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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DA PSICOPEDAGOGIA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL Por: Patricia Justino de Abreu Orientador Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho Rio de Janeiro 2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · sistemática, permitindo-lhe, através desse domínio, descobrir-se autor no ... utilizando os diversos materiais disponíveis

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DA PSICOPEDAGOGIA NO PROCESSO DE

APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Por: Patricia Justino de Abreu

Orientador

Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DA PSICOPEDAGOGIA NO PROCESSO DE

APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

Psicopedagogia.

Por: Patricia Justino de Abreu

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha filha por acreditar

em mim, aos meus pais por existirem,

aos amigos e parentes que fazem a

diferença na minha vida e

principalmente a Deus, autor e

consumador da minha fé.

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DEDICATÓRIA

Dedico a minha filha Ana Carolina que é o

maior presente que Deus me deu, as

minhas afilhadas, aos meus pais e minha

avó.

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RESUMO

Esta monografia tem por finalidade elucidar a importância de um

trabalho psicopedagógico na Educação Infantil como forma de prevenção para

o surgimento de problemas no processo de ensino aprendizagem. É

fundamental também mencionar a Educação Infantil, sua proposta escolar e a

integração com a família. Aborda também os traços históricos da

Psicopedagogia, sua definição, quem é este profissional e seu papel como

psicopedagogo dentro de uma Instituição Escolar. Evidencia as contribuições

do psicopedagogo dentro da escola, nas diferentes relações, considerando que

é o trabalho desenvolvido que possibilita ao sujeito o domínio da aprendizagem

sistemática, permitindo-lhe, através desse domínio, descobrir-se autor no

descobrimento dos significados do mundo.

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6

METODOLOGIA

Esta monografia baseou seu trabalho na pesquisa bibliográfica

utilizando os diversos materiais disponíveis ao público, seja através de livros,

artigos ou sites da internet.

O trabalho foi fundamentado nas teorias, idéias e estudos diversos

autores, sendo os principais, Bossa, Fernandez, Visca, Sisto, entre outros, que

defendem a ação do educar com qualidade na Educação Infantil visando uma

excelência na aquisição do conhecimento e o papel do psicopedagogo

diretamente ligado a prevenção do aparecimento das dificuldades neste

processo de ensino-aprendizagem.

Consta ainda como forma de embasar esta pesquisa, um questionário

respondido por Psicopedagogos, Supervisores e Orientadores Escolares

ressaltando a importância da atuação de um psicopedagogo na Instituição

Escolar como forma de prevenção ao surgimento de dificuldades, através das

seguintes perguntas:

• De que forma você acha que a Psicopedagogia pode cooperar

com o trabalho desenvolvido dentro da Educação infantil?

• Você acredita que o Psicopedagogo pode realizar um trabalho

preventivo na criança da Educação infantil evitando assim o

aparecimento de problemas no processo de aprendizagem?

• Como você vê o papel do Psicopedagogo dentro da Instituição

Escolar?

• Como você avalia que o Psicopedagogo pode auxiliar nas

dificuldades de aprendizagem na Educação Infantil?

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A escola da Educação Infantil

1.1 - A criança de zero a seis anos 11

1.2 - Proposta Curricular 17

1.3 - Ação integrada família e escola 20

CAPÍTULO II - Psicopedagogia

2.1 – Breve Histórico 23

2.2 – O que é Psicopedagogia? 27

2.3 – Quem é o Psicopedagogo? 29

2.4 – Atuação do Psicopedagogo? 32

CAPÍTULO III – A importância da Psicopedagogia

na prevenção e diagnóstico das dificuldades de

aprendizagem. 36

CONCLUSÃO 46

ANEXOS 49

BIBLIOGRAFIA 60

WEBGRAFIA 61 ÍNDICE 64

FOLHA DE AVALIAÇÃO 65

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INTRODUÇÃO

Vivemos na era do conhecimento. Não se pode pensar no exercício da

cidadania sem que o cidadão tenha acesso à formação acadêmica mínima de

oito anos, mas na prática, a sociedade demonstra que a exigência real de um

segundo grau e, de preferência, com um pós-médio. Temos visto que para

exercer qualquer profissão, seja ela a mais simples ou a mais complexa, a

pessoa será submetida a treinamentos que devem passar, não apenas por

especificidade da função e do local de trabalho, mas por treinamentos de ética,

qualidade, perfil de cliente, economia, etc. A pessoa é valorizada por seus

diplomas, mas também por sua capacidade de construir conhecimento, de

gerar instrumentos e serviços adequados ao contexto sócio-econômico-

cultural.

Por outro lado, também estamos vivendo em plena era de globalização,

em que o conhecimento e as descobertas científicas circulam com uma

incontrolável rapidez e as próprias instituições de ensino têm dificuldade em

acompanhar o fluxo dessas informações. É extremamente fácil acontecer um

avanço científico em determinada área do conhecimento sem que o

profissional especializado saiba, ou ainda, é possível que uma outra pessoa,

de outra área do conhecimento venha a saber dessas descobertas antes do

especialista. Ao mesmo tempo que o conhecimento circula com facilidade por

todos os lados, é necessário saber como encontrá-lo, ter acesso à tecnologia

adequada e às fontes de informações. É fundamental selecionar e priorizar o

conhecimento.

Diante disso, surge a pergunta: só a informação basta? Sabe-se que

não. O que fará a diferença é a forma como a pessoa integra uma informação,

transforma-a em aprendizagem e a coloca a serviço da comunidade. Nessa

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9perspectiva, a freqüência à escola não garante o salto qualitativo que requer o

movimento social.

A escolha deste tema ocorreu em função de ultimamente muito se

discutir sobre os problemas de aprendizagem nas escolas, que terminam

sendo destinados às mãos dos professores para solucioná-los dentro de uma

sala de aula repleta e com uma grade curricular extensa. Como professora de

uma instituição particular, vejo diariamente isso acontecer.

Creio ser de suma importância discutir se a Psicopedagogia pode

cooperar com o trabalho realizado na Educação infantil prevenindo futuros

problemas de aprendizagem por constatar que este profissional surgiu para

intervir no meio escolar e trazer a resposta tanto almejada por nós educadores.

A Psicopedagogia pode cooperar com o trabalho realizado na Educação

Infantil, principalmente na prevenção de futuros problemas de aprendizagem,

oferecendo meios para que seja melhor trabalhado o desenvolvimento infantil,

podendo assim apontar direções para o planejamento de atividades a serem

realizadas com as crianças, assim como sinalizar eventuais dificuldades que as

crianças dessa faixa etária podem apresentar, e com isso estará contribuindo

para a constituição do processo da organização psíquica.

No capítulo I será enfatizado como na Educação Infantil é de grande

importância uma educação que possibilite o aluno a tomar consciência de si

sendo o sujeito no ato de aprender, sendo fundamental a parceria e integração

da família criando assim vínculos com o mundo, ou seja, com os objetos para

ocorrer à aprendizagem nos aspectos cognitivos, afetivos e sociais, no qual, o

corpo está efetivamente presente consolidando de maneira efetiva a aquisição

do conhecimento.

É importante salientar que a brincadeira é a atividade privilegiada da

infância. Ela contribuirá tanto na constituição psíquica como no seu processo

de desenvolvimento, de aprendizagem e de socialização. Os educadores que

se dedicam ao ensino infantil devem ter isso em mente e privilegiar também

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10essa atividade na proposta de tarefas. O brincar é o primeiro experimentar do

mundo que a criança tem, pois através do brincar desenvolvem-se

capacidades importantes como a memória, a atenção, a imitação a

imaginação, ou seja, o brincar não é uma perda de tempo, nem mesmo um

desperdício, pois muito pelo contrário, o BRINCAR vai muito mais além, pois

envolve um conjunto de fatores que ajudam no desenvolvimento da linguagem,

moral, emocional, afetivo e físico. Ao brincar, a criança passa a ter condições de explorar e refletir sobre a realidade e a cultura na qual está inserida,

podendo assim interiorizar, e assim começar a se questionar sobre as regras e

papéis sociais.

O brincar proporciona o desenvolvimento, a criança aprende a conhecer,

fazer, conviver, e sobretudo aprende a ser. No brincar com alguém, reforçam-

se laços afetivos.

No capítulo II veremos como a Psicopedagogia é uma área

multifacetada tendo em seu campo de atuação a análise do processo de

aprendizagem do ponto de vista do sujeito que aprende e da instituição que

ensina refletindo assim no ensino propiciando a superação das dificuldades de

aprendizagem.

No capítulo III será abordado como a Psicopedagogia vem abrindo e

proporcionando novos espaços na Educação. Muitos educadores estão em

busca de conhecimentos que possam lhe subsidiar em sua prática escolar,

auxiliando-os nas formas diferenciadas de tratamento a serem dadas a cada

caso, com vistas ao sucesso pedagógico do processo de aprendizagem

esclarecendo a importância de uma intervenção preventiva na criança na faixa

etária da Educação infantil com o intuito de evitar o aparecimento de

problemas no processo de aprendizagem.

CAPÍTULO I

A ESCOLA DA EDUCAÇÃO INFANTIL

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11

1.1 – A criança de zero a seis anos

O processo de aprendizagem está implicado em quatro níveis: desejo,

inteligência, corpo e movimento, não podendo excluir algum nível. O organismo

esquematizado é base para a aprendizagem e as alterações que sofre pode

causar dificuldades nesse processo. Através do corpo acumulam-se

experiências, automatizam-se os movimentos de modo a produzir

comportamentos originais e culturais.

Os movimentos reflexos têm como características a rapidez e o

automatismo do fenômeno, a identidade da reação motora e o caráter

involuntário da reação.

A estrutura e desenvolvimento psicomotor há quando os movimentos

automáticos se perdem, reaparecendo em gestos significantes. Esses traços

fazem da função motora um utensílio do indivíduo dando origem ao

funcionamento da motricidade.

Um movimento espontâneo gera reações de reconhecimento de quem

no momento está olhando e se percebe imitado, sendo considerado como

primeiro reconhecimento do outro, no qual, o outro se reconhece nesse

movimento como num espelho.

O corpo coordena resultando um prazer de domínio, no entanto, a

criança diante ao espelho pode apropria-se da imagem sentindo que a

comanda vibrando com o prazer do domínio adquirido.

O conhecimento refere no domínio do objeto, sua corporização em

ações ou imagens causando prazer corporal. Não ocorre aprendizagem se não

passar pelo corpo, da mesma forma, não há imagem enquanto o corpo não

inicia a inibir o movimento.

Fernández (1991, p.60).

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12“A participação do corpo no processo de apropriação do

conhecimento dá-se pela ação nos dois primeiros anos e logo

também, pela representação e por outorgar a configuração ao

conhecimento. Todo conhecimento tem um nível figurativo

(Piaget), que se inscreve no corpo. Não é necessário, ao

pensar, fazer os movimentos, pois a imagem cobre esse

aspecto.”

A evolução de uma pessoa é conseqüência da interação corporal dela

através de objetos do meio das pessoas de sua convivência, com o mundo

onde estabelece relações afetivas e emocionais, a partir das próprias

experiências.

Guillarme (apud Sisto, 1996, p.78) afirma que: “O importante não é o

desempenho perfeito da criança, mas qual o uso que ela fará de seus

movimentos para resolver os problemas com que se defronta”.

O desenvolvimento da psicomotricidade se divide em três faces

evolutivas do corpo: vivido, percebido e representado.

Desse modo, a educação psicomotora tem o objetivo de auxiliar o ser

humano na construção da imagem corporal operatória, isto é, por meio de

funções cognitivas que ele se torna capaz de executar e planejar suas ações

em pensamento.

Na visão de Sisto (1996, p. 80).

“O esquema corporal se organiza pela experiência do

corpo da criança. De inicio a criança passa pela face de

vivencia corporal, depois pela face do conhecimento das partes

de seu corpo, sentindo interiormente cada seguimento em si ou

em outra criança. A próxima face é de orientação espaço-

temporal, onde a criança percebe as tomadas de posições e

associa seu corpo aos objetos da vida cotidiana. Na última

etapa atinge uma organização espaço-corporal e passa a

planejar sua ação e seus gestos. Seu esquema corporal

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13amplia-se e organiza-se, ela passa a antecipar os

movimentos.”

Quando percebe os estimulo externo agindo sobre o mundo e objetos

por meio da movimentação corporal, está experienciando e desenvolvendo

suas funções intelectivas, porém é fundamental que se tenha nível de

inteligência para comparar, classificar e distinguir.

Ela adquire a percepção e o controle do próprio corpo considerando-se

da interiorização das sensações, utilizando-o como ponto de referência para

perceber-se e perceber as coisas do mundo.

O movimento é utilizado como meio para alcançar aprendizagens

elaboradas no plano cognitivo, social. O aluno se sentirá confortável, na

medida em que, se desenvolve por meio das experiências, manipulação

adequada e pelas oportunidades de descobrir-se.

Segundo Fonseca (apud Sisto, 1996, p. 79) “A inteligência é o resultado

de uma certa experimentação integrada e interiorizado que como processo de

adaptação, e essencialmente movimento”.

Apesar dos estágios do desenvolvimento, pelos quais toda criança

passa, sejam parecidos, o tempo e a forma como se processa podem variar.

As características básicas das etapas do desenvolvimento (zero a sete

anos) segundo Piaget (apud Cunha, 2001) subdividem-se em:

I – Período sensório-motor (zero a dois anos)

É o período que ocorre o maior número de aquisições por parte da

criança. No primeiro mês apresenta comportamentos/reflexos. O segundo

aparece às reações circulares, a criança provoca involuntariamente um fato e

tenta repeti-lo, começando suas primeiras ações coordenadas. No quarto,

iniciam-se as ações intencionais, desenvolvendo a coordenação óptico-manual

e a preensão palmar.

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14O sexto começa ter noção da permanência do objeto, ou seja, começa a

perceber que os objetos existem, apesar de não estarem sendo vistos. Dos

oito aos doze meses, há grande evolução motora, pois a criança senta e se

locomove mais facilmente apresentando movimento de pinça, conseguindo

passar os objetos de uma mão para a outra. É capaz de imitar gestos e sons.

Dos dezoito aos vinte e quatro meses, começa a internalizar as ações

realizadas passando a lembrar das pessoas e objetos. É capaz de imitar

iniciando o processo da representação mental.

II – Período das operações concretas

A criança por volta dos dois anos, planeja suas ações e usa um objeto

representando outro. Seu pensamento está no estágio pré-operacional

relacionando tudo o que acontece a sua volta com seus sentimentos e ações,

não percebendo o ponto de vista dos outros. Considera que os objetos podem

ter sentimentos, vidas.

O período pré-conceitual (dois a quatro anos) é a fase em que a criança

não elabora conceitos corretos. A linguagem verbal se desenvolve bastante

sendo o período que aparece grande interesse por livros.

No intuitivo (quatro aos sete anos) começa argumentar apesar de suas

justificativas não sejam lógicas. É a fase dos porquês. A criança é capaz de

classificar, fazer ordenações e estabelecer seqüências. É capaz de criar um

novo final de uma história. O grupo de amigos passa a ser importante,

gostando de competições e estabelecer regras.

No universo infantil, a ampliação das relações e comunicações faz com

que sintam segurança para expressar pensamentos e aprender a compreender

a realidade, sendo assim a interação grupal é muito enriquecedora ajudando-

as a se conhecerem e estimulando novas amizades.

A curiosidade é natural, portanto por aprender coisas novas, também

seria se o processo de construção do conhecimento não fosse sido modificado

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15em algo cansativo. Infelizmente, crianças muito novas estão fazendo exercícios

preparatórios para a alfabetização, na qual a necessidade de brincar foi

substituída pela necessidade de aprender a ler e escrever o quanto antes.

O desenvolvimento da identidade e autonomia estão relacionados com

processos de socialização. Nas interações criam-se laços afetivos,

contribuindo para o reconhecimento do próximo e da constatação das

diferenças sejam valorizadas, aproveitando para o enriquecimento de si.

Referencial curricular nacional para educação infantil (1998, p. 13).

“A maneira como cada um vê a si próprio depende

também do modo como é visto pelos outros.O modo como os

traços particulares de cada criança são recebidos pelo

professor, e pelo grupo em que se insere tem um grande

impacto na formação de sua personalidade e de sua auto-

estima, já que sua identidade está em construção.”

A criança formará o autoconceito que se desenvolverá a partir das

experiências pessoais e da reação dos outros, pois a maneira como os outros

reagem ao seu comportamento que determinará o tipo de autoconceito que

formará, ou seja, as pessoas servirão como modelo/ referência para formação.

Na visão de Sanchez (1999, p. 134).

“O autoconceito é a visão que um indivíduo tem sobre si

mesmo. Refere-se dos sentimentos, experiências que o

indivíduo desenvolve sobre seu próprio eu. O autoconceito se

desenvolve e evolui influenciando na relação com os outros.

Uma pessoa com um bom conceito de si mesmo é mais aberta

percebendo de forma mais autêntica a realidade e aceita com

maior facilidade dos outros.”

Portanto, para que desenvolvam através dos vínculos precisam

aprender com as outras pessoas. A aprendizagem depende de recursos que

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16utilizam através dos outros, tais como: imitação, brincar, faz-de-conta, oposição

e linguagem.

É o resultado da capacidade de observar e aprender no grupo,

identificando, aceitando e diferenciando. As pessoas que lhes rodeiam e que

são importantes para elas representam e são transformados em modelo

daquilo que eles gostariam de ser.

O brincar é fundamental para o desenvolvimento da identidade e de

autonomia.

Nas brincadeiras desenvolvem-se capacidades importantes tais como:

atenção, imitação, imaginação. O brincar é essencial, pois através de jogos e

brincadeiras podem-se aprender novos conceitos, adquirindo informações, no

qual o corpo está sempre inserido. As crianças brincando, aprendem a ficar em

atividade descobrindo o prazer de estarem espontaneamente ocupadas.

Segundo Cunha (2001, p. 31) “Brincando, a criança torna-se operativa.

Brincar e trabalhar não são atividades opostas. Podem chegar quase a ser

sinônima, se o prazer na atividade for preservado”.

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171.2 – Proposta Curricular

A educação infantil se refere ao período de atendimento formal as

crianças da faixa etária de zero aos seis anos. No Brasil é a fase que precede

o único da escolarização obrigatória que é aos sete anos.

A lei de diretrizes e base da educação nacional de 1996 explicita, no

art.30, capítulo II, seção II que: “A educação infantil será oferecida em: I-creche

ou entidades equivalentes para crianças de até três anos de idade. II-pré-

escolas, para crianças de quatro a seis anos”.

A origem da instituição foi devido ao desejo da sociedade de criar um

lugar que assumisse o encargo de educar os filhos. Também, foi implantado no

Brasil para combater fracassos do ensino fundamental passando a constituir-

se como prática preventiva, mas ela não deve ser vista somente dessa

maneira.

Segundo o autor Giovannoni (1999, p. 16),

“[...] a educação pré – escolar não deve ser vista como

preparatória para o ensino fundamental. É evidente que as

realizações no desenvolvimento da criança nos primeiros anos

de vida terão continuidade nos anos seguintes e serão

incorporadas à sua personalidade. As experiências e o

progresso em cada etapa da vida se fazem presentes na

seqüência do processo educacional, possibilitando maiores

chances de enfrentar com êxito os novos desafios.”

Esse ambiente propõe ser um lugar intermediário, entre lar e escola, no

período em que a personalidade começa a se formar ajudando no

desenvolvimento da inteligência. Ela adquire aos poucos independência de

pensamentos e da ação.

Os pais e educadores devem oferecer condições para que as

aprendizagens ocorram nas brincadeiras proporcionando ambiente agradável,

facilitando a adaptação, respeitando o tempo necessário para ela amadurecer.

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18A escola infantil busca favorecer o ambiente físico e social protegendo e

acolhendo as crianças, sentindo-se seguras para se arriscar e vencer desafios,

possibilitando a ampliação de conhecimento.

No pensamento de Borges (1987 p. 17).

“A educação pré-escolar visa à criação de condições

para satisfazer as necessidades básicas da criança,

oferecendo-lhe um clima de bem estar físico, afetivo-social e

intelectual, mediante a proposição de atividades lúdicas, que

promovam a curiosidade e a espontaneidade, estimulando

novas descobertas e o estabelecimento de novas relações, a

partir do que já se conhece.”

O principal objetivo é desenvolverem-se harmonicamente aspectos

físicos, emocionais, sociais, afetivos e intelectuais.

A escolaridade de zero a seis anos é prévia às etapas educativas

obrigatórias posteriores, na qual crianças dessa fase têm uma experiência

inicial importante para escolarização futura, ou seja, a forma viver, o tipo de

aprendizado que realizam determinará os vínculos positivos ou negativos no

contexto educativo.

É necessário que o currículo escolar se volte para situações

experiências tornando possível desenvolver habilidades e estratégias. Nessa

etapa, não é obrigatório adotar um currículo oficial, porém todos os aspectos

devem ser orientativos servindo como referência para professores.

A educação infantil oferece condições para o desenvolvimento integral,

levando em consideração as possibilidades de aprendizagem nas diferentes

faixas etárias.

Referencial curricular nacional para educação infantil (1998 p. 48).

“As diferentes aprendizagens se dão por meio de

sucessivas reorganizações do conhecimento, e este processo

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19é protagonizado pelas crianças quando podem vivenciar

experiências que lhes fornecem conteúdos apresentados de

forma não simplificada e associados a práticas sociais reais. É

importante marcar que não há aprendizagem sem conteúdo.”

Os planejamentos das atividades abordam conhecimentos as atitudes,

aos procedimentos e conceitos.

Os conteúdos conceituais tratam da construção das capacidades para

operar com idéias, imagens e símbolos que permitem atribuir sentido a

realidade. Os procedimentos referem-se ao saber fazer, estando relacionado

diretamente à possibilidade de construir instrumentos e estabelecer meios que

permitam a realização da ação. Os atitudinais são referência de valores,

atitudes e normas possíveis de serem aprendidos.

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201.3 - Ação integrada família e escola

No ambiente da escola, é importante que a criança perceba que pode

ser compreendida pelo educador, adquirindo confiança, desenvolvendo a

iniciativa, criatividade e autonomia. Ele deve incentivar a descobrir por ela

mesma tudo o que pode fazer com materiais que lhe são oferecidos, sendo

que no processo de descoberta há uma satisfação em seu resultado

estimulando a autoconfiança.

Vê-se que quem constrói o conhecimento é a própria criança, cabendo

ao educador apresentar situações que surgem idéias motivantes e

interessantes no qual o potencial infantil tornará mais criativo.

No pensamento de Boulch (1986 p. 151).

“O educador deve assegurar a boa marcha coletiva das

atividades é necessário observar as reações das diferentes

crianças a fim de ajudá-las conforme suas dificuldades. O

educador não deve fornecer ao aluno a resposta pronta. A

ajuda dada é através do afeto e da segurança transmitida pela

sua presença.”

O ensinante deve contribuir na criação do clima afetivo positivo, evitando

condenações em relação à tarefa realizada por ela. Deve-se mostrar sempre

uma pessoa presente apresentando segurança, para que a cada erro não sinta

desmotivada e sim preparada para encarar o erro na expectativa da

descoberta do acerto. Por isso, ele precisa conhecer como se desenvolve o

pensamento infantil para compreender os erros e propiciar a reflexão sobre as

próprias respostas.

As atividades são planejadas de acordo com faixas etárias e maturação,

assim não causará desconforto na realização das mesmas. O que sustenta as

aprendizagens é a relação afetiva que se cria entre professor-aluno no

aproveitamento de situações de interação que se estabelecem entre ambos a

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21fim de motivá-la a assumir novos caminhos, a relacionar-se e a buscar

soluções.

Segundo Lapierre (1989, p. 6)

“Nós não sabemos onde nos levará a criatividade das

crianças, mas sabemos que as seguiremos para guiá-las, para

orientá-las em direção das novas descobertas, novas tomadas

de consciência, novas abstrações”.

A criança encontra na família desde quando nasce, uma organização

que a faz sentir-se protegida sendo composta por vários membros, porém cada

um com sua característica fazendo assim que ela cresça com as diferenças se

aproximando ou não. É a família que tem o primeiro papel na vida como

educadora e socializadora, ao longo do tempo, esse papel passa para a

sociedade.

Há instituições que vêem os pais como peças importantes para o

processo, porém têm outras que vêem como pedra impedindo a participação

deles na vida escolar do filho gerando assim, conflitos. A escola deve criar uma

boa relação com a família apesar das diferenças, esclarecendo qualquer

dúvida.

Conforme Comelles, (2000, p.99):

“Quando se estabelece uma boa comunicação e

consenso entre a família e a escola, com freqüência, trata-se

de famílias que entendem e valorizam o papel educativo da

escola e que colaboram ativamente na educação escolar de

seus filhos”.

Tanto as equipes escolares, quanto a família deve conhecer as metas

educativas de cada sistema, conhecendo, compreendendo e aceitando as

diferenças, pois quanto mais ocorrer à troca, melhor será o desenvolvimento

educativo de ambas as partes.

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22Segundo o entendimento do Salvador (1999, p. 186).

“O conhecimento da criança e o conhecimento mútuo são

condições indispensáveis para pode ir estabelecendo critérios

educativos comuns. Embora a escola e a família sejam

contextos diferentes e ofereçam experiências educativas

diversas, o aluno/filho é a mesma pessoa e necessita alguns

critérios estáveis, que serão os que poderá interiorizar para

regular a sua própria vida de maneira autônoma. Nesse

sentido, diversos autores sugerem que a compreensão dos

resultados acadêmicos de um determinado aluno deverá

implicar, simultaneamente, a compreensão das experiências

que vivem na escola e na família.”

As atuações planejadas e apresentadas entre os professores e

psicopedagogos que dão assessoramento possuem o caráter de auxiliar as

famílias a enriquecerem a sua intervenção com as crianças.

A intervenção do psicopedagogo contribui para segurança tanto aos pais

como aos educadores. A família beneficia do trabalho e do acompanhamento

conjunto que professores e outros profissionais estabelecem em relação à

criança.

O psicopedagogo por ter uma perspectiva neutra pode colaborar para o

clima harmonioso entre família e escola trazendo elementos de reflexão que

auxiliarão a estabelecer uma relação vincular entre ambos.

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · sistemática, permitindo-lhe, através desse domínio, descobrir-se autor no ... utilizando os diversos materiais disponíveis

23

CAPÍTULO II

PSICOPEDAGOGIA

2.1 – Breve Histórico

Os primeiros Centros Psicopedagógicos foram fundados na Europa,

em 1946, por J Boutonier e George Mauco, com direção médica e

pedagógica. Estes Centros uniam conhecimentos da área de Psicologia,

Psicanálise e Pedagogia, onde tentavam readaptar crianças com

comportamentos socialmente inadequados na escola ou no lar e atender

crianças com dificuldades de aprendizagem apesar de serem inteligentes

(MERY apud BOSSA, 2000).

“Na literatura francesa – que, como vimos, influencia

as idéias sobre psicopedagogia na Argentina (a qual, por sua

vez, influencia a práxis brasileira) – encontra-se, entre

outros, os trabalhos de Janine Mery, a psicopedagoga

francesa que apresenta algumas considerações sobre o

termo psicopedagogia e sobre a origem dessas idéias na

Europa, e os trabalhos de George Mauco, fundador do

primeiro centro médico psicopedagógico na França,..., onde

se percebeu as primeiras tentativas de articulação entre

Medicina, Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, na solução

dos problemas de comportamento e de aprendizagem

(BOSSA, 2000, p. 37)”

Esperava-se através desta união Psicologia-Psicanálise-Pedagogia,

conhecer a criança e o seu meio, para que fosse possível compreender o

caso para determinar uma ação reeducadora.

Diferenciar os que não aprendiam, apesar de serem inteligentes,

daqueles que apresentavam alguma deficiência mental, física ou sensorial

era uma das preocupações da época.

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24Observamos que a psicopedagogia teve uma trajetória significativa

tendo inicialmente um caráter médico-pedagógico dos quais faziam parte da

equipe do Centro Psicopedagógico: médicos, psicólogos, psicanalistas e

pedagogos.

Esta corrente européia influenciou significativamente a Argentina.

Conforme a psicopedagoga Alicia Fernández (apud BOSSA, 2000), a

Psicopedagogia surgiu na Argentina há mais de 30 anos e foi em Buenos

Aires, sua capital, a primeira cidade a oferecer o curso de Psicopedagogia.

Foi na década de 70 que surgiram, em Buenos Aires, os Centros de

Saúde Mental, onde equipes de psicopedagogos atuavam fazendo

diagnóstico e tratamento. Estes psicopedagogos perceberam um ano após o

tratamento que os pacientes resolveram seus problemas de aprendizagem,

mas desenvolveram distúrbios de personalidade como deslocamento de

sintoma. Resolveram então incluir o olhar e a escuta clínica psicanalítica,

perfil atual do psicopedagogo argentino (Id. Ibid., 2000).

Na Argentina, a psicopedagogia tem um caráter diferenciado da

psicopedagogia no Brasil. São aplicados testes de uso corrente, “alguns dos

quais não sendo permitidos aos brasileiros...” (Id. Ibid. p. 42), por ser

considerado de uso exclusivo dos psicólogos (cf. BOSSA).

“... os instrumentos empregados são mais variados,

recorrendo o psicopedagogo argentino, em geral, a provas

de inteligência, provas de nível de pensamento; avaliação do

nível pedagógico; avaliação perceptomotora; testes

projetivos; testes psicomotores; hora do jogo

psicopedagógico” (Id. Ibid., 2000, p. 42).

A psicopedagogia chegou ao Brasil, na década de 70, cujas

dificuldades de aprendizagem nesta época eram associadas a uma

disfunção neurológica denominada de disfunção cerebral mínima (DCM) que

virou moda neste período, servindo para camuflar problemas

sociopedagógicos (Id. Ibid., 2000).

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25Inicialmente, os problemas de aprendizagem foram estudados e

tratados por médicos na Europa no século XIX e no Brasil percebemos,

ainda hoje, que na maioria das vezes a primeira atitude dos familiares é levar

seus filhos a uma consulta médica.

“Na prática do psicopedagogo, ainda hoje é comum

receber no consultório crianças que já foram examinadas por

um médico, por indicação da escola ou mesmo por iniciativa

da família, devido aos problemas que está apresentando na

escola (Id. Ibid., 2000, p. 50).”

A Psicopedagogia foi introduzida aqui no Brasil baseada nos modelos

médicos de atuação e foi dentro desta concepção de problemas de

aprendizagem que se iniciaram, a partir de 1970, cursos de formação de

especialistas em Psicopedagogia na Clínica Médico-Pedagógica de Porto

Alegre, com a duração de dois anos (Id. Ibid., 2000).

De acordo com Visca, a Psicopedagogia foi inicialmente uma ação

subsidiada da Medicina e da Psicologia, perfilando-se posteriormente como

um conhecimento independente e complementar, possuída de um objeto de

estudo, denominado de processo de aprendizagem, e de recursos

diagnósticos, corretores e preventivos próprios (VISCA apud BOSSA, 2000).

Com esta visão de uma formação independente, porém

complementar, destas duas áreas, o Brasil recebeu contribuições, para o

desenvolvimento da área psicopedagógica, de profissionais argentinos tais

como: Sara Paín, Jacob Feldmann, Ana Maria Muniz, Jorge Visca, dentre

outros.

Temos o professor argentino Jorge Visca como um dos maiores

contribuintes da difusão psicopedagógica no Brasil. Foi o criador da

Epistemologia Convergente, linha teórica que propõe um trabalho com a

aprendizagem utilizando-se da integração de três linhas da Psicologia:

Escola de Genebra - Psicogenética de Jean Piaget (já que ninguém pode

aprender além do que sua estrutura cognitiva permite), Escola Psicanalítica -

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26Freud (já que dois sujeitos com igual nível cognitivo e distintos investimentos

afetivos em relação a um objeto aprenderão de forma diferente) e a Escola

de Psicologia Social de Enrique Pichon Rivière (pois se ocorresse uma

paridade do cognitivo e afetivo em dois sujeitos de distinta cultura, também

suas aprendizagens em relação a um mesmo objeto seriam diferentes,

devido às influências que sofreram por seus meios sócio-culturais) (VISCA,

1991, p. 66).

“Visca propõe o trabalho com a aprendizagem

utilizando-se de uma confluência dos achados teóricos da

escola de Genebra, em que o principal objeto de estudo são

os níveis de inteligência, com as teorizações da psicanálise

sobre as manifestações emocionais que representam seu

interesse predominante. A esta confluência, junta, também,

as proposições da psicologia social de Pichon Rivière,

mormente porque a aprendizagem escolar, além do lidar

com o cognitivo e com o emocional, lida também com

relações interpessoais vivenciadas em grupos sociais

específicos (França apud Sisto et. al. 2002, p. 101).”

A análise do sujeito através de correntes distintas do pensamento

psicológico concebeu uma proposta de diagnóstico, de processo corretor e

de prevenção, dando origem ao método clínico psicopedagógico.

“... quando se fala de psicopedagogia clínica, se está

fazendo referência a um método com o qual se tenta

conduzir à aprendizagem e não a uma corrente teórica ou

escola. Em concordância com o método clínico podem-se

utilizar diferentes enfoques teóricos. O que eu preconizo é o

da epistemologia convergente (VISCA, 1987, p. 16).”

2.2 – O que é a Psicopedagogia?

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27Como o Professor João Beauclair (2006) cita, “Vivenciar Psicopedagogia

é um estado de ser e estar sempre em formação, projetação e em processo de

criação.”

A Psicopedagogia é uma área de conhecimento e de atuação dirigida

para o processo de aprendizagem humana. Seu objeto de estudo é o ser

cognoscente, ou seja, o sujeito que se dirige pra a realidade e dela retira um

saber. Vista no âmbito de um sistema complexo e inerente à condição

humana, a aprendizagem não é estudada pela Psicopedagogia no espaço

restrito da escola, ou num determinado momento da vida, posto que, ocorre

em todos os lugares, durante todo o tempo da existência.

Enquanto conhecimento interessa a todo aquele que se dedica à

Educação, na medida em que possibilita uma análise das teorias relacionadas

com as ações de aprender e ensinar, não apenas no sentido da prática

didático-pedagógica, mas no substrato epistemológico que delas se origina

para a formação do sujeito “aprendente”. Nutre-se de conhecimentos oriundos

sobretudo da Epistemologia Genética, da Psicologia Social e da Psicanálise.

Tem na Psicopedagogia Operativa, de Sara Pain; na Epistemologia

Convergente, de Jorge Visca e na Psicopedagogia Clínica, de Alicia

Fernandez, suas formulações teóricas mais expressivas.

As relações com o conhecimento, a vinculação com a aprendizagem, as

significações contidas no ato de aprender, são estudados pela Psicopedagogia

a fim de que possa contribuir par a análise e reformulação de práticas

educativas e para a ressignificação de atitudes sujbetivas.

A Psicopedagogia tem por objeto de estudo a aprendizagem como um

processo individual, em que a trajetória da construção do conhecimento é

valorizada e entendida como parte do resultado final. A preocupação maior da

Psicopedagogia é o ser que aprende, o ser cognoscente e o seu objetivo geral

é desenvolver e trabalhar esse ser de forma a potencializá-lo como uma

pessoa autora, construtora da sua história, de conhecimentos, e

adequadamente inserida em um contexto social.

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28O trabalho da Psicopedagogia é evitar ou debelar o fracasso escolar em

uma visão do sujeito como um todo, objetivando facilitar o processo de

aprendizagem. O ser sob a ótica da Psicopedagogia é cognitivo, afetivo e

social. É comprometido com a construção de sua autonomia, que se

estabelece na relação com o seu "em torno", à medida que se compromete

com o seu social estabelecendo redes relacionais. "Para o pensador sistêmico,

as relações são fundamentais" (CAPRA, p 47).

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29

2.3 – Quem é o Psicopedagogo?

Fernández (apud Gasparian, 1999). O objeto de estudo da

Psicopedagogia é sempre o sujeito “aprendendo” e esta aprendizagem está

sempre relacionada com o próprio sujeito, com o sujeito e o objeto, com o

sujeito e o meio, portanto sistemicamente. Isto quer dizer que o psicopedagogo

está comprometido com qualquer modalidade de aprendizagem e de ensino e

não só a exercida na escola. Portanto, o psicopedagogo está inserido em

todos os campos da atividade humana.

O Psicopedagogo é um profissional pós-graduado, um multi-especialista

em aprendizagem humana, que congrega conhecimentos de diversas áreas a

fim de intervir neste processo seja para potencializá-lo ou para sanar possíveis

dificuldades, utilizando instrumentos próprios da Psicopedagogia para este fim.

O psicopedagogo está capacitado para atuar junto à aprendizagem

humana, considerando em sua ação todas as dimensões desse processo. Sua

atuação vai além das questões relacionadas aos "problemas" de

aprendizagem. Dirige-se para três vertentes: a psicopedagogia clínica ou

curativa, a preventiva e a da pesquisa científica. A primeira tem como objetivo

devolver ao sujeito, com dificuldades, o desejo e as possibilidades de

aprender; a segunda modalidade tem como objetivo o aperfeiçoamento das

práticas educativas, facilitando o processo de aprendizagem, atenuando ou

evitando os problemas.

Psicopedagogo é um professor de um tipo particular que realiza a sua

tarefa de pedagogo sem perder de vista os propósitos terapêuticos da sua

ação. Qualquer que tenha sido a sua formação (psicólogo, pedagogo,

fonoaudiólogo, professor), ele assumirá sempre a dupla polaridade de seu

papel, o que determinará seu modo de ser perante a criança e seus familiares,

bem como diante da equipe a que pertence. Mery (1985)

O trabalho do psicopedagogo possui as seguintes especificidades: o

"distúrbio de aprendizagem" é encarado como uma manifestação de uma

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30perturbação que envolve a totalidade da personalidade; o desenvolvimento

infantil é considerado a partir de uma perspectiva dinâmica, e é dentro dessa

evolução dinâmica que o sintoma "distúrbio de aprendizagem" é estudado; a

neutralidade do papel de psicopedagogo é negada, e este conhece a

importância da relação de transferência entre o profissional e o sujeito da

aprendizagem; o objetivo do psicopedagogo é levar o sujeito a reintegrar-se a

vida normal, respeitando as suas possibilidades e interesses.

O psicopedagogo deverá respeitar a escola tal como ela é, com suas

imperfeições, porque é através da escola que o aluno se situará em relação

aos seus semelhantes, ai ele optará por uma profissão e participará da

construção coletiva da sociedade a qual pertence. Porém, esse fato não

impedirá que o psicopedagogo colabore com a melhoria das condições de

trabalho numa determinada escola ou na conquista de seus objetivos fazendo

com que a criança enfrente a escola de hoje e não a de amanhã, sem impor as

mesmas normas arbitrarias ou sufocar-lhes a individualidade. Busca-se sempre

desenvolver e expandir a personalidade do individuo, favorecendo as suas

iniciativas pessoais, suscitando os seus interesses, respeitando os gostos.

Fini, conclui que: Diante do quadro que se apresenta, é compreensível

que um grande número de estudiosos e pesquisadores, em especial nos

últimos anos, venha se dedicando a investigar e discutir as razões que

contribuem para que algumas crianças tenham sucesso na escola e outras,

não.

Ao psicopedagogo cabe saber como se constitui o sujeito, como este se

transforma em suas diversas etapas de vida, quais os recursos de

conhecimento de que ele dispõe e a forma pela qual produz conhecimento e

aprende. É preciso, também, que o psicopedagogo saiba o que é ensinar e o

que é aprender; como interferem os sistemas e métodos educativos; os

problemas estruturais que intervêm no surgimento dos transtornos de

aprendizagem e no processo escolar. No trabalho clínico, conceber o sujeito

que aprende como um sujeito epistêmico-epistemofílico implica procedimentos

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31diagnósticos e terapêuticos que considerem tal concepção. Para isso, é

necessária uma leitura clínica na qual, através da escuta psicopedagógica, se

possa decifrar os processos que dão sentido ao observado e norteiam a

intervenção.

De acordo com Fernández (1991), necessitamos incorporar

conhecimentos sobre o organismo, o corpo, a inteligência e o desejo, estando

estes quatro níveis basicamente implicados no aprender. Considerando-se o

problema de aprendizagem na interseção desses níveis, as teorias que

ocupam da inteligência, do inconsciente, do corpo, separadamente, não

conseguem resolvê-lo. Conhecer os fundamentos da Psicopedagogia implica

refletir sobre as suas origens teóricas, ou seja, revisar velhos impasses

conceituais que subjazem na ação e na atuação da Pedagogia e da Psicologia

no apreender do fenômeno educativo.

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322.4 – Atuação do Psicopedagogo

O psicopedagogo é um profissional que atua em diversos campos como

escola, saúde e empresas.

Na área da saúde, a Psicopedagogia Clínica diagnostica, orienta, atende

em tratamento e investiga os problemas emergentes nos processos de

aprendizagem. Esclarece os obstáculos que interferem para haver uma boa

aprendizagem. Favorece o desenvolvimento de atitudes e processos de

aprendizagem adequados, realiza o diagnóstico-psicopedagógico, com

especial ênfase nas possibilidades e perturbações da aprendizagem;

esclarecimento e orientação daqueles que o consultam; a orientação de pais e

professores, a orientação vocacional operativa em todos os níveis educativos.

A psicopedagogia no campo clínico emprega como recurso principal à

realização de entrevistas operativas dedicadas a expressão e a progressiva

resolução da problemática individual e/ou grupal daqueles que a consultam. O

psicopedagogo também é um profissional bastante solicitado para trabalhar em

hospitais o que chamamos de psicopedagogia hospitalar.

Já na empresa, o psicopedagogo atua na empresa ajudando a superar

as dificuldades de relacionamento no grupo, cabe este profissional ajudar a

empresa a vencer as fragmentações de setores e trabalhar de forma

interdisciplinar. Através de intervenções o psicopedagogo auxiliará o grupo

observando sua movimentação, com funcionam, como lidam com suas

frustrações, como reagem ao erro etc.

Sisto (1996, p.205) analisa que:

“[...] é possível identificar pelo menos dois lugares em

que pode estar situado o psicopedagogo: de assessor na

estruturação, orientação e coordenação do trabalho de equipe;

e o de coordenador pedagógico, na prática educativa, atuando

diretamente junto aos educadores e/ou às crianças.”

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33A aprendizagem deve ser olhada como a atividade de indivíduos ou

grupos humanos, que mediante a incorporação de informações e o

desenvolvimento de experiências, promovem modificações estáveis na

personalidade e na dinâmica grupal as quais revertem no manejo instrumental

da realidade.

Dentro de uma instituição escolar, o psicopedagogo pode atuar de forma

preventiva e terapêutica, para compreender os processos de desenvolvimento

e das aprendizagens humanas, recorrendo a várias estratégias objetivando se

ocupar dos problemas que podem surgir.

Numa linha preventiva, o psicopedagogo pode desempenhar uma

prática docente, envolvendo a preparação de profissionais da educação, ou

atuar dentro da própria escola. Na sua função preventiva, cabe ao

psicopedagogo detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem;

participar da dinâmica das relações da comunidade educativa a fim de

favorecer o processo de integração e troca; promover orientações

metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos;

realizar processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto

na forma individual quanto em grupo.

Numa linha terapêutica, o psicopedagogo trata das dificuldades de

aprendizagem, diagnosticando, desenvolvendo técnicas remediativas,

orientando pais e professores, estabelecendo contato com outros profissionais

das áreas psicológica, psicomotora, fonoaudiológica e educacional, pois tais

dificuldades são multifatoriais em sua origem e, muitas vezes, no seu

tratamento. Esse profissional deve ser um mediador em todo esse processo,

indo além da simples junção dos conhecimentos da psicologia e da pedagogia.

Diante do baixo desempenho acadêmico, as escolas estão cada vez

mais preocupadas com os alunos que têm dificuldades de aprendizagem, não

sabem mais o que fazer com as crianças que não aprendem de acordo com o

processo considerado normal e não possuem uma política de intervenção

capaz de contribuir para a superação dos problemas de aprendizagem.

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34Acreditamos que, se existissem nas escolas psicopedagogos

trabalhando com essas dificuldades, o número de crianças com problemas

seria bem menor.

Ao psicopedagogo cabe avaliar o aluno e identificar os problemas de

aprendizagem, buscando conhecê-lo em seus potenciais construtivos e em

suas dificuldades, encaminhando-o, por meio de um relatório, quando

necessário, para outros profissionais - psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista,

etc. que realizam diagnóstico especializado e exames complementares com o

intuito de favorecer o desenvolvimento da potencialização humana no

processo de aquisição do saber.

Segundo Dembo (apud FERMINO et al, 1994, p.57), "Evidências

sugerem que um grande número de alunos possui características que

requerem atenção educacional diferenciada". Neste sentido, um trabalho

psicopedagógico pode contribuir muito, auxiliando educadores a aprofundarem

seus conhecimentos sobre as teorias do ensino-aprendizagem e as recentes

contribuições de diversas áreas do conhecimento, redefinindo-as e

sintetizando-as numa ação educativa. Esse trabalho permite que o educador

se olhe como aprendente e como ensinante.

Além do já mencionado, o psicopedagogo está preparado para auxiliar

os educadores realizando atendimentos pedagógicos individualizados,

contribuindo para a compreensão de problemas na sala de aula, permitindo ao

professor ver alternativas de ação e ver como as demais técnicas podem

intervir, bem como participando do diagnóstico dos distúrbios de aprendizagem

e do atendimento a um pequeno grupo de alunos.

Para o psicopedagogo, a experiência de intervenção junto ao professor,

num processo de parceria, possibilita uma aprendizagem muito importante e

enriquecedora, principalmente se os professores forem especialistas nas suas

disciplinas. Não só a sua intervenção junto ao professor é positiva. Também o

é a sua participação em reuniões de pais, esclarecendo o desenvolvimento dos

filhos; em conselhos de classe, avaliando o processo metodológico; na escola

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35como um todo, acompanhando a relação professor e aluno, aluno e aluno,

aluno que vem de outra escola, sugerindo atividades, buscando estratégias e

apoio.

Segundo Bossa (1994, p.23),

“... cabe ao psicopedagogo perceber eventuais

perturbações no processo aprendizagem, participar da

dinâmica da comunidade educativa, favorecendo a

integração, promovendo orientações metodológicas de

acordo com as características e particularidades dos

indivíduos do grupo, realizando processos de orientação. Já

que no caráter assistencial, o psicopedagogo participa de

equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos

no contexto teórico/prático das políticas educacionais,

fazendo com que os professores, diretores e coordenadores

possam repensar o papel da escola frente a sua docência e

às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou,

da própria ensinagem.”

O estudo psicopedagógico atinge seus objetivos quando, ampliando a

compreensão sobre as características e necessidades de aprendizagem de

determinado aluno, abre espaço para que a escola viabilize recursos para

atender às necessidades de aprendizagem. Para isso, devem analisar o

Projeto Político-Pedagógico, sobretudo quais as suas propostas de ensino e o

que é valorizado como aprendizagem. Desta forma, o fazer psicopedagógico

se transforma podendo se tornar uma ferramenta poderosa no auxílio de

aprendizagem.

CAPÍTULO III

A IMPORTÂNCIA DA PSICOPEDAGOGIA NA

PREVENÇÃO E DIAGNÓSTICO DAS DIFICULDADES DE

APRENDIZAGEM

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36

“A Psicopedagogia, inicialmente, começou tendo como pressuposto que

as pessoas que não aprendiam tinham um distúrbio qualquer”. (BOSSA, 1994,

p.42) A preocupação e os profissionais que atendiam essas pessoas eram os

médicos, em primeira instância e, em segunda, Psicólogos e Pedagogos que

pudessem diagnosticar os déficits. Os fatores orgânicos eram

responsabilizados pelas dificuldades de aprendizagem na chamada época

"patologizante". A criança ficava rotulada e a escola e o sistema a que ela

pertencia, se eximiam de suas responsabilidades: "Ela (a criança) tem

problemas..."

Posteriormente, com a ampliação da visão de que o sujeito não é

apenas um ser racional, os psicopedagogos passaram a estudar e a avaliar o

processo da aprendizagem. Porém, essa observação levou a uma prática

pautada no refazimento do processo de aprendizagem e requeria reposição de

conteúdos e repetições até que a criança aprendesse. A criança ficou

subdividida em setores e não havia articulação entre o emocional, a cognição,

o motor e o social.

Os vários profissionais envolvidos na questão aprendizagem foram

percebendo que não bastava retirar o eixo da patologia para a aprendizagem,

mas era necessário saber que sujeito era esse, de onde ele vinha e para onde

ele queria e podia ir. A constatação que apenas uma área do conhecimento

não conseguiria respostas absolutas e definitivas para a situação, deflagrou o

que é hoje a Psicopedagogia.

Os profissionais interessados nas questões de aprendizagem

entenderam que o caminho era a interdisciplinaridade para compreender a

complexidade desse fenômeno. A partir de diferentes referenciais teóricos, tais

como a Pedagogia, a Psicologia, a Fonoaudiologia, a Psicanálise, a Sociologia,

a Neurologia, etc. foram se construindo e pesquisando outros referenciais,

outros instrumentos, outras sínteses. Esse conhecimento foi construído a partir

do encontro desses profissionais, pautado em teorias, experimentos,

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37pesquisas, práticas diferenciadas e, o mais provocante, de uma realidade que

teimava em incomodar - o fracasso escolar!

Diante desses avanços, a criança que não está conseguindo aprender é

entendida e trabalhada, não como alguém que possui um déficit ou um

problema, mas como um aprendiz que possui um estilo de aprender diferente,

que está diretamente relacionado ao estilo de família e da comunidade a que

pertence.

A Psicopedagogia surge de uma necessidade de entender e solucionar

as dificuldades de aprendizagem, que eram vistas como um mal. Durante

muito tempo, a criança que tivesse alguma dificuldade de aprendizagem não

era respeitada em seu processo de construção do conhecimento, sofrendo

preconceitos e, muitas vezes, sendo encaminhada para escolas especiais.

Buscando modificar essa realidade

“a Psicopedagogia surgiu na fronteira entre a Pedagogia

e a Psicologia, a partir das necessidades de atendimento de

crianças com “distúrbios de aprendizagem”, consideradas

inaptas dentro do sistema educacional convencional” (KIGUEL

apud BOSSA, 2000, p. 18).

Para investigar as contribuições da Psicopedagogia para a Educação

Infantil foi realizado uma entrevista com uma professora da Educação Infantil

da Escola de Educação Básica Feevale – Escola de Aplicação e a

psicopedagoga Clarissa Paz de Menezes, uma pesquisa semi-estruturada que

segundo Triviños (1987, p.146), entende-se por.

“... entrevista semi-estruturada, em geral, aquela que

parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias

e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida,

oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de hipóteses

que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do

informante. [...] o informante, seguindo espontaneamente a

linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do

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38foco principal colocado pelo investigador, começa a participar

do conteúdo da pesquisa.”

A Psicopedagogia Institucional preocupa-se com a instituição escolar e

com a prevenção das dificuldades de aprendizagem. A psicopedagoga M.P.E

refere que a criança que apresenta dificuldades de aprendizagem “não

consegue aprender ou sua aprendizagem é dificultada devido a fatores

internos ou familiares, aparecendo como sintoma de algum conflito individual

ou no relacionamento familiar ou uma inibição, na qual o sujeito não consegue

nem sequer aproximar-se do objeto de conhecimento, ou fatores externos ao

sujeito aparecendo como um processo reativo à instituição escolar

(passividade, indisciplina).”

Segundo a professora TME “dificuldade é atraso, a criança que tem uma

dificuldade, mostra um atraso naquilo em que ela está precisando a

intervenção do adulto, até por que ela vai construindo e superando sozinha.

Mas quando ela mostra um atraso, ou dificuldade ela ta dizendo que precisa da

ajuda.”

Percebe-se pela fala da professora, que existe a necessidade de um

maior aprofundamento teórico em relação aos conceitos da Psicopedagogia

Crítica, ao que a mesma refere “M já me indicou várias leituras e o espaço do

diálogo com ela é importante e me dá forças para continuar quando tenho

dúvidas sobre meu método”.

Segundo Paín (1985) há duas condições que possibilitam a

aprendizagem, as externas que indicam o ambiente que este aluno está

inserido e as internas que estão relacionadas com a subjetividade do sujeito. É

necessário que o professor tenha um olhar crítico e investigativo em relação

aos seus alunos, percebendo cada sujeito como individual e fruto de uma

história que contribui para a construção de seus vínculos, significados e

constituição da modalidade de aprendizagem. Desta forma, se faz necessário

perceber que cada grupo de alunos constitui uma identidade, um conjunto de

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39sujeitos diferentes que constituem outra história e uma modalidade de

interações, de significados e relações de aprendizagem.

Quando o professor, a partir de observações e atividades em sala de

aula, percebe que seus alunos encontram dificuldades em construir suas

relações, primeiro é preciso que ele faça uma investigação sobre esse grupo,

ou criança. Sendo que “O diálogo é fundamental, com a psicopedagoga, com a

orientadora, supervisora, com a criança, com a família...” (TME). Essa

investigação parte de conversas com a mãe sobre a história vital da criança,

sendo importante ouvir a criança também, pois ela é o sujeito desta história.

Não se pode deixar de lado nesse caso uma reflexão sobre atuação do

professor e da escola, pois nem sempre as dificuldades de aprendizagem são

internas.

Após essa investigação, professor e psicopedagogo juntos, analisam os

resultados da entrevistas e da reflexão sobre a atuação do professor. A partir

desse resultado será criado um plano de intervenção, de maneira a auxiliar a

criança a superar essas dificuldades e construir sua aprendizagem de forma

tranqüila, pois segundo a psicopedagoga “prevenção refere-se atitudes que

levem as evitar que as dificuldades de aprendizagem ocorram, trabalha-se

então para que as relações de aprendizagem se dêem de forma a proporcionar

a aprendizagem.”(M.P.E.)

É importante ressaltar que “a instituição escolar é um espaço de

construção de conhecimento não só para o aluno, mas para todos nele

envolvidos” (ESCOTT, 2004, p.36), ou seja, o aluno não é o único sujeito da

aprendizagem na escola, o professor, o supervisor o orientador, o

psicopedagogo e o diretor também fazem parte desse processo. Percebe-se

tal questão na fala da professora quando ela se refere às percepções de

aprendizagem de seus alunos: “às vezes pra mim pode parecer uma

dificuldade, mas conversando com pessoas de fora percebe-se que não”

(T.M.E)

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40Assim, a partir da análise das entrevistas realizadas, percebe-se a

importância da teoria psicopedagógica no cotidiano da escola, na medida em

que, não só contribui para uma maior compreensão do desenvolvimento

cognitivo e afetivo das crianças, como também como probletizadora da própria

prática pedagógica do professor, contribuindo para o crescimento de todos.

O primeiro relato da dificuldade costuma (e deve) vir justamente da

escola, apesar de alguns pais mais atentos conseguirem perceber que a

criança não está bem ou rendendo tudo o que poderia. “A escola deveria estar

apta a fazer esse diagnóstico, por meio de conhecimentos específicos, como

por exemplo, identificar problemas no desenvolvimento psicomotor que podem

prejudicar o processo de aprendizagem do aluno”, acredita Nádia Bossa,

psicopedagoga que estuda o assunto há 20 anos e é autora de diversos livros,

entre eles “Fracasso Escolar: um olhar psicopedagógico”. Além do baixo

rendimento, elementos como a própria postura do aluno em classe, a forma

como ele escreve e até mesmo o tipo de erros que comete podem revelar

aspectos importantes sobre as causas da dificuldade de aprendizagem. “É o

professor quem deve saber quais os requisitos necessários para o

aprendizado de um determinado conteúdo”, completa a psicopedagoga.

O passo seguinte deve ser a comunicação do problema aos pais e a

troca de informações sobre a rotina e os hábitos da criança, além de um

levantamento de mudanças recentes em sua vida. “A não aprendizagem pode

ser um sintoma de que algo com a criança não está bem. Ela bloqueia o

estudo inconscientemente, como um mecanismo de defesa, uma forma não

muito adequada desenvolvida para não aprender”, afirma Silvia Amaral de

Mello Pinto, psicopedagoga e coordenadora do Centro de Aprendizagem e

Desenvolvimento (CAD), em São Paulo.

As causas para dificuldades no aprendizado são variadas e podem vir

de questões emocionais como, por exemplo, uma separação dramática dos

pais, um caso de luto na família ou mesmo o nascimento de um irmão. Essas

situações sugam a energia da criança e impedem que ela concentre seu foco

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41em qualquer outra coisa. “Ela fica preocupada com o assunto ou fantasiando

para não entrar em contato com a realidade. E o conteúdo escolar é a

realidade”, relata Nádia Bossa. “Acontecimentos novos como os citados

podem gerar ansiedade e consequentemente muita agitação, o que muitas

vezes é até confundido com hiperatividade”, completa.

“Às vezes, o problema é mais sutil, como a falta de tempo e de

organização do pai e da mãe. Trabalhar demais e deixar de lado questões

como a escolha de um bom local para a criança fazer sua lição de casa, impor

horários, estabelecer limites e dizer não para certas coisas pode atrapalhar”,

afirma Silvia Amaral de Mello Pinto.

Entre os distúrbios orgânicos estão os problemas de maturação do

Sistema Nervoso Central, de ansiedade exagerada e decorrente de efeitos de

certos medicamentos que interferem no ânimo ou causam problemas de

memória ou concentração. Existem ainda as dificuldades específicas em

determinadas áreas, como a dislexia (troca das letras na leitura e na escrita), e

a discalculia (problemas em cálculos).

A falta de motivação também é capaz de prejudicar a aprendizagem e

pode ter sua origem na relação da própria família com os estudos. A ligação da

escola com castigos ou a algum tipo de pressão e mesmo a falta de

importância dada pelos pais ao conhecimento em si são fortes

desencorajadores do aluno.

Segundo Bossa (2000) a própria concepção de aprendizagem, é o

processo que nos torna humanos. Nós aprendemos a andar, a ser membro da

cultura em que vivemos e aprendemos também na escola os conceitos

científicos. E a aprendizagem de conceitos acadêmicos, como, por exemplo, a

geografia, dependem de aprendizagens anteriores, que são resultado de

exploração do mundo, responsáveis pela construção da noção de espaço

Por exemplo, crianças com dificuldades para reconhecer os lados

direito e esquerdo dificilmente conseguem aprender coisas como pontos

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42cardeais ou a referência de leste e oeste ou até mesmo a posição relativa dos

números. Bossa (200) ainda alega que o processo de aprendizagem escolar

necessita também de um repertório preexistente, das experiências vividas na

infância e bem mediadas, ou seja, nomeadas e interpretadas pela família.

As dificuldades de aprendizagem, segundo Rogers (2000), podem

significar uma alteração no aprendizado específico da leitura e escrita, ou

alterações genéricas do processo de aprendizagem, onde outros aspectos,

além da leitura e escrita, podem estar comprometidos (orgânico, motor,

intelectual, social e emocional).

Para Polity (2001) a dificuldade de aprendizagem pode ser definida

como um sintoma psicossocial, com pelo menos três constituintes básicos: a

criança, a família, a escola / profissionais especializados. Sua evolução está

intimamente relacionada com a estrutura e dinâmica funcional do sistema

familiar, educacional e social no qual a criança está inserida.

“[...] As dificuldades de aprendizagem devem ser

analisadas e compreendidas não somente como uma falha

individual de um sujeito que resiste a adequar-se ao pré –

estabelecido, mas como uma confluência de fatores que

incluem a escola, a família, os profissionais da educação e o

sistema de relações sociais envolvidos (Polity ,2001, p. 71).”

A natureza da causa do problema de aprendizagem aponta para o

psicopedagogo, quando da sua intervenção, pontos importantes e necessários.

E a participação com responsabilidade e comprometimento dos pais, amplia a

percepção sobre os problemas de aprendizagem de seus filhos, resgatando a

família no papel educacional complementar á escola diferenciando as múltiplas

formas de aprender.

Como também, quando as fronteiras de funções da família, criança e

profissionais, são nítidas e entendidas como regra de quem participa e como

participa, promovem-se a diferenciação do sujeito como: complementação,

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43acomodação, socialização e desenvolvimento da autonomia, que são matrizes

de apoio a novos padrões de aprendizagem.

“[...] A proposta de trabalho direcionado para o

investimento na competência dos educadores, capacitando-os

não só para perceber as dificuldades decorrentes do processo

educativo, mas para interferir nelas, a partir da escola

consciente de uma teoria de ensino – aprendizagem, a fim de

que possam, também conscientemente selecionar as

estratégias de ensino que julgarem mais adequadas (Scoz,

2007, p.153).”

As características da família, escola ou até mesmo do ensinante,

podem ser a causa desencadeante dos problemas de aprendizagem frente ao

cotidiano da atuação psicopedagógica. A partir daí, acredita-se que o ambiente

familiar estável e afetivo contribui positivamente para o bom desempenho da

criança no processo de aprendizagem, embora não garanta o seu sucesso,

uma vez que este depende de outros fatores que não exclusivamente os

familiares (Portela, 2006).

Para Fernández (1991), no sistema familiar, quando as fronteiras de

funções da família , criança e profissionais, são nítidas e entendidas como

regras de quem participa e como participa no grupo, promove-se a

diferenciação do sujeito como: Complementação, acomodação, socialização e

desenvolvimento da autonomia, que são matrizes de apoio a novos padrões de

aprendizagem.

[...] Nosso ‘olhar através da família’ leva em conta

simultaneamente três níveis: individual, vincular e dinâmico,

que se entre cruzam, por sua vez, com dois olhares: o que

considera principalmente as imagens, sensações e ideais de

cada um dos membros do grupo familiar e o que a equipe

terapêutica percebe (Fernández, 1991, p 92).

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44Concordamos com o ponto de vista colocado por Pain , quando aponta

o sintoma do problema de aprendizagem e sua relação com a família, como a

concepção de articulação entre a Instância e a Estrutura. Assim ela afirma

que: “As perturbações nas aprendizagens, normais ou patológicas, tendem a

evitar aquelas modificações que o grupo não pode suportar, em função do seu

particular contrato de sobrevivência” (PAÍN, 1986, p. 37).

Cabe aqui a advertência de PAIN (1992, p.75)

“[...] O tratamento psicopedagógico adquire sentido na

ação institucional. Isto permite uma rápida orientação

destinada aos pais, seja para seu ingresso num grupo, seja

para uma terapia familiar ou de casal; garante um bom controle

do aspecto orgânico e neurológico; oferece a possibilidade de

diálogo quando o paciente recebe mais de uma atenção e

assegura a complementação integrada de outras técnicas

pedagógicas (Pain, 1992, p. 75).”

Por todos esses motivos, antes de encaminhar o problema para um

especialista, é importante que a escola realize uma investigação dentro dela

mesma e proporcione uma discussão entre professores e coordenadores.

Providências como a troca de professores, aulas reforço e grupos de apoio que

ajudem a criança podem ser necessárias. “A recomendação é que a escola se

adapte ao aluno, que haja uma parceria e flexibilidade para rever posturas e

metodologia”, diz Nádia. “É interessante, inclusive, que as escolas tenham em

seu quadro, psicólogas e psicopedagogas.”

Nos casos em que a parceria família-escola não é suficiente,

recomenda-se recorrer a um psicopedagogo, que ou é um psicólogo

especializado em psicopedagogia ou um pedagogo com especialização,

mestrado ou doutorado em psicopedagogia. “É realizada, então, uma espécie

de ‘fisioterapia cerebral’, um trabalho que exercita as funções cognitivas

ativando o sistema nervoso”, explica ela. A troca de escola deve ser

considerada em alguns casos.

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45O papel da família também é vital na retomada do interesse pelos

estudos. “Os pais devem incentivar a lição de casa, olhar cadernos e mostrar

interesse pelo que ela está aprendendo”, recomenda a psicopedagoga Silvia

Amaral de Mello Pinto. “Às vezes, pequenos detalhes fazem uma grande

diferença”, acredita ela.

Tomar as providências corretas garante não só uma criança sem

problemas para desenvolver seu aprendizado como adultos livres de traumas e

problemas de auto-estima causados pela experiência da escola.

Prova clara deste capítulo estão nos questionários respondidos por

alguns profissionais que já atuam nesta área e no artigo retirado da internet

que compravam a veracidade do que foi dito até o momento.

CONCLUSÃO

É fundamental que a criança seja estimulada em sua criatividade e que

seja respondida às suas curiosidades por meio de descobertas concretas,

desenvolvendo a sua auto-estima, criando em si uma maior segurança e

confiança.

É preciso que os pais se impliquem nos processos educativos dos filhos

no sentido de motivá-los afetivamente ao aprendizado. O aprendizado formal

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46ou a educação escolar, para ser bem-sucedida não depende apenas de uma

boa escola ou de bons programas, mas, principalmente, de como a criança é

tratada em casa e dos estímulos que recebe para aprender, pois, o aprender é

um processo contínuo.

Tanto o educador quanto o psicopedagogo devem estar atentos a todo

movimento, que muitas vezes constitui-se no caminho para uma aprendizagem

cada vez mais segura e saudável, com o mínimo de dificuldade e obstáculos

ao ato de aprender.

O aluno deve ser percebido em toda a sua singularidade e, em toda a

sua especificidade, em um programa direcionado a atender as suas

necessidades especiais. É a percepção desta singularidade que vai comandar

o processo e não um modelo universal de desenvolvimento.

A psicopedagogia veio introduzir uma contribuição mais rica no enfoque

pedagógico. O processo de aprendizagem da criança é compreendido como

um processo muito abrangente, implicando componentes de vários eixos de

estruturação. Percebe-se que as causa do processo de aprendizagem, bem

como das dificuldades de aprendizagem, não está localizada somente no aluno

e no professor, passa a ser vista como um processo maior com inúmeras

variáveis que precisam ser apreendidas com bastante cuidado pelo professor e

psicopedagogo.

A função do Psicopedagogo é de intervir como mediador. Essa

intervenção tem caráter preventivo e curativo, uma vez que tem o propósito de

detectar a dificuldade de aprendizagem, resolver essa dificuldade e ainda

preveni-la; o trabalho preventivo tem como objetivo prevenir os problemas de

aprendizagem através da investigação de todos os indivíduos inseridos na

instituição, para que ela se reestruture e resgate sua identidade.

O Psicopedagogo, diante das dificuldades de aprendizagem e numa

ação preventiva, inserido no âmbito escolar, deve adotar uma postura crítica,

com o objetivo de propor novas alterações de ação voltadas para a melhoria

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47da aprendizagem. Ele deve buscar o que o aprender significa para o indivíduo,

sua família, sua comunidade, deve fazer uma pesquisa particular deste

indivíduo não só para encontrar as causas do não aprendizado, mas também

para facilitar a aprendizagem.

A ação psicopedagógica é plural, baseada em contribuições de

diferentes áreas do conhecimento humano: os jogos educativos e a

brincadeira, a dramatização e a produção textual, as histórias, fábulas e

contos, as músicas e muitas outras estratégias podem ser utilizadas pelos

psicopedagogos para descobrir (e compreender) as modalidades de cada

aprendente e auxiliar no que for preciso para superar suas possíveis

dificuldades.

Pela sua importância no momento presente do mundo, que cada vez

está mais focado no desenvolvimento da aprendizagem humana, a

Psicopedagogia se propõe a olhar com clareza as relações acima referidas, em

momentos e movimentos que conduzam ao envolvimento de todos os que

estão agindo e atuando nos cenários do aprender e do ensinar, ou seja, os

aprendentes, os ensinantes, os pais, enfim. Refletindo e agindo, estamos

sempre em busca do tornar cada vez mais claros os aspectos obscuros

presentes na dinâmica do aprender e do ensinar.

Seguir acreditando no poder transformador da Educação, como

promotora de nossos avanços como sujeitos históricos e inseridos no

complexo de nosso tempo é árdua tarefa a ser vivenciada com alegria e

amorosidade.

Se assim compreendemos, ensinar e aprender são processos que

caminham juntos, em dialética interação e ao estarmos nos posicionando e nos

compromissando como ensinantes do presente, devemos nos remeter ao

papel essencial de mostrar possibilidades, facilitar a abertura de novos

caminhos, sendo cada um de nós “um fundador de mundos, mediador de

esperanças, pastor de projetos.”

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ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1 >> Questionários;

Anexo 2 >> Internet.

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ANEXO 1

QUESTIONÁRIOS

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES A VEZ DO MESTRE – PSICOPEDAGOGIA

Nome: Lygia Coelho

E-mail: [email protected]

Formação: Psicopedagogia Clínica - CEPERJ

Profissão: Pedagoga

Instituição que trabalha: Liceu Franco Brasileiro

QUESTIONÁRIO:

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501) De que forma você acha que a Psicopedagogia pode cooperar com o

trabalho desenvolvido dentro da Educação infantil?

Resposta: Orientando professores quanto às etapas do

desenvolvimento infantil; criando grupos de estudo sobre

desenvolvimento infantil e possíveis desvios, contribuindo com livros,

artigos, testes, textos etc.

2) Você acredita que o Psicopedagogo pode realizar um trabalho

preventivo na criança da Educação infantil evitando assim o

aparecimento de problemas no processo de aprendizagem?

Resposta: Acho que o professor ao perceber qualquer possível

problema deve acenar para o Psicopedagogo ou aquele que lhe faz as

vezes, solicitando sua observação e possível ajuda em relação à

conduta do caso, desde o trabalho a ser feito com o aluno em sala de

aula, até a conversa com os responsáveis.

3) Como você vê o papel do Psicopedagogo dentro da Instituição Escolar?

Resposta: Sob duas óticas distintas: O trabalho institucional, a partir do

seu diagnóstico, propiciará a harmonização da instituição, a proposição

de cursos de aperfeiçoamento e formação continuada, a partir das

necessidades dos professores, funcionários e equipe gestora, a

promoção do bem estar e do comprometimento de todos com a marca

da instituição. O trabalho com professores e alunos permitirá o

diagnóstico pedagógico da escola e os possíveis problemas que devem

ser abordados preventivamente.

4) Como você avalia que o Psicopedagogo pode auxiliar nas dificuldades

de aprendizagem na Educação Infantil?

Resposta: Enquanto hipótese, o Psicopedagogo pode sugerir condutas

e estratégias ao professor e às famílias envolvidas. Vale ressaltar, que

nessa fase do desenvolvimento, as respostas aos estímulos às vezes

são mais rápidas ou não. É conveniente muita observação para bater o

martelo identificando algum desvio de desenvolvimento, como prefiro

chamar. Quando a dificuldade já está realmente instalada, é

recomendável que se deixe claro para todos os envolvidos, que a escola

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51não é um espaço terapêutico e, assim sendo, a criança que apresentar

uma real dificuldade de aprendizagem ou atraso de desenvolvimento

deve ser encaminhada par uma avaliação psicopedagógica, com total

anuência da família. Em geral a escola apresenta o nome de 2 ou 3

profissionais para que a família, livremente, escolha o que mais lhe

convier.

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES A VEZ DO MESTRE – PSICOPEDAGOGIA

Nome: Marizete Rodrigues da Costa

E-mail: [email protected]

Formação: Pedagogia, Psicologia, Psicopedagogia, Especialista em família

Profissão: Atuação clínica

Instituição que trabalha: Clínica privada

QUESTIONÁRIO:

1) De que forma você acha que a Psicopedagogia pode cooperar com o

trabalho desenvolvido dentro da Educação infantil?

Resposta: Analisando o processo de ensino-aprendizagem. A

participação de quem ensina, de quem aprende e da instituição que

participa, bem como a família que autoriza ou não o filho aprender e

crescer.

2) Você acredita que o Psicopedagogo pode realizar um trabalho

preventivo na criança da Educação infantil evitando assim o

aparecimento de problemas no processo de aprendizagem?

Resposta: Acredito que a base de formação do processo é construída

na educação infantil. Toda construção que tem uma base sólida é firme

e prospera.

3) Como você vê o papel do Psicopedagogo dentro da Instituição Escolar?

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52Resposta: Atuando de forma preventiva e intervencionista. Tanto com o

aprendente, como com o ensinante e instituição. O sintoma pode estar

em alguma destas instâncias.

4) Como você avalia que o Psicopedagogo pode auxiliar nas dificuldades

de aprendizagem na Educação Infantil?

Resposta: Como foi dada na resposta acima.

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES A VEZ DO MESTRE – PSICOPEDAGOGIA

Nome: Nivia Maria Mattos Damasceno

E-mail: [email protected]

Formação: 3º grau- Fonoaudiologia

Profissão: Fonoaudióloga/ Professora de Educação Infantil

Instituição que trabalha: Consultório particular e Associação Integrada

Garriga de Menezes.

QUESTIONÁRIO:

1) De que forma você acha que a Psicopedagogia pode cooperar com o

trabalho desenvolvido dentro da Educação infantil?

Resposta: Orientando professores nas possíveis dificuldades que

possam ter em sala de aula com seus alunos e também como a escola

pode conduzir o processo ensino-aprendizagem, como garantir o

sucesso de seus alunos e como a família pode exercer o seu papel de

parceira nesse processo.

2) Você acredita que o Psicopedagogo pode realizar um trabalho

preventivo na criança da Educação infantil evitando assim o

aparecimento de problemas no processo de aprendizagem?

Resposta: Sim. Considero muito importante todo trabalho preventivo.

3) Como você vê o papel do Psicopedagogo dentro da Instituição Escolar?

Resposta: O Psicopedagogo na instituição escolar tem um caráter

preventivo no sentido de procurar criar competências e habilidades para

solucionar possíveis problemas.

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534) Como você avalia que o Psicopedagogo pode auxiliar nas dificuldades

de aprendizagem na Educação Infantil?

Resposta: Cabe ao psicopedagogo detectar possíveis perturbações no

processo de aprendizagem; participar da integração EscolaxFamília e

promover orientações metodológicas de acordo com as características

dos indivíduos e grupos.

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES A VEZ DO MESTRE – PSICOPEDAGOGIA

Nome: Aliny Lamoglia

E-mail: [email protected]

Formação: Psicologia; Mestrado em Psicologia Clínica; Doutorado em

Psicologia Social

Profissão: Professora; Psicopedagoga

Instituição que trabalha: UNIRIO; Consultório Particular

QUESTIONÁRIO:

1) De que forma você acha que a Psicopedagogia pode cooperar com o

trabalho desenvolvido dentro da Educação infantil?

Resposta: Principalmente demonstrando que é necessário fazer o

diagnóstico precocemente, bem como a intervenção.

2) Você acredita que o Psicopedagogo pode realizar um trabalho

preventivo na criança da Educação infantil evitando assim o

aparecimento de problemas no processo de aprendizagem?

Resposta: Certamente!

3) Como você vê o papel do Psicopedagogo dentro da Instituição Escolar?

Resposta: Muito importante, capacitando professores e identificando

canais de intervenção precoce.

4) Como você avalia que o Psicopedagogo pode auxiliar nas dificuldades

de aprendizagem na Educação Infantil?

Resposta: Auxiliando o professor a fazer adaptações, curriculares para

crianças com NEE.

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES A VEZ DO MESTRE – PSICOPEDAGOGIA

Nome: Alaine F. H. Macedo

E-mail: [email protected]

Formação: Pedagogia, Orientadora Educacional

Profissão: Pedagoga

Instituição que trabalha: Baby Cemi

QUESTIONÁRIO:

1) De que forma você acha que a Psicopedagogia pode cooperar com o

trabalho desenvolvido dentro da Educação infantil?

Resposta: Acredito que na Educação Infantil a psicopedagogia possa

trabalhar de foram preventiva, auxiliando aos profissionais com

informações importantes e pertinentes ao desenvolvimento infantil.

2) Você acredita que o Psicopedagogo pode realizar um trabalho

preventivo na criança da Educação infantil evitando assim o

aparecimento de problemas no processo de aprendizagem?

Resposta: Sim. Principalmente auxiliando na formação dos

profissionais que atuarão diretamente com as pessoas que atuam

diretamente com as crianças.

3) Como você vê o papel do Psicopedagogo dentro da Instituição Escolar?

Resposta: Vejo como um especialista que possui informações

importantes e complementares ao trabalho realizado pela escola,

principalmente ao atendimento aos professores e pais.

4) Como você avalia que o Psicopedagogo pode auxiliar nas dificuldades

de aprendizagem na Educação Infantil?

Resposta: O psicopedagogo pode auxiliar após o aparecimento da

dificuldade, de forma clínica, com estratégias específicas para o

trabalho individualizado com a criança e com o acompanhamento deste

trabalho pela escola.

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ANEXO 2

INTERNET

www.xa.yimg.com/kq/groups/21898749/1983945818/.../Dif+aprend+psico.doc

DIFICULDADES NA APRENDIZAGEM: UMA ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA

Rosita Edler Carvalho

Contextualizando a abordagem psicopedagógica a partir das concepções sobre

aprendizagem humana.

Ø Nas filosofias behavioristas, a aprendizagem pode ser observada (e mensurada)

pelos comportamentos manifestos pelos sujeitos, após terem sido estimulados,

intencionalmente.

Segundo esse paradigma, caso as condutas definidas nos objetivos comportamentais não

se manifestem é porque houve um problema, geralmente atribuído ao próprio aprendiz,

por algum déficit que apresente ou por sua incapacidade de reagir adequadamente aos

estímulos que lhe foram oferecidos. Nas explicações behavioristas para as dificuldades

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56de aprendizagem não há referências sobre o funcionamento da mente ou sobre as

emoções do aprendiz.

Serve como exemplo dessa filosofia a contribuição de Valett (1972)1 para quem “os

dados essenciais para a identificação de problemas de aprendizagem são obtidos a partir

da observação sistemática do desempenho de uma tarefa pelo aluno...” (p.1).

Ø Nas filosofias cognitivistas - das quais o construtivismo faz parte -, ao contrário

do comportamentalismo, toda a ênfase deve ser colocada nos processos mentais

superiores (percepção, processamento de informações, resolução de problemas,

compreensão, atribuição de significados, armazenamento de informações, uso

dos saberes construídos, etc.) que permitem aos sujeitos conhecer o mundo e

construir suas estruturas cognitivas, ou atualizar potenciais latentes.

As dificuldades de aprendizagem, segundo esse paradigma, podem ser explicadas pelas

limitações dos sujeitos em processar ou utilizar, adequadamente, as informações que

recebem do meio, mostrando-se como ‘incapazes’ de aprender, de compreender, de ler,

escrever, calcular, de conservar, reunir, ordenar, classificar, abstrair, etc.

Mesmo sem levar a extremos a contribuição das neurociências e, nelas, o papel do

cérebro, alguns teóricos cognitivistas relacionam as dificuldades de aprendizagem a

disfunções cerebrais, enquanto que outros levantam hipóteses distintas e que se afastam

das lesões ou disfunções. Apelam para imaturidade, para o atraso no desenvolvimento

de certas habilidades como: as perceptivo-motoras; as responsáveis em manter a atenção

seletiva; a memória; o processamento das informações ou à existência de potencial

intelectual médio ou baixo, dentre outras habilidades.

Cabem aqui, algumas importantes ressalvas a respeito do construtivismo, erradamente

confundido como método e relacionado, unicamente, à epistemologia genética

piagetiana. Na verdade: (a) não existe um método construtivista e sim teorias

1 VALETT,R.E. Tratamento de distúrbios da aprendizagem. S. Paulo: EPU, 1977.

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57construtivistas segundo as quais os aprendizes são considerados como agentes da

construção do seu saber; (b) há outros pensadores que apresentam visões construtivistas

sobre a aprendizagem, além de Piaget, certamente o mais famoso e (c) tampouco é

correto pensar que as ações do sujeito sobre os objetos do conhecimento se reduzem a

manipulações e/ou a seus movimentos.

Em relação a estas duas filosofias de aprendizagem, segundo França (1996)2, os

defensores da abordagem comportamental preferem a utilização da expressão distúrbio

de aprendizagem, enquanto que os construtivistas se referem a dificuldades de

aprendizagem, porque o distúrbio está mais ligado aos aspectos médicos e as

dificuldades estão mais relacionadas a fatores natureza psicopedagógica e/ou sócio–

culturais, extrínsecos ao aprendiz.

Reforçando esta concepção, cumpre citar a contribuição de Collares e Moyses (1992)3,

na medida em que esclarecem que a expressão distúrbios de aprendizagem, segundo a

etimologia do termo /distúrbio/, tem o significado de “anormalidade patológica por

alteração violenta na ordem natural da aprendizagem”, obviamente localizada em quem

aprende. Está implícito o sentido de anormalidade e de patologia que acarreta

comprometimentos no indivíduo, decorrentes causas orgânicas (na maioria

neurológicas). Trata-se de uma visão clínica, médica, que atribui o problema a uma

doença que acomete o aluno em nível individual e orgânico.

Ø Algumas breves referências à teoria da mediação que tem em Vygotsky (1988)4

sua expressão maior. Para este autor, diferentemente de Piaget que se referia à

“equilibração como princípio básico para explicar o desenvolvimento humano, o

desenvolvimento cognitivo não ocorre independente do contexto histórico, social

2 FRANÇA, C. Um novato na Psicopedagogia. In: SISTO, F. et al. Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.

3 COLLARES,C.A,L. e MOYSÉS. M.A.A. A história não contada dos distúrbios de aprendizagem.

Cadernos CEDES, No 28, Campinas: Papirus, 1993.

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58e cultural”...nem se organiza em estágios, pois o desenvolvimento, incluindo-se

os processos mentais, tem origem e natureza sociais (Moreira, op.cit. p.109).

Segundo a concepção teórica de Vygotsky, parece-nos que as dificuldades de

aprendizagem podem ser explicadas segundo a lei da dupla formação, cuja explicação

é: no desenvolvimento dos indivíduos qualquer função mental aparece duas vezes,

primeiro em nível social e depois em nível individual. Em outras palavras, primeiro

entre pessoas (daí a importância da mediação) e depois no interior do próprio aprendiz

(pela internalização do conhecimento construído).

Com base nessas premissas, as dificuldades podem ser geradas desde fora do sujeito, na

mediação (que inclui a inadequação dos instrumentos ou signos utilizados) ou, ainda, no

interior do próprio aprendiz, devido a algum problema biológico ou conseqüência

psicológica das suas relações com o ambiente.

Ø Quanto à filosofia humanista, o aprendente é percebido como um todo,

valorizado em suas ações, em seu intelecto e em seus sentimentos, isto é, ele é

percebido como pessoa.

O professor americano Novak (1981)5, inspirado no humanismo e nas concepções de

Ausubel (1968) sobre a aprendizagem significativa, apresenta uma proposta mais ampla

chegando a formular uma teoria de educação, entendida como um conjunto de

experiências cognitivas, afetivas e motoras que contribuem para o ‘empoderamento’ do

sujeito.

Segundo Moreira (op.cit. p.168) “a premissa básica da teoria de Novak é que os seres

humanos fazem três coisas: pensam, sentem e atuam” e qualquer proposta de educação

com vistas à aprendizagem deve levar em conta esses aspectos. Do mesmo modo, ele

refere-se a cinco elementos que estão intimamente envolvidos nos fenômenos

educativos: aprendiz; professor, matéria de ensino, matriz social e avaliação.

4 VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes 1988

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Numa tentativa de relacionar essas idéias com as dificuldades de aprendizagem parece

que, se ocorrem, é porque uma, duas ou as três ‘coisas’ que todos os seres humanos

fazem estão bloqueadas e/ou porque os elementos do fenômeno educativo (isoladamente

ou no seu conjunto) geram as dificuldades.

Feita essa breve revisão e lembrando-nos que a psicopedagogia tem ocupado um espaço

significativo tanto no processo de diagnóstico, como também na intervenção educativa,

cabe a pergunta: onde situar a abordagem psicopedagógica acerca do que sejam as

dificuldades de aprendizagem?

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=154&Itemid=31 acessado em 11/06/2010

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

A Escola de Educação Infantil 11

1.1 – A criança de zero a seis anos 11

1.2 – Proposta curricular 17

1.3 - Ação integrada família e escola 20

CAPÍTULO II

Psicopedagogia 23

2.1 – Breve Histórico 23

2.2 – O que é psicopedagogia? 27

2.3 – Quem é o psicopedagogo? 29

2.4 – Atuação do Psicopedagogo 32

CAPÍTULO III

A importância da psicopedagogia na prevenção e

diagnóstico das dificuldades de aprendizagem 36

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CONCLUSÃO 46

ANEXOS 49

BIBLIOGRAFIA 60

WEBGRAFIA 61

ÍNDICE 64

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