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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE ASPECTOS CONTEMPORÂNEOS DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE Por: LEONARDO GARCIA DE FARIA Orientador Prof. Dr. José Roberto Borges Rio de Janeiro 2010 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · moderna hermenêutica constitucional, devam ser aplicados conjuntamente, ou de forma sucessiva, com os preceitos da Política Jurídica,

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

ASPECTOS CONTEMPORÂNEOS

DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE

Por: LEONARDO GARCIA DE FARIA

Orientador

Prof. Dr. José Roberto Borges

Rio de Janeiro

2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

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PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

ASPECTOS CONTEMPORÂNEOS

DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito e

Processo do Trabalho.

Por: Leonardo Garcia de Faria

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AGRADECIMENTOS

....a minha mãe, pela maneira

carinhosa de estar sempre ao meu lado

transmitindo sabedoria para que eu

enfrente o cotidiano e obtenha sucesso

naquilo em que me propuser realizar.

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DEDICATÓRIA

...dedico a minha namorada por todo

apoio e incentivo ...

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RESUMO

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METODOLOGIA

A pesquisa a ser apresentada, quanto aos objetivos que se propõe, será

do tipo descritiva e bibliográfica sobre o tema abordado, os aspectos mais

questionados na atualidade sobre o adicional de insalubridade: sua base de

cálculo e a possibilidade de sua cumulação com o adicional de periculosidade.

As fontes de pesquisa serão a partir dos livros citados na bibliografia. A coleta

de dados transcorrerá durante os meses de novembro de 2009 a março de

2010, com visitas à biblioteca e consulta aos livros adquiridos durante minha

vida acadêmica.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 0x

CAPÍTULO I - Objetivos e Conceito do Adicional de Insalubridade xx

CAPÍTULO II - Base de Cálculo do Adicional de Insalubridade xx

CAPÍTULO III – Percepção Simultânea dos Adicionais de

Periculosidade e de Insalubridade xx

CONCLUSÃO xx

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA xx

ÍNDICE xx

FOLHA DE AVALIAÇÃO xx

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INTRODUÇÃO

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CAPÍTULO I

OBJETIVOS E CONCEITO DO

ADICIONAL DE INSALUBRIDADE

A palavra "insalubre" vem do latim e significa tudo aquilo que origina

doença, sendo que a insalubridade é a qualidade de insalubre. Já o conceito

legal de insalubridade é dado pelo artigo 189 da Consolidação das Leis do

Trabalho, nos seguintes termos:

"Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que,

por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os

empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância

fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de

exposição aos seus efeitos".

Analisando o conceito acima, verifica-se que ele é tecnicamente

correto dentro dos princípios da Higiene Industrial.

No campo da saúde ocupacional, a Higiene do Trabalho é uma ciência

que trata do reconhecimento, avaliação e controle dos agentes agressivos

possíveis de levar o empregado a adquirir doença profissional, quais sejam:

agentes físicos — ruído, calor, radiações, frio, vibrações e umidade; agentes

químicos — poeira, gases e vapores, névoas e fumos; agentes biológicos —

microorganismos, vírus e bactérias.

Assim, por exemplo, um empregado exposto ao agente ruído, em

certas condições, pode adquirir surdez permanente.

Segundo os princípios da Higiene do Trabalho, a ocorrência da doença

profissional, dentre outros fatores, depende da natureza, da intensidade e do

tempo de exposição ao agente agressivo.

Com base nesses fatores foram estabelecidos limites de tolerância

para os referidos agentes, que, no entanto, representam um valor numérico

abaixo do qual se acredita que a maioria dos trabalhadores expostos a agentes

agressivos, durante a sua vida laboral, não contrairá doença profissional.

Portanto, do ponto de vista prevencionista, não podem ser encarados com

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rigidez e sim como parâmetros para a avaliação e controle dos ambientes de

trabalho.

Voltando ao artigo 189 da CLT, observa-se que a insalubridade será

caracterizada somente quando o limite de tolerância for superado; isto é, a lei

tratou a questão do direito ao adicional, deixando o aspecto prevencionista a

critério da regulamentação do Ministério do Trabalho, conforme preceitua o

artigo 190 da CLT, que estabeleceu o quadro de atividades insalubres, as

normas de caracterização da insalubridade, os limites de tolerância e os meios

de proteção.

O Ministério do Trabalho, na Portaria n. 3.214/78, regulamentou toda a

matéria de Segurança e Medicina do Trabalho através de vinte e oito normas

regulamentadoras (atualmente são trinta e três), estando inseridas na NR-15 e

seus quatorze anexos as atividades e operações insalubres, assim

consideradas (no sub item 15.1) as que se desenvolvem: acima dos limites de

tolerância previstos nos anexos 1,2,3, 5, 11 e 12; nas atividades mencionadas

nos anexos 6, 13 e 14; comprovadas através de laudo de inspeção do local de

trabalho, constantes dos anexos 7, 8, 9 e 10; abaixo dos mínimos de

iluminamento fixados no anexo 4, exceto nos trabalhos de extração de sal.

Esse anexo foi revogado pela Portaria n. 3.751, de 23.11.90.

Observa-se que a norma estabeleceu três critérios para a

caracterização da insalubridade: avaliação quantitativa, qualitativa e qualitativa

dos riscos inerentes à atividade.

Conforme o acima exposto, a discriminação dos agentes considerados

nocivos à saúde bem como os limites de tolerância mencionados estão

previstos nos anexos da Norma Regulamentadora NR-15, e para caracterizar e

classificar a insalubridade, em consonância com as normas baixadas pelo

Ministério do Trabalho, far-se-á necessária perícia por profissional competente

e devidamente registrado no Ministério do Trabalho e Emprego.

O exercício de trabalho em condições insalubres, acima dos limites de

tolerância estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, assegura a percepção de

adicional respectivamente de 40% (quarenta por cento), 20% (vinte por cento)

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e 10% (dez por cento), segundo se classifiquem nos graus máximo, médio e

mínimo, conforme prevê artigo 192 da CLT.

Como a legislação estabelece quais os agentes considerados nocivos

à saúde, não será suficiente somente o laudo pericial para que o empregado

tenha direito ao respectivo adicional.

É preciso que a atividade apontada pelo laudo pericial como insalubre

esteja prevista na relação oficial elaborada pelo Ministério do Trabalho, tal

como definido pela NR-15.

A NR-15 foi regulamentada há trinta e um anos, na época, o critério

quantitativo para avaliar a insalubridade, seguindo uma tendência

internacional, foi considerado um avanço no Brasil. Especialistas em Saúde e

Segurança do Trabalho acreditavam que a nova portaria ajudaria na

identificação das más condições laborais e na conseqüente correção dos

ambientes através da adoção de medidas de controle. E estavam certos, não

fossem os limites expostos no documento terem deixado de ser atualizados

periodicamente. A questão é que depois de três décadas a norma

regulamentadora continua servindo de parâmetro legal para as avaliações

ambientais, provocando um sério risco à saúde dos trabalhadores. Não

bastasse isso, o adicional de insalubridade também faz aniversário de longa

data no País, uma medida criada em caráter provisório até que fossem

adotadas ações de proteção que eliminassem ou neutralizassem a exposição

aos agentes nocivos. Quem atua na área questiona a lentidão dos órgãos

brasileiros em alterar a legislação e repudia a adoção do benefício, justificando

que com ele a saúde do trabalhador é colocada à venda.

Em 1978 quando a NR-15 foi regulamentada, a higienista ocupacional

Irene Ferreira de Souza Saad fazia parte do grupo da Fundacentro (Fundação

Jorge Duprat Figueiredo de Medicina e Segurança do Trabalho) que elaborou o

sistema quantitativo para caracterizar as atividades insalubres. “O objetivo era,

desde aquela época, fazer com que houvesse a adoção de medidas de

controle”, recorda a especialista. Os hoje conhecidos limites de exposição já

desde a década de 70 referiam-se às concentrações das substâncias químicas

dispersas no ar ou a níveis onde se acredita que a maioria dos trabalhadores

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pudessem se expor durante uma vida laboral sem sofrer efeitos adversos à

saúde. Com a norma, as atividades e operações insalubres passaram a ser

caracterizadas a partir da exposição acima dos valores estipulados em razão

da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus

efeitos. A necessidade de se rever a NR-15 é praticamente uma unanimidade

entre os profissionais da área prevencionista. Isso porque o limite de exposição

constitui um dos elementos a serem considerados no desenvolvimento de

estudos voltados para a prevenção da saúde dos trabalhadores. Se

compararmos a norma brasileira frente aos atuais valores da Conferência

Americana de Higienistas Industriais Governamentais (ACGIH) observamos

uma significativa diferença entre os limites de exposição.

1.1 – Objetivos do Adicional de Insalubridade

Inicialmente, deve-ser ressaltar que o pagamento do adicional de

insalubridade tendo como base o salário mínimo funciona como se fosse um

permissivo legal para que o trabalhador possa manter-se exposto ao agente

nocivo, já que, claro, é bem menos oneroso para a empresa do que

efetivamente investir no ambiente de trabalho para que se torne

satisfatoriamente saudável.

É exatamente neste ponto que falta a percepção do empresário em

notar que o "plus", denominado adicional de insalubridade, não se destina

objetivamente a ser pago ao empregado, mas, sim, a desestimular a

negligência do empregador para com o ambiente de trabalho.

Desta forma, também por este motivo, não há como ter o salário mínimo

como base de cálculo do Adicional de Insalubridade.

Todavia, há mais questões que devem ser analisadas.

O nosso legislador constitucional ao inserir a palavra “remuneração” ao

invés da palavra “salário”, para fins de qualificar os adicionais de penosidade,

insalubridade e periculosidade, demonstrou de forma clara, que sua intenção

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era aumentar a base de cálculo destes adicionais, assim o artigo 192 foi

tacitamente revogado.

Constituição Federal

XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou

perigosas, na forma da lei.

Este entendimento se justifica pela clara diferenciação existente entre a

definição de remuneração e salário e ainda pelo comando constitucional

contido no inciso XXII do artigo 7º da CF/88, que determina a obrigação de

nosso legislador em produzir norma que visem reduzir os risco inerentes ao

trabalho.

Constituição Federal

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,

higiene e segurança.

Observa-se que o principal objetivo do artigo 7º, XXIII, da CF/88, na

verdade, não foi simplesmente autorizar o trabalho em condições insalubres

com o pagamento de um adicional correspondente, mas sim compelir os

empregadores a proporcionar um ambiente de trabalho saudável e adequado,

evitando, na medida do possível, o ambiente insalubre.

É muito criticada a solução adotada pelo Brasil de compensar com

remuneração adicional (monetização do risco) o trabalho em condições

insalubres, perigosas ou danosas. Afirma-se que o procedimento implica venda

da saúde do trabalhador e sugere-se a redução da jornada com maior período

de descanso.

Ademais, cumpre mencionar, que o adicional de insalubridade tem

natureza salarial e não indenizatória, pois visa remunerar o trabalho nestas

circunstâncias, tentando de alguma forma compensar a condição gravosa à

saúde do empregado.

Assim como o adicional de periculosidade, integrará a remuneração

para cálculo de outras verbas se for pago de forma habitual.

Logo, cessada a causa, de periculosidade e insalubridade, deixa de

existir o direito ao pagamento do adicional, não se incorporando ao salário.

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CAPÍTULO II

BASE DE CÁLCULO

Busca-se analisar no presente capítulo que o adicional de insalubridade,

que é uma conquista dos trabalhadores que laboram em locais nocivos à

saúde, não possa ter como base de cálculo o salário mínimo tal como

preceitua a Consolidação das Leis do Trabalho (artigo 192), e/ou, ainda, o

salário profissional como prevê a nova redação da Súmula 228 do Tribunal

Superior do Trabalho. Procura-se demonstrar que a base de cálculo para o

adicional de insalubridade deva ser a remuneração do trabalhador, na forma

prevista na Constituição da República Federativa do Brasil (ex vi do artigo 7º,

inciso XXIII).

Contudo, para que o adicional de insalubridade tenha como base de

cálculo a remuneração do trabalhador, busca-se demonstrar, além das

principais correntes doutrinárias e jurisprudenciais, que os princípios gerais do

Direito e os princípios peculiares ao Direito do Trabalho, conjugados com a

moderna hermenêutica constitucional, devam ser aplicados conjuntamente, ou

de forma sucessiva, com os preceitos da Política Jurídica, a qual tem por

fundamento, em síntese, um direito que se gostaria de ter.

2.1 – A Base de Cálculo do Adicional de Insalubridade na Legislação Infraconstitucional O adicional de insalubridade consiste em parcelas contraprestativas

suplementares devidas ao empregado em razão de exercício do trabalho em

circunstâncias tipificadas como insalubres. Mauricio Godinho Delgado entende

que os adicionais têm característica salarial e não indenizatória, e “são

calculados percentualmente sobre um parâmetro salarial. Essa característica é

que os torna assimiláveis à figura das percentagens, mencionada no art. 457,

§ 1º, da CLT.” O adicional de insalubridade, que originariamente chamava-se

“acréscimo de salário”, foi pela primeira vez previsto no art. 6º, § 1º, do

Decreto-Lei nº 2.162, de 1º de maio de 1940, que incidia sobre o salário

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mínimo: “Conforme se trate dos graus máximo, médio ou mínimo, o aumento

de salário, tomando por base o salário mínimo que vigorar para o trabalhador

adulto local, será de 40%, 20% e 10%, respectivamente.” Em 1964, pelo

Prejulgado nº 08 do TST, convolado na Súmula 137: “É devido o adicional de

serviço insalubre, calculado à base do salário mínimo da região, ainda que a

remuneração contratual seja superior ao salário mínimo acrescido da taxa de

insalubridade”.

A Súmula 17 do TST, nascida com a Resolução Administrativa nº 28/69,

trouxe outra base de incidência do adicional de insalubridade: “O adicional de

insalubridade devido a empregado que percebe, por força de lei, convenção

coletiva ou sentença normativa, salário profissional, será sobre este calculado.”

A CLT, em seu artigo 192, com a redação vinda com a Lei nº 6.514/77,

estabelece que é o “salário mínimo da região” a base de cálculo do adicional

de insalubridade, in verbis: Art. 192. O exercício de trabalho em condições

insalubres, acima dos limites de tolerância estabelecidos pelo Ministério do

Trabalho, assegura a percepção de adicional respectivamente de 40%

(quarenta por cento), 20% (vinte por cento) e 10% (dez por cento) do salário

mínimo da região, segundo se classifiquem nos graus máximo, médio e

mínimo.

Nesse sentido é a Súmula 228 do TST, advinda com a Resolução nº

14/85, DJ, 19.09.85: “O percentual do adicional de insalubridade incide sobre o

salário mínimo de que cogita o artigo 76 da Consolidação das Leis do

Trabalho.”

Com o surgimento da Súmula 228, a aplicabilidade da Súmula 17 ficou

controvertida, advindo então a Resolução do TST nº 29/94 determinando o

cancelamento desta Súmula, sanando deste modo a controvérsia.

O Decreto-Lei nº 2.284/86 trouxe a unificação do salário mínimo para

todo o território nacional. Fato que fez desenvolver grande discórdia na

jurisprudência, foi a promulgação do Decreto-Lei nº 2.351/87, que instituiu o

Piso Nacional de Salários e o Salário Mínimo de Referência, obtendo duas

correntes: uma que acolhia como base de cálculo do adicional de insalubridade

o Piso Nacional de Salários; e a outra, o Salário Mínimo de Referência.

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A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 não

recepcionou o Piso Nacional de Salários e o Salário Mínimo de Referência,

trazendo em seu artigo 7º, inciso IV, a vedação à vinculação do salário mínimo

para qualquer fim.

Atualmente, a Resolução nº 121/03 (DJ 19.11.2003) editada pelo

Tribunal Pleno do TST, restaurou a Súmula nº 17 e revisou a Súmula nº 228

que passou a ter a seguinte redação: “o percentual do adicional de

insalubridade incide sobre o salário mínimo de que cogita o art. 76 da CLT,

salvo as hipóteses previstas na Súmula 17.”

2.2 – O Cálculo do Adicional de Insalubridade Após a Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988 O artigo 7º, inciso XXIII da CRFB dispõe que: “São direitos dos

trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua

condição social: [...] XXIII - adicional de remuneração para as atividades

penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei”.

A CLT, em seu artigo 192 informa que a base de cálculo para o

adicional de insalubridade é o salário mínimo da região. Há intenso debate

doutrinário e jurisprudencial a respeito de qual seria, a partir da promulgação

da CRFB, a base a ser considerada para o cálculo do adicional de

insalubridade, resultando, conforme irá se constatar a seguir, três principais

correntes.

A primeira corrente diz respeito ao entendimento de que a norma

constitucional (art. 7º, XXIII) não dispõe sobre a base de cálculo do adicional

de insalubridade, mas que o referido adicional tem somente caráter

remuneratório.

Nesse sentido é o entendimento de Amauri Mascaro Nascimento:

“...A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 192) dispõe

que o adicional de insalubridade é calculado sobre o

salário mínimo. A Constituição não altera essa regra. Não

declara que o adicional incidirá sobre a remuneração.

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Refere-se a adicional de remuneração e não a adicional

sobre remuneração. Logo, enquanto não for elaborada lei

dispondo em contrário, prevalecerá o critério da

Consolidação das Leis do Trabalho...”

Portanto, como se pode observar, para essa corrente a base de cálculo

do adicional de insalubridade é o salário mínimo, em razão de que a CRFB

emprega a preposição “de” e não a preposição “sobre” no que,

gramaticalmente altera o significado da palavra remuneração.

A segunda corrente defende a tese de que a CRFB proíbe a vinculação

do salário mínimo para qualquer fim, conforme prevê o artigo 7º, inciso IV. De

acordo com Sebastião Geraldo de Oliveira, a CRFB é clara quando diz que o

salário mínimo não pode ser vinculado. Para o autor o entendimento de que a

intenção do constituinte era somente evitar a utilização do salário mínimo como

fator de indexação em sentido estrito “não vem tendo acolhimento no âmbito

do STF, que considera a proibição como vedação absoluta. De fato, pelo texto

constitucional, a expressão ‘para qualquer fim’ não autoriza mesmo outro

entendimento.”

Logo, para os que seguem esta corrente, deve-se utilizar outras bases

de cálculo para o adicional de insalubridade, menos o salário mínimo. Porém, a

jurisprudência dominante do TST era de que a base de cálculo do adicional de

insalubridade era o salário mínimo.

Recentemente o TST, modificando sua jurisprudência, editou a Súmula

228 e restaurou a Súmula 17, verificando-se ainda que, em alguns casos este

Tribunal Superior continua utilizando o salário mínimo como base de cálculo do

adicional de insalubridade.

Por fim, a terceira corrente consagra a tese de que o adicional de

insalubridade deve incidir sobre a remuneração. Francisco Ferreira Jorge Neto

e Jouberto de Quadros Pessoa Cavalcante seguem essa corrente. Sebastião

Geraldo de Oliveira também entende que a base de cálculo do adicional de

insalubridade deve ser a remuneração do trabalhador, afirmando que:

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“...não se pode ignorar o vocábulo ‘remuneração’

constante da Carta Política, cuja acepção tem contornos

bem definidos na doutrina jurídico-trabalhista, valendo

ressaltar que a presunção, sobretudo no Direito

Constitucional, é de que o legislador tenha preferido a

linguagem técnica.”

Para Susy Lani Desideri, “a insalubridade corresponde a um dano

efetivo, que vai, paulatinamente, “comprometendo a saúde do empregado e

criando as condições para o desenvolvimento de doenças profissionais”. A

periculosidade, a seu turno, refere-se a um dano apenas potencial, que

somente ocorre por exceção.”

Eduardo Gabriel Saad, afirma que:

“...É inquestionável que os riscos produzidos pela

insalubridade e outros que se originam de manipulação

de explosivos ou inflamáveis se revestem da mesma

gravidade, pois qualquer deles pode incapacitar o

trabalhador para o serviço ou mesmo matá-lo. A diferença

reside no fato de que as causas insalubres de ordinário

geram doenças de forma lenta, devagar, ao passo que os

explosivos e inflamáveis – de regra – têm ação

simultânea, rápida, instantânea. Os efeitos, porém,

desses agentes confundem-se na gravidade de que se

revestem. Motivos de ordem humana ou econômica só

sugerem a igualdade no cálculo dos adicionais de

insalubridade e de periculosidade...”

Em vista disso, a CRFB ao adotar a palavra remuneração, quis corrigir a

diferença no tratamento entre os adicionais de insalubridade, periculosidade e

penosidade. Destaca Susy Lani Desideri que deveria existir o adicional de

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insalubridade somente depois de esgotadas todas as medidas de saneamento

ambiental, devendo ter um caráter ambiental, para a autora:

“...A Consolidação das Leis do Trabalho, no capítulo

intitulado “Da Segurança e da Medicina do Trabalho”;

bem como diversos regulamentos do Ministério do

Trabalho garantem ao empregado, precipuamente, o

direito à saúde. Logo a percepção de adicional de

insalubridade como direito dos trabalhadores urbanos e

rurais, somente deveria surgir quando, apesar de

adotadas todas as medidas possíveis de saneamento

ambiental e mesmo com o uso de equipamentos de

proteção, persistisse a nocividade à saúde do meio

ambiente de trabalho...”

Porém a realidade é outra, como o valor a ser pago pelo adicional é

ínfimo, para os empregadores é muito mais econômico remunerar a investir na

qualidade do meio ambiente de trabalho, conforme esclarece Susy Lani

Desideri:

Contudo, tendo em vista a irrisoriedade do plus salarial em debate,

algumas empresas preferem contraprestar o adicional ao invés de investir em

medidas de saneamento ambiental, ou na aquisição de equipamentos

protetores. Nesse contexto, elevar a base de cálculo do adicional de

insalubridade e, conseqüentemente aumentar sua expressão econômica,

contribui para desestimular o descaso para com a saúde do trabalhador.

Cabe salientar que em setores sensíveis da sociedade, não é raro o

Poder Público utilizar-se de meios impositivos para desestimular determinada

atividade. Exemplo claro é o efeito extrafiscal de alguns tributos.

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2.3 – Análise da Alteração da Base de Cálculo Sob a Perspectiva da Política Jurídica Para melhor visualizar o objeto de nossa crítica, que é, neste tópico, as

Súmulas 17 e 228 do TST, faz-se necessário transcrevê-los novamente:

“Súmula 228 - o percentual do adicional de insalubridade incide sobre o salário

mínimo de que cogita o art. 76 da CLT, salvo as hipóteses previstas na Súmula

17.”

A redação original da Súmula 228 do TST era a seguinte: “o percentual

do adicional de insalubridade incide sobre o salário mínimo de que cogita o art.

76 da CLT.” Tal redação foi dada pela Resolução TST n. 14/1985, DJ

19.09.1985.

A Súmula 17 que é citada na Súmula 228, ambas do TST, tinha sido

cancelada em 1994 pela Resolução do TST n. 29/1994, DJ 12.05.1994, e,

posteriormente, revigorada pela Resolução do TST n. 121/2003, DJ

21.11.2003, possuindo, atualmente, a seguinte redação: “o adicional de

insalubridade devido a empregado que, por força de lei, convenção coletiva ou

sentença normativa, percebe salário profissional será sobre este calculado.”

Afirma Amauri Mascaro Nascimento que três figuras próximas são

“salário mínimo, salário profissional e piso salarial, mas não se confundem.”

Salário mínimo é o “valor menor que todo e qualquer empregador no país pode

pagar ao assalariado.” Salário profissional é o “mínimo estabelecido para um

tipo de profissão como a dos engenheiros, etc.” E piso salarial é o “mínimo

previsto para uma categoria através de convenções coletivas ou sentenças

normativas.”

A partir deste momento da pesquisa, torna-se imprescindível demonstrar

a teoria que nos filiamos, qual seja: a de que o adicional de insalubridade deva

incidir sobre a remuneração do trabalhador. Diga-se de passagem que se

adota como conceito operacional de remuneração o disposto no art. 457 da

CLT.

A partir dessa ordem de idéias, verifica-se que as Súmulas 17 e 228 do

TST não se coadunam com os princípios que regem o direito do trabalho

(princípio do in dubio pro operario; princípio da norma mais favorável; e

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princípio da condição mais benéfica), posto que em desacordo, inclusive e

principalmente, com os princípios constitucionais que informam os direitos

sociais, que abrangem a questão do adicional de insalubridade.

O que vem ocorrendo é que ao invés do intérprete adaptar a legislação

infraconstitucional, no caso o disposto no art. 192 da CLT, às normas

constitucionais que tratam do adicional de remuneração para as atividades

insalubres (art. 7º, XXIII, da CRFB), ele nega a aplicabilidade e eficácia

máxima das normas constitucionais.

O problema da eficácia das normas constitucionais passa, então, pelo

tipo de justiça constitucional praticado em cada país e pelo redimensionamento

do papel dos operadores do Direito. E com isso, fica claro que a função do

Direito – no modelo instituído pelo Estado Democrático de Direito – não é mais

aquela do Estado Liberal-Abstencionista.

Em termos de jurisdição constitucional, consoante ensinamento de

Lênio Luiz Streck:

“...duas são as alternativas que se estabelecem no

constitucionalismo contemporâneo (pósguerra): ou os

tribunais apenas garantem os direitos fixados no

ordenamento-marco, sem qualquer capacidade de

estabelecer posições jurídicas singulares,” ou vinculam-se

à “eticidade substantiva da comunidade e podem,

portanto, agir de forma a aproximar a norma da

realidade...”

Nesse sentido, afirma Paulo Bonavides que o intérprete constitucional

deve “prender-se sempre à realidade da vida, à ‘concretude’ da existência,

compreendida está sobretudo pelo que tem de espiritual, enquanto processo

unitário e renovador da própria realidade, submetida à lei de sua integração.”

E é essa realidade que o TST deixou passar ao largo por ocasião da

edição da nova redação da Súmula 228, e revigoramento da Súmula 17.

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Não há dúvida que o art. 192 da CLT já deveria ter sido modificado pelo

Poder Legislativo, o que se proporá a seguir com base nos preceitos da

Política Jurídica, adequando-o à atual Constituição da República. No entanto, a

inércia de um dos Poderes da República (no caso o Legislativo) pode e deve,

segundo ser suprida pela atuação do Poder Judiciário, justamente mediante a

utilização dos mecanismos jurídicos previstos na Constituição que estabeleceu

o Estado Democrático de Direito.

A eficácia das normas constitucionais exige um redimensionamento do

papel do jurista e do Poder Judiciário nesse complexo jogo de forças, na

medida em que se coloca o seguinte paradoxo: uma Constituição rica em

direitos (individuais, coletivos e sociais) e uma prática jurídica judiciária que,

reiteradamente, declina a aplicação de tais direitos.

O TST por se configurar um Tribunal Superior, órgão máximo em

matéria infraconstitucional trabalhista, deveria ter determinado o conteúdo

material da Constituição, expurgando o salário mínimo como base de cálculo

da insalubridade, ou seja, além de não ter aplicado a remuneração, restringiu a

eficácia da norma constitucional em atitude de flagrante inconstitucionalidade.

A nova redação dada pelo TST à Súmula 228, que dispôs sobre a base

de cálculo do adicional de insalubridade, implicou em retrocesso social, posto

que mitigou a aplicação de um direito social positivado na Constituição da

República (art. 7º, XXIII).

Segundo Lênio Luiz Streck, tais “valores substantivos fazem parte do

núcleo político da Constituição, que aponta para o resgate das promessas de

igualdade, justiça social, realização dos direitos fundamentais.” Em seguida,

referido autor ensina que da “materialidade do texto constitucional extrai-se

que o Estado Democrático de Direito, na esteira do constitucionalismo do pós-

guerra, consagra o princípio da democracia econômica, social e cultural,

mediante os seguintes pressupostos deontológicos.” Um dos pressupostos que

fala o autor, é justamente a vedação de retrocesso nas garantias sociais. Em

suas palavras: “implica a proibição de retrocesso social, cláusula que está

implícita na principiologia do estado social constitucional.”

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Para Paulo Bonavides “a moderna interpretação da Constituição deriva

de um estado de inconformismo de alguns juristas com o positivismo lógico-

formal, que tanto prosperou na época do Estado liberal.”

A Súmula do TST 228 foi criada de forma dissociada dos princípios que

regem o Direito do Trabalho e, principalmente, com os da Constituição da

República, método típico, segundo Paulo Banavides, dos formalistas do

positivismo: “A objeção à técnica interpretativa dos formalistas do positivismo é

indubitavelmente aquela referente à frieza ou indiferença com que eles,

violentando a norma jurídica, costumam aplicá-la fora do conjunto no qual

cobra seu preciso sentido.”

José Afonso da Silva afirma que não basta que a legislação

infraconstitucional (ou atos normativos autônomos – ex. Decretos do

Presidente da República expedidos com base no art. 84, VI, da CRFB) se

coadune com os princípios e normas constitucionais, mas, também, se exige

uma atuação positiva de acordo com a constituição, vedando, desta forma, a

omissão na aplicação das normas constitucionais, tal qual ocorreu na edição

da Súmula 228 pelo TST, quando se deixou (o TST) de fixar adequadamente,

na condição de intérprete ‘concretizador’, já que houve falta de atuação do

Poder Legislativo, a base de cálculo da insalubridade.

Dos princípios e regras interpretativas das normas constitucionais

elaborados por Canotilho, citado por Alexandre de Moraes, adota-se

especialmente dois, quais sejam: o “princípio da máxima efetividade ou da

eficiência.” Tal princípio informa que “a uma norma constitucional deve ser

atribuído o sentido que maior eficácia lhe conceda” ; bem como o “princípio da

força normativa da constituição”, que tem o condão de informar que “entre as

interpretações possíveis, deve ser adotada aquela que garanta maior eficácia,

aplicabilidade e permanência das normas constitucionais.”

Segundo se depreende da dicção da Súmula 228 do TST não houve

observância de princípios peculiares ao Direito do Trabalho, quais sejam:

princípio do in dubio pro operario; princípio da norma mais favorável; e

princípio da condição mais benéfica. Ao intérprete, no caso de conflitos de

normas trabalhistas, deverá lançar mão da norma mais favorável ao

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trabalhador, seja em caso de dúvida na aplicação da norma isoladamente

considerada, seja na interpretação de duas ou mais normas trabalhistas. E, por

fim, sendo a remuneração base de cálculo do adicional de insalubridade,

conforme previsto na Constituição, tal direito não pode ser mitigado por

legislação ordinária ou entendimento jurisprudencial, por já estar incorporado

ao patrimônio jurídico do trabalhador.

Se tivesse sido aplicado, pelo TST, o princípio da máxima

eficiência/eficácia da norma constitucional (art. 7º, XXIII, da CRFB), a base de

cálculo do adicional de insalubridade deveria ser a remuneração do

empregado, e não o salário profissional do mesmo, em consonância com o

também lembrado princípio da força normativa da constituição.

Por fim, não há como atribuir às Súmulas 17 e 228 do TST,

interpretação conforme a constituição. Tal forma de interpretação somente

será possível, segundo Alexandre de Moraes, “quando a norma apresentar

vários significados, uns compatíveis com as normas constitucionais e outros

não.” Prosseguindo em seu pensamento, o autor assevera que a interpretação

conforme a constituição só é legítima quando “existe um espaço de decisão

aberto a várias propostas interpretativas, umas em conformidade com a

constituição e que devem ser preferidas, e outras em desconformidade a ela”.

As Súmulas 17 e 228 são bastante claras no que tange à opção adotada

pelo TST para a base de cálculo do adicional de insalubridade (observando-se

que salário profissional é diferente de remuneração) destoando,

flagrantemente, da opção adotada pela Constituição da República.

Assim sendo, chega-se a conclusão inevitável da inconstitucionalidade

material das Súmulas 17 e 228, ambas do TST, por não terem adotado a

remuneração como base de cálculo da insalubridade. Tal entendimento não

deriva somente do apontamento dos princípios constitucionais e do Direito do

Trabalho ofendidos, mas, também e principalmente, por não se coadunar com

um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, que foi alçado à

categoria de direito fundamental e imutável, qual seja: a dignidade da pessoa

humana (art. 1º, III, da CRFB).

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2.4 – Alteração Legislativa Quanto a Base de Cálculo do Adicional de Insalubridade Norberto Bobbio, quando trata dos fundamentos dos direitos do homem,

traça um interessante paralelo sobre o direito instituído (direito que se tem), e o

direito a ser instituído (direito que se gostaria de ter), verbis: O problema do

fundamento de um direito apresenta-se diferentemente conforme se trate de

buscar o fundamento de um direito que se tem ou de um direito que se gostaria

de ter. No primeiro caso, investigo no ordenamento jurídico positivo, do qual

faço parte como titular de direitos e deveres, se há uma norma válida que o

reconheça e qual é essa norma; no segundo caso, tentarei buscar boas razões

para defender a legitimidade do direito em questão e para convencer o maior

número possível de pessoas (sobretudo as que detêm o poder direto ou

indireto de produzir normas válidas naquele ordenamento) a reconhecê-lo.

A atual redação do art. 192 da CLT já foi declarada, em parte (base de

cálculo), inconstitucional pela 1ª Turma do STF, por ter vinculado o adicional

de insalubridade ao salário mínimo. No entanto, tal norma somente deixará de

existir, formalmente, em nosso ordenamento jurídico, quando for suspensa por

resolução do Senado Federal (art. 52, X, da CRFB), por ter sido declarada

através do controle difuso de constitucionalidade, ou enquanto não for

revogada por ato normativo emanado do Congresso Nacional (lei ordinária).

Nessa parte da pesquisa, se cuidará somente, utilizando-se das

palavras de Norberto Bobbio, “do direito que se gostaria de ter.” Assim sendo,

adotar-se-á os ensinamentos da Política Jurídica, a fim de se dar cientificidade

à proposta de alteração legislativa (art. 192 da CLT) procedida neste artigo.

O conceito de Política Jurídica, tão diverso nos compêndios jurídicos,

encontrou em Osvaldo Ferreira de Melo contornos mais claros e objetivos.

Assim, a Política Jurídica, pode ser conceituada como:

1. Disciplina que tem como objeto o Direito que deve ser e como deva

ser, em oposição funcional à Dogmática Jurídica, que trata da interpretação e

da aplicação do Direito que é, ou seja, do Direito vigente.

2. Diz-se do conjunto de estratégias que visam à produção do conteúdo

da norma, e sua adequação aos valores Justiça e Utilidade Social. Em

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seguida, o autor complementa seu conceito, indicando o alcance da Política

Jurídica, ao dizer que se trata de um “complexo de medidas que têm como

objetivo a correção, derrogação ou proposição de normas jurídicas, tendo

como referente a realização dos valores jurídicos.

Osvaldo Ferreira de Melo, fazendo menção à Hans Kelsen, explica que

o notável pensador, em momento algum afirmou, ou mesmo insinuou, que o

Direito vigente fosse realmente a melhor alternativa para conduta humana,

verbis:

“...Ao confrontar o objeto da Ciência do Direito com o da

Política do Direito, Kelsen deixou a cargo desta não o

exame de uma realidade a ser descrita, mas a

possibilidade permanente de buscar o direito melhor, com

o que resguardou também a perenidade do objeto do que

entendia ser a Ciência do Direito, pois mesmo que um

projeto de reconstrução axiológica venha a ser

concretizado, esse objeto continuará sendo o de

descrever as normas então reconstruídas...”

Nesse sentido, Osvaldo Ferreira de Melo afirma que se a investigação

do caso concreto resulta na convicção de estarmos na presença de uma

norma que perdeu seu princípio vital e por isso sua capacidade para resolver

um conflito, teremos encontrado um elemento desativado no sistema jurídico.

E arremata: “Será o caso de afastar do sistema essa norma indesejada

socialmente e propor, com apoio do conhecimento político-jurídico, a norma

adequada”.

Sebastião Geraldo de Oliveira entende que a atual base de cálculo não

é socialmente adequada, por não estimular os empresários a adequarem o

ambiente do trabalho, deixando, desta forma, de dar guarida a um dos

fundamentos do Estado Democrático de Direito: “os valores sociais do

trabalho” (art. 1o, IV, da CRFB).

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No caso da Política Jurídica, seus valores fundamentais são a busca do

justo e do socialmente útil, parâmetros a partir dos quais propõe o Direito que

deva ser, ou seja, do Direito desejado pela Sociedade (um Direito melhor).

Osvaldo Ferreira de Melo afirma que “a norma jurídica, para ganhar um mínimo

de adesão social que a faça obedecida e portanto materialmente eficaz, deve

ser matizada pelo sentimento e idéia do ético, do legítimo, do justo e do útil.”

O trabalho exercido em condições insalubres, segundo Eduardo Gabriel

Saad, possui as mesmas mazelas dos outros adicionais (periculosidade, por

exemplo), informando que a diferença reside no fato de que as causas

insalubres de ordinário geram doenças de forma lenta, devagar, ao passo que

os explosivos e inflamáveis – de regra – têm ação simultânea, rápida,

instantânea. Prosseguindo em seu pensamento, o autor encontra um conflito

de normas inexplicável: “motivos de ordem humana ou econômica só sugerem

a igualdade no cálculo dos adicionais de insalubridade e de periculosidade.” E,

finaliza dizendo: “Mas, estranhamente, a CLT manda calcular o primeiro com

base no salário mínimo e, o segundo, sobre o salário contratualmente ajustado

e despojado das gratificações, prêmios e participação nos lucros”.

Sebastião Geraldo de Oliveira encontrou, mesmo que implicitamente,

uma violação ao princípio da igualdade material positivado na Constituição da

República (art. 5º, caput, da CRFB), que diferencia, de modo injustificável, a

base de cálculo para os empregados regidos pela CLT (art. 192), e dos

servidores públicos regidos pela Lei n. 8.112/90. A ofensa ao princípio da

isonomia justifica, com mais um sólido fundamento, a proposta de alteração do

art. 192 da CLT por parte do Poder Legislativo, especialmente em razão do

Poder Judiciário não poder funcionar, segundo entendimento do Supremo

Tribunal Federal, como legislador positivo, ainda que sob fundamento de

isonomia (salvo em raras exceções – sentença normativa proferida pela Justiça

do Trabalho).

Não há dúvida que o direito vigente que dispõe sobre a base de cálculo

da insalubridade – art. 192 da CLT - (e inclusive as Súmulas 17 e 228 do TST)

não possuem, conforme amplamente demonstrado neste artigo, adequação

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aos valores: “Justiça” e “Utilidade Social”, valores estes, aliás, demonstrados

com base nos ensinamentos da Política Jurídica.

A alteração se faz necessária e urgente, devendo-se adotar a

remuneração como base de cálculo da insalubridade, a fim de torná-lo mais

justo, legítimo e útil. As propostas de reformas e correções na legislação

vigente, segundo nos ensina Osvaldo Ferreira de Melo, é uma das tarefas da

Política Jurídica: O político do direito não precisa de armaduras, uniformes ou

distintivos. É uma figura bem mais prosaica e objetiva, em que pese sua

importância social. Será o advogado, o professor, o assessor jurídico, o juiz, o

legislador, enfim todo aquele que, impregnado de humanismo jurídico e

treinado na crítica social, apresente-se com a perspectiva das possibilidades,

ponha sua sensibilidade e sua experiência a serviços da construção de um

direito que pareça mais justo, legítimo e útil.

No entanto, conforme alerta Osvaldo Ferreira de Melo, a tarefa de

propor reformas e correções na legislação vigente, deve significar para o

Político do Direito apenas uma preocupação imediata que a conjuntura do

cotidiano lhe vai impondo. Para o autor, o futuro exigirá não apenas leis

reformadas ou corrigidas, mas o próprio Direito reconceituado, cujo alcance

não se resuma a permitir, impedir ou sancionar condutas do dia-a-dia, mas que

seja capaz de reordenar, em novas bases éticas, toda a convivência social. E

conclui: “redefinindo o papel do Estado e dos cidadãos perante as reais

necessidades da vida, historicamente escamoteadas pela retórica do Poder

que pretendeu sempre justificar formas injustas de dominações e privilégios.”

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CAPÍTULO III

PERCEPÇÃO SIMULTÂNEA DOS ADICIONAIS DE

PERICULOSIDADE E DE INSALUBRIDADE

Os juristas e os aplicadores do direito têm interpretado o §2° do art. 193,

da CLT de forma equivocada.

Diz esse parágrafo: “O empregado poderá optar pelo adicional de

insalubridade que por ventura lhe seja devido”.

Importante salientar que a opção dos adicionais de periculosidade e

insalubridade originou-se na Lei n° 2.573, de 15 de agosto de 1955,

regulamentada pelo Decreto n° 40.119, de 15 de outubro de 1956, ambos

revogados pela Lei n° 6.514/77.

A Lei n° 2.573/55 instituiu o salário adicional para os trabalhadores que

prestavam serviços em contato permanente com inflamáveis em condições de

periculosidade, cujo art. 5° mencionava: “os trabalhadores beneficiados pela

presente lei poderão optar pela cota d insalubridade que por ventura lhes seja

devida”.

O Decreto n° 40.119/56, que regulamentou a citada lei, em seu art. 11,

estatuía que “aos trabalhadores beneficiados por este decreto fica assegurado

o direito de optar pela remuneração adicional ou pela cota de previdência, que

por ventura lhes sejam devidas, não podendo, entretanto, acumular esses

benefícios”.

A maioria dos juristas e dos aplicadores do direito interpreta que o

referido dispositivo legal indica a incompatibilidade da acumulação dos dois

adicionais, devendo o trabalhador optar por aquele que lhe seja mais favorável.

Vale esclarecer que com a ratificação e vigência nacional da convenção

da OIT n° 155, o §2, do art. 193, da CLT, foi revogado pela alínea “b”, do art.

11, da citada convenção, determinando-se que deverão ser considerados os

riscos para a saúde decorrentes da exposição simultânea à diversas

substâncias ou agentes.

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O § 2° do referido artigo usa a expressão poderá, ou seja, é uma

faculdade e não uma determinação proibitiva de cumulação de adicionais.

O entendimento doutrinário sobre este parágrafo é no sentido de que, se

o trabalhador estiver exposto aos riscos da insalubridade e da periculosidade,

terá de optar pelo recebimento de um só dos adicionais.

Há, ainda, o entendimento de que o adicional de periculosidade não

pode coexistir com o da insalubridade e, com fundamento nos termos do art.

193, § 2°, da CLT, havendo periculosidade e insalubridade no ambiente de

trabalho, o obreiro deverá optar por um dos adicionais, visto que é vedada a

acumulação.

No mesmo diapasão, advertem os doutrinadores que se deve observar

que o trabalhador não pode receber concomitantemente o adicional de

insalubridade e o de periculosidade. O empregado pode optar por um dos dois

adicionais.

Com relação à opção, esta cabe ao trabalhador, e não ao empregador,

podendo o primeiro escolher o adicional que quiser, na hipótese de serem

devidos os dois, inclusive o pior, ou seja, o que lhe for menos favorável. Não

poderá, porém, haver o pagamento dos dois adicionais ao mesmo tempo.

Porém, na prática, o trabalhador opta pelo adicional que lhe for mais

favorável economicamente.

Há vários tipos de adicionais em nossa legislação. Adicional noturno,

adicional de horas extras, adicional de transferência, entre outros.

A regra geral aplicada para compensar, separadamente, cada condição

adversa é a cumulação dos respectivos adicionais. No caso de o obreiro

trabalhar à noite, em sobrejornada, receberá o adicional das horas extras e o

adicional noturno; se for transferido e laborar em local perigoso, receberá os

adicionais de transferência e de periculosidade, cumulativamente.

Entretanto, como podemos verificar pela análise no campo doutrinário,

no caso de o trabalhador estar exposto a agentes insalubres diversos (ruídos

excessivos, calor, radiações, vibrações, frio, umidade, agentes químicos e

biológicos, entre outros) e agentes perigosos diversos (inflamáveis e energia

elétrica) a cumulação não poderá ocorrer, devendo o trabalhador optar pelo

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recebimento do adicional de periculosidade ou do adicional de insalubridade, o

qual lhe for mais favorável.

A maioria dos doutrinadores afirma que a cumulação do adicional de

insalubridade com o de periculosidade é vedada pela legislação e, por isso,

não admite a cumulação dos adicionais.

3.1 – Jurisprudência A regra majoritária utilizada por nossos tribunais não difere muito da

maioria dos doutrinadores, mas encontramos algumas divergências

jurisprudenciais que, embora minoritárias, dão guarida a tese da cumulação

dos adicionais em questão.

Os aplicadores do direito justificam seus entendimentos no sentido de

que a lei é que impede a cumulação dos adicionais de insalubridade e

periculosidade, por estrita observância da não-incidência de um adicional sobre

o outro, imputando ao trabalhador a opção, no caso de sua atividade achar-se

caracterizada entre as duas hipóteses de proteção legal (art. 193, §2°).

Afirmam que estando presentes as condições insalubres e condições

perigosas no ambiente de trabalho do obreiro, deve ser-lhe deferida a maior

vantagem, evidenciando, em regra, que o adicional de periculosidade é

financeiramente mais vantajoso e deve ser observado o princípio da regra mais

benéfica.

Para a jurisprudência majoritária, não há amparo na lei para acumulação

de adicional de insalubridade, pela constatação de agentes insalubres, com o

de periculosidade (por inflamáveis ou eletricidade), sendo esta a justificativa

para a não concessão da cumulatividade dos adicionais.

O posicionamento majoritário é no sentido de que, quando a prova

pericial constatar a existência do adicional de periculosidade, uma vez que as

atividades do trabalhador são desenvolvidas em área considerada de risco,

nos termos do anexo n°2 da NR-16, da Portaria n°3.214/78, e o adicional de

insalubridade por exposição a agentes insalubres, previsto na NR-15, da

Portaria mencionada, é imposta a opção pelo recebimento de um ou outro

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adicional por ser “vedado o pagamento simultâneo do adicional de

insalubridade, no grau médio, e do adicional de periculosidade e, sendo este

último mais benéfico ao trabalhador, defere o pagamento do adicional de

periculosidade ao obreiro, à razão de 30% sobre a sua remuneração, com

reflexos.

Todavia, em sentido contrário, encontramos algumas jurisprudências,

favoráveis à cumulação dos adicionais, quando na realização da perícia, se já

apurado mais de um agente insalubre nas atividades do obreiro, impondo,

desta forma, o pagamento dos adicionais correspondentes, cumulativamente,

eis que, neste caso, os riscos à saúde são também multiplicados.

Esses entendimentos jurisprudenciais afirmam que, quando apurado por

laudo pericial a existência de dois agentes, é devido o pagamento dos

adicionais correspondentes, cumulativamente, vez que também são

multiplicados os riscos à saúde do obreiro e que a portaria que aprovou as

normas regulamentadoras do adicional de insalubridade, proibindo a

acumulação de mais de um agente insalubre, excedeu de sua competência,

porque estabeleceu restrição a direito não previsto em lei. Por outro lado, o

pagamento de apenas um adicional, quando são dois ou mais agentes

insalubres, incentiva a manutenção de um ambiente de trabalho agressivo à

saúde do trabalhador.

Outra justificativa favorável à cumulação dos adicionais é que,

encontrados dois agentes insalubres, os trabalhadores deverão receber dois

adicionais, para proteger a saúde, que estará sujeita a maior exposição ao

risco, e evitar o locupletamento ilícito.

Pelo mesmo motivo, se admite a cumulatividade dentro do mesmo

adicional, como por exemplo, a exposição do trabalhador a dois ou mais

agentes insalubres , obviamente deverá ser permitida também a cumulação de

dois adicionais diferentes, ou seja, adicional de insalubridade, que visa

compensar os danos causados à saúde do trabalhador, e o adicional de

periculosidade, que visa a compensar o risco à vida do trabalhador.

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3.2 – Justificativa da cumulatividade dos adicionais Como observamos no decorrer deste estudo, há divergências quanto à

interpretação do §2°, do art. 193 da CLT, porquanto há entendimento no

sentido de que a lei veda a cumulação de adicionais e, por outro lado, existem

entendimentos, minoritários, de que a lei permite esta cumulatividade.

Por conseguinte, conforme já mencionado, o referido parágrafo é

interpretado de forma equivocada pela maioria dos doutrinadores e

profissionais do Direito.

Os adicionais de insalubridade e de periculosidade foram instituídos

com o objetivo de indenizar o trabalhador, quando não é possível a eliminação

ou neutralização dos agentes insalubres ou por não ser possível eliminar os

riscos aos quais se expõe o mesmo em virtude da prestação laboral, sendo de

se salientar a imprevisibilidade do momento em que o infortúnio pode ocorrer,

no caso de agentes perigosos.

Ademais, a periculosidade se distingue da insalubridade, porque esta,

enquanto não houver sido eliminada ou neutralizada, afeta continuadamente a

saúde do trabalhador; já a periculosidade corresponde apenas a um risco, que

não age contra a integridade biológica do trabalhador, mas que,

eventualmente, pode atingi-lo de forma violenta.

No direito do trabalho, as normas legais devem ser interpretadas e

apreciadas a favor de quem o legislador pretendeu proteger. Ou seja, tratando-

se de normas integrantes do direito material do trabalho, deve ser aplicada a

norma mais aplicada ao trabalhador e o principio interpretativo in dúbio pro

operário, reconhecendo-se, pois, o direito ao recebimento cumulativo dos

adicionais de insalubridade e de periculosidade.

O que se visa, no pagamento dos adicionais, quer de insalubridade,

quer de periculosidade, é fornecer uma compensação econômica ao

trabalhador, por ele trabalhar exposto em situação de risco, ao qual fica

submetido por força do cumprimento de suas obrigações contratuais.

Uma simples portaria não pode limitar o alcance da fonte normativa

primária da vantagem, no caso, os art. 189 e 192 da CLT. Se a lei não proibiu

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a percepção cumulativa em decorrência da exposição concomitante, que

prejudica órgãos distintos do trabalhador, não pode a portaria restringir a

abrangência desta norma, o que levou aos entendimentos equivocados da

maioria dos doutrinadores e operadores do direito.

O regulamento é ato inferior à lei, dentro da hierarquia das normas, não

podendo contrariar nem restringir ou ampliar suas disposições, sendo-lhe

somente permitido explicar a lei, dentro dos limites por ela estabelecidos.

Aos doutrinadores e aos operadores do direito cabe interpretar a lei, na

forma que o legislador a criou. Aqueles que lidam diariamente com o direito

têm a obrigação de aplicar a lei de acordo com o objetivo do legislador, e não

apenas como mero instrumento para a solução de conflitos.

Devem-se respeitar os procedimentos científicos necessários para a

comprovação dos resultados obtidos, utilizando todos os recursos disponíveis

para interpretar e aplicar a lei de forma a alcançar o bem comum.

Entretanto, se não há vedação explícita na legislação sobre a

impossibilidade de cumulação dos adicionais de insalubridade e

periculosidade, deve-se conceder o direito da cumulatividade desses

adicionais, pois, estando o trabalhador exposto a diversos agentes, quer

insalubres, quer perigosos, os riscos profissionais são aumentados como

resultado da “exposição simultânea a vários fatores nocivos no local de

trabalho”.

Não há razão biológica, nem lógica, e muito menos jurídica, para tal

vedação. Em termos biológicos está comprovado que a exposição simultânea

a mais de um agente agressivo reduz a resistência do trabalhador, agravando-

se ainda mais a situação pelo efeito sinérgico das agressões, isto é, a

presença de agentes insalubres e de agentes perigosos no mesmo ambiente

de trabalho multiplica os danos à saúde e à vida do obreiro.

Ademais, o objetivo da norma não é apenas o pagamento de adicionais,

mas sim, que as empresas encontrem alternativas para a redução ou

neutralização dos agentes agressivos, quer insalubres, quer perigosos, e a

vedação da cumulatividade dos adicionais de insalubridade e de

periculosidade estimula as empresas a desrespeitarem o inc. XXII, do art. 7°,

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da Constituição Federal, que dispõe sobre a redução dos riscos relativos ao

trabalho.

Nesse aspecto, a não cumulação dos adicionais desestimula os

empresários a cumprir o mandamento constitucional (art. 7º, XXII), porque,

tendo no estabelecimento um agente insalubre qualquer, outros agentes

danosos poderão aparecer “que o desembolso com o adicional será o mesmo”,

ou seja, tendo que optar por um adicional, não importaria a quantidade de

agentes insalubres presentes, corroborando para que as empresas não

busquem soluções para eliminar ou neutralizar os agentes agressivos e os

riscos causados ao trabalhador, pois não têm um ônus maior, pagando apenas

um adicional.

Acredita-se que, sendo permitida, a cumulatividade dos adicionais

conduziria os empregadores a se preocuparem mais e encontrar meios para a

eliminação ou neutralização dos agentes agressivos à saúde, à vida e à

integridade física dos trabalhadores, proporcionando-lhes melhores condições

de trabalho e um ambiente mais saudável, restabelecendo, assim, a dignidade

humana do trabalhador.

Ressalta-se que, o investimento empresarial para proporcionar um

ambiente de trabalho saudável, prevenindo acidente e danos à saúde do

obreiro, traduz-se “na continuidade da produção, na eliminação de

desperdícios e na obtenção de melhor qualidade do produto e, sobretudo, num

beneficio maior para a sociedade”.

O saudoso Ministro Alexandre Marcondes Filho salientava o lado

humano da segurança e medicina do trabalho, ensinando que:

“A vida humana tem, certamente, um valor econômico. É um capital que

produz e os atuários e matemáticos podem avaliá-lo. Mas a vida do homem

possui, também, um imenso valor afetivo e um valor espiritual inestimável, que

não se podem pagar com todo o dinheiro do mundo. Nisto consiste, sobretudo

o valor da prevenção em que se evita a perda irreparável de um pai, de um

marido, de um filho, enfim, daquele que sustenta o lar proletário e preside os

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destinos de sua família. A prevenção é como a saúde. Um bem no qual só

reparamos quando o acidente e a moléstia chegam”.

3.3 – Cumulatividade do Adicional de Insalubridade com o de Periculosidade Defende-se, a possibilidade da cumulatividade dos adicionais de

periculosidade com o de insalubridade, pois estando o trabalhador exposto a

dois agentes, seu ambiente de trabalho torna-se mais prejudicial e os riscos

ocupacionais são aumentados e, tendo o obreiro tendo que optar por um ou

outro adicional, faz com que as empresas, como já mencionado, não se

preocupem em adotar medidas de segurança para reduzir ou eliminar a ação

dos agentes agressivos.

O adicional de periculosidade se refere aos danos à integridade física do

trabalhador e é devido para compensar os danos causados à sua vida. O

contato com os agentes perigosos pode levar à incapacidade ou à morte do

trabalhador.

O adicional de periculosidade é entendido como a parcela destinada a

compensar o trabalho prestado em condições de risco, oriundo do contato

permanente com inflamáveis, explosivos ou energia elétrica.

É devido o adicional de periculosidade ao obreiro em razão do perigo a

que se expõe.

Perfeitamente admissível à cumulação dos adicionais de insalubridade e

de periculosidade, desde que o trabalhador esteja exposto a eles ao mesmo

tempo, ou seja, havendo o concurso de agentes lesivos que, além de

colocarem em risco a integridade física do trabalhador, afetam sua saúde,

deve ser concedida a cumulatividade dos adicionais.

Inadmissível e injusto, pois, o entendimento de que não é possível a

cumulatividade de adicionais, pois um não exclui o outro.

Verifica-se que, em muitos casos, o obreiro trabalha exposto

simultaneamente a dois agentes (insalubres e perigosos) e, assim, deveria ser-

lhe garantida a cumulatividade dos adicionais, tendo em vista o aumento dos

riscos ocupacionais a que está exposto e que podem acarretar-lhe maiores

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prejuízos, quer com relação à sua saúde, quer com relação à sua integridade

física.

Acredita-se que a questão da cumulatividade dos adicionais de

insalubridade e de periculosidade seja cuidadosamente analisada, tanto pelos

doutrinadores, como pelos aplicadores do direito, amadurecendo e evoluindo o

pensamento no intuito de mudarem seus posicionamentos e levarem em

consideração, na aplicação da norma, a regra in dúbio, pro operário e a regra

da norma mais favorável ao trabalhador, alçando, assim, o objetivo do

legislador, que é o de garantir e proporcionar um ambiente de trabalho

saudável ou, no caso de não ser possível a eliminação ou neutralização de

agentes, que lhe seja garantido o direito ao recebimento dos respectivos

adicionais, cumulativamente.

Assim, conclui-se que é possível a cumulatividade dos adicionais de

insalubridade e periculosidade.

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CONCLUSÃO

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

(TÍTULO) 11

1.1 - A Busca do Saber 12

1.2 – O prazer de pesquisar 15

1.2.1 - Fator psicológico 15

1.2.2 - Estímulo e Resposta 17

CONCLUSÃO 48

ANEXOS 49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 52

BIBLIOGRAFIA CITADA 54

ÍNDICE 55

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

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