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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE PSICOMOTRICIDADE COMO UNIDADE PREVENTIVA NOS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM Por: Maria de Nazaré Arêdes Moutinho Orientador Profª Maria Esther de Araújo Brasília 2010 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · intelectivo e de aprendizagem da criança, ... Para Gesell as primeiras evidências de um desenvolvimento mental normal não são

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

PSICOMOTRICIDADE COMO UNIDADE

PREVENTIVA NOS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

Por: Maria de Nazaré Arêdes Moutinho

Orientador

Profª Maria Esther de Araújo

Brasília

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

PSICOMOTRICIDADE COMO UNIDADE

PREVENTIVA NOS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Psicomotricidade.

Por: Maria de Nazaré Arêdes Moutinho

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, a Deus.

Ao meu irmão Bernardo, que sempre me

apóia em meus estudos.

À minha amiga Aparecida.

Aos meus pais, marido e filhos pela

dedicação e paciência que tiveram comigo.

E a Profª Natália Pacheco que me orientou

nos momentos de dúvida.

Obrigado!

DEDICATÓRIA

Dedico à minha família e as pessoas

que me ajudaram direta e indiretamente na

realização deste trabalho

RESUMO

Esta monografia objetiva identificar quais aspectos psicomotores

contribui para o desenvolvimento correto da leitura e da leitura.

Sendo a educação psicomotora condição necessária para o processo

intelectivo e de aprendizagem da criança, que os elementos básicos da

psicomotricidade são utilizados com freqüência e são fundamentais neste

processo.

Deste modo, no capítulo 1, será relatada a evolução da noção de

psicomotricidade, seus elementos básicos, como por exemplo, esquema

corpora e lateralidade, o desenvolvimento psicomotor da criança e as principais

dificuldades psicomotoras.

No capítulo 2, será demonstrada a relação da escola, professor e aluno

e o quanto é importante a intervenção psicomotora desde a mais tenra idade

para prevenir os problemas da aprendizagem.

Por fim, no capítulo 3 serão exemplificadas algumas atividades para

serem utilizadas em sala de aula.

METODOLOGIA

Esta monografia, baseada em pesquisa bibliográfica, traz idéias e

experiências de estudiosos da área de psicomotricidade e distúrbios de

aprendizagem.

Será mostrado através de Le Boulch, Freire, Meur, Guillarme, Costallat,

Vayer, Gagné, Britta Holle, os benefícios da prática da educação psicomotora

desde a mais tenra idade para prevenir distúrbios difíceis de corrigir quando já

estruturados.

Além destes atores da atualidade, será exposta a contribuição da

psicologia com Piaget e Wallon e de autores dos primórdios da

psicomotricidade, como Dr. Gesell, que permitiram aos educadores enfocar o

desenvolvimento integral da criança, envolvendo não só os problemas do

intelecto, mas também os motores.

Jean Piaget enfatiza o papel da motricidade no desenvolvimento da

inteligência. A obra de Henri Wallon igualmente assinala de uma maneira

brilhante esta correspondência, mas frisa, além disso, a interação constante

que, no decorrer do desenvolvimento da criança, liga a motricidade à

afetividade. (GUILLARME, 1983)

Para Gesell as primeiras evidências de um desenvolvimento mental

normal não são mais que manifestações motoras. (COSTALLAT, 1983)

Os autores Johnson, Myklebust (1983) e Garcia (1998), abordam, dentro

de uma perspectiva psicopedagógica, as dificuldades de aprendizagem e o

desafio de ensinar de um modo novo e premente, possibilitando à criança

tornar-se um indivíduo sadio e integrado.

E ainda Gagné (1980) nos relata a importância de assegurar ao

processo da aprendizagem um bom planejamento das atividades.

Por fim será apresentada algumas sugestões de atividades de Meur, Le

Boulch e Picq & Vayer.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................7

CAPÍTULO 1 - PSICOMOTRICIDADE

1.1- Evolução da noção de psicomotricidade................................9

1.2- Elementos básicos da psicomotricidade................................9

1.3- Desenvolvimento psicomotor..................................................22

1.4- Dificuldades psicomotoras.......................................................26

CAPÍTULO 2 – PSICOMOTRICIDADE NA ESCOLA

2.1- A escola, o professor e a criança...........................................39

2.2- Meios de expressão..................................................................42

CAPÍTULO 3 – ATIVIDADES

3.1- Sugestões de Meur...................................................................48

3.2- Sugestões de Le Boulch..........................................................51 3.3- Sugestões de Picq & Vayer......................................................53

CONCLUSÃO....................................................................................64

BIBLIOGRAFIA.................................................................................66

INTRODUÇÃO

O tema central desta monografia é psicomotricidade como unidade

preventiva nos distúrbios de aprendizagem.

A questão central deste trabalho é entender como a psicomotricidade

pode prevenir os distúrbios de aprendizagem da leitura e da escrita.

Em primeiro lugar será apresentado um breve histórico a respeito da

psicomotricidade e a importância dela para o desenvolvimento da criança.

Será mostrado que a psicomotricidade existe nos menores gestos e em

todas as atividades que desenvolve a motricidade da criança, visando ao

conhecimento e ao domínio do seu próprio corpo. Por isso dizemos que a

mesma é um fator essencial e indispensável ao desenvolvimento global e

uniforme da criança.

Num momento posterior, estudaremos a questão dos distúrbios de

aprendizagem da leitura e da escrita e sua relação com as funções

psicomotoras.

Segundo estudiosos da área de psicomotricidade e aprendizagem, a

estrutura da Educação Psicomotora é a base fundamental para o processo

intelectivo e de aprendizagem da criança e quando uma criança apresenta

dificuldades de aprendizagem, o fundo do problema, em grande parte, está no

nível das bases do desenvolvimento psicomotor.

Será discutido que durante o processo de aprendizagem, os elementos

básicos da psicomotricidade são utilizados com freqüência; o desenvolvimento

do esquema corporal, lateralidade, estruturação espacial, orientação temporal e

pré- escrita são fundamentais na aprendizagem; um problema em um destes

elementos irá prejudicar uma boa aprendizagem. E ainda quando ocorrem

falhas no desenvolvimento motor poderá também ocorrer falhas na aquisição

da linguagem verbal e escrita.

Quando o desenvolvimento psicomotor da criança é mal constituído e

estimulado, poderá apresentar problemas na escrita, na leitura, na direção

gráfica, na distinção de letras, na ordenação de sílabas, no pensamento

abstrato, na análise gramatical, dentre outras.

Também será mostrado como a psicomotricidade oportuniza as crianças

condições de desenvolver capacidades básicas, aumentando seu potencial

motor, utilizando o movimento para atingir aquisições mais elaboradas, como

as intelectuais e algumas sugestões de atividades lúdicas, apropriadas aos

alunos da educação infantil.

Por fim será relatada a importância da intervenção psicomotora nas

escolas desde o ensino infantil, onde serão identificados quais aspectos

psicomotores irão contribuir para o desenvolvimento correto da leitura e da

escrita e assim prevenir os problemas de aprendizagem.

CAPÍTULO 1 – PSICOMOTRICIDADE

Neste capítulo trataremos de demonstrar a evolução da

psicomotricidade, seus elementos básicos, o desenvolvimento psicomotor da

criança e as principais dificuldades psicomotoras.

1.1 - EVOLUÇÃO DA NOÇÃO DE PSICOMOTRICIDADE

De acordo com Meur (1991) o estudo da psicomotricidade é recente;

ainda no início deste século abordava-se o assunto apenas excepcionalmente.

Afirmou-se pouco a pouco e evoluiu em diversos aspectos que voltam a se

agrupar.

Em uma primeira fase, a pesquisa teórica fixou-se, sobretudo no

desenvolvimento motor da criança. Depois estudou a relação entre o atraso no

desenvolvimento motor e o atraso intelectual da criança. Seguiram-se estudos

sobre o desenvolvimento da habilidade manual e aptidões motoras em função

da idade.

Hoje em dia o estudo ultrapassa os problemas motores: pesquisa

também ligações com a lateralidade, a estruturação espacial e a orientação

temporal por um lado e, por outro, as dificuldades escolares de crianças de

inteligência normal. Faz também com que se tome consciência das relações

existentes entre o gesto e a afetividade, como no seguinte caso: uma criança

segura de si caminha de forma muito diferente de uma criança tímida.

1.2 – ELEMENTOS BÁSICOS DA PSICOMOTRICIDADE

1.2.1- Enfoque de Meur & Staes

A- Esquema corporal

“O esquema corporal é um elemento básico indispensável para a

formação da personalidade da criança. É a representação relativamente global,

científica e diferenciada que a criança tem de seu próprio corpo”. (WALLON,

cit. in Meur, 1991, p. 9)

Segundo Meur & Staes (1991), quando a própria criança percebe-se e

percebe os seres e as coisas que a cercam, em função de sua pessoa, sua

personalidade se desenvolverá graças a uma progressiva tomada de

consciência de seu corpo, de seu ser, de suas possibilidades de agir e

transformar o mundo à sua volta.

A criança se sentirá bem na medida em que seu corpo lhe obedece, em

que o conhece bem, em que pode utilizá-lo não somente para movimentar-se,

mas também agir.

Exemplos:

- Domínio corporal.

Uma criança corre durante o recreio e choca-se constantemente contra

seus companheiros. Em pouco tempo não se sentirá à vontade; não ousará

mais correr por não dominar bem seu corpo

- Conhecimento corporal.

Uma criança quer passar por baixo de um banco, mas, esquecendo-se

de dobrar as pernas, acaba batendo as nádegas contra o banco.

A estruturação espaço-corporal fundamenta-se nas bases do esquema

corporal sem o qual a criança, não se reconhecendo em si mesma, só muito

dificilmente poderia apreender o espaço que a rodeia.

Sendo assim, diz Meur &Staes (1991) é importante abordar a

psicomotricidade através da constituição do esquema corporal antes da

estruturação espacial ou temporal, podendo considerar como duas faces de um

mesmo fenômeno:

- o conhecimento de seu corpo, a unidade de suas diferentes partes e a

possibilidade de agir;

- a facilidade ou a dificuldade do ser em reconhecer-se, aceitar-se,

responsabilizar-se por si.

A.1- Etapas do desenvolvimento do esquema corporal

§ O corpo vivido

Meur e Staes (1991) propõem nesta primeira etapa diversos exercícios

motores apresentados em forma de jogos, objetivando levar à criança a

dominar seus movimentos e a perceber seu corpo globalmente, constituindo

um todo.

Esses exercícios passam da atividade espontânea da criança, que utiliza

em seus brinquedos, para uma atividade integrada respondendo a dados

verbais como antes!... depois!... pule!..., a sensações como equilíbrio, parada...,

a uma representação nítida com andar de quatro e de cócoras.

§ Conhecimento das partes do corpo

Meur e Staes (1991) nos relatam que após a percepção global do corpo

vem a etapa da tomada de consciência de cada segmento corporal. Esta se

realiza de forma interna, sentindo cada parte do corpo e externa, vendo cada

segmento em um espelho, em outra criança ou em uma figura.

Convida-se a criança a situar todos os segmentos, um em relação ao

outro, a fim de reunificar a imagem corporal; deve também conseguir apontar,

nomear as diferentes partes do corpo e localizar uma percepção tátil.

§ Orientação espaço-corporal

Em seguida, nos afirmam Meur & Staes (1991), a criança passa:

- A um trabalho sensorial mais elaborado; e a associação dos

componentes corporais aos diversos objetos da vida cotidiana; a um

conhecimento mais analítico do espaço dos gestos, isto é, das diferentes

posições que fazemos cada parte do corpo tomar.

Esta fase baseia-se em tomadas de posições diversas e não em

movimentos. Portanto dizem Meur & Staes (1991) devemos em cada exercício

marcar um tempo de parada suficiente para que a criança sinta a posição.

§ Organização espaço- corporal

Para Meur e Staes (1991) é a etapa em que a criança poderá exercitar

todas suas possibilidades corporais. Onde ela conhece as partes do corpo, a

disposição, as posições e vai movimentar-se:

- Através de exercícios de coordenação, equilíbrio, inibição, destreza,

chegando a um domínio corporal.

- Prevendo e adaptando seus movimentos ao objetivo a ser alcançado, e

expressando por intermédio de seu corpo uma ação, um sentimento, uma

emoção.

De acordo com Meur & Staes (1991) a criança será levada a descrever

um movimento, a compreender as situações refletidas pelas atitudes e

expressões das personagens, a exprimir-se através de desenho, em suma, a

compreender o diálogo corporal.

B- Lateralidade

Para Meur & Staes (1991) é durante o crescimento que naturalmente se

define uma dominância lateral na criança sendo mais forte mais ágil do lado

direito ou do lado esquerdo. A lateralidade corresponde a dados

neurológicos, mas também é influenciada por certos hábitos sociais.

Meur & Staes (1991) apresentam o seguinte teste para descobrir a

dominância lateral:

B.1- A nível dos membros inferiores

§ Do ponto de vista da força:

- pede-se à criança que percorra um trajeto com um pé, depois com o outro;

o lado escolhido para o primeiro trajeto é muitas vezes o lado dominante,

mas a observação dos pulos revelará maior facilidade de um lado;

- é esse lado que determina a dominância; convida-se a criança a chutar

uma bola após uma corrida de dois a três metros: o pé escolhido para o

chute é o dominante;

§ Do ponto de vista da precisão:

- fazer com que leve, com um pé, uma bola ou uma lata até determinado

lugar;

- fazer com que desenhe no chão, com um pé: um círculo, um quadrado,

um triângulo.

B.2- A nível dos membros superiores:

Pede-se à criança que faça diversos gestos do dia-a-dia e observa-se qual

a mão utilizada. É evidente que o material apresentado à criança não deve

influir na escolha da mão.

§ Do ponto de vista da força:

- lançar uma bola no jogo de “acerte o alvo”.

- bater um prego;

- abrir uma lata de conserva (a mão dominante segurará o abridor);

- levantar uma cadeira.

§ Do ponto de vista da precisão:

- com uma mão lançar uma bola em um cesto;

- distanciar um elástico com o polegar e o indicador;

- pregar um alfinete em um mural;

- pentear-se;

- recortar papel com tesoura.

B.3- A nível dos olhos:

- por meio do visor de uma máquina fotográfica;

- por meio do caleidoscópio;

- fazendo apontar: mostra-se um ponto preciso de um cartaz e pede-se à

criança que o indique com o dedo, estendendo o braço;

- fazendo olhar pelo buraco da fechadura.

Ao realizar este teste de Meur & Staes (1991) pode-se observar:

- uma lateralidade homogênea: a criança é destra ou canhota do olho,

da mão e do pé;

- uma lateralidade cruzada: a criança é, por exemplo, destra da mão e

do olho, canhota do pé;

- uma ambidestreza: a criança é tão forte e destra do lado esquerdo

quanto do lado direito.

Segundo Meur & Staes (1991) a lateralidade é importante na evolução da

criança, pois influi na idéia que a criança tem de si mesma, na formação de seu

esquema corporal, na percepção da simetria de seu corpo; e contribui para

determinar a estruturação espacial: percebendo o eixo de seu corpo, a criança

percebe também seu meio ambiente em relação a esse eixo, como por

exemplo, “o banco está do lado da mão que desenha”.

Os autores aconselham a não empregar os termos “esquerda”, e “direita”

sem que a lateralidade esteja bem definida”.

Meur & Staes (1991) advertem que não devemos confundir lateralidade

(dominância de um lado em relação ao outro a nível da força e da precisão) e

conhecimento “esquerda-direita” (domínio dos termos “esquerda” e direita”).

E afirmam:

“O conhecimento “esquerda-direita” decorre da noção de dominância

lateral. É a generalização da percepção do eixo corporal, a tudo que cerca a

criança; esse conhecimento será mais facilmente apreendida quanto mais

acentuada e homogênea for a lateralidade da criança. Com efeito, se a criança

percebe que trabalha naturalmente “com aquela mão”, guardará sem

dificuldade que “aquela mão” é a esquerda ou a direita. Caso haja hesitação na

escolha da mão, a noção de “esquerda-direita” não poderá firmar-se com

segurança. Da mesma forma, em caso de lateralidade cruzada, a criança

confundirá facilmente os termos “esquerda” e “direita”, por ser ora mais forte do

lado direito como, por exemplo, o pé, ora mais forte do lado esquerdo como por

exemplo a mão.” (MEUR & STAES, 1991, p. 12 e 13)

O conhecimento “esquerda-direita” faz parte da estruturação espacial por

referir-se à situação dos seres e das coisas, mas está de tal forma vinculado à

noção de dominância lateral que coloca-se essa aprendizagem imediatamente

após a da lateralidade relatam Meur & Staes.

Ainda de acordo com Meur & Staes (1991) o conhecimento estável da

esquerda e da direita só é possível aos cinco ou seis anos e a reversibilidade ,

ou seja, a possibilidade de reconhecer a mão direita ou a mão esquerda de

uma pessoa à sua frente não pode ser abordada antes dos seis anos a seis

anos e meio.

C- Estruturação espacial

“É a orientação, a estruturação do mundo exterior referindo-se primeiro

ao eu referencial, depois a outros objetos ou pessoas em posição estática ou

em movimento”. (J.M. TASSET, cit. in Meir & Staes, 1991, p.13)

Meur & Staes (1991) nos lembram que o esquema corporal é a tomada

de consciência, pela criança, de possibilidades motoras e de suas

possibilidades de agir e expressar-se. Enquanto que a estruturação espacial

segundo os autores é a tomada de consciência da situação de seu próprio

corpo em um meio ambiente, isto é, do lugar e da orientação que pode ter em

relação às pessoas e às coisas; a tomada de consciência da situação das

coisas entre si e a possibilidade, para o sujeito, de organizar-se perante o

mundo que o cerca, de organizar as coisas entre si, de colocá-las em um lugar,

de movimentá-las.

A todo instante, descrevem Meur & Staes (1991), a criança encontra-se

em um espaço bem preciso onde lhe é solicitado:

- que se situe, por exemplo, está sentada em uma cadeira, diante de

uma mesa;

- que situe os objetos um em relação ao outro, por exemplo, a vasilha de

tinta encontra-se ao lado de sua folha, o pincel está dentro da vasilha de tinta;

- que se organize de acordo com o espaço de que dispõe, como por

exemplo, a criança desenha espontaneamente um sol no canto superior da

folha, uma casa no meio e uma árvore à direita da casa.

Deste modo a estruturação espacial segundo Meur & Staes (1991) é

parte integrante de nossa vida; aliás, é difícil dissociar os três elementos

fundamentais da psicomotricidade: corpo – espaço – tempo, e quando se opera

com toda essa dissociação, limitasse a um aspecto bem preciso e restrito da

realidade. Entretanto, Meur & Staes aconselham a tratar desses aspectos

separadamente, mas que nossa abordagem sobre a criança deve considerar o

conjunto.

Portanto, diz Meur & Staes (1991), quando queremos que a criança

adquira uma noção espacial, não podemos deixar de levar em conta sua

emotividade diante do educador e das outras crianças, o tempo de que dispõe,

seu próprio ritmo, suas possibilidades e seus conhecimentos corporais.

C.1- Etapas da estruturação espacial

§ Conhecimento das noções:

Meur & Staes (1991) nos sugerem os seguintes comandos:

Pede-se à criança que se desloque em seu “espaço” habitual: “Vá para o

seu quarto... Leve este papel para a mesa de seu professor (a)”.

Solicita-se-lhe que se situe ou situe objetos. Avaliamos e melhoramos

seus conhecimentos de termos espaciais.

A criança deverá perceber as diversas formas, grandezas, quantidades:

- escolhendo o material;

-dispondo esse material segundo determinadas progressões de

grandezas

§ Orientação espacial

Quando a criança domina os diversos termos espaciais, Meur & Staes

(1991) nos recomenda a ensinar à criança a orientar-se, isto é:

- poder virar-se, ir para frente, para trás, para a direita, para a esquerda,

para o alto.

- poder ficar em fila.

Não se trata mais de apenas estar “ao lado da cadeira”, mas de estar

“ao lado da cadeira e virado para frente”.

Por último Meur & Staes afirmam, nesta etapa a criança:

- aprende a orientar os objetos: deverá colar um triângulo adesivo no

alto da folha, ficando a ponta do triângulo virada pra a direita;

- deve perceber, nas discriminações visuais, o que se encontra orientado

na mesma direção;

- deve adquirir direção gráfica; deve situar um objeto segundo a

colocação ordinal.

E ainda os autores referem se a esta etapa como sendo muito

importante nas aprendizagens escolares.

§ Organização espacial

De acordo com Meur & Staes (1991) organizar é combinar, dispor para

funcionar. Então, durante esta etapa, os autores sugerem combinar diversas

situações, várias orientações e ensinar as linhas oblíquas.

Indicam às crianças dispor os objetos para ocupar um espaço

delimitado, como por exemplo, uma folha, o quadro, para atingir um objetivo

como os labirintos e jogos de trajetos.

E ainda fazer com que a criança escolha seus próprios pontos de

referência e os coloque segundo diversas orientações, para encontrar a

solução, como por exemplo:

- guiando outra criança que se faz de “cega”;

- em um jogo de loto;

- em um conjunto de formas para compor uma silhueta;

- em um exercício de simetria (tamanho e disposição dos desenhos)

Essa terceira etapa engloba as duas primeiras e permite à criança dispor

somente do espaço oferecido, como por exemplo: a criança põe uma figura

humana diante da casa; orienta essa figura para o lado direito da casa;

Por fim, cria um povoado e faz com que sua figura percorra todo um

trajeto, por exemplo: jamais passando duas vezes diante da mesma casa.

§ Compreensão das relações espaciais

Esta etapa, segundo Meur & Staes (1991), difere bastante das três

etapas anteriores. Com efeito, baseia-se unicamente no raciocínio a partir de

situações especiais bem precisas.

A criança deverá perceber a relação existente entre diversos elementos

que lhe são apresentados. Por exemplo: em um exercício de progressão de

grandezas de diferentes círculos, deve imaginar os elementos que faltam para

que a progressão seja harmoniosa e completa. Para consegui-lo a criança deve

primeiro compreender que “o que é o mesmo” é a figura redonda, “o que muda”

é a grandeza, portanto que falta uma figura redonda de determinada grandeza.

D- Orientação temporal

Meuer & Staus (1991) definem a estruturação temporal como sendo a

capacidade de situar-se em função:

Da sucessão dos acontecimentos: antes, após, durante;

Da duração dos intervalos:

- noções de tempo longo, de tempo curto (uma hora, um minuto);

- noções de ritmo regular, de ritmo irregular (aceleração, freada);

- noções de cadência rápida, de cadência lenta (diferença entre a corrida

e o andar);

Da renovação cíclica de certos períodos: os dias da semana, os meses,

as estações;

Do caráter irreversível do tempo: “já passou... não se pode mais revivê-

lo”, “você tem cinco anos... vai indo para os seus seis anos... quatro anos, já

passaram! noção de envelhecimento (plantas, pessoas).

Segundo Meur & Staes (1991) a criança vive no tempo: acha que

determinado jogo terminou depressa, enquanto uma espera ou uma sesta

durou muito tempo.

E ainda, a criança também vive uma série de atividades, mas deve

chegar aos quatro ou cinco anos para situá-las segundo a ordem “antes -

depois”. Percebe-se muito nitidamente na maneira como a criancinha conta

uma história, misturando os acontecimentos. Só, paulatinamente, consegue

estruturá-las segundo a ordem cronológica.

É por isto que, desde os quatro anos, a criança pode ser exercitada pra

perceber o tempo imediato:

- “Peguei um papel... depois, desenhei”.

- O educador esconde dois objetos... “Qual deles escondi primeiro?”

Meur & Staes (1991) definem dois tipos de tempo:

- O tempo subjetivo: é aquele criado por nossa própria impressão; varia

conforme as pessoas e a atividade do momento como por exemplo, o momento

de prazer passa mais depressa do que o momento de aborrecimento.

- O tempo objetivo: é o tempo matemático, sempre idêntico; uma hora

dura sempre sessenta minutos.

Portanto, afirmam Meur & Staes (1991), tenta-se desenvolver na criança

a noção de tempo objetivo a partir de pontos de referência, tais como:

- hora das refeições;

- dias de atividades especiais como feriado de quarta-feira à tarde,

banho de sábado.

- atividades próprias das estações como ficar de traje de banho e nadar

no mar.

Para Meur & Staes (1991) poder orientar-se no tempo é importante na

vida cotidiana, pois a maioria de nossas atividades é regulada pelo tempo

objetivo: entra-se na escola às 9 horas; o recreio começa às 10 e meia;

almoça-se ao meio-dia; e quando a criança tiver adquirido algumas noções de

duração e de rapidez, poderá organizar-se.

Os autores nos citam os seguintes exemplos:

- Caso demore em levantar-se, ou seja, muito tempo para lavar-se, não

terá mais tempo para tomar o café da manhã antes de ir à escola;

- se conversar na sala de aula, enquanto os outros fazem a lição, não

terá terminado a sua e deverá fazê-la durante o recreio.

Ainda de acordo com Meur & Staes (1991) a criança poderá também

dispor de mais tempo para lazer caso reflita sobre a ordem em que deve

desenvolver suas atividades. Como por exemplo, comprar pão, passar na

farmácia e terminar suas lições antes de brincar. Por que não fazer suas

compras na volta da escola, passando primeiro pela farmácia perto da escola,

depois pela padaria situada a duas ruas da sua casa? Assim, evitará um trajeto

desnecessário e ganhará tempo para brincar.

D.1- Etapas de orientação temporal

a- Ordem e sucessão

Para a criança, trata-se de perceber e memorizar:

- o que se passa antes, depois, agora...

- em que ordem os gestos foram feitos: “Primeiro você pegou a garrafa,

depois o lápis e por fim o papel”;

- o que foi feito primeiro, por último.

Para Meur & Staes (1991) ela poderá classificar também imagens

segundo uma ordem lógica ou cronológica.

b- Duração dos intervalos

A criança deverá perceber o que passa depressa, o que dura muito

tempo, as noções de tempo decorrido, a diferença entre uma hora e um dia.

b.1- Renovação cíclica de certos períodos:

Para Meur & Staes (1991) são os dias (manhã, tarde, noite), as

semanas, as estações, aos quais associamos determinadas atividades ou um

material como, por exemplo, uma lâmpada associada à noite, a natação

associada à quarta-feira, uma echarpe associada ao frio.

Durante esta etapa será introduzida a questão “quando?”.

b.2- Ritmo

De acordo com Meur & Staes (1991) o ritmo abrange a noção de ordem,

de sucessão, de duração, de alternância.

Os autores nos alertam para a importância de ajudar a criança a

expressar-se segundo seu ritmo espontâneo em exercícios de deslocamentos

livres sob os acordes de uma música e gradualmente a levar a acompanhar

com mais precisão o ritmo dado como acompanhar uma marcha militar,

reproduzir estruturas rítmicas batendo mãos, pés.

Em seguida os ritmos escritos, nesta etapa, onde a criança perceberá a

estrutura do ritmo que lhe é solicitado, por exemplo, 00 00 00, e reproduzirá

várias vezes essa mesma estrutura.

E- Pré - escrita

Segundo Meur & Staes (1991) o domínio do gesto, a estruturação

espacial e a orientação temporal são os três fundamentos da escrita. Com

efeito, a escrita supõe:

- uma direção gráfica: escrevemos horizontalmente da esquerda para a

direita;

- as noções de em cima e embaixo (n e u), de esquerda e direita (37 e

não), de obliquas e curvas (g);

- a noção de antes e de depois, sem o que a criança não inicia seu gesto

no lugar correto.

Portanto, para os autores, os exercícios de pré-escrita e de grafismo são

necessários para a aprendizagem das letras e dos números onde sua

finalidade é fazer com que a criança atinja o domínio do gesto e do

instrumento, a percepção e a compreensão da imagem a reproduzir. Esses

exercícios dividem-se em:

- exercícios puramente motores;

- exercícios de “grafismo”: exercícios preparatórios para a escrita na

lousa e no papel.

Entretanto, relatam Meur & Staes (1991) estes exercícios não devem

reprimir o trabalho espontâneo de expressão gráfica da criança; esta cria seu

próprio desenho que lhe possibilita a expressão de sua visão do mundo, a

passagem do sonho à realidade, conformação ou não aos ensinamentos

recebidos.

Ainda segundo Meur & Staes (1991), esses exercícios constituirão

igualmente uma aprendizagem real da manipulação do lápis.

1.3 – DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR

1.3.1 – Enfoque de Le Boulch.

De acordo com Le Boulch (1991) dos 15 meses aos 3 anos, os

interesses da criança estavam voltados para o mundo exterior. A atividade de

exploração expressava-se por uma forma de vigilância difusa em estado de

expressão e na medida em que o meio ajuda a criança a afirmar-se como

unidade afetiva e expressiva, favorece o equilíbrio entre o espontâneo e o

controlado, sua motricidade global coordenada e rítmica traduz o bom

desenvolvimento de sua função de ajustamento.

Esta “primeira estabilização afetivo-sensório-motora é o trampolim

indispensável sem o qual a estruturação espaço-temporal não pode efetuar-

se”. (ROGER MUCHIELLI, cit. in Le Boulch, 1991, p.85). “As primeiras

urgências estando resolvidas no plano práxico (prático) devem aperfeiçoar-se e

servir de suporte às atividades intencionais para dar cada vez mais à atividade

de representação mental.” (LE BOULCH, 1990, p.85)

Dos 3 aos 6 anos é um período transitório tanto na estruturação espaço-

temporal quanto na estruturação do esquema corporal onde o jogo da função

de ajustamento continua global e desenvolve-se em dois planos: Por um lado,

está submetido a uma intencionalidade práxica (prática) que permite à criança

resolver os problemas motores e, por outro lado, a expressão do corpo traduz

as experiências emocionais e afetivas conscientes e inconscientes.

1.3.2 – Enfoque de Britta Holle.

Na opinião de Britta Holle (1990), o desenvolvimento motor da criança

corresponde ao desenvolvimento do seu sistema nervoso central. Para a

autora existem quatro etapas:

1) Movimentos reflexos (não controlados pelo cérebro).

2) Movimentos simétricos (com controle cerebral apenas começando), por

exemplo, movimentos similares de ambos os braços.

3) Movimentos voluntários, motivados, diferenciados, por exemplo, pegar

um objeto a sua frente.

4) Movimentos automáticos; movimentos habituais tais com caminhar, por

exemplo, finalmente se tornando automáticos.

Ainda de acordo com Britta Holle (1990)

1) Movimento giratório da cabeça: A partir do três meses.

2) Posição sentada: Quando o equilíbrio da cabeça se acha estabelecido, o

equilíbrio corporal também começa a desenvolver-se por volta do 6-7

meses.

3) Engatinhar: Geralmente está pronta para engatinhar sobre as mãos e os

pés por volta dos 10 meses.

4) Ficar de pé, caminhar e correr: todo o processo leva cerca de três anos,

a partir do dia em que ela dá o primeiro passo até que possa caminhar

adequadamente equilibrada, com rotação de coluna, boa articulação do

pé, balanço natural dos braços e nenhuma regressão à marcha na ponta

dos pés.

1.3.4 – Enfoque de Costallat.

À semelhança de Brita Holle, Costallat (1983) nos afirma que a conduta

do bebê muda notavelmente à medida que o sistema nervoso se desenvolve. E

ainda, a criança ao firmar a cabeça permite-se a fixação do olhar e

consequentemente o desenvolvimento progressivo da atenção, que se

encontra intimamente vinculado à capacidade de fixação ocular. O

desenvolvimento das formas de atenção, dispositivo psicomotor

importantíssimo na evolução de qualquer tipo de aprendizagem, se baseia no

progressivo controle da posição dos olhos, da cabeça e da correta

coordenação do sistema motor ocular.

“O controle primário óculo-cefálico é adquirido na idade de dezesseis

semanas” (GESSEL, cit. Costallat, 1983, p. 16)

Ainda segundo Costallat (1983) a partir deste momento vai se

desenvolver a tonicidade dos músculos cervicais que permitirão a ereção da

cabeça; a maturação continua com a musculatura dos braços e músculos do

tronco, que farão com que aos seis meses a criança sente. E como

conseqüência de seu maior interesse, desperta seu desejo de pegar, apoiado

na progressiva maturação neuromotora.

Aos sete meses, a criança transfere e volta a transferir de uma mão para

outra um objeto; aos dez meses a criança será unidestra, preparando sua

futura tendência, direita ou esquerda. Ao mesmo tempo em que se realiza esta

evolução na aproximação e no comportamento manual, se produz uma

transformação no ato preensor em si.

Aos doze meses, as disposições posturais que começam a aperfeiçoar-

se com a marcha, a percepção visual e cinestésica (conjunto de sensações

pelas quais se percebem os movimentos musculares) que vão Integrando a

memória motora com as inumeráveis experiências diárias, a atenção mais

seletiva e o desenvolvimento da linguagem que permite uma maior e melhor

integração sócio-familiar dão como resultado uma conduta harmoniosa mais

independente do pequeno ser.

No período um – dois anos, começa a etapa do exercício diário, por

meio do qual a criança consegue a fixação e mais tarde a mecanização de

movimentos recentemente aprendidos: a marcha e a exercitação manual. Em

relação à linguagem aparecem a articulação de palavras e frases e a inibição

necessária para controlar a bexiga e o reto.

A partir dos três anos aumenta a precisão nos gestos, os movimentos

tanto de caráter manual como corporal, se equilibram, as associações vão

sendo eliminadas gradativamente. Nesta idade é capaz de empreender alguns

atos de coordenação bimanual, como calçar os sapatos; existe ainda uma falta

de destreza e harmonia para execução dessas ações, porém, já esboça a

futura precisão que adquirirá com o tempo nos movimentos habituais de comer

e vestir, que se irão mecanizando pela repetição diária. É o período de

aprendizagem prévia a todo o movimento mecanizado e nele a coordenação

viso motora implícita nestes movimentos, se estabelece cada vez com maior

exatidão.

Aos quatro anos começa a etapa pré-escolar; é, na realidade, um

período de maturação intelectual e motora, no qual se afirmam as funções de

ambos os tipos esboçados nos três primeiros anos. A esta altura a atividade

motriz voluntária se desenvolveu, deixando para trás a impulsividade excessiva

dos movimentos iniciais.

Dos quatro aos seis anos, a coordenação motor-ocular progride o

suficiente, permitindo o início de tarefas que implicam intenso dinamismo

manual, como por exemplo, manejar tesouras, lápis de cor, vestir-se e despir-

se sozinha, abotoar e desabotoar roupa, abri-la e fechá-la.

A etapa de cinco- sete anos é ascendente para a normalização no ritmo

regular, chegando ao final dos sete anos à precisão geral dos movimentos

efetuados, já dentro do ritmo normal.

Costallat (1983) termina o desenvolvimento psicomotor resumindo esta

primeira etapa, do nascimento aos sete anos, como característica principal o

progressivo domínio da atividade motriz voluntária, que se torna cada vez mais

preciso e correto, ocorrendo a evolução geral dos movimentos e no que se

refere à atividade motriz geral.

Encontram-se bem diferenciados, o primeiro ano de vida como escalão

básico aquisitivos de funções.

O período de três - sete anos de aperfeiçoamento psicomotor integral

com duas etapas:

- Quatro-seis anos, de etapa maturativa pré-escolar;

- Seis-sete anos, de iniciação escolar

Cada uma com as suas características claras que precedem e

fundamentam as aquisições posteriores.

Quanto à precisão, Costallat (1983) verifica que possui uma etapa

inicial, a qual é acompanhada de lentidão natural (um – cinco anos), que

denominamos etapa de precisão lenta e que, em virtude do exercício, passa no

período seguinte (cinco-sete anos) a realizar-se gradativamente, com ritmo

normal de movimentos.

1.4- DIFICULDADES PSICOMOTORAS:

1.4.1- INAPTIDÃO

Segundo Guillarme (1983) a noção de inaptidão é bastante ambígua.

Evocam certo tipo de relação com os objetos, gestos muito bruscos ou muito

lentos, condutas motoras mal organizadas, uma sucessão desordenada de

movimentos, enfim uma atitude desajeitada, irritante para o ambiente. H.Wallon

(GUILLARME, 1983, p.46) relata que a inaptidão não pode ser reduzida a um

simples quadro motor. Ela engloba dimensões afetivas e relacionais centradas

de um lado nas subjetividades dos protagonistas e seu humor, e por outro lado

nas consequências pessoais das limitações impostas ao indivíduo por seu

ambiente social quando ele põe em prática a conduta incriminada.

“O desajeitamento da criança frequentemente é difuso, tênue, ocasional

e relativamente sem importância. Às vezes, pode revelar-se intenso, tenaz e

maciço. Insere-se então num quadro clínico que afeta todas as realizações

motoras, e que J. Berges isolou sob o nome de dispraxia”. (GUILLARME, 1983,

p.46)

1.4.2- DISPRAXIA

Guillarme (1983) descreve a dispraxia da criança como sendo um

quadro psicológico e neurológico complexo associando uma incapacidade

muito importante, perturbações da orientação e da organização espacial e, por

fim, problemas do esquema corporal.

Se o déficit motor e a inaptidão da criança “dispráxica” são sempre

evidentes por ocasião do exame clínico, os déficits da organização espacial, ao

contrário, são mais discretos. Estes últimos aparecem habitualmente durante

os testes de eficiência intelectual realizados pela criança e, é claro, nas provas

perceptivo-motoras.

Segundo Guillarme (1991) a maioria das provas de inteligência utilizada

hoje em dia permite distinguir entre eficiência intelectual verbal e eficiência

intelectual não-verbal (provas consideradas de desempenho). É o que ocorre,

notadamente, com o conjunto de escalas elaboradas por D. Weschler. Para a

prova aplicável às crianças, culminam, por um lado, num quociente intelectual

verbal (QIV), calculado a partir de cinco provas verbais: informação,

compreensão, aritmética, semelhanças, vocabulário, e, por outro lado, um

quociente intelectual de desempenho (QID), obtido a partir de cinco subtestes

não-verbais: complementação de imagens, cubos, reunião de objetos, código.

Guillarme (1983) relata que nos testes de Weschler, os indivíduos

“dispráxicos” obtêm sempre nas provas verbais resultados nitidamente

superiores aos resultados das provas não-verbais (QIV > QID). Por exemplo,

não é raro obtermos um desvio de 20 a 25 pontos entre os dois “quocientes”,

quando o desvio normal se situa entre 5 e 10-15 pontos no máximo.

Guillarme (1983) explica que a diferença entre as duas escalas deve-se,

por um lado, ao fato de que nas provas de desempenho, o indivíduo, para

recompor o quebra-cabeça, completar o desenho ou reproduzir a figura

geométrica, tem que, não só manipular as peças, mas também avaliar a

possibilidade de organizar os diferentes elementos, uns em relação aos outros.

Estas dificuldades de estabelecer uma relação dos elementos entre si

enfatizam a existência de uma dificuldade de organização espacial.

De acordo com Guillarme (1983) dentre as provas perceptivo-motoras a

prova de Sticks é a primeira destas provas. Nesse teste o indivíduo deve

reproduzir figuras geométricas com a ajuda de bastões. O auxílio destes

bastõezinhos permite evitar que os resultados da prova sejam perturbados por

uma dificuldade de realização motora e gráfica. Nem por isso a construção e a

realização das figuras e a compreensão das relações que ligam os elementos

entre si são facilitadas. A dificuldade reside na conformidade ao modelo

espacial.

Guillarme (1983) descreve ainda o teste de Lauretta Bender, que

permite avaliar igualmente a qualidade da construção de figuras espaciais na

criança. Hilda Santucci e Nadine Galifret-Granjon adaptaram esta prova,

mantendo cinco dos modelos de L. Bender e propondo uma técnica precisa de

avaliação. Para a criança em escola maternal, entre 4 (quatro) a 6 (seis) anos,

H. Santucci elaborou ainda uma prova gráfica de organização perceptiva

destinada a pesquisar especialmente “um eventual déficit da organização grafo

- perceptiva”. A prova compreende nove figuras geométricas – dentre as quais

quatro tomadas de empréstimo às escalas Binet-Simon e de Gesell. Colocam

em jogo relações espaciais, cuja percepção e reprodução gráfica evoluem com

a idade. Os resultados gerais evidenciam uma superioridade no domínio da

organização perceptiva do espaço das meninas. Assinalam, ainda, as

dificuldades específicas encontradas pelos indivíduos “dispráxicos”.

1.4.3- INSTABILIDADE PSICOMOTORA

Guillarme (1983) considera a instabilidade psicomotora um problema

frequente e muitas vezes banalizado, exceto em suas formas extremas, que

sempre são mal toleradas e muitas vezes mal entendidas. Este problema,

portanto, merece em todos os casos uma atenção especial, quer se trate do

estudo clínico dos sintomas, da busca de seu significado ou da escolha de uma

terapêutica adaptada.

Segundo Guillarme (1983) o perfil do instável é o de uma criança

“borboleteando”, agitada, inquieta, ativa, mas sem nenhum rendimento devido

a uma tensão fugaz. É uma criança “cansativa” para o ambiente, que esgota

rapidamente sua capacidade de controle e de contenção. E segundo

Ajuriaguerra, “a criança apresenta uma atividade motora excessiva, incessante,

incompreensível e sem finalidade. Sua eficiência, no decorrer de um trabalho

prolongado, é enfraquecida pela ausência de concentração. Juntamente com

Abramson, ele completa este quadro, acrescentando uma oscilação de humor

entre uma alegria um pouco tensa e uma depressão de enfado”. (GUILLARME,

1983, p.67)

Guillarme (1983) adverte que a instabilidade psicomotora é admissível

numa criança pequena; aproximadamente até a idade de cinco anos, constitui,

aliás, um fenômeno normal. Não representa verdadeiramente um problema, a

não ser quando persiste além desta idade e em função de sua intensidade.

E diz a instabilidade raramente é motivo de consulta antes da idade

escolar, se revelando então, pela inadaptação do sujeito às exigências de

controle de si mesmo e de estabilidade motora que são habitualmente

colocadas pela escola. Na família, a instabilidade da criança está igualmente

sujeita às condições de vida e de ambiente e é avaliada de forma diferente

conforme tolerância psicológica do ambiente. Além do mais, a instabilidade

pode ser provocada por exigências desproporcionadas para a idade da criança,

onde será aumentada pela intransigência e por proibições fortes ou, ao

contrário, atenuada por uma atitude reconfortadora e compreensiva.

Ainda segundo Guillarme (1983) as crianças instáveis que apresentam

um estado de tensão são relativamente pouco numerosas: são indivíduos

hiperdescontrolados que não conseguem relaxar nem se contrair, e que

“explodem” brutalmente. Estas crianças, habitualmente, sentem-se pouco à

vontade no próprio corpo, já que este está sempre correndo o risco de traí-las e

deixando parecer, intempestivamente, a agitação que eles receiam e que

arrasa todas as suas boas “resoluções”, deixando, pois, que este receio, num

certo sentido prospectivo, deixe os indivíduos inquietos.

Nestes casos, relata Guillarme (1983) as repreensões têm um efeito

especialmente negativo, aumentado as tensões internas do sujeito. A

lembrança de confidências ansiosas de uma criança, dizendo ao examinador

durante uma avaliação psicológica: “me dizem para fazer um esforço”, “mas

como é que se pode fazer um esforço?”, ilustra muito bem a ansiedade que

acompanha e aumenta frequentemente a instabilidade impulsiva.

É mais comum, no entanto, explica Guillarme (1983) observarmos

crianças instáveis que apresentam um descontrole emocional. Esses indivíduos

são desleixados, hipotônicos, sua respiração é superficial, têm dificuldades

para caminhar rapidamente, e sentem-se especialmente desconfortáveis e

ansiosos. “Tudo se passa, conforme mostra Ph. Mazet, como se a

hiperatividade fosse a única maneira da criança perceber seu corpo, assumi-lo,

resgatá-lo, experimentando um sentimento de perda de energia e até mesmo

de inexistência na ausência desta instabilidade.” (GUILLARME, 1983, p. 69)

Evidenciando, nos mostra Guillarme que esta instabilidade tem a

finalidade de assegurar-lhe alguma coisa (eu me mexo, logo existo).

“A “síndrome hipercinética” aparece sobretudo nos sujeitos ansiosos.

Descrita em 1845 por Hoffman, trata-se de uma síndrome clínica que associa

manifestações psíquicas e motoras.” (GUILLARME, 1983, p. 69). De acordo

com Guillarme (1983) compreende habitualmente uma hiperatividade e uma

etiologia orgânica, onde os americanos sempre acreditaram que uma lesão

explicaria este problema. No entanto, não existe nenhuma prova convincente

que possa apoiar esta hipótese. Isto não impediu certos autores de evocar uma

disfunção cerebral “mínimo” na raiz da síndrome hipercinética (MBD) =

(minimal brain dysfuncion) Noção proposta em 1962 pelo grupo de estudos

internacionais de Oxford. As pesquisas atuais descreve Guillarme (1983)

orientam-se também para a bioquímica do cérebro. Aliás, a melhoria da

instabilidade de certos sujeitos hipercinéticos por meio de medicamentos

psicotônicos – especialmente as anfitaminas – é o único fato indiscutível. Mas

restam muitas incógnitas, muitas pesquisas a serem feitas e inúmeras provas a

reunir. Em resumo, a hipótese etiológica bioquímica ainda não foi provada.

1.4.4- IMATURIDADE

De acordo com Guillarme (1983) a idéia da imaturidade frequentemente

se associa à de instabilidade. É como se encontrássemos a explicação do

comportamento motor da criança por analogia com o comportamento motor de

uma criança menor. É claro que a idéia da imaturidade – pelo menos na sua

acepção clínica – invoca a regressão ou a fixação em um determinado estágio

do desenvolvimento. A noção de fixação, como a de regressão, refere-se

habitualmente a uma concepção genética que recorre a uma progressão

ordenada, conforme as fases sucessivas do desenvolvimento (fixação a uma

fase). Ela pode também designar, no quadro da teoria freudiana do

inconsciente “o tipo de inscrição de certos conteúdos representativos

(experiências, fantasmas) que persistem no inconsciente de modo inalterado”.

(GUILLARME, 1983, p. 72)

1.4.5- INIBIÇÃO

Guillarme (1983) descreve a inibição psicomotora como um problema

tão frequente na criança quanto à irritabilidade. No entanto, ela é ignorada com

maior facilidade, devido, em um primeiro momento não atrapalhar. Aos poucos,

no entanto, ela irrita e inquieta, sobretudo se é acompanhada de uma redução

verbal, alterando, então, toda a comunicação pessoal da criança.

O termo inibição, como lembra Freud, “refere-se especialmente à função

e não significa necessariamente algo patológico; com efeito, podemos também

chamar de inibição à limitação normal de uma função”. (GUILLERME, 1983, p.

82)

Para Guillarme (1983) a inibição, mecanismo ativo de adaptação, só se

torna patológica se houver um excesso. Razão pela qual a criança comportada

demais raramente preocupa os que a cercam. Dócil e passiva descreve

Guillarme (1983), eis uma criança satisfatória. Habitualmente, a inibição só é

reconhecida se sua intensidade ultrapassa os limites de uma “timidez” de boa

qualidade, ou se sua extensão ao funcionamento intelectual provoca um

fracasso escolar alarmante, ou ainda e o contexto depressivo que a envolve

torna-se aparente.

A inibição inclui um aspecto motor que é o amortecimento de gesto,

mais que ausência do gesto. Ela caracteriza-se corporalmente por esta

moderação excessiva. Acompanha-se em geral de certa rigidez de atitude, a

qual engendra às vezes câimbras funcionais no sujeito, que se torna hirtas

(dura), ou até mesmo empedernidas (insensíveis). Um exame motor pode, em

geral, revelar este estado “tensional” de fundo.

Segundo Guillarme (1983) a inibição indica uma dificuldade particular de

contato de intensidade variável, modificando-se de acordo com as

circunstâncias como, por exemplo, fora do ambiente familiar, diante de

estranhos. Se a inibição associa-se a um meio ou objeto particular, pode incluir

um componente “fóbico” (medo). Uma vivência de mal estar, de ansiedade, ou

até mesmo de angústia, acompanha-a habitualmente neste caso.

Pode apresentar-se em qualquer um dos grandes setores da atividade

psíquica. Aliás, a inibição intelectual é responsável por certo número de

fracassos escolares devido a bloqueios. Estes nem sempre são bem

reconhecidos pelos pedagogos. As próprias condições de trabalho em grupo

fazem, efetivamente, com que os professores identifiquem melhor as formas de

angústia exteriorizada em crises espetaculares ou em desamparo aparente, do

que esta forma de angústia paralisante constituída pela inibição.

Para J. De Ajuriaguerra (GUILLARME, 1983 p. 82) essa síndrome de

inibição intelectual é quando a criança sofre por não poder realizar uma

atividade intelectual muito desejada por ela, com resultados decepcionantes

para ambos, tanto para a criança quanto para o sujeito que “tenta trabalhar”. A

criança sente bloqueada diante da tarefa a realizar, “tenta em vão recomeçar,

mas se sente impossibilitada e se vê como um réu ou como testemunha de sua

ineficiência. Isto acarreta no momento de fazer a atividade um estado de

tensão angustiante para a criança. Para Freud (GUILLARME, 1983, p.82), o

mecanismo principal que origina a inibição é uma renúncia a uma função cujo

exercício só poderia aumentar a angústia. Ele explica o mecanismo nestes

termos: “O ego também renuncia a essas atividades para não entrar em conflito

com o superego”.

Para Guillarme (1983) a inibição nem sempre está isolada, pode estar

associada a uma depressão despercebida pela criança. Junto a isso se juntam

então a lentidão e a escassez de ações, chegando, às vezes, até a inércia

total.

Segundo Sandler e W. Joffe (GUILLARME, 1983, p. 83), considerando a

gênese da depressão acreditam que é por uma simplificação abusiva que

admitimos o retorno sobre si mesmo da agressividade através do mecanismo

de identificação com o objeto odiado. Consideram que a resposta depressiva

associa-se sempre, ou à inibição direta da agressão, ou à cólera contra o “eu

atual”, que é odiado por ser insatisfatório.

1.4.6- ASTENIA

Guillarme (1983) diz que enquanto a inibição denota uma rigidez

excessiva, a astenia denota a falta de força que podemos observar nos estados

de cansaço ou de lassidão. Essa fadiga é um sintoma constante. É resultado

direto da tensão ligada aos conflitos e à luta contra os instintos sexuais ou

agressivos. A astenia deve também ser distinguida do estado depressivo, o

qual implica, além disso, a perda da auto-estima.

Para Guillarme (1983) as características bem conhecidas da astenia

neurótica permitem diferenciá-la facilmente de uma astenia simplesmente

somática. A astenia neurótica, com efeito, tem o seu paroxismo na parte da

manhã, e melhora durante o dia. Ela não some com o repouso, mas

desaparece em certas atividades que distraem frequentemente intensas.

Acompanha-se, enfim, de um vago sentimento de enfado e de ansiedade, e

reage mal às medicações.

A astenia não é muito frequente na criança. Seu aparecimento indica

habitualmente um esgotamento da luta contra as pulsões. Reforça então a

inibição do comportamento, reduzindo ainda mais a atividade do sujeito.

1.4.7- DISGRAFIA

A disgrafia, no entender de Guillarme (1983), é um problema de

comunicação e, portanto, de relação, que pode traduzir-se no plano gráfico por

inúmeros e variados sintomas. A disgrafia da criança, na realidade, raramente

está isolada de todo um contexto psicomotor. Quando se fala de disgrafia,

refere-se a uma dificuldade que diz respeito à execução do grafismo, seja qual

for a idade da criança, quer tenha cinco ou doze anos. Esta, no entanto, não é

a opinião de J. De Ajuriaguerra (GUILLARME, 1983, p.199), que só se refere à

disgrafia após o início do aprendizado da escrita, portanto, a partir do curso

elementar.

De acordo com Guillarme (1983) é possível descobrir, desde muito cedo,

o que pode vir a ser mais tarde um problema importante de escrita. Assim,

podemos considerar como sinais precursores da disgrafia certos casos de

dificuldades grafomotoras em desenho no setor adiantado do maternal, certas

inversões sistemáticas do sentido do traçado nas primeiras reproduções de

sinais, ou ainda um controle exagerado do gesto gráfico.

Para Guillarme (1983) certas dificuldades de execução gráfica não

podem ser confundidas com uma disgrafia efetiva como, por exemplo, no caso

de crianças pequenas, porém adiantadas, do jardim infanto-juvenil, que

apresentam dificuldades transitórias superiores às de sua faixa etária,

dificuldades tais como, a de parar um traçado, de levantar o lápis, domínio

insuficiente do gesto. O mesmo é válido, para inúmeras crianças destras ou

não, que ao serem solicitadas para mudar de mão, experimentam dificuldade

passageira de adaptação, ou ainda para certas crianças com dificuldades

ortográficas, cuja escrita, como as dos disgráficos, rasuram muito por pressões

ligadas às hesitações ortográficas. As causas da disgrafia são inúmeras e

diversificadas e frequentemente estão interligadas.

Guillarme (1983) relata que os problemas motores e neuro-motores

representam o grupo de dificuldades observadas com maior freqüência,

portanto, é importante saber, que os segmentos implícitos na escrita são

numerosos e a coordenação motora suscitada no ato de escrever é bastante

complexa e que ainda sofrem variantes conforme a idade do indivíduo.

Guillarme (1983) exemplifica:

A criança pequena, antes dos cinco anos e até seis, sete anos, usa todo

o braço, incluindo o ombro, participa da inscrição e da progressão;

frequentemente, o tórax também acompanha o movimento, levado pelo braço.

Por volta dos cinco anos, a mão e o antebraço permanecem oblíquos,

há uma rotação do antebraço em torno do cotovelo e uma flexão do punho,

ficando a mão em pronação e o punho apoiado na mesa;

Aos sete anos, o punho fica apoiado e a mão permanece sob a linha;

Aos oito anos de idade, o ombro da criança não participa mais, a

inscrição se faz pelo movimento do antebraço e da mão e a progressão por

deslocamento do cotovelo, quer paralelamente à linha da escrita, quer em

leves ziguezagues. O papel começa a ser inclinado, e a mão fica sob a linha

em ligeira extensão;

A partir dos treze anos, o cotovelo se fixa, a progressão é contínua, a

inscrição se faz por meio de uma ligeira vibração do braço e dos dedos. É

praticamente o tipo de progressão e de inscrição do adulto, porém menos

regular e menos controlado.

De acordo com Guillarme (1983) o adulto busca a rapidez e economia; a

evolução também ocorrerá em função desses fatores, bem como em função do

treinamento. Não será a mesma no caso do burocrata e do trabalhador manual,

que escreve pouco. Os fatores pessoais são então muito mais importantes do

que os fatores neuro-fisiológicos.

Portanto, diz Guillarme (1983), para escrever com rapidez, legível e sem

cansar, a motricidade deve ser boa; o braço e a mão devem ficar livres para se

mexerem; não devem estar bloqueados, nem crispados, nem rígidos ou

dependentes um do outro. A inaptidão manual, especialmente a que afeta a

motricidade digital fina e os problemas do tônus são, pois fatores importantes

de disgrafia.

A criança hipertônica (tônus alto) apertará o lápis até machucar os

dedos, a mão, os braços e às vezes até mesmo o ombro ou as costas. Com

frequência a criança não saberá dosar a energia necessária para interromper

um traço numa determinada altura.

A criança hipotônica (tônus baixo), ao contrário, terá problemas de

direção do lápis. Terá tendência a escorregar sobre a folha de papel, e as

letras serão disformes.

Podemos, ainda, segundo Guillarme (1983) acrescentar os problemas

de pressão, dificilmente dissociáveis dos problemas de tônus. A criança não

sabe dosar a força com a qual deve apoiar o lápis para fazê-lo deslizar sobre o

papel. As letras ora não imprimem a folha, ora são traçadas de várias

espessuras, deixando marcas nas páginas seguintes.

Para Guillarme (1983) as dificuldades perceptivas podem igualmente ser

invocadas como explicação de certas disgrafias. Poderá tratar-se, então, ou de

dificuldades de orientação e de estruturação espacial (uma forma mal

apreendida não pode ser reproduzida corretamente), ou de dificuldades de

organização temporal. Muitas vezes, com efeito, esquecemo-nos de que um

bom conhecimento e uma perfeita apreensão das noções de ordem e de

sucessão são necessários à transcrição de letras e, muito mais ainda, de

palavras e frases.

Há ainda os problemas psicológicos, segundo Guillarme (1983), que

podem estar na origem de certas disgrafias. A disgrafia pode, de fato, traduzir

um distúrbio relacional ou uma perturbação afetiva da mesma natureza que a

instabilidade ou a inibição. “Escrever não é também entrar em relação com

outra pessoa? Não é exprimir para o outro o que está em nós, e que não

poderia ser sabido de outra forma, caso não o disséssemos ou

escrevêssemos?” (GUILLARME, 1983, p.201)

Portanto, a escrita, conclui Guillarme (1983) é um produto social; é

regida por regras, leis arbitrárias, convenções. A disgrafia pode aparecer em

certos casos como uma forma de recusa escolar, ou mesmo como uma

espécie de recusa social. A escrita, com efeito, tornou-se um instrumento da

sociedade após ter sido criada por ela, servindo para transmitir tradições. Basta

lembrar a importância que o jurista ou o escrivão atribuem à letra manuscrita e

à assinatura para nos convencermos disso.

Para Guillarme (1983) a palavra, ainda que seja algo inerente ao

homem, não tem a mesma credibilidade de uma assinatura. Um homem que

fala bem é considerado, mas se não sabe escrever, seu prestígio diminui.

Escrever representa, com efeito, uma dificuldade suplementar. Não basta

formar letras, é preciso discipliná-las e traçá-las sobre o papel, rapidamente, a

fim de traduzir à medida que se escreve, com a maior precisão possível, o

pensamento que se elabora. A mão deve dobrar-se às exigências das palavras

e das imagens, para fixá-las e partilhá-las com os outros. Neste sentido, a

escrita não comporta aproximações.

Sendo assim, diz Guillarme (1983), a recusa de comunicar do disgráfico

insere-se numa forma de oposição social. Esta oposição fecha-o em si mesmo.

Escreve, mas não para os outros. De alguma forma, ele bloqueia as portas de

comunicação.

Na escola, expõe Guillarme (1993), a disgrafia tem também uma

repercussão de ordem psicológica importante. Em sala de aula, a criança

disgráfica é constantemente desvalorizada devido à má qualidade de sua

escrita. A criança sente-se mais ou menos culpada, mas culpada de quê? A

criança escreve mal, sente dor no punho ou no braço e ainda por cima sofre

críticas. Então, ela se empenha, se crispa, vê-se remetida à sua dor, vê sua

escrita piorar e se crispa cada vez mais, a partir de então, uma reeducação

torna-se justificável e necessária.

CAPÍTULO 2 – PSICOMOTRICIDADE NA ESCOLA

Neste capítulo será abordado a relação professor, aluno e os meios de

expressão gráfica, verbal e corporal.

2.1- A ESCOLA, O PROFESSOR E A CRIANÇA

2.1.1- O Ambiente

De acordo com Pierre Vayer (1989), para que a criança possa abordar o

conhecimento do mundo, para que possa experimentar os objetos, mas

também sua pessoa e sua autonomia é preciso que o adulto facilite essas

relações no mundo.

Para Pierre Vayer (1989) o que implica, além da relação educativa, a

que se exprime nas diferentes apresentações, a realização de duas condições:

- A criança deve ter períodos de vida autônoma na classe, assim como

no quadro da vida (noção de tempos fortes e fracos na atividade da criança)

- Ela deve ter ao seu alcance um universo que favoreça o exercício de si

mesma e a exploração dos diferentes espaços.

Este mundo à volta da criança adquire dois aspectos complementares:

- O ambiente da classe com seu mobiliário e a organização dos

diferentes espaços.

- O conjunto dos objetos que deve estar á disposição da criança e do

grupo das crianças.

Pierre Vayer (1989) acrescenta: cabe, portanto, ao adulto empenhado na

relação educativa compor, organizar o ambiente à volta da criança, de maneira

que facilite efetivamente a autonomia da criança e sua relação com o mundo.

2.1.2- Relação professor – criança

1. Aplicação das técnicas

Picq & Vayer (1985) concluíram em seus estudos que a aplicação das

técnicas educativas psicomotoras comporta dois aspectos indissociáveis:

conhecimento da criança e domínio das técnicas.

O conhecimento da criança implica uma formação psicológica séria:

psicologia infantil, conhecimento dos distúrbios do desenvolvimento,

conhecimento dos métodos de avaliação utilizados no domínio da psicologia,

enfim, psicopedagogia, ou seja, psicologia aplicada à educação e à

reeducação.

O domínio das técnicas adquire-se através do estudo e da prática e esta

prática é inicialmente em si mesmo que é necessário realizar. Estas técnicas

parecem simples e o são efetivamente; toda dificuldade está em aplicá-las com

conhecimento de causa e coordenar sua aplicação a fim de realizar um ensino

eficaz.

De acordo com os autores a instrução é o intermediário entre o professor

e o objeto, ou seja, a criança e a situação:

- A demonstração é permitida, é um aspecto das instruções. É clara e

precisa, mas não deve ser repetida pelo professor nem ser sistemática. A

criança não deve imitar ou reproduzir e, sim, compreender e descobrir.

- A ordem é lenta, bem articulada, bem separada e, entretanto, variada.

Devendo fixar a atenção, mantendo a execução.

- A criança escuta as ordens, repete e executa somente quando lhe é

pedido que o faça.

De acordo com Pierre Vayer (1989) se o exercício não foi bem sucedido

o professor deve atribuir a falha não à criança, mas a si mesmo. Ele pode ter

querido progredir muito depressa, queimar uma etapa, os exercícios que foram

preparados na chegada provavelmente não estavam integrados.

E ainda é um erro pedagógico querer obter tal e tal resultado a todo

preço. Sempre é necessário saber esperar.

2.1.3-Segurança e motivação

Segundo Picq & Vayer (1985), a segurança dada pelo professor à

criança é reforçada pelo fato dela pertencer ao grupo; a criança não está

sozinha; tem seus colegas diante, atrás, à direita e à esquerda. Sentindo-se em

segurança, a criança é confiante, disponível, e com vontade de agir. Ao mesmo

tempo em que faz parte do grupo, a criança considera o ensino como um

trabalho entre ela e o professor. Toda a pedagogia consiste em conduzi-la a

encontrar a solução sozinha, julgar a si mesma, a superar os obstáculos e a

valorizar os sucessos. Sentindo-se concernida, é motivada, e o objeto de

aquisição aparece-lhe como uma necessidade.

Pierre Vayer (1989) define três espécies de fatores que intervêm para

mobilizar os desejos da criança:

1. Fatores ligados à criança:

- O prazer de agir: utilização da necessidade de ação para fins

educativos.

- O desejo da criança desajustada de resolver suas dificuldades.

- O desejo de ser bem sucedida em relação às outras crianças.

- O reforço dos desejos pela evidência dos primeiros resultados.

2. Fatores ligados à própria atividade:

- Apresentações adaptadas ao nível e às necessidades da criança.

- Variedade das situações sucessivas.

- O sentimento de autonomia no interior do grupo, onde a criança deve

sentir-se responsável por sua própria experiência.

3. Fatores ligados à personalidade do adulto:

- Respeito à personalidade infantil.

- Supressão das causas de fracasso e de juízo de valor sobre a ação da

criança ou sobre os resultados de sua ação.

- Criação de um meio que dê segurança e estímulo ao mesmo tempo

sem coerção, sem sanções, atmosfera calma e descontraída.

- Criação do diálogo, onde a criança é convidada a exprimir-se.

Pierre Vayer (1989) em seus estudos constata que a maioria dos

elementos que intervém para motivar a criança estão ligados à presença do

adulto e com efeito é o adulto que:

- Determina, sugere ou aceita as diferentes situações educativas.

- Conscientiza a criança de suas dificuldades, sem a subestimar.

- Cria o clima educativo.

- Deixa de desejar estar no lugar da criança, isto é, que ele faça de

modo que seja a criança que queira, e não ele próprio.

2.2- MEIOS DE EXPRESSÃO

Segundo Pierre Vayer (1989), as comunicações com o mundo do outro

se manifestam nos relacionamentos pessoais materializados, isto é, tornadas

sensíveis ao outro, graças ao uso dos diferentes meios de expressão.

Entretanto, os meios de comunicação, seja corporal, gráfica ou verbal, estão

ligados ao corpo inteiro.

2.2.1- Expressão gráfica

Pierre Vayer (1989) esclarece que a expressão gráfica é uma atividade

natural da criança ligada de um lado ao conhecimento e ao uso de seu corpo,

de outro lado ao conhecimento do mundo dos objetos e do mundo do outro.

Portanto, para Pierre Vayer (1989) há três aspectos na expressão

gráfica:

1. A atividade gráfica é o uso do corpo, do braço e da mão associado

ao uso dos utensílios de escrita.

2. A representação gráfica ligada ao conhecimento.

3. A linguagem gráfica que é ao mesmo tempo projeção de si mesmo e

meio de comunicação.

Estudos de Pierre Vayer (1989) demonstram que a educação dos dois

primeiros modos é interessante em si, pois é o embasamento das

aprendizagens escolares futuras e apresenta ainda outro interesse: o de dar à

criança os meios da criação autônoma. Com efeito, se a criatividade implica

segurança e liberdade, ela tampouco pode exercer-se “no vazio”; é assim que a

educação do braço e da mão, em função da expressão gráfica, permite chegar

a este aspecto fundamental da expressão, primeiro reflexo da autonomia, que é

a expressão livre e espontânea.

§ Educação visuomotora

Pierre Vayer (1989) distingue três etapas na evolução da expressão da

expressão gráfica na criança pequena:

1. Durante o segundo ano, em relação com as possibilidades de

preensão dos utensílios, a criança realiza seus primeiros traços. Esta primeira

etapa é essencialmente uma atividade motora e os traços realizados são

rabiscos, não implicando em representação alguma.

2. Dos dois aos dois anos e meio, o controle visual começa a intervir e é

associado progressivamente e de maneira cada vez mais fina ao controle

cinestésico, ele próprio associado ao uso do braço e da mão. Os movimentos

de rabiscar dão lugar então a combinações de formas e chega-se, diz L. Lurcat

(VAYER, 1989, p.172) ao estabelecimento de um sistema de

autodirecionamento do movimento de natureza visiomotoras.

3. Depois dos quatro - cinco anos, a coordenação visuomotora está

perfeitamente estabelecida e o espaço gráfico integrado é o início da

simbolização que levará a criança à escrita-leitura.

É a educação e o aperfeiçoamento deste autodirecionamento visiomotor,

que Vayer (1989) propõe realizar através das diferentes situações de

exercícios:

- do rabisco ao traço;

- do borrão à forma;

Para chegar:

- à coordenação e a precisão do traço associados à afirmação da

lateralidade e à organização perceptiva da esquerda para a direita.

§ A representação gráfica

De acordo com Pierre Vayer (1989) para a criança pequena, como

também para a criança mais velha, mas atrasada em seu desenvolvimento,

tudo que pode ser expresso graficamente pelo borrão ou pelo traço, deve ser

feito e a transcrição gráfica está associada a toda a educação da criança

através de seu corpo – a educação psicomotora.

E prolongando a ação corporal, o ato gráfico melhora a representação

mental, dando-lhe um embasamento preciso. Ele permite à criança visualizar e

memorizar as sensações, as noções, as aquisições.

De acordo com Meur & Staes (1991) o que é necessário para a criança

dominar o gesto da escrita é: Equilíbrio entre as forças musculares, flexibilidade

e agilidade de cada articulação do membro superior.

Portanto é indispensável fixar as bases motoras da escrita antes de

ensinar a criança a dominar seu lápis. Com efeito, caso não se tenha atingido a

motricidade, o desenho não corresponderá à expectativa da criança que se

desinteressará dessa forma de expressão e até pedindo para outro desenhar

para ela.

Meur & Staes (1991) nos expõem o seguinte programa de exercícios

motores:

- mobilização do ombro, do pulso, de cada um dos dedos;

- trabalho de plasticina; esta brincadeira, atraente para a criança,

fortalece os músculos de cada dedo e desenvolve a destreza manual.

Por meio de diferentes gestos em um plano vertical ou pelo menos

inclinado, a criança aprende a segurar corretamente o giz e o lápis. Para que a

criança adquira um traço regular, precisará trabalhar, com certa rapidez, sobre

uma grande superfície colocada à sua altura.

Para Meur & Staes (1991) a criança que não domina bem seu gesto

será solicitada a trabalhar, sobretudo com o ombro e o cotovelo: fará então

desenhos grandes. Somente mais tarde, quando os movimentos à altura do

ombro e do cotovelo se tornar desenvolvidos, faremos diminuir as proporções

dos desenhos, exigindo assim da criança um trabalho mais específico do

punho e dos dedos.

“É evidente que sempre faremos a criança trabalhar da esquerda para a

direita.” (MEUR & STAES, 1991, p.18)

Por fim Meur & Staes (1991) relata que quando adquirir o hábito de

começar da esquerda e de ir para a direita, a criança poderá praticar exercícios

mais variados, por exemplo: desenhar um quadrado sem levantar o lápis,

portanto ir uma vez da esquerda para a direita e uma vez da direita para a

esquerda.

2.2.2- A expressão verbal

Pierre Vayer (1989) relata que se a atividade gráfica e sua utilização

como meio de representação e de expressão é uma atividade individual,

relativamente independente do mundo do outro, não acontece o mesmo para a

linguagem que é essencialmente um “processo social, um começo de

relacionamento com o outro, uma inserção numa sociedade” (P. CHAUCHARD,

cit. in. Vayer, p. 176)

E mesmo continuando a ser utilizada conjuntamente, a expressão

gráfica é superada progressivamente no plano educativo pela expressão

verbal, distinguindo-se ela própria da expressão corporal e cujas duas funções

complementares também são de ser o suporte de pensamento como a

linguagem interior e o meio da comunicação com o outro, como pó exemplo,

expressão dos desejos e dos sentimentos

Para Pierre Vayer a linguagem oral está profundamente enraizada no eu

primitivo da criança como os gritos, choros, balbuciar, mas ela só se torna meio

de expressão socializada no momento em que a criança adquire a língua das

pessoas com quem convive.

§ Desenvolvimento sensoriomotor e linguagem

Pierre Vayer (1989) considera a linguagem como o prolongamento da

atividade motora:

- A tagarelice da criança pequena é uma atividade sensoriomotora, é

mesmo tão-somente um exercício motor, isto é, uma excitação da garganta e

do ouvido.

A relação que há entre a tagarelice e a linguagem é a mesma existente

entre os rabiscos e a representação:

- Nas primeiras incitações, nas primeiras mensagens, a criança

responde com seu corpo inteiro, a primeira linguagem é uma linguagem total: a

da expressão corporal, da mímica.

- As primeiras reproduções verbais são elas próprias integradas em

condutas mais complexas e globais que a palavra ainda não tem por si só o

poder de significar.

Portanto, conclui Pierre Vayer (1989) é apenas progressivamente que a

palavra emerge da linguagem total e a expressão verbal introduz-se como uma

superestrutura e torna-se um fenômeno de outra ordem e é assim que os

psicólogos reconhecem certo número de etapas na constituição da linguagem:

a) Um período pré-linguístico: balbuciar, e pré-tagarelice.

b) Um período de compreensão e de resposta global: é um fenômeno

fundamental da linguagem, a compreensão vem antes da utilização da

palavra.

c) Para chegar ao longo do terceiro ano ao “Eu”, que é o início da

diferenciação do “EU” em relação ao mundo exterior.

Pierre Vayer (1989) relata que a criança torna-se consciente de si

mesma e a linguagem desenvolve-se a partir deste momento, de uma maneira

intensiva: aumento rápido do vocabulário, passagem da palavra isolada para a

frase, expressão verbal cada vez mais precisa para chegar ao período

questionante de perguntas que se prolongam até 4-5 anos.

Pierre Vayer (1989) tem mostrado que a aquisição do vocabulário está

ligada a toda a educação psicomotora, ela pode ser igualmente favorecida por:

- As atividades manuais ou ocupacionais, tais como o recorte, e colagem

de imagens, a constituição do imaginário.

- Os diferentes jogos que fazem intervir objetos ou representações de

novos objetos.

- A expressão corporal associada à expressão verbal que são as

representações e os jogos mímicos.

2.2.3- Expressão corporal

Segundo Pierre Vayer (1989) na criança pequena tudo é expressão

corporal, todo o ser participa da ação e a criança reage com todo seu corpo

às diversas situações propostas pela atividade educativa ou decorrente de

sua própria atividade. Compreendem-se, entretanto, diz Vayer (1989), por

expressão corporal ações imaginadas ou representadas tais como as

representações ou dramatizações, as brincadeiras de roda, as cantigas com

mímica. Todas essas atividades são interessantes, pois dirigem a criança,

que, aliás, se presta a isso de boa vontade, a integrar-se no mundo das

outras crianças.

Pierre Vayer (1989) se detém em dois aspectos da expressão corporal:

- O jogo

- A atividade funcional intermediada pelo adulto.

Le Boulch (1990) aconselha que o adulto deva evitar a escolha do jogo,

já que se corre o risco de transformar o jogo inventivo em jogo imitativo. É o

erro de certas atividades chamadas “de expressão musical”, onde o adulto,

sob o pretexto de ajudar a criança, induz as “boas respostas”.

CAPÍTULO 3 – ATIVIDADES

Neste capítulo veremos exemplos de atividades psicomotoras para

serem utilizadas na escola como meio de prevenir as dificuldades de

aprendizagem.

3.1 – Sugestões de Meur

Meur (1991) sugere os seguintes exercícios para as perturbações do

grafismo:

Exercícios de coordenação na vida cotidiana:

- Executar dobraduras de papel.

- Costurar cartões perfurados.

- Enfiar miçangas.

- Recortar.

- Apontar um lápis.

- Brincar de ioiô.

- Vestir uma boneca.

- Enrolar uma bola.

Para exercícios de pré-escrita, Meur (1991) recomenda que se realize

primeiro o trabalho em cada articulação: - Ombros, punhos e mãos.

Para os ombros sugere o brinquedo conhecido como vai e vem:

- Este jogo feito para duas crianças é constituído de uma espécie de bola

oval atravessada por duas cordas que terminam em alças.

- Trata-se de fazer com que essa bola se vá de uma criança para a outra;

a primeira criança afasta os braços e a bola se aproxima da segunda; a

primeira fecha os braços, a segunda deve abri-los; a bola se dirige para a

primeira, e assim seguidamente.

Para os punhos sugere que as crianças coloquem a mão horizontalmente

na mesa. Pede-se que levantem a mão sem desencostar o punho da mesa.

Este exercício pode ser feito através de jogos: as crianças cantam, marcando

um ritmo com a mão na mesa.

E para os dedos sugere que em um primeiro momento a criança coloque

as mãos juntas, dedos estendido e depois dobre os dedos até cruzá-los.

E ainda brincar de “bonequinho que anda” com o indicador e o médio,

tocar piano na mesa ou enfiar os dedos em um saco cheio de grãos.

Para o trabalho com plasticina (massinha), Meur (1991) sugere que se

faça um boneco com apenas uma das mãos, com as duas mãos, com cuidado,

para que ele fique harmonioso.

Também sugere que se role uma bolinha de plasticina com a palma das

mãos, execute as modelagens habituais: xícaras, animais, frutas. Aperte, fure e

achate uma bola de plasticina.

Para exercícios de grafismo, Meur (1991) indica o trabalho em plano

vertical e horizontal.

Em plano vertical nos sugere fazê-los na lousa ou em papel a ser

pintado com caneta hidrocor ou pincéis e que serão executados em pé, diante

da mesa.

Ao traçar horizontais o movimento deve começar na altura dos olhos e

terminar quando o braço estiver inteiramente estendido, sem movimento do

tronco e dos pés.

Ao traçar verticais a criança traça quatro ou cinco linhas sem mexer os

pés; depois dá um passo para a direita e traça de novo quatro ou cinco

verticais.

E por fim traçar semicírculos, círculo, caracol, ondas, pontes, espirais.

Exemplos:

(p. 197)

No trabalho em plano horizontal pouco a pouco, solicita-se às crianças

que se sentem e trabalhem com o lápis. Mas, muitas vezes, o próprio ato de

pegar no lápis é executado incorretamente. E adverte para corrigi-lo, as

crianças devem adquirir força muscular e flexibilidade articular suficiente e cada

criança deve ser corrigida individualmente para que possa perceber a posição

exata de seus dedos.

(p.200)

Sugere exercícios em que a criança deve contornar um traçado

previamente desenhado, exercícios em que a criança deve traçar um caminho

entre duas linhas paralelas.

E o desenho de uma casa: partir de 1, ir para 2, de dois para 3, de 3

para 4, de 4 para 1, de 1 para 5, de 5 para 4.

(p. 201)

3.2 – Sugestões de Le Boulch

Para os exercícios de coordenação fina da mão e dos dedos, Le Boulch

(1990) sugere exercícios de destreza, apreciação de peso e de volume, jogos

que facilitam a independência braço-punho e descoberta de consciência das

diferentes partes do corpo.

Para os exercícios de destreza:

- Pegar e colocar objetos cada vez menores: bolas pequenas, bolas de

bilhar grandes e pequenas, pérolas grandes. Tentar pegá-los, não só com o

polegar-indicador, mas também com o polegar-médio.

- Tirar papel que envolve a bala.

- Repartir bolas com as crianças; atirar a bola no chão e a criança faz

rebotar a bola com os dedos, ou rebotar a bola na parede e pegá-la de

diferentes formas.

Para os exercícios de apreciação de peso e de volumes:

- Comparar as bolas de diferentes volumes, arranjá-las por ordem de

tamanho crescente, de olhos abertos e fechados. E nos ensina chamar a

atenção da criança em relação ao peso, fazendo com que a criança verbalize e

levá-la progressivamente a compreender que o grande não é sempre o mais

pesado.

Nos trabalhos manuais:

- Modelagem – pegar o material, descobrir as suas possibilidades

afundando os dedos, esmagando a massa, achatando-a. Relata que estas

diferentes manipulações educam a flexibilidade e a firmeza da mão, assim

como a sensibilidade tátil.

- Recorte – recortar formas geométricas, que tenham ângulos; recortar

formas diversas como objetos, pessoas, animais. E diz o uso da tesoura

desenvolve uma boa dissociação dos dedos e uma boa mobilidade do punho.

Le Boulch (1990) sugere para os jogos que facilitam a independência

braço-punho:

- Jogos com lenços ou tiras de panos coloridos onde as crianças têm,

em uma ou nas duas, lenços de cores vivas e descrevem formas variadas no

espaço. E diz, estes jogos podem se fazer sem se deslocar ou deslocando-se,

traçando a grande escala com os lenços todas as formas que mais tarde

constituirão as letras. Podem ser feitos com música, treinando o aspecto

rítmico fundamental da escrita.

E para a descoberta e tomada de consciência da diferentes partes do

corpo com verbalização sugere:

- O jogo do elevador onde cada criança dispõe de um bambolê, assim

como a professora; a professora explica aos alunos que o bambolê é o

elevador e que ele vai subir e descer os andares do corpo:

- Em primeiro lugar a criança imita a professora localizando os diferentes

“andares” do corpo. Em seguida as crianças devem verbalizar o local onde

ficou o bambolê.

- Por fim, a partir do tronco, indicar às crianças que coloquem o bambolê

para cima, para baixo, em cima, embaixo e verbalizar os diferentes lugares.

3.3- Sugestões de Picq & Vayer

1- Educação do esquema corporal

Para conhecer o próprio corpo, Picq & Vayer (1985) sugere:

– Frente ao espelho tocar, desenhar com o dedo o contorno do rosto, os

olhos, o nariz; depois repetir com o giz no quadro-negro; progressivamente as

observações são mais sutis, descobrem-se as sobrancelhas, os cílios, as duas

narinas; acrescenta-se a comparação, a correção.

- Consciência das sensações em frente ao espelho: contrair as mãos,

soltar; contrair uma mão (D. E.), soltar, sem mexer a outra mão.

- Para ter noções de direita, esquerda, frente, atrás, alto, baixo, o

professor e criança ficam frente a frente, segurando cada um uma bola,

sentados e depois de pé; o professor executa como modelo e fala: à direita, à

esquerda, no alto, a criança copia e repete; o professor executa como modelo,

a criança executa e fala sozinha.

- Relaxamento global: na posição deitada, contrair as mãos, contrair os

punhos, soltar as mãos, soltar os braços, sentir os dedos que se alongam os

cotovelos que se apóiam. Prolongar a sensação de relaxamento por todo o

corpo, soltar os pés, soltar as pernas, soltar os olhos.

- Relaxamento segmentário: relaxar as pernas: deitado de costas,

deslizar, soltar as duas pernas simultaneamente; deslizar. Soltar uma perna,

depois outra. Depois realizar exercícios com os braços e exercícios

combinados.

2- Educação da respiração

Picq & Vayer (1989) sugere emissão de sons mantidos: O, UM, U (são

expirações); falar alto, suavemente, suavemente e durante muito tempo, falar

alto e cada vez mais baixo. Os mesmos exercícios com uma duração crescente

representada em linhas no quadro-negro, onde o professor segue a linha com

seu dedo e a criança fala. E aconselha acrescentar a educação com exercícios

torácicos e diafragmáticos.

3- Equilíbrio geral

Picq & Vayer (1989) nos exemplifica os seguintes exercícios:

-Utilização do bastão colocado no chão: agarrar, rolar o bastão; apertar,

soltar o bastão; erguer um pé, repousar.

(p. 87)

- Em pé, agarrando o bastão, deslocar-se lateralmente à D., à E; diante

do espelho, e depois realizar os mesmos exercícios sem mexer as mãos.

- Carregar objetos na cabeça como cilindros, paralelepípedos.

- Andar sobre bancos e/ou paralelepípedos.

4- Coordenação dinâmica

Picq & Vayer (1989) sugere andar sobre os paralelepípedos próximos

com pequenos passos e andar sobre os paralelepípedos distanciados com

passos grandes e que estes paralelepípedos estejam dispostos regularmente

antes da aula.

Depois distribuir os paralelepípedos irregularmente. No final o professor

deve pedir que a criança verbalize as experiências.

5- Coordenação óculo-manual

Picq & Vayer (1989) sugere para o trabalho de coordenação óculo-

manual exercícios de progressão e educação do olhar:

- Exercícios de progressão – Três tipos de elementos contribuem

simultaneamente para a progressão: o material como bolas e a trajetória; a

distância como perto e longe.

(p.109)

- Educação do olhar – Seguir com os olhos o deslocamento da bola:

iniciando com um balão de gás grande colorido. É bem leve, sobe e desce

lentamente; a criança tem tempo para vê-lo chegar. Por outro lado, segurá-lo

delicadamente melhora a preensão. Aconselha evitar que ele estoure na mão

da criança.

(p. 109)

- Em seguida, utilizar bolas leves como as de plástico e depois bolas

grandes.

- Ver seguindo com os olhos o balão de gás, a bola leve caindo

verticalmente (a).

- Ver seguindo com os olhos a bola deslocando-se lateralmente (b).

- Seguir com os olhos tocando a bola vindo lateralmente da D., da E.

6- Educação da percepção

Para educar a percepção da cor, sons, volume, peso e formas Picq &

Vayer (1989) sugerem:

§ Cor

- Joguinhos com loto de cores e dominós pintados.

- Juntar bolas de tal e tal cor no mesmo lugar; trazer duas bolas

vermelhas com a mão D., uma bola azul com a mão E, por exemplo.

§ Sons

- Reconhecer o barulho dos objetos familiares, como por exemplo, a

queda de objetos conhecidos, bolas pesadas, bolinhas, bastões.

§ Volume

- Tocar, acariciar com a mão duas bolinhas de volumes bem diferentes,

olhá-las. Mostrar a grande, a pequena.

- Do mesmo modo, comparar duas bolinhas de dimensões mais

próximas.

- Comparar diversas bolas.

- Ordenar em ordem crescente e decrescente, pela dimensão, bolas e

bolinhas.

Picq & Vayer (1989) sugere que após todos os exercícios ocorra a

verbalização da criança em relação aos objetos como, por exemplo, grandes e

pequenas, maiores ou menores que. E em seguida deve ocorrer a transcrição

gráfica e a comparação com o modelo.

7- Peso

- Todos os exercícios de recebimento, de lançar, de malabarismos.

- Exercícios com o balão de gás, como por exemplo, balão caindo

verticalmente: pegá-lo com as duas mãos o mais delicadamente possível e

balão caindo verticalmente: bater.

8- Formas

Picq & Vayer ensina ver os comprimentos nos bastões e varinhas, nas

arestas dos paralelepípedos e nos cilindros.

E também comparar os comprimentos através de exercícios de transcrição

linear e de adaptação gráfica: traçados de diversos comprimentos no chão.

9- Organização do Espaço

Picq & Vayer (1989) relata que estes exercícios estão relacionados aos

exercícios de educação do esquema corporal, coordenação dinâmica geral e

automatização das noções de Direita-esquerda.

Depois, quando estas noções são adquiridas, numa situação

determinada e cotidiana:

- Mostrar, nomear o que está na frente, o que está à direita, à esquerda,

atrás.

- Mudança na orientação da criança à direita, à esquerda, meia-volta.

- Bola leve:

(p.125)

- Lançar ao sinal para frente, para trás, à direita, à esquerda.

- Mudança de orientação: lançar para frente.

10- Organização do Tempo

Picq & Vayer (1989) exemplificam para organização do tempo os

seguintes exercícios:

- Adaptação ao ritmo exterior: Deslocamento (andar, correr) ritmado pelo

professor ou pelo metrônomo.

-Andar nos paralelepípedos postos completamente no chão,

aproximados com cadência rápida e depois afastados com cadência lenta.

- Andar ao lado dos paralelepípedos.

Em relação aos exercícios de independência das partes sugere

oscilações rítmicas dos braços:

- Oscilações laterais.

- Oscilações à frente e atrás de um único braço, depois os dois braços.

(p.125)

11- Educação da Mão

Picq & Vayer (1985) relata, a educação da mão em função do grafismo é

diretamente ligada à educação psicomotora geral e particularmente aos

exercícios seguintes, que são o embasamento indispensável de qualquer

educação específica, utilizando exercícios de relaxamento segmentário, ou

seja, das partes:

- Relaxamento dos braços.

- Independência braço-ombro

- Exercícios rítmicos, como oscilações laterais, ântero-posteriores e

exercícios de lançar e bater.

Para a independência dos dois braços, sugere exercícios para

independência direita-esquerda e independência funcional do braço e da mão,

e também utilizando exercícios específicos para independência do braço e da

mão em função do grafismo como:

- Circundação do braço, onde a criança se coloca diante do espelho,

pernas e tronco bem apoiado e segurando uma bola:

- Círculos do braço diante do corpo.

- A criança vigia-se no espelho: nada mexe, a não ser o braço direito ou

esquerdo.

- Mesmo exercício ritmado.

- Mesmo exercício adaptado a cadências variadas, como por exemplo,

ritmo rápido, depois lento.

- Mesmo exercício, agora segurando a bola com três dedos, depois

relaxar a mão e o punho.

- Mesmo exercício vazio, sem a bola, braços e mãos relaxados.

(p.152)

Para circundação do punho e independência da mão, Picq & Vayer

(1985) sugere que faça os mesmos exercícios do braço, diante do espelho,

braços juntos ao tronco, realizar:

(p. 152)

- Pequenos círculos com a mão segurando a bola.

- Os mesmos exercícios acima, adicionando o apoio sonoro, e buscando

o relaxamento da mão.

Picq & Vayer (1985) sugere também associar a circundação do braço

com a circundação do punho:

- Circundação do braço esticado diante do corpo, realizando círculo

grande, em seguida de circundação do punho e da mão com círculo pequeno.

- Mesmo exercício rítmico: forte e fraco.

- O mesmo exercício em cadências variadas, como por exemplo, dois

tempos fortes dois tempos fracos, um tempo forte, três tempos fracos.

Sempre diante do espelho, realizar exercícios de independência do

braço e da mão e automatização dos deslocamentos:

- Circundação do braço esticado associada ao deslocamento lateral, da

esquerda para a direita.

- Mesmo exercício rítmico.

- Circundação do punho e da mão e deslocamento lateral.

- Deslocamento lateral em grandes e pequenos círculos.

Picq & Vayer (1985) ensina para coordenação e precisão exercícios

de independência dos dedos, e adverte é necessário, educar sistematicamente

não apenas o indicador da mão direita, mas todos os dedos, das duas mãos,

fazer sempre os traços da esquerda para a direita, fazer sempre os círculos no

sentido sinistrogiro (gira para esquerda) com a mão direita e na aprendizagem

da escrita igualmente com a mão esquerda.

E ainda, realizar exercícios no quadro, como:

- Seguir com o dedo um traço feito pelo professor.

- Progressivamente seguir com o dedo de maneira cada vez mais

precisa.

- Aprender a parar e mostrar onde começa e onde termina.

- Seguir sucessivamente traços cada vez menores ou cada vez mais

longos, mostrando a linha maior e a menor.

- Os mesmos exercícios associados à emissão de sons mantidos e

seguir com o dedo um círculo desenhado no quadro.

- Por fim, seguir de maneira cada vez mais precisa círculos cada vez

menores.

Picq & Vayer (1985) descreve alguns hábitos perceptivo-motores,

utilizados para preparação da escrita:

- Porte de material

- Rotação no sentido sinistrogiro

E relata que estes hábitos, são básicos para a escrita, e estabelecem-se

progressivamente através do exercício da mão e do braço:

- Deslocamentos no espaço gráfico.

- Visão e transcrição da esquerda para a direita é o resultado de uma

educação metódica da estruturação espaço temporal.

Na escrita ritmada, em relação aos exercícios de organização temporal e

consciência da sucessão regular, sugere:

- Com o giz no quadro, o pincel molhado na água para um escrita

silenciosa fazer traços verticais leves com o apoio sonoro de uma cadência, no

tempo da criança, dada pelo metrônomo, pelo tamborim.

- Seguir as cadências mais rápidas, mais lentas.

- Seguir as cadências com intensificação, fazendo traços grandes e

pequenos.

Os exercícios de grafismos contínuos são realizados através de anéis

com rotação normal procurando um traçado regular, leveza no traço, podendo

adicionar um apoio sonoro: escrita ritmada. Progressivamente buscar a

rapidez: ritmo mais rápido. Constatar para a criança que para ir depressa não é

necessário apertar. Lembrando também de associar ritmo e leveza ao traçado.

Exemplos:

Anéis grandes e pequenos:

(p. 158)

- Buscar um traço regular.

- Exercícios rítmicos com tempos fortes e fracos.

Anéis alongados:

(p.158)

- Mesmo exercício acima.

Redução do traço:

(p. 158)

- Mesmos exercícios.

Anéis, traços e intensificação:

(p.158)

- Exercícios sempre ritmados.

Sugere exercícios com anéis em rotação contrária:

(p. 158)

- Os mesmos exercícios com os anéis em rotação normal.

- Redução do traço:

(p. 159)

Para Picq & Vayer (1985) nas crianças com dificuldades gráficas, os

anéis em rotação destrogiro (giro para direita) aparecem somente depois que

os anéis em rotação normal foram completamente automatizados pelos

exercícios precedentes.

Para os exercícios de rotação dos anéis nos dois sentidos, exemplifica:

(p. 159)

Nos exercícios de diferenciação progressiva e individualização das

letras, descreve, por exemplo:

- Letras e grupos de letras em rotação normal

(p. 159)

- Letras e grupos de letras em rotação normal e contrária

(p. 159)

Por fim, Picq & Vayer (1985) resume a progressão e a continuidade dos

exercícios, efetuando-se simultaneamente em dois planos:

1. Progressão na utilização dos materiais:

- Giz e quadro.

- Giz e plástico.

- Giz, caneta de pena e papel.

2. Aperfeiçoamento progressivo das características do traçado.

- Regularidade

- Leveza

- Intensificação (ritmo)

- Rapidez.

“O ensino da escrita em geral não é algo separado do ensino da escrita

em crianças com dificuldades de aprendizagem” (Garcia, 1998, p. 209)

CONCLUSÃO

A escola maternal é o campo de aplicação ideal para a educação

psicomotora, no entanto ela não deve ser considerada como uma disciplina à

parte ou como uma atividade ao lado de outras atividades, ela deve ser a

atividade educativa da criança. Cabe ao educador personalizá-la e adaptá-las

ao meio.

É importante ressaltar a organização do material da classe e é preciso

criar um universo favorável à exploração da criança. E ainda há uma

necessidade de um vocabulário adaptado às possibilidades de compreensão

da criança, não precisando temer exprimir-se e repetir-se.

Sendo a educação psicomotora um modo de abordagem global da

criança e de seus problemas, sendo um estado de espírito e fazendo parte

integrante das correntes mais atuais da psicologia e da psicopedagogia, é

efetivamente um problema importante falar e insistir sobre as noções de

motivação, de relacionamento, de compreensão empática, isto é, aspectos

efetivos, emocionais e relacionais da educação pelo movimento.

O que também é evidente é que a educação psicomotora como

educação do ser integral, através de seu corpo e através da ação corporal é,

em todos os casos, personalizada pelo adulto que a utiliza e todos os aspectos

do relacionamento estão ligados à sua presença. Não se esquecendo de dar

ênfase a qualidade das relações da criança no seio da família. A educação

psicomotora atual é um fato, um clima educativo que não existe na concepção

tradicional de ensino; a criança escuta, age, fala, desenha numa atmosfera de

confiança e otimismo. É um resultado evidente de uma educação bem

conduzida com exercícios adaptados ao nível e ás necessidades da criança.

De acordo com algumas pesquisas nesta área, os progressos, ainda que

não sejam mensuráveis, é real. Observa-se em todos os domínios e em

particular na escrita e na linguagem uma melhora evidente que progride com as

outras aquisições. O comportamento social também melhora paralelamente à

evolução psicomotora.

Torna-se evidente que melhorando o comportamento geral, recriando as

condições de atenção, educando as condições perceptivas e dando às crianças

hábitos motores e neuromotores corretos, só se pode facilitar a integração dos

elementos da educação escolar propriamente dita.

Enfim, diminuindo a ansiedade da criança e melhorando possibilidades

de fixar a atenção abserva-se certo número de casos onde o Q.I aumenta da

maneira espetacular. Evidentemente não se trata de uma melhora de

inteligência “em si”, mas de uma melhora da utilização das possibilidades

existentes devidas essencialmente a um conhecimento melhor e a um controle

maior de si mesmo.

BIBLIOGRAFIA

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Gagné – Princípios Essenciais da Aprendizagem para o Ensino. Porto Alegre, Globo, 1980.

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Guillarme, J. Educação e Reeducação Psicomotoras. Porto Alegre, Artes Médicas, 1983.

Holle, B – Desenvolvimento motor na criança normal e retardada, São Paulo, Editora Manole Ltda, 1979.

Johnson & Myklebust – Distúrbios de aprendizagem – Princípios e Práticas Educacionais. São Paulo- SP, Editora da Universidade de São Paulo, 1983.

Le Boulch, J. O desenvolvimento psicomotor: do nascimento até 6 anos. 6ª Ed. Porto Alegre, Artes Médicas,1990.

Marco, Ademir de. (org.)- Pensando a educação motora. Campinas- SP, Papirus, 1995.

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Vayer & Picq, L. Educação psicomotora e retardo mental- Aplicação aos diferentes tipos de inadaptação. 4ª Ed. São Paulo, Manole, 1985.

Vayer, Pierre. O diálogo corporal- A ação educativa para a criança de 2 a 5 anos. São Paulo, Manole, 1989.