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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O SUPERVISOR ESCOLAR E A CONSTRUÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA NAS CLASSES INICIAIS DE ALFABETIZAÇÃO DAS ESCOLAS PÚBLICAS Por: Luciene Franco Ribeiro Orientador Prof. Vilson Sérgio Carvalho Rio de janeiro 2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O SUPERVISOR ESCOLAR E A CONSTRUÇÃO DA

LEITURA E DA ESCRITA NAS CLASSES INICIAIS DE

ALFABETIZAÇÃO DAS ESCOLAS PÚBLICAS

Por: Luciene Franco Ribeiro

Orientador

Prof. Vilson Sérgio Carvalho

Rio de janeiro

2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O SUPERVISOR ESCOLAR E A CONSTRUÇÃO DA

LEITURA E DA ESCRITA NAS CLASSES INICIAIS DE

ALFABETIZAÇÃO DAS ESCOLAS PÚBLICAS

OBJETIVOS: Este trabalho focaliza a necessidade de reflexão

sobre a prática docente dos alfabetizadores e

as possíveis intervenções com vistas ao

aprimoramento e colaboração para a superação

do fracasso escolar nas séries iniciais de

escolarização.

Por: Luciene Franco Ribeiro

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por ter me dado entendimento

e força até aqui. A meu esposo, pelo apoio, e à

minha filha, por sua compreensão. Aos alunos,

meus colegas de classe, e aos professores

que contribuíram para a realização deste

trabalho acadêmico.

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EPÍGRAFE

“Educar é mais do que ensinar

a ver de uma certa forma.

É desejar que se veja de muitas

formas.”

Luís Carlos de Menezes Professor da Universidade de São Paulo

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DEDICATÓRIA

Dedico essa monografia ao meu pai,

ao meu esposo e à minha filha

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RESUMO

A escola brasileira tem percebido a necessidade de se aprimorar na tarefa de alfabetizar. Os índices alarmantes verificados, nos últimos anos, de fracasso escolar nas séries iniciais de alfabetização vêm fazendo com que a questão seja mais veementemente analisada. Principalmente porque parece atingir de forma perversa as classes populares. O exercício pleno da cidadania está atrelado à educação de qualidade, que instrumentaliza o aluno a lutar por sua libertação das mãos daqueles que dominam a sociedade. Educadores precisam se proporcionar criticamente ante a tarefa de educar, pois não há neutralidade na educação. Não há pretensão de solucionar problema tão complexo, mas de favorecer a reflexão sobre a prática pedagógica e sua contribuição para que a escola seja um espaço onde exista a verdadeira democracia. Isto será feito em uma ação conjunta de todos os envolvidos no processo pedagógico, mobilizando seus diferentes saberes, com o único objetivo de favorecer a aprendizagem do aluno sobre o conhecimento desvelador. Se a educação é a preparação para o exercício da cidadania, a mobilização para a existência de uma escola de qualidade é condição para que todos tenham verdadeira possibilidade de exercê-la.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada está baseada na pesquisa em livros, revistas

especializadas e artigos da internet que tratam da área pedagógica e cujo teor

é confiável. Portanto, a pesquisa apoiou-se em nomes de autores que possuem

competência comprovada pela prática docente, ou ligada à área educacional,

que embasa suas conclusões acerca do tema, favorecendo, assim, a reflexão

sobre a situação da prática alfabetizadora encontrada nas escolas brasileiras.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I – O processo de aquisição da linguagem 11

CAPÍTULO II – A importância social da leitura e da escrita 17

CAPÍTULO III – Dificuldades de aprendizagem – causas e considerações 24

CAPÍTULO IV - A participação efetiva do supervisor escolar e do professor-

alfabetizador no processo de alfabetização 30

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA 38

WEBGRAFIA 40

ÍNDICE 41

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INTRODUÇÃO

No Brasil, há décadas, o interesse em torno da temática da alfabetização

inicial tem aumentado, entre outras razões, porque a aprendizagem tem estado

aquém das expectativas daqueles que lutam pela qualidade do ensino ou dos

que são responsáveis por financiá-la. Os índices de fracasso escolar têm se

tornado alarmantes e parecem atingir severamente as classes populares.

A qualidade de vida de qualquer pessoa passa pelo acesso ao

conhecimento, assim como em relação à alimentação, saúde, convívio social e

lazer. A escola tem uma função muito clara que é de promover a

aprendizagem do conhecimento acumulado historicamente. No entanto, não

tem alcançado o objetivo de sua missão, a partir mesmo do ensinar a ler e a

escrever.

A escola tem um grande poder em suas mãos: o de ensinar muito aos

alunos ou negar-lhes o direito de aprender. È na escola que as crianças

passam grande parte de seu tempo e isto se traduz em um enorme poder de

formação e informação. Se não consegue cumprir sua missão, acaba por

contribuir para a negação do exercício pleno da cidadania.

O objetivo do trabalho de pesquisa ora realizado não é o de propor

soluções para um problema que não é passível de resolução tão fácil; mas,

sim, de refletir sobre a prática escolar da alfabetização. No primeiro capítulo,

partiu-se dos fatos históricos que deram origem à alfabetização e cujo

conhecimento possibilite o entendimento sobre as influências que hoje

permeiam a ação educativa. Também, buscou-se compreender como o cérebro

humano processa novas informações e de que forma se torna um aprendizado

para toda a vida. E, especificamente, como ocorre o processo de

aprendizagem da leitura e da escrita.

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No segundo capítulo, levou-se à reflexão sobre o papel social e político

da escola e a prática efetiva de sala de aula, onde o contexto é elemento de

fundamental importância. As dificuldades relacionadas à aprendizagem

mereceram destaque enquanto colaboradoras da não aprendizagem, no

terceiro capítulo, mas buscou-se deslocar o foco errôneo sobre os déficits

neurológicos para a própria ação exclusiva da escola. E, por último, no quarto

capítulo, o papel do especialista em Supervisão Escolar como contribuição na

superação do fracasso escolar na alfabetização, com destaque também para o

trabalho do professor-alfabetizador e as ações que podem ser desenvolvidas

em sala de aula.

O que se deseja de fato é que todas as reflexões provocadas resultem

em ações efetivas para a superação do problema da alfabetização. O acesso

real ao direito de aprender a ler e a escrever não é utopia, mas algo que exige

constante reavaliação da prática pedagógica, e que se converterá na

construção de uma escola verdadeiramente democrática e o exercício pleno da

cidadania.

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CAPÍTULO I

O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

1.1 – Rápido retrospecto sobre a evolução da escrita e da

alfabetização

Segundo a historiadora Vera Lúcia Zacharias (2005), em suplemento

especial da revista “Viver: mente e cérebro”, dedicado ao tema “movimentos de

alfabetização”, a escrita é uma das aquisições que mais tempo levou para ser

adquirida, tendo surgido subsequentemente à fala, visto ser uma expressão

gráfica da mesma. Seu surgimento possibilitou ao homem ampliar sua

comunicação e contribuiu para o avanço da ciência, da literatura e da própria

história, por facilitar a transmissão do conhecimento.

A palavra “alfabetizar” surgiu na Antiguidade e já era utilizada na Grécia

relacionada ao ensino do alfabeto, tendo revolucionado as relações sociais e o

modo de o homem lidar com seus conhecimentos e acumulá-los, ao longo do

tempo.

A invenção da escrita, por volta de 3000 a.C., pelos sumérios (habitantes

da Mesopotâmia), marcou a passagem da pré-história para a história. Com o

passar do tempo, a escrita foi sendo aperfeiçoada, muito embora não tenha

sido linear e progressiva a sua evolução. Egípcios, hebreus e fenícios, entre

outros povos, contribuíram também nesse processo.

A escrita possibilitou ao homem registrar sua visão de mundo, sua cultura

e suas vivências, fazendo-se chegar a outras culturas e em outros tempos.

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A escola tem sua origem registrada no período medieval, em mosteiros e

sedes episcopais. Era destinada a pouquíssimos alunos, cujo objetivo era o

preparo de sacerdotes para a Igreja ou a instrução de funcionários imperiais.

No final do século XII, a burguesia começou a exigir seu direito à leitura, visto

perceber o seu valor.

Nos séculos XV e XVI, ocorrem a invenção da imprensa, por Gutenberg,

e a Reforma Protestante, por Lutero. Esta última, produziu resultados a longo

prazo, como a extensão do ensino primário e o acesso aos livros.

Portugal e Espanha não foram atingidos pela Reforma, o que resultou na

tradição religiosa do ensino no Brasil, conseqüentemente. As revoluções

francesa e industrial trouxeram profundas transformações econômicas, sociais

e políticas e conseqüentes mudanças na educação, entre elas a necessidade

de alfabetizar o povo em geral, na maior parte do mundo. No Brasil, só na

década de 1900 é que um sistema nacional de ensino foi estruturado, com o

objetivo de integrar os trabalhadores e seus filhos ao desenvolvimento

industrial. Às elites eram destinados colégios, liceus, ginásios e outras escolas

diferenciadas.

1.2 – O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

A língua não é um código criado racionalmente. Por isso, não pode ser

ensinada por um método que considere a leitura e a escrita simples

mecanismos de decodificação e codificação de sinais gráficos. Segundo Emília

Ferreiro (2001), é possível alfabetizar uma criança apresentando a ela textos

diversos sem se utilizar de cartilha e metodologia específica. O professor,

porém, necessitará compreender como a criança aprende para, assim, definir o

que ensinar, como ensinar e como avaliar.

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O conhecimento acerca do desenvolvimento cognitivo do ser humano

nos fornece informações que devem ser consideradas em nossa análise sobre

o processo de aprendizagem. A neurociência tem se ocupado em esclarecer o

que ocorre no cérebro humano desde a sua formação até o envelhecimento.

Para os educadores, saber como novas informações são processadas e como

permanecem em nossas mentes para sempre, auxiliam na escolha de

atividades mais pertinentes ao alcance desses objetivos.

1.2.1– O Desenvolvimento Cognitivo – aspectos neurológicos

Todo ser humano possui uma genética própria da espécie e que

obedece a fases para o amadurecimento, ficando corpo e cérebro prontos para

aprender determinada coisa. Assim sendo, bebês de quatro meses não estão

aptos a andar ou crianças de um ano de idade não podem ser alfabetizadas.

Todos têm um tempo para que cada capacidade seja adquirida. Esse

desenvolvimento do cérebro é mais rápido nos primeiros anos de vida,

tornando-se mais lento no decorrer da vida. Todos nós temos uma capacidade

inata de aprender a nos comunicar, falando ou gesticulando, evidentemente se

não houver a existência de alguma patologia ou má-formação cerebral. Dessa

forma, uma criança consegue armazenar e conectar diversas informações que

coleta no dia-a-dia, tudo isso ao mesmo tempo. É, nas palavras de Paulo

Freire, a “leitura de mundo” com a qual chegamos à escola (2005).

Até a entrada na escola, tudo o que aprendemos se relaciona ao nosso

cotidiano, ligado às emoções. O neurologista português Antônio Damásio, da

Universidade de Iowa, nos Estados Unidos (Nova Escola, Jan/Fev.2005),

explica que as emoções provocam alterações em todo o corpo porque ativam o

sistema límbico, parte do cérebro responsável pelas emoções, e

neurotransmissores são liberados, tornando os circuitos cerebrais mais rápidos,

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facilitando o armazenamento de informações e resgatando outras já

guardadas.

Ao despertar a atenção da pessoa, geramos concentração. Sem

concentração não há armazenamento de informações. A atenção desencadeia

um processo em que a substância noradrenalina é liberada, auxiliando a deixar

os sentidos voltados para a atividade que está sendo realizada. Assim, ao

criarmos situações interessantes para ensinar, o indivíduo associa o

aprendizado ao prazer.

Os nossos sentidos (tato, olfato, paladar, visão e audição) são canais

para o aprendizado se soubermos explorá-los bem. Ao associarmos situações

de aprendizagem a informações ligadas aos sentidos, como o gosto de uma

comida, seu cheiro ou o som que emite, por exemplo, ativamos partes

diferentes do córtex cerebral que facilita lembrarmos depois e, a partir daí, criar

novas aprendizagens.

O medo, embora também seja uma emoção, desencadeia estresse e tem

ação não satisfatória para a aprendizagem por provocar a liberação de

substâncias que, atuando no hipocampo, impedem a formação de memórias

que guardam fatos, pessoas, lugares ou eventos. Além do que, a exposição

prolongada ao estresse pode provocar doenças, morte de neurônios e bloqueio

de atividades mentais.

1.2.2– Etapas do desenvolvimento da leitura e da escrita

O aprender a ler e a escrever tornou-se uma necessidade do homem

enquanto ser social, se desenvolvendo desde o período pré-histórico, através

de processos rudimentares de pintura até a elaboração mais precisa que

favorecesse a comunicação entre as pessoas.

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A linguagem oral é uma capacidade inata ao ser humano e se

desenvolve naturalmente e espontaneamente se existir um ambiente

estimulador e se não existir nenhum fator físico e mental que o impeça de

ocorrer. Ao contrário da leitura e da escrita, que necessitam de intervenções

diversas para que aconteça por não ser natural, mas elaborada pelo homem no

decorrer da história.

A leitura requer que o indivíduo identifique símbolos (letras, palavras)

impressos e os relacione a sons que eles representam. È o processo de

decodificação. No entanto, este é inicial, pois para ler é necessário, além de

decodificá-los, compreendê-los. Assim, quando a criança lê PATO, deve

associar a palavra ao animal “pato”. Sem compreensão não se pode

considerar que a criança realmente lê.

A escrita é o inverso do que ocorre com a leitura. Se na leitura

estabelece-se a relação entre palavra impressa-som-significado, na escrita a

relação é som-significado-palavra impressa. Dessa forma, a leitura precede a

escrita para que tenha significado e relevância, visto que é através da leitura

que a palavra pode ser escrita de forma correta (MORAIS, s/d.)

Emília Ferreiro (2001), no entanto, busca uma nova forma de

compreender a escrita infantil quando, muitas vezes, as crianças produzem

escritas desviantes (diferentes de como uma palavra é corretamente escrita),

considerando que estas sejam fases, níveis ou períodos que de uma forma

crescente de complexidade, vão se aproximando da escrita convencional.

Assim, a palavra PATO é escrita por alguns alunos PO ou AO ou PT. Segundo

a psicopedagoga, a escrita produzida é fruto da aplicação de esquemas de

assimilação em relação ao objeto (escrita) ensinado. A ênfase de sua tese

está em que o sujeito já traz para a escola, em sua entrada nesta, um

conhecimento acumulado em sua ação como ser humano na resolução de

problemas e sobre a sua interação com o mundo em que está inserido.

Portanto, o sujeito já é detentor de uma grande competência lingüística que a

escola não considera. Fato este decorrente da errônea suposição de que a

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aprendizagem da leitura e da escrita aconteça da mesma maneira que a

linguagem (fala), em virtude dos métodos equivocados utilizados na mesma,

baseados na memorização e repetição.

Na verdade, não há relação alguma entre a escrita e o objeto

representado, o que exige do aprendiz o estabelecimento de relações

simbólicas com as coisas. Além do que é necessário organizar essa escrita

sobre o papel. Em nossa prática diária percebemos que os métodos utilizados

pela escola não permitem a interpretação da produção escrita do aluno e as

fases que a envolvem, simplesmente descartando-as, desconsiderando-as

como relevantes. E, no entanto, isto se faz necessário visto a complexidade do

ato de ler e escrever.

Outro aspecto que envolve a escrita é o fato de que se deve escrever da

esquerda para a direita e de cima para baixo. Isto só pode ser assimilado pela

observação contínua sobre a ação de alguém que lê e que isto seja explicado a

quem está aprendendo. Nesse ponto, o indivíduo que aprende precisa ter

contato com atos de leitura onde lhe é mostrado como se deve proceder para

realizar a mesma.

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CAPÍTULO II

A IMPORTÂNCIA SOCIAL DA LEITURA E DA ESCRITA

O processo de aquisição da leitura e da escrita tem sido objeto de

estudo e tema recorrente entre especialistas em seminários e congressos

sobre educação porque sempre foi o grande problema que desafia o Brasil. A

cada ano, os índices de analfabetismo vêm crescendo, não só entre as

crianças, mas também jovens e adultos que não conseguiram se alfabetizar

nos anos de obrigatoriedade escolar determinada pela Lei de Diretrizes e

Bases da Educação (lei nº 9394/96, art. 32) (GARCIA, 2001). Isto parece

atingir de forma perversa os setores marginalizados da sociedade, com raras

exceções nas classes média e alta. Os índices são alarmantes e o fato já é

considerado um problema social ( AZENHA, 2003 ).

O analfabetismo se traduz em obstáculo à inserção do indivíduo no

mercado de trabalho e são muitas as conseqüências sociais, políticas e

econômicas que derivam do fato de não saber ler e escrever. A escolaridade

não é sinônimo de melhoria de vida ou ascensão social, mas para alguns, isto

pode contribuir de alguma forma. O mais importante, no entanto, é que

possibilita a conquista da cidadania ativa, ampliando a capacidade de

transformar a sociedade. O ato de ler e escrever, portanto, precisa ir além,

sendo entendido como instrumento de luta política.

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2.1 – A função social e política da escola

A escola sempre teve uma função muito clara: transmitir o conhecimento

acumulado pelas gerações anteriores às novas gerações (GARCIA, 1986). Ela

é responsável por socializar o conhecimento.

Por estar inserida em uma sociedade de classes, a escola acaba por

reproduzir a contradição existente na mesma. Ao mesmo tempo, serve à

classe dominante e às classes populares porque, à medida em que promove a

inculcação ideológica para que a dominação permaneça da primeira sobre a

segunda, também favorece a apropriação do código cultural da burguesia pelas

classes subalternas, instrumentalizando-as para a luta contra essa dominação.

A escola precisa definir quais são os seus verdadeiros objetivos e

redirecionar suas ações. Assim sendo, a escola que se pretende consciente de

seu papel social e político tem por única finalidade fazer com que os alunos

aprendam, se apropriando do conhecimento historicamente acumulado, e

capacitando-os para compreender as relações de poder, tornando-os

potencialmente transformadores dessa sociedade. Para isso, há de se rever

todo o processo ensino-aprendizagem: a transmissão de conteúdos sem

significado real e sem avaliação crítica: a relação de poder existente na própria

escola, onde o professor é o detentor do saber e o aluno é mero receptor; a

superioridade de diretores e especialistas que reproduzem as relações de

poder da sociedade através de atitudes autoritárias.

Também, a questão da qualidade do ensino na escola é assunto

fundamental, haja vista serem os conteúdos insuficientes e incipientes. Assim

sendo, o conhecimento deve ser o que contribui para que o aluno desenvolva a

sua capacidade de pensar e também suas habilidades. A começar desde as

séries iniciais, com a leitura, onde o significado sobre o que se lê deve ser

trabalhado, e não mera decodificação de símbolos; o escrever, deve ser

traduzido em apropriação da língua, como instrumento de compreensão sobre

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a realidade. E todos os demais saberes, matemáticos, geográficos, históricos,

e outros, todos colocados a serviço do aluno, para que ele se instrumentalize.

Antes de tudo isso, porém, é necessário que todos tenham direito de

acesso à escola e possibilidade de permanência nela até que conclua toda a

formação acadêmica necessária. E, a partir daí, desenvolver o processo de

alfabetização associado ao letramento.

2.2. O letramento e o ensinar a ler e a escrever

A noção sobre “letramento” surge no Brasil em meados da década de

80, no livro “No mundo da escrita: uma pesquisa psicogenética”, publicado pela

lingüista Mary Kato, como tradução do termo do inglês “literacy” (WEISZ,

revista viver: mente e cérebro, 2005). Mais de 20 anos depois, é um termo que

tem se consolidado quando há referência entre as múltiplas relações entre

oralidade e escrita. No entanto, alguns autores como Emília Ferreiro não

aceitam a sua utilização por completo, devido à forma como tem sido

empregado, onde o termo alfabetização foi posto de lado e erroneamente se

tornou sinônimo de decodificação, apenas. A autora prefere utilizar o termo

“cultura escrita” (revista “viver: mente e cérebro”, 2005).

Não obstante as diversas perspectivas (histórica, antropológica,

sociológica e outras) e divergências teóricas, o termo se define, de modo geral,

na relação entre a cultura da escrita e as práticas sociais em que a leitura e a

escrita se efetivam na sociedade, e a participação do indivíduo com a sua

utilização. Assim sendo, o letramento envolve o ler e o escrever nas

dimensões social e individual. A escola é, pois, uma das principais

responsáveis por tornar significativo o uso da leitura e da escrita nessas

dimensões. Mas, paradoxalmente, tem sido apontada como responsável por

formar sujeitos letrados não-leitores.

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Segundo Magda Soares, em seu artigo “a reinvenção da alfabetização”

(2003), o acesso ao mundo da escrita, num sentido amplo, se dá de duas

formas: a primeira, através do aprendizado de uma técnica; a segunda, se

refere às práticas de uso dessa técnica. A escrita é uma técnica porque, para

que ocorra, envolve aspectos motores e relacionais (sons e letras, fonemas e

grafemas) para que seja possível decodificar ou codificar. No entanto, o

aprender a técnica não é suficiente se não soubermos utilizá-la. Portanto,

aprender a técnica e aprender a usá-la são processos que devem acontecer

simultaneamente, por serem interdependentes. Não há como dissociá-las. A

alfabetização deve ocorrer em um contexto onde práticas sociais de leitura, ou

atividades de letramento, estejam presentes , mas não há como fazer isto sem

a aprendizagem das relações entre fonemas e grafemas. Além disto, é preciso

despertar na criança o prazer pela leitura, para que ela mesma busque o

conhecimento, deseje o seu crescimento intelectual.

2.3–O aprender por prazer

Para muitas crianças, a escola tem se traduzido em sofrimento. Isto

porque, quando entram na escola, esperando encontrar um mundo mágico de

descobertas, encontram uma avalanche de informações que não condizem

com a realidade de suas vidas. E muitas, não conseguindo compreender o que

é ensinado no tempo estipulado como suficiente e satisfatório, são rotuladas de

“problemáticas”. Os professores quantificam sua aprendizagem, baseada em

respostas esperadas ao treinamento imposto para que se tornem “úteis” à

sociedade. Não sendo, estarão sempre à margem do convívio social. E aí, é

fácil se convencer que não são capazes, que não nasceram para aprender e

que só estão no mundo para servir aos mais capazes. Essas crianças se

tornam incapazes mesmo é de pensar criticamente sobre qualquer coisa, até

sobre a sua própria incapacidade.

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Rubem Alves, em seu livro “A alegria de ensinar” (2000), reflete sobre o

papel de professor como sendo o de ensinar felicidade. Ele, professor, repleto

de saber, não pode mais contê-lo dentro de si e deseja transbordar todo o seu

conhecimento, que lhe traz tanto prazer, compartilhando com seus alunos a

sua maior alegria. Pois, se não é assim que sentem, não deveriam ensinar.

Mas a realidade é outra: os mestres não têm se dado conta de sua tarefa de

amor e, ao invés de seduzir seus alunos pela paixão que têm pelo

conhecimento, os têm tornado infelizes em relação ao aprender, ao estudar,

que passou a ser por obrigação. Ainda bem que muitos mestres não fazem

parte dessa norma porque sempre existiram alguns dentre os demais que são

lembrados por sua dedicação, pelo seu amor e desvelo pelo ato de ensinar. E

não por acaso, sempre foram os que obtiveram os melhores resultados ao final

dos períodos letivos.

Mas, então, qual é o papel do professor que ensina felicidade? Não deve

ensinar os conteúdos estabelecidos? A resposta é sim, deve, mas também

deve ir além, ensinando seus alunos a pensarem criticamente os conteúdos e a

elaborá-los segundo a sua maneira de pensar. Dessa forma, sua contribuição

será de um valor imensurável porque, além de instrumentalizar o seu aluno,

dará a ele a oportunidade de encontrar prazer em buscar e crescer cada vez

mais em seu conhecimento.

Cada pessoa na escola é responsável pela construção do aluno. Mas

ninguém exerce a influência tão diretamente como o professor sobre o seu

aluno. É ele, em sua sala de aula, seu domínio absoluto, que o ensino se

diferencia. Ali, sonhos são cultivados ou destruídos. Ali, ele faz o aluno crer

em seu potencial e a desenvolvê-lo; ou não. Nós somos o que os outros

pensam de nós: “Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos

dos outros fizeram de mim” ( PESSOA, apud ALVES, R., p. 35,2000).

A educação tem um grande poder: o de fazer despertar do mais profundo

de nosso ser os nossos melhores sonhos; ou fazer morrer tudo de bom que

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havia em nós na infância, tornando-nos apenas reprodutores de um ensino

sem sentido real.

Aquilo que aprendemos por meio do prazer, do querer aprender,

permanece para sempre em nossa memória. Os professores têm a tarefa de

fazer brotar nos alunos o desejo de aprender, o prazer de aprender, seduzindo-

os. Assim, saem ganhando aluno e professor. Aluno, por fazer o seu sonho e

potencialidades despertarem; professor, por sentir a alegria de ver seu aluno,

fruto de seu trabalho de amor, ir além das fronteiras do saber instituído.

2.4 – O ambiente alfabetizador como espaço de ação política

e social

O desempenho escolar inicial entre crianças oriundas de classes

populares e as de classe média tem merecido a atenção por parte dos

estudiosos da educação, visto que há uma diferença muito grande entre elas.

Os especialistas, entre eles Emília Ferreiro (2001) e Paulo Freire (2005),

defendem que não existem déficits a nível intelectual, lingüístico ou cultural.

Todas as crianças, em sua opinião, iniciam o processo de alfabetização muito

antes de sua entrada na escola. A diferença de desempenho entre elas deriva

do fato de que a criança da classe média já está mais adiantada no processo

de alfabetização quando inicia a escola, devido às oportunidades a que tem

acesso, onde a leitura e escrita fazem parte do cotidiano. Já a criança da

classe baixa possui menos ou nenhuma oportunidade envolvendo leitura e

escrita, e menor valorização das mesmas, o que contribui para tal

diferenciação.

As competências lingüísticas trazidas pelos alunos não podem ser

ignoradas pela escola. Antes, deve ser a partir delas que o processo precisa

continuar. E quando o acesso a práticas de leitura é restrito para algumas

crianças, a escola deve garantir esse ambiente alfabetizador (FERREIRO,

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apud revista “viver: mente e cérebro”, 2005 ). O termo “ambiente alfabetizador”

se refere a um ambiente que propicia inúmeras interações com a língua escrita,

com a intervenção de adultos que saibam ler e escrever (WEISZ, apud Nova

Escola, mar.2006). É um espaço onde as crianças têm acesso à leitura de

histórias, materiais diversos (jornais, revistas e outros), exposição de seu

pensamento sobre a escrita, sempre tendo um adulto leitor fazendo a

mediação, capaz de dialogar com ele, analisando criticamente o que está

sendo produzido e trabalhado, e sempre cooperando para o desenvolvimento

pleno do aluno.

A garantia desse ambiente alfabetizador acaba por se tornar uma ação

política e social por possibilitar um acesso notoriamente restrito às classes

dominantes e por viabilizar o contato da escrita utilizada pela sociedade. A

preocupação primeira é, pois, trazer os textos utilizados no mundo para dentro

da escola e aproximar as práticas de leitura e escrita da mesma com as reais.

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CAPÍTULO III

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM – CAUSAS E

CONSIDERAÇÕES

As razões que originam as dificuldades relacionadas à aprendizagem são

variadas. Quando se elabora um diagnóstico sobre a questão, diversos

aspectos devem ser levados em conta, que vão desde patologias a

oportunidades para que a criança possa desenvolver a sua capacidade leitora.

Muitos estudos não só na área da educação têm contribuído no auxílio desse

diagnóstico e tem possibilitado modificar condutas erradas utilizadas no

passado.

3.1 – A avaliação diagnóstica multidisciplinar

Nos anos 70 (FERREIRO, 2005), dos déficits de aprendizagem atribuídos

aos alunos que não se alfabetizavam, o mais aceito pela escola era o das

disfunções psiconeurológicas. Eles eram encaminhados ao médico, cujo

diagnóstico isolado, era aguardado ansiosamente pela família e pela escola,

confirmando ou não, sua normalidade. Em caso de confirmação, a criança era

encaminhada a classes ou escolas especiais que ofereciam um ensino

diferenciado, passando a fazer parte de um segmento social marginalizado,

onde as oportunidades de ampliação de suas potencialidades eram reduzidas.

Esse procedimento tem se modificado, há poucas décadas, em virtude

dos avanços nas pesquisas neurológicas que comprovam a plasticidade do

cérebro, com grande capacidade de reconstituição, em determinadas situações

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e funcionamento satisfatório. Também, a Psicologia, em especial a

Psicanálise, que passou a considerar a criança como dotada de sentimentos

que influenciam seu comportamento desde a vida intra-uterina. De igual forma,

a Pedagogia colabora à medida em que, repensando a sua prática, aprofundou

a relação ensino-aprendizagem. A integração de todos esses profissionais

possibilitou o avanço sobre o assunto.

A Psicopedagogia tem se destacado por defender a tese de que todo

indivíduo, independente do comprometimento corporal, orgânico, cultural ou

psicológico, elabora aprendizagem porque se relaciona como ser social durante

a sua existência.

O fator orgânico é primordial na avaliação das dificuldades relacionadas à

aprendizagem. No entanto, não há como não considerar de igual forma os

aspectos cognitivos e afetivos quando da elaboração de um diagnóstico e

indicação de tratamento. Da mesma forma, os aspectos econômico e cultural

onde a criança está inserida são relevantes, tais como a escola freqüentada,

visto que há ligação direta com o desempenho escolar.

O diagnóstico sobre as dificuldades relacionadas à aprendizagem

necessita ser feito de forma multidisciplinar, envolvendo médicos, pedagogos,

psicopedagogos, psicólogos, professores e outros especialistas que porventura

de tornem necessários à avaliação (DI SANTO, 2006).

3.2 – A responsabilidade da escola

O fracasso escolar é uma realidade nas escolas brasileiras,

principalmente as públicas. E as causas para isto, muitas vezes, são atribuídas

a distúrbios orgânicos dos alunos. No entanto, especialistas no assunto têm

combatido tal argumentação e apontado para a escola como uma das grandes

responsáveis pela situação.

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Em recente entrevista à revista Nova Escola (agosto, 2006), o

fonoaudiólogo Jaime Luiz Zorzi analisa os encaminhamentos que recebe em

seu consultório de crianças oriundas, principalmente, das classes populares,

com indicação de problemas de aprendizagem relacionadas a distúrbios

orgânicos. Na realidade, a minoria dos casos encaminhados se deve a

problemas como deficiências mentais, auditivas, motoras, visuais e múltiplas.

Em sua maioria, se deve à própria organização escolar, que acaba por

discriminar a criança “problemática”.

Zorzi (2006) especializou-se na área da educação em seus cursos de

mestrado, doutorado e pós-doutorado, em particular a alfabetização. Sua

experiência tem mostrado que a escola não sabe lidar com as suas próprias

limitações, que vão desde o despreparo do professor até a falta de

oportunidades culturais que os alunos apresentam. Assim sendo, acaba por

focar a atenção em metodologias, no aluno como responsável pelo seu próprio

fracasso, o professor desqualificado, o sistema escolar como um todo, as

condições sociais e as públicas. Como agravante da situação, está o fato de a

educação não ser entendida como um bem necessário pelas famílias, não

existindo estímulo suficiente para o desenvolvimento do aluno.

3.3 – Os métodos de ensino

Não há um método de ensino que seja infalível. Não há receita a ser

seguida que garanta resultados favoráveis quando se fala em alfabetização,

devido às nuances que influenciam o seu acontecimento. A cada surgimento

de uma proposta pedagógica inovadora, os professores esperam que, dessa

vez, todos os problemas enfrentados no cotidiano escolar sejam resolvidos.

Mas o que é necessário fazer sempre é uma avaliação constante da prática

docente, percebendo as singularidades que vão sendo reveladas, e procurando

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novos caminhos através do aprofundamento dos conhecimentos sobre o

assunto.

Temos visto surgir, de tempos em tempos, propostas potencialmente

transformadoras da realidade educacional, jogando-se por terra o até então

utilizado. Historicamente, discutiu-se a eficácia dos processos (sintético,

analítico e analítico-sintético) e dos métodos (silábico, fônico, global) que

focalizavam a alfabetização. A importância de se conhecer cada um tem como

objetivo situar o professor nas discussões metodológicas e favorecer a

compreensão de como as mudanças de rumo no pensamento sobre

alfabetização alteraram os modos de alfabetizar (ZACHARIAS, 2005).

3.3.l – O método sintético

Dentre os métodos de ensino, o sintético é o mais antigo. O método se

caracteriza por partir do aprendizado do nome das letras, soletradas pelo

aluno, até ler toda a palavra. Baseava-se na memorização pela repetição. No

início do século XIX, o método foi aperfeiçoado, passando da ênfase no nome

da letra para a ênfase em seu som.

O método se divide em: alfabético, fonético ou fônico e silábico.

Atualmente, várias propostas pedagógicas ainda se baseiam nesses métodos.

Estes têm ênfase na decodificação, as relações entre fonemas (sons ou

unidades sonoras) e grafemas (letras ou grupos de letras) e na progressão de

unidades menores (letra, fonema, sílaba) para unidades mais complexas

(palavra, frase e texto).

As limitações desses métodos se encontram na descontextualização da

escrita, porque se baseiam no uso de atividades que privilegiam a

decodificação, na não exploração das relações existentes entre a fala e a

escrita, e por trabalhar partes isoladas e não o entendimento e percepção do

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todo, em que palavras se estruturam em frases e se tornam significativas por

isto mesmo.

3.3.2 – Os métodos analíticos

No Brasil, os métodos analíticos começaram a ser utilizados no final do

século XIX, como opositores do método sintético. Sua característica é

conceber a leitura como um ato global e ideovisual, partindo de unidades

maiores para as menores. Dessa abordagem, derivam os métodos de

“palavração”, ideovisual, sentenciação e o conto.

a) Palavração ou de palavras normais: parte-se do todo , com palavras

concretas e significativas retiradas de histórias, conversa, desenho e

outras situações.

b) Ideovisual, ideográfico ou de palavras-tipo: apresenta a palavra

ligada a um desenho anteriormente apresentado.

c) Sentenciação: aprendizagem da leitura por meio da globalização.

d) Conto: utiliza materiais didáticos que trazem uma seqüência de contos,

com sentidos complementares, para ser trabalhados ao longo do ano

letivo. Os objetivos são o desenvolvimento no aluno da capacidade de

compreensão e antecipação de seqüências de idéias, facilitando a

relação entre elas e sua memorização.

Os métodos analíticos se traduzem em uma alfabetização mais

significativa, de forma geral, mas são criticados por se prenderem à utilização

de estratégias visuais e a etapas e procedimentos determinados a serem

aplicados.

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3. 3.3 – O método analítico-sintético

Surge no Brasil em 1920, em meio a debates sobre os métodos analítico

e sintético, tendo havido uma tentativa de se impor o uso do método analítico,

mas que terminou por estabelecer a liberdade de escolha pelas escolas do

melhor método a ser adotado.

O método analítico-sintético une as orientações dos dois métodos por

utilizar análise e síntese: parte de um todo (analítico) mas segue os passos do

método sintético (som, sílaba, palavras, frases). A memorização e a

mecanização são características do método, e acabam por limitar a leitura e a

escrita, na opinião dos críticos (ZACHARIAS,2005).

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CAPÍTULO IV

A PARTICIPAÇÃO EFETIVA DO SUPERVISOR

ESCOLAR E DO PROFESSOR ALFABETIZADOR NO

PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

A função da escola sempre foi a de transmitir conhecimentos acumulados

historicamente (GARCIA,1986). Cumprindo bem a sua função, a escola acaba

por exercer uma ação política, mesmo sem se dar conta disso, podendo

perpetuar as relações de poder da sociedade, reproduzindo as contradições,

ou instrumentalizando os indivíduos de classes subalternas como o código

cultural da classe dominante, com vistas a formar uma consciência histórico-

política que os possibilitará lutar contra a dominação.

A educação, portanto, tem um poder extremo em relação à prática política

e individual do ser humano. Assim sendo, os educadores precisam se

posicionar frente à educação que ajudam a cultivar, visto que não existe

neutralidade na ação educativa.

4.1 – O supervisor escolar e sua participação efetiva na escola

A escola, como já citado, tem por finalidade maior ensinar aos alunos. O

educador que se pretende consciente, dentre eles, o supervisor, deve garantir

o acesso ao saber, fazer com que os alunos aprendam. Parece óbvia a

afirmação. No entanto, visto o contingente de crianças, jovens e adultos que

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não conseguem se alfabetizar a cada ano, a afirmação se torna pertinente

diante do fracasso nas séries iniciais de escolarização.

A ação educativa de supervisores e demais elementos envolvidos nessa

nova forma de entender a educação precisa ser revista em diversos aspectos.

As próprias relações de poder dentro da escola necessitam ser reavaliadas,

não sendo possível mais que o saber seja oriundo de uma única fonte, o

professor, mas compreendendo que o aluno traz muito saber de seu cotidiano

e deve participar na decisão sobre o que quer aprender. E, por sua vez, os

próprios especialistas, orientadores e supervisores, também o diretor, não

podem mais impor seu “saber” sobre o professor, desenvolvendo uma relação

autoritária, reproduzindo a hierarquia existente na sociedade e produzindo

pessoas conformistas.

Assim sendo, a escola recupera a sua função social e política à medida

em que capacita o aluno para a participação na vida social, política, cultural e

profissional.

O papel do supervisor se torna imprescindível quando se propõe a

mobilizar os diferentes saberes dos profissionais que atuam na escola para

alcançar o objetivo comum de fazer com que o aluno aprenda. Sua atuação

não é isolada, e sim vinculada à do orientador educacional e administração

escolar. Embora cada um possua especificidades na área em que atua, todos,

e mais o professor, têm como espaço comum o fato pedagógico. Nesse, o

currículo deve ser entendido como também comum a todos, já que diz respeito,

num sentido amplo, a tudo o que afeta, direta e indiretamente, a transmissão e

apropriação do saber acumulado. É preciso conhecer o aluno, o seu mundo, o

que sabe e o que deseja saber e, também, o que se deseja alcançar com a

prática pedagógica. Tais fatores devem ser norteadores do currículo. Daí,

parte-se para a adequação de metodologias, materiais didáticos compatíveis

com os interesses do aluno e outros aspectos pertinentes ao ensino.

O aluno aprende num determinado contexto. A forma como este é

organizado e as relações que ocorrem nele influenciam tanto quanto o ensino

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em sala de aula. O supervisor deve propiciar constantemente a ocorrência da

reflexão coletiva sobre a prática pedagógica de todos os que trabalham na

escola, desde serventes até o diretor, sem esquecer da família, que tem papel

primordial, e a comunidade. Nesse processo, o orientador educacional

coopera como especialista em relações; e o supervisor como especialista na

organização de todo o fazer pedagógico.

A ação integrada de especialistas, diretor, professor, serventes,

inspetores, famílias e comunidade define o que é fundamental para a escola: o

conhecimento que contribui para que o aluno se desenvolva na sua capacidade

crítica sobre a sociedade em que está inserido e, assim, seja capaz de

transformá-la.

Não basta que a lei garanta o direito à educação para todos; é preciso

garantir a permanência na escola e a apropriação do conhecimento para o

verdadeiro exercício da cidadania.

4.2 – O professor-alfabetizador

Segundo Emília Ferreiro (2005), o fato de a criança passar pelo menos

quatro horas durante 200 dias do ano na escola evidencia o enorme poder de

formação e informação que isto representa. A figura do professor se destaca

nessa situação pelo seu contato constante com o aluno, não desconsiderando

os demais envolvidos no processo ensino-aprendizagem, mas reconhecendo

sua importância vital. A ele cabe decidir ensinar muita coisa para o aluno ou

negar-lhe o direito de aprender. Tudo dependerá da crença que ele tem sobre

o aluno, sobre sua capacidade de aprender. A partir disto, é que a sua ação

acontecerá. Não é diferente com o professor-alfabetizador. Pelo contrário, seu

papel é de maior responsabilidade e dimensão que o dos professores das

séries seqüenciais, visto ser esse momento pré-requisito para o pleno

acontecimento dos demais. Pois, não basta somente saber decifrar e produzir

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escrita tecnicamente. É preciso propiciar a autonomia sobre o que se lê e

escreve, possibilitando a compreensão e produção de novos saberes.

Um segundo aspecto fundamental para o professor-alfabetizador em

questão, é o entendimento de que a criança traz uma aprendizagem anterior à

sua entrada na escola e que não pode ser desconsiderada. Cabe ao professor

conhecer os processos de compreensão infantil que o possibilite melhor intervir

nas situações de aprendizagem que surjam. No entanto, a provocação de

situações de aprendizagem também são necessárias, visto que muitas crianças

não têm acesso a atos de leitura para que produzam o seu próprio pensamento

sobre isto. Assim sendo, o alfabetizador deve propiciar um ambiente de

valorização no uso da escrita no cotidiano escolar, através da leitura de textos

diversos e outros meios. O seu objetivo será sempre o de fornecer indicativos

da função social da escrita e tornar a leitura prazerosa.

Os alfabetizadores, eles mesmos, são fruto de uma escolarização

desvinculada com o prazer de ler. Não há como transmitir prazer em ler sem

que se tenha uma prática leitora. É necessário resgatar nos alfabetizadores tal

prazer através de programas de educação continuada que tenham um trabalho

sistemático nessa área (WEISZ, apud Nova Escola, mar. 2006).

O momento educacional atual tem exigido que o professor mude de lugar

e se torne aluno novamente, pois a atitude reflexiva sobre a prática tem feito

com que busque embasamento teórico que responda a seus questionamentos.

Não só o professor tem estado preocupado com isto, mas todos os envolvidos,

pelo menos diretamente, com o aluno como supervisores, orientadores e

diretores, que também sabem da necessidade de promover momentos de

estudo e reflexão em suas próprias escolas, tornando-se parceiros nessa

busca.

O que fica explícito é que não existe mudança possível a curto prazo e

nenhum saber que tenha se provado absoluto. Todas as possibilidades e

todas as novas idéias concebidas serão sempre provisórias, visto o dinamismo

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das situações pedagógicas. O que é importante cultivar hoje e definitivamente

é a reflexão contínua sobre a prática docente.

4.3 – Sugestões de atividades práticas na sala de aula

Algumas ações no cotidiano escolar facilitam o alcance do objetivo de

alfabetizar, no sentido lato e no restrito. A seguir, sugestões de como

desenvolver atos de leitura em sala de aula, de forma simples e eficaz. No

entanto, é preciso ressaltar que não se trata de método de alfabetização, mas,

sim, ações que merecem reflexão e consideração, geradas a partir de

hipóteses de autoras como Emília Ferreiro, Ana Teberosky e outros,

elaboradas a partir de suas práticas, mesmo porque em educação não há

“receita de bolo” a ser seguida, mas bom senso de educadores que se

incomodam com a realidade educacional.

4.3.1 – O ambiente alfabetizador na prática da sala de aula

O primeiro ponto a ser destacado é o ambiente onde ocorre a

alfabetização. Como já dito, a criança que tem acesso a atos de leitura

constantes por meio de pais leitores ou contato de livros, revistas e outros

materiais que envolvem a escrita, apresentam maior facilidade de aprender a

língua escrita por já estar em um estágio mais avançado da alfabetização. Se

isto não ocorre, como é o caso de crianças cujos pais são analfabetos ou não

vivem em um ambiente cultural favorável, a escola é quem deve oferecer

ambiente propício. Assim, a sala deve ter livros, cartazes com listas, nomes e

textos elaborados pelos alunos (com o auxílio do professor) nas paredes e

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recortes de jornais e revistas do interesse das crianças. No entanto, não é o

fato de pendurar coisas escritas nas paredes que produzirá um efeito

alfabetizador, mas, sim, as inúmeras interações com a língua escrita, mediadas

pelo alfabetizador.

4.3.2 – A utilização de textos diversos

A leitura a ser trabalhada não pode ser resumida a textos didáticos, mas

deve se estender a leituras do dia-a-dia. A leitura diária, ato imprescindível,

deve ser feito através da leitura de informações práticas diversas, curiosidades,

notícias e textos clássicos ou não. O uso de canções, poesias e parlendas

também são muito úteis devido à facilidade da criança em memorizá-las e,

posteriormente acompanhá-las na forma escrita de suas estrofes. Ao mostrar

vários gêneros, ampliamos as possibilidades de apreensão sobre a escrita.

Linguagens diversas, como pintura e cinema, também são pertinentes.

O ensino de letras também é necessário, mas pode ser feito na própria

leitura dos textos, citando seus nomes durante as conversas. A mistura da

literatura com atividades didáticas também é uma sugestão recomendada.

4.3.3 – A sala de leitura.

A organização de uma sala de leitura na escola, em muitos casos, é um

sonho, mas que tem sido possível devido ao incentivo do próprio governo

federal que tem fornecido livros paradidáticos e materiais como aparelhos de

DVD para as escolas públicas (Nova Escola-dez/2005). Muitas vezes, o

empecilho é o espaço físico que não comporta uma sala extra. No entanto,

mesmo que seja feito de forma precária, como por exemplo, levando o acervo

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semanalmente às salas de aula, essa estratégia se torna uma grande aliada

na alfabetização.

Na possibilidade de implantação da sala de leitura, esta deve ser

organizada de forma a propiciar momentos de lazer, já que se torna uma

novidade por si só o sair da sala de aula. E este não deve ser um espaço

direcionado não só à leitura de livros e empréstimos, mas também para

encenações, dramatizações, oficinas envolvendo a leitura e tantas outras

possibilidades.

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CONCLUSÃO

A escola brasileira não tem cumprido sua função de ensinar a ler e a

escrever satisfatoriamente. Em conseqüência disto, acaba por negar o acesso

ao aluno à diversidade de informações, só possível através da leitura, e a

ampliar seu conhecimento sobre o mundo físico e social, para transformá-lo e

transformar-se. Não há como ficar inerte a tal situação. Os educadores se

incomodam com ela e buscam por soluções.

A superação dessa situação é uma das principais tarefas da escola,

entendida como ação conjunta de todos os envolvidos no processo ensino-

aprendizagem. Cada um possui a sua parcela de responsabilidade e é

necessário mobilizar os saberes e ações de todos em favor do aluno. E não

basta ensinar a técnica do decifrar e produzir escrita; é preciso que se trabalhe

o entendimento sobre o que se lê, de forma contextualizada. Mas, isto só é

possível a partir da reflexão sobre a prática pedagógica.

Da reflexão coletiva pode surgir uma nova competência da escola,

compreendendo sua ação formadora, política e social, e ampliando sua visão

sobre o mundo em que está inserida, e a de seu aluno, capacitando-se e

capacitando-o a interferir sobre a realidade.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

EPÍGRAFE 4

DEDICATÓRIA 5

RESUMO 6

METODOLOGIA 7

SUMÁRIO 8

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I 11

O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM 11

1.1 – Rápido retrospecto sobre a evolução da escrita e da alfabetização 11

1.2 – O processo ensino-aprendizagem 12

1.2.1 – O desenvolvimento cognitivo – aspectos neurológicos 13

1.2.2 – Etapas do desenvolvimento da leitura e da escrita 14

CAPÍTULO II 17

A IMPORTÂNCIA SOCIAL DA LEITURA E DA ESCRITA 17

2.1 – A função social e política da escola 18

2.2 – O letramento e o ensinar a ler e a escrever 19

2.3 – O aprender por prazer 20

2.4 – O ambiente alfabetizador como espaço de ação política e social 22

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CAPÍTULO III 24

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM – CAUSAS E CONSIDERAÇÕES 24

3.1 – A avaliação diagnóstica multidisciplinar 24

3.2 – A responsabilidade da escola 26

3.3 – Os métodos de ensino 27

3.3.1 – O método sintético 27

3.3.2 – Os métodos analíticos 28

3.3.3 – O método analítico-sintético 29

CAPÍTULO IV 30

A PARTICIPAÇÃO EFETIVA DO SUPERVISOR ESCOLAR E DO PROFESSOR-ALFABETIZADOR NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO 30

4.1 – O supervisor escolar e sua participação efetiva na escola 30

4.2 – O professor-alfabetizador 32

4.3 – Sugestões de atividades práticas na sala de aula 34

4.3.1 – O ambiente alfabetizador na prática da sala de aula 34

4.3.2 – A utilização de textos diversos 35

4.3.3 – A sala de leitura 36

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA 38

WEBGRAFIA 40

ÍNDICE 41