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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM ASPECTOS CONTÁBEIS DO MERCADO DE CARBONO Por: Patrícia Sodré da Silva Borborema Orientador Profª. Luciana Madeira Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

ASPECTOS CONTÁBEIS DO MERCADO DE CARBONO

Por: Patrícia Sodré da Silva Borborema

Orientador

Profª. Luciana Madeira

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

ASPECTOS CONTÁBEIS DO MERCADO DE CARBONO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Auditoria e

Controladoria.

Por: Patrícia Sodré da Silva Borborema

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AGRADECIMENTOS

Aos professores e colegas de curso,

aos colegas de trabalho, amigos,

familiares e acima de tudo, ao meu

esposo Rodrigo pelo amor, dedicação e

compreensão.

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DEDICATÓRIA

A meus pais, Magali e Aluísio Rogério (in

memoriam) e meu esposo, Rodrigo.

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RESUMO

O mundo está preocupado com o aquecimento global, de forma que são

cada vez mais freqüentes os alertas transmitidos pela Comunidade

Internacional sobre o aumento de emissão de Gases de Efeito Estufa - GEE.

Como conseqüências temos o aumento de furacões, ciclones, tempestades,

terremotos e outras tragédias que têm tirado a vida de milhares de pessoas,

degradando ainda mais o ambiente e causando enormes prejuízos econômicos

a todos. Resultado da conscientização da Comunidade Internacional foi o

Protocolo de Quioto em 1997, que estabeleceu as metas de redução de GEE

para os países industrializados. Também foram definidos mecanismos de

flexibilização para as empresas dos países que não quiserem ou não puderem

reduzir suas emissões. O mais importante para o Brasil é o Mecanismo de

Desenvolvimento Limpo - MDL, que permite às empresas de países em

desenvolvimento, que não têm metas de redução, vender às empresas de

países industrializados os Reduções Certificadas de Emissões – RCE, relativos

a projetos de redução de GEE existentes no país ofertante. Assim, foram

criados os alicerces para o “Mercado de Carbono”, onde são comercializados

títulos de RCE para atendimento às exigências do Protocolo de Quioto. Este

trabalho tem por objetivo analisar as formas de inserção contábil dos Créditos

de Carbono, estando organizado em quatro partes. A primeira parte discorre

sobre as mudanças climáticas e conseqüentes intervenções da Comunidade

Mundial frente à ameaça eminente; a segunda traça o procedimento e as

características dos projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo; a

terceira faz uma análise preliminar dos aspectos jurídico-contábeis envolvendo

os Créditos de Carbono; e a quarta analisa a incidência tributária sobre os

Créditos de Carbono.

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METODOLOGIA

Para o desenvolvimento do presente trabalho foram realizadas coletas

de informações sobre o Mercado de Carbono, tendo como suporte a revisão de

literatura focalizando livros, dissertações e artigos.

Além disso, foram utilizados os conceitos e princípios contábeis para

entendimento dos mecanismos e avaliação da adequada evidenciação das

operações.

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SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS 08

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I - Mudanças Climáticas 12

CAPÍTULO II - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) 21

CAPÍTULO III – Mercado de Créditos de Carbonos 28

CAPÍTULO IV – Aspectos Tributários Relevantes 37

CONCLUSÃO 41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 44

ANEXOS 49

ÍNDICE 50

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LISTA DE SIGLAS

AAU Unidades de Quantidades Designadas

AND Autoridade Nacional Designada

BM&F Bolsa de Mercadorias & Futuro

CCX Chicago Climate Exchange

CE Comércio de Emissões

CFI Carbon Financial Instrument

CH4 Metano

CIMGC Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima

CO2 Dióxido de Carbono

COFINS Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social

CSLL Contribuição Social sobre o Lucro Líquido

CTN Código Tributário Nacional

CVM Comissão de Valores Mobiliários

DCP Documento de Concepção do Projeto

EOD Entidades Operacionais Designadas

ERU Unidades de Redução de Emissões

EU-ETS European Union – Emission Tradings Scheme

GEE Gases de Efeito Estufa

HFCs Hidrofluorcarbonos

IBC Instituto Brasil Carbono

IBRI Instituto Brasileiro de Relações com Investidores

IC Implementação Conjunta

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

IOF Imposto sobre Operações Financeiras

IPCC International Panel on Climate Changes

IRPJ Imposto sobre Renda das Pessoas Jurídicas

MBRE Mercado Brasileiro de Redução de Emissões

MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

N2O Óxido Nitroso

ONU Organização das Nações Unidas

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PASEP Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público

PFC Fundo Protótipo de Carbono

PFCs Perfluorcarbono

PIS Programa de Integração Social

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

RCE Reduções Certificadas de Emissões

SF6 Hexafluoreto de Enxofre

tCO2e Tonelada de Dióxido de Carbono Equivalente

UNFCCC United Nations Framework Convention on Climate Changes

VER Voluntary Emission Reductions

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INTRODUÇÃO

A constante degradação do meio ambiente provocado pós Revolução

Industrial, a escassez de recursos naturais cada vez mais eminente, e o risco

da sobrevivência do homem tem sido foco principal de vários encontros de

líderes mundiais ao longo dos anos, no intuito de buscar uma solução para o

problema ambiental. Tornou-se imperativo para a Comunidade Internacional,

envolvida em uma economia globalizada, a necessidade de conciliar o

progresso com a conservação do meio ambiente, pondo em questão a

continuidade do planeta.

O efeito estufa é de suma importância para a vida na terra, pois caso

contrário não haveria possibilidade de conviver com a baixa temperatura.

Contudo, o excessivo aumento da concentração dos gases, como o dióxido de

carbono, na atmosfera, ocasiona um super aquecimento e não apenas a

manutenção da temperatura, o que pode acarretar o degelo das calotas

polares, bem como alterações topográficas e ecológicas do planeta, como

poluição e escassez da água, aumento do nível do mar, tempestades e

furacões mais freqüentes. (Minardi, 2011)

Tendo em vista que o enorme prejuízo trazido pelo aquecimento global

já atinge negativamente a economia de diversos países do mundo, trava-se

hoje uma verdadeira cruzada em favor da redução da emissão de CO2 na

atmosfera.

O Protocolo de Quioto determinou principalmente aos países

desenvolvidos, a obrigação de reduzirem as emissões de gases de efeito

estufa e criou mecanismos financeiros para sua consecução. Dentre os

mecanismos financeiros necessários elaborados os únicos implementados no

Brasil são os projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) que

podem resultar na emissão de Reduções Certificadas de Emissões (RCEs),

também conhecidos como Créditos de Carbono. (Pavan &Parente, 2011)

A ciência contábil tem de acompanhar a dinâmica do mercado de forma

a poder representar adequadamente as mudanças que ocorrem na sociedade

e, por conseqüência, nas operações entre empresas. Sendo assim, a

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contabilidade tem buscado sua adequação, ao longo do tempo, conforme as

necessidades de seus usuários, a fim de alcançar seu objetivo principal que é o

de informar para permitir a decisão. Identifica-se então a necessidade de

discussão de temas contemporâneos e de pouco conhecimento técnico para

desenvolver adequadamente a contabilidade face aos novos instrumentos

utilizados pela sociedade.

O Mercado de Carbono trata-se de um assunto relativamente novo

para a sociedade necessitando de padronização contábil para o registro de

ativos e passivos, de modo que tanto as empresas quanto os investidores

possam tirar melhor proveito das informações pertinentes. Os mecanismos que

englobam o comércio de Créditos de Carbono geraram um desafio para a

contabilidade, haja vista a necessidade de definição de critérios e conceitos

acerca dessas operações, auxiliando nas decisões quanto a investimentos

socioambientais.

Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi investigar os parâmetros

contábeis desse novo mercado. Para a concretização deste estudo, foi utilizada

como técnica de trabalho a pesquisa documental e bibliográfica com análise de

contribuições existentes sobre o tema apresentados por diversos segmentos da

economia.

O presente trabalho está organizado em quatro partes. A primeira parte

discorre sobre as mudanças climáticas e conseqüentes intervenções da

Comunidade Mundial frente à ameaça eminente; a segunda traça o

procedimento e as características dos projetos de Mecanismos de

Desenvolvimento Limpo; a terceira faz uma análise preliminar dos aspectos

jurídico-contábeis envolvendo os Créditos de Carbono; e a quarta analisa a

incidência tributária sobre os Créditos de Carbono.

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CAPÍTULO I

MUDANÇAS CLIMÁTICAS

INTERVENÇÕES MUNDIAIS PARA PRESERVAÇÃO

“O que eu faço, é uma gota no meio de um oceano. Mas sem ela, o oceano será menor”.

Madre Teresa de Calcutá

De acordo com Araújo (2010), a maior parte da irradiação emitida

no planeta é absorvida pelo vapor de água, pelo dióxido de carbono e outros

gases que existem naturalmente na atmosfera. Esses gases impedem que a

energia passe diretamente da superfície terrestre para a atmosfera, permitindo

que o processo seja lentamente executado por processos interativos, como a

radiação, as correntes de ar, a evaporação, a formação de nuvens e a chuva.

A transferência indireta de energia para a atmosfera permite que a temperatura

da terra seja mantida estável.

Figura 1 – Efeito Estufa

Fonte: Rocha, 2003.

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Todo esse processo estaria em equilíbrio perfeito não fossem as

atividades humanas que contribuem com emissão adicional de gases de efeito

estufa (GEE) e, conseqüentemente, aumentam a capacidade de absorção de

energia natural desses gases. As ações antrópicas passaram a ser um grande

risco para a continuidade do meio ambiente (Almeida, 2005). A Figura 1 expõe

a mecânica natural do efeito estufa e as consequências das ações antrópicas

para o equilíbrio da temperatura do planeta.

Conforme defendido por Souza & Miller (2003), com a busca da

redução de custos e o aumento de lucro, no decorrer do século XIX e XX

presenciamos a Revolução Industrial, onde ocorreu a mecanização dos

sistemas com a produção em larga escala. Com o surgimento das fábricas

ocorreram modificações no âmbito econômico, político, social e ambiental. A

produção em larga escala e a criação de novas tecnologias valem-se da

utilização de fontes de energia não renováveis (combustíveis fósseis, carvão,

petróleo e gás natural) cuja queima acarreta a emissão de gases prejudiciais

ao meio ambiente (Minardi, 2011).

A preocupação com a modificação do meio ambiente tem-se

manifestado desde o início das atividades industriais, contudo, somente em

1972 ocorreu a primeira reunião mundial, em Estocolmo, com o intuito de

debater o tema. Segundo Minardi (2010), a Declaração de Estocolmo

(Declaração das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano) resultou em

um conjunto de 109 recomendações centradas em três políticas: as relativas à

avaliação do meio ambiente mundial (Plano Vigia); as direcionadas à gestão do

meio ambiente e; às relacionadas às medidas de apoio (informação, educação

e formação de especialistas).

Em 1988 realizou-se a Primeira Conferência Mundial sobre o Clima,

propiciando o surgimento do Programa das Nações Unidas para o Meio

Ambiente e da Organização Meteorológica Mundial, entidades posteriormente

unidas no Intergovernmental Panel on Climate Changes (IPCC).

Para Santos & Oliveira (2009) a principal atribuição do IPCC é a de

revisor das políticas nacionais e internacionais relacionadas às mudanças

climáticas, realizando estudos que relacionam o aumento na temperatura

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global com as atividades desenvolvidas pelos seres humanos, além de

propiciar o acesso a informações cientificas sobre o tema, sendo o mesmo a

autoridade científica mais importante do mundo sobre aquecimento global.

O IPCC publicou 4 relatórios até então (os relatórios são emitidos de

sete em sete anos), sendo o último deles publicado em fevereiro de 2007,

comprovando cientificamente que a ação do homem interfere diretamente no

equilíbrio climático do planeta. Segundo o IPCC (2001a) a alteração da

concentração dos GEE poderá desencadear um aumento da temperatura

média no planeta entre 1,4 e 5,8°C nos próximos cem anos, devido ao bloqueio

da saída da radiação solar que esses gases causam.

Conforme relatado por Araújo (2010), em junho de 1992, durante a

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,

adotada na Rio-92 (“Cúpula da Terra”), a União Européia e outros 175 países

assinaram a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.

As atribuições da Convenção incluíam: criar instrumentos e mecanismos

compensadores em relação à emissão de GEE e promover a gestão

sustentável e demais condições para alcançar a estabilização das

concentrações de GEE na atmosfera.

Segundo Rocha (2003) as ações propostas durante as últimas

Conferências das Partes deram ênfase à utilização de mecanismos de

mercado, visando não somente à redução dos custos da mitigação do efeito

estufa, bem como ao estabelecimento do desenvolvimento sustentável em

países subdesenvolvidos. Estabeleceu-se como princípio a necessidade do

compartilhamento do ônus na luta contra o aquecimento global. Aos países

desenvolvidos coube assumir compromissos exclusivos em função de

responsabilidades históricas - gases emitidos ao longo do desenvolvimento

econômico dos mesmos. A principal medida foi a adoção de políticas e

condutas visando a mitigação da mudança do clima pela limitação de emissões

de gases do efeito estufa ou pela proteção e expansão de reservatórios e

sumidouros.

Em 1997 as Partes integrantes do United Nations Framework

Convention on Climate Changes (UNFCCC) - em torno de 185 países mais a

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União Européia - voltaram a reunir-se para a assinatura do Protocolo de

Quioto. O Protocolo dividiu os países em dois grandes grupos. O primeiro é

classificado como industrializados e grandes emissores de gases de efeito

estufa (Países do Anexo I) – relacionados na Tabela 1. O segundo grupo é

formado pelas nações que não constam no Anexo I, consideradas em

desenvolvimento.

Tabela 1 - Países Listados no Anexo I do Protocolo de Quioto

� Países Europeus Ocidentais: Alemanha, Áustria, Bélgica, Croácia, Dinamarca,

Eslovênia, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Islândia,

Itália, Liechtenstein, Luxemburgo, Mônaco, Noruega, Portugal, Reino Unido,

Suécia e Suíça.

� Países Industrializados do Leste Europeu: Bulgária, Eslováquia, Hungria,

Polônia, República Checa e Romênia.

� Países Industrializados da ex-União Soviética: Rússia, Ucrânia, Estônia,

Letônia e Lituânia.

� Outros: Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Japão. Fonte: ARAÚJO, Antônio Carlos Porto. Como Comercializar Créditos de Carbono.

Com a missão de alcançar a estabilização da concentração de gases

na atmosfera, reduzindo a interferência no clima, o Protocolo compartilha as

preocupações e princípios dispostos na Cúpula da Terra, e acrescenta novos

compromissos, mais fortes, complexos e detalhados que os anteriores. Além

disso, os países signatários do Protocolo de Quioto devem cooperar na

promoção das modalidades efetivas para o desenvolvimento, a aplicação e a

difusão, e tomar medidas possíveis para promover, facilitar e financiar a

transferência ou o acesso a tecnologias, know-how, práticas e processos

ambientalmente seguros relativos à mudança do clima.

Estabeleceu-se, para o período de 2008 a 2012, o compromisso de

diminuição de emissões totais dos gases dióxido de carbono (CO2), metano

(CH4), óxido nitroso (N2O) e hexafluoreto de enxofre (SF6), além dos

hidrofluorcarbonos (HFCs) e perfluorcarbonos (PFCs), pelos países listados no

Anexo I do Protocolo, em 5,2% dos níveis de 1990 (relacionados na Tabela 2).

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Tabela 2: Quantidade de Poluentes Emitidos em 1990

Parte Emissões(Gg) Porcentagem Alemanha 1.012.443 7,4 Austrália 288.965 2,1 Áustria 59.200 0,4 Bélgica 113.405 0,8 Bulgária 82.990 0,6 Canadá 457.441 3,3

Dinamarca 52.100 0,4 Eslováquia 58.278 0,4 Espanha 260.654 1,9

Estados Unidos da América 4.957.022 36,1 Estônia 37.797 0,3

Federação Russa 2.388.720 17,4 Finlândia 53.900 0,4 França 366.536 2,7 Grécia 82.100 0,6 Hungria 71.673 0,5 Irlanda 30.719 0,2 Islândia 2.172 0,0 Itália 428.941 3,1 Japão 1.173.360 8,5 Letônia 22.976 0,2

Liechtenstein 208 0,0 Luxemburgo 11.343 0,1 Mônaco 71 0,0 Noruega 35.533 0,3

Nova Zelândia 25.530 0,2 Países Baixos 167.600 1,2 Polônia 414.930 3,0 Portugal 42.148 0,3

Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte

584.078 4,3

República Checa 169.514 1,2 Romênia 171.103 1,2 Suécia 61.256 0,4 Suíça 43.600 0,3 Total 13.728.306 100,0

Fonte: http://ambiente.hsw.uol.com.br/protocolo-kyoto1.htm. Acesso em: 07/08/2011.

Os Estados Unidos são o maior emissor de gases causadores do

efeito estufa e responderam por 36,1% do total de emissões dos países

desenvolvidos em 1990 (BRASIL, 2001). Não aderiram ao Protocolo de Quioto

sob a alegação de que não poderiam assumir compromissos que fossem

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contrários ao seu desenvolvimento econômico. Desenvolveram regras próprias

de restrição de GEE e comercialização de Créditos de Carbono.

No Brasil, o Protocolo foi ratificado no dia 19 de junho de 2002 e

sancionado pelo presidente da República em 23 de julho do mesmo ano.

Entretanto, para que o pacto se tornasse juridicamente obrigatório era

necessário que os países causadores de 55% das emissões de dióxido de

carbono o ratificassem. Somente em fevereiro de 2005, quando a Rússia

ratificou o Protocolo de Quioto, o mesmo entrou em vigor. Ao todo, o Protocolo

de Quioto foi ratificado por 141 países, incluindo 34 industrializados.

As empresas, com freqüência, reagem rápida e positivamente a

incentivos e pressões. Seguindo este raciocínio, o Protocolo de Quioto trata,

principalmente, de políticas experimentais de redução da intensidade

energética e transição suave de energia fóssil para renovável. Essas medidas

devem gerar índices de poluição mais controlados e, conseqüentemente,

emissões mais baixas. Certamente, indústrias e setores econômicos serão

afetados, com possíveis remodelações, assim como alguns setores deverão

estar atentos para oportunidades que surgirão na transição para uma economia

sustentável. Os diferentes interesses políticos e econômicos foram ponderados

na definição dos tópicos necessários para o cumprimento dos requisitos de

controle das emissões de gases do efeito estufa.

Em função das reivindicações dos países desenvolvidos que julgaram

inviável a redução da emissão de gases de efeito estufa o Protocolo oferece

mecanismos mais flexíveis para auxiliar no cumprimento das metas

estabelecidas. De acordo com Sato & Azevedo (2008), dois desses

mecanismos são de exclusiva aplicação entre países desenvolvidos, a

Implementação Conjunta (IC) e o Comércio de Emissões (CE). O terceiro é

o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) que envolve tanto os países

desenvolvidos quanto os países em desenvolvimento.

Conforme Marchezi & Amaral (2008), a Implementação Conjunta (IC),

descrita no Artigo 6 do Protocolo de Quioto, permite que uma empresa de um

país desenvolvido ou os próprios países do Anexo I (Tabela I) financiem

projetos para a redução de emissões em outros países desenvolvidos,

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recebendo créditos por isso - as chamadas Unidades de Redução de Emissões

(ERU). Foi um instrumento proposto pelos EUA, que permite a negociação

bilateral de implementação conjunta de projetos de redução de emissões de

GEE entre países integrantes do Anexo I.

Os projetos de Implementação Conjunta só começaram a gerar ERU a

partir de 2008 e têm vigência até 2012, quando termina a primeira fase do

Protocolo de Quioto (Sette & Nogueira, 2011). Este mecanismo objetiva facilitar

e baratear o alcance das metas de redução de emissões de gases de efeito

estufa, além de gerar commodities a serem utilizados no mercado internacional

de emissões de carbono.

De acordo com o Instituto Brasil Carbono (2011), os países com maior

potencial para o desenvolvimento destes projetos são Rússia e Ucrânia. Outros

países do leste europeu, como Romênia e Bulgária também têm potencial, mas

como fazem parte da União Européia grande parte das indústrias precisam

obedecer ao esquema de comércio de emissões do bloco.

O processo de aprovação de projetos de IC é mais longo e complicado

do que no MDL. Como os países que hospedam IC têm metas, as reduções

devem ser subtraídas do total de emissões designadas. Os países hospedeiros

então transferem as Unidades de Quantidade Designadas (AAUs) do registro

nacional de carbono para o país que implementou o projeto em conjunto (IBC,

2011).

Ainda de acordo com o Instituto Brasil Carbono, existem dois tipos de

caminhos diferentes para o desenvolvimento de projeto sob a IC. O processo

Track I permite que os próprios países hospedeiros dos projetos determinem a

sua elegibilidade, e realizem o monitoramento e verificação das reduções de

emissão. Para poder participar neste esquema os países precisam cumprir

uma série de critérios, sendo que se não cumprirem apenas poderão

desenvolver projetos Track II. No processo Track II, que também pode ser

seguido por países elegíveis ao Track I, os projetos são sujeitos aos

procedimentos do Comitê Supervisor da Implementação e auditorias de

terceiras partes. Atualmente os países estão preferindo o Track I, evitando o

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pagamento das taxas de apoio às atividades do Track II, apesar desta última

ser valorizada pela qualidade.

Segundo Maciel et. al. (2009), o Comércio de Emissões, tal como

estabelecido no artigo 17 do Protocolo de Quioto, estabelece um mercado de

compra e venda de Créditos de Carbono. Sendo assim, países mais poluentes

podem comprar créditos daqueles que conseguiram reduzir as emissões além

das metas impostas pelo Protocolo de Quioto. Este mecanismo é destinado

exclusivamente aos países do Anexo I (Tabela I), que podem comercializar

somente parte das emissões relativas ao período de 2008 a 2012.

Os primeiros esquemas de Comércio de Emissões começaram a

funcionar antes mesmo do Protocolo de Quioto entrar em vigor, em caráter

piloto, mas foram desenvolvidos em conformidade com as metas estabelecidas

por Quioto (Observatório do Clima, 2011). Além desses, existem esquemas

alternativos, que estabelecem diretrizes similares ao Protocolo, mas em geral

estipulam metas de redução de emissões menos rígidas e de caráter

voluntário. Os créditos emitidos nesse modelo são chamados de Reduções

Voluntárias de Emissão e são identificados pela sigla VER (do inglês voluntary

emission reductions).

Adicionalmente, foi instituído pelo Protocolo de Quioto o Mecanismo de

Desenvolvimento Limpo (MDL), proporcionando uma alternativa aos países

participantes do Anexo I (Tabela I), que não tenham condições de atingir a

meta de redução de emissão de gases em seu território, e incentivando os

países em desenvolvimento a assumirem tal compromisso em etapas futuras.

As reduções de emissão de GEE alcançadas pelos países em desenvolvimento

poderão assim ser utilizadas pelos países desenvolvidos para o cumprimento

de suas metas.

Segundo Rocha (2003), a proposta do MDL consiste em que cada

tonelada de CO2 deixada de ser emitida ou retirada da atmosfera por um país

em desenvolvimento poderá ser negociada no mercado mundial, criando um

novo atrativo para a redução das emissões globais. As empresas que não

conseguirem (ou não desejaram) reduzir suas emissões poderão comprar

Certificados de Emissões Reduzidas (RCE) em países em desenvolvimento e

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usá-los para cumprir suas obrigações. Os países em desenvolvimento, por sua

vez, deverão utilizar o MDL para promover o desenvolvimento sustentável.

No Brasil, desde a criação do Mercado de Carbono, através do MDL,

cujos primeiros projetos foram aprovados em 2004, existiam até dezembro de

2009 223 projetos devidamente aprovados junto ao Ministério da Ciência e

Tecnologia (MCT) e ao Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima

(UNFCCC) e com uma perspectiva de redução de quase 21 bilhões de

toneladas equivalentes de Dióxido de Carbono (CO2) (Seiffert, 2009).

Com os fatores favoráveis ao desenvolvimento de projetos de MDL,

bem como o reconhecimento de agências internacionais de avaliação de risco

como sendo um mercado promissor para investimentos, (Kerr et. al., 2009), o

país tende a receber investimentos significativos que contribuirão para o

desenvolvimento de novas tecnologias. Assim, os projetos de MDL são de

grande relevância no combate às mudanças climáticas, bem como se constitui

em uma oportunidade de negócio para as empresas brasileiras, cuja estimativa

de recursos movimentados neste mercado ultrapassam o montante de US$

300 milhões/ano (Santos & Oliveira, 2009; IBRI, 2009).

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CAPÍTULO II

MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO (MDL)

REDUZINDO O IMPACTO AMBIENTAL

“Ambiente limpo não é o que mais se limpa e sim o que menos se suja”.

Chico Xavier

Na estrutura proposta pelo Protocolo de Quioto os países constantes do

Anexo I (Tabela I) podem atingir as metas de preservação ambiental, direta ou

indiretamente. Diretamente, por meio da implantação de projetos que atendam

aos requisitos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e indiretamente, por

meio da aquisição de Certificados de Redução de Emissão (RCE). O

mecanismo permite que empresas situadas em países desenvolvidos invistam

em projetos de redução de emissões em países em desenvolvimento. As

empresas podem contabilizar como suas as reduções em seus países de

origem ou comercializá-las como Créditos de Carbono.

Diante da necessidade de se implantar normas processuais que

regulassem o Protocolo de Quioto, estabelecendo a forma de atuação dos

países em desenvolvimento e viabilizando os instrumentos de flexibilização,

destacam-se os Acordos de Marrakesh. A 7ª Conferência das Partes, realizada

em 2001, no Marrocos, mostrou-se a mais importante das reuniões em relação

ao MDL.

A decisão 17/CF.7, intitulada “Modalidades e Procedimentos do

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, conforme definido no artigo 12 do

Protocolo de Quioto”, se mostrou a mais importante das decisões dos Acordos

de Marrakesh, visto que trouxe uma maior segurança jurídica ao Mercado de

Carbono, ao tratado e ao MDL, quando estabeleceu regras procedimentais

sobre a geração e titularidade de créditos (Santos, 2009).

O Acordo de Marrakesh determina que o período do projeto que irá

gerar crédito de carbono pode ser escolhido: crédito de 10 anos ou três

períodos de 7 anos consecutivos. No caso de três períodos de 7 anos, o

projeto deverá ser avaliado a cada período conforme consta na Decisão

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17/CP.7 (Brasil, 2001a). O período do projeto é diferente do crédito de carbono

a ser gerado. Assim, pode-se ter um projeto com prazo indefinido enquanto o

crédito de carbono gerado nesse tipo de projeto é limitado.

De acordo com a referida decisão, o país em desenvolvimento, que

hospeda atividades de projeto de MDL, deverá proceder com sua aprovação,

reconhecendo a contribuição do empreendimento ao desenvolvimento

sustentável, através de uma Carta de Aprovação emitida por este.

A decisão 15/CP.7 dos Acordos de Marrakesh definiu os princípios,

natureza e a finalidade dos mecanismos criados pelos artigos 6°, 12° e 17° do

Protocolo de Quioto (Santos, 2009).

Os acordos contribuíram também com a regulamentação das formas de

trabalho da COP e do Conselho Executivo do MDL, estabelecendo também as

competências do Conselho Executivo e das Entidades Operacionais

Designadas (EOD), assim como as definições das etapas do ciclo do projeto de

MDL.

Dentre os segmentos de mercado com alto potencial para o

desenvolvimento de projetos de MDL destacam-se principalmente:

� Projetos de recuperação de gás em aterros sanitários e outros

gases;

� Energias limpas (solar, eólica, biomassa, etc.);

� Troca de combustíveis (biocombustíveis, etc.);

� Eficiência energética e de transporte (logística);

� Melhorias quanto às tecnologias industriais (fertilizantes,

petroquímicas, etc.) e

� Projetos florestais (reflorestamento).

A quantificação é feita com base em cálculos que demonstram a

quantidade de dióxido de carbono a ser removida ou a quantidade de gases de

efeito estufa que deixará de ser lançada na atmosfera com a efetivação do

projeto. Cada crédito de carbono equivale a uma tonelada de dióxido de

carbono equivalente (Araújo, 2010).

Para cumprir os compromissos estabelecidos no Protocolo de Quioto,

os países constantes no Anexo I (Tabela I) podem utilizar os Certificados de

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Emissões Reduzidas (RCE) resultantes das atividades dos projetos de MDL.

Os RCE devem ser emitidos por organizações credenciadas e devem

corresponder a reduções decorrentes da implementação de um projeto, sem a

existência do qual as emissões seriam mais elevadas.

O primeiro passo para a concretização dos certificados de redução de

emissões é o estabelecimento do Conselho Executivo do MDL (Executive

Board). Além disso, se faz necessário que a Conferência das Partes designe

entidades operacionais cujas funções incluam certificação.

O Conselho Executivo deve unir os interesses das Partes do Protocolo

e deve ser composto de forma equilibrada por Partes incluídas e também por

Partes não incluídas no Anexo I (Tabela I). Suas funções devem incluir:

• Promoção e transparência de mercado;

• Responsabilidade final pela certificação e verificação das

reduções, e

• Registro e validação de certificação.

Para implementação de um projeto de MDL e utilização dos créditos

gerados, faz-se necessária a verificação e aprovação do mesmo. No caso do

Brasil, a autoridade responsável pela validação, verificação e certificação das

atividades de projetos de MDL é a Comissão Interministerial de Mudança

Global do Clima (CIMGC), criada e 07 de julho de 1999. Em 20 de junho de

2000, por meio do Decreto Presidencial n° 3.515, foi criado o Fórum Nacional

de Mudanças Climáticas, para promover debates e o aumento do

desenvolvimento de diversos segmentos da sociedade, no desenvolvimento de

ações para a redução das emissões de gases.

A Comissão é integrada por representantes dos seguintes Ministérios:

Relações Exteriores, Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Transportes,

Minas e Energia, Planejamento, Orçamento e Gestão, Meio Ambiente, Ciência

e Tecnologia, Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, da Casa Civil da

Presidência da República, Cidades e Fazenda. Aos ministros da Ciência e da

Tecnologia e do Meio Ambiente, cabem, respectivamente, a presidência e a

vice-presidência da comissão.

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Somente após a aprovação pela Comissão o projeto pode ser

submetido ao Conselho Executivo, na ONU, para a avaliação e registro,

devendo o mesmo ser certificado e monitorado para garantir a continuidade e

geração das RCE.

O ciclo abaixo (Figura 2) resume as etapas que envolvem a

implementação, de acordo com o Instituto Brasileiro de Relações com

Investidores (IBRI, 2009).

Figura 2 - Ciclo de Projeto de MDL

Fonte: FIESC, disponível em http://www2.fiescnet.com.br/web/pt/site_topo/mdl/info/etapas-fluxograma-de-projetos . Acesso em: 24/07/2011.

A primeira etapa da implementação é a elaboração de um Documento

de Concepção do Projeto (DCP) que, utilizando metodologia de linha de base e

plano de monitoramento, deve conter as seguintes descrições:

� As atividades de projeto e os participantes das atividades;

� As formas de mensuração da quantidade de carbono evitada -

denominada metodologia da linha de base;

� As metodologias para o cálculo da redução de emissões de gases

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de efeito estufa e para o estabelecimento dos limites da atividade de

projeto e das fugas;

� O plano de monitoramento;

� A definição do período de obtenção de créditos;

� A justificativa da adicionalidade da atividade de projeto;

� O relatório de impactos ambientais; e

� Os comentários dos autores e informações quanto à utilização de

fontes adicionais de financiamento.

As etapas de validação e aprovação são de responsabilidade da

Autoridade Nacional Designada (AND), no Brasil a cargo a CIMGC. A validação

verifica se o projeto está em conformidade com a regulamentação do Protocolo

de Quioto. A etapa de aprovação verifica a contribuição do projeto para o

desenvolvimento sustentável através da participação voluntária.

A submissão ao Conselho Executivo da ONU para registro é a

aceitação formal do projeto validado como atividade de projeto do MDL, onde

dois aspectos fundamentais são analisados: a aplicabilidade da metodologia

escolhida e a adicionalidade do projeto.

O monitoramento é de responsabilidade dos participantes do projeto,

sendo necessária para o recolhimento e armazenamento de todos os dados

exigidos para calcular a redução das emissões de gases de efeito estufa, de

acordo com a metodologia de linha de base estabelecida no DCP, que tenham

ocorrido dentro dos limites da atividade do projeto e dentro do período de

obtenção de créditos.

No momento em que o Conselho Executivo tem certeza de todas as

etapas de reduções de emissões de GEE decorrentes das atividades de projeto

foram cumpridas os Certificados de Redução de Emissões (RCE) são emitidos.

As reduções devem ser reais, mensuráveis e de longo prazo para que as RCE

sejam creditadas na proporção definida pelos participantes da atividade de

projeto, podendo ser utilizadas como forma de cumprimento parcial das metas

de redução de emissão de gases de efeito estufa.

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Atualmente, algumas empresas não aguardam até o final do processo

de implantação do projeto para comercializar os créditos com o objetivo de

financiar o projeto.

Ao completar o ciclo de validação, aprovação e registro, a atividade

registrada torna-se efetivamente uma atividade de projeto no âmbito do MDL.

Em junho de 2011, um total de 7742 projetos encontrava-se em alguma fase do

ciclo de projetos do MDL, sendo 3214 já registrados pelo Conselho Executivo

do MDL e 4528 em outras fases do ciclo. O Brasil ocupava o 3º lugar em

número de atividades de projeto, com 499 projetos (6%), sendo que em

primeiro lugar encontra-se a China com 3056 (39%) e, em segundo, a Índia

com 2098 projetos (27%) (CQNUMC, 2011).

Em termos do potencial de reduções de emissões associado aos

projetos no ciclo do MDL, em 2011 era responsável pela redução de

412.197.677 tCO2e, o que corresponde a 5% do total mundial, para o primeiro

período de obtenção de créditos, que podem ser de no máximo 10 anos para

projetos de período fixo ou de 7 anos para projetos de período renovável (os

projetos são renováveis por no máximo três períodos de 7 anos dando um total

de 21 anos). A China, no mesmo período, ocupava o primeiro lugar com

4.038.261.099 tCO2e a serem reduzidas (47%), seguida pela Índia com

2.135.304.522 de tCO2e (25%) de emissões projetadas para o primeiro período

de obtenção de créditos (CQNUMC, 2011).

O primeiro projeto de MDL registrado no mundo foi brasileiro: o projeto

NovaGerar, de aproveitamento de biogás de aterro sanitário. A referida

aprovação ocorreu em 18 de novembro de 2004 (UNFCCC, 2005), e o projeto

está sendo implementado em Nova Iguaçu, no Estado do Rio de janeiro. A

empresa conseguiu provar o potencial de geração de 9 MW de energia por

meio da recuperação ambiental de um antigo lixão, da produção de energia a

partir do gás metano extraído nesta área e de uma central de tratamentos de

resíduos (Revista Época, 2011).

A metade dos RCEs que serão produzidos já foram vendidos graças a

um acordo com o Fundo Protótipo de Carbono (PFC), do Banco Mundial. Por

isso, 2,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono pelo valor de 3,5 euros

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por tonelada, serão fornecidas ao PFC que, por sua vez, tem mandato para

comprar os certificados em nome da Holanda. A outra metade dos créditos

será negociada pela SA Paulista (empreendedores da NovaGerar) e a

consultoria britânica Ecosecurities (Revista Época, 2011).

Sendo assim, a NovaGerar é uma joint venture entre a Ecosecurities e

a SA Paulista. A Ecosecutiries é uma empresa financeira do meio ambiente

especializada em questões de mitigação de gás causador do efeito estufa, com

escritórios no Reino Unido, Estados Unidos, Holanda Austrália e Brasília. A SA

Paulista é uma empresa brasileira de engenharia civil e construção, com sede

na cidade de São Paulo, que atua principalmente no setor tradicional de

construções pesadas, tais como estradas de rodagem, estradas de ferro,

aeroportos, portos, indústrias e saneamento (Segreti & Bito, 2006).

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CAPÍTULO III

MERCADO DE CRÉDITOS DE CARBONO

COMÉRCIO DE MELHORIAS AMBIENTAIS

“O lucro do nosso estudo é tornarmo-nos melhores e mais sábios”. Michel de Montaigne

Presenciamos o nascimento de um mercado inteiramente novo e de

extrema importância, figurando as RCEs como bens negociáveis e os Países

do Anexo I (Tabela I) como principais demandantes de redução de emissões,

buscando reduzir as despesas no atendimento de seus objetivos ambientais.

Este mercado propicia a troca de recursos e tecnologias entre países e

fomenta o desenvolvimento sustentável daqueles menos desenvolvidos,

contribuindo para o fortalecimento do próprio mercado de capitais. Dessa forma

o MDL permite aos Países do Anexo I – e agentes econômicos neles

localizados – o cumprimento de parte das metas de redução, a partir da

compra de RCEs, ao mesmo tempo em que estimula o investimento em

processos produtivos sustentáveis nos Países Não-Anexo I.

Desde a assinatura do Protocolo, sobretudo com a Implementação de

MDL, diversos Mercados de Carbono vêm emergindo, de forma regulatória. De

acordo com o IBRI (2009), em 2007, as transações de Créditos de Carbono em

todo o mundo somaram US$ 11,5 bilhões. Em 2008 ultrapassaram a US$ 100

bilhões (IBRI, 2009). Percebe-se ao longo dos últimos 5 anos que o mundo

passou a buscar o equilíbrio entre desenvolvimento econômico e meio

ambiente. Com a criação de projetos de MDL, veio com eles a possibilidade de

desenvolvimento sustentável, que até então se apresentava insustentável

diante de tamanho impacto sócio-ambiental gerado.

Até o mês de fevereiro de 2010, 5.804 projetos de MDL encontravam-

se em alguma fase do ciclo de projetos do MDL, dos quais 2.029 já estão

registrados pelo Conselho Executivo de MDL, e os demais (3.775) nas demais

fases do ciclo (MCT, 2010).

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Observa-se, entretanto que a questão ambiental em torno do Protocolo

de Quioto, bem como a emissão de certificados tem gerado muita discussão.

Devido a sua complexidade, regulamentar e harmonizar as normas

internacionais juntamente com as normas de cada país implicará

possivelmente em abrir mão de valores nacionais, o que poderá ser visto como

prejuízo para determinados países. Os projetos de MDL geraram novas opções

de títulos no mercado financeiro (RCE), os quais resultam em direitos e

deveres que afetam o patrimônio das empresas. A falta de legislação

específica deixa o mercado um tanto quanto sem regras e definições

principalmente quanto a sua contabilização. As normas que regulamentarão as

operações com Créditos de Carbono deverão ser internacionais.

Dado que os projetos de MDL, através dos Créditos de Carbono

interferem na situação patrimonial de uma empresa e que a contabilidade é um

sistema de informação e avaliação destinado a prover seus usuários com

demonstrações e análises de natureza econômica, financeira, física e de

produtividade (Ayub, 2010), se faz necessário o registro contábil das mutações

patrimoniais provocadas pelos Créditos de Carbono. A contribuição da

contabilidade se inicia desde a execução de projetos de MDL que uma vez

implementado permite o surgimento de novas opções de títulos no mercado

financeiro, o que acarreta o surgimento de direitos e obrigações, bem como

receitas e despesas que influenciarão o patrimônio da entidade.

Neste contexto, percebe-se que a contabilidade dispõe de instrumentos

suficientes para classificar e registrar os produtos decorrentes dos projetos de

MDL, viabilizando, portanto, que as empresas que atuam no mercado de

carbono brasileiro possam fazer refletir em seus balanços as mutações

ocorridas em decorrência dos Créditos de Carbono. Contudo, desde o

surgimento do mercado de carbono, as discussões sobre os tratamentos

contábeis dos Créditos de Carbono tem sido distintas e se estende até os dias

atuais sem uma convergência quanto à normatização e definição de

classificação contábil adequada.

A Comissão de Valores Mobiliários organizou, em 2007, um seminário

reunindo profissionais de diversas áreas com o intuito de discutir e buscar um

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consenso para o tratamento jurídico e contábil da Redução Certificada de

Emissões (RCE).

Ainda hoje não existe regulação disciplinando como devem ser

contabilizados os Créditos de Carbono e entre as classificações defendidas por

pesquisadores e profissionais destacam-se: intangível, derivativos,

commodities, prestação de serviços ou valores mobiliários.

O posicionamento majoritário entende que as RCEs se enquadram na

categoria de bem intangível puro. O enquadramento dos Créditos de Carbono

como um bem intangível puro baseia-se no fato de representarem direitos

passíveis de serem usufruídos por seus respectivos titulares, sendo para

alguns representativos de direitos de poluir (Ribeiro, 2005).

Conforme mencionado por Almeida (2005), de acordo com as bases do

Direito Privado, os Créditos de Carbono devem ser classificados como bens

incorpóreos, imateriais ou intangíveis, tendo em vista que estes não têm

existência física, mas são reconhecidos pelo Protocolo de Quioto, tendo valor

econômico para o homem, uma vez que são passiveis de negociação.

De acordo com Ayub (2010), usos alternativos, separabilidade e a

incerteza são características que diferenciam os intangíveis de outros ativos.

Entretanto, o uso alternativo está diretamente ligado a não possibilidade de se

comparar o valor desses ativos a sua condição física, custo de reposição e ao

valor de mercado. A separabilidade significa que é inviável separar o intangível

da empresa ou de outro ativo. E a incerteza é em relação ao futuro benefício

que pode ser gerado por ele, ou à dificuldade em associar a sua respectiva

receita ou ao momento específico. Dentro das características apresentadas, as

Reduções não se enquadram como intangíveis, pois não existe dificuldade em:

(a) medir ou comparar seu valor; e (b) associá-las com suas receitas.

Quanto à classificação dos Créditos de Carbono como derivativos,

entendemos que os derivativos são ativos financeiros ou valores mobiliários

cujo valor e características de negociação derivam do ativo que lhes serve de

referência, de tal forma que nas operações no mercado financeiro envolvendo

derivativos, o valor das transações deriva do comportamento futuro de outros

mercados (Bovespa, 2011). Essa definição baseia-se exclusivamente no

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processo de apreçamento dos instrumentos que se procura definir. Assim, se

os ativos propriamente ditos têm seus preços definidos em razão do seu

conteúdo, os derivativos são apreçados a partir de outras relações.

Este raciocínio está diretamente relacionado à finalidade original de tais

instrumentos – o chamado hedge, expressão que designa a proteção contra as

oscilações nos preços das mercadorias, taxas ou outras variáveis às quais o

agente econômico está exposto (Souza & Miller, 2003). As partes vendem ou

compram determinados ativos, para liquidação em data futura, justamente

porque estão expostas às oscilações dos preços daqueles ativos em suas

atividades cotidianas.

Sendo assim, a finalidade do derivativo não é tanto transferir o bem em

si, mas sim “congelar” o preço de venda ou de compra deste bem em uma data

futura. Se, nas suas versões mais tradicionais, essas operações de proteção

eram feitas com a efetiva entrega do bem e o pagamento do principal (do preço

pactuado), com o passar do tempo elas foram se refinando, com o surgimento,

por exemplo, da possibilidade de liquidação financeira. Trata-se, de um fruto do

processo de inovação financeira, por meio do qual uma determinada

necessidade dos agentes econômicos foi embutida em um produto financeiro.

Dizer que um determinado instrumento é um derivativo remete, então,

ao processo de formação de preços. Assim como exposto no Processo

Administrativo n° 6346/2009 da CVM (Yazbec, 2009), entende-se que os

Créditos de Carbono nada têm a ver com os derivativos. Se eles são

instrumentos “resgatáveis”, no sentido de serem passíveis de transformação

em um determinado tipo de vantagem econômica concreta, eles não são

derivativos, mas os próprios ativos (Santos, 2009).

Mas há posicionamentos que atribuem às RCEs a categoria de

commodity ambiental. De acordo com Rocha (2003), as commodities

ambientais são consideradas mercadorias oriundas de recursos naturais como

água, energia, biodiversidade, reciclagem, emissão de poluentes e minério, ou

seja, matérias-primas vitais para a sobrevivência da agricultura no mundo. O

termo commodity se relaciona com a identidade, à fungibilidade, padronização

e à uniformização dos produtos considerados como tal. Percebe-se então, que

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não seria possível classificar os Créditos de Carbono como sendo

commodities.

Há ainda correntes que defendem a classificação dos Créditos de

Carbono como prestação de serviços, assim como relatado por Ayub (2010).

No caso brasileiro, os investimentos na atividade de sequestro ocorrem no

processo operacional e não na aquisição de títulos. Sendo assim, estaria sendo

prestado um serviço de sequestrar o carbono com autorização para a emissão

de certificados, podendo esta atividade ser caracterizada como uma prestação

de serviços. Entretanto, as diferentes características de cada um dos projetos

podem descaracterizar a padronização do produto ou serviço, sendo os

créditos negociados de forma individual. Entende-se, desta forma, que a

classificação do sequestro de carbono como serviço prestado merece ser mais

bem discutida, pois os valores do ativo e do patrimônio da empresa nessa

proposta não são modificados, contudo, traz diferenças nas contas especificas

a serem utilizadas para evidenciar essas transações.

Quanto à classificação de Créditos de Carbono como sendo valores

mobiliários. Esta possibilidade está fundamentada na constatação de que, em

2001, com a reforma da Lei n° 6.385/1976, a definição de valor mobiliário

passou a não apenas abranger outros instrumentos anteriormente não

considerados sob tal rubrica, mas também, ante a redação dada a alguns

incisos do art. 2°, tornou-se possível, por interpretação, verificar se novos

instrumentos poderiam ou não ser caracterizados como tal. Por intermédio dos

incisos VII e VIII, os derivativos passaram-se a caracterizar como valores

mobiliários; e o inciso IX, que, replicando o que já constava da Medida

Provisória nº 1.637, de 8.1, utiliza o conceito de contrato de investimento

coletivo, similar ao conceito norte-americano de securities (Santos & Oliveira,

2009).

O comércio de Reduções Certificadas de Emissões pode ocorrer após

a sua emissão e antes mesmo de sua distribuição pelo Conselho Executivo.

Podendo haver ainda, negociação de promessas de Créditos de Carbono antes

mesmo ou durante o ciclo de projeto do MDL.

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É de inteira responsabilidade das empresas que comercializam

Créditos de Carbono, a divulgação de informações corretas, oportunas,

suficientes e inteligíveis de suas demonstrações contábeis, possibilitando a

adequada avaliação de riscos e oportunidades por parte dos investidores.

Os projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo começaram a

ser implantados mesmo antes da ratificação do Protocolo de Quioto, que só

veio a ocorrer em fevereiro de 2005. Neste período, todas as operações

concernentes ao mercado de carbono por natureza foram classificadas no ativo

permanente. Num segundo momento, essas quotas foram adquiridas apenas

com o intuito de venda no mercado de ações, neste caso, foram classificadas

no ativo circulante (Tasso & Nascimento, 2005).

Ainda segundo Tasso & Nascimento (2005), no caso das empresas que

adquiriram os Créditos de Carbono para investimento temporário, os resultados

obtidos foram levados a resultado, porém não foram classificados como receita

ambiental já que tiveram caráter meramente especulativo. Já no caso das

empresas que adquiriram os créditos como investimento devido à necessidade

de quotas a serem utilizadas na produção, foram dadas baixas nos

investimentos à medida que estes foram sendo utilizados em sua atividade, de

acordo com o montante de poluentes lançados na atmosfera.

Essa comercialização pode ocorrer nos seios das Bolsas de Valores,

tanto internacionais quanto nacionais, bem como por meio de contratos

privados firmados entre as partes interessadas. Por convenção, uma tonelada

de dióxido de carbono (CO2) equivalente corresponde a um crédito de carbono

(Araújo, 2010). Esse crédito pode ser negociado no mercado internacional, que

em 2010 já estava sendo negociado entre US$20 e US$25.

A existência de um mercado próprio e, por sua vez, liquidez e preço

para os Créditos de Carbono, constituem em indicadores importantes para que

seja registrado no ativo, seu ganho reconhecido no resultado da empresa, e o

conseqüente reflexo no patrimônio líquido. Ao criar um tipo de ativo passível de

transferência e definir os universos de potenciais ofertas e demanda para esse

ativo, o MDL permite a criação de um verdadeiro mercado secundário para os

Créditos de Carbono. Segundo dados de 2009, o mecanismo negociou 94

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milhões de toneladas de dióxido de carbono (tCO2e) ao valor total de US$ 387

milhões. Nesse cenário, a América Latina representa 16%, sendo que o Brasil

responde por 58% dos créditos gerados no continente (Revista Época, 2011).

Em julho de 2009 a CVM emitiu comunicado sobre o entendimento

quanto aos Créditos de Carbono, a aquisição de Créditos de Carbono por

fundos de investimento e as formas de financiamento de projetos de

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) por meio do mercado de valores

mobiliários. A manifestação da CVM discutiu as razões pelas quais os Créditos

de Carbono devem ser considerados ativos cuja comercialização pode ocorrer

para o cumprimento de metas de redução de emissão de carbono ou com o

objetivo de investimento (Yazbec, 2009).

Além disso, o referido documento trata da possibilidade de aquisição de

RCEs por fundos de investimento. Na Instrução CVM nº 409/04, fundos de

investimento são definidos como uma comunhão de recursos destinada à

aplicação em ativos financeiros. A definição do que são estes ativos financeiros

encontra-se no art. 2º, § 1º, da mesma regra. No inciso VIII, ficam autorizadas

as carteiras dos fundos de investimento a conter “warrants, contratos mercantis

de compra e venda de produtos, mercadorias ou serviços para entrega ou

prestação futura, títulos ou certificados representativos desses contratos e

quaisquer outros créditos, títulos, contratos operacionais desde que

expressamente previstos no regulamento”.

Diante da amplitude do conteúdo na Instrução CVM nº 409/04, entende-

se que, desde que haja previsão em regulamento, podem os fundos de

investimento adquirir RCEs. Porém, entende-se, ainda, que as RCEs em si são

ativos emitidos no exterior, o que também deve ser levado em consideração.

Isso porque para a aquisição de RCEs por fundos de investimento, as mesmas

devem: ser admitidas à negociação em bolsa ou registradas em sistema de

registro devidamente autorizados em seus países de origem e supervisionados

por autoridade local reconhecida (inciso I); ou ter sua existência assegurada

pelo custodiante do fundo (inciso II). Na hipótese do inciso II, os registros

devem ser mantidos em contas de depósito específicas, abertas diretamente

em nome do fundo (Yazbec, 2009).

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Quando se estiver tratando não da aquisição de RCEs propriamente

ditas, mas sim de outros tipos de instrumentos, como certificados

representativos de compra e venda futura de RCE e outros derivativos ou

produtos sintéticos, criados no Brasil e aqui negociados, “os ativos deverão ser

admitidos a negociação em bolsa de valores, de mercadorias e futuros, ou

registrados em sistema de registro, de custódia ou de liquidação financeira

devidamente autorizado pelo Banco Central do Brasil ou pela CVM, nas suas

respectivas áreas de competência” (Instrução CVM nº 409/04).

A União Européia estabeleceu aos seus membros um esquema de

negociação de redução de emissão, criando a European Union – Emission

Tradings Scheme (EU-ETS), que passou a vigorar a partir de janeiro de 2005.

A EU-ETS não regula a negociação de redução de emissões. As empresas

com metas a serem cumprida poderão adquirir as reduções por meio de um

corretor ou de um banco, e também poderão comprar no mercado que vier a

ser organizado. A estrutura da EU-ETS é responsável pelo controle da

titularidade e dos registros das operações realizadas de forma eletrônica

(Segreti & Bito, 2006).

Apesar de não terem aderido ao Protocolo de Quioto, os Estados

Unidos tomaram a iniciativa para redução de gases de efeito estufa com a

criação de uma bolsa especifica, a Chicago Climate Exchange (CCX). A CCX

administra os mercados multinacionais compostos por Estados Unidos, Canadá

e México, o que inclui projetos de reduções de emissões do Brasil. O Brasil tem

como mercado potencial, para negociações de Créditos de Carbono

provenientes das reduções de emissões de gases de efeito estufa, o mercado

não-quioto dos Estados Unidos. O instrumento negociado na CCX é o Carbon

Financial Instrument (CFI), equivalente a 100 toneladas métricas de CO2

(Segreti & Bito, 2006).

No Brasil está sendo criado o Mercado Brasileiro de Redução de

Emissões (MBRE), de acordo com o Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento e em parceria com a Fundação Getulio Vargas do Rio de

Janeiro (PNUD BRASIL, 2005). A Bolsa de Mercadorias & Futuro (BM&F)

colocou em operação, em 2005, o mercado eletrônico de títulos de diminuição

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de lançamentos atmosféricos de carbono (MBRE). O objetivo desse Mercado é

estimular os investimentos em projetos de MDL e facilitar as negociações de

RCEs no mercado ambiental, de forma sistematizada e transparente.

A Bolsa de Mercadorias e Futuros funciona como uma plataforma de

negociação dos títulos emitidos por projetos que promovam a redução das

emissões de gases causadores do efeito estufa. O investidor interessado em

adquirir Créditos de Carbono ou eventualmente financiar um projeto de MDL

pode registrar sua intenção de compra no Banco de Projetos da referida Bolsa.

Grandes empresas e investidores internacionais vêm investindo na

compra antecipada de crédito de carbono, por meio de fundos de investimento

em MDL. A vantagem da compra antecipada é pagar um preço reduzido pelos

créditos e posteriormente vender por cerca de cinco ou seis vezes o valor

inicial para os países desenvolvidos e grandes companhias que precisam

reduzir o nível de emissões de CO2.

Ainda segundo o PNUD BRASIL (2005), o Banco Mundial estima que

esse mercado possa movimentar até US$ 1 bilhão por ano. Atualmente, as

comercializações de crédito de carbono são efetuadas bilateralmente entre as

empresas.

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CAPÍTULO IV

ASPECTOS TRIBUTÁRIOS RELEVANTES

TRIBUTAÇÃO DOS CRÉDITOS DE CARBONO

"Os impostos são aquilo que se paga para se ter uma sociedade civilizada."

Oliver Wendell Holmes

A natureza jurídica dos Créditos de Carbono determinará o tipo de

tributação que sobre os mesmos deverão incidir. Segundo disposto no Código

Tributário Nacional (CTN), o diferencial característico de cada uma das

espécies tributárias encontra-se em seu aspecto material, ou seja, o fato

hipotético previsto no antecedente da norma jurídica tributária estar vinculado a

uma atividade estatal (taxas e contribuições de melhorias) ou não (impostos,

contribuições e empréstimos compulsórios).

A comercialização dos Créditos de Carbono não apresenta como fato

central da hipótese de incidência qualquer atividade estatal, já que depende

exclusivamente da vontade dos particulares integrantes da negociação para

que sua ocorrência se materialize, descaracterizando a incidência de taxa ou

contribuição de melhoria. Sendo assim, resta a análise da incidência de

impostos, contribuições e empréstimos compulsórios.

De acordo com os pilares da doutrina de direito privado, constata-se

que os Créditos de Carbono se tratam de bens incorpóreos ou bens

intangíveis. Com isso, exclui-se a possibilidade de incidência do Imposto sobre

Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre as operações de credito de

carbono, uma vez que tal tributo incide apenas sobre a circulação de

mercadorias que são bens corpóreos da atividade empresarial do produtor,

industrial e comerciante, tendo por objeto a dia distribuição para consumo

(Almeida, 2005).

No que diz respeito ao Imposto sobre Renda das Pessoas Jurídicas

(IRPJ), as receitas recebidas pelos cedentes dos Créditos de Carbono, por

serem equiparadas as de exportação, devem ser consideradas na apuração do

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imposto, de acordo com o regime de tributação a que estiverem submetidos

(lucro real ou presumido). As empresas que comercializam Créditos de

Carbono devem reconhecer contabilmente a receita de alienação dos mesmos,

que afetará a apuração do lucro contábil, e consequentemente o lucro fiscal

(Moreira Jr., 2008).

Ainda segundo Moreira Jr. (2008) o regime tributário padrão de

reconhecimento de receitas é o regime de competência, no qual ocorre o

reconhecimento da receita no momento da aquisição de sua disponibilidade,

independentemente de sua realização em moeda. Sabe-se que as bases de

cálculo de tais tributos, quando calculados pela sistemática do lucro real, são

alcançadas através do lucro contábil da pessoa jurídica, acrescido de valores

que de alguma forma causaram sua diminuição, e que não são considerados

dedutíveis pela legislação fiscal.

Se imaginada uma situação hipotética em que a única operação seria a

implementação do projeto de redução de emissão de gases do efeito estufa, de

forma que a totalidade das receitas fosse obtida pela comercialização dos

Créditos de Carbono obtidos com a redução na emissão de gases de efeito

estufa, o lucro líquido contábil seria, exatamente, a diferença entre o valor

obtido pela venda dos Créditos de Carbono e o custo de aquisição destes.

Resta assim, identificar o custo de aquisição o ativo intangível. De

acordo com o Princípio do Custo como Base de Valor, “o custo de aquisição de

um ativo ou dos insumos necessários para fabricá-lo em condições de gerar

benefícios para a Entidade representa a base de valor para a Contabilidade,

expresso em termos de moeda de poder aquisitivo constante”.

Assim, partindo das premissas adotadas concluímos que, no caso dos

Créditos de Carbono, obedecendo ao princípio do conservadorismo, devem ser

contabilizados os gastos incorridos para se conseguir o RCE, bem como os

custos para a implementação do projeto, através do qual serão atingidos os

níveis de redução de emissão de GEEs.

Entretanto, é facultativo ao contribuinte, nos casos especificamente

previstos em lei, reconhecer determinadas receitas na medida de seu efetivo

recebimento (regime de caixa). Sendo assim, as empresas optantes pelo lucro

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presumido estão autorizadas a optar pelo regime de caixa em relação às

receitas de vendas de bens, direitos ou da prestação de serviços (Moreira Jr.,

2008).

Entende-se que a imunidade tributária seria aplicada à Contribuição

Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), no que se refere às receitas do exterior

advindas das operações de crédito de carbono, pois não deveria haver

segundo dispositivo constitucional, incidência de contribuições sobre as

receitas decorrentes de exportações.

Apesar da existência de precedente oriundo do Plenário do Supremo

Tribunal Federal de que a imunidade tributária também incide sobre a CSLL,

faz-se necessário frisar que as autoridades fiscais possuem entendimento

diverso quanto ao assunto (Moreira Jr., 2008).

A contribuição para o PIS/PASEP e a COFINS têm como fato gerador o

faturamento mensal, entendido como o total de receitas auferidas pela pessoa

jurídica, independentemente de sua denominação ou classificação contábil

(Almeida, 2005).

Ainda segundo Almeida (2005), deve-se, contudo ter em mente que a

Constituição Federal concedeu imunidade do PIS e da COFINS em relação às

receitas decorrentes de exportação. Assim, a receita auferida nas operações

de comercialização dos Créditos de Carbono, com base na premissa de que

tais operações se realizarão sempre entre uma empresa nacional (cedente) e

uma empresa domiciliada no exterior (concessionária), não será tributada de

PIS e COFINS.

O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é imposto de

competência da União que incide sobre as operações de crédito, câmbio e

seguro, ou relativo a títulos ou valores mobiliários. Considerando-se que a

prática comercial aponta para a classificação dos Créditos de Carbono como

valores mobiliários, os mesmos passariam a sofrer a incidência de IOF, de

acordo com as disposições da legislação pertinente ao IOF, consolidada no

Regulamento do IOF. Sendo assim, o IOF incidirá sobre o valor da cessão,

incidindo à alíquota máxima de 1,5% ao dia, e deverá ser cobrado e recolhido

na data da liquidação financeira da operação (Almeida, 2005).

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De acordo com Almeida (2005), na ciência econômica frequentemente

considera-se que a cessão de bens intangíveis se equiparam à prestação de

serviços. Levando em conceito em consideração, as receitas auferidas pela

comercialização dos Créditos de Carbono devem sofre incidência do Imposto

sobre Serviço (ISS).

O conceito jurídico de prestação de serviço é o de qualquer esforço

humano realizado em favor de terceiro. Percebe-se que nas operações de

crédito de carbono há apenas a obrigação de dar um bem (imaterial), sobre o

qual uma determinada parte detém a propriedade, a outrem. Dessa forma, não

há incidência de ISS sobre as receitas oriundas da comercialização de Créditos

de Carbono.

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CONCLUSÃO

Com a entrada em vigor do Protocolo de Quioto em fevereiro de 2005,

estabeleceu-se um novo mercado, envolvendo a negociação de certificados de

emissão reduzida, conhecidos por Créditos de Carbono, oriundos da utilização

do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.

Esses créditos, que poderão ser concedidos aos países em

desenvolvimento que implementarem projetos de desenvolvimento sustentável,

são passíveis de comercialização, mostrando-se como forma complementar

para os países do Anexo I atingirem suas metas de redução, estabelecidas no

Protocolo de Quioto.

Em julho de 2011, aconteceu na Alemanha uma reunião informal com

representantes de 35 países para tentar destravar as negociações sobre

mudanças climáticas. A Alemanha e a União Européia pressionam para a

criação de um novo acordo legalmente vinculante (que teria a participação dos

EUA e da China, que não têm metas de corte de emissões em Quioto). Nesse

novo tratado, os países industrializados teriam de mostrar liderança, mas os

países emergentes, como Brasil, Índia e China, também precisariam contribuir

para a redução dos lançamentos de dióxido de carbono para a atmosfera.

As negociações climáticas que ocorreram na África do Sul no fim do

ano passado resultaram na prorrogação da 2ª etapa do Protocolo de Quioto

com início em janeiro de 2013 e término em dezembro de 2017 ou dezembro

de 2020. Canadá, Japão e Rússia não farão parte do segundo período de

compromisso. A Conferência de Durban aprovou ainda um Fundo Verde de

US$ 100 bilhões até 2020 para serem utilizados pelos países em

desenvolvimento na implementação gradativa de programas voltados à

redução de emissões de gases de efeito estufa (Harada, 2011).

Independentemente do futuro que terá o Protocolo de Quioto, o

Mercado de Carbono já está inserido no mercado internacional e as Reduções

Certificadas de Emissões (RCEs) já estão sendo negociadas. Entretanto, não

existe no Brasil uma normatização sobre a contabilização de tais créditos,

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permitindo que as entidades os registrem conforme julgamento de seus

gestores e de forma estratégica para seus negócios.

Apesar de não existir normatização sobre a contabilização das

operações de crédito de carbono, a contabilidade, como instrumento de

avaliação da situação econômica e financeira das empresas, tem como objetivo

prover, através das demonstrações contábeis, informações acerca dos eventos

ambientais que por ventura tenham causado modificações em sua situação

patrimonial.

A diversidade de entendimentos sobre a contabilização dos Créditos de

Carbono dificulta que os usuários das demonstrações contábeis possam

comparar as informações divulgadas pelas entidades.

Sendo assim se faz necessário conhecer mais profundamente a

natureza jurídica das Reduções Certificadas de Emissões. Respondendo à

indagação inicial do presente trabalho quanto aos parâmetros contábeis

utilizados, foram encontrados na literatura posicionamentos que atribuem às

RCEs a categoria de bens intangíveis puros, commodity ambiental, serviço,

valor mobiliário e derivativo.

Quanto à incidência tributária sobre os Créditos de Carbono, com base

na legislação fiscal atualmente em vigor concluímos que:

• O valor decorrente da comercialização de Certificados de

Emissão Reduzida (RCEs) deverá ser registrado contabilmente como

receita, e desta forma afetará o lucro contábil e, conseqüentemente as

bases de cálculo do IRPJ e da CSLL da empresa que atuar neste

mercado.

• PIS/COFINS: as operações que envolverem a exportação de

Créditos de Carbono estarão protegidas da incidência do PIS e da

COFINS.

• IOF: há a possibilidade de incidência de IOF sobre o valor da

cessão de Créditos de Carbono caso estes títulos venham a ser

reconhecidos como ativos financeiros (derivativos), e

conseqüentemente como títulos ou valores mobiliários.

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• ISS; as receitas decorrentes da comercialização de Créditos de

Carbono não deverão sofrer a incidência de ISS, tendo em vista que a

cessão de direitos não se confunde com a prestação de serviços.

Apesar de ter registrado uma forte queda em 2009, em virtude da crise

econômica global, o mercado voluntário apresenta uma tendência de

crescimento devido à multiplicação das iniciativas de sustentabilidade em

empresas de todo o planeta. O Japão e a União Européia são considerados o

maior mercado para Créditos de Carbono, sendo que a Rússia, o Canadá e a

Nova Zelândia também têm grande relevância nesse mercado.

Constata-se que o assunto deverá ser ainda mais discutido e

desenvolvido até que haja uma convergência quanto à normatização e

definição de classificação contábil adequada. É imprescindível ainda ressaltar a

importância da criação de normas internacionais haja vista que o Mercado de

Carbono não apresenta fronteiras.

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ANEXO 1

COMUNICADO CVM RJ 6346/2009

CVM comunica seu entendimento sobre créditos de carbono e produtos que deles derivam

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) comunica seu entendimento sobre os Créditos de Carbono e produtos que deles derivam. A Autarquia também se manifesta sobre a possibilidade de aquisição Créditos de Carbono por fundos de investimento e as formas de financiamento de projetos de mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) por meio do mercado de valores mobiliários.

Créditos de carbonos são títulos emitidos por um órgão ligado à Organização das Nações Unidas que representam a não emissão de uma certa quantidade de gases que causam o aquecimento global.

A manifestação da CVM discute as razões pelas quais os Créditos de Carbono não devem ser considerados derivativos ou títulos de investimento coletivo – não se tratam, assim, de valores mobiliários, mas de ativos cuja comercialização pode ocorrer para o cumprimento de metas de redução de emissão de carbono ou com o objetivo de investimento. Adicionalmente, a CVM manifesta o seu entendimento de que seria inconveniente caracterizar os Créditos de Carbono como valores mobiliários por meio da edição de lei, tendo em vista a forma de emissão desses instrumentos.

A CVM também discute características de alguns produtos financeiros derivados de Créditos de Carbono, que, a depender de suas características, poderão ser considerados valores mobiliários. A análise da natureza de cada um desses outros produtos financeiros será feita, a cada caso, pela CVM.

Outro ponto que merece destaque é a utilização de estruturas reguladas pela CVM no mercado secundário ou para o financiamento de projetos destinados à emissão de Créditos de Carbono. Em especial, a CVM analisa como os fundos de investimento podem investir em Créditos de Carbono ou em projetos relacionados a mecanismos de desenvolvimento limpo. A Comissão também reconhece que o desenvolvimento do mercado de carbono pode propiciar o surgimento de novas estruturas de financiamento que merecerão análise especifica.

O Colegiado analisará, no futuro, a necessidade e conveniência de editar regulamentação tanto para os produtos derivados de Créditos de Carbono que venham a ser caracterizados como valores mobiliários quanto para novas estruturas de financiamento.

Disponível em: <http://www.cvm.gov.br/port/infos/Comunicado%20-%20RCE%20-%207%20de%20%20julho.asp>. Data de Acesso: 26.07.2011.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

LISTA DE SIGLAS 08

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I

(Mudanças Climáticas) 12

CAPÍTULO II

(Mecanismo de Desenvolvimento Limpo - MDL) 21

CAPÍTULO III

(Mercado de Créditos de Carbono) 28

CAPÍTULO IV

(Aspectos Tributários Relevantes) 37

CONCLUSÃO 41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 44

ANEXOS 49

ÍNDICE 50