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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM INTERVENÇÕES E PROCEDIMENTOS Aline Ohnesorge Micmacher Orientador Prof. Carlos Alberto Cereja de Barros Rio de Janeiro 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

INTERVENÇÕES E PROCEDIMENTOS

Aline Ohnesorge Micmacher

Orientador

Prof. Carlos Alberto Cereja de Barros

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

INTERVENÇÕES E PROCEDIMENTOS

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Psicopedagogia Institucional.

Por: Aline Ohnesorge Micmacher

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AGRADECIMENTOS

Aos meus alunos por despertar em

mim uma intensa busca e despertar

reflexões diárias sobre minha prática

diária, ao meu marido pela

compreensão e incentivo.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a Deus, por ter

permitido a conclusão de mais uma etapa

de minha vida, e aos meus pais pelo

exemplo de vida

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RESUMO

Esta monografia tem como objetivo identificar os desvios e os obstáculos

básicos do sujeito que os impedem de crescer na aprendizagem dentro do

esperado pelo meio social. Construindo uma compreensão do sistema, não é

só o individuo que aprende, mas a família, a escola, a comunidade, focando no

trabalho conjunto família-escola e nas relações interpessoais. A intervenção

psicopedagógica veio introduzir uma contribuição mais rica no enfoque

pedagógico. O processo de aprendizagem da criança é compreendido como

um processo abrangente, implicando componentes de vários eixos de

estruturação: afetivos, cognitivos, motores, sociais, políticos, etc. A causa do

sucesso de aprendizagem, bem como de suas dificuldades, deixa de ser

localizada somente no aluno e no professor e passa a ser vista como um

processo maior com inúmeras variáveis que precisam ser apreendidas com

bastante cuidado pelo professor e psicopedagogo.

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METODOLOGIA

O trabalho foi realizado com base em anotações de aula, da leitura de livros,

jornais, revistas; obtidos por revisão da literatura sobre o tema e de pesquisa

bibliográfica particular, indicada por professores do curso.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I - As dificuldades de aprendizagem 10

CAPÍTULO II - Transtornos das habilidades escolares 19

CAPÍTULO III – A cooperação e o lúdico 35

CAPÍTULO IV - A visão afetiva entre escola e família 46

CAPÍTULO V – A intervenção psicopedagógica 52

CONCLUSÃO 58

BIBLIOGRAFIA 61

ÍNDICE 65

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico visa abordar as causas, conseqüências, e

fatores que interferem no desenvolvimento da aprendizagem levando a criança

a apresentar dificuldades no processo.

É cada vez maior o número de crianças sendo diagnosticadas com

dificuldades de aprendizagens, sabemos muitas vezes o que são e como

detectá-las, mas faltam espaços para discussão, reflexão e análise de

estratégias práticas que auxiliem no desenvolvimento das competências

dessas crianças.

Um outro ponto relevante é a integração com as famílias. Há

necessidade de, também, oferecer espaços para que haja escuta, diálogo e

troca de informações efetivas para um planejamento de trabalho bem traçado e

significativo.

Diante das inúmeras questões que inquietam no dia-a-dia do professor,

houve a necessidade de fazer uma investigação teórica sobre as dificuldades

de aprendizagem ocorrida em sala de aula e suas principais implicações no

processo de ensino/ aprendizagem. Assim sendo, objetivando compreender

melhor os fatores que interferem no aprendizado, através de pesquisas

bibliográficas de diversos autores, identificar causas, e possíveis estratégias

para auxiliar famílias e escola, nortearei o trabalho no intuito de que ele torne

um material de apoio aos docentes em serviço e as famílias interessadas e

preocupadas com o tema.

No primeiro capítulo abordarei os conceitos e as causam mais comuns

dos distúrbios de aprendizagem, levando em consideração que nem todas as

crianças que sentem dificuldade sofrem algum distúrbio.

No capítulo II, diante de questionamentos como: o que acontece com a

defasagem de aprendizagem de alguns alunos de uma mesma faixa etária?

Qual o aluno pode ser considerado com distúrbio de aprendizagem? O que a

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · dificuldades de aprendizagem e tenham uma perfeita adaptação escolar, gerando assim auto-estima e realização pessoal e

9 dislexia, deslalia, disortografia, hiperatividade e outros distúrbios?, destinei a

pesquisar sobre o tema no intuito de entender sobre essas dificuldades, suas

peculiaridades e diferenças.

O capítulo III trata da cooperação e do lúdico como parceiros

fundamentais no cotidiano de professores que lidam com diferentes alunos que

sofrem distúrbios e dificuldades.

No quarto capítulo enfatizo a importância da família e da ligação

amigável e afetiva entre familiares e profissionais da escola.

Para finalizar trato das intervenções psicopedagógicas, o papel do

psicopedagogo e suas dificuldades.

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CAPÍTULO I

AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Diariamente os educadores se defrontam com dificuldades de

aprendizagem, questão que inquieta o cotidiano, frustrando grande parte dos

profissionais que, na maioria das vezes, não encontram soluções para resolver

o problema.

De acordo com Collares e Moysés (1993), o uso da expressão distúrbio

de aprendizagem tem se expandido de maneira assustadora entre os

professores, apesar da maioria desses profissionais nem sempre conseguir

explicar claramente o significado da expressão ou os critérios em que se

baseiam para utilizá-la no contexto escolar. Na opinião das autoras, a utilização

desmedida da expressão distúrbio de aprendizagem no cotidiano escolar seria

mais um reflexo do processo de patologização da aprendizagem ou da

biologização das questões sociais.

Para Guerra (2001) crianças com dificuldades de aprendizagem não são

deficientes, não são incapazes e, ao mesmo tempo, demonstram dificuldades

para aprender. Incapacidades de aprendizagem não devem ser confundidas

com dificuldades de aprendizagem.

Para Strick e Smith (2001), as dificuldades de aprendizagem referem-se

não a um único distúrbio, mas a uma ampla gama de problemas que podem

afetar qualquer área do desempenho acadêmico. As dificuldades são definidas

como problemas que interferem no domínio de habilidades escolares básicas, e

elas só podem ser formalmente identificadas até que uma criança comece a ter

problemas na escola. As crianças com dificuldades de aprendizagem são

crianças suficientemente inteligentes, mas enfrentam muitos obstáculos na

escola. São curiosos e querem aprender, mas sua inquietação e incapacidade

de prestar atenção tornam difícil explicar qualquer coisa a eles. Essas crianças

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11 têm boas intenções, no que se refere á deveres e tarefas de casa, mas no meio

do trabalho esquecem as instruções ou os objetivos.

A criança com dificuldades de aprendizagem muitas vezes é rotulada,

sendo chamada de perturbada, incapaz ou retardada. Não é raro encontrar

professores que consideram alguns alunos preguiçosos e desinteressados. Tal

atitude esconde a prática docente do professor, que atribui ao aluno certos

adjetivos por mera falta de conhecimento.

Segundo Papalia, Olds (2000), afirmam que para estabelecer se houve

ou não aprendizagem é preciso que as mudanças ocorridas sejam

relativamente permanentes. Existem pelo menos sete fatores fundamentais

para que tal aprendizagem se efetive, são eles: saúde física e mental,

motivação, prévio domínio, amadurecimento, inteligência, concentração ou

atenção e memória. A falta de um desses fatores pode ser a causa de

insucessos e das dificuldades de aprendizagem. O conceito de dificuldades de

aprendizagem é abrangente e inclui problemas decorrentes do sistema

educacional, de características próprias do individuo e de influências

ambientais.

Algumas teorias foram desenvolvidas para explicar a dificuldade de

aprendizagem, entre elas a teoria do bandicapsociocultural que atribui à

criança que fracassa na escola com:

“... Dessa forma, percebe-se afetados o campo físico (na inabilidade

de utilizar objetos que ela não conhece, por exemplo), o sócio-afetivo

(na inabilidade de se relacionar em determinados meios) e o campo

intelectual (na inabilidade de se comunicar de forma eficiente ou

aprender na escola)” (GRIFFO, 2002, p.40).

Já Corrêa (2001) ressalta que "pesquisas sobre as representações que

os professores têm do fracasso escolar denunciam que eles estão convencidos

de que o problema é do aluno e da sua família", desviando toda a provável

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12 deficiência do professor e da entidade de ensino para os problemas de fatores

externos à escola.

“Os problemas de aprendizagem não são restritos nem a causas

físicas, nem a causas psicológicas e nem a análises sociais. Entre as

principais causas das dificuldades de aprendizagem e de ajustamento

escolar estão as causas orgânicas, emocionais, educacionais e sócio-

econômicas. Nas causas orgânicas existe também o fator neurológico

que interferem no campo da aprendizagem como o retardamento

mental, lesão cerebral, ausências ou disritmias, disfunção cerebral

mínima, genética ou congênita, distúrbios da inteligência, problemas

de comportamento.” (PAÍN, 1992, p.29)

Sendo assim, fica claro que as causas emocionais se tornam

componente importante no processo de aprendizagem uma vez que agem

diretamente no fato de querer aprender. A influência do lar, assim como a

influência do meio social mais amplo, é imensa, principalmente na primeira

infância e na adolescência.

Conforme consta em Polity (1998, p.73), o termo Dificuldade de

Aprendizagem é definido pelo Instituto Nacional de Saúde Mental (EUA) da

seguinte forma:

“Dificuldade de Aprendizagem é uma desordem que afeta as

habilidades pessoais do sujeito em interpretar o que é visto,

ouvido ou relacionar essas informações vindas de diferentes

partes do cérebro. Essas limitações podem aparecer de

diferentes formas: dificuldades específicas no falar, no

escrever, coordenação motora, autocontrole, ou atenção.

Essas dificuldades abrangem os trabalhos escolares e podem

impedir o aprendizado da leitura, da escrita ou da matemática.

Essas manifestações podem ocorrer durante toda a vida do

sujeito, afetando várias facetas: trabalhos escolares, rotina

diária, vida familiar, amizades e diversões. Em algumas

pessoas as manifestações dessas desordens são aparentes.

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Em outras, aparece apenas um aspecto isolado do problema,

causando impacto em outras áreas da vida.”

Segundo a autora, esse termo é definido de várias maneiras, por

diferentes autores, diferindo-se quanto à origem: orgânica, intelectual/cognitiva

e emocional (incluindo-se aí a familiar). O que se observa na maioria dos casos

é um entrelaçamento desses aspectos.

Para a compreensão das possíveis alterações no processo de

aprendizagem é necessário considerar-se tanto as condições internas do

organismo (aspecto anátomo-funcional e cognitivo), quanto as condições

externas (estímulos recebidos do meio-ambiente) ao indivíduo. Fatores como

linguagem, inteligência, dinâmica familiar, afetividade, motivação e

escolaridade, devem desenvolver-se de forma integrada para que o processo

se efetive (ROGERS, 1988).

É papel do psicopedagogo identificar as causas dos distúrbios de

aprendizagem e fazer com que a criança e a família possam superar suas

dificuldades de aprendizagem e tenham uma perfeita adaptação escolar,

gerando assim auto-estima e realização pessoal e profissional de forma a

garantir e o sucesso da relação ensino e aprendizagem.

Consideradas raras no passado, as dificuldades de aprendizagem

supostamente afetam 5% da população. Muitas autoridades pensam que o

numero de indivíduos afetados é ainda maior, e os especialistas concordam

que muitas crianças não estão indo tão bem quanto poderiam na escola em

virtude de deficiências que não foram identificadas. Quando as táticas comuns

de recompensa e punição fracassam, pais e professores tornam-se frustrados,

mas ninguém sente maior frustração que os próprios estudantes.

“Qualquer escola precisa ser organizada sempre em função da

melhor possibilidade de ensino e ser permanentemente questionada

para que seus próprios conflitos, não resolvidos, não apareçam nas

salas de aulas sob a forma de distorções do próprio ensino. Nessas

situações fica o aluno como depositário desses conflitos e,

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conseqüentemente, apresenta perturbações em seu processo de

aprendizagem.” (BLEGER,1960).

Outras falhas escolares estão na qualidade e na dosagem da quantidade

de informações a serem transmitidas e na cobrança ou avaliação de

aprendizagem. Tais situações, se mal conduzidas, são geradoras de uma

ansiedade insuportável para o aluno, chegando a desorganização de sua

conduta por não agüentar o excesso de ansiedade.

Pichon-Rivière (1982) muito contribuiu para a compreensão das

dificuldades de aprendizagem resultantes de ansiedades vividas pelo sujeito no

momento em que se vê colocado em situação de aprendizagem nova, muitas

vezes, pedagogicamente de forma inadequada. Considerou que, nesse

momento, o sujeito experimenta dois medos básicos a que chamou de “medo à

perda” e “ medo ao ataque”. O sentimento de “medo à perda” surge quando

teme perder o equilíbrio emocional já obtido com a segurança que possui no

domínio dos conhecimentos anteriores, já integrados. O “medo ao ataque” do

conhecimento novo acontece quando não se sente devidamente

instrumentado na situação nova que está vivendo. Esses dois “medos”

coexistem sempre; entretanto, não devem chegar a um ponto tal que atrapalhe

a mudança de conduta que vai caracterizar o domínio, a integração do que é

novo, ou seja, a verdadeira aprendizagem do aluno em sala de aula.

O conceito de dificuldades de aprendizagem é abrangente e inclui

problemas decorrentes do sistema educacional, de características próprias do

individuo e de influências ambientais. Do mesmo modo, segundo Paín (1992)

"os problemas de aprendizagem são aqueles que se superpõem ao baixo nível

intelectual, não permitindo ao sujeito aproveitar as suas possibilidades".

É antiga a preocupação com a qualidade da educação no Brasil. Ribeiro

citado por Corrêa (2001) afirma que o problema da baixa qualidade da

educação brasileira não era tanto pelo índice de evasão escolar e mais pela a

alta taxa de reprovação. Logo, a questão da qualidade da educação é dada

pelo índice da dificuldade de aprendizagem. Os problemas vividos pelas

crianças nessa situação são na maioria das vezes vivenciados como situação

de fracasso, pois, por não conseguirem obter êxito nas demandas escolares,

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15 acabam por se sentirem incapazes, gerando sentimentos de frustração e

comportamento desestabilizado, entre outros. O fracasso decorrente de

situações específicas pode se traduzir num fracasso geral, resultando no

próprio abandono da escola.

Muitas são as causas para o aparecimento das dificuldades de

aprendizagem e outras tantas são as formas como se manifestam. Falando

nelas, tem de se ter em mente que as causas dos distúrbios são múltiplas. Não

se pode ter a idéia de que um distúrbio de aprendizagem é causado por um

único fator. Quando uma criança não aprende, uma multiplicidade de fatores

vai se combinando e, na maioria das vezes, fica difícil se isolar um único fator

que seja o responsável pelo fracasso que a criança apresenta na escola.

Dentre os diversos fatores que causam distúrbio de aprendizagem, podemos

citar:

• Deficiência mental: é uma das causas mais comuns e freqüentes da

DA. A deficiência afeta as áreas simbólicas e ler e escrever são

processos simbólicos. Mas, tem de ficar claro que a criança deficiente

também aprende e passa pelos mesmos estágios de desenvolvimento

pelos quais passa uma criança normal, só que a primeira demora mais

tempo para atingir esses estágios e passar por eles;

• Déficits sensoriais e físicos: crianças que possuem acuidade visual ou

auditiva rebaixada o que apresenta paralisias ou problemas motores;

• Fatores emocionais: crianças com muita ansiedade em relação à

aprendizagem, quer por exigências familiares ou escolares. Crianças em

estados depressivos causados por perdas. Crianças que não se

adaptaram ao contexto escolar. Problemas mais graves que envolvem

os estabelecimentos de vínculos emocionais com o ambiente (autismo,

psicose);

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• Interação com o ambiente letrado: a maioria dos estudos indica que

os distúrbios de aprendizagem começam antes da criança ingressar na

escola. A qualidade da interação com o ambiente letrado e como as

pessoas que dele se utilizam (pais, professores, etc.) teria grande peso

no sucesso e no fracasso escolar;

• Fatores escolares: estudos têm mostrado que a interação

professor/aluno é de suma importância no processo de aprendizagem.

Professores que não acreditam na capacidade de aprendizagem de seu

aluno tendem a conduzi-lo ao fracasso. Metodologias inadequadas

também têm produzido fracasso escolar em crianças;

• Rendimento limítrofe: a maioria das crianças com problemas de

aprendizagem apresentam um rendimento limítrofe nas provas. A média

desse rendimento anda em torno do QI oitenta. As estruturas cognitivas

não aparecem com retardo, mas sua aplicação resulta instável e

submetida a regressões bruscas.

• Normal baixo: mesmo que os sujeitos de rendimento normal baixo

possam obter eventualmente um QI igual ao limítrofe (oitenta e cinco

como média) o protocolo indica menor dispersão e se observa maior

homogeneidade na aplicação das estruturas construídas que costumam

ser sólidas;

• Normal: o sujeito normal é o que obtém um QI entre noventa e cento e

dez;

• Normal superior: o tipo de rendimento correspondente ao sujeito

normal superior é o que merece em linguagem vulgar o qualificativo de

inteligente. A maioria dos problemas de aprendizagem em crianças bem

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dotadas surge de uma má inserção escolar e de um predomínio na

assimilação;

• Superdotados: os que têm QI superior a cento e trinta, quando

apresentam problemas de aprendizagem mostram grande precocidade

na aquisição de estruturas, que entra freqüentemente em contradição

com uma carência na necessária acumulação da experiência no estágio

anterior. Em geral, apresentam um déficit lúdico.

Diagnosticar o não-aprender como sintoma consiste em encontrar sua

funcionalidade, isto é, sua articulação na situação integrada pelo aluno e seus

pais. A falta de aprendizagem revelará seu significado se prestarmos atenção à

maneira como o sujeito é para o outro, evidentemente a partir de sua maneira

particular de ser como organismo e como história.

A categoria aprendizagem é ampla e envolve problemas relativos ao

desenvolvimento infantil. Os mais comuns são:

• Ritmo - cada um tem uma velocidade própria para aprender. Crianças

com distúrbio apresentam ritmo mais lento. Elas precisam de um tempo

maior para compreender um novo conceito. Quando o professor planeja

levando em conta as particularidades de cada aluno, evita que alguns

fiquem pelo caminho;

• Linguagem oral - há crianças que não apresentam nenhum déficit

auditivo que impeça a fala, mas a compreensão e a expressão estão

prejudicadas, inclusive no aspecto cognitivo. Da mesma forma, há

aquelas que estão aparentemente bem, mas revelam dificuldades gerais

quanto à evolução escolar (redação, ortografia, leitura, compreensão de

textos e exercícios matemáticos, etc.). Provavelmente, elas sofrem

desse distúrbio de aprendizagem e precisam de atenção especial em

classe;

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• Linguagem escrita - são casos nos quais, apesar das habilidades orais

estarem resolvidas, as crianças têm dificuldades no aprendizado da

escrita. Língua Portuguesa, neste caso, é a disciplina mais prejudicada.

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CAPÍTULO II

TRANSTORNOS DAS HABILIDADES ESCOLARES –

TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM

A origem da categoria das dificuldades de aprendizagem, como hoje é

conhecida, desenvolveu a partir do conceito de "criança com lesão cerebral",

formulada por Alfred Strauss (neuropsiquiatra) e Heninz Werner (psicólogo

especializado em psicologia comparada e do desenvolvimento), quando

trabalharam juntos, por aproximadamente treze anos, numa instituição do

Michigan, conhecida por Wayne County Training School.

Eles tentaram estabelecer diferenças entre crianças com retardo mental

endógenos (genéticos, na maioria), e exógenos (com lesões cerebrais, na

maior parte). Perceberam que, a maioria das crianças que apresentavam

dificuldades na aprendizagem apresentava sintomas comportamentais

característicos de crianças com lesão cerebral mínima (conhecido com

síndrome de Strauss) e que incluíam os seguintes componentes: distúrbios

perceptuais, perseverarão, dispersividade, distúrbios conceituais e do

pensamento, distúrbios motores – em especial hiperatividade e desajeitamento.

Mais tarde, esses componentes foram ampliados, subdivididos e tornados mais

específicos, mas até hoje, constituem o núcleo das principais características

comportamentais de crianças com dificuldades de aprendizagem.

Desde 1940, educadores, psicólogos, psiquiatras e neurologistas

reconhecem que existe um grupo de crianças, com inteligência normal ou

acima da média, que não obtém sucesso nos estudos em decorrência de

deficiências neurogênicas de aprendizagem. Muitas delas tem sido

consideradas como portadoras de lesão cerebral mínima. Entretanto, em

paralelo a essa visão organicista, tem sido reconhecido com conjunto de

termos comportamentais, que têm sido usados para identificar a dificuldade

dessas crianças.

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20 Atualmente são diagnosticados quando os resultados em testes

padronizados e individualmente administrados de LEITURA, MATEMÁTICA e

ESCRITA estão significativamente abaixo da média, interferindo no rendimento

escolar ou nas atividades diárias que exijam estas habilidades. Definição

DSMIV-R.

Transtorno da leitura (dislexia)

A incapacidade de aprender a ler de um indivíduo que possui a

capacidade intelectual necessária. Vários são os termos dados a este

transtorno como: dislexia específica, dislexia de evolução, e no passado

"cegueira verbal congênita".

O retardo de maturação significa lenta diferenciação em relação a um

padrão estabelecido, sem que se especifique ser o déficit local, estrutural,

específico ou fixo. Não implica em limitação obrigatória quanto ao potencial; na

verdade, com freqüência sobrevêm aceleramento de maturação..

A dislexia representaria um tipo especial de imaturidade cerebral, na

qual se atrasaria a função de reconhecimento visual e auditivo dos símbolos

verbais.

Um dos primeiros pesquisadores principais a estudar a dislexia foi

Samuel T. Orton, um neurologista que trabalhou inicialmente em vítimas de

traumatismos. Em 1925 Orton conheceu o caso de um menino que não

conseguia ler e que apresentava sintomas parecidos aos de algumas vítimas

de traumatismo. Orton estudou as dificuldades de leitura e concluiu que havia

uma síndrome não correlacionada a traumatismos neurológicos que provocava

a dificuldade no aprendizado da leitura. Orton chamou essa condição por

strephosymbolia (com o significado de 'símbolos trocados') para descrever sua

teoria a respeito de indivíduos com dislexia. Orton observou também que a

dificuldade em leitura da dislexia aparentemente não estava correlacionada

com dificuldades estritamente visuais.Ele acreditava que essa condição era

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21 causada por uma falha na laterização do cérebro.A hipótese referente à

especialização dos hemisférios cerebrais de Orton foi alvo de novos estudos

póstumos na década de 1980 e 1990, estabelecendo que o lado esquerdo do

planum temporale,uma região cerebral associada ao processamento da

linguagem é fisicamente maior que a região direita nos cérebros de pessoas

não disléxicas; nas pessoas disléxicas, contudo, essas regiões são simétricas

ou mesmo ligeiramente maior no lado direito do cérebro.

Pesquisadores estão atualmente buscando uma correlação neurológica

e genética para a dificuldade em leitura

Atualmente, os investigadores na área de Psicolingüística aplicada à

educação escolar apresentam a hipótese de déficit fonológico como a que

justificaria, por exemplo, o aparecimento de disléxicos com confusão espacial e

articulatória.

Desse modo, são considerados sintomas da dislexia relativos à leitura e

escrita os seguintes erros:

• erros por confusões na proximidade especial:

o a) confusão de letras simétricas;

o b) confusão por rotação e

o c) inversão de sílabas

• confusões por proximidade articulatória e seqüelas de distúrbios de fala:

o a) confusões por proximidade articulatória;

o b) omissões de grafemas, e

o c) omissões de sílabas.

As características lingüísticas, envolvendo as habilidades de leitura e

escrita, mais marcantes das crianças disléxicas, são:

• a acumulação e persistência de seus erros de soletração ao ler e de

ortografia ao escrever;

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• confusão entre letras, sílabas ou palavras com diferenças sutis de grafia:

a-o; c-o; e-c; f-t; h-n; i-j; m-n; v-u; etc;

• confusão entre letras, sílabas ou palavras com grafia similar, mas com

diferente orientação no espaço: b-d; b-p; d-b; d-p; d-q; n-u; w-m; a-e;

• confusão entre letras que possuem um ponto de articulação comum, e,

cujos sons são acusticamente próximos: d-t; j-x;c-g;m-b-p; v-f;

• inversões parciais ou totais de sílabas ou palavras: me-em; sol-los; som-

mos; sal-las; pal-pla.

Segundo Mabel Condemarín (1987, p.23), outras perturbações da

aprendizagem podem acompanhar os disléxicos,:

• Alterações na memória

• Alterações na memória de séries e seqüências

• Orientação direita-esquerda

• Linguagem escrita

• Dificuldades em matemática

• Confusão com relação às tarefas escolares

• Pobreza de vocabulário

• Escassez de conhecimentos prévios (memória de longo prazo)

Agora, uma pergunta pode advir: Quais as causas ou fatores de ordem

pedagógico-lingüística que favorecem a aparição das dislexias?

Uma das causas de ordem pedagógica, pode começar por:

Atuação de docente não qualificado para o ensino da língua materna

sem formação pedagógica, em nível médio, que desconheça a fonologia

aplicada à alfabetização ou conhecimentos lingüísticos e metalingüísticos

aplicados aos processos de leitura e escrita).

• Crianças com tendência à inversão

• Crianças com deficiência de memória de curto prazo

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• Crianças com dificuldades na discriminação de fonemas (vogais e

consoantes)

• Vocabulário pobre

• Alterações na relação figura-fundo

• Conflitos emocionais

• O meio social

• As crianças com dislalia

• Crianças com lesão cerebral

No caso da criança em idade escolar, a Psicolingüística define a dislexia

como um fracasso inesperado na aprendizagem da leitura (dislexia), da escrita

(disgrafia) e da ortografia (disortografia) na idade prevista em que essas

habilidades já devem ser automatizadas. É o que se denomina de dislexia de

desenvolvimento.

Transtornos da matemática (discalculia)

É definido como uma desordem neurológica específica que afeta a

habilidade de uma pessoa de compreender e manipular números. A discalculia

pode ser causada por um déficit de percepção visual. O termo discalculia é

usado frequentemente ao consultar especificamente à inabilidade de executar

operações matemáticas ou aritméticas, mas é definido por alguns profissionais

educacionais como uma inabilidade mais fundamental para conceitualizar

números como um conceito abstrato de quantidades comparativas.

Discalculia é um impedimento da matemática que vá adiante junto com

um número de outras limitações, tais como a introspecção espacial, o tempo, a

memória pobre, e os problemas de ortografia. Há indicações de que é um

impedimento congênito ou hereditário, com um contexto neurológico.

Discalculia atinge crianças e adultos.

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24 Sintomas Potenciais

• Dificuldades freqüentes com os números, confundindo os sinais: +, -, ÷ e

x.

• Problemas de diferenciar entre esquerdo e direito.

• Falta de senso de direção (para o norte, sul, leste, e oeste) e pode

também ter dificuldade com um compasso.

• A inabilidade de dizer qual de dois números é o maior.

• Dificuldade com tabelas de tempo, aritmética mental, etc.

• Melhor nos assuntos tais como a ciência e a geometria, que requerem a

lógica mais que as fórmulas, até que um nível mais elevado que requer

cálculos seja necessário.

• Dificuldade com tempo conceitual e julgar a passagem do tempo.

• Dificuldade com tarefas diárias como verificar a mudança e ler relógios

analógicos.

• A inabilidade de compreender o planejamento financeiro ou incluir no

orçamento, nivelar às vezes em um nível básico, por exemplo, estimar o

custo dos artigos em uma cesta de compras.

• Tendo a dificuldade mental de estimar a medida de um objeto ou de uma

distância (por exemplo, se algo está afastado 10 ou 20 metros).

• Inabilidade de apreender e recordar conceitos matemáticos, régras,

fórmulas, e seqüências matemáticas.

• Dificuldade de manter a contagem durante jogos.

• Dificuldade nas atividades que requerem processamento de seqüências,

do exame (tal como etapas de dança) ao sumário (leitura, escrita e

coisas sinalizar na ordem direita). Pode ter o problema mesmo com uma

calculadora devido às dificuldades no processo da alimentação nas

variáveis.

• A circunstância pode conduzir em casos extremos a uma fobia da

matemática e de dispositivos matemáticos (por exemplo números).

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Dislalia

Para Pain (1986), a dislalia é o transtorno funcional primário que

corresponde ao atraso da fala, à linguagem "bebê".

É um evento oculto que não pode ser controlado diretamente. Dessa

maneira, é muito parecido com o processo oculto de aprendizagem, que

também não apresenta referência direta e só pode ser mensurado pela

observação das alterações no desempenho. Infelizmente, a atenção é um pré-

requisito da aprendizagem. Se ambos são mensurados por uma alteração no

desempenho é divida à atenção imperfeita, à aprendizagem imperfeita ou

ambas.

A atenção na aprendizagem refere-se à seleção de estímulos dentre os

vários utilizados no processo de aprendizagem, a fim de ele associar a

resposta adequada. A criança precisa dispor da atenção seletiva para discernir

dentre tantos estímulos àquele que leva a uma resposta apropriada. A atenção

deve estar centrada no conteúdo propriamente, não na forma e recursos

utilizados na aprendizagem deste indivíduo. Ao escutar uma explicação oral,

além de se preocupar com a compreensão da mesma, há uma percepção de

tom de voz, sotaque etc; que também fazem parte do estímulo. Caso a atenção

não esteja centrada, (atenção seletiva); ela se desviará, não vingando o

essencial

A dislalia é um distúrbio da fala, caracterizado pela dificuldade em

articular as palavras. Basicamente consiste na má pronúncia das palavras, seja

omitindo ou acrescentando fonemas, trocando um fonema por outro ou ainda

distorcendo-os ordenadamente.

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26 A falha na emissão das palavras pode ainda ocorrer em fonemas ou

sílabas. Assim sendo, os sintomas da Dislalia consistem em omissão,

substituição ou deformação dos fonemas.

De modo geral, a palavra do dislálico é fluida, embora possa ser até

ininteligível, podendo o desenvolvimento da linguagem ser normal ou

levemente retardado. Não se observam transtornos no movimento dos

músculos que intervêm na articulação e emissão da palavra.

Em muitos casos, a pronúncia das vogais e dos ditongos costuma ser

correta, bem como a habilidade para imitar sons. Diante do paciente dislálico

costuma-se fazer uma pesquisa das condições físicas dos órgãos necessários

à emissão das palavras, verifica-se a mobilidade destes órgãos, ou seja, do

palato, lábios e língua, assim como a audição, tanto sua quantidade como sua

qualidade auditiva.

As Dislalias constituem um grupo numeroso de perturbações orgânicas

ou funcionais da palavra. No primeiro caso, resultam da malformações ou de

alterações de inervação da língua, da abóbada palatina e de qualquer outro

órgão da fonação. Encontram-se em casos de malformações congênitas, tais

como o lábio leporino ou como conseqüência de traumatismos dos órgãos

fonadores. Por outro lado, certas Dislalias são devidas a enfermidades do

sistema nervoso central.

Quando não se encontra nenhuma alteração fisica a que possa ser

atribuído a Dislalia, esta é chamada de Dislalia Funcional. Nesses casos,

pensa-se em hereditariedade, imitação ou alterações emocionais e, entre

essas, nas crianças é comum a Dislalia típica dos hipercinéticos ou hiperativos.

Também nos deficientes mentais se observa uma Dislalia, às vezes grave ao

ponto da linguagem ser acessível apenas ao grupo familiar.

Até os quatro anos, os erros na linguagem são normais, mas depois

dessa fase a criança pode ter problemas se continuar falando errado. A

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27 Dislalia, troca de fonemas (sons das letras), pode afetar também a escrita. Um

caso clássico característico portador de dislalia são os personagens Cebolinha

da Turma da Mônica o Hortelino Troca-Letras ("Elmer Fudd") do Looney Tunes,

que sempre trocam o "R" (inicial e intervocálico) por "L", no caso de Hortelino, o

"R" final também é afetado.

Alguns fonoaudiólogos consideram que a Dislalia não seja um problema

de ordem neurológica, mas de ordem funcional. Segundo eles, o som alterado

pode se manifestar de diversas formas, havendo distorções, sons muito

próximos mas diferentes do real, omissão, ato em que se deixa de pronunciar

algum fonema da palavra, transposições na ordem de apresentação dos

fonemas (trocar máquina por mánica) e, por fim, acréscimos de sons.

Dificuldade na linguagem oral, que pode interferir no aprendizado da

escrita. A criança omite, faz substituições, distorções ou acréscimos de sons.

Eis alguns exemplos:

• Omissão: não pronuncia sons - "omei" = "tomei";

• Substituição: troca alguns sons por outros - "balata" = "barata";

• Acréscimo: introduz mais um som - "Atelântico" = "Atlântico".

Apraxias

Pain (1986) conceitua apraxias como a incapacidade de executar os

movimentos apropriados a um determinado fim, conquanto não haja paralisias.

Disfasias/Audiomudez: transtornos raros da evolução da linguagem.

Trata-se de crianças que apresentam um transtorno da integração da

linguagem sem insuficiência sensorial ou fonatória; que podem, embora com

dificuldade, comunicar-se verbalmente e cujo nível é considerado normal.

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Disortografia

Escrita com os erros de que tratamos, pode ser o primeiro ou único

achado de exame em caso de dislexia leve não examinado logo no início,

podendo ter havido, mas já desaparecido, as dificuldades à leitura. Boa parte

dos disléxicos melhora razoavelmente nesta matéria, enquanto ainda

comentem muitos erros à escrita. Os disléxicos podem fazer toda a sua escrita

em espelho, o que é, entretanto, raro. Quanto aos erros de omissão, o mais

freqüente é suprimirem-se letras mudas ou vogais – BNDT (por BENEDITO),

por exemplo. (Pain, 1986).

É comum a tendência à união de duas ou mais palavras numa só, mas

se pode também verificar a divisão de uma palavra, que o disléxico escreve em

duas partes. Quanto à pontuação, pode haver na colocação de vírgulas.

Afasia

Para Pain (1986), afasia é a perda parcial ou total da capacidade de

linguagem, de causa neurológica central decorrente de AVC (Acidente Vascular

Cerebral), lesões cerebrais nas áreas da fala e linguagem. Conforme a

extensão e localização da lesão o paciente pode apresentar um ou mais

sintomas.

Sintomas:

• perda total ou parcial da articulação das palavras;

• perda total ou parcial da fluência verbal;

• dificuldade de expressar-se verbalmente; nomear objetos; repetir

palavras; contar; nomear por exemplo os dias da semana, meses do

ano; ou ainda perda da noção gramatical;

• perda total ou parcial da habilidade de interpretação, não reconhece o

significado das palavras;

• ler;

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• escrever;

• perda total ou parcial da capacidade de organização de gestos para

comunicar o que quer.

Ressalta uma redução da expressão verbal com transtornos articulares

freqüentes, uma compreensão oral raramente perturbada, uma alexia freqüente

acompanhando-se de transtornos da escrita. Afasias pós -traumáticas ou

tumorais das quais poderíamos obter certas características; redução da

expressão verbal oral mas sobretudo escrita, freqüência muito maior dos

transtornos da realização da linguagem, em menos grau, da compreensão da

linguagem, evolução um tanto favorável quando a lesão não é evolutiva.

Memória

Pain (1986) define a memória como a capacidade do indivíduo de gravar

as experiências e acontecimentos ao longo da vida.

Pode ser dividida em:

• Tipos de material: verbal ou não verbal

• Modalidade de Experiência Sensorial; visual, auditiva, táctil e gustativa.

• Memória de Curto Termo: para informações apresentadas pelo menos

há 30 minutos.

• Memória Remota; para informações que ocorreram há mais de 24 h.

Os transtornos de memória têm sido mais freqüentemente relatados

como déficits de habilidade associados com algum tipo de disfunção cerebral.

Problema de memória é também freqüentemente foco de intervenções de

tratamento, e podem ser classificados como Retrógrada (dificuldade de

memória para informação codificada antes da lesão) e Anterógrada (dificuldade

de memória para informações subseqüentes à lesão).

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30 No tratamento das disfunções da memória é importante identificar a

fonte de dificuldade, se possível, bem como a natureza e parâmetros da

disfunção. Entendendo-se o mecanismo da dificuldade pode-se conduzir ao

desenvolvimento das intervenções apropriadas. Dentro de uma abordagem

psicológica, existe distinção de 03 tipos de memória: Psíquica: ligada aos

mecanismos de esquecimento; Cognitiva: referente ao estocar e evocar

informações; Memória do "Saber Fazer"; ligada aos programas genéticos que

necessitam de encontros específicos com o ambiente, denominada Memória

Potencial ou Latente.

A intervenção psicopedagógica em indivíduos que tem problema de

retenção vem no sentido de auxiliar para que este faça um maior número de

relações entre o objeto de estudo (o que quer ou precisa aprender) e suas

estruturas mentais.

Hiperatividade

Segundo Pain (1986), a imagem composta da primeira infância e da

meninice das crianças hiperativas é a de crianças que têm dificuldade de

alimentar-se, de dormir, estão muitas vezes em mau estado de saúde e não

aprendem a falar, ou só falam adequadamente após os 03 anos de idade ou

mais.

Estas crianças se encontram em: Transtornos Emocionais; Deficiência

Mental, Desenvolvimento Psicomotor.

Atraso na linguagem. Considera-se atraso na linguagem criança que: até

01 ano e ½ não falam palavras isoladas; a partir dos 02 anos não formam

frases.

As causas possíveis podem ser: quando os pais ou aqueles que cuidam

da criança não esperam que a mesma exprima sua vontade, antecipam-se

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31 fazendo aquilo que a criança quer, fazendo com que a criança não sinta

necessidade de falar; Quando não há estímulos adequados; Quando o meio

sócio-afetivo-cultural não é adequado; Quando há atraso psicomotor; Quando à

perda auditiva parcial ou total; Quando à problema neurológico.

Tratamento: Fonoaudiológico. Será identificado o nível de linguagem, as

causas do atraso, orientação da participação familiar.

Problemas de controle de comportamento, percepção social e interação

social podem existir junto com as dificuldades de aprendizagem, mas elas não

constituem por si só uma desordem de aprendizagem. Embora dificuldades de

aprendizagem possam ocorrer concomitantemente a outras condições

desfavoráveis (retardo mental, séria desordem emocional, problemas sensórios

- motores) ou influências externas (como diferenças culturais, instrução

insuficiente ou inapropriada) elas não são o resultado dessas influências ou

condições.

No Brasil, a *CID – 10 (OMS, 1998) traz uma referencia a "Transtornos

específicos do desenvolvimento das habilidades escolares" (F81.0/2/3/8)

definindo-os como:

“...perturbações que interferem significativamente nas

realizações escolares ou nas atividades da vida diária (...)

nos quais ambas as habilidades, aritméticas e de leitura

ou do soletrar, estão significativamente comprometidas,

mas na qual o transtorno não é explicável apenas em

termos de retardo mental ou aprendizagem inadequada.”

(p. 163)

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32 Na categoria F81.9, do CID – 10 encontramos: "transtornos inespecíficos

nos quais há uma incapacidade significativa de aprendizagem que não pode

ser explicada apenas por retardo mental, problemas de acuidade visual ou

escolaridade inadequada" (p. 164). Existe ainda o critério F839 (idem) –

Transtornos mistos do desenvolvimento – que são classificados como uma

"mistura de transtornos específicos do desenvolvimento da fala da linguagem,

das habilidades escolares ou da função motora, mas no qual nenhum

predomina suficientemente para construir o diagnóstico principal".(p. 164)

Essas definições tornam patente a diversidade de manifestações e

etiologias da Dificuldade de Aprendizagem, que exigem assim, diferentes

olhares e procedimentos.

As Dificuldades de Aprendizagem, de origem orgânica, podem ser

bastante definidas e claras, levando-nos a supor que a área emocional e o

ambiente familiar tiveram pouca ou nenhuma participação no seu aparecimento

e determinação. Seria o caso dos distúrbios de ordem neurológica ou

metabólica, que implicam numa perda da capacidade de aprendizagem.

Boa parte dos problemas, com os quais esbarramos nesta área –

lentidão de raciocínio, falta de atenção, desinteresse, entre outros – encontram

suas origens na biologia e sobretudo, na biologia exposta ao meio ambiente.

Mas, mesmo as teorias mais organicistas, baseadas na neuropsicologia,

como afirma Ratey (1997), admitem que os distúrbios mentais, mesmo

brandos, podem se tornar muito piores em respostas a um ambiente cheio de

ruídos, a uma família ruidosa (aqui entendida como um sistema onde a

comunicação é difícil o mesmo impossível, devido a padrões disfuncionais do

grupo).

O nível de funcionamento dos pais sempre altera o problema – com

base biológica ou não – do filho. A criança hiperativa tornar-se-á mais

hiperativa, a deprimida mais deprimida, a autista mias autista, quando a família

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33 funciona desta forma. São o que poderíamos denominar de famílias com

funcionamentos isomorfos.

Ao avaliar as Dificuldades de Aprendizagem, dentro do contexto familiar,

não estaremos responsabilizando o grupo pela química cerebral, mas tentando

entender como as situações serão encaradas e administradas.

Uma Dificuldade de Aprendizagem não significa necessariamente uma

deficiência mental ou orgânica. Indica outrossim, uma condição específica,

onde existem aspectos que precisam ser trabalhados para se obter melhores

rendimento intelectual. Audrey Souza (1995), refere-se à inibição intelectual,

que estaria na base da Dificuldade de Aprendizagem, como sendo "fatores da

vida psíquica da criança, que podem atrapalhar o bom desenvolvimento dos

processos cognitivos, e sua relação com a aquisição de conhecimentos e com

a família, na medida em que as atitudes parentais influenciam sobremaneira a

relação da criança com o conhecimento." (p. 58)

Em muitos casos fica difícil para os profissionais envolvidos, distinguir a

origem da desordem emocional, pois muitos sintomas se sobrepõem,

dificultando um diagnóstico mais preciso.

É preciso também considerar os efeitos emocionais que essas

dificuldades acarretam, agravando o problema. Se seu rendimento escolar for

sofrível, a criança talvez seja vista como um fracasso pelos professores ou

colegas, e até pela família. Infelizmente, muitas dessas crianças desenvolvem

uma auto-estima negativa, que agrava em muito a situação, e, que poderia ser

evitada, com o auxílio da família e de uma escola adequada. É essencial que

as crianças recebam apoio dos pais, pois quando sabem que têm pais que dão

suporte emocional, a criança desenvolve uma base sólida e um senso de

competência que a leva a uma auto-estima satisfatória.

Com base nas leituras concebo Dificuldades de Aprendizagem como

uma condição bastante abrangente, que se manifesta sobretudo, pelo fracasso

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34 escolar. Esta condição tem um leque muito amplo de causas, mas sua forma

evolutiva, está intimamente relacionada com o sistema familiar, educacional e

social no qual o sujeito está inserido.

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35

CAPÍTULO III

A COOPERAÇÃO E O LÚDICO

A construção de uma pedagogia cooperativa é totalmente viável, pois a

escola necessita ensinar para além do ler, escrever ou calcular. Não que isso

não seja relevante, sem dúvidas, mas a escola sempre deve estar preocupada

em ser um elemento de transformação, ensinando valores humanos

essenciais. Infelizmente, a escola fomenta a competição e agindo assim,

alimenta um sistema perverso que vive da competição.

Falar em cooperação é falar em aceitação, ajuda mútua, divertimento,

prazer qualidade de vida, enfim, criar possibilidades de mudanças.

A grande busca da educação é tentar fazer com que a criança, sendo

sujeito de sua ação, possa ser tornar o tão almejado “homem integral. Teles

(1996) nos fala do comportamento deste homem integral.

“ O homem integral é universalista. Para ele não existem

raças, nem fronteiras. Como ele alcançou um patamar

superior, vê todos os habitantes do planeta como uma

família, que, mesmo usando roupas diferentes, comendo

alimentos diferentes,falando línguas diferentes, vivem as

mesmas alegrias e mesmas angústias.”

Os jogos cooperativos fazem com que as pessoas que jogam possam

apreciar tudo o que o jogo pode oferecer, pois não precisam se preocupar com

o resultado final, mas sim com todos os momentos do jogo.É imprescindível

oferecer para as crianças um momento em que possam jogar e discutir os

valores humanos tais com ganhar, perder, poder, solidariedade, respeito,

sucesso, fracasso, ansiedade, rejeição, jogo limpo, aceitação, amizade,

cooperação e competição sadia.

Os jogos e trabalhos cooperativos são propostas que buscam atitudes

positivas, são tarefas planejadas para o encontro, buscando a participação de

todos e sempre desafiando rumo a objetivos coletivos, como nesse trabalho

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36 não existe pressão para alcançar um resultado, o foco passa a ser o processo,

o momento em que o grupo se torna único, pois exige a participação e

comprometimento de todos envolvidos, reforçando a confiança mútua, a

importância do diálogo.

Quando trabalhamos cooperativamente, mostramos o que realmente

somos, agimos de forma mais intensa, contribuindo com aquilo que

conseguimos, e que nos é possível. E cada individuo passa a ser muito

importante, pois para que o grupo alcance seu objetivo precisará de todos, com

cada um compartilhando naquilo que pode. A intercomunicação de idéias faz

com que as pessoas que participam fiquem expostas a uma socialização

crescente , havendo muita negociação entre o grupo, para se alcançar o

objetivo.

O objetivo, então, é ajudar as pessoas a construir uma ética cooperativa,

uma ética para a convivência, que permita a aproximação entre as pessoas no

complexo mundo em que vivemos.Só por meio discurso não mudaremos nada,

precisamos de ações práticas, Orlick (1989) nos dá uma preciosa dica, quando

diz:

“Quando participamos de um determinado jogo, fazemos

parte de uma mini sociedade que pode nos formar em

direções variadas”.

3.1 - O jogo e os processos de aprendizagem e

desenvolvimento.

A ação, durante o movimento do jogo, provoca espontaneidade. Os

jogos proporcionam a criança adquirir o domínio da comunicação com os

outros.

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37 O desenvolvimento da espécie humana está baseado no aprendizado

que, para Vygotsky, sempre envolve interferência, direta ou indireta, de outros

indivíduos e a reconstrução pessoal da experiência e dos significados.

Um dos conceitos de Vygotsky é o conceito de mediação. (REGO, 2000,

p.50)

“O entendimento desse elemento mediador na relação

organismo-meio vem provar que a relação mais importante do

homem com o mundo não é a relação direta e sim a relação

mediada. Os signos seriam para Vygotsky os mesmos

instrumentos, porém numa dimensão psicológica, já que são

internos ao indivíduo, diferentemente dos instrumentos que são

externos.”

Vygotsky e seus colaboradores (Luria e Leontiev) estudaram a formação

dos sistemas simbólicos e os processos de internalização desses sistemas,

considerando as transformações sofridas pelo indivíduo ao longo do seu

desenvolvimento, a partir dos processos de mediação.

O processo desencadeado num determinado meio cultural

(aprendizagem) vai despertar os processos de desenvolvimento internos no

indivíduo. Essa conclusão levou Vygotsky a pensar o conceito de zona de

desenvolvimento proximal. A criança em cada momento de seu

desenvolvimento tem um nível de desenvolvimento real e um nível de

desenvolvimento potencial. À distância entre esses dois níveis é a zona de

desenvolvimento proximal. Interferindo nessa zona, um educador estará

contribuindo para movimentar os processos de desenvolvimento das funções

mentais complexas da criança. Conforme ressalta Rego (2000, p.59) essas

características humanas proporcionam a concepção do desenvolvimento como

processo.

“O desenvolvimento está intimamente relacionado ao contexto

sócio-cultural em que a pessoa se insere e se processa de

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forma dinâmica (e dialética) através de rupturas e

desequilíbrios provocados de contínuas reorganizações por

parte do indivíduo.”

Esse conceito sob a ótica da educação escolar é importante, pois sendo

o aprendizado que impulsiona o desenvolvimento, a escola tem um papel

fundamental na construção do ser psicológico adulto de nossas sociedades

mais organizadas e coerentes.

Vygotsky denomina essa capacidade de realizar tarefas de forma

independente de nível de desenvolvimento real. Para ele, o nível de

desenvolvimento real da criança caracteriza o desenvolvimento de forma

retrospectiva, ou seja, refere-se a etapas já alcançadas, já conquistadas pela

criança. As funções psicológicas que fazem parte do nível de desenvolvimento

real da criança em determinado momento de sua vida são aquelas já bem

estabelecidas naquele momento. São resultado de processos de

desenvolvimento já completados, já consolidado.

O desenvolvimento individual se dá num ambiente social determinado e

a relação com o outro, nas diversas esferas e níveis de atividade humana, é

essencial para o processo de construção do ser psicológico individual.

A zona de desenvolvimento proximal refere-se, assim, ao caminho que o

indivíduo vai percorrer para desenvolver funções que estão em processos de

amadurecimento e que se tornarão funções consolidadas, estabelecidas ao seu

nível de desenvolvimento real. Neste sentido, o desenvolvimento da criança é

visto de forma prospectiva, pois a zona de desenvolvimento proximal define

aquelas funções que ainda não amadureceram, que estão em processo de

maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentes em estado

embrionário.

Com relação à atividade escolar, é interessante destacar que a interação

entre os alunos também provoca intervenções no desenvolvimento das

crianças. Os grupos de crianças são sempre heterogêneos quanto ao

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39 conhecimento já adquirido nas diversas áreas e uma criança mais avançada

num determinado assunto pode contribuir para o desenvolvimento das outras.

Assim como o adulto, uma criança também pode funcionar como mediadora

entre uma outra criança e às ações e significados estabelecidos como

relevantes no interior da cultura.

Essa posição explicita de Vygotsky sobre a importância da intervenção

do professor e das próprias crianças no desenvolvimento de cada indivíduo

envolvido na situação escolar, sugere uma recolocação da questão de quais

são as modalidades de interação que podem ser consideradas legítimas

promotoras de aprendizado na escola.

Tanto pela criação de situações imaginárias, como pela definição de

regras específicas, o jogo cria uma zona de desenvolvimento proximal na

criança. No jogo a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas

atividades da vida real e também aprende a separar objeto e significado.

Existe a trajetória do pensamento desvinculado da linguagem e a

trajetória da linguagem independente do pensamento.

O surgimento de pensamento verbal e da linguagem como sistema de

signos é um momento crucial no desenvolvimento da espécie humana,

momento em que o biológico transforma-se no sócio-histórico.

Antes do pensamento e a linguagem se associarem, existe também na

criança pequena, uma fase pré-verbal no desenvolvimento do pensamento e

uma fase pré-intelectual no desenvolvimento da linguagem.

Quando os processos de desenvolvimento, de pensamento e da

linguagem se unem, surgem então, o pensamento verbal e a linguagem

racional, o ser humano passa a ter possibilidade de um modo de

funcionamento psicológico mais sofisticado, mediado pelos sistemas simbólicos

da linguagem.

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40 Entende-se assim que a relação do homem com o mundo não é uma

relação direta, pois é mediada por meios, que constituem nas ‘ferramentas

auxiliares’ da atividade humana. O pressuposto da mediação é fundamental na

perspectiva sócio-histórica justamente porque é através dos instrumentos e

signos que os processos de funcionamento psicológico são fornecidos pela

cultura. Rego (2000, p.63) Vygotsky estabelece que a relação entre

pensamento e linguagem “passa por várias mudanças ao longo da vida do

indivíduo.”

De modo similar ao que acontece na história de uma língua, a

transformação dos significados também ocorre no processo de aquisição da

linguagem pela criança.

Essas possibilidades de operação mental não constituem uma relação

direta com o mundo real fisicamente presente, a relação é medida pelos signos

internalizados que representam os elementos do mundo, libertando a criança

da necessidade de interação concreta com os objetos de seu pensamento.

A interação face a face entre indivíduos particulares desempenha papel

fundamental na construção do ser humano, é através da relação interpessoal

concreta com outros do grupo é que o ser vai chegar a interiorizar as formas

culturalmente estabelecidas de funcionamento psicológico. Portanto, a

interação social, seja diretamente com outros membros da cultura, seja através

dos diversos elementos do ambiente culturalmente estruturado, fornece a

matéria-prima para o desenvolvimento psicológico do indivíduo.

Esforços para que a criança realize uma aprendizagem ativa, que

resultem em estruturas de pensamento e conseqüentemente, em instrumentos

de assimilação do conhecimento. O amadurecimento do ser humano depende

da intervenção do ambiente, mas isso acontecerá apenas em ambientes onde

há momentos de significativos desenvolvimentos.

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41 Nesta direção Oliveira (1999, p.78) completa:

“Na concepção que Vygotsky tem do ser humano, portanto, a

inserção do indivíduo num determinado ambiente cultural é

parte essencial de sua própria constituição enquanto pessoa. É

impossível pensar o ser humano privado do contato com um

grupo cultural, que lhe fornecerá os instrumentos e signos que

possibilitarão o desenvolvimento das atividades humanas. O

aprendizado, nesta concepção, é o processo fundamental para

a construção do ser humano. O desenvolvimento da espécie

está, pois, baseado no aprendizado que, para Vygotsky,

sempre envolve a interferência, direta ou indireta, de outros

indivíduos e a reconstrução pessoal da experiência e dos

significados.”

3.2- O aspecto afetivo do jogo

A libertação da inteligência aprisionada, somente poderá dar-se através

do encontro com o perdido prazer de aprender. (FERNÁNDEZ, 1990. p.18)

Ao relatarmos sobre aprendizagem, desenvolvimento, processos de

interação, educação escolar não podemos deixar de mencionar sobre a

vontade de aprender, o desejo em buscar e realizar a construção do

conhecimento o acreditarmos que pode ser resgatado através dos jogos em

sua dimensão afetiva.

A educação escolar deve objetivar manter seus alunos em situação de

constantes aprendizagens, mas muitas vezes a correria do dia-a-dia acaba por

abafar esse processo e torna o prazer pelo aprender cada vez mais

complicado, deixando espaço para o fracasso na aprendizagem.

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42 Conforme Rego (2000, p.80):

“É interessante observar que, para Vygotsky, o ensino

sistemático não é o único fator responsável por alargar

horizontes na zona de desenvolvimento proximal.”

Estamos então, interligando a educação escolar com a apropriação de

conhecimentos, o que resultaria em processos de aprendizagem e

desenvolvimento. Assim ao trabalharmos com os aspectos afetivos que

norteiam o processo de aprendizagem poderemos buscar através de atividades

significativas o sucesso escolar.

De acordo com Weiss (2000, p.23) os “aspectos emocionais estariam

ligados ao desenvolvimento afetivo e sua relação com a construção do

conhecimento e a expressão deste através da produção escolar. Remete aos

aspectos inconscientes envolvidos no ato de aprender.”Aos educadores

envolvidos com o processo de aprendizagem cabe resgatar em nas crianças o

gosto pelo aprender, à vontade pela busca de conhecimento. Investigar,

pesquisar, propor e mediar situações de jogos em sala de aula ocasionaria

momentos de afetividade entre a criança e o aprender, tornando a

aprendizagem formal mais significativa e prazerosa.

O lúdico permite que a criança explore a relação do corpo com o espaço,

provoca possibilidades de deslocamento e velocidade, ou cria condições

mentais para sair de enrascadas. Vai, então assimilando e gostando tanto, que

tal movimento a faz buscar e viver diferentes atividades que passam a ser

fundamental, não só no processo de desenvolvimento de sua personalidade e

de seu caráter como, também, ao longo da construção de seu organismo

cognitivo.

Quando os problemas de aprendizagem ou fracassos escolares ocorrem

devido a anulação das capacidades e o bloqueio das possibilidades de

aprendizagem a construção de situações mais significantes de ensino podem

auxiliar na busca pelo sucesso escolar.

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43 Um aspecto da educação escolar que proporcionaria o sucesso escolar

é o resgate do jogo, proporcionando um ambiente de amor, nas relações entre

criança, conhecimento, meio, aprendizagem e educadores.

Para Ronca e Terzi (1995, p.96) o movimento lúdico proporciona

compreender os limites e as possibilidades da assimilação de novos

conhecimentos pela criança.

Ao negar-se a aprender ou rejeitar a aprendizagem, a criança se negará

a participar do seu processo de desenvolvimento, o que dificultará cada vez

mais as assimilações no processo educativo.

O jogo seria então a articulação entre o desejo, a afetividade, e

inteligência e os processos de apropriação do conhecimento e avançar das

zonas de desenvolvimento.

Momentos de aprendizagem significativa que proporcionem processos

de desenvolvimento ressaltariam o valor do sucesso escolar como algo

verdadeiro e realmente importante para a criança. A relação entre educadores

e alunos deve ser verdadeira e de trocas de experiências e opiniões,

favorecendo um clima harmônico para a socialização do conhecimento.

Conforme aponta Fernández (1990. p.51):

“Encaramos a aprendizagem como um processo e uma função,

que vai além da aprendizagem escolar e que não se

circunscreve exclusivamente à criança. Quer dizer que não é

sujeito antes da aprendizagem, mas que vai chegar a ser

sujeito porque aprende.”

Quem ensina e que aprende possuem as mesmas características, como:

organismo, inteligência, desejo e corpo, ambos se relacionando entre si e com

a aprendizagem que se dá na interação dos corpos com a aprendizagem. A

interação e os processos de construção dos conhecimentos adquiridos são

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44 fundamentais para alcançarmos o significado da educação escolar para as

crianças, levando ao prazer pelo aprender quando se deparam ao domínio do

estudado. E, o uso dos jogos pode auxiliar todo esse processo, tanto no

aspecto cognitivo quanto no aspecto afetivo.

Somente ao relacionar-se com o saber, interar-se com o conhecimento é

que pode se compreender o significado da aprendizagem. A sala de aula deve

ser um espaço de confiança, de liberdade (sem libertinagem, mas com limites),

de conteúdos interdisciplinares, de inclusão dos diferentes, de aceitação do

novo e de afetividade. É nesse espaço de interação que a aprendizagem irá

ocorrer. O sucesso escolar está na realização de um trabalho com prazer.

Os problemas de aprendizagem aqui compreendidos são considerados

de ordem reativa, ou seja, aqueles que afetam o sujeito na anulação do

aprender, gerando um choque entre o aprender e a instituição educativa,

bloqueando o aprender, nesses casos as atividades lúdicas auxiliam a busca

pela vontade de aprender, o despertar do afeto pelo aprender.

Jogar em sala de aula proporciona momentos ricos em interação e

aprendizagem, auxiliando educadores e educandos no processo de ensino e

aprendizagem. O conhecimento é a apropriação do objeto de conhecimento,

através das constantes interações entre criança, meio e objeto de

conhecimento.

No jogar o desejável passa a ser algo obtido através da sua imaginação

na qual o abstrato se concretiza e resulta no processo de construção do

conhecimento.

As situações de jogos atuam no imaginário e estabelecem regras, o que

proporciona desenvolvimentos na medida que impulsionam conceitos e

processos em desenvolvimento.

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45 Analisamos então, os jogos como estratégia de ensino, na qual ao agir a

criança projeta seus sentimentos, vontades e desejos, buscando assim a

afetividade na aprendizagem.

Acreditamos que os jogos podem também resgatar o desejo pela busca

de conhecimento e tornar a aprendizagem prazerosa, na qual a criança passe

a gostar cada vez mais de aprender.

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46

CAPÍTULO IV

A VISÃO AFETIVA ENTRE ESCOLA E FAMÍLIA

Desde os primeiros instantes de nascido o homem recebe a influência e

a afetividade da atmosfera familiar. Conseqüentemente, a vida afetiva de uma

pessoa tem uma longa trajetória pela educação nos convívios familiar e social.

Sabe-se que a educação não formal constitui-se num dos pilares

essenciais na construção do eu. O desenrolar desta implicará num

desenvolvimento harmônico ou não do indivíduo. Segundo Kupfer (1989, p.46):

“A educação da criança deve primar a dominação dos instintos,

uma vez que tem que inibir, proibir, reprimir. Sabe-se que a

ausência de restrições e de orientações pode deseducar em

vez de promover uma educação saudável. As angústias são

inevitáveis, mas a repressão excessiva dos impulsos pode

originar distúrbios neuróticos. O problema, portanto, é

encontrar um equilíbrio entre proibições e permissão – eis a

questão fundamental da educação.”

Percebe-se ser impossível o desenvolvimento do indivíduo fortuitamente.

A educação do contexto familiar influencia no desenvolvimento da

autoconfiança da criança, formando-a e constituindo-a, enquanto ser humano

completo. Os anseios, os desejos e as expectativas familiares que envolvem a

criança, promovem bem-estar e equilíbrio quando dosados e colocados à

disposição de maneira correta.

Todo educador sabe que o apoio da família é crucial no desempenho

escolar. Segundo um estudo publicado no Journal of Family Psychology, da

Associação Americana de Psicologia, as crianças que freqüentam festas e

reuniões familiares têm mais saúde, melhor desempenho escolar e maior

estabilidade emocional. E mesmo o SAEB/99 (Sistema Nacional de Avaliação

da Educação Básica), apontou que nas escolas que contam com a parceria dos

Page 47: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · dificuldades de aprendizagem e tenham uma perfeita adaptação escolar, gerando assim auto-estima e realização pessoal e

47 pais, onde há troca de informações com o diretor e os professores, os alunos

aprendem melhor.

Diversos educadores brasileiros também defendem que a família realize

um acompanhamento da escola, verificando se seus objetivos estão sendo

devidamente alcançados.

Essa atuação dos pais ainda é bem rara, de acordo com os resultados

de pesquisa realizada pelo Observatório do Universo Escolar. Essa instituição

ouviu mais de cem pais e educadores da rede pública e privada de todo país e

constatou que só 13% das escolas públicas mantêm um relacionamento

próximo com a família. Por outro lado, 43,7% dos pais de alunos da rede

pública acreditam que, se fossem promovidos mais encontros e palestras

interessantes, haveria maior integração com a escola.

Por que pais e professores ainda não conseguem se entender? Segundo

a mesma pesquisa, a maior parte dos educadores atribui aos pais a origem dos

problemas de disciplina e apontam como fatores o novo modelo familiar, no

qual os adultos permanecem pouco tempo em casa, ou ainda aquele que

apresenta uma organização diferente da tradicional. Assim, muitas crianças

vão à escola para ser educadas e algumas, para ser criadas. Ceccon, Oliveira

e Oliveira (1999, p.87), assim falam a respeito:

“A consciência de que a fase decisiva é a que antecede a

escola obrigatória tem levado um número crescente de

estudiosos a propor que a criança seja atendida mais cedo,

com única solução para compensar as desvantagens que

atingem as crianças mais pobres, dando-lhes melhores

chances de sucesso quando mais tarde entrarem na escola.”

O cruzamento de dados do SAEB revela que a nota dos alunos é melhor

quando pais e professores se conhecem. Foi comprovado que a nota dos

alunos é mais alta quando os pais possuem maior escolaridade ou são mais

atuantes na vida acadêmica de seus filhos. Na quarta série, por exemplo, a

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48 nota média de Português dos estudantes, cujos pais não conhecem o professor

e o diretor é de 165,24. Quando o pai participa da vida escolar do filho, a nota

sobe para 174,14. O mesmo acontece em Matemática, 178,11 contra 184,80.

Para Vasconcelos (1994 p. 38-42), a família constitui um sistema, um

conjunto de membros individuais, que funciona de acordo com regras e

padrões de interação que transcendem as características particulares de cada

membro. A família é, portanto, um complexo maior do que a simples soma das

suas partes. E reflete não apenas os modos individuais de ser, mas acima de

tudo a maneira como os diferentes membros e subsistemas interagem. Por

outro lado, esse modo de funcionamento global da família influencia os padrões

individuais da cada um.

Além disso, como sistema aberto que é a família está em permanente

interação com o seu exterior, que a influencia e é por ela influenciado. A cultura

típica de uma sociedade, seus movimentos evolutivos e involutivos, fatalmente

vão interferir na vida familiar. Seria o caso, por exemplo, da família cujo pai

perde o emprego num momento de recessão econômica da sociedade, ao

passo que a mãe consegue manter-se trabalhando, e constitui-se a principal

fonte provedora da casa. É bastante provável que essa situação venha a

provocar uma alteração importante no funcionamento do sistema familiar,

modificando as relações entre os subsistemas e os seus padrões de

comportamento em geral, e alterando o interjogo com o exterior, que, por suas

vez, responderá de maneira nova e peculiar.

O próprio desenvolvimento do ciclo da vida familiar tende a implicar em

novas adaptações, as quais, por sua vez, levarão a reajustamentos tanto

internos como externos. Uma família constituída apenas pelo subsistema

conjugal, por exemplo, tem interesses e necessidades particularmente distintas

daquela em que o subsistema parental conta com filhos adolescentes. Tanto as

interações intra-sistêmicas como as intersistêmicas têm características

especiais numa e na outra.

Page 49: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · dificuldades de aprendizagem e tenham uma perfeita adaptação escolar, gerando assim auto-estima e realização pessoal e

49 Portanto, como o sistema familiar está em permanente intercâmbio com

outros sistemas e com a sociedade em geral, o conjunto de crenças, valores,

regras e padrões internacionais que regem a vida familiar influencia e é

influenciado pelos demais sistemas. Conforme Andolfi (1981, p. 25): "...as

relações interfamiliares são observadas numa relação dialética com o conjunto

das relações sociais: condicionam-nas e são por sua vez condicionadas pelas

normas e pelos valores da sociedade, através de um equilíbrio dinâmico".

Por outro lado, inspirando-nos em Vasconcellos (1994), e buscando

examinar a família sob uma "dupla visão" poderá concebê-la como um sistema

aberto e fechado. Ainda que caracteristicamente intercambiaste com o exterior,

em muitos momentos a família, por sua própria tendência à auto- organização

e a autoproteção, precisa desenvolver processos capazes de proteger o

sistema contra interferências desorganizadoras e, portanto, realizando

movimentos de fechamento.

Os ciclos comportamentais em cada família são governados por um

sistema de crenças compostos de uma combinação de atitudes, suposições

básicas, expectativas, preconceitos, convicções e crenças trazidas para a

família nuclear por cada progenitor de sua família de origem. Estas crenças

individuais se interligam para formar premissas diretrizes que governam a

família.

Assim, no que se refere às famílias, o sistema de crenças também

assume caráter decisivo quando se trata da escola. Esta se organiza e

funciona em torno de funções que lhe soa definidas pela cultura, bem como de

suposições, crenças, expectativas etc., que resultam da articulação dos

diferentes membros e subsistemas que a compõem. Vista sob este ângulo,

parece evidente a complexidade da questão. Cada administrador, cada técnico

em educação e cada professor, são portadores de um sistema de crenças

próprio, e resultante de suas experiências educacionais no nível familiar,

escolar e social. No contexto escolar, cada sistema individual de crenças passa

por uma série de negociações, de modo que muitas delas são compartilhadas

Page 50: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · dificuldades de aprendizagem e tenham uma perfeita adaptação escolar, gerando assim auto-estima e realização pessoal e

50 entre a maioria. Porém outras permanecem diferenciadas, e não chegam a

fazer parte de temas escolares. Ainda assim, entram no jogo das

comunicações e definem as características e a direção das interações.

Na verdade, é bastante remota na ciência psicológica, a percepção de

que as aprendizagens das crianças se realizam a partir de uma relação estreita

com a figura do professor e com o tipo de interação que se desenvolve entre

ele e os seus alunos. O próprio Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, em

seu escrito de 1914 "Algumas Reflexões sobre a Psicologia Escolar" já admitia

essa importância ao afirmar;

"É difícil dizer o que exerceu mais influência sobre nós e teve

importância maior foi nossa preocupação pelas ciências que

nos eram ensinadas, ou pela personalidade de nossos

mestres. É verdade, no mínimo, que esta segunda

preocupação constituía uma corrente oculta e constante em

todos nós e, para muitos, os caminhos das ciências passavam

apenas através de nossos professores. Alguns se detiveram a

meio caminho dessa estrada e para uns poucos – porque não

admitir tantos? – ela foi por causa disso definitivamente

bloqueada". (Obras Completas de Freud, Vol. XIII, 1974: p.

286)

Vê-se, portanto, que já os primórdios da Psicologia científica, surgira a

tentativa de compreender todo o complexo internacional que marca as relações

de aprendizagem; o conteúdo escolar, como já assinalava Freud, não parecia

ser o aspecto mais importante.

Hoje, a Psicologia reúne maiores condições para ampliar um pouco mais

o modo de enfocar questão tão complexa como a das relações de

aprendizagem. Sem reduzir a importância dos conteúdos escolares formais, os

que dizem respeito aos conceitos científicos, poderiam isto sim, concebê-los

sempre perpassados e mediados pelas interações entre o aprendiz e seu

mestre. Desse modo, qualquer aprendizagem parece ser definida, em princípio,

Page 51: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · dificuldades de aprendizagem e tenham uma perfeita adaptação escolar, gerando assim auto-estima e realização pessoal e

51 pela relação. E é aí que assume papel relevante o referente do professor; suas

vivências familiares, suas crenças e valores, sua concepção de mundo e de

homem, sua postura frente ao saber científico, tudo isso vai perpassar suas

interações com a criança/adolescente e, de certa forma, interferir no processo

de aprendizagem do aluno. Assim, por exemplo, o valor que o professor vai

atribuir a cada conteúdo; as suas expectativas em relação ao papel do aluno e

que certo, estarão fundadas nas suas próprias vivências escolares remotas e

naquilo que esperavam dele enquanto aluno/aprendiz; suas concepções

quanto às responsabilidades do professor no que se refere ao aprender ou não

aprender do aluno; tudo isso e outros aspectos da personalidade do professor

vão pontuar as interações como os seus discípulos. Todo o seu

comportamento vai comunicar incessantemente a gama de crenças e valores

que o caracterizam enquanto pessoas e profissionais e, portanto, contribuir

para a direção a ser traçada no interjogo das relações escolares.

Há que se ter presente também que os referenciais do

professor/educador constituem um dos segmentos de um subsistema do

sistema comunicacional. Outro deles é sem dúvida, o subsistema do referente

do aluno/educando, que implica, em si mesmo, todo um sistema de crenças,

mitos, conhecimentos peculiares ao sistema sócio-familiar. E é no interjogo

entre ambos que vai se dar o processo ensino-aprendizagem,e onde o

comportamento do "não-aprender" vai se revelar com maior intensidade.

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52

CAPÍTULO V

A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

A intervenção psicopedagógica veio introduzir uma contribuição mais

rica no enfoque pedagógico. O processo de aprendizagem da criança é

compreendido como um processo abrangente, implicando componentes de

vários eixos de estruturação: afetivos, cognitivos, motores, sociais, políticos,

etc. A causa do sucesso de aprendizagem, bem como de suas dificuldades,

deixa de ser localizada somente no aluno e no professor e passa a ser vista

como um processo maior com inúmeras variáveis que precisam ser

apreendidas com bastante cuidado pelo professor e psicopedagogo.

Um outro problema grave a ser ressaltado é uma concepção redutora do

modelo piagetiano que tem sido adotada em boa parte dos cursos de

Pedagogia, no qual são privilegiadas apenas as colocações iniciais da sua

obra. Ela tem direcionado os professores a conceberem o processo de ensino-

aprendizagem de uma maneira estática, universalista e atemporal. Com isto

ficam de fora as contribuições mais importantes de Piaget em relação aos

processos de equilibração e reequilibração das estruturas cognitivas

(MARCELINO, 1998).

O educador já não se defronta com um processo linear de crescimento e

desenvolvimento, tanto no desenvolvimento intrínseco como na expressão,

mas com um realizar-se descontínuo no qual fases e períodos se entrecruzam,

se opõem dialeticamente, oposições de que resulta uma nova estruturação.

Paragens, acelerações, saltos bruscos são a expressão formal. Isto altera

completamente o panorama da pedagogia graduada: se o desenvolvimento

não é contínuo e ininterruptamente acelerado e progressivo, como se lhe

adequará uma educação regulada por grandes períodos de desenvolvimento?

Como pretender apreender a instabilidade do desenvolvimento pela

instabilidade de um processo educativo que se mede por anos? Os fins da

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53 pedagogia não deveriam apontar para o homem futuro, o que realmente será

permanente e atuante, e não para as etapas da idade evolutiva?

(MARCELINO, 1998).

Esta visão aponta um deslocamento de uma vertente universalista

atemporal para uma vertente particularista temporal.

Oliveira (1995) revela alguns dos aspectos fundamentais deste

processo. Segundo a autora, o fundamental "é perceber o aluno em toda a sua

singularidade, captá-lo em toda a sua especificidade em um programa

direcionado a atender as suas necessidades especiais".

É a percepção desta singularidade que vai comandar o processo e não

um modelo universal de desenvolvimento. Isto porque o uso do modelo

universalista camufla normalmente uma concepção preestabelecida do

processo de desenvolvimento do sujeito. Na intervenção psicopedagógica

deve-se evitar as chamadas "profecias auto-realizadoras", isto é, prognósticos

que o professor lança a respeito do processo de desenvolvimento de seu aluno

sem levar em consideração o seu desempenho.

É preciso que o psicopedagogo também altere a sua forma de conceber

o processo de ensino-aprendizagem. Ele não é um processo linear e contínuo

que se encaminha numa única direção, mas, sim, multifacetado, apresentando

paradas, saltos, transformações bruscas,, etc.

O processo de ensino-aprendizagem inclui também a não-

aprendizagem, ou seja, a não-aprendizagem não é uma exceção dentro do

processo de ensino-aprendizagem, mas se encontra estreitamente vinculada a

ele. O aluno pode se recusar a aprender em um determinado momento. O

chamado fracasso escolar não é um processo excepcional que ocorre no

sentido contrário ao processo de ensino-aprendizagem. Constitui, sim,

exatamente a outra face da mesma moeda, o seu lado inverso.

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54 O saber e o não-saber estão estreitamente vinculados. O não-saber se

tece continuamente com o saber. Com isto, pretende-se dizer que o processo

de ensino-aprendizagem, do ponto de vista psicopedagógico, apresenta

sempre uma face dupla: de um lado, a aprendizagem, e do outro, a não-

aprendizagem.

O desejo de saber faz um par dialético com o desejo de não-saber.

Segundo Fernández (1991, p.87):

“O jogo do saber-não-saber, conhecer-desconhecer e suas

diferentes articulações, circulações e mobilidades, próprias de

todo ser humano ou seus particulares nós e travas presentes

no sintoma, é o que nós tratamos de decifrar no diagnóstico.”

Neste contexto, a aprendizagem coloca em foco as diferentes

dimensões do aprendiz sob a ótica integradora dos aspectos cognitivo, afetivo,

orgânico e social. O "olhar" sobre estes aspectos, ao mesmo tempo que

relativiza a importância da escola na aprendizagem, coloca em foco a

importância de toda a reunião de fatores extra-classe que interferem no

processo de construção do conhecimento e do papel de aprendiz.

Ao considerar a aprendizagem como um processo articulado ao

momento do aprendiz, a sua história e as suas possibilidades sob o aspecto

cognitivo, afetivo e social, a Psicopedagogia, segundo Silva (1998, p.59):

“Rompe a ligação ensino-aprendizagem, porque, tanto o

aprender como processo quanto o processo de construção do

conhecimento não têm relação necessária com o ensinar e,

finalmente, porque ambos os processos antecedem e

ultrapassam o ensinar.”

Sob este ponto de vista passa a existir a necessidade de o

psicopedagogo investigar com profundidade os contextos do aprendiz e tentar

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55 reuni-los em uma síntese que retrate o momento desse aprendiz, ao mesmo

tempo que viabiliza a aprendizagem.

Para aprender, o aluno precisa estar apto a fazer um investimento

pessoal no sentido de renovar-se com o conhecimento. Implica um movimento

que envolve, tanto a utilização dos recursos cognitivos mesclados com os

processos internos, quanto com suas possibilidades sócio-afetivas. Vale dizer

que a aprendizagem vai acontecendo à medida que o educando vai

construindo uma série de significados que são resultados das interações que

ele fez e continua fazendo em seu contexto social.

Popularizou-se a visão de que não basta e nem é garantia de sucesso

escolar um ambiente doméstico favorável materialmente aos estudos, e uma

professora interessada e competente para que a aprendizagem aconteça com

sucesso. Desta forma, trabalha-se com a possibilidade do modelo de

aprendizagem não se caracterizar como algo de cunho somente individual, mas

também como um modelo desenvolvido em uma rede de vínculos que se

estabeleceu em família.

É a família que dará noções de poder, autoridade, hierarquia, funções

que têm diferentes níveis de poder e onde aprendem habilidades diversas.

Aprendem ainda a adaptar-se às diferentes circunstâncias, a flexibilizar, a

negociar. Enfim, desenvolverá o pertencimento da criança ao seu núcleo

familiar. À medida que a criança vive em família e se submete aos seus rituais,

processo e desenvolvimento, ela vai se individualizando, diferenciando-se em

seu sistema familiar. Quanto mais as fronteiras entre os membros da família

estiverem nítidas, mais possibilidade de individualizar-se a criança terá. Se tiver

irmãos, é a oportunidade de experimentar relações com iguais.

É neste cenário que a criança constrói o seu modelo de aprendiz e a

forma como ela se relaciona com o conhecimento. Para a família do aluno, a

escola tem uma simbologia e um significado que estará presente na forma de

"ser aluno" e na sua forma de participação nas atividades escolares. A maneira

Page 56: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · dificuldades de aprendizagem e tenham uma perfeita adaptação escolar, gerando assim auto-estima e realização pessoal e

56 pela qual a criança se integra e se entrega ao seu processo de aprender está

diretamente relacionado à capacidade desenvolvida em família de viver o

coletivo compactuado.

Para a escola do aprendiz, a família é a matriz indispensável para que o

trabalho de construção do cidadão aconteça. Toda a riqueza do

desenvolvimento da criança se inicia na família e vai se fortificando à medida

em que esta vai estabelecendo sua rede relacional que, na seqüência,

acontece na escola e se expande para além dela. É em relação com seus

pares e em um contexto democrático que a criança consolida o seu papel

social de cidadã. Porém, de uma forma geral, a escola não vê com bons olhos

interferências pedagógicas suscitadas pela família que, por sua vez, nem

sempre aceita orientações psicopedagógicas de caráter formativo da escola.

Nesse jogo de forças quem perde são os alunos e, conseqüentemente,

todos os envolvidos. O sucesso está na unidade e na coerência de atitudes. Eis

um desafio constante que, sem dúvida, merece ser perseguido.

5.1 Dificuldades para a psicopedagogia

O trabalho psicopedagógico, mesmo no atendimento individual, encontra

dificuldades localizadas no desconhecimento do processo de aprendizagem e

na própria relação com o aprendiz.

Num trabalho na instituição escolar, o psicopedagogo, além dessas

dificuldades, encontra outros tipos de resistência, pois essa ação exige

mudanças no sentido de avaliar as propostas de ensino, a partir do

acompanhamento do processo de aprendizagem do aluno.

À tradicional aceitação do rendimento do estudante, sem análise do seu

processo de elaboração e das condições para sua aprendizagem, cria um falso

quadro sobre a situação de escolarização (MASINI, 1994).

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57 Nesse enfoque, os maus resultados são vistos, quase exclusivamente,

como de responsabilidade do aprendiz. Apontá-lo como lento, problemático, ou

sem pré-requisitos é um procedimento comum por parte das equipes

educacionais, nas suas várias instâncias.

Analisar o processo do aluno em situação de sala de aula, na relação

com o professor e os colegas ante as condições de ensino que lhe são

oferecidas, constitui uma drástica mudança no quadro da escolarização,

exigindo dos educadores constante reflexão sobre sua ação. Isto não é fácil,

pois envolve transformações de atitudes e do pensar dos educadores.

É preciso repensar o ato de aprender na instituição escolar utilizando

uma proposta viável em busca de uma aprendizagem significativa por parte do

sujeito.

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58

CONCLUSÃO

Este trabalho possibilitou compreender que é de suma importância uma

relação cordial entre família e escola, ficando claro que ambas devem caminhar

juntas, pois se torna necessário este entrosamento para que os alunos tenham

uma aprendizagem seqüencial, na qual, os pais colaboram diretamente com as

propostas da escola. E a escola se propõe interagir com a comunidade que a

circunda, resultando, assim, num bom desenvolvimento e crescimento para

ambas.

De acordo com a literatura pesquisada, constatou-se também os efeitos

da rotulação e dos problemas de aprendizagem na escola, necessitando, ainda

mais a atuação do psicopedagogo dentro das instituições escolares,

trabalhando com diagnósticos, auxiliando os professores na sala de aula e,

principalmente, na prevenção dos casos de alunos com problemas de

aprendizagem, evitando mais um fracasso escolar.

Em síntese, uma escola é funcional quando conta com forte aliança

entre a comunidade, o corpo docente e o administrativo, os quais trabalham os

seus conflitos através da colaboração e diálogo. Esses elementos são flexíveis

em sua maneira de lidar com os conflitos, utilizando-se do conhecimento de

várias técnicas e métodos adequados. As decisões são tomadas em conjunto e

a participação dos alunos é solicitada, mas sem ser igualitária. Cada membro

do sistema escolar tem seu papel determinado. O psicopedagogo observa e

diagnostica o sistema escolar e, então, cria condições favoráveis para a

resolução dos problemas que surgem, fazendo com que o ensinar e o aprender

se tornem comprometidos. Sendo assim, a atuação do psicopedagogo dentro

da escola exige algumas características básicas.

Um educador não pode subestimar a criança, deve proporcionar um

meio cultural de experiências enriquecidas, no qual possa desenvolver

plenamente suas capacidades. O que é preciso entender é que dificuldades de

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59 aprendizagem todas as pessoas têm, e por muitas razões e causas e as

mesmas aparecem em função do que se tem para fazer.

Problemas de aprendizagem sempre existirão, e isso é maravilhoso

porque, por traz do erro de um aluno, está a oportunidade de descobrir como

ele organiza o seu pensamento. O erro proporciona vida dentro de uma sala de

aula, pois alguns alunos, aqueles que erram, pensam diferente dos demais, e

isto é ótimo, pois proporciona uma riqueza cognitiva à disposição do professor.

Aquele aluno que decora não aprende com o real significado, mas aquele que

erra nos mostra que está pensando, elaborando o seu conhecimento,

construindo o seu saber. O professor precisa, ao defrontar com os erros de

seus alunos, questionar o porquê daquela resposta, e então começará a

entender como eles pensam. Cabe a ele, criar situações de ensino

complementares para ajudar ao aluno com mais dificuldades a vencer o que já

foi superado pela maioria dos colegas, sentindo-se assistido pelo professor e

em momento algum excluído ou criticado.

Se o professor e seus alunos conseguirem estabelecer, em sua sala,

uma atmosfera de respeito mútuo, pode-se dizer que, de fato, a interação

social do grupo é não só formativa, como também constitutiva de um novo

saber e de uma nova forma de relacionamento interpessoal.

Todas as crianças, independentes de quaisquer atributos usados para

defini-las, possuem condições para, por si mesmas, progredirem do ponto de

vista do conhecimento. Cabe ao educador, proporcionar um ambiente rico e

desafiador, compreendendo que o processo de aprendizagem baseia-se na

ação do sujeito, inicialmente, as ações concretas sobre objetos concretos

respondem pela constituição dos esquemas, e no último estágio, as ações

abstratas (operações) sobre objetos abstratos respondem pela constituição dos

conceitos.

Quem ensina e que aprende possuem as mesmas características, como:

organismo, inteligência, desejo e corpo, ambos se relacionando entre si e com

a aprendizagem que se dá na interação dos corpos com a aprendizagem. A

interação e os processos de construção dos conhecimentos adquiridos são

Page 60: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · dificuldades de aprendizagem e tenham uma perfeita adaptação escolar, gerando assim auto-estima e realização pessoal e

60 fundamentais para alcançarmos o significado da educação escolar para as

crianças, levando ao prazer pelo aprender quando se deparam ao domínio do

estudado. E, o uso dos jogos pode auxiliar todo esse processo, tanto no

aspecto cognitivo quanto no aspecto afetivo.

Somente ao relacionar-se com o saber, interar-se com o conhecimento é

que pode se compreender o significado da aprendizagem. A sala de aula deve

ser um espaço de confiança, de liberdade (sem libertinagem, mas com limites),

de conteúdos interdisciplinares, de inclusão dos diferentes, de aceitação do

novo e de afetividade. É nesse espaço de interação que a aprendizagem irá

ocorrer. O sucesso escolar está na realização de um trabalho com prazer e

entusiasmo.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM 10

CAPÍTULO II

TRANSTORNOS DAS HABILIDADES ESCOLARES

TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM 19

CAPÍTULO III

A COOPERAÇÃO E O LÚDICO 35

3.1 – O jogo e os processos de aprendizagem e desenvolvimento 36

3.2 – O aspecto afetivo do jogo 41

CAPÍTULO IV

A VISÃO AFETIVA ENTRE ESCOLA E FAMÍLIA 46

CAPÍTULO V

A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA 52

5.1 – Dificuldades para a psicopedagogia 56

CONCLUSÃO 58

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BIBLIOGRAFIA 61

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