança, pois isso provocaria uma
desorganização psicomotora acentuada.
3.2.8 Relaxamento
É uma forma de atividade psicomotora na qual se objetiva a redução das tensões
psíquicas, levando a descontração muscular. O relaxamento proporciona melhor
conhecimento do esquema corporal, melhor estruturação espaço-temporal e equilíbrio,
contração e descontração. É a noção de tenso, relaxado, duro, mole, e a criança transpõe
essas noções para seu próprio corpo.
O relaxamento é considerado o contrário da contração e procura ocasionar uma
regulação dos ritmos orgânicos (respiração, circulação etc.). Sua finalidade básica é o a
30integração conscientizada dos diferentes estados tensionais e promovendo
progressivamente um estado de prazer. Pretende atingir um estado de repouso e de calma
interior da corporalidade.
Em situações onde se precise usar manobras de relaxamento, o primeiro
relaxamento aplicado em um indivíduo deverá ser de:
X Tomada de consciência;
X Noção de imobilidade;
X Desenvolvimento da faculdade de inibição, ou seja, controle tensão – relaxamento.
X E necessário, por isso, que o relaxamento global preceda ao segmentário. O
relaxamento global permita a obtenção do descondicionamento, ou seja, o esquecimento
das atitudes e dos movimentos do cotidiano. O relaxamento segmentar, devidamente
interiorizado, permite a progressiva percepção e controle das diferentes partes do corpo, a
diminuição da rigidez e tensão musculares e a independência da movimentação dos
segmentos em relação ao tronco.
3.2.9 Orientação espacial
Nosso corpo, para levar a cabo a informação sobre as propriedades de seu meio,
possui dois sistemas receptores sensoriais:
Segundo Bueno (1998):
X Um sistema visual, no qual os receptores estão situados na retina do olho
humano, traduzindo fundamentalmente uma informação relativa à superfície.
X Um sistema tátil-cinestésico, dispersado por todo o corpo e muito
diferenciado, o qual proporciona três tipos de informação:
1. A posição relativa das diversas partes do corpo;
2. Desenvolvimento global ou de um dos membros;
3. Superfícies físicas encontradas e todas as propriedades das mesmas: rigidez,
resistência, pressão, e etc. Assim como a velocidade dos deslocamentos.
Conforme Ferreira (2000):
31 “A noção de espaço vai sendo construída paulatinamente, e perece formar-se por impressões
prévias que moldaram o esquema corporal. Partindo da organização do próprio corpo e de uma imagem
coerente do Eu como referência constante, a criança pouco a pouco vai ampliando seu espaço”. (p.50)
A todo o instante a criança encontra-se em um espaço bem preciso onde lhe é
solicitado que se situe (ex: está sentada em uma cadeira), que situe os objetos uns em
relação aos outros (ex: o pincel está dentro do copo), que se organize em função do espaço
que dispõe (ex: a criança desenha um sol no canto superior da folha, casa no meio e árvore
ao lado da casa).
Portanto a estruturação espacial é parte integrante de nossa vida; aliás, é difícil
dissociar os elementos fundamentais da psicomotricidade: corpo-tempo e, quando
operamos com toda essa dissociação, limitamo-nos a um aspecto bem preciso e restrito da
realidade.
Aprender a localização de um objeto no espaço não é fácil, pois começa no início da
vida e continua durante a idade adulta por meio das revisões de nosso conceito espacial.
Assim podemos compreender a dificuldades de uma criança em idade escolar para lidar
com todas essas informações e conceitos.
A percepção do espaço constitui um requisito para criança se encontrar em casa, na
rua, na escola, em muitas situações de vida e exigem tanto capacidade motora quanto
percepção espacial.
A consciência do espaço também representa uma preparação para aprender
geografia e obter uma visão do universo.
A percepção espacial, inicialmente estrutura-se com referência ao próprio corpo e
depois se organiza por meio do esquema corporal e da experiência pessoal.
A carência de vivências, de cunho espacial, pode comprometer a aprendizagem da
leitura e escrita (percepção óculo-motora, lateralidade, motricidade ocular e sucessão e
progressão de letras orientadas).
323.2.10 Organização temporal
É a capacidade de situar-se em função:
X Da sucessão dos acontecimentos (antes, durante, após);
X Da duração dos intervalos (hora, minuto, aceleração, freada, andar, corrida);
X Renovação cíclica de certos períodos (dias da semana, meses, estações);
X Do caráter irreversível do tempo (noção de envelhecimento, plantas e
pessoas).
As noções temporais são muito abstratas e muitas vezes difíceis de serem
adquiridas pelas crianças.
A noção de tempo está intimamente ligada à noção de espaço. Ferreira (2000):
“impossível pensar em tempo isoladamente sem relação com o espaço, assim como também
é impossível pensar-se em espaço apenas sem relacioná-lo com o tempo”. (p.50). O tempo
é, no entanto, uma noção material a qual, não podendo ser objetivada, pode apenas ser
expressa pelo som. Assim, situamos o presente, o passado e o futuro em relação ao antes,
depois e avaliamos o movimento no tempo, distinguindo o rápido do lento, o sucessivo do
simultâneo.
Podemos organizar exercícios de orientação temporal utilizando: antes, depois,
agora, manhã, tarde, noite, ontem, hoje, rápido, lento, forte, fraco, alto, baixo.
3.2.11 Ritmo
O ritmo é a força que está presente em todas as atividades humanas e se manifesta
em todos os fenômenos da natureza. Conforme Piccolo, citado por Bueno (1998) “fluir é a
tradução da palavra ritmo, ou seja, tudo que está em constante movimento”. (p.66)
A maneira como andamos, como falamos, como realizamos os gestos da vida
diária, a esse ritmo chamamos de ritmo vital. Esse ritmo está subordinado aos ritmos
biológicos que regem o nosso organismo conforme as interferências do meio. São eles:
ritmo ultradiano, circadiano e infradiano. Os ritmos ultradiano são os das células cerebrais,
do coração, da respiração e que mantêm o nosso corpo atuante. Os ritmos circadianos
referem-se ao sono, ao metabolismo, fome, sede, endócrinos, temperatura etc. Eles
dependem do hipotálamo e são influenciados indiretamente pelo córtex. Os ritmos
33infradianos referem-se às modificações periódicas desse organismo, como ciclo menstrual.
Pode-se falar também em ritmo psicológico, que interfere sobremaneira no ritmo vital, mas
do qual não trataremos aqui, pois indica a complexa influência do psiquismo alterando o
ritmo corporal.
Existem diferentes espécies de ritmo: os externos, que organizam a sucessão dos
eventos naturais (ritmo das estações, dos dias, das horas) e do conjunto de fenômenos que
lhe correspondem (claridade, escuridão, calor, frio, germinação e floração, migração dos
animais etc) e os internos, seus ciclos vitais. Acreditamos que ritmo é algo interno que se
estabelece pessoal e individualmente no movimento natural, na dança, na poesia e na
música de cada indivíduo.
As atividades rítmicas são úteis para facilitar a exploração de outras formas de
consciência corporal. A atividade regulariza a força nervosa e proporciona sensações
agradáveis ao indivíduo. Sendo econômica, graças à alternância de movimento, de força e
de relaxamento, lentos ou rápidos, pesados ou leves, é ainda que exige menos atenção e
esforço consciente.
A educação do sentido rítmico deve começar por aquisição e aperfeiçoamento
das noções elementares do tipo físico: noções de regularidade, velocidade, duração, silêncio
e acentuação, as quais permitem conseguir a percepção de estruturas sonoras ou melódicas
mais complexas.
O verdadeiro objetivo da atividade rítmica em educação psicomotora reside em
que, ao ajudar a supressão das contraturas devido a uma atividade voluntária mal
controlada, o ritmo permite a flexibilidade, o relaxamento, a independência segmentaria,
elementos indispensáveis segmentaria, elementos indispensáveis da autonomia motora.
A sincronização sensório-motor é iniciada na criança com idade de 1 ano, mas
só é adquirida aos 3/ 4 anos. Daí a importância de oferecer às crianças pequenas a prática
musical. (Bueno, 1998).
A liberdade de movimentos ajuda a diminuir a timidez, incentiva a imaginação e
criatividade, assim como ativa toda a motricidade da mente e preparando o corpo para o
ritmo e para a fala.
34 Na abordagem profissional, cremos que atentar para o ritmo de cada indivíduo é
atentar para o seu eu. É o processo rítmico de cada indivíduo que determina seu
desenvolvimento ou suas alterações, o ritmo deve ser visto como um fenômeno do
movimento e não como um acontecimento no tempo.
3.3. Áreas de Atuação da Psicomotricidade
O Psicomotricista atua nas áreas de estimulação, na educação, na reeducação e na
terapia psicomotora. Para o tratamento das desarmonias e patologias psicomotoras, o
indivíduo é previamente submetido a um perfil psicomotor, onde se estabelece um projeto
terapêutico, de acordo com os achados específicos.
3.3.1. Estimulação Psicomotora
Estimulação psicomotora é o programa que envolve contribuições para o
desenvolvimento harmonioso da criança no começo da vida. Caracteriza-se por atividades
que se preocupam e vão ao encontro das condições que o indivíduo apresenta, acima de
tudo na sua capacidade maturacional, procurando despertar o corpo e a afetividade por
meio de movimentos e jogos e buscando a harmonia constante. Estimulação quer dizer
despertar, desabrochar o movimento.
3.3.2 Educação Psicomotora
A educação psicomotora concerne uma formação de base indispensável a toda
criança que seja normal ou com problemas. Responde a uma dupla finalidade: assegurar o
desenvolvimento funcional tendo em conta as possibilidades da criança e ajudar sua
afetividade a expandir-se e a equilibrar-se através do intercâmbio com o ambiente humano.
Abrange todas as aprendizagens da criança, processando-se por etapas progressivas
e específicas conforme o desenvolvimento geral de cada indivíduo. Ela se realiza nas
escolas, na família e no meio social com a participação dos educadores, dos pais e dos
professores em geral.
35 Le Boulch (1986) fala que “a educação psicomotora deve ser considerada como
uma educação de base na escola elementar, ponto de partida de todas as aprendizagens pré-
escolares e escolares”.(p.48)
La Pierre, citado por Bueno (1998) coloca que a educação psicomotora “é uma
psicopedagógica que utiliza os meios da educação física, com a finalidade de normalizar ou
melhorar o comportamento do indivíduo”.
3.3.3. Reeducação Psicomotora
É a ação desenvolvida em indivíduos que sofrem com perturbações ou distúrbios
psicomotores. Bueno(1998)diz que a reeducação psicomotora tem como objetivo retomar
as vivências anteriores com falhas ou as fases da educação ultrapassadas inadequadamente.
Em termos gerais, reeducar significa educar o que o indivíduo não assimilou
adequadamente em etapas anteriores.
A reeducação psicomotora lida com a pessoa como um todo, porém com um
enfoque maior na motricidade, não é apenas uma mera aplicação de exercícios, mas é
desenvolvida uma adaptação de toda a personalidade da criança. Essa atribuição está
contida em várias áreas profissionais: pedagogia, fisioterapia, terapia educacional, dentre
outros. Para Bueno (1998) o mais importante para uma boa reeducação é “a tranqüilidade e
o intercâmbio afetivo e presente do reeducador com o educando, condição básica para uma
boa reeducação”.(p. 85)
Fonseca (1996) ressalta o caráter preventivo da psicomotricidade, afirmando ser a
exploração do corpo, em termos de seus potenciais uma "propedêutica das aprendizagens
escolares". Para ele as atividades desenvolvidas na escola como a leitura, o ditado, a
redação, a cópia, o cálculo, o grafismo, a música e o movimento, estão ligados à evolução
das possibilidades motoras e as dificuldades escolares estão, portanto, diretamente
relacionadas aos aspectos psicomotores. (p.142)
“A primeira necessidade seria portanto: [...] “alfabetizar a linguagem do corpo e só então caminhar
para as aprendizagens triviais que mais não são que investimentos perceptivos-motores ligados por
coordenadas espaços-temporais e correlacionados por melodias rítmicas de integração e resposta. É através
do movimento (ação) que a criança integra os dados sensitivo-sensoriais que lhe permite adquirir a noção do
seu corpo e a determinação de sua lateralidade...” (p. 142)
36
3.3.4. Terapia Psicomotora
A terapia psicomotora refere-se particularmente a todos os casos-problema nos
quais a dimensão afetiva ou relacional parece dominante na instalação inicial do transtorno.
Pode estar associada à educação psicomotora ou se continuar com ela. Ë indicada para as
pessoas com conflitos profundos na sua estruturação, associados aos funcionais ou com
desorganização total de sua harmonia corporal e pessoal.
Para Bueno (1998)
“o essencial na terapia psicomotora é a qualidade do relacionamento corporal e afetivo, de acordo
com o ritmo do paciente. Geralmente funciona individualmente, mas pode evoluir para grupos e também
evoluir da terapia para reeducação e depois para a educação psicomotora”. (p.85)
37Capítulo IV- PSICOMOTRICIDADE NO MEIO AQUÁTICO
Um dos principais objetivos da psicomotricidade é conduzir e orientar a criança na
construção de seu corpo, de suas capacidades, na relação com os outros e com o mundo que
a rodeia.
Para facilitar o desenvolvimento da criança é fundamental que se propicie, através
da utilização sistemática de atividades, estímulos adequados que viabilizem seu
crescimento de forma global, ou seja, que proporcionem uma autêntica vivência corporal.
A natação por dirigir-se ao estabelecimento do movimento, não inibindo a
criatividade, permite a criança à exploração do meio através de atividades motoras, que
contribuem para estruturação do seu esquema corporal.
Por sua vez, o esquema corporal, pela prática da natação, como um dos elementos
de ação que “traduz” a psicomotricidade, converte-se desta maneira em um elemento
indispensável na construção da personalidade da criança.
Consciente de suas potencialidades e através das relações interpessoais que o caráter
coletivo de aprendizagem da natação oferece, a criança passa a descobrir-se a si mesma e a
construir sua personalidade, pouco a pouco, na chamada função de ajustamento encontrada
nos princípios da psicocinética, desenvolvida por Le Boulch (1985).
Na natação, também, são solicitados os canais exteroceptivos, proprioceptivos e
interoceptivos, em diversos graus de importância, por sua vez, permitem ao indivíduo
captar os estímulos advindos do meio ambiente, bem como definir a posição do corpo no
espaço, a posição dos segmentos em relação a ele, o grau de tensão muscular, o equilíbrio,
além de fornecer informações sobre certas necessidades do corpo.
Segundo Le Boulch (1985):
“a consciência do mundo exterior acontece através do corpo e a natação, ao atuar sobre o sistema sensório-
perceptivo, contribui de forma decisiva na estruturação do esquema corporal”. (p.23)
Parece oportuno acrescentar que, ao assumir o pressuposto da psicomotricidade
como educação corporal e ao considerar que toda ação educativa para estimulação e
38desenvolvimento psicomotor no meio aquático, com vistas à estruturação do esquema
corporal, ocorrem em função global da criança, e ainda, é interessante frisar-se que sem o
desenvolvimento da estruturação do esquema corporal, coordenação, orientação espaço-
temporal etc, torna-se impossível à aquisição de qualquer habilidade aquática.
Insistindo na interrelação existente entre natação e a psicomotricidade, através da
sua prática, justifica-se a estruturação do esquema corporal, na percepção e controle do
próprio corpo; num equilíbrio postural econômico; numa lateralidade bem definida; na
independência dos segmentos em relação ao tronco e uns em relação aos outros; e no
controle e equilíbrio das contrações ou inibições estreitamente associadas ao esquema
corporal e ao controle da respiração.
Deste modo, ao promover associação das sensações motoras e cinestésicas, a
natação colabora na passagem progressiva do corpo em movimento à representação mental,
estimulando a criança em sua capacidade de organização perceptiva.
A execução de esquema de movimentos exige da criança a capacidade de controlar
a coordenação de suas ações globais ou segmentares e de adaptar-se às condições do espaço
e do tempo. As bases para construção do espaço implicam as noções de direção, situação e
orientação que permitem definir a organização espaço-temporal de todas as situações
estáticas e dinâmicas, bem como estabelecer referências espaciais e temporais para situar os
objetos.
As situações de aprendizagem que acompanham a prática da natação permitem a
criança a vivencia das noções perceptivas de intensidade, grandeza, velocidade, situação,
orientação e as relacionais, ao colocar a criança em relação ao mundo exterior, com os
objetos, e com outras pessoas.
As noções perceptivas do próprio corpo são vivenciadas nas situações de posições
diferentes, tanto de ações, como das diferentes partes do corpo, quanto de ações globais e
quanto de expressão corporal.
As noções espaciais são vividas na exploração do espaço aquático com o próprio
corpo no mesmo lugar, em deslocamento, em trajetos diferentes, em pequenas e grandes
profundidades, no espaço próximo, longe etc.
39 A prática da natação, permite a criança vivenciar noções de intensidades diferentes,
velocidades irregulares, domínio corporal num ambiente diferente (água), além de
desenvolver uma maior sensibilidade em suas percepções relacionadas com o espaço,
tempo e objetivos a que estão submetidas.
Também na natação impõe-se aprendizagem do comando voluntário da respiração,
que se organiza em estreita dependência com o desenvolvimento dos aspectos
psicomotores. Na água, o ato respiratório é objetivado de maneira perfeita, pois, quando a
criança sopra e faz bolhas pode ver, ouvir e sentir sua respiração.
Frisando-se a importância da natação no processo evolutivo natural da criança,
Damasceno (1994), estabeleceu os seguintes objetivos:
“Promover condições fisiológicas, educativas e recreativas à criança, desde o seu nascimento,
favorecendo o seu crescimento e desenvolvimento integral; Proporcionar os instrumentos básicos que
estimulem os processos de maturação e de aprendizagem nos aspectos cognitivo, afetivo e psicomotor da
criança de tal maneira que favoreçam seu crescimento e desenvolvimento; e orientar o espírito de
curiosidade da criança para iniciá-la na compreensão e interpretação do mundo que a rodeia”. (p. 5)
Pode-se afirmar pelo exposto que a natação converte num meio de ação, o alto
potencial educativo para o desenvolvimento da psicomotricidade.
A criança ao chegar na escola de natação em seu primeiro dia de aula, traz uma
bagagem enorme de emoções, sensações e experiências anteriores, boas e ruins. Essas
experiências podem ajudar ou atrapalhar o professor e a própria criança, já que a piscina é
um local estranho para a criança, o professor também é alguém que ela (criança) está vendo
pela primeira vez. Algumas mães, às vezes mais ansiosas que os filhos, passam toda sua
pressa em ver a criança dentro da água muitas vezes atrapalhando o andamento do trabalho.
E como são muitas as novidades para criança, pode até causar uma situação de angústia.
A espera produz estado de tensão tônica que aumentado, se converte em angústia,
segundo mecanismos nervosos e humorais onde atuam as glândulas endócrinas (supra –
renais), há uma superprodução de glicose, aumento da oxidação, aceleração cardíaca, além
de “nó no estômago”, garganta seca e modificação tônica pelo aumento de tensão.
40 Quando a criança consegue ultrapassar essas barreiras, ou simplesmente elas não
existem, e entra na piscina, seu comportamento varia de acordo com sua função tônica.
Lembremos que a Função tônica é a função da abordagem psicomotora do sujeito em
virtude dos diversos aspectos que ela abrange, o tono (Coste 1978).
Essa função é o suporte da comunicação na linguagem corporal, varia segundo as
emoções, inibições, e instabilidades.
Verifica-se na natação situações de hipotonia (pouca resistência), ou hipertonia
(muita resistência) ou, condições normais, quando o músculo estriado está em repouso
aparente. Esses estados de contração variam durante aula, quando o professor pede que o
aluno realize atividades nas quais não se sinta seguro. Nestes casos, pode-se causar
hipertonia característica da tensão ou, ao contrário, se a atividade for tranqüila para a
criança, um estado de relaxamento prazeroso na realização dos movimentos.
Segundo Dupré “a relaxação é a outra face da motricidade, ou seja, a descontração
muscular.” (p.39)
Então, é necessário sempre que ao final das aulas ocorra a fase de relaxamento para
que as crianças percebam que o ambiente aquático é um ambiente acolhedor, e envolvente
onde elas poderão não só aprender a nadar, mas também obter vivências afetivas e
cognitivas para sua vida.
41CONCLUSÃO
A Psicomotricidade se refere ao movimento humano. É através do movimento que
as pessoas transmitem emoções, sentimentos, comunicam suas descobertas e criações.
Pelo que foi exposto, é de fundamental importância na vida da criança, brincar,
explorar e manusear tudo o que está à sua volta. A psicomotricidade está relacionada ao
processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e
orgânicas. É sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto.
Baseadas nesse pressuposto supomos que o ambiente aquático, por ser um ótimo meio de
estimulação, influencia positivamente no desenvolvimento global da criança.
É importante compreender que, uma vez que a criança esteja ativamente envolvida
com pessoas ou objetos, vai descobrir relações muito mais complexas e detalhadas no
mundo, portanto é necessário proporcionar-lhe situações de vivências, onde ela perceba seu
próprio corpo, o corpo do outro, os objetos. Acreditamos que através dessa investigação,
possa descobrir o mundo de uma forma mais prazerosa.
42REFERÊNCIAS
BUENO, Jocian M. Psicomotricidade teoria e prática. São Paulo: Lovise, 1998.
CARVALHO, Liliane. Psicomotricidade. Apostila. EEFD-UFRJ. Rio de Janeiro, 2003.
COHEN, Ruth. “Psicose e Imagem Corporal”, capítulo 12 em: Imagem e Esquema
Corporal org: Carlos Alberto de M.Ferreira e Rita Thompson, SP, editora Lovise (2002)
COSTE, J.C. - A psicomotricidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
DAMASCENO, L.G. – Natação, psicomotricidade, desenvolvimento. Brasília: Secretaria
dos Desportos da Presidência da República, 1992.
FERREIRA, Carlos Alberto. Psicomotricidade: da educação infantil a gerontologia. São
Paulo: Lovise, 2000.
GUALLAHUE, D.L. & OZMUN, J.C. compreendendo o desenvolvimento motor: bebês,
crianças e adultos. São Paulo, 2001.
LAPIERRE, A. - A educação psicomotora na escola maternal: uma experiência com os
“pequeninos”. São Paulo: Manole, 1989.
LE BOULCH, Jean – A educação psicomotora: a psicocinética na idade escolar. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1988.
LE BOULCH, Jean – O desenvolvimento psicomotor do nascimento aos seis anos. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1981.
PERRONE, Ercília. Creche –pré-escola: teoria e prática. Rio de janeiro: Sprint, 1996.
43FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes
Projeto a Vez do Mestre
Pós Graduação “Lato Sensu” em Psicomotricidade
Título da Monografia: Educação Psicomotora no meio aquático para crianças
de zero a três anos
Autor: Kathyane Ribeiro Castells Silvestre
Data da entrega: 17 de julho de 2007
Avaliado por: Vilson Sergio de Carvalho
Conceito:
Conceito Final: