50
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE DAS IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS CONSTITUCIONAIS ESTUDO DO ARTIGO 150,VI, “a”, “b”, “c” e “d”. Por: Marcelo de Araujo Alvares Orientadora Profª. Claudia Tannus Gurgel Amaral Rio de Janeiro 2008

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DAS IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS CONSTITUCIONAIS

ESTUDO DO ARTIGO 150,VI, “a”, “b”, “c” e “d”.

Por: Marcelo de Araujo Alvares

Orientadora

Profª. Claudia Tannus Gurgel Amaral

Rio de Janeiro

2008

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DAS IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS CONSTITUCIONAIS

ESTUDO DO ARTIGO 150,VI, “a”, “b”, “c” e “d”.

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito Público

e Tributário.

Por: . Marcelo de Araujo Alvares

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

3

AGRADECIMENTOS

A orientadora Professora Claudia

Tannus Gurgel Amaral pela ajuda

indispensável na orientação e na

realização deste trabalho monográfico.

Meu sincero agradecimento por mais

essa conquista.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

4

DEDICATÓRIA

A Deus por todas as maravilhas que faz em minha vida, pela renovação que me proporcionou.

Agradecimento Especial à minha Mãe, Alice, por estar em minha vida, por ter sempre me incentivado na perseguição dos meus objetivos. A Minha querida filha, Larissa, que sempre me serviu de inspiração e a quem tive que abdicar boa parte do meu tempo para concretizar esse meu ideal.

RESUMO

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

5

Inicialmente foi feita a demonstração da evolução histórica da

concepção das imunidades. Para um melhor entendimento foram fornecidos

conceitos e definições incluindo citações de renomados doutrinadores e de

jurisprudência.

Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o Tributo e a

contradição existente entre ambos na construção da sociedade. Também se

demonstrou a importância do mínimo existencial na defesa dos direitos

mínimos fundamentais, abordando os princípios da legalidade, igualdade e da

capacidade contributiva. Abordou-se a competência negativa, status negativus,

do Estado face a imunidade do contribuinte, e, por outro lado o dever do

Estado em garantir as prestações positivas, status positivus, garantido pela

Constituição Federal na defesa de direitos fundamentais como saúde,

educação, moradia etc.

Ademais, foi importante a classificação das imunidades com o

objetivo de demonstração das imunidades explicitas “espalhadas” pelo texto

constitucional, e, das imunidades implícitas consagrados através de tratados

internacionais e de leis infraconstitucionais. Foi relevante também a

abordagem das imunidades sobre as pessoas (subjetivas) e das imunidades

sobre os bens e mercadorias(objetivas).

Por fim, o último capítulo traz uma pesquisa sobre as imunidades

tributárias constitucionais citadas no artigo 150, VI, “a”, “b”, “c” e “d”, com a

posição doutrinária de Ricardo Lobo Torres, Aliomar Baleeiro, Antonio

Carrazza dentre outros. Para um melhor entendimento foi buscado explicitar

cada um dos incisos, com definições e posições doutrinárias nacionais e

estrangeiras de forma a facilitar o leitor na sua compreensão sobre cada um

dos assuntos.

METODOLOGIA

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

6

Foi utilizado como metodologia de pesquisa deste presente trabalho

a pesquisa na doutrina de conceituados autores de nosso país, além de fontes

de doutrina estrangeira.

Foi também realizado a análise de leis e normas, e, a pesquisa

para saber o entendimento jurisprudencial a cerca das imunidades tributárias

constitucionais citada no artigo 150, VI, “a”, “b” “c” e “d”, da Constituição

Federal de 1988.

SUMÁRIO

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

7

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I – DAS IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS 11

1.1 Breve Histórico 11

1.2. Conceitos e Definições 12

1.3 A Liberdade e o Tributo 16

1.4 MINIMO EXISTENCIAL 18

1.4.1 Conceito 18

1.4.2 Fundamentos 19

CAPÍTULO II - DAS CLASSIFICAÇÕES 23

2.1 Imunidades Explicitas ou Implícitas 23

2.2 Imunidades Subjetivas ou Objetivas 23

CAPÍTULO III – DAS IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS CONSTITUCIONAIS

ELENCADAS NO ART. 150, VI, CRFB/88

26

3.1 “Imunidade Recíproca” alínea “a” 26

3.2 “Templos de qualquer culto” alínea “b” 30

3.3 “Partidos políticos e suas Fundações, Entidades sindicais dos

trabalhadores e Instituições de educação e de assistência social sem fins

lucrativos” alínea “ c”

33

3.4 “Livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão”

alínea “d” .

40

CONCLUSÃO 44

BIBLIOGRAFIA 47

ÍNDICE 48

FOLHA DE AVALIAÇÃO 50

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

8

INTRODUÇÃO

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

9

Este trabalho tem o propósito de estudar as imunidades tributárias

constitucionais, estabelecido pela Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988, no artigo 150, VI, “a”, “b”, “c” e “d”.

A imunidade tributária vinculada a idéia dos direitos e garantias

fundamentais do Estado Democrático de Direito, consagrados em nossa Carta

Magna limitou a competência da atuação estatal de forma negativa, ou seja, o

não exercício da competência tributária.

Segundo o pensamento do professor Ricardo Lobo Torres a

imunidade tem início com a relação entre liberdade e tributo, dando origem a

chamada liberdade fiscal.

A imunidade tributária se expressa como princípio vinculado a idéia

de liberdade, tendo a natureza de autolimitação dos direitos humanos,

originando-se dos direitos morais e fundando-se na liberdade absoluta e nas

condições da liberdade.

As condições de liberdade, que não se confundem com a Justiça

social, vão fundamentar a imunidade tributária do mínimo existencial (no

Estado de Polícia) a abranger a não incidência de tributos sobre a renda

mínima, os bens de consumo popular, as prestações estatais de educação,

saúde, justiça etc., que aparecem explicitamente nos dispositivos de nossa

Constituição Federal de 1988, no artigo 150, VI, “a”, “b”, “c” e “d”.

Não é intuito desse trabalho, politizar o tema, mas tão somente

estudar o funcionamento de nosso sistema tributário à luz da Constituição que

delimita o poder de tributar do Estado e estabelece normas contendo direitos e

deveres que trazem equilíbrio a esta relação.

Desta forma o presente trabalho monográfico iniciará os estudos a

partir de um breve histórico das imunidades tributárias até os dias atuais ,

demonstrando a necessidade da arrecadação dos tributos para a criação de

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

10

uma sociedade , sem infringir o mínimo existencial. Em seqüência será

demonstrada a classificação. Por fim, serão explicitados todas as imunidades

tributárias contidas no artigo 150, VI e seus incisos “a”, “b”, “c” e “d”, da

Constituição Federal de 1988.

CAPÍTULO I

DAS IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

11

1.1 Breve Histórico

A evolução da imunidade passa pelo Estado Patrimonial

(compreendido entre o final do regime feudal até o final do século XVIII), que

não oferecia imunidade tributária aos pobres mais sim aos nobres e clero, e

por isso chamado de privilégios odiosos.

A seguir veio o Estado de Polícia até o advento do Estado Fiscal de

Direito o qual modifica o tratamento dado a pobreza, com a estruturação

jurídica da imunidade do mínimo existencial e assistência social aos pobres. O

tributo nasce do espaço aberto da autolimitação da liberdade reservando-se

pelo contrato social um mínimo de liberdade intocável pelo imposto, garantido

pelos mecanismos das imunidades e privilégios.

As imunidades no Brasil foram acolhidas por Ruy Barbosa, antigo

ministro da Fazenda, segundo o qual “o poder de taxar ou não existe, ou,

onde existir, existe na plenitude soberana ” tendo em vista que “o poder não

tem expressão mais alta, mais consumada, mais independente”, segue-se daí

que “o intento do legislador é estabelecer nessa espécie de relações a

imunidade absoluta ao imposto; liberdade em tais casos, significa

intributabilidade”. Ingressaram explicitamente em nossa primeira Constituição

da República de 1891, sob a inspiração da doutrina liberal americana dos

séculos XVIII e XIX, e mantiveram-se intocadas nos textos posteriores (1934,

1937, 1946, 1967, 1969) posto que receberam apenas modificações

redacionais.

Vale ressaltar que o Direito de tributar, concedido aos entes estatais,

é um sistema de limitação da liberdade humana fundamentado nos princípios

jurídicos da tributação, sendo o mais importante dentre eles, para o objeto do

trabalho, o princípio da legalidade, que limita o poder de tributar, estando

recepcionado pela Constituição Federal de 1988 (art. 150, inciso I), impedindo

que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios exijam tributos não

estabelecidos por lei.

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

12

Os direitos da liberdade tem origem na própria natureza humana e

antecedem à constituição do Estado, não é o Estado que cria os direitos

fundamentais, mas apenas os garante consequência de sua própria

constituição no espaço aberto pela liberdade individual. A imunidade precede

ao Estado Fiscal como essencial da pessoa humana e corresponde ao direito

público subjetivo a pretensão de não sofrer dano diante da origem da ordem

jurídica tributária objetiva.

A Imunidade é o obstáculo decorrente da regra da Constituição

Federal à incidência de regra jurídica de tributação. O que é imune não pode

ser tributado, ou seja, a imunidade impede que a lei defina como hipótese de

incidência tributária aquilo que é imune. É a limitação de competência

tributária.

1.2 Conceitos e Definições

Etimologicamente, o vocábulo imunidade procede do latim immunitas,

immunitate. Trata-se de palavra que indica negação de munus (cargo, função

ou encargo), sendo que o prefixo in oferece a sua verdadeira conotação (sem

encargo, livre de encargos ou munus)

A imunidade tributária, do ponto de vista de ser concebida é uma

redação jurídica que instrumentaliza os direitos fundamentais, ou uma

qualidade da pessoa que embasa o direito público subjetivo a não incidência

tributária ou uma exteriorização dos direitos da liberdade que ocasiona a

incompetência tributária do ente público.

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

13

Segundo Jose Afonso da Silva1 assim pensa sobre o tema:

''As imunidades fiscais, instituídas por razões de

privilégio, ou de considerações de interesse geral

(neutralidade religiosa, econômicos, sociais ou políticos),

excluem a atuação do poder de tributar. Nas hipóteses

imunes de tributação, incorre fato gerador da obrigação

tributária. Nisso diferem imunidades e isenções, pois,

relativamente a estas, dá-se o fato gerador da obrigação

tributária, mas o contribuinte fica apenas isento do

pagamento do tributo.''

É mister ressaltar também a posição de importantes doutrinadores

sobre o assunto da imunidade. Pontes de Miranda2 afirma:

“A regra jurídica de imunidade é a regra jurídica no plano

da competência dos poderes públicos – obsta à atividade

legislativa impositiva, retira ao corpo que cria impostos

qualquer competência para pôr, na espécie.”

Aliomar Baleeiro3 aduz:

“As limitações constitucionais ao poder de tributar

funcionam por meio de imunidades fiscais, isto é,

disposições da lei maior que vedam ao legislador

ordinário decretar impostos sobre certas pessoas,

matérias ou fatos, enfim situações que define.”

Roque Antonio Carrazza4 preleciona que:

1 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 9ª ed. São Paulo, Malheiros, tít. IV, cap. II, it. 8, 1993, p. 607

2 MIRANDA, Pontes de. Questões Forenses, t. III, Rio de Janeiro, Borsoi , 1953, p.364 3 BALEEIRO, Aliomar. Uma Introdução à Ciência das Finanças e à Política Fiscal, 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1964, p. 262

4 CARRAZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário.14ª ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p.463

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

14

“A imunidade tributária é um fenômeno de natureza

constitucional. As normas constitucionais que, direta ou

indiretamente, tratam do assunto fixam, por assim dizer,

a incompetência das entidades tributantes para onerar,

com exações, certas pessoas, seja em função de sua

natureza jurídica, seja porque coligadas a determinadas

fatos, bens ou situações.”

Assim como existem limitações constitucionais ao poder de tributar

(as imunidades) existem limites que não podem ser transpostos pelo poder de

isentar. A competência para isentar no Brasil podem ser concedidas: a) por lei

ordinária; b) por lei complementar; c) por decreto legislativo do Congresso

Nacional; e d) por decreto legislativo estadual ou distrital.

Sobre a distinção da imunidade com relação a isenção temos o

posicionamento de Sacha Calmon Navarro Coêlho5:

“Enquanto a norma imunitória é constitucionalmente

qualificada, a norma isencional heterônoma é legalmente

qualificada (lei complementar da Constituição)”

A expressão imunidade tributária pode ter dois significados. A

primeira ampla significando a incompetência da pessoa política para tributar

como por exemplo pessoas que realizam fatos que estão fora das fronteiras do

campo tributário. A segunda restrita, aplicável as normas constitucionais que

de modo expresso declaram ser vedado às pessoas políticas tributar

determinadas pessoas, levando-se em conta a natureza jurídica que possuem

e se coligadas a determinados fatos , bens ou situações. Em outras palavras

significa ampla, a expressão imunidade tributária que alcança quaisquer

5 CALMON, Sacha .Curso de Direito Tributário Brasileiro. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 172

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

15

tributos (impostos, taxas, e contribuição de melhoria) e a acepção restrita,

apenas os impostos.

Sob a ótica de sua natureza, há uma parcela da doutrina que

defende a teoria do poder fiscal, ou seja, autolimitação da competência

tributária ou reserva dos direitos fundamentais, tendo suas raízes nas

posições básicas no direito natural. Diferentemente os positivistas com sua

defasada teoria da autolimitação ao poder de tributar baseada na Constituição

positivada, trouxe consequências indesejáveis pois fez perder o significado

dos direitos fundamentais e aumentar o autoritarismo fiscal quando trás

benefícios representados com normas de cunho constitucional, ora como

concessão do Estado ou ora como “obra” do legislador.

Durante muitos anos o Supremo Tribunal Federal incorporou o ponto

de vista da doutrina positivista, porém, a partir do julgamento da ADIN 939-76

o Pretório Excelso vem entendendo a vinculação das imunidades com os

direitos humanos e inclusive que não pode ser revogado por ser cláusula

pétrea (artigo 60, parágrafo 4º, inciso I , CRFB/88).

.

“a) ‘Uma emenda à Constituição, emanada, portanto, de Constituinte derivado, incidindo em violação à Constituição originária, pode ser declarada inconstitucional pelo STF, cuja função precípua é a guarda da Constituição (art.l02,I,"a" da CF (...)’,cfe RTJ 151/755);

b) ‘Se na vigência da lei anterior, o servidor preenchera todos os requisitos exigidos, o fato de, na sua vigência, não haver requerido a aposentadoria não o faz perder o seu direito que já estava adquirido (...)’, in RMS n. 11.395, in RTJ 48/392.

Resumo: existe sim direito adquirido contra Emenda Constitucional, pelo limite material constante do art.60,IV da CF/88 referente à cláusula pétrea – direitos e garantias

6 Disponível em www.jus2.uol.com.br/doutrina . Acesso em: 22/08/08.

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

16

individuais c/c art.5º, XXXVI (a lei não prejudicará o direito adquirido, entendido esse em seu sentido amplo), tendo o STF entendido que os direitos individuais são limites (limites formais, materiais e circunstanciais) à emenda e não se restringem aos do art.5º, podendo, neles, estarem inclusos outros, a exemplo dos direitos tributários (ADIN 939-7-DF,Rel. Min.Sydney Sanches e ADIN 829-DF,Rel. Min.Moreira Alves, já referidas).”

A Constituição Federal define o âmbito do tributo, ou seja, o campo

dentro do qual pode o legislador definir a hipótese de incidência da regra de

tributação. A regra de imunidade retira desse âmbito uma parcela, que torna

imune. Desta forma age a regra imunizante, relativamente ao contorno

constitucional do âmbito do tributo, da mesma forma que opera a regra de

isenção relativamente à definição da hipótese de incidência tributária.

A imunidade , em outras palavras, enaltece os direitos da liberdade e

limita o poder tributário estatal, não sendo, de modo algum uma das

manifestações da soberania do Estado, nem uma outorga constitucional, nem

uma autolimitação do poder fiscal, nem uma simples garantia principiológica

como poderia dar a entender o caput do artigo 150, da Constituição Federal.

Os direitos humanos, em síntese, são inalienáveis , imprescritíveis e

intributáveis.

1.3 A Liberdade e o Tributo

Segundo Ricardo Lobo Torres o relacionamento entre liberdade e

tributo apresenta uma contradição, pois enquanto o tributo é garantia da

liberdade , ao mesmo tempo possui extraordinária aptidão para destruí-la

quando oprime com tributo ilegítimo.

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

17

Segundo Ricardo Lobo Torres7:

“ O tributo é o preço da liberdade, pois serve de

instrumento para distanciar o homem do Estado,

permitindo-lhe desenvolver plenamente as suas

potencialidades no espaço público, sem necessidade de

entregar qualquer prestação permanente de serviço ao

Leviatã. Por outro lado, é o preço pela proteção do

Estado consubstanciada em bens e serviços públicos, de

tal forma que ninguém deve ser privado de uma parcela

de sua liberdade sem a contrapartida do benefício

estatal.”

As liberdades fundamentais fazem surgir o tributo que nasce no

espaço aberto por estas. O que significa que é totalmente limitado por essas

liberdades. O aspecto principal da liberdade, que marca verdadeiramente o

tributo, é o de ser negativa ou erigir o status negativus que significa o poder

de autodeterminação do indivíduo, a liberdade de ação ou de omissão sem

qualquer constrangimento por parte do Estado.

Aduz Roque Antonio Carrazza: "De fato, entre nós, a força tributante

estatal não atua livremente, mas dentro dos limites do direito positivo.”

O tributo pode implicar a opressão da liberdade, se o não contiver a

legalidade. Daí por que se atribui tanta importância à legalidade na meditação

sobre a liberdade.

A constituição brasileira abordou de forma bastante expressiva o da

tema da tributação porém é importante frisar que ela não estabeleceu

explicitamente o que vem a ser tributo, tarefa que coube a doutrina.

No entender de Roque Antonio Carrazza8

7 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional Financeiro e Tributário .3ª ed.

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

18

“... é a relação jurídica que se estabelece entre o Fisco e

o contribuinte, tendo por base a lei, em moeda igualitária

e decorrente de um fato ilícito qualquer(...). Ainda nos

termos da Constituição, o tributo é instrumento de

arrecadação, necessário á realização das despesas

públicas(arts. 163 e ss., especialmente o art. 167,IV).

Deve pois, ter destinação pública e é de prestação

obrigatória, até porque sempre decorre de lei(art. 150, I da

CF), e não da vontade da Administração Fazendária ou do

contribuinte.”

1.4 Mínimo Existencial

1.4.1 Conceito

Por não possuir conteúdo próprio em nossa Constituição, abrange

qualquer direito ainda que originariamente não fundamental, considerado

em sua dimensão essencial e inalienável.

Deve ser interpretado na idéia de liberdade, nos princípios

constitucionais da igualdade, do devido processo legal e da livre iniciativa,

nos direitos humanos e nas imunidades e privilégios do cidadão.

Nas declarações internacionais dos direitos humanos é que tem

aparecido com mais freqüência o direito ao mínimo existencial. Proclamado

na Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948) diz o artigo 25:

Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p.4

8 CARRAZZA, op. cit., p.271

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

19

“Toda pessoa tem direito a um nível de vida suficiente

para assegurar a sua saúde, a seu bem estar e o de sua

família, especialmente para a alimentação, o vestuário,

a moradia, a assistência médica e para os serviços

sociais necessários.”

A Constituição Federal de 1988 se limita a estabelecer que

constituem objetivos fundamentais do República Federativa do Brasil

“erradicar a pobreza e marginalização e reduzir as desigualdades sociais e

regionais.” Contudo, a positivação do direito mínimo existencial começa a

aparecer na legislação infraconstitucional.

A lei nº 8.742, de 07/12/1993 em seu artigo 1º fala em “mínimos

socais” ao dispor sobre a organização da assistência social, que define:

“ A assistência social, direito do cidadão e dever do

Estado, é Política de Seguridade Social não

contributiva que provê os mínimos sociais , realizada

através de um conjunto integrado de ações de iniciativa

pública e da sociedade, para garantir o atendimento as

necessidades básicas.”

1.4.2 Fundamentos

No Estado Patrimonial, que foi até aproximadamente ao final do

século XVIII, se caracterizou pelo fato de que os pobres não eram imunes aos

tributos, e a doutrina da época defendia através da teoria da proporcionalidade

somente os interesses do clero e nobreza. Cabia a igreja e aos nobres mais

ricos dar assistência social aos mais necessitados, contudo provocou o

surgimento de muitos pedintes.

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

20

No Estado de Polícia tem inicio uma mudança na perspectiva no

sentido de se aliviar a carga tributária que era absorvida pelos pobres, e sua

proteção passa a ser realizada pelo Estado. Seguindo uma tendência do

Cameralismo, foi defendido a progressividade da tributação tendo como

parâmetro o mínimo existencial.

As condições da liberdade, que não se confundem com a justiça

social, vão fundamentar a imunidade tributária do mínimo existencial, a

abranger a não incidência de tributos sobre a renda mínima, os bens de

consumo popular, as prestações estatais de educação, saúde, justiça etc., que

aparece explicitamente em diversos dispositivos na Constituição Federal de

1988. A Questão do mínimo existencial confunde-se com o problema da

pobreza , sendo preciso se distinguir entre a pobreza absoluta , que deve ser

combatida pelo Estado, e a pobreza relativa, ligada a causas de redução

econômica ou de redistribuição de bens.

Em matéria tributária a preservação do mínimo existencial, sendo

pré-constitucional como toda e qualquer fundamental imunidade , está apoiada

na ética e se fundamenta na liberdade, na idéia de felicidade, nos direitos

humanos e no princípio da igualdade.

O princípio da igualdade ou isonomia exige que a lei, tanto ao ser

editada, quanto ao ser aplicada não discrimine os contribuintes que: a) se

encontrem em situação jurídica equivalente; b) discrimine, na medida das suas

desigualdades, os contribuintes que não se encontrem em situação jurídica

equivalente. Isto é evidente pois as pessoas não são iguais, pelo contrário as

pessoas e as situações de fato nas quais se inserem são desiguais, e a lei

existe exatamente para regular estas desigualdades reconhecendo-as e

tornando-as jurídicas. Em matéria tributária mas do que em qualquer outra

tem-se idéia de igualdade no sentido de proporcionalidade, ou seja, de que

todos devem pagar o mesmo tributo, por isso o princípio da igualdade se

confunde com a capacidade contributiva.

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

21

O princípio da capacidade contributiva expresso na primeira parte do

1º parágrafo do artigo 145 da Constituição Federal, subordinado a idéia de

justiça, pouco tem a ver com a problemática do mínimo existencial, que se

insere no campo da liberdade e dos direitos humanos. A capacidade

contributiva começa além do mínimo necessário à existência humana digna

e termina aquém do limite destruidor da propriedade. Este princípio informa

a tributação por meio de impostos. Esta estreitamente ligado ao princípio da

igualdade, o qual é um dos mecanismos mais eficazes para que se alcance a

tão almejada Justiça Fiscal.

Outro princípio que é considerado um dos mais importantes é o

princípio da legalidade, pois juntamente com os outros princípios jurídicos

tributários já mencionados, funciona como limitador do poder de tributar,

impedindo que a União, Estados, o Distrito Federal e os Municípios exijam

tributos que não tenham sido especificados por lei. No Brasil tais princípios

residem na Constituição Federal sendo o princípio da legalidade no artigo

150, inciso I. Somente através de lei é possível a criação e majoração dos

tributos. Não mediante decreto ou portaria, ou instrução normativa, ou qualquer

ato normativo que não seja a lei, em sentido próprio, restrito. Porém esta

admite exceções no que se refere a determinados tributos que pode ocorrer,

dentro dos limites estabelecidos em lei, por ato do Poder Executivo. Tais

exceções são somente aquelas previstas na Constituição Federal.

O mínimo existencial encontra na capacidade contributiva o seu

balizamento e jamais o seu fundamento. Participam ambos da mesma

equação de valores, em contraponto com a interação existente entre liberdade

e justiça, idéias nas quais se interligam. No Brasil a imunidade existencial era

confundida com isenção, atribuindo-se como fundamento a capacidade

contributiva.

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

22

O mínimo existencial é direito subjetivo protegido negativamente

contra a intervenção do Estado(Status Negativus), e ao mesmo tempo

garantido positivamente pelas prestações estatais (Status Positivus).

O Status negativus significa o poder de autodeterminação do

indivíduo, a liberdade de ação ou de omissão sem qualquer constrangimento

por parte do Estado. Se afirma no campo tributário através das imunidades

fiscais como o poder de imposição do Estado não poder invadir a esfera da

liberdade mínima do cidadão representada pelo direito à subsistência. Pode-

se dizer também que se compadece com as normas sobre o reconhecimento

das imunidades, desde que não restrinja os direitos assegurados pela

Constituição. Essa imunidade é paradoxal, pois protege tanto o pobre quanto

o rico, dentro dos limites mínimos necessários à garantia da dignidade

humana.

O Status positivus é a face que necessita de prestações positivas e

igualitárias do Estado, que podem desafiar a reserva possível. Dentre as

prestações estão as garantias constitucionais (polícia, forças armadas,

diplomacia, etc.) e prestações positivas de proteção dos direitos fundamentais

sociais, saúde, educação, assistência social, moradia, etc.

É mister frisar que o mínimo existencial tanto pelo seu aspecto

negativo como pela necessidade de proteção positiva, carecem para se

concretizar do processo democrático , da separação e independência dos

poderes e do federalismo, ou seja, do trabalho da legislação administrativa e

sobretudo da jurisprudência tendo uma função complementar e atualizadora.

Isto posto, deve ser feito uma reflexão sobre a liberdade do mínimo existencial

no sentido de procurar o equilíbrio entre os direitos fundamentais e os

econômicos sociais.

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

23

CAPÍTULO II

DAS CLASSIFICAÇÕES

2.1 Imunidades Explicitas ou Implícitas

A Constituição brasileira é rica nas explicitações das

imunidades, conforme se identifica nos incisos II, IV, V, e VI do artigo 150,

além de reservar os dispositivos dos artigos 151 e 152 para a matéria análoga

da proibição dos privilégios. E, ainda podem ser consideradas algumas das

imunidades do mínimo existencial como: as que garantem a não incidência de

taxas para obtenção de certidões para defesa de direitos, a propositura de

ação popular, o ingresso dos pobres de direito, a propositura de ação popular,

o ingresso dos pobres em juízo e, o registro civil e a certidão de óbito e a

impetração do habeas corpus e habeas data.

Ademais, as imunidades implícitas também aparecem em nossa

Constituição da República, que apenas se manifestarão nos tratados

internacionais e nas leis infraconstitucionais através dos mecanismos da

isenção ou dos descontos do imposto de renda. Assim acontece com a

imunidade dos agentes consulares e com a do mínimo existencial relativo à

família e aos bens necessários à alimentação e ao vestuário da população de

baixa renda. Temos ainda a imunidade que só aparecerá na doutrina ou na

jurisprudência, como por exemplo as que tratam dos direitos da liberdade

declarados no artigo 5º da Constituição Federal (profissão, acesso à Justiça,

personalidade, etc.)

2.2 Imunidades Subjetivas ou Objetivas

Sobre o prisma da incidência jurídico econômica as imunidades

classificam-se em subjetivas (pessoais) e objetivas (reais), ambas incidindo

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

24

sobre impostos diretos ou indiretos. A título de exemplo, pode-se mencionar a

imunidade consagrada no artigo 150, inciso VI, alíneas “a” e “c”, parágrafos 2º

e 4º da Constituição Federal de 1988, referente, respectivamente, à imunidade

recíproca das pessoas políticas, autarquias e fundações instituídas e mantidas

pelo Poder Público, e dos partidos políticos e sua fundações, das entidades

sindicais de trabalhadores e das instituições de educação e de assistência

social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei.

As imunidades subjetivas ou pessoais são aquelas estabelecidas em

razão da condição de determinadas pessoas. São outorgadas ratione

personae, em decorrência ou da natureza jurídica da pessoa, ou em face

do papel socialmente relevante que desempenha. Nessa imunidade há a

participação do elemento objetivo, tais como, patrimônio, renda ou serviços,

que tenham relação com as entidades beneficiadas, verifica-se que a nota

determinante desse tipo de imunidade é o caráter pessoal. É mister destacar

que as pessoas protegidas pelas imunidades subjetivas não podem sofrer a

incidência de impostos diretos, se arcam com o ônus financeiro do tributo e se

praticam atos compatíveis com suas finalidades constitucionais

No entendimento de Roque Antonio Carrazza9:

“... a imunidade é sempre subjetiva, já que

invariavelmente beneficia pessoas, quer por sua

natureza jurídica, quer pela relação que guardam

com determinados fatos, bens ou situações.”

As imunidades objetivas(ratione materiae) ou reais, vedam a

incidência de impostos sobre determinados bens ou mercadorias em cortesia

às liberdades. É considerado como imunidade objetiva no artigo 150, VI, “d”

que trata dos jornais , periódicos e papel de imprensa, além dos bens de

consumo popular. Nesta imunidade estão presentes alguns raciocínios

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

25

subjetivos ( ex.: editoras, empresas jornalísticas) mas de forma subsidiária

apenas para balizar de forma correta a objetividade. Essa espécie de

imunidade só protege contra a incidência de impostos indiretos (ICMS, IPI),

contudo, o STF vem ampliando a interpretação, para beneficiar algumas

pessoas ligadas à industrialização e à comercialização das mercadorias

imunes.

9 CARRAZZA, op. cit., p. 463

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

26

CAPÍTULO III

DAS IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS CONSTITUCIONAIS

ELENCADAS NO ART. 150, VI, CRFB/88.

3.1 “Imunidade Recíproca” alínea “a”

A imunidade recíproca no artigo 150, VI “a”, CRFB/88, veda que a

União, Estados e Municípios venham a instituir impostos sobre o patrimônio,

renda ou serviços uns dos outros. Essa imunidade se baseia no princípio

federal, no qual consagra a não interferência de um ente político (União,

Estado, Distrito Federal e Município) sobre o outro. Ademais, o princípio da

isonomia consagra a primazia da igualdade uma vez que entre os entes

públicos deve haver absoluta igualdade política.

A evolução dessa imunidade no Brasil teve a influência da

imunidade recíproca a partir da Jurisprudência da Suprema Corte dos Estados

Unidos, a partir da compreensão dos princípios básicos da ordem liberal,

enquanto no Brasil foi através das sucessivas reescrituras de nossa Carta

magna.

A imunidade recíproca no Brasil teve início a partir do advento da

República em 1891, quando Rui Barbosa com seu vasto conhecimento na

jurisprudência dos Estados Unidos da América, redigiu o anteprojeto daquele

que veio a se transformar no artigo 10 de nossa primeira Constituição, e dizia:

“É proibido aos Estados tributar bens e rendas federais ou serviços a cargo

da União, e reciprocamente”. Ademais, conhecedor das discussões que a

omissão causara no primeiro momento após a elaboração da constituição

americana, por não estar expresso em nenhum de seus artigos ou emendas

a respeito da imunidade, fez inserir em seu anteprojeto a proibição expressa à

tributação por meio de impostos, entre as pessoas políticas.

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

27

Em 1819, o Estado de Maryland, nos Estados Unidos, pretendeu

cobrar imposto sobre a selagem com estampilhas de uma filial do banco

oficial (Bank of U.S.), porém o caso foi levado a Suprema Corte americana,

que numa decisão que marcou época, deixou assentado as seguintes idéias,

que valem até hoje, inclusive para o Brasil, que nesta matéria adota o modelo

norte-americano. a) A competência para tributar por meio de impostos

envolve, eventualmente, a competência para destruir. b) Não se deseja , e a

própria constituição não admite , nem que a União destrua os Estados

membros, nem que estes se destruam mutuamente ou à União. c) Nem a

União pode exigir impostos dos Estados-membros, nem este da União, ou

um dos outros.

Contudo, foi a partir da carta Magna de 1937 que se iniciou

gradativamente o processo de encurtamento do alcance das imunidades,

dando origem a orientação de nossa Constituição de 1988 que deixou claro

que a imunidade recíproca está presa ao patrimônio, à renda e aos serviços

vinculados às finalidades essencialmente estatais.

Classificada pela doutrina como subjetiva, a imunidade recíproca,

defende além dos entes públicos (União, Estados, Distrito Federal e

Municípios) também as suas autarquias, instituídas e mantidas pelo poder

público (artigo 150, parágrafo 2º, CRFB/88).

Porém, apesar da imunidade recíproca ser classificada como

subjetiva há participação de elementos de objetividade (Ex.: patrimônio, renda

ou serviço) de forma apenas a estruturar a subjetividade dos entes públicos, no

que concerne as suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes.

É mister destacar que a vedação do artigo 150, VI, “a” , também é

extensivo ás Autarquias e ás Fundações instituídas e mantidas pelo Poder

Público, conforme expõe o artigo 150, parágrafo 2º também da Constituição

de 1988, no que se refere ao patrimônio, renda e aos serviços, vinculados as

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

28

suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes. Este tema não foi tratado

na Constituição anterior, o que gerou dúvidas no entendimento. Dentre as

divergências sobre se as fundações públicas teriam natureza autárquica

houve a posição de Celso Antonio Bandeira de Mello e de Roque Antonio

Carrazza confirmando essa semelhança, e em sentido oposto a posição de

Hely Lopes Meyreles. Contudo a atual Constituição fez com que este dissídio

fosse superado. Desta forma as fundações públicas, tenham a natureza

jurídica que tiverem, não podem tanto quanto as pessoas políticas, ser alvo de

tributação por via de impostos.

Ainda sobre este assunto, segundo o pensamento de Geraldo

Ataliba as empresas estatais delegatárias de serviços públicos são imunes a

impostos10, a exceção do parágrafo 3º que diz respeito apenas às

concessionárias de serviços públicos.

“EMENTA: Companhia de Saneamento Básico do Estado

de São Paulo – SABESP, sociedade mista estadual, é

delegada do Estado para exercer serviços públicos

estaduais e não concessionária. Goza de imunidade a

impostos por força do preicetuado no art. 150, VI,

CRFB/88. O regime remuneratório é o de seus serviços é

o de taxas.”

As empresas públicas e as sociedades de economia mista

delegatárias de serviços públicos (isto é quando não exploram atividade

econômica) não se sujeitam à tributação por meio de impostos, justamente

porque são o longa manus das pessoas políticas que por meio de lei que as

criam. A circunstância de serem revestidas de natureza de empresa pública ou

de sociedade de economia mista não lhes retira a condição de pessoas

administrativas, que agem em nome do Estado, para conseguir atingir o bem

comum. Ainda no parágrafo 2º do art. 150 é colocado ao largo da imunidade

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

29

tributária os serviços públicos que ensejarem cobrança de tarifa ou

contraprestação dos usuários ( em termos mais técnicos cobrança de taxa de

serviço).

O Patrimônio tutelado pela imunidade recíproca é tanto o imobiliário

como o mobiliário, desde que vinculados às finalidades públicas. Conforme

posicionamento do STF não é imune de IPTU terreno baldio pertencente a

autarquia. Para afastar divergências doutrinárias quanto ao efeito da

promessa de compra e venda de propriedade ainda enquanto sob o domínio

de ente público, foi necessário a explicitação no artigo 150, parágrafo 3º,

CRFB/88, o qual apenas se amoldou a súmula 583 do Supremo que

informa: “ Promitente comprador de imóvel residencial transcrito em nome

da autarquia é contribuinte de Imposto Predial e Territorial Urbano.” Desta

forma o promitente comprador não terá imunidade sobre a propriedade da

entidade imune, isto por que os efeitos da promessa de compra e venda do

Direito Tributário não são os mesmos do Direito Civil.

A Renda abrange a receita tributária e patrimonial. Contudo, ficam

excluídas de proteção constitucional as rendas provenientes de exploração de

atividades regidas pelas normas aplicadas a empreendimentos privados(artigo

173, CRFB/88).

Os serviços essencialmente públicos são imunes a tributação,

desde que na proteção dos direitos fundamentais ou paraestatal de proteção

aos direitos sociais, ou seja, havendo o repasse aos usuários dos custos dos

serviços públicos que os beneficiam. Abrange o conceito de serviço o

fornecimento de bens e mercadorias como acontece com distribuição de

merenda escolar, e na entrega de objetos a população carente.

Sobre o que acabou de ser visto Hugo de Brito Machado11 afirma:

10 CARRAZZA, op. cit., p.474 11 MACHADO, Hugo de Brito, Curso de Direito Tributário, 28 ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p.

305

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

30

“É plenamente justificável a exclusão da imunidade

quando o patrimônio, a renda e o serviço estejam

ligados a atividade econômica regulada pelas normas

aplicáveis às empresas privadas. A imunidade implicaria

tratamento privilegiado contrário ao princípio da liberdade

de iniciativa.”

Ademais, é mister destacar os impostos diretos e o posicionamento

atual envolvendo a imunidade sobre impostos indiretos. Os impostos diretos

ainda que transfiram os respectivos encargos financeiros a terceiros, não

incidem sobre os entes públicos. Os impostos indiretos são aqueles que os

custos refletem para o consumidor, incidem sobre os entes públicos tanto na

situação de vendedores quanto de compradores da mercadoria. Assunto hoje

pacífico, o STF tem se posicionado diferentemente de alguns anos atrás, pois

passou a declarar que a imunidade recíproca não protege os vendedores de

mercadorias a entes públicos.

Enfim, a imunidade recíproca é uma forma de expressão do

princípio federativo, protegida contra possível emenda constitucional , por

força do artigo 60, parágrafo 4º, inciso IV, CRFB/88, segundo o qual informa:

“não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir(...) a

forma federativa do Estado”.

3.2 “Templos de qualquer culto” alínea “b”

Outra imunidade explicita é a que fala sobre os templos, esta no

artigo 150, VI, “b”. Templo, do latim templum, é o lugar destinado ao culto. Em

Roma era lugar aberto, descoberto e elevado, consagrado pelos sacerdotes da

advinhação, a “indagar” a vontade dos deuses nessa tentativa de todas as

religiões de religar o homem e sua existência ao absoluto, a Deus. No Brasil o

Estado é laico, não tem uma religião oficial.

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

31

A intributabilidade das religiões além de estar normalmente

declarada na constituição é o contraponto fiscal da liberdade religiosa afirmada

na Declaração dos Direitos (artigo 5º, VI, CRFB/88) e um dos pilares do

liberalismo e do Estado de Direito.

Com a proclamação da República, que se inspirava no positivismo

de Augusto Comte, deu-se início da separação da Igreja e o Estado. Isto

porque o Estado passou a ser laico deixando de dispensar maior proteção a

uma única religião (ainda a que fosse a majoritária) para tolerar todas elas.

Substituiu-se historicamente a imunidade da igreja católica, adquirindo maior

extensão para proteger toda e qualquer religião. A imunidade protege o

patrimônio das entidades religiosas, compreendendo bens móveis e imóveis.

O prédio onde se pratica o culto, o lugar da liturgia e o convento, a casa do

padre ou ministro, o cemitério, os aviões e embarcações utilizados na

catequese.

O Brasil não tem uma religião oficial, ou seja, a todas respeita e

protege, não indo contra as instituições religiosas com o poder de polícia ou o

poder de tributar, salvo para evitar abusos: sacrifícios humanos ou fanatismos

demente e visionário. Quando acontece a cobrança de tributo é para evitar que

sob a capa da fé se pratiquem atos de comércio ou se exercite animus lucrandi

sem finalidade benemérita. Desta forma excluem-se do campo da

intributabilidade os bens utilizados com finalidades, econômicas ou comerciais,

as mercadorias vendidas a terceiros, as terras improdutivas e os terrenos

isolados da igreja. Contudo, manifestando-se recentemente sobre o tema,

afirmou o STF ser ilegítima a cobrança de impostos sobre lotes vagos bem

como aquela sobre prédios comerciais e entidades religiosas.

Para corroborar com o entendimento acima aduz Aliomar

Baleeiro12:

12 BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar, 7ª ed . Atualizado por Misabel Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 311

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

32

“ O culto não tem capacidade econômica. Não é fato

econômico. O templo não deve ser apenas a igreja,

sinagoga ou edifício principal, onde se celebra a

cerimômia pública, mas também a dependência

acaso contígua, o convento, os anexos por força de

compreensão, inclusive casa ou residência do pároco

ou pastor, desde que não empregados em fins

econômicos.”

Segundo o pensamento de Hugo de Brito Machado as entidades

religiosas sob o manto da imunidade não devem desenvolver atividades

industriais ou comerciais quaisquer, com o pretexto de angariar meios

financeiros para a manutenção do culto, pois estariam praticando verdadeira

concorrência desleal, em detrimento da concorrência da livre iniciativa.

Outro ponto importante a considerar é o fato de que a imunidade

alcança o veículo que é usado , comprovadamente, para a catequese ou os

serviços do culto. Sobre ele não incide o IPVA. Também este imposto não

pode ser exigido se o sacerdote transforma um ônibus, caminhão ou aeronave

num verdadeiro “templo móvel”, são situações incomuns que, todavia, também

encontram amparo constitucional.

A Constituição garante a liberdade e a igualdade entre as crenças ,

uma das fórmulas pra isso foi justamente vedar a cobrança de impostos sobre

os templos de qualquer culto (sinagoga, o terreiro de camdomblé ou umbanda,

a casa espírita Kardecista, a igreja protestante, shindoísta ou budista e a

mesquita maometana).

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

33

3.3 “Partidos políticos e suas Fundações, Entidades sindicais

dos trabalhadores e Instituições de educação e de assistência

social sem fins lucrativos” alínea “ c”.

A não incidência de impostos sobre partidos políticos aparece

explicitamente no artigo 150, VI, “c” CRFB/88. A intributabilidade dos partidos

políticos se fundamenta nos direitos da liberdade. Os direitos políticos embora

não integrem formalmente a declaração de direitos fundamentais, compõem a

esfera dos direitos subjetivos do cidadão e, portanto própria noção de

cidadania. Os direitos humanos e a liberdade moderna necessitam da

representação política para o seu aperfeiçoamento, o que torna intributável o

partido político e as suas fundações.

A Constituição Federal tratou de dispensar aos partidos políticos

uma série de benefícios e vantagens, dentre eles de ser alvo de impostos

como: o imposto de renda, enquanto auferem rendimentos; o imposto predial e

territorial urbano, sobre os imóveis onde funcionam; o imposto sobre

transmissão, inter vivos, por ato oneroso, de bens imóveis (ITBI), enquanto

adquirirem imóveis, onde vão desenvolver suas atividades típicas. Nas

situações de dúvida a imunidade tributária alcança os partidos políticos de

modo “generoso”, posto que complementam a organização estatal.

De acordo com o artigo 17, parágrafo 2º, CRFB/88 os partidos

políticos adquirem personalidade jurídica na forma da lei civil e registrarão

seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral. Assim sendo, apenas gozarão da

imunidade os partidos políticos registrados na Justiça eleitoral. Os partidos

políticos não registrados, partidos estrangeiros ou partidos clandestinos não

poderão contar com a garantia constitucional da imunidade . É mister dizer

que os impostos não incidem sobre os serviços dos partidos políticos, desde

que vinculados às suas finalidades. Ademais, como aspecto subjetivo o que

justifica que seja estendido a imunidade as Fundações dos Partidos Políticos

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

34

é fato de serem utilizadas como divulgação e estudo das respectivas ideologias

de cada partido.

A imunidade das entidades sindicais de trabalhadores esta elencada

no artigo 150, VI, “c” , CRFB/88, é em termos de imunidade fiscal uma

novidade de intributabilidade, por não fazer parte da proteção dos direitos

humanos, talvez de contraponto dos direitos sociais. Tem o objetivo de garantir

os direitos relevantes da classe trabalhadora, inconfundíveis com os direitos do

homem que transcendem os interesses de classes ou grupos. Sendo a

imunidade qualidade da pessoa humana ou âmbito de validade de direitos

fundamentais, percebe-se que a intributabilidade dos entes sindicais dos

trabalhadores se classifica como mera não incidência constitucional, pelo lugar

que ocupa, ou como privilégio.

Para fins de imunidade quando a Constituição Federal cita as

entidades sindicais dos trabalhadores, está englobando igualmente as

federações e confederações, isto é, as associações sindicais de segundo e

terceiro graus. Segundo a posição de Roque Antonio Carrazza as centrais

sindicais são alcançadas pela imunidade, haja vista que a inteligência dos

textos constitucionais devem levar em conta aquilo que Paulo Bonavides

chama de “ideologia do poder”, e, portanto prestigiar ao máximo os direitos dos

trabalhadores.

Na opnião de Aliomar Baleeiro13:

“Quaisquer que sejam as teorias jurídicas em torno dos

partidos políticos, a existência destes não é apenas uma

velha realidade comprovada pela História e, afinal

reconhecida pelas Leis, mas uma técnica sem a qual

dificilmente se compreenderá o funcionamento do regime

democrático representativo.”

13 BALEEIRO, op. cit., p. 330

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

35

A intributabilidade das Instituições de Educação e Assistência social

sem fins lucrativos assegurado no artigo 150,VI, “c” CRFB/88 são em

consideração ao direito a sobrevivência dos pobres e dos desassistidos. São

instituições (do latim instituere: fixar, construir, ensinar). Protege a educação, a

cultura, a saúde e a assistência social, que em sua expressão mínima

constituem direitos humanos inalienáveis e imprescritíveis, ainda que implícitos

na lista do artigo 5º, CRFB/88. A justificativa é de que não se pode cobrar

impostos sobre atividade que se equipara a ação estatal ou que a substitui no

amparo à pobreza.

A educação é prestigiada também pelo artigo 205 de nossa carta

Magna que trata explicitamente sobre o assunto, e que deixa claro que a

Nação brasileira só se desenvolverá quando se tiver o verdadeiro acesso ao

ensino. É necessário que se atue desinteressada e altruisticamente na

proteção das camadas desprivilegiadas da sociedade.

No entendimento de Aliomar Baleeiro o importante é que seja

realmente “instituição” acima e fora do espírito de lucro, e não simples

“empresa” econômica, sob o rótulo rótulo educacional ou de assistência

social.

Segundo o pensamento de Roque Antonio Carrazza, mesmo as

instituições de educação privadas que cobram mensalidades de seus alunos,

são abrangidas pela imunidade, desde é claro que sem fins lucrativos e se

filiem ao Estado no cumprimento dos objetivos do artigo 205, CRFB/88, e as

determinações do artigo 14, CTN.

As instituições de educação tem um conceito genérico,

compreendendo a educação formal segundo currículos aprovados pelo

Governo. Também abrange as instituições culturais como museus, bibliotecas,

os teatros, etc. Contudo, os clubes esportivos, e recreativos, as sociedades

carnavalescas e outras entidades de lazer apesar de não terem imunidade

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

36

podem ser beneficiadas com concessões de isenções através de leis

ordinárias.

As instituições de assistência social são aquelas compreendidas no

artigo 203, CRFB/88, e tem o objetivo de proteção à família, à maternidade, à

infância, à adolescência e à velhice, o amparo às crianças e adolescentes

carentes, a promoção da integração ao mercado de trabalho, a habilitação e

reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua

integração a vida comunitária.

A lei 8.742/93 regulamentou as atividades assistenciais:

“Art. 1º - A assistência social, direito do cidadão é dever

do Estado, é Política de Seguridade Social não

contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada

através de um conjunto integrado de ações de iniciativa

pública e da sociedade, para garantir o atendimento às

necessidades básicas.”

É mister ressaltar que se reconhece como imunidade desta

categoria a assistência social e a assistência médica, as quais são prestadas

por instituições e hospitais beneficentes. Contudo, é necessário a prestação de

saúde que garanta o mínimo existencial pois caso contrário não haverá o

reconhecimento da imunidade.

O reconhecimento da imunidade das instituições de educação e

assistência social é condicionada, pois só é válido para aquelas instituições

sem fins lucrativos. Todavia, sem fins lucrativos entende-se o cumprimento dos

requisitos do artigo 14, CTN:

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

37

“I – não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio

ou de suas rendas, a qualquer título;

II – aplicarem integralmente, no País, os seus recursos

na manutenção dos seus objetivos institucionais;

III – manterem escrituração de suas receitas e despesas

em livros revestidos de formalidades capazes de

assegurar sua exatidão.”

Nas palavras de Hugo Brito Machado14:

“Não ter fins lucrativos não significa, de modo nenhum, ter

receitas limitadas aos custos operacionais. Elas na

verdade podem e devem ter sobras financeiras, até para

que possam progredir, modernizando e ampliando suas

instalações. O que não podem é distribuir os lucros. São

obrigadas a aplicar todas as suas disponibilidades na

manutenção de seus objetivos institucionais.”

A Gratuidade é outro requisito de legitimação à imunidade fiscal,

que não esta explicito no CTN. Nem sempre exige a jurisprudência, inclusive a

do Supremo Tribunal Federal, pois já reconheceu o direito a hospitais que não

prestam assistência gratuita, bem como a colégios e faculdades que não se

propõem a conceder ensino gratuito a parcela considerável de seus alunos. A

Gratuidade não deve ser entendida de forma absoluta, a abranger todas as

prestações , contudo, é necessário que parcela expressiva do atendimento se

faça sem contraprestação financeira e que não se negue a ação quase pública

a pretexto de impossibilidade de pagamento pelo assistido.

Com o advento da Lei nº .9.532/9715 foram introduzidos novos

requisitos para o gozo da imunidade pela instituição de ensino ou de

assistência social como podemos citar alguns:

14 MACHADO, op. cit., p.310 15 MACHADO, op. cit., p.280-281

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

38

“ a) Prestar serviços para os quais houver sido instituída,

sem fins lucrativos(artigo 12, Caput);

b) Colocá-los a disposição da população em geral(artigo

12,Caput) admitida apenas a isenção do imposto de

renda e da contribuição social sobre o lucro líquido para

as instituições de caráter filantrópico, recreativo, cultural

e científico e as associações civis que prestem os

serviços para os quais houverem sido instituídas e os

coloquem à disposição do grupo de pessoas a que se

destinam, sem fins lucrativos(artigo 15, Caput);

c) Não remunerar, por qualquer forma, seus dirigentes

pelos serviços prestados (artigo 12, parágrafo 2º, inciso

“a”);

d) Aplicar integralmente seus recursos na manutenção e

desenvolvimento dos seus objetivos sociais(artigo 12,

parágrafo 2º, inciso “b”);

e) Manter escrituração completa de suas receitas e

despesas em livros revestidos das formalidades que

assegurem a respectiva exatidão(artigo 12, parágrafo 2º ,

inciso “c”);

f) Conservar em boa ordem, pelo prazo de cinco anos,

contado da data de emissão, os documentos que

comprovem a origem de suas receitas e a efetivação

de suas despesas, bem assim cumprir as obrigações

acessórias daí decorrentes (artigo 12, parágrafo 2º ,

inciso “d”) ;

g) Apresentar ,anualmente, Declaração de rendimentos,

em conformidade com o disposto em ato da Secretaria

da Receita Federal (artigo 12, parágrafo 2º , inciso “e”) ;

h) Recolher tributos retidos sobre os rendimentos por ela

pagos ou creditados e a contribuição para a seguridade

social relativa aos empregados, bem como, bem assim

Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

39

cumprir as obrigações acessórias daí decorrentes (artigo

12, parágrafo 2º , inciso “f”) ;

i) Assegurar a destinação de seu patrimônio ou outra

instituição que atenda as condições para o gozo da

imunidade, no caso de incorporação, fusão, cisão ou de

encerramento de suas atividades, ou a órgão público

(artigo 12, parágrafo 2º , inciso “g”) ;

j) Não apresentar superávit em suas contas ou, caso o

apresente em determinado exercício destine referido

resultado integralmente ao incremento de seu ativo

imobilizado (artigo 12, parágrafo 3º ) ;

k) Não declarar falsamente, emitir ou simular

recebimento de doações em bens ou em dinheiro, nem

de qualquer forma cooperar para que terceiro sonegue

tributos ou pratique ilícitos fiscais(artigo 13) ;

l) Não pagar, em favor de seus associados ou dirigentes,

ou, ainda, em favor de seus sócios, acionistas ou

dirigentes da pessoa jurídica a ela associada por

qualquer forma, despesas consideradas indedutíveis na

determinação da base de cálculo do imposto sobre a

renda ou da contribuição sobre o lucro líquido(artigo 13,

par. único).”

As entidades Fechadas de Previdência Complementar no texto

Constitucional de 1988 não gozaram de imediato da imunidade de impostos

prevista no artigo 150, VI, “c”, pois era entendimento ainda recente do

Supremo Tribunal Federal no sentido de se restringir o conceito de

assistência social informando não estar inserido neste caráter previdenciário.

A União sabedora da ausência de capacidade contributiva das Entidades

Fechadas de Previdência Complementar, editou normas com anistia de

acréscimos legais quanto aos valores vencidos (MP nº 2.222/2001) e, para o

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

40

futuro criou o regime especial de Tributação, limitando o Imposto de Renda a

12% das contribuições da Patrocinadora para quem aderisse a tal regime.

Contudo, agora pela Lei nº 11.053/2004, o Governo Federal

reconheceu a necessidade de não tributação das Entidades Fechadas de

Previdência Complementar na fase de formação de poupança, não somente

por necessidade de incentivar a poupança interna, mas de igual forma pela

ausência de capacidade contributiva de tais fundos de Pensão. Quanto a

contribuição Social sobre o Lucro, também não há incidência, por exclusiva

falta de como imperativo legal nas EFPC, PIS e COFINS incidem somente

sobre as receitas destinadas às despesas administrativas.

3.4 “Livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão” alínea “d”

A intributalibilidade de livros, jornais, periódicos e o papel destinado

a sua impressão, amparado no artigo 150,VI, “d”, CRFB/88, é imunidade

objetiva. Com a idéia de garantir a liberdade de comunicação e pensamento e

objetivado também na utilidade social identificado na necessidade de baratear

o custo de livros e das publicações estes produtos importados não pagam

impostos de importação, o ICMS e o IPI. Já os exportados não pagam nenhum

imposto. No Brasil estão livres do IPI e do ICMS que gravam o produto

industrializado e a circulação de mercadorias e serviços. Mas os lucros das

editoras e empresas jornalísiticas estão sujeitos ao imposto de renda. O ISS

em tese atinge as receitas da publicidade que veiculam.

Com o fundamento ainda de que o país com gravíssima crise

de educação tem necessidade urgente de ampliar o número de pessoas

alfabetizadas e instruídas, por isso torna-se vital a diminuição de custos

dos livros e periódicos. Contudo, o autor Ricardo Lobo Torres faz uma

ressalva com relação aos jornais que em sua estrutura liberal de poder devem

ser mantidos pelos seus eleitores e anunciantes, sem o apoio estatal

Page 41: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

41

permanente. Inexiste no direito comparado exemplo de imunidade nem de não

incidência constitucional para jornais e livros, apenas algumas isenções

concedidas pelo Estados Unidos através de legislação ordinária aplicadas aos

órgãos de imprensa, não existindo vedação constitucional ou imunidade

genérica.

Existe na doutrina uma discussão sobre o entendimento lato ou

restrito da palavra “livros” (artigo 150 VI, “d”, CRFB/88), posto que nem todos

os livros são abrangidos pela imunidade, e, são considerados livros para fins

de imunidade tributária somente os que se prestam a difundir idéias,

informações, conhecimentos etc. Contrário a este entendimento restrito

observa Aliomar Baleeiro, haja vista que defende a imunidade a alcançar os

livros pautados para escrituração e fins análogos. Explica Roque Antonio

Carrazza que estes não se prestam à educação, à cultura, à liberdade de

comunicação, mas servem apenas para registrar a ocorrência de fatos

econômicos(as entradas de mercadorias no estabelecimento comercial).

Ademais, uma outra questão encontra seu ponto maior (na

diferença entre cultura tipográfica e cultura eletrônica) a da não incidência

constitucional, a ver com os meios magnéticos ou produtos de alta tecnologia,

como por exemplo: publicações acompanhadas de CD, os programas de

computador, as redes de computadores e os livros eletrônicos. De forma que

ainda persiste uma indefinição sobre o assunto, a solução não pode ser

buscada simplesmente na análise do conceito de livro, deve ser buscado a

partir da consideração na evolução na informática que é tão rápida, que o CD

nem ocupou espaço significativo no mercado brasileiro e já esta sendo

substituído com imensa vantagem pelo DVD.

Segundo o pensamento de Hugo de Brito Machado16:

“Não pode, pois, o intérprete, deixar de considerar

essa evolução. Nem esperar que o Legislador

modifique o texto. O melhor caminho, sem dúvida,

16 MACHADO, op. cit., p.312

Page 42: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

42

para que o direito cumpra o seu papel na

sociedade, é a interpretação evolutiva.”

Sobre o mesmo assunto Sacha Calmon Navarro Coêlho17 aduz:

“ Aí estão o disco e o slide didático, as fitas

gravadas(videocassetes), os programas científicos

de toda a ordem através de televisão a cabo, os

filmes culturais didáticos, os audiovisuais. Achamos

que a imunidade deveria abrangê-los, pois onde há

a mesma razão, há a mesma disposição, embora

se diga, também, que, diante da enfática

insuficiência do texto, não cabe o ‘minus dixit’,

porque onde o constituinte não distingue ou não

quis distinguir, não cabe ao intérprete fazer

distinções, a não ser em relação aos próprios

objetos da imunidade.”

É mister frisar que em rigor tudo que não contribuir para o fabrico

do livro não é imune, como: o papel, nem o CD-Rom, nem o disquete de

computador, nem tampouco, a fita de vídeo, mas sim, o livro o jornal e o

periódico, quando veiculados por qualquer daqueles meios materiais.

Os periódicos são alcançados pela imunidade que fornecem apenas

informações (genéricas e específicas) de utilidade pública, sem porém caráter

noticioso, discursivo, literário, poético ou filosófico, ainda que neles exista

publicidade paga(ex.: listas telefônicas). Neste sentido se pronunciou, por

maioria de votos, o Pretório Excelso no RE 101.441-5RS.

17 CALMON, op. cit., p.314

Page 43: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

43

Ademais não são periódicos, para fins do artigo 150, VI, alínea “d”,

os folhetos distribuídos pelas empresas para divulgação de seus produtos ou

negócios.

É preciso ser entendido em seu sentido finalístico, a imunidade

do livro, jornal ou periódico. A venda ou distribuição, por qualquer meio,

destes itens não podem ser tributadas. Desta forma nenhum imposto pode

incidir sobre qualquer insumo, ou mesmo sobre qualquer dos instrumentos,

ou equipamentos, desde que sejam destinados à produção exclusivamente

livro, jornal ou periódico. O Supremo Tribunal Federal vem reconhecendo a

não incidência de impostos sobre os filmes e o papel fotográfico, embora

recuse para tinta e solução de fonte concentrada.

Prevalesce ainda o entendimento na jurisprudência de que a

publicidade paga veiculada em jornais, livros e periódicos está abrangida

pela imunidade em relação ao Imposto sobre Serviços de qualquer

natureza, de competência dos municípios. A tese dominante no Supremo

Tribunal Federal foi a de que a imunidade destinando-se a reduzir o custo

de produção de jornais e periódicos, deve alcançar o imposto sobre serviços

de qualquer natureza(ISS), haja vista que se for transferida irá

conseqüentemente elevar seu preço. Nesse caso portanto com relação a

repercussão econômica, vingou-se a tese da imunidade ampla, abrangendo o

conjunto de serviços, como a redação, a revisão da obra, a parte editorial ,

como a parte de publicidade de anunciantes.

Entretanto não foi acolhida a tentativa de estender a imunidade aos

impostos incidentes sobre a renda ou patrimônio, já que as imunidades não

beneficiam os particulares.

CONCLUSÃO

Page 44: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

44

O estudo das imunidades tributárias Constitucionais do artigo 150,

VI, “a” , “b”, “c” e “d”, como se pode concluir após este trabalho monográfico,

trata-se de uma limitação negativa constitucional de competência tributária, é

essencial para a manutenção do estado democrático de um país, que almeja

viver democraticamente.

É primordial que os princípios norteadores do Direito Tributário

sejam observados, sendo cada um deles basilares na confecção da legislação

tributária, pois conforme observado no decorrer do presente trabalho

monográfico o contribuinte hipossuficiente necessita em face do poder de

império do Estado de proteção para que não veja sua capacidade contributiva

exaurida por excesso de tributação.

Na opnião unânime de doutrinadores e juristas o Estado tem

extrapolado no seu exercício de poder de tributar e que deve ser confrontado,

assim como deve buscar novas fórmulas para obtenção de recursos, e que

estes devem estar em consonância com o ordenamento jurídico e com os

preceitos constitucionais.

O Poder Judiciário que tem o papel de garantir o respeito a

Constituição e as leis, precisa se manifestar quando chamado para isto, de

forma inequívoca quanto aos limites legais da tributação da sociedade por

parte do Estado, de maneira que esta veja seus direitos protegidos de

possíveis abusos, assim como o Governo reconheça que o seu poder não é

ilimitado e esta fora de alcance de tutela.

As imunidades tributárias Constitucionais desempenham papel de

suma importância na defesa dos direitos fundamentais do cidadão e do

mínimo existencial, através do acesso a todas as classes sociais da população

brasileira, como por exemplo o acesso a livre circulação de um território para

Page 45: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

45

outro, saúde, educação e assistência social, liberdade de culto, além de outros

como a filiação a associações e partidos políticos.

É certo que ainda não estamos dentro dos parâmetros defendidos e

clamados por toda população, mas a Constituição da República de 1988 criou

mecanismos pra isso quando positivou as imunidades e a doutrina e

jurisprudência as interpretou de forma a ser mais justa com os mais

necessitados desse amparo, direitos esses que visam a dignidade da pessoa

humana.

Por serem polêmicos alguns dos assuntos brevemente abordados

na presente monografia, nem todas as teses são passíveis de aceitação

imediata, mas o que se pretende é traçar o perfil das correntes existentes para

encorajar a reflexão sobre o enfoque de algumas imunidades, principalmente

aquelas dissociadas dos ideais de liberdade e justiça.

Apesar do tributo ser o combustível que movimenta a máquina

estatal, a desoneração de certos produtos em face das imunidades

tributárias surgiu com o propósito de proteger valores maiores contidos em

princípios constitucionais. As imunidades tributárias, por serem protetoras de

bens maiores, deveriam ser interpretadas extensivamente, incluindo os livros

eletrônicos, também chamados de disquetes ou CD-Roms, pois a imunidade

estaria num patamar acima do papel, não vinculada a ele. Através da indução,

dedução e da compilação de dados, foi traçado no trabalho monográfico um

conteúdo essencialmente científico, focando a imunidade tributária contida

nos artigo 150, inciso VI, letras “a”, “b”, “c” e "d" da Constituição sob uma

perspectiva esclarecedora sobre o assunto.

A Constituição brasileira e o Direito Tributário estabelecem muitos

princípios, alguns que merecem destaque ao longo deste trabalho, pois são

alicerce dos limites constitucionais ao poder de tributar do Estado, tais como:

Princípio da capacidade contributiva, Princípio da Legalidade e o Princípio da

Page 46: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

46

Igualdade. Além desses princípios , é importante ressaltar que o processo

legislativo que a Carta Magna determina tem como intuito maior preservar o

contribuinte e garantir que as limitações sejam observadas.

Isto posto, é corrente a necessidade de novas fórmulas para a

viabilização administrativa do Brasil, e não somente o velho artifício de ser

aumentado os tributos. É pertinente que seja feita uma reflexão profunda da

relação entre o Estado e o contribuinte, visto que não são adversários, mas

parceiros com o objetivo de construir uma nação desenvolvida onde as

desigualdades devem ser combatidas e o Estado deve desempenhar o seu

papel Constitucional gerindo os rumos do Brasil de forma justa.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Page 47: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

47

BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar, 7ª ed .

Atualizador por Misabel Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 1999.

________________. Uma Introdução à Ciência das Finanças e à Política

Fiscal, 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1964.

CALMON, Sacha .Curso de Direito Tributário Brasileiro. 9ª ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2007.

CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário.14ª ed.

São Paulo: Malheiros, 2000.

MACHADO, Hugo de Brito, Curso de Direito Tributário, 28 ed. São Paulo:

Malheiros, 2007.

MIRANDA, Pontes de. Questões Forenses, Rio de Janeiro: Borsoi, 1953.

ROSA JR., Luiz Emygdio F., Manual de Direito Financeiro & Direito

Tributário, 18ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.

SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo, 9ª ed. São

Paulo: Malheiros , 1992.

TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional Financeiro e

Tributário, 3ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.

www. fiscosoft.com.br

www.jus2.uol.com.br/doutrina

ÍNDICE

Page 48: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

48

FOLHA DE ROSTO

2

AGRADECIMENTO

3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I

DAS IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS 11

1.1 - Breve Histórico 11

1.2 – Conceitos e Definições 12

1.3 – A Liberdade e o Tributo 16

1.4 – Mínimo Existencial 18

1.4.1 - Conceito 18

1.4.2 – Fundamentos 19

CAPÍTULO II

DAS CLASSIFICAÇÕES 23

2.1 - Imunidades Explicitas ou Implícitas 23

2.2 - Imunidades Subjetivas ou Objetivas 23

CAPÍTULO III

DAS IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS CONSTITUCIONAIS

Page 49: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

49

ELENCADAS NO ART. 150, VI, CRFB/88 26

3.1 - “Imunidade Recíproca” alínea “a” 26

3.2 - “Templos de qualquer culto” alínea “b” 30

3.3 - “Partidos Políticos e suas Fundações, Entidades sindicais 33

dos Trabalhadores e Instituições de educação e de assistência

social sem fins lucrativos” alínea “ c”

3.4 - “Livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão”

alínea “d” 40

CONCLUSÃO 44

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 47

ÍNDICE 48

Page 50: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Foi feita uma apresentação sobre a Liberdade e o ... de Direito, consagrados em nossa ... o poder de taxar ou não existe, ou,

50

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes – Instituto A Vez do

Mestre

Título da Monografia: Das imunidades tributárias Constitucionais

estudo do artigo 150, VI, “a”, “b”, “c” e “d”.

Autor: Marcelo de Araujo Alvares

Data da entrega: 08 de setembro de 2008.

Avaliado por: Conceito: