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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE GESTÃO PÚBLICA E CIDADANIA: UMA ANÁLISE ACERCA DO PRINCÍPIO EDUCATIVO EM GRAMSCI Por: CRISTIANE RODRIGUES DA SILVA Orientador Prof. Ms. Mary Sue Carvalho Pereira Rio de Janeiro 2008

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · habilidade com que esta função está sendo desempenhada determina o sucesso de ... relacionando os fatores externos que irão

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

GESTÃO PÚBLICA E CIDADANIA: UMA ANÁLISE ACERCA DO

PRINCÍPIO EDUCATIVO EM GRAMSCI

Por: CRISTIANE RODRIGUES DA SILVA

Orientador

Prof. Ms. Mary Sue Carvalho Pereira

Rio de Janeiro

2008

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

GESTÃO PÚBLICA E CIDADANIA: UMA ANÁLISE ACERCA DO

PRINCÍPIO EDUCATIVO EM GRAMSCI

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Gestão Publica

Por: . Cristiane Rodrigues da Silva

3

AGRADECIMENTOS

Ao meu esposo, Denison, que sempre me

incentivou a continuar. Seu carinho foi

expressão de amor profundo para que eu

não desistisse.

Aos meus colegas de turma e professores

cuja amizade e discussões foram valiosas

as questões acadêmicas e crescimento

intelectual desde que nos conhecemos

A todas as pessoas que de alguma forma

contribuíram para realização deste

momento.

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu esposo,

Denison, por seu amor e

companheirismo, que me permitiram

transpor obstáculos, e pelo apoio e

estímulos recebido durante o tempo que

tive que me dedicar aos estudos.

RESUMO

5

Este trabalho contém reflexões acerca de questões da Gestão Pública,

Cidadania e o Princípio educativo em Gramsci que versa sobre a escola

unitária e desinteressada para fins de uma sociedade independente de sua

classe ou condição social, principalmente das classes subalternas, tenham

acesso aos conhecimentos que lhe proporcionarão a liberdade e o exercício

pleno da cidadania.

Segundo Gramsci, a partir de uma educação igualitária, todos teriam as

mesmas condições, passando de uma condição de mero receptor das

ideologias da classe dominante a um cidadão participante no processo

formativo da sociedade através de uma política pública eficaz.

METODOLOGIA

6

O trabalho funda-se em uma pesquisa bibliográfica que não tem por

objetivo esgotar o tema, mas contribuir para conscientização de gestores que

atuaram na realização de políticas que melhor viabilizem a construção da

cidadania.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - GESTÃO PÚBLICA 10

CAPÍTULO II - A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA 21

CAPÍTULO III – O PRINCÍPIO EDUCATIVO EM GRAMSCI 35

CONCLUSÃO 41

ÍNDICE 44

BIBLIOGRAFIA 45

FOLHA DE AVALIAÇÃO 47

INTRODUÇÃO

8

Gramsci defendeu as idéias pedagógicas que se integram aos

processos educacionais socialista. Basicamente acreditava existir o valor da

educação como forma de transformação, porém, ela por si, não muda a

sociedade. Denota que o desenvolvimento unilateral do homem exige um

conjunto de elemento além da escola, ou seja, o conhecimento pleno,

intelectual e politizado.

Neste sentido, a proposta deste trabalho é analisar os princípios

educativos elaborados por Gramsci e a sua contribuição para o exercício pleno

da cidadania. O princípio da escola unitária e desinteressada que visa uma

educação de qualidade para todos independente de sua classe social, com

isso todos terão as mesmas condições, podendo exercer sua cidadania no

sentido pleno, pois não lhe faltarão conhecimentos.

A reflexão sobre a política de Gramsci pode nos ajudar a entender e a

mudar o mundo de hoje. Ele pensava que o progresso real daquilo que

chamamos “civilização” se produz pela colaboração de todos os povos. As

frustrações e os enormes obstáculos que teve de superar para satisfazer a

sede de aprender instalaram em Gramsci um espírito de rebelião contra os

ricos. E, bem cedo, também o convenceram de que a libertação das classes

subalternas requereria um esforço educacional concentrado. Um esforço que

de algum modo superasse os obstáculos postos por um sistema educacional

elitizado, que estava destinado a servir os ricos e perpetuar seu papel dirigente

na sociedade.

O resultado da ação do governo procura resolver um problema na

sociedade ou promover uma oportunidade de desenvolvimento. Isso deve

estar subordinado a leis, regras, estruturas, equipes, capacitação, concurso,

remuneração, avaliação de desempenho e assim por diante - quase o inverso,

portanto, da necessidade que se tem.

Observa-se que a Constituição coloca o princípio da legalidade no caput

do artigo 37, que é o portal das Disposições Gerais às quais estão

subordinados os entes da Administração Pública direta e indireta, significa

9

dizer que a legalidade está erigida na condição de princípio que deve nortear

toda e qualquer ação da administração pública.

A gestão das organizações públicas tem que estimular o cidadão e a

própria sociedade a exercer ativamente o seu papel de guardiãs de seus

direitos e de seus bens comuns.

Aplicação de técnicas de gestão no setor público é exatamente o

aproveitamento de métodos utilizados no gerenciamento de empresas

privadas, nos órgãos estatais com o objetivo de atingir metas estabelecidas

pela orientação política do governo em prol do povo.

CAPÍTULO I

GESTÃO PÚBLICA

10

A Administração Pública é a gestão de bens e interesses qualificados da

comunidade no âmbito federal, estadual ou municipal, segundo preceitos do

Direito e da Moral, visando o bem comum, ou seja, um encargo de defesa,

conservação e aprimoramento dos bens, serviços e interesses da coletividade,

impondo ao administrador público a obrigação de cumprir fielmente os

preceitos do Direito e da Moral administrativa que regem sua atuação, pois tais

preceitos é que expressam a vontade do titular dos interesses administrativos

do povo, e condicionam os atos a serem praticados no desempenho do público

que lhe é confiado.

O mundo está passando por radical transformação social e econômica,

que atinge todos os setores, inclusive as instituições governamentais, que

deverão reinventar-se para adaptar-se à nova realidade. Esse novo cenário

exige um Novo Modelo de Gestão Pública, integrado e voltado para a

excelência, respeitando suas características e particularidades.

Nesse sentido, a boa gestão pública pressupõe a criação de canais

efetivos de participação do cidadão nas decisões públicas, na avaliação dos

serviços, inclusive na avaliação da atuação da organização relativamente aos

impactos que possa causar à saúde pública, à segurança e ao meio ambiente.

Entretanto, a construção desse novo paradigma da gestão pública

empreendedora voltada para resultados depende, fundamentalmente, da

qualificação profissional das carreiras de estado e da formação de gestores e

lideranças capazes de mobilizar os quadros de servidores em torno de

objetivos comuns, favorecendo uma visão compartilhada da necessidade de

mudança e alavancando, assim, a modernização da máquina pública. Isso

implica a intervenção do Estado no desenvolvimento de estratégias para a

seleção e formação de gestores, bem como na criação de um ambiente

propício e favorável à mudança, baseado menos na hierarquia e mais na

liderança e engajamento (BANDEIRA, 2008)

1.1 - Planejamento

11

Levando em conta que as atividades desenvolvidas na administração

visam atingir objetivos determinados e resultados específicos, elas devem

estar sintonizadas com seus objetivos maiores e não devem ser

desempenhadas de maneira aleatória; assim, é necessário que sejam

planejadas e controladas.

O processo de gestão serve de suporte ao processo de tomada de

decisão e realiza-se por meio dos seguintes passos: planejamento estratégico,

planejamento operacional, programação, execução e controle.

Planejamento Estratégico é uma definição, em termos de futuro, do

que a entidade vai fazer e como vão ser utilizados estrategicamente seus

recursos; envolve-se com a determinação dos objetivos e metas da

corporação, assim como com o desenvolvimento de padrões, políticas e

estratégias, por meio das quais eles serão alcançados, e fundamenta-se em

informações a respeito do meio ambiente.

Planejamento Operacional, segundo Maximiano (1991), consiste na

previsão dos meios/atividades e recursos que deverão ser acionados para

possibilitar a realização de um objetivo.

Fernandez (1989), assim define o planejamento operacional: “trata-se

de um processo decisório que identifica, integra, avalia e escolhe o plano a ser

implementado, dentro dos planos operacionais alternativos dos vários

segmentos da empresa em consonância com as metas, objetivos, estratégias

e políticas da empresa.”

Programação é a distribuição de uma seqüência de atividades ao longo

de um período de tempo.

Controle, segundo Welsch, (1990), é simplesmente a ação necessária

para verificar se os objetivos, planos, políticas e padrões estão sendo

atendidos.

O planejamento é a mais básica de todas as funções gerenciais, e a

habilidade com que esta função está sendo desempenhada determina o

sucesso de todas as operações. Planejamento pode ser definido como o

processo de reflexão que precede a ação e é dirigido para a tomada de

decisão agora com vistas no futuro.

12

Teoricamente, a função de planejamento é um aperfeiçoamento na

qualidade do processo decisório por uma cuidadosa consideração de todos os

fatores relevantes, antes de a decisão ser tomada em conformidade com uma

estratégia operacional, segundo a qual o futuro da gestão deve ser orientado.

De acordo com Figueiredo e Caggiano (1997), o planejamento é

formado de cinco estágios:

1. Estabelecer os objetivos da organização.

2. Avaliar o cenário no qual a organização estará operando,

relacionando os fatores externos que irão possivelmente afetar suas

operações. Para este propósito, uma projeção deve ser feita na tentativa de

predizer o que irá acontecer no futuro, não importando se deverão ser ou não

mudanças na política da organização dos planos.

3. Avaliar os recursos existentes, pois a gestão tem como escopo o uso

mais eficiente destes recursos escassos (em inglês, apelidados de “4M” (men,

machines, material, and money) homens, máquinas, materiais e dinheiro.

Este aspecto da função de planejamento inclui uma estimativa dos re

cursos externos acessíveis e dos recursos internos já possuídos pela gestão

com capacidade ociosa ou que possam ser mais eficiente mente utilizados.

4. Determinar a estratégia para alcançar os objetivos estabelecidos no

plano geral que especifica as metas. As decisões estratégicas dizem respeito

ao estabelecimento do relacionamento entre a administração e o meio

ambiente.

5. Delinear um programa de ação para alcançar metas estratégicas

selecionadas para programas de longo prazo e de curto prazo, discriminando o

tipo de recurso no orçamento anual. Assim, decisões são essenciais em todos

os estágios do processo de planejamento. As áreas-chave podem ser

estabelecidas quando se decide: o que deve ser feito, quando deve ser feito,

como deve ser feito, quem deve fazê-lo.

A importância dos fatores conjunturais no processo de planejamento é

óbvia, e é igualmente claro que informações a esse respeito não devem estar

sujeitas a um tratamento menos rígido do que as informações analíticas

internas, produzidas na administração.

13

Muitas vezes, a qualidade destas informações analíticas é criticada

como inadequada para o propósito de uma decisão eficiente. As deficiências

na natureza e qualidade dessas informações serão examinadas

posteriormente com maiores detalhes.

Entretanto, existe a necessidade de um fluxo contínuo de informações

sobre o meio ambiente, pois o mais importante fator potencial de crescimento

da firma e de maior eficiência é a habilidade de assimilação e aprendizado de

seus gestores.

Os sistemas de informação têm presentemente migrado de uma pesada

ênfase na informação analítica para a incorporação de dados ambientais.

Tem sido observado que um exame nos dados ambientais fornece aos

gestores interessantes informações sobre níveis potenciais de mercado, de

linhas de produtos novos, assim como das linhas de produtos já existentes,

sobre novos processos e tecnologias disponíveis, sobre a ação dos

concorrentes, a regulação das vendas, sobre os recursos e suprimentos

disponíveis, ações e políticas governamentais.

Podem-se distinguir três espécies de atividade de planejamento:

1. Planejamento Estratégico: diz respeito a um período de três a dez

anos; normalmente é chamado de planejamento de longo prazo.

2. Planejamento Programa: atividade que segue o planejamento de

longo prazo e envolve o desenvolvimento de planos para os dispêndios de

capital necessários para os objetivos de longo prazo.

3. Planejamento Orçamentário: aquele que converte o plano de longo

prazo da firma ás necessidades do futuro imediato. Usualmente descrito como

Orçamento, é desenvolvido numa base anual.

O orçamento anual é então dividido em meses e, em alguns casos, em

semanas para estabelecer as tarefas de um futuro imediato.

A controladoria está profundamente envolvida com a busca da eficácia

organizacional; para alcançá-la, é preciso que sejam definidos modelos que

eficientemente conduzam ao cumprimento de sua missão.

1.2 – Princípios

14

Segundo Figueiredo e Caggiano (1997), quando são observados os

modos de operação e as características da administração das diversas

organizações, notam-se as mais diferenciadas preocupações em relação aos

elementos e variáveis empresariais.

Desse modo, é possível observar inúmeras diferenças em relação ao

enfoque dado ao processo de planejamento e controle e à utilização dos

recursos organizacionais: humanos, físicos e financeiros, e o posicionamento

em relação às variáveis ambientais.

A causa desses diferentes posicionamentos fundamenta-se em crenças,

valores, convicções e expectativas dos empreendedores e administradores, e

são estes que determinam o conjunto de regras que compõem as diretrizes

básicas da administração; portanto, seu modelo de gestão.

De acordo com Figueiredo e Caggiano (1997), um modelo de gestão

poderia ser definido como um conjunto de princípios e definições que decorrem

de crenças especificas e traduzem o conjunto de idéias, crenças e valores dos

principais executivos, impactando assim todos os demais subsistemas

empresariais; é, em síntese, um grande modelo de controle, pois nele são

definidas as diretrizes de como os gestores vão ser avaliados, e os princípios

de como a empresa vai ser administrada.

As mudanças no modelo de gestão dão-se por mudanças nas pessoas

e não no ambiente. Nem sempre o modelo é devidamente definido e

explicitado, gerando por isso conflitos e indefinições entre os gestores,

ocasionando muitas vezes que sejam tomadas decisões que conduzem a

ações que não estão de acordo com os objetivos principais da administração.

Por essa razão, um dos princípios básicos da gestão é uma clara

definição de seu modelo de gestão e a integração deste com os modelos de

decisão, informação e mensuração que serão discutidos posteriormente.

Observa-se que gerir é em sua essência, tomar decisões. Estilo de

gestão é o modo como a autoridade será distribuída e, conseqüentemente,

como será exercido o controle, considerando que a responsabilidade é

15

intrínseca ao poder assumido; podem-se encontrar diferentes estilos de

gestão, participativa, centralizada, estatizada.

O estilo de gestão adotado determina a natureza da estrutura

organizacional, sendo esta também influenciada pelo tamanho da organização.

Um estilo de gestão participativo é o mais apropriado quando são adotados

conceitos modernos de gestão, não significando estilo consorciado, pois ele

não elimina a figura do executivo principal.

Levando em consideração premissas que dizem respeito ao crescimento

e à expansão das atividades, conclui-se que elas determinam a necessidade

de uma preparação para dias futuros. Assim, o aumento da quantidade e

complexidade das operações quando a atividade empresarial atinge certos

níveis faz com que a delegação deixe de ser uma opção para se tornar uma

necessidade, sendo impossível que somente poucas pessoas decidam tudo

em todos os níveis.

Os Princípios da gestão pública são o conjunto de normas, regras que

vão informar a edição das normas e conduta.

Os princípios podem ser expressos em sede normativa, como também

podem ser implícitos, que são aqueles cuja existência é deduzida do

ordenamento existente.

Segundo o Art. 37. da CF: “A Administração pública direta e indireta de

qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios obedecerá aos princípios de legalidade , impessoalidade ,

moralidade, publicidade e eficiência. ”

O princípio da legalidade se coloca como um princípio expresso,

podendo se projetar sobre a esfera privada e sobre a esfera pública, porém

com conotações distintas.

O princípio da legalidade na esfera privada está referido no art. 5o, II, da

CF. Ao particular é dado fazer ou deixar de fazer tudo aquilo que quiser, desde

que não haja lei dispondo o contrário. Para o particular, o princípio da

legalidade significa que pode atuar, deixar de fazer ou fazer alguma coisa,

desde que não haja lei impondo o contrário.

16

Quando a CF se refere à lei, no art. 5o, II, (esfera privada), está

mencionando a Lei no sentido formal.

O art. 5 º, XII consagra a legalidade na sua formação genérica, que

abarca o princípio da reserva absoluta de lei e o princípio da reserva relativa de

lei.

Para a Administração, o princípio da legalidade tem um sentido diferente

do contido no art. 5 º, para o Administrador agir de acordo com o princípio da

legalidade significa pautar seu procedimento exatamente nos moldes

estabelecidos pela lei. Significa que o administrador no campo da

Administração Pública só pode agir na extensão do que lhe autoriza a lei. Os

particulares podem fazer tudo aquilo que a lei não lhe vede, enquanto que o

administrador público só pode fazer o que a lei lhe permitir fazer. Ele está

vinculado à lei.

O princípio da moralidade trata de um princípio expresso no art. 37 da

CF, de caráter geral porque exigível tanto da administração pública quanto do

particular, pois a atuação de todos, inclusive dos contratantes, deve ser ética.

No âmbito do Direito Público, o princípio da moralidade se destaca pela

presença na atuação da administração pública da ética – probidade – boa-fé. A

atuação da Administração Pública será moralmente aprovada quando for ética,

com probidade e boa-fé.

O princípio da publicidade trata de um princípio expresso (art. 37 da CF)

e específico do direito público. Ele tem três aspectos bem próprios: (i) dar

transparência à atividade administrativa, para que todos possam observar a

atuação da administração e, querendo, exercer o seu controle. A atuação da

administração deve ser posta ao conhecimento de todos, até mesmo quando

ela contrata (art. 3º, §3º, da Lei 8666/93).

O princípio da impessoalidade indica que a Administração deve

responder pela conduta de seus agentes porque os atos praticados pelos

agentes públicos são considerados atos impessoais, ou seja, como não sendo

ato da própria pessoa, mas sim ato da Administração. Teoria da Imputação –

o ato não é do agente, mas sim da administração.

17

Meirelles (2001) entende que a impessoalidade tem o mesmo

significado da finalidade. Ou seja, a conduta voltada para o interesse público.

A finalidade pública estará latente no comando legal que autoriza a atuação da

Administração.

O princípio da eficiência trata-se de outro princípio previsto no art. 37 da

CF. A eficiência deve ser vista através de três expressões – EFICÁCIA

(atuação rápida e eficaz); EFETIVIDADE (atuação efetiva); ECONOMICIDADE

(atuação com menos custo para administração).

A conduta da Administração será considerada EFICIENTE, quando ela

se faça eficaz àquela finalidade pública, quando ela consiga efetivar esse

interesse público buscado, mas também quando ela se ver dentro da idéia de

custo e benefício, ou seja, com o menor custo para a Administração.

1.3 – Práticas Políticas

Alguns elementos que compõem as técnicas de gestão públicas são:

• Foco das políticas públicas

• Estabelecimento de metas e resultados

• Terceirização de serviços

• Criação de critérios de avaliação de desempenho.

O foco das políticas públicas está diretamente relacionado com o perfil

do cidadão para o qual o governo presta serviço. Não faz sentido ao

governante investir, por exemplo, na construção de postos de saúde em

bairros de classe média alta, pois os habitantes destes bairros possuem

rendimentos suficientes para dispor de seguros privados, não necessitando de

atendimento público. (MULLER, 2008).

Uma política pública focalizada fará com que o governo construa postos

de saúde em bairros populares onde estão as camadas da população que

mais depende da ação governamental.

A herança que a história da gestão pública legou ao Brasil dos anos

1990 foi grande fragilidade econômica; uma dívida interna e externa

18

avassaladora; um serviço público desprestigiado, com a força de trabalho

insuficiente e desqualificada após um processo de enxugamento que expurgou

conhecimentos e competências; uma população pouco protegida e pouco

contemplada com serviços públicos adequados em padrão e quantidade, entre

outros fatores.

O desafio foi – e ainda é – o de implantar uma política econômica que

desse conta de controlar o processo inflacionário que, naquele momento,

atingia níveis estratosféricos, e promover um ajuste fiscal que controlasse os

gastos públicos.

As políticas de estabilização econômica e de equilíbrio fiscal, no Brasil,

além de combater uma inflação que ultrapassava os 5.000% em 1994,

precisava superar a cultura do imposto inflacionário, construída após décadas

de inflação, que ampliava artificialmente as despesas públicas para financiar

as demandas crescentes nas áreas sociais e de infra-estrutura. O ponto crítico

do desafio a enfrentar impunha – e ainda impõe – uma associação entre

políticas públicas de desenvolvimento e medidas de otimização do gasto, entre

políticas de regulação macroeconômica e as demais políticas setoriais.

O Plano Real, adotado em 1995, obteve resultados positivos em seu

propósito de redução da inflação e de estabilização econômica já no primeiro

ano. Em 1996, o governo lançou o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do

Estado, cuja finalidade era a reestruturação das organizações.

As políticas públicas promovidas pelo Estado incorporavam, portanto,

interesses da sociedade civil e do mercado: no entanto, tal incorporação era

excludente e seletiva, beneficiando segmentos restritos dos trabalhadores e

interesses de segmentos do capital nacional e internacional. O próprio

insulamento burocrático não era imune a este processo de “inclusão seletiva”

de interesses.

Como mostra DINIZ (1996): “... a estratégia do insulamento burocrático

revela-se irrealista, se considerarmos que a meta almejada, qual seja,

implementar escolhas públicas imunes às pressões dos interesses particulares,

não é factível. Tudo o que se consegue é eliminar alguns interesses em

19

benefício de outros, em geral os que detêm maior poder de barganha...” (p.

23).

Assim sendo, a máquina estatal através da qual se implementavam as

políticas caracterizava-se por um padrão de gestão hierarquizado, restringindo-

se o espaço para a participação das instâncias mais próximas ao cidadão.

Embora originalmente este padrão tenha sido concebido sob inspiração do

modelo da burocracia weberiana, que buscava garantir uma uniformização de

procedimentos de corte democrático, o que ocorreu foi que, aquilo que restou

destes princípios acabou funcionando como mecanismo de distanciamento

entre usuários e agentes públicos e como mecanismo de padronização de

respostas, contribuindo para a perda de eficácia e de qualidade.

1.4 – Orçamento Público

O orçamento é, sim, um instrumento de gestão: de planejamento, de

monitoramento e de controle (no duplo sentido de que o previsto a ser feito

serve também para definir como vai ser feito e quando e, também, o que não

vai ser feito). Enquanto instrumento de planejamento, os orçamentos públicos

refletem não somente estratégias e teorias sobre ação, mas também as

relações de poder explícita e implicitamente presentes na disputa para os

espaços e as prioridades. (SPINK, 2008).

O problema com a visão falsa sobre o orçamento público enquanto ação

financeira, essencialmente técnica e burocrática, é que ela acaba - sem

perceber - apoiando a doce ilusão de que são os macro temas e as grandes

questões que são importantes porque é lá que reside o poder. O resultado é

que boa parte da mobilização social tem se orientado para o terreno das

políticas públicas – as grandes orientações que, supostamente, fornecem os

rumos das múltiplas ações das organizações, agências e repartições públicas.

O que é erroneamente concebido como a máquina pública.

Erroneamente e também ilusório, porque não são máquinas que podem

ser orientadas e deixadas para seguir instruções. São ligações e arranjos

20

complexos entre pessoas e tarefas, onde há múltiplas opções para ação, e

múltiplas maneiras de concretizar políticas e planos.

Nesta complexidade, exige-se não somente a aderência a regras e

procedimentos, mas também o uso do bom senso. Entretanto, bom senso

pode ser senso, mais o bom depende da perspectiva intersubjetiva de sua

produção – de conversas entre profissionais tendo como referência posições

de profissão, de categoria, de grupo político ou de teorias práticas sobre ação

social.

Orçamento é, sim, um instrumento de gestão: de planejamento, de

monitoramento e de controle (no duplo sentido de que o previsto a ser feito

serve também para definir como vai ser feito e quando e, também, o que não

vai ser feito). Enquanto instrumento de planejamento, os orçamentos públicos

refletem não somente estratégias e teorias sobre ação, mas também as

relações de poder explícita e implicitamente presentes na disputa para os

espaços e as prioridades.

CAPÍTULO II

A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA

Podemos começar a falar sobre cidadania como um contrato social,ou

seja um complexo de direitos e deveres que cada um tem para com os outros,

pressuposto da existência da lei para que seja cumprida, para isso é

necessário pessoas interessadas em seu cumprimento. Um povo livre, criativo

e com personalidade.

Segundo Jaime Pinsky, a cidadania não é, contudo, uma concepção

abstrata, mas uma prática cotidiana. Ser cidadão não é simplesmente

conhecer, mas, sim, viver. Costuma-se dizer que a cidadania, como a

liberdade, não pode ser outorgada, mas, sim, conquistada. Se isso é

verdadeiro, não é menos verdadeiro que cabe a nós, educadores, um papel

21

fundamental no sentido de ampliar o debate sobre a questão fundamental no

sentido de ampliar o debate sobre a questão da cidadania e os limites

impostos à sua prática. Uma boa maneira de fazê-lo seria meditarmos um

pouco sobre a dificuldade que encontramos para exercer plenamente a nossa

cidadania e sobre as barreiras que impedem a nossa cidadania e sobre as

barreiras que impedem a sua prática. Podemos dizer que muitas das

dificuldades têm a ver com a nossa História, com a maneira como a Nação

brasileira surgiu e como ela se articula com o estado. De fato, em nosso país,

o Estado precedeu a Nação, ao contrário do que ocorreu em outros países. Em

1822, estabeleceu-se como instituição jurídica o Estado brasileiro sem que

houvesse ainda uma Nação brasileira. Em outras palavras, cria-se uma

instituição jurídica sem a existência da correspondente base social.

Na escola viva, o educador serve como um encorajador ao educando.

Em contra partida na escola burguesa recebe-se um tipo de ensino

diferenciado da ilusão de educação que é oferecida à classe proletária, como o

de ler e escrever, uma escola de ensino decorativo, enfim que faz armazenar

uma quantidade de conhecimento inúteis, supérfluos, que confundem a

cabeça, logo, forjam os dóceis criados de que necessitam os capitalistas.

“O saber é imprescindível, porquanto a ignorância é violência contra o

indivíduo. Não basta legislar. Sem a responsabilidade individual e coletiva,

nada funciona, porque ‘a lei é uma imposição: podem impor a freqüência à

escola, mas não podem obrigar a aprender, e, se aprender, não podem obrigar

a não esquecer’” (GRAMSCi, 1975, p.81-82)

“Ao mestre compete criar os pressupostos para a superação da

sociedade atual, apresentando valores que possibilitem esta superação. Isto

implica que o mestre também se eduque, adaptando–se aos contrastes. É isto

que significa a advertência de Marx: ‘educar o educador’”. (JESUS, 2005, p.79)

Em uma sociedade em que as diferenças de classes, a formação

intelectual e política são interesses dos ricos, as idéias e o pensamento de

Gramsci não seriam vistos de maneira aceitável pela classe dominante. Havia

a necessidade de libertação das classes subalternas, que só seria possível

22

através de um esforço educacional concentrado, tendo que superar um

sistema educacional que beneficiava os ricos.

Uma nação é viabilizada mediante direitos a cidadania, logo cabe

também ao estado proporcionar aos seus cidadãos as mesmas oportunidades,

a fim de obter uma sociedade igualitária, que é o princípio básico de nossa

constituição. Acesso mínimo que possa incluir o habitante do país na condição

de cidadão.

Segundo Lígia Pavan, “é importante compreender que cidadania não

deve ser vista como uma condição passiva e privilegiada de poucos, mas sim

como um direito e um dever de cada cidadão. O vínculo entre a cidadania e

educação já foi ressaltado pelo ministro Ubiratan Aguiar na abertura do evento

“Diálogo Público” em Salvador no qual tive a honra de participar, quando

enfatizou que não existem cidadãos sem a educação adequada.

Hoje, a cidadania não é mais exercida de maneira direta, mas de forma

representativa. Eleitos pelo voto segundo o critério da maioria, os

representantes devem agir em nome daqueles que o instituíram. O conceito de

democracia representativa é definida por Bobbio como um sistema onde

qualquer deliberação sobre qualquer assunto coletivo é feita não diretamente,

mas por pessoas eleitas para esta finalidade.

Entretanto, é preciso ressaltar que o exercício da cidadania não deve

ser reduzido ao direito de escolha dos representantes no momento do voto. É

falsa a crença de que o exercício da cidadania se resume no momento do voto

em períodos de eleição.

Tanto no sentido antigo quanto moderno, a cidadania deve ser

compreendida como uma atividade permanente. Implica além do voto uma

atividade permanente de conhecimento e educação que o precede, assim

como uma atividade de fiscalização que seria posterior ao momento da

eleição.

Na busca permanente do bem público, a escolha de um representante

implica não somente o momento da eleição, mas igualmente um trabalho

constante de informação e fiscalização. No processo seletivo de escolha livre e

democrática dos representantes direitos e deveres dos cidadãos se

23

confundem. Respectivamente, a educação preventiva, o voto e a fiscalização

da ação dos representantes são simultaneamente direitos e deveres cívicos de

cada cidadão.

É cada vez mais visível a conscientização de que o exercício da

cidadania implica três etapas distintas: uma preocupação constante com a

própria consciência política, que antecede o momento do voto, numa segunda

etapa, o próprio voto, um direito civil que no Brasil e alguns outros poucos

países do mundo é também um dever e, finalmente, numa terceira etapa, a

atividade cidadã impõe a o controle permanente das ações dos representantes

eleitos.

Enfatizando o papel da educação adequada sobre os temas da política

no sentido de ressaltar a unidade entre direito e dever do cidadão devemos

lembrar as palavras de Rousseau no prefácio de sua obra Do Contrato Social:

“Tendo nascido cidadão de um Estado livre e membro do soberano, embora

fraca seja a influência que minha opinião possa ter nos negócios públicos, o

direito de neles votar basta para impor o dever de instruir-me a seu respeito....”

(Rousseau, Do Contrato Social, Prefácio)”

O capitalismo retém toda ação de direitos iguais, força uma visão do

mundo fatalista, inibindo as classes subalternas no processo de transformação

histórica e social. A mudança no modo de se intelectualizar, teria que adotar,

simplesmente, o socialismo como meta. A educação como instrumento da

classe operária, que valoriza o homem e reconhece sua capacidade.

Contudo, podemos verificar que no decorrer da existência humana o

homem foi em busca do aperfeiçoamento do sistema social, em busca de

soluções para os problemas existentes que atendem aos próprios interesses

humanos, mas não existe um modelo a ser seguido, é preciso que cada nação

desenvolva políticas que respondam as suas particularidades.

O homem não devia ser apenas um programa de computador, que só

armazena dados. Para Gramsci, haveria uma necessidade de enxergar todo o

universo a sua volta, ter um raciocínio amplo, intelectual, dominar as áreas

política, conhecer a sociedade, se encher de saber, independente das classes

sociais e de interesses de manipulação, sem visar o domínio do mais rico

24

sobre os mais pobres, igualdade para todos. Gramsci partia do princípio da

formação educacional e seu ponto de atuação reflete, até hoje, em todo o

mundo. O que foi e é, pouco aceito pelos que dominam. De certo que o povo

deveria ter o direito de igualdade perante a lei podendo decidir politicamente

sobre ela. Contudo, sem uma estrutura econômica, social, educacional e

política torna-se impossível a execução de tais papéis.

Conquistar um conhecimento crítico, autônomo e criativo é crucial para a

liberdade, para interpretação da realidade e participação, com conhecimento

as classes subalternas farão parte da história e construirão seu próprio legado.

A superação do saber visa um contínuo aprendizado, onde a educação da

classe operária serve como instrumento, que valoriza o homem e reconhece

sua capacidade. Gramsci se refere à história como instrumento que ratifica os

acontecimentos de um determinado episódio ou período histórico.

Para uma educação plena também constam as noções de política, pois

chegando o povo ao governo, precisariam compreender o seu funcionamento,

para agir de forma a luz do conhecimento e ver de forma ampliada o que há

para construir em termos de uma sociedade melhor.

A escola é importante no sentido da organização desses conteúdos, da

familiarização das experiências cotidianas com os saberes elaborados, para

produção de um saber superior. A classe proletária se coloca como incapaz,

ela tem medo de se expressar por acreditar não ter valor. Com isso, o burguês

toma para si a função de produzir idéias, dar direção, ter opiniões e a classe

proletária se submete.

Diante desta escola desejada por Gramsci, podemos visualizar que a

realidade hoje está bem aquém do esperado por ele. Logo, faz-se necessário

uma reforma educacional, afim de que a classe proletária possa também ter

acesso aos conhecimentos e saberes que lhe proporcionarão meios de

libertar-se e promover a tão sonhada revolução gramsciana.

Não existe uma “fórmula mágica”, pois o novo é apenas um imenso

campo de possibilidades a ser descoberto, então Gramsci defendia os

processos de educação moderna para todos, pois as novas forças sociais

cabem organizar e trabalhar para fazer da história contemporânea a geração

25

de um novo cidadão. “A primeira emancipação da servidão política é a do

espírito”. (JESUS, 2005, prefácio)

Segundo Bahige Fadel, “a escola pública, como qualquer escola, deve

continuar seu trabalho de formar cidadãos. Mas esse trabalho nunca atingirá

sua plenitude se não forem dados a esses cidadãos conhecimentos que lhes

permitam competir em igualdade de condições com outros cidadãos. Caso isso

não aconteça, corremos o risco de formar, de um lado, cidadãos de primeira

classe e, de outro, cidadãos de segunda classe. Pior do que isso, corremos o

risco de criar um abismo entre o cidadão que tem mais conhecimentos — não

porque é melhor, mas porque teve mais oportunidades — e aquele que tem

menos conhecimentos — não porque é pior, mas porque teve menos

oportunidades.

A gente sabe que tudo isso requer muito dinheiro e, pelo que se fala,

não há grandes sobras de dinheiro nos cofres públicos. É aí que entra a

criatividade. É aí que entra a colaboração de todos. Um país melhor e mais

justo não é responsabilidade só do governo, mas de toda a sociedade.”

A igualdade entre classes é algo que se torna cada vez mais difícil em

todo mundo, à medida que nos tornamos praticantes de um sistema

interessado na obtenção do capital. Cada vez mais há uma má distribuição de

renda, as vozes que vêm de baixo, são menos ouvidas, as decisões em geral,

são regidas pela minoria rica. E assim, as idéias revolucionárias de Gramsci e

Marx, defensores da igualdade, são colocadas de lado.

Com os sistemas de educação vigentes, os filhos das classes

trabalhadoras estão sujeitas a seguir os mesmos caminhos, não por opção,

mas por uma condição pré-estabelecida a sua classe que não recebe

educação de ponta, voltada para a estruturação intelectual e social tanto

defendida por Gramsci, conseqüentemente, farão parte da massa dominada,

sujeito a determinações de minoria rica em todos os aspectos, seja econômica,

seja política, enfim, a vontade de poucos sobressaindo sobre a vida de muitos.

O processo educacional do pobre é diferente do rico. Enquanto aos

ricos destinam-se os cargos de maior remuneração financeira, o pobre se

submete a subempregos, com salários muito inferiores. Gramsci defendia uma

26

igualdade, daí o motivo dele se classificar como um revolucionário. Logo, para

que isso se torne possível, façamos a nossa própria revolução por

reivindicações a uma melhor qualidade de ensino oferecida à classe

trabalhadora, para que então possamos chegar ao clímax da teoria gramsciana

que é o Estado Proletário.

Cabe salientar que o importante é que a educação não pode ser um

projeto tão somente do governo, ou de uma minoria da sociedade, pelo

contrário, deve ser um projeto do e para todo o Brasil.

Segundo Cadernos Gestão Pública e Cidadania Volume 10, “as

iniciativas procuram a ”administração pelo público”, o que, sem dúvida,

representa um avanço importante, mas cabe indagar até que ponto, de fato,

constituem mudanças em profundidade, já que todas elas conservam a

representação do Estado como “construtor” da cidadania. Essa representação

nada tem de novidade, constituindo o cerne da visão elitista que permeou a

história política brasileira, desde o Império.

A necessidade de rever os critérios correntes de avaliação das práticas

de gestão participativa, de modo a considerar fatores como os tipos e o

percurso da cidadania em cada região ou localidade, as percepções e atitudes

dos sujeitos sociais envolvidos, a estrutura do processo decisório

governamental e as redes institucionais que garantem a eficácia e

continuidade da participação.

2.1 - Uma Breve Digressão sobre Cidadania (segundo cadernos gestão

pública e cidadania volume 05)

A visão clássica sobre cidadania foi colocada por T.H. Marshall,

tomando por base os países onde se desenvolveu a democracia de uma forma

mais completa, mais especificamente a Inglaterra. Em sua interpretação, que

corresponde aos fatos da história, os direitos surgiram de uma maneira

seqüenciada: inicia-se com os direitos civis implantados durante o século XVIII.

Uma vez assegurados estes o passo seguinte foi a conquista dos direitos

27

políticos já no século XIX e que consolidados, seguiu-se a implantação dos

direitos sociais agora no século XX, no bojo da social-democracia. Como pode-

se observar pelas datas, a construção da cidadania foi um processo

extremamente lento, tanto na maioria dos países da Europa Ocidental como

nos Estados Unidos . No caso brasileiro, entretanto, esta seqüência não se

observa. A Constituição de 1824, nos diz Carvalho (1992) implantou de uma só

vez tanto os direitos civis como políticos, implantação esta de cima para baixo,

“quase sem luta” (Carvalho, 1992). Esses direitos civis, no entanto, eram

extremamente restritos dado que conviviam com a instituição da escravidão.

Para Carvalho (1992), “a existência dos direitos políticos sem o prévio

desenvolvimento de direitos civis, da convicção única da liberdade individual e

dos limites do poder do Estado, redunda num exercício falho da cidadania

política”. Carvalho classifica como “peculiar” a situação brasileira, pois os

direitos sociais, os derradeiros no esquema clássico, implantaram-se antes dos

direitos políticos. Diz não desconhecer a importância das lutas populares pré-

1930, mas esses direitos foram introduzidos em um período de ditadura, no

Estado Novo, e novamente sem maiores lutas populares.

O que Carvalho parece estar enfatizando é o fato dos direitos, de uma

forma ampla, no Brasil serem mais iniciativa do Estado do que da própria

sociedade. Isto não quer dizer que se está negando a existência da sociedade

civil mas que frente ao poder de iniciativa e de ação do Estado a capacidade

propositiva da sociedade no Brasil é muito menor. Isto conduz ao que Carvalho

chama de “precariedade” da cidadania no Brasil, precariedade esta assentada

no desenvolvimento frágil dos direitos civis, base para a colocação dos direitos

políticos. “Esta falha, este defeito de origem, permeia a sociedade de alto a

baixo”(Carvalho, 1992).

Para Carvalho, constata-se a ausência de espírito cívico, uma das

heranças da escravidão dado que os valores da escravidão invadiram todas as

classes sociais. Cardoso (1992) também destaca o fato de que a noção de

cidadania convivia com a escravidão e que, mesmo até 1930 apenas uns 3%

da população tinha acesso ao voto. Para ele, a cidadania era apenas uma

idéia que na prática era distanciada das condições de existência da população,

28

o que representava uma espécie de “deformação” da cidadania. Em sua visão,

essa situação é mantida até hoje, dado que uma parcela da população pelo

seu nível de carências culturais e materiais dificilmente pode estar englobada

na idéia de cidadania, caso dos analfabetos, por exemplo. Na mesma linha,

Weffort (1992) entende que estamos em uma sociedade com uma

desigualdade social de tal escala que a noção de igualdade, implícita na idéia

de cidadania, não tem como se realizar para o conjunto da população.

Em seu entender, “cidadãos são os que têm capacidade de se

organizar. São os que têm recursos materiais mínimos” (Weffort, 1992), ou

seja, “os cidadãos são a minoria”. Estão fora desse conjunto “a massa dos

pobres, a massa dos desorganizados” (Weffort, 1992).

Da Matta (1992) aponta a ausência de uma verdadeira cultura da

cidadania, entendida esta como uma cultura igualitária, aberta à mobilidade

onde os direitos individuais são contemplados efetivamente na prática social e

não apenas na lei. Da Matta apresenta uma visão completamente diferenciada

de cidadania ao afirmar que “ninguém quer efetivamente ser no Brasil é

cidadão” pois isto implica em “estar sujeito à lei geral e ao anonimato” (Da

Matta, 1992). Ele argumenta que no Brasil são recriadas as antigas

aristocracias com a característica aristocrática da desigualdade apesar de toda

a idéia de moderno. Da Matta aponta a “nossa inabalável tradição familística”

que impede o conceito pleno de cidadania moderna assim como “a ausência

de confiança na vida pública” e o fato das relações pessoais terem muito mais

peso que as leis. Da Matta (1992) argumenta que no Brasil, “é o conjunto de

relações pessoais nascidas na família que tende a englobar (e perverter) o

mundo político, não o contrário”. Ele identifica uma “tradição jurídica e política

centralizadora, que faz com que o sistema seja perpetuamente dependente do

Estado - de um Estado familisticamente contaminado e muito autoritário”. Está

implícita a idéia “perversa” de que a democracia no Brasil é impossível e que a

“boa cidadania só existe quando há uma relação”. Ele fala de um poder à

brasileira, que corresponde a dispor da liberdade sem limites, traduzido na

“capacidade de cada um tirar o que puder do domínio público”.

29

Maria Vitória Benevides (1994) vai buscar as raízes da idéia de

cidadania na Revolução Francesa, e mostra que já ao final do século XVIII

estava comprometida a natureza igualitária da noção moderna de cidadania.

No caso brasileiro, ela identifica a noção de cidadania permeada por “certa

dose de ambigüidade”, e isto tanto na visão mais progressista, da “esquerda”

como na perspectiva mais conservadora, de “direita”. Benevides (1994),

considera que, a cidadania é para a esquerda apenas aparência de

democracia dado que discrimina os cidadãos em classes de cidadania, o que

acaba por reforçar a desigualdade. Para setores da direita, diz Benevides

(1994), a cidadania torna-se “indesejável” e “ameaçadora” por ter implícita a

idéia de igualdade, ainda que apenas jurídica. Assim, consideram a

desigualdade legítima, e nós agregaríamos desejável. Para a direita, diz ela,

“os de baixo” são as classes perigosas e as elites dependem, para

manutenção de seus privilégios, do reconhecimento explícito da hierarquia

(Benevides, 1994). No contexto do liberalismo, os direitos são vistos como

concessões, não como “prestações legítimas para cidadãos livres e iguais

perante a lei, mas como benesses para protegidos, tutelados, clientelas”

(Benevides, 1994). Esta realidade assenta-se no que Benevides (1994) chama

de “extrema privatização da política”, gerada pela permanência de um Estado

patrimonialista onde predominam relações de conciliação, do coronelismo e de

várias formas de clientelismo.

Maria Vitória Benevides contrapõe concessões a direitos. “Concessões

... configuram a cidadania passiva, excludente, predominante nas sociedades

autoritárias”. Ela aponta que a nossa modernização conservadora (que tem

seu início em Vargas) empreendeu reformas institucionais, econômicas e

sociais no sentido de ampliação de direitos, mas não promoveu, “no sentido

democrático”, o acesso à justiça, à segurança, a distribuição de renda, à

estrutura agrária, à saúde. Nessas condições, “a cidadania permaneceu

parcial, desequilibrada, excludente”. Em sua análise, direitos são entendidos

na situação brasileira mais como privilégios, e “só para alguns e sob

determinadas condições” (Benevides, 1994).

30

Benevides (1994) qualifica direitos, no sentido estrito, tendo por objeto

uma intervenção, uma ação, uma prestação do Estado ou de particulares tais

como salários, educação, previdência social, etc. Ela distingue ainda direitos

humanos, como aqueles inerentes a toda pessoa humana, os direitos do

cidadão, sendo que estes variam de acordo com as nacionalidades. E

adiciona, que a ausência de “cidadania” não implica a ausência de direitos

humanos.

2.2 - Perspectivas para a Cidadania no Brasil (segundo cadernos gestão

pública e cidadania volume 05)

Após esta breve revisão das bases históricas mais amplas e específica

do Brasil da questão da cidadania, vamos desenvolver, ainda que

sumariamente, as perspectivas para a cidadania no Brasil. Carvalho (1992)

pergunta se o fato de termos desenvolvido mais os direitos políticos e sociais

do que os civis nos condena à “perpétua infantilidade democrática”? Ele

acredita que não, porque o exercício “sustentado” dos direitos políticos pode

acabar por possibilitar a “maturação” dos direitos civis. Na mesma linha,

Benevides (1994) sustenta que os direitos políticos favorecem a organização

para reclamar direitos sociais., criando-se espaços sociais de lutas. Isto leva a

distinguir a cidadania passiva, outorgada pelo Estado, da cidadania ativa, que

vê o cidadão como portador de direitos e deveres, “mas essencialmente criador

de direitos para abrir novos espaços de participação política” (Benevides,

1994).

Em termos concretos propositivos, Carvalho (1992) localiza na melhoria

do sistema judiciário um caminho necessário para a fortificação da idéia de

cidadania. Para ele, a justiça no Brasil existe apenas para uma minoria, os

“doutores”. Para a maioria existe, diz ele, o Código Penal, não o Civil, enquanto

para os “doutores” existe apenas o Código Civil. Para Weffort (1992), dadas as

condições sociais e econômicas “difíceis” existentes no Brasil, “a formação da

cidadania vai além do tema da cidadania”. Para ele, esta formação passa pela

consolidação das instituições da cidadania mas também pelo desenvolvimento

31

econômico e social do país, sendo um fenômeno da área de educação, da

cultura, da capacidade de organização das pessoas (Weffort, 1992).

No entender de Cardoso (1992), apesar de todos os “condicionamentos

negativos” da realidade brasileira, a existência de um “conjunto grande da

população de certa forma aberta à participação pela lei”, assim como a

capacidade de exercer algum tipo de pressão, torna-se um fato positivo na

comparação com outras realidades. Ele entende como positivo o fato de que,

se ainda existe exclusão no Brasil esta se faz na prática mas não na lei. Como

positivo ele entende, ou entendia, a “forte participação política” advinda do

movimento sindical do ABC. De uma forma mais ampla, Cardoso (1992)

entende que no Brasil “a rapidez com que se dá o processo de salto na história

é muito grande” e isto ocorre também na questão da cidadania, acrescenta ele.

Em síntese, Cardoso (1992) visualiza que as possibilidades da cidadania no

Brasil são “inúmeras”, maiores do que normalmente se imagina diz. Em relação

ao padrão clássico, Cardoso observa que a formação da cidadania no Brasil

não segue o padrão da Inglaterra “mas como ela pode se dar num país como o

Brasil” (Cardoso, 1992). Mesmo sem direitos sociais assegurados e com a

presença da fome Cardoso (1992) diz que é possível desfazer a imagem de

que a cidadania é impossível no Brasil.

Benevides (1994) pergunta como numa sociedade tão marcada por

desigualdades e desequilíbrios, é possível implantar e fazer funcionar as

formas mais avançadas de democracia participativa. A resposta em sua visão

está na educação política, entendida como educação para a cidadania e isto

passa pela garantia da “informação e consolidação institucional de canais

abertos para a participação com pluralismo e com liberdade”. Ela discorda de

Cardoso (1992) ao colocar que apesar da elevação significativa do número de

eleitores no Brasil, que liberdade de escolha tem o analfabeto, “afogado na luta

pela sobrevivência? “além do abuso do poder econômico e da concentração de

renda.”

Podemos agora, de posse dessas contribuições, buscar uma síntese

das principais características a nosso ver da cidadania no Brasil. A situação no

Brasil tem sido apontada como peculiar visto a emergência dos direitos sociais

32

antes dos políticos e o frágil desenvolvimento dos direitos civis. Mesmo os

direitos existentes, no entanto, são considerados em muitos casos “letra

morta”. As causas dessa realidade são bem conhecidas: uma escravidão

resistente, duradoura, cujos efeitos se fazem sentir ainda hoje nas

mentalidades de setores da sociedade brasileira; um Estado Patrimonialista

que de tempos em tempos mostra que não está superado, entre outras. Se até

1888 tínhamos a escravidão, que afastava da possibilidade de cidadania um

vasto segmento da população, depois dessa data e até 1930 “a questão social

era um caso de polícia”, o que não abria espaço para a cidadania e a partir dos

anos 40 a implantação do salário mínimo mantém rebaixado o padrão de vida

da massa trabalhadora. A seguir este espaço se abre mas muito mais como

uma iniciativa do Estado, já num regime abertamente tutelar, ditatorial. O

interregno democrático de 1946/64 é onde se criam as maiores possibilidades

de ampliação da cidadania mas não só pela presença do pressuposto básico -

o regime democrático - mas também pelo crescimento econômico sustentado.

Com o regime de 1964, de caráter autoritário, centralizador, refluem as

expectativas de cidadania. Chegamos aos dias de hoje com um déficit

estrutural na questão da cidadania, resultado de uma herança secular.

O que vamos fazer agora é examinar as possibilidades de consolidação

e ampliação da cidadania no Brasil no momento presente e no futuro. Em

primeiro lugar, deve ser registrado que a construção da cidadania, como vimos,

é um processo lento, mesmo nos países hoje de democracia consolidada. Em

outras palavras, isto quer dizer que não vamos tirar o atraso da noite para o dia

na construção da cidadania no Brasil. Em segundo lugar, cabe argumentar que

vivemos sob o manto de regimes autocráticos, a democracia razoavelmente

plena foi uma exceção entre nós. Porém é razoável argumentar que parece

que a democracia se enraizou no Brasil nos últimos anos, e mostra uma

possibilidade concreta de afirmação e evolução. E a democracia como valor

maior é pré-requisito fundamental para a cidadania. A embaralhar esta visão

está o modelo neoliberal com a exclusão social e econômica como valor

máximo. Porém, a vitalidade da sociedade, baseada em valores democráticos

desejáveis de preservar, pode se contrapor, em parte, a este modelo. Parece

33

improdutivo ficar olhando muito para o passado até porque este é muito

diferente do presente. Assim, vencido o modelo autocrático de 1964 não

adianta, não cabe mais buscar o que havia antes de 1964 pois a realidade do

país já é muito diferente. Em outras palavras, a base democrática do pós-64

além de ser muito diferente da democracia vivida no período 1946/64 - nossa

última referência democrática - parece ser muito mais sólida e ampla do que a

do período citado. Isto representa maiores possibilidades de afirmação da

cidadania no nosso presente e futuro. Se cidadãos são os que se organizam,

os que têm capacidade de se organizar, a sociedade brasileira parece exibir

uma capacidade maior de organização, de exercer pressão sobre seus

dirigentes, de participar mais da vida política. Os projetos apresentados no

Programa Gestão Pública e Cidadania podem ser entendidos como uma

manifestação desta tendência, mostram de maneira generalizada o governo

local no Brasil muito mais ativo e voltado para a sociedade, certamente porque

esta está mais atenta, cobradora e participativa. Não há dúvida, convergindo

com a maioria dos autores apresentados, que ainda estamos longe de uma

cidadania plena, que vigora mais a idéia de privilégios do que de direitos, que,

principalmente o judiciário no Brasil parece ser o calcanhar de Aquiles de

nosso déficit de cidadania, mas a medida que passos são dados, e tornados

públicos, cria-se uma sinergia no sentido da evolução da idéia e da prática da

cidadania.

34

CAPÍTULO III

O PRINCÍPIO EDUCATIVO EM GRAMSCI

A escola surge como uma solução aos problemas postos pela

sociedade, contudo ela não chega de forma igualitária a todos, apesar de já

existir desde a Grécia a escola sempre foi elitizada, podemos verificar que

existem duas escolas distintas, uma dedicada à elite e outra a classe

trabalhadora. Saviani aponta um preceito básico: "À medida que o problema da

ignorância e do analfabetismo existe, cabe à educação responder a este

problema através da instrução, ou seja, instruindo os cidadãos e alfabetizando

os indivíduos”.(SAVIANI, 1991, p.42)

Podemos compreender isto como um instrumento de libertação dos

oprimidos, pois quando o indivíduo não tem consciência da sua realidade não

pode lutar por ela. Para Saviani, cabe ao professor ser um agente social ativo,

comprometido com as transformações da sociedade. O autor se refere à

educação como sendo “uma atividade que supõe uma heterogeneidade real e

uma homogeneidade possível; uma desigualdade no ponto de partida e uma

igualdade no ponto de chegada”.(SAVIANI, 1985, p.76). Atenta para as

pedagogias adotadas no sentido de que não são somente elas o problema da

educação, não existe uma pedagogia de um todo errada, mas o que existe é

uma aplicação equivocada dos conceitos, pois independente da pedagogia

adotada se o profissional não estiver comprometido com esta transformação o

seu método será inválido. A escola deve ser aquela que oferece acesso ao

conhecimento elaborado, objetivo, produzido historicamente, para que os

conduza a uma visão do que se deseja que seja uma sociedade igualitária.

Enfim, a educação como um elemento mediador de transformação.

É fato que a sociedade em que vivemos é dividida em classes opostas

que possuem interesses distintos. Contudo a recusa de uma educação

igualitária é a negação da cidadania às classes trabalhadoras, pois não lhe dá

35

condições de aquisição de conhecimentos para direito à vida no sentido pleno

quanto ao seu papel no universo.

Gramsci acreditava na escola como forma de mudança e libertação. Ele

é fruto do que prega, pois veio de uma ilha (Sardenha) e dez anos após seu

nascimento, um estudo foi realizado por doutores antropólogos parisienses,

como: d’Hercourt, Letouneau, Eugene Dally, Mortillet, Bonafont, Hovelacque,

Cinderau e André Sanson, para responder a questão: “Os sardos são

inteligentes?” 1. Atualmente, sabemos que não existe mais tal estilo de

pesquisa. O que ocorre são indivíduos que não recebem os estímulos

necessários e/ou adequados fazendo com que os leve a uma dificuldade

intelectual. Por este motivo, a luta de Gramsci para que todos tenham acesso

pleno aos saberes científicos e culturais.

Gramsci busca, através da educação uma formação do homem

verdadeiramente livre, sendo este alcançado por intermédio de um

empreendimento intelectual pleno e pela análise concreta de situações reais

que podem trabalhar a questão do cidadão crítico, do desenvolvimento, da

tomada de decisão, do posicionamento político e visualização da realidade

como exercício pleno da cidadania. “O profundo amor que Gramsci tem pela

igualdade rejeita qualquer rebaixamento cultural e escolar com vistas a

proteger ou assistir os pobres: estes precisam da igualdade de condições para

estudar”.(NOSELLA, 2004, p.47).

Além de um ávido leitor de Marx, Gramsci vai além, dá saltos para essas

teorias. Seu interesse “era formar pessoas com visão ampla, complexa, porque

governar é uma função difícil”. (NOSELLA, 2004, p.42). Para ele o Estado era

necessário, diante de uma sociedade organizada que precisa de um meio

representativo, onde o interesse e manutenção dessa seja preservado.

Utilizou-se também dos escritos de Maquiavel, nos cadernos, onde dizia:

“É precisamente nisto que consiste o caráter ao mesmo tempo

democrático e revolucionário de Maquiavel, já que seu ensinamento consiste

em” revelar “a” quem não sabe “. Em outras palavras: ensinar ao povo, ou à

36

classe revolucionária de seu tempo, os segredos do poder e da política”

(COUTINHO e TEIXEIRA, 2003, p. 140).

Gramsci fala sobre uma escola que dá condições a todos de chegarem

ao poder, de governar. Acreditava na luta de classes, mas observava a

educação como instrumento de construção de uma hegemonia popular. Para

ele, a escola deveria formar o aluno como um todo, profissional, intelectual,

ético, crítico e cultural para que tenha condições de escolher o que deseja e

não, como podemos observar hoje, o direcionamento de algumas profissões

para as classes populares. Também chamou a atenção para a possibilidade de

alcançar uma melhor qualidade de vida, através do esclarecimento que

contribui para a elevação cultural da população. Por isso, dizia:

“É preciso desacostumar-se e parar de conceber a cultura como saber

enciclopédico, para a qual o homem é um recipiente a ser enchido e no qual

devem ser depositados dados empíricos, fatos brutos, e desarticulados (...).

Esta forma de cultura é realmente prejudicial sobretudo para o proletariado

(...). Esta não é cultura, é pedanteria, não é inteligência, é intelecto; e contra

ela com razão se deve reagir. A cultura é algo bem diferente. É organização,

disciplina do próprio eu interior, é tomada de posse de sua própria

personalidade, é conquistar uma consciência superior, através da qual

consegue-se compreender seu próprio valor histórico, sua própria função na

vida, seus direitos e seus deveres. Mas tudo isso não acontece por evolução

espontânea (...). Esta consciência não se forma pela força brutal das

necessidades físicas, e sim pela reflexão inteligente, primeiro de alguns e em

seguida de toda uma classe, sobre as razões de certos fatos e sobre os meios

melhores para transformá-las de condição de servidão em bandeira de revolta

e de reconstrução social. Toda revolução foi precedida por um intenso trabalho

de crítica, de penetração cultural, de difusão de idéias (...). O mesmo

fenômeno repete-se hoje para o socialismo. É através da crítica à civilização

capitalista que se formou ou estamos formando a consciência unitária do

proletariado; e crítica quer dizer cultura e jamais evolução espontânea e

1 La Città Futura (1917-1918), Torino, Einaudi Editori, 1982 – MATONE, Isardi sono inteligento? Um debateto Del 1882 alla società d’Antropologia de Parigi, in Storici, v.3, anno 27: pp.701-718,1986) apud

37

naturalista (...). Se é verdade que a história universal é uma cadeia dos

esforços que o homem fez para se libertar dos privilégios, dos preconceitos e

das idolatrias, não se compreende porque o proletariado, que outro elo quer

acrescentar àquela cadeia, não deva conhecer como , o porquê e por quem foi

precedido, e o proveito que possa tirar deste saber” (GRAMSCI, 1980, 100-

103)

Gramsci não toma decisões aleatórias. Ele parte de análises profundas

que lhe dão suporte à decisão por um determinado caminho. Era polêmico e

em um desses momentos. Em 1916, o Ministério da Educação da Rússia,

sugere renovar toda a escola à luz da idéia de unidade do trabalho com

cultura. Contudo, Gramsci não se convence das boas intenções, pois vê nisso

a apropriação de argumentos utilizados pela tradição socialista, de forma

distorcida. Neste sentido o socialismo sugere uma escola do trabalho

‘desinteressada’, sem vínculos, com horizonte amplo, de alcance longo, que

interessa a coletividade e até a humanidade, enquanto o Estado pensa nela

interesseiramente, sendo o governo composto por membros das classes

burguesas.

Na primeira guerra mundial é que, de fato, Gramsci se remete ao debate

político, ele é contra esta guerra e opta pela neutralidade, pois não acreditava

no apoio a uma guerra que não defendia os interesses do proletariado,

contudo esta suposta neutralidade não era absoluta e sim ativa e operante,

pois visualizava que aquele momento poderia ser propicio a formação dos

quadros necessários à tomada do poder estatal pelo proletariado.

Acreditava que o partido socialista não possuía um, plano para a

educação que se diferenciasse das demais. A educação aos operários, para

Gramsci, não deveria partir do livro do saber oficial, mas deveria ser classista,

para não serem inculcados neles valores e interesses presentes naqueles

métodos enciclopédicos e abstratos postos pela burguesia. À classe proletária

sobra as migalhas da educação. Ela precisa de uma escola desinteressada

que lhe proporcione possibilidades de se formar, de se tornar homem, de

adquirir critérios gerais para desenvolvimento do caráter, enfim, uma escola

JESUS, 2005,p.18)

38

que não engesse o futuro do aluno, mas o liberte para que não se torne um

mero reprodutor do sistema. Essa educação se fará de forma eficaz a partir do

momento em que se encontre o método adequado de aproximação ao mundo

do conhecimento, caso contrário será construído um exército de pessoas que

freqüentam um lugar que lhes é oferecido alimento na hora da fome e que no

outro dia tem que retornar, pois a fome voltou.

Segundo Gramsci, na escola do trabalho não existe protecionismo nem

mesmo para o proletariado, mas um oferecimento igualitário de meios

necessários à sua própria elevação interior e à valorização das boas

qualidades de cada um. Não admitia a simplificação do saber para a classe

operária com o argumento de que ela não seria capaz assim como a elite de

realizar uma análise ou compreender os conteúdos dados na sua totalidade.

Os conteúdos podem até adaptar-se ao nível médio da clientela, no entanto, o

tom dos conhecimentos devem estar um pouco acima para estimular o

progresso intelectual, afim de que consolide uma visão crítica superior aos

escritos e discursos reproduzidos dos livros. Então:

“Falar-lhes com uma linguagem pobre, é empobrecer o raciocínio e

deformar a problemática. (...) Gramsci sustenta que o mais importante é criar

um ambiente cultural rico, orgânico, de amplos horizontes, um ambiente

democraticamente participativo, pois não se alfabetiza “á força” e sim a quem

se motivou para ler e escrever durante a discussão cultural.” (NOSELLA, 2004,

p. 60-61)

A escola deveria ser capaz de levar aos indivíduos de todas as classes,

sobretudo às classes subalternas, uma condição sine qua non2 de

esclarecimento, de conhecimento, de saberes, de direitos e deveres para

transformação e elevação cultural e não conformismo e reprodução. O

oferecimento igualitário da educação é uma forma democrática de

oportunidades à sociedade como um todo. Contudo, o Estado é dirigido

claramente por uma elite que não se interessa pelo esclarecimento da

população, para não comprometer sua eficaz manipulação. Por isso, Gramsci

diz, “O problema da escola é ao mesmo tempo problema técnico e

2 condição essencial; sem a qual não;

39

político”.(NOSELLA, 2004). Técnico para fins de adequação de métodos, e

político no tocante a questão de quem exerce o poder de Estado.

É certo que as instituições de ensino devem proporcionar uma educação

voltada para um desenvolvimento e conhecimento intelectual pleno. Mas, para

que isso ocorra, cabe também aos cidadãos ter uma disposição e vontade de

busca a tais conhecimentos e desenvolvimento, independente das

circunstâncias e dificuldades.

Gramsci possui objetivos claramente emancipatórios:

“Em qualquer hipótese, é impossível compreender Gramsci fora do horizonte

revolucionário, porque para ele a realização do socialismo é a grande poiésis

de seu século. Trata-se de preocupação máxima e explícita de toda sua obra,

seu pensamento e sua vida. Trata-se, portanto, do grande pano de fundo que

ilumina todas as demais questões, inclusive sua concepção de cultura e

educação”. (NOSELLA, 2004, p. 82)

Para Gramsci a escola deveria refletir a vida para despertar

interesse do aluno em participar e aprender. Caso contrário, ele não se sentiria

motivado a ela. As abordagens do autor visavam uma educação única e

desinteressada dos valores da classe dominante, que proporcione para todos,

condições de desenvolver um raciocínio crítico no desenvolvimento da tomada

de decisões, no posicionamento político e na visualização crítica da realidade,

onde o Estado realiza o papel de administrador, mas é a sociedade que decide

pelos rumos que trilhará.

CONCLUSÃO

40

A qualidade gerencial que se tem está baseada no conjunto de

valores que instituiu e mantém a cultura da burocracia. Isto significa que o

enfoque das organizações governamentais está no processo e não no

resultado. Não está ligado, portanto, ao cidadão, do qual, não por acaso, o

Estado e os governos estão hoje distanciados.(Secretaria de Gestão, 2000).

Há uma estrutura com organogramas, ministérios, secretarias,

divisões de ministérios e de secretarias, equipes e um conjunto de leis que

determina tudo o que se pode ou não fazer. A partir dessas estruturas - e suas

leis, instruções normativas, portarias, regulamentos etc. -, elabora-se um

programa ou projeto, uma ação concreta que tem resultados para o cidadão.

Mas não foi olhando para o cidadão que se pensou em um resultado com

determinado padrão de qualidade, nem se refletiu sobre a organização da

equipe que deveria implementá-lo, tampouco se a ação poderia ser

exclusivamente do setor público ou em parceria com o setor

privado.(Secretaria de Gestão, 2000).

Constata-se que o novo arranjo da economia mundial provocado

pelo processo de globalização tem afetado as empresas públicas a fim de

disponibilizar as oportunidades surgidas pela abertura dos novos mercados,

porém exige, em contrapartida, adequação competitiva, em que a agilidade e a

flexibilidade são fundamentais, como forma de diminuir os custos e apresentar

produtos e serviços que superem as expectativas dos consumidores.

A formação de uma nova mentalidade empreendedora no Governo é

um dos elementos essenciais para o desenvolvimento de uma administração

pública eficiente, com foco em resultados e orientada para a prestação de

serviços de qualidade que atendam as demandas da sociedade

contemporânea.

A evolução tecnológica e o desenvolvimento de novos métodos de

trabalho representam a fronteira entre o sucesso e o fracasso.

O cenário econômico contemporâneo demanda excelência dos

sistemas de gestão pública, confirmando a idéia de que a informação, ao lado

41

dos recursos humanos, serão, daqui por diante, fatores diferenciais na busca

da eficácia organizacional.

Em uma feliz coincidência, isso ocorre exatamente quando a

tecnologia da informação possibilita a construção de sistemas gerenciais ágeis,

em que a informação pode ser levada mais perto da decisão.

O papel da gestão como órgão administrativo é zelar pelo bom

desempenho da empresa, administrando as sinergias existentes entre as áreas

em busca de maior grau de eficácia empresarial.

O desenvolvimento de sistemas e metodologias que proponham

modelos gerenciais que otimizem o desempenho das empresas por meio de

seu sistema de gestão e informação é a contribuição esperada, para aproximar

a gestão das necessidades atuais do mundo dos negócios.

O lucro, corretamente calculado, pode ser considerado o melhor

indicador do resultado, e este se caracteriza pelo aumento do valor agregado

ao Patrimônio Líquido de empresa, evidenciando o desempenho de cada área,

caracterizando e avaliando a atuação de cada gestor.

Mesmo assim, observa-se muitas vezes na empresa que os gestores

das áreas onde estão sendo adotados os modelos de decisão, Informação e

mensuração, por falta de conhecimento do modelo de gestão, utilizam-se de

modelos com patíveis com seus interesses, mas que não são compatíveis com

os interesses ge tais a empresa.

Essa situação ocorre na maioria das empresas brasileiras, e tem

como foco central a inadequação do sistema de informação devido à pouca

habilitação conceitual dos gestores na explicitação de suas necessidades

informacionais, e na falta de divulgação e conseqüente aceitação do modelo

de gestão adotado.

Assim sendo, é papel da gestão fazer que problemas como este

sejam superados e a eficácia organizacional seja alcançada com maior grau de

eficiência.

mesmo governos pertencentes a esquemas políticos conservadores têm que ir ao encontro de demandas populares

42

ÍNDICE

43

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

GESTÃO PÚBLICA 10

1.1 – Planejamento 11

1.2 – Princípios 14

1.3 – Práticas Políticas 18

1.4 – Orçamento Público 20

CAPÍTULO II

A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA 21

2.1 – Uma Breve Digressão sobre Cidadania 27

2.2 – Perspectivas para a Cidadania no Brasil 31

CAPÍTULO III

GESTÃO PÚBLICA 35

CONCLUSÃO 41

ÍNDICE 44

BIBLIOGRAFIA 45

44

BIBLIOGRAFIA

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março, 2003.

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Título da Monografia: GESTÃO PÚBLICA E CIDADANIA: UMA

ANÁLISE ACERCA DO PRINCÍPIO EDUCATIVO EM GRAMSCI

Autor: CRISTIANE RODRIGUES DA SILVA

Data da entrega:

Avaliado por: Prof. Ms. Mary Sue Carvalho Pereira

Conceito: