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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE BRINCANDO E APRENDENDO COM O LÚDICO Orientador Prof. Maria Esther de Araújo Oliveira. Vitória/ES 2009 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · mundo externo, físico, através de atividades cognitivas de agrupamento, classificação, categorização em vários níveis de

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

BRINCANDO E APRENDENDO COM O LÚDICO

Orientador

Prof. Maria Esther de Araújo Oliveira.

Vitória/ES

2009

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

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BRINCANDO E APRENDENDO COM O LÚDICO

Monografia apresentada ao Instituto A

Vez do Mestre do curso de Pós-

graduação em Educação Infantil e

Desenvolvimento, para requisito de nota

para obtenção do título de especialista

em psicopedagogia, sob orientação do

Prof. Maria Esther de Araújo Oliveira.

AGRADECIMENTOS

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Aos meus amigos, que direta ou

indiretamente colaboraram na

concretização deste trabalho e

especialmente a paciência dispensada

pela orientadora.

DEDICATÓRIA

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Aos meus familiares, pela compreensão e

ao grandioso Deus pela sabedoria e

perseverança.

RESUMO

O estudo tem por objetivo abordar a importância da brincadeira para o

desenvolvimento lúdico da criança. O lúdico é essencial para uma escola que

se proponha não somente ao sucesso pedagógico, mas também à formação do

cidadão, porque a conseqüência imediata dessa ação educativa é a

aprendizagem em todas as dimensões: social, cognitiva, relacional e pessoal.

O estudo sobre o lúdico é importante para a área de educação, pois permite

que os professores reconheçam a relevância do aspecto lúdico no processo de

aprendizagem, e procurem identificar e organizar atividades significativas ao

desenvolvimento do simbolismo, função cognitiva essencial para a apropriação

de conhecimentos escolares. E também é importante que os profissionais da

educação reconheçam que os objetos utilizados pela criança podem substituir

ou simbolizar outros objetos; que aos poucos a faz agir movida somente por

uma situação imaginária. É neste sentido que a brincadeira propicia o

desenvolvimento da função simbólica e a transição de coisas com objetos de

ação para coisas como objetos do pensamento. Atenta-se que o jogo e a

brincadeira são experiências vivenciais prazerosas, como também são

experiências da aprendizagem que tende a se constituir em um processo

vivenciado prazerosamente. Assim, o meio educativo, ao valorizar as

atividades lúdicas, ajuda a criança a formar um bom conceito de mundo, em

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que a afetividade é acolhida, a sociabilidade vivenciada, a criatividade

estimulada e os direitos da criança respeitados.

Palavras-chave: Cognitivo; Desenvolvimento; Educação; Infância; Lúdico;

METODOLOGIA

Para realização do trabalho foi realizada a pesquisa bibliográfica, que

compreende uma revisão literária sobre o tema, com base em materiais

publicados em livros, artigos, revistas de bibliotecas e Internet, visando

fundamentar teoricamente o trabalho e subsidiar a análise dos dados a serem

coletados. O trabalho foi dividido em quatro capítulos. O primeiro capítulo

descreveu-se o desenvolvimento infantil na instituição escolar. O segundo uma

abordagem conceitual do lúdico. O terceiro capítulo o ato de brincar e sua

relação com a criança. E o quarto capítulo a brincadeira e a aprendizagem,

enfatizando a sua importância para a criança.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - O desenvolvimento infantil e a escola 10

CAPÍTULO II - O lúdico: abordagem geral 19

CAPÍTULO III - O ato de brinca 23

CAPÍTULO IV - A brincadeira e a aprendizagem 26

CONCLUSÃO 33

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 35

ÍNDICE 38

FOLHA DE AVALIAÇÃO 39

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INTRODUÇÃO

Em todas as fases de sua vida o ser humano está sempre descobrindo e

aprendendo coisas novas através do contato com seus semelhantes e pelo

domínio sobre o meio em que vive. O ser humano nasceu para aprender,

descobrir e apropriar-se dos conhecimentos, desde os mais simples até os

mais complexos, e é isso que lhe garante a sobrevivência e a integração na

sociedade como ser participativo, crítico e criativo (DALLABONA; MENDES,

2004).

Segundo Almeida (2005) é através desse ato de busca, troca, interação,

apropriação é que se dá o nome de educação; acrescenta-se que esta não

existe por si só; é uma ação conjunta entre as pessoas que cooperam,

comunicam-se e comungam do mesmo saber.

A fase infantil caracteriza-se pelas brincadeiras, e acredita-se que é por meio

delas a criança satisfaz, em grande parte, seus interesses, necessidades e

desejos particulares, sendo um meio privilegiado de inserção na realidade, pois

expressa a maneira como a criança reflete, ordena, desorganiza, destrói e

reconstrói o mundo.

Como ressalva Brougère (2002) brincar é essencial porque é brincando que a

criança se mostra criativo, pois, consiste num mecanismo psicológico que

garante ao indivíduo a manter certa distância em relação ao real, fiel, no ato de

brincar ele vê o modelo propício de prazer oposto ao princípio da realidade.

O ato de brincar consiste na própria imaginação em ação, no ato de interagir

com o meio social a criança se depara com ações que estão muito além da sua

capacidade de realiza-las, assim, utiliza objetos ao seu alcance imitando ações

do universo adulto. É através dessa situação que a criança desencadeia o

processo imaginativo.

Destaca-se o lúdico como uma das maneiras mais eficazes de envolver o aluno

nas atividades, pois a brincadeira é algo inerente na criança, é sua forma de

trabalhar, refletir e descobrir o mundo que a cerca.

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Estudos dessa natureza são importantes para a área de educação, pois

permite que os professores reconheçam a relevância do aspecto lúdico no

processo de aprendizagem, e procurem identificar e organizar atividades

significativas ao desenvolvimento do simbolismo, função cognitiva essencial

para a apropriação de conhecimentos escolares.

É também relevante para profissionais da educação reconhecer que os objetos

utilizados pela criança podem substituir ou simbolizar outros objetos; que aos

poucos a faz agir movida somente por uma situação imaginária. É neste

sentido que a brincadeira propicia o desenvolvimento da função simbólica e a

transição de coisas com objetos de ação para coisas como objetos do

pensamento

CAPÍTULO I

O DESENVOLVIMENTO INFANTIL E A ESCOLA

O estudo do desenvolvimento humano é baseado em como e por que o

organismo humano cresce e se modifica no decorrer da vida. Define-se

desenvolvimento em termos das mudanças que ocorrem ao longo do tempo de

maneira ordenada e relativamente duradoura e afetam as estruturas físicas e

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neurológicas, os processos de pensamento, as emoções, as formas de

interação social e muitos outros comportamentos.

Segundo Piaget (1987) durante as primeiras semanas de vida da

criança, biologicamente, observamos que existem grandes complexidades. Ao

observar o comportamento da criança e vendo que fatores externos como a

combinação biológica forma o ser.

O conceito de educação infantil é aborda no art. 29 da Lei de Diretrizes

Básicas (LDB), que dispõe: “A educação infantil, primeira etapa da educação

básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis

anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,

complementando a ação da família e da comunidade” (PRORH, 2007, p. 21).

O art. 30 da supracitada lei define que: “A educação infantil será

oferecida em: I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três

anos de idade; II - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de

idade” (PRORH, 2007, p. 23).

Segundo Kastrup (2000) é nesse pensamento que Jean Piaget

descreve a evolução do raciocínio infantil em estágios.

• Sensório-Motor: Estágio em que compreende crianças de 0 a 2 anos,

em que o bebê, através dos reflexos neurológicos básicos, começa a

construir esquemas de ação para assimilar mentalmente o meio

(MOURA, 2003). Onde, por exemplo, as noções de espaço e tempo,

são constituídas pela ação. O contato com o meio direto e imediato,

sem representação ou pensamento (HEIL, 2004).

• Pré-Operatório ou Intuitivo: Estágio de crianças de 2 a 6 anos, onde a

mesma é capaz de representar mentalmente pessoas e situações; a

criança já age por simulação, sem discriminar detalhes. Fase em que

está centrada em si mesma, por não conseguir colaborar-se

abstratamente no lugar do outro (MOURA, 2003). Nesta fase, as

crianças usam o pensamento intuitivo, o raciocínio ocorre a partir de

intuições e não de uma lógica semelhante à do adulto (HEIL, 2004).

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• Operatório-Concreto: Estágio que compreende crianças de 7 a 11 anos,

com capacidade de ação interna (operação). Nesta fase a criança já

possui uma organização mental integrada. Segundo Kastrup (2000)

Piaget fala em operações de pensamento ao invés de ações. A criança

é capaz de ver a totalidade de diferentes ângulos. Mesmo que ainda

trabalhe com objetos, nesta fase são representados, e sua flexibilidade

de pensamento permite um sem número de aprendizagens.

• Lógico-formal: fase que compreendem crianças com mais ou menos

dos 12 anos em diante, período em que ocorre o desenvolvimento das

operações de raciocínio abstrato. Há libertação inteiramente do objeto,

inclusive o representado, operando agora com a forma, em vez do

conteúdo, situando o real em um conjunto de transformações. É capaz

de raciocinar corretamente sobre proposições em que não acredita, ou

que ainda não acredita, que ainda considera puras hipóteses. É capaz

de inferir as conseqüências. Possui início os processos de pensamento

hipotético-dedutivos.

Segundo Krueger (2005) na teoria de Wallon, cada estágio do

desenvolvimento da criança, é considerado como um sistema completo em si,

onde sua configuração e funcionamento revelam a presença de todos os

componentes que constituem a pessoa. De acordo com Mahoney e

Almeida (2005) os estágios de desenvolvimento infantil compreendem:

• Impulsivo-emocional: compreende as idades entre 0 a 1 ano, que

segundo Zacarias (2002) há predominância afetiva, e orienta as

primeiras reações do bebê às pessoas, às quais intermediam sua

relação com o mundo físico;

• Sensório-motor e Projetivo: consiste na fase em que a criança, de até

três anos, possui maior autonomia na manipulação de objetos e na

exploração dos espaços; é nesse estágio que ocorre o desenvolvimento

da função simbólica e da linguagem;

• Personalismo: compreendem as idades dos três aos seis anos, que se

desenvolve a construção da consciência de si mediante as interações

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sociais, é a fase de se descobrir diferente das outras crianças e do

adulto, ou seja, reorientando o interesse das crianças pelas pessoas;

• Categorial: compreende o estágio da criança entre 6 a 11 anos de idade.

Nesta fase a criança já faz a diferenciação mais nítida entre o “eu” e o

“outro”, dando condições mais estáveis para a exploração mental do

mundo externo, físico, através de atividades cognitivas de agrupamento,

classificação, categorização em vários níveis de abstração até chegar ao

pensamento categorial. Através da organização do mundo em

categorias bem definidas, leva a uma compreensão mais nítida de si

mesma.

Durante os primeiros anos de vida, a criança vivencia uma seqüência de

experiências no seu ambiente que podem favorecer comportamentos pró ou

anti-sociais (BANDEIRA et al., 2006). Na educação as situações novas ou

estímulos, parcialmente assimilados, poderão promover de um processo de

equilíbrio em busca de uma nova adaptação, ou seja, de um novo equilíbrio.

Portanto, todo o equilíbrio sempre levará a uma organização interna superior e

a uma adaptação maior ao meio.

A compreensão teórica da idade, na concepção de Vigostki (1996) citado

por Teixeira (2003, p. 245): “[...] significa encontrar a mudança na

personalidade da criança em sua totalidade, dentro da qual todos os elementos

ficam esclarecidos, uns em qualidade de premissas, outros como momentos

determinados”.

A criança, na concepção de Piaget citado por Heil (2004), é um ser

único, que segue fases iguais, sendo que se desenvolve de uma única

maneira. Nos estudos de Piaget o construtivismo tem como base a idéia de

que a construção do conhecimento exige uma colaboração necessária entre o

sujeito que conhece e o objeto conhecido. Ou seja, é através do sujeito ativo e

da ação, que se constrói suas representações de mundo interagindo com o

objeto do conhecimento.

Para Piaget, o conhecimento não é uma cópia da realidade, nem o produto de um desdobramento de

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capacidades que o organismo já possui, mas o resultado de uma interação entre a condição que os seres humanos dispõem ao nascer e sua atividade transformadora do meio, uma posição que foi denominada de construtivismo (SMOLE, 2005, p.37).

O conhecimento, segundo Heil (2004) é adquirido através do indivíduo,

por meio e biológico, ou seja, onde a estrutura física está em harmonia com o

habitat.

A formação das crianças e dos jovens ocorre por meio de sua participa;cão na rede de relações que constitui a dinâmica social. É convivendo com pessoas, seja com adultos ou com seus colegas – grupos de brinquedos ou de estudo –, que a criança e o jovem assimilam conhecimentos e desenvolvem hábitos e atitudes de convívio social, como a cooperação e o respeito humano (HAID, 2002, p.55).

Nesse entendimento que observa-se a importância do grupo como

elemento formador, caracterizando os diferentes momentos evolutivos dá-se o

nome de estágios, onde cada estágio representa uma reorganização anterior,

com nível superior de elaboração, apresentando ainda mais sua forma peculiar

de equilíbrio. Segundo Cerisara (2002) o Referencial Curricular da Educação

Infantil divulga os objetivos gerais para a educação infantil, abordando que esta

deve organizar-se de modo que as crianças desenvolvam as seguintes

capacidades:

• Desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de forma cada vez

mais independente, como confiança em suas capacidades e percepção

de suas limitações;

• Descobrir e conhecer progressivamente seu próprio corpo, sua

potencialidades e seus limites, desenvolvendo e valorizando hábitos de

cuidado com a própria saúde e bem-estar;

• Estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e criança,

fortalecendo sua auto-estima e ampliando gradativamente suas

possibilidades de comunicação e interação social;

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• Estabelecer e ampliar cada vez mais as relações sociais, aprendendo

aos poucos a articular seus interesses e pontos de vista com os demais,

respeitando a diversividade e desenvolvendo atitudes de ajuda e

colaboração;

• Observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade,

percebendo-se cada vez mais como integrante, dependente e agente

transformador do meio ambiente e valorizando atitudes que contribuam

para sua conservação;

• Brincar, expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e

necessidades;

• Utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral e

escrita) ajustadas às diferentes intenções e situações de comunicação,

de forma a compreender e ser compreendido, expressar suas idéias,

sentimentos, necessidades e desejos e avançar no seu processo de

construção de significados, enriquecendo cada vez mais sua capacidade

expressiva; e

• Conhecer algumas manifestações culturais, demonstrando atitudes de

interesse, respeito e participação frente a elas e valorizando a

diversidade.

Essa diversividade apontada pelo referencial, advém de concepções de

desenvolvimento que consideram as crianças nos seus contextos sociais,

ambientais, culturais e, mais concretamente, nas interações e práticas sociais

que lhes fornecem elementos relacionados às mais diversas linguagens e ao

contato com os mais variados conhecimentos para a construção de uma

identidade autônoma.

Segundo Brougère (2002) o lúdico hoje tem conquistado um espaço na

educação infantil, pois, o brinquedo é a essência da infância e seu uso permite

um trabalho pedagógico que possibilita a produção do conhecimento e também

a estimulação da afetividade infantil. A criança estabelece com o brinquedo

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uma relação natural e consegue extravasar suas angústias e paixões; suas

alegrias e tristezas, suas agressividades e passividades.

A criança da Educação Infantil inicia seu pleno desenvolvimento, porque

além dos cuidados físicos, cria condições para seu desenvolvimento cognitivo,

simbólico e emocional, haja vista, que a escola nesta fase, consiste em um

ambiente de socialização diferente da família.

Para muitos, a educação é uma preparação para a vida, mas, ressaltam

Nassif e Campos (2005), que a educação deve ser uma vida, onde une as

obrigações às necessidades da ação e encorajando o esforço pela recompensa

ao se atingir o objetivo.

A inter-relação do professor com os alunos, através dos grupos ou

individualmente, ocorre todo o tempo em sala de aula, e é em função desta

aproximidade afetiva que ocorre a interação com os objetos e a construção de

um conhecimento altamente envolvente. “[...] essa inter-relação é o fio

condutor, o suporte afetivo do conhecimento” (SALTINI, 1997, p.27).

Por isso, que a intensificação das relações entre professor-aluno, os

aspectos afetivos emocionais, a dinâmica das manifestações da sala de aula e

formas de comunicação, devem ser caracterizadas como pressupostos básicos

para o processo da construção do conhecimento e da aprendizagem, e ainda,

da condição organizativa do trabalho do professor. Compreende-se então que

a afetividade e inteligência são aspectos indissociáveis, intimamente ligados e

influenciados pela socialização.

Cabe ao educador infantil acompanhar o movimento da realidade. A

forma de vida pessoal mais perfeita na qual pode realizar este intento, é

permanecer em constante vinculação com crianças. E os educadores têm um

papel principal nesta formação. Neste caso é necessária, plena consciência da

meta que se deseja alcançar, pois, sem firmeza e estimulações externas e

transformações sociais, todos esses esforços serão perdidos (SMOLE, 2005).

É através da renovação das práticas escolares que o professor tem

grandes responsabilidades e, conseqüentemente, na mudança que a

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sociedade espera da escola, na medida em que é ele que faz surgir novas

modalidades educativas visando novas finalidades de formação, só atingíveis

através dele próprio. Portanto, o professor é o responsável pela melhoria da

qualidade do processo de ensino-aprendizagem, cabendo a ele desenvolver

novas práticas didáticas que permitam aos discentes um maior aprendizado.

O professor é a peça chave desse processo, devendo ser encarado como um elemento essencial e fundamental. Quanto maior e mais rica for sua história de vida e profissional, maiores serão as possibilidades dele desempenhar uma prática educacional consistente e significativa (ROJAS, 2005, p. 08).

Através dos ensinamentos do professor, segundo Piaget (1987) existe

um conjunto de condutas inteligentes, reações circulares secundárias,

aplicação de meios conhecidos a novas situações, reações circulares e

terciárias vindo de descobertas de novos meios por experimentação ativa.

Desse modo, novas condutas se sobrepõem nas antigas chegando às novas

experiências constituindo tantas fases sucessivas.

De acordo com Oliveira et al. (1992) os novos tipos de conduta

caracterizam-se, com efeito, a inteligência sistemática, não somente a

exploração empírica, esta evolui por meio de súbitas estruturações no campo

da percepção ou na pura experiência mental. Esse entendimento é relevante

ao se buscar outros meios no desenvolvimento da inteligência. Portanto uma

assimilação funcional por si mesma e que assim se torna parcialmente formal,

em contraste com a assimilação material.

Ao se basear no entendimento de que a criança necessita de cuidados

especiais para um bom desenvolvimento cognitivo, os sistemas educacionais

estão em um processo de criação de novas ações pedagógicas, voltadas para

a afetividade, dentro do currículo que possa melhorar as praticas pedagógicas

educativas com o empenho dos educadores envolvidos neste processo.

Assim atendendo as necessidades das crianças como sujeitas e não

objeto, acompanhado de inteligência e sentimento.

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Mesmo observando que nosso sistema social e seletivo, sendo a escola

o lugar com a função de educar e preparar a criança desde a infância, essas

crianças para entender e auxiliar na convivência com as diferenças sociais,

econômicas e físicas.

CAPÍTULO II

O LÚDICO: ABORDAGEM GERAL

O lúdico evoluiu com a humanidade, apenas deixou de estar presente no

jogar e no brincar; atualmente, não é mais privilégio das crianças e passou a

ser valorizado e fazer parte do nosso cotidiano; no trabalho, na educação, além

dos momentos de lazer (ENOKI, 2007).

A palavra lúdico significa brincar. A sua origem vem da palavra latina ludus que quer dizer jogo. Relegado para o segundo plano durante muito séculos a ludicidade ficou circunscrita no mundo das crianças ou artistas. As frases chavões: "A vida não é uma brincadeira”, "Brincadeira tem hora", dão uma idéia de como era barrado o lúdico (ENOKI, 2007, p, 02).

Segundo Feijó (1992) citado por Grosso (2000, p. 07) o lúdico extrapola

esse conceito, pois:

[...] é uma necessidade básica da personalidade, do corpo e da mente, faz parte das atividades essenciais da dinâmica humana, e que caracteriza-se por ser

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espontânea, funcional e satisfatória, onde nem todo lúdico é esporte, mas todo esporte deve ser integrado no lúdico.

De acordo com Dantas (2002) o termo “lúdico” abrande dois sentidos, o

da atividade individual e livre e a coletiva e regrada. O que chama a atenção,

quando se direciona aos profissionais da educação, para o sinônimo para a

palavra, é a tendência, oferecer o “prazeroso” e nunca “livre”. Lucidamente é

visto como prazerosamente, alegremente, e não livremente; pois, considera-se

uma distorção de conseqüências infelizes, e consiste em perceber o efeito e

não a sua causa.

Tendo em vista de que o prazer é o resultado do caráter livre, gratuito, e

pode associar-se a qualquer atividade; inversamente, a impossibilização de

poder retirar o prazer também a qualquer uma. Parece impossível definir

substancialmente o que é brincar, sua natureza e compromisso com que é

realizada e transforma-se sutilmente em trabalho (DANTAS, 2002).

Os pontos de referência no assunto de ludicidade são Jean Piaget

(Suíça, 1896-1980) e Lev Vygotsky (Rússia, 1896-1934). Para Vygotsky (1994)

citado por Luz Júnior (1995) o desenvolvimento humano, o aprendizado e as

relações entre eles são temas centrais de seu trabalho. Vygotsky busca a

compreensão da origem e do desenvolvimento dos processos psicológicos ao

longo da história da espécie humana e de sua história individual.

Para Vygotsky, a criança desde o nascimento, tem o seu aprendizado

relacionado ao seu desenvolvimento que é um aspecto necessário e universal

do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente

organizadas e especificamente humanas. É através do aprendizado que se

possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimento, que, se não

fosse o contato do indivíduo com certo ambiente cultural, não ocorreriam (Apud

LUZ JÚNIOR, 1995).

Para Vygotsky em sua concepção em relação ao ser humano, a

inserção do indivíduo num determinado ambiente cultural é parte essencial de

sua própria constituição enquanto pessoa (ZACHARIAS, 2002).

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Jean Piaget foi um grande pesquisador que contribuiu

significativamente para a história da educação, através do desenvolvimento do

estudo do homem como construtor do conhecimento.

Segundo Kastrup (2000) Piaget em vez de enumerar as deficiências do

raciocínio infantil, comparando-se com os adultos, concentrou-se nas

características distintivas do pensamento das crianças, para aquilo que elas

têm e não naquilo que lhes falta.

Na concepção de Piaget a criança não nasce inteligente, ou seja, sua

inteligência é desenvolvida e é definida pela relação com a interação e

reorganização, que se forma através de novas estratégias de ação.

A assimilação é a internalização e a acomodação é a reorganização. Na assimilação, o pensamento permanece estático e a percepção vai sendo transformada, como se a realidade fosse acrescentada ou cortada, para identificar com o pensamento existente e na acomodação, a mente reage ao estímulo do meio, modificando-se a si própria, modificando o próprio esquema de assimilação (HEIL, 2004, p. 5).

No modelo de desenvolvimento cognitivo construtivista, sustentado por

dados empíricos, apresentava o sujeito como artífice principal, através da sua

ação no mundo, de suas próprias estruturas cognitivas. Para Piaget são dois

dos conceitos principais que esclarecem a forma como explicava o processo

de construção do conhecimento por parte do indivíduo, que são os conceitos

de assimilação e acomodação. Em suma:

Para Piaget, o jogo era visto como próprio da infância e do universo da criança, independente até mesmo do funcionamento da inteligência. Não elaborou uma teoria do jogo, mas desenvolveu uma concepção da infância observando o comportamento lúdico infantil. Priorizou o caráter construtivo, as construções realizadas pelo ser humano. [...] Com base na teoria de Vygotsky pesquisadores-educadores discutem, hoje, como é o universo do pensamento e do imaginário que passou a ter muita importância na área educacional (ENOKI, 2007, p. 5).

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O lúdico é essencial para uma escola que se proponha não somente ao

sucesso pedagógico, mas também à formação do cidadão, porque a

conseqüência imediata dessa ação educativa é a aprendizagem em todas as

dimensões: social, cognitiva, relacional e pessoal.

CAPÍTULO III

O ATO DE BRINCAR

O brincar consiste em uma das atividades primordiais para o

desenvolvimento da identidade e da autonomia infantil. Com a brincadeira a

criança descobre, experimenta, inventa, exercita e confere suas habilidades,

além de terem estimuladas a criatividade, a iniciativa e a autoconfiança, explica

Pedrosa et al. (2007).

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O ato de compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular das

crianças serem e estarem no mundo deve ser o grande desafio da educação

infantil. Embora os conhecimentos derivados da psicologia, antropologia e

sociologia possam ser de grande valia para desvelar o universo infantil

apontando algumas características comuns de ser, elas permanecem únicas

em suas individualidades e diferenças (DALLABONA; MENDES, 2004).

A criança é, antes de tudo, um ser feito para brincar. O jogo, eis aí um artifício que a natureza encontrou para levar a criança a empregar uma atividade útil ao seu desenvolvimento físico e mental. Usemos um pouco mais esse artifício, coloquemos o ensino mais ao nível da criança, fazendo de seus instintos naturais, aliados e não inimigos (DALLABONA; MENDES, 2004, p. 108).

Segundo Souza (2007) com o brinquedo a criança tem a oportunidade

de desenvolvimento, brincando, a ela experimenta, descobre, inventa, aprende

e confere habilidades. Além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a

autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da

concentração e atenção.

Explica Friedmann (2007) que a brincadeira traduz o real para a

realidade infantil, pois suaviza o impacto provocado pelo tamanho e pela força

dos adultos, diminuindo o sentimento de impotência da criança. Na brincadeira

a inteligência e sua sensibilidade infantil estão sendo desenvolvidas. A

qualidade de oportunidades que estão sendo oferecidas à criança através de

brincadeiras e brinquedos garantem que suas potencialidades e sua afetividade

se harmonizem.

Segundo Weiss (1997, p. 21): “A brincadeira infantil é a forma infantil da

habilidade humana para lidar com a experiência através da criação de

situações modelares e para dominar a realidade através da experimentação e

do planejamento”. O ato de brincar é indispensável à saúde física, emocional e

intelectual da criança. Irá contribuir, no futuro, para a eficiência e o equilíbrio do

adulto.

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A brincadeira é um momento de auto - expressão e auto - realização. As

atividades livres com blocos e peças de encaixe, as dramatizações, a música e

as construções desenvolvem a criatividade, pois exige que a fantasia entra em

jogo. Já o brinquedo organizado, que tem uma proposta e requer desempenho,

como os jogos (quebra-cabeça, dominó e outros) constitui um desafio que

promove a motivação e facilita escolhas e decisões à criança (SOUZA, 2007).

[...] é o jogo, e nada mais, que dá a luz à todo hábito. Comer, dormir, vestir-se, lavar-se, devem der inculcados no pequeno irrequieto através de brincadeiras (...) todo hábito entra na vida como brincadeira, e mesmo em suas formas enrijecidas sobrevive um restinho de jogo até o final. [...] Toda a atividade humana, entretanto, pressupõe algum tipo de organização que rege o fazer dos homens, estabelecidas a partir de diversos modos e critérios, com a aprovação de muitos, de alguns e às vezes de todos. [...], sem regras não há jogo e jogar significa fundar uma ordem e submeter-se voluntária e prazerosamente a ela. É precisamente a ordem lúdica que constitui ao mesmo tempo um desafio e um estímulo à liberdade do jogador (AGUIAR, 1999, p. 24).

As situações problemas contidas na manipulação dos jogos e

brincadeiras fazem a criança crescer através da procura de soluções e de

alternativas. O desempenho psicomotor da criança enquanto brinca alcança

níveis que só mesmo a motivação intrínseca consegue. Ao mesmo tempo

favorece a concentração, a atenção, o engajamento e a imaginação. Como

conseqüência a criança fica mais calma, relaxada e aprende a pensar,

estimulando sua inteligência.

Para que o brinquedo seja significativo para a criança é preciso

que tenha pontos de contato com a sua realidade. Através da observação do

desempenho das crianças com seus brinquedos podemos avaliar o nível de

seu desenvolvimento motor e cognitivo. No lúdico, manifestam-se suas

potencialidades e ao observá-las poderemos enriquecer sua aprendizagem,

fornecendo através dos brinquedos os nutrientes ao seu desenvolvimento.

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CAPÍTULO IV

A BRINCADEIRA E A APRENDIZAGEM

O brincar na área prática necessita de deixar de ser um processo

inconsciente, para ser trazido à consciência, como linguagem simbólica,

essencial ao desenvolvimento do ser humano.

A criança produzindo é uma excelente observadora de seus próprios

trabalhos. Expondo permanentemente pinturas, desenhos, etc. nas paredes da

classe, fazendo uma apreciação dos trabalhos com comentários de todos

durante os momentos de roda, investigando os procedimentos utilizados por

outras crianças (ou mesmo por outros artistas).

À medida que as características do pensamento infantil passaram a ser

melhor conhecidas pelos educadores, muitos deles começaram a optar por um

tipo de atuação pedagógica, que, procurando preservar o caráter lúdico,

espontâneo e emotivo da atividade expressiva, acabava deixando a criança

sem nenhum acompanhamento didático: era preciso que a criança fosse

totalmente livre para criar. Qualquer intervenção no seu processo de criação

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era considerada uma espécie de violência, um desrespeito aos processos

íntimos da criança.

Grande parte das crianças brasileiras enfrentam um cotidiano bastante

adverso que as conduz desde muito cedo a precárias condições de vida e ao

trabalho infantil, ao abuso e exploração por parte de adultos. Outras são

protegidas de todas as maneiras, recebendo de suas famílias e da sociedade

em geral todos os cuidados necessários ao seu desenvolvimento. Essa

dualidade revela a contradição e conflito de uma sociedade que não resolveu

anda as grandes desigualdades sociais presentes no cotidiano.

A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas também o marca. A criança tem na família, biológica ou não, um ponto de referência fundamental, apesar da multiplicidade de interações sociais que estabelece com outras instituições sociais (RENEI, 1989, p. 21).

É preciso ampliar os limites do brincar, principalmente com relação a um

tempo ou a um espaço predeterminado.

A atitude do educador junto dos seus grupos deve passar a idéia de brincar não como “mais uma atividade”, definida em determinados horários e/ou espaços, mas, sim, como “atitude lúdica” a ser assumida em todas as propostas educacionais. [...] É imprescindível divulgar e utilizar as diferentes culturas das várias regiões brasileiras, que traduzem seus respectivos valores por meio da linguagem transmitida pelos brinquedos e brincadeiras: dos artesanais, que ainda são criados pelas mãos de pessoas simples e sensíveis, até os industrializados, fabricados por interesses comerciais e não por objetivos lúdicos e educativos referentes a seu público-alvo (FRIEDMANN, 2007, p. 02).

Ou seja, o sentido real, verdadeiro e funcional da educação lúdica estará

garantido se o educador estiver preparado para realizá-lo; de nada adianta se o

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mesmo não tiver um profundo conhecimento sobre os fundamentos essenciais

da educação lúdica, condições essas, suficientes para socializar o

conhecimento e predisposição para levar a diante (ALMEIDA, 2003).

No Brasil às brincadeiras têm uma riqueza infindável, determinando uma

cultura lúdica ao mesmo tempo heterogênea, diversa e comum, pela influência

das culturas européia, africana e indígena.

Assim como o tombamento de muitos monumentos materializam a história, o brincar constitui-se em um patrimônio lúdico da humanidade e, no nosso caso, da brasilidade: o conjunto de brincadeiras locais revela a linguagem cultural de cada região. A criança fala por meio do seu brincar (FRIEDMANN, 2007, p. 04).

Atenta-se que o jogo e a brincadeira são experiências vivenciais

prazerosas, como também são experiências da aprendizagem que tende a se

constituir em um processo vivenciado prazerosamente. Assim, o meio

educativo, ao valorizar as atividades lúdicas, ajuda a criança a formar um bom

conceito de mundo, em que a afetividade é acolhida, a sociabilidade

vivenciada, a criatividade estimulada e os direitos da criança respeitados.

Enquanto a aprendizagem é vista como apropriação e internalização de

signos e instrumentos num contexto sociointeracionista, o brincar é a

apropriação ativa da realidade por meio da representação. Desta forma, brincar

é análogo a aprender.

Pillar (1996) destaca Piaget, onde de acordo com a abordagem

construtivista, o conhecimento não está pré-formado no sujeito nem está

totalmente pronto, acabado, determinado pelo meio exterior, independente da

organização do indivíduo.

A aquisição de conhecimentos processa-se na troca, na interação da criança com o objeto a conhecer. O ato de conhecer parte da ação do sujeito sobre o objeto e só se efetua com a estruturação que ele faz dessa experiência – o conhecimento é adquirido não pelo simples contato da criança com o objeto cognoscente, mas pela atividade do

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sujeito sobre esse objeto, a partir do que ele aprende, do que ele retira, do que organiza da experiência (PIILAR, 1996, p. 26).

Com o avanço em todos os campos de conhecimento e das rápidas

mudanças em todos os setores, é preciso buscar novos caminhos para

enfrentar os desafios do novo milênio e, neste cenário que se antevê, será

inevitável o resgate do prazer no trabalho, na educação, na vida, visto pela

ótica da competência, da criatividade e do comprometimento.

Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural (GADOTTI, 1995, p.26).

Neste processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das

capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais,

afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a

formação de crianças felizes e saudáveis.

Ressalva Souza (2007) da importância das Propostas Pedagógicas de

Educação Infantil tenham qualidade e definam-se a respeito dos seguintes

fundamentos norteadores:

• Princípios Éticos da Autonomia, da Responsabilidade, da Solidariedade

e do Respeito ao Bem Comum;

• Princípios Políticos dos Direitos e Deveres de Cidadania, do Exercício

da Criticidade e do Respeito à Ordem Democrática; e os

• Princípios Estéticos da Sensibilidade, da Criatividade, da Ludicidade, da

Qualidade e da Diversidade de manifestações Artísticas e Culturais.

O educador, com vistas aos princípios norteadores, deve desenvolver

determinada capacidade, pode priorizar determinados conteúdos; trabalhá-los

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em diferentes momentos do ano; voltar a eles diversas vezes, aprofundando-os

cada vez etc. Como são múltiplas as possibilidades de escolha de conteúdos,

os critérios para selecioná-los devem se atrelar ao grau de significado que têm

para as crianças. É, importante, que o professor considere as possibilidades

que os conteúdos oferecem para o avanço do processo de aprendizagem e

para a ampliação de conhecimento que possibilita.

O mesmo possui a tarefa de individualizar as situações de

aprendizagens oferecidas às crianças, considerando suas capacidades

afetivas, emocionais, sociais e cognitivas assim como os conhecimentos que

possuem dos mais diferentes assuntos e suas origens socioculturais diversas.

Isso nos leva a crer que o professor deve planejar e oferecer uma gama

variada de experiências que responda, simultaneamente, às demandas do

grupo e às individualidades de cada criança.

A criança é um ser social que nasce com capacidades afetivas, emocionais e cognitivas. Tem desejo de estar próxima às pessoas e é capaz de interagir e aprender com elas de forma que possa compreender e influenciar seu ambiente. Ampliando suas relações sociais, interações e formas de comunicação, as crianças sentem-se cada vez mais seguras para se expressar, podendo aprender, nas trocas sociais, com diferentes crianças e adultos cujas percepções e compreensões da realidade também são diversas (BRASIL, 1998, p.21).

Considera-se que as crianças são diferentes entre si, implica propiciar

uma educação baseada em condições de aprendizagem que respeitem suas

necessidades e ritmos individuais, visando ampliar e a enriquecer as

capacidades de cada criança, considerando-as como pessoas singulares e

com características próprias. Individualizar a educação infantil, ao contrário do

que se poderia supor, não é marcar e estigmatizar as crianças pelo que

diferem, mas levar em conta suas singularidades, respeitando-as e

valorizando-as como fator de enriquecimento pessoal e cultural (BRASIL,

1998).

No entanto, o papel do professor nos primeiros momentos de

aprendizagem não se resume somente a transmitir conhecimento; seu papel é

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o de criar situações significativas que dêem condições à criança de se

apropriar de um conhecimento ou de uma prática. Nas atividades de

sistematização, o papel do professor é mais diretivo; ele explica, informa,

mostra e corrige.

Assim, o trabalho dos professores a partir da ludicidade abre caminhos

para envolver todos numa proposta interacionista, oportunizando o resgate de

cada potencial. A partir daí, cada um pode desencadear estratégias lúdicas

para dinamizar seu trabalho que, certamente, será mais produtivo, prazeroso e

significativo, conforme afirma Marcellino (1990) citado por Dallabona e Mendes

(2004, p. 110): “É só do prazer que surge a disciplina e a vontade de aprender”.

É com a atividade lúdica que a criança se prepara para a vida,

assimilando a cultura do meio em que vive, a ela se integrando, adaptando-se

às condições que o mundo lhe oferece e aprendendo a competir, cooperar com

seus semelhantes e conviver como um ser social. E ainda proporciona prazer e

diversão, o jogo, o brinquedo e a brincadeira podem representar um desafio e

provocar o pensamento reflexivo da criança. Entende-se que através de uma

atitude lúdica efetivamente oferece aos alunos experiências concretas,

necessárias e indispensáveis às abstrações e operações cognitivas.

Pode-se dizer que as atividades lúdicas, os jogos, permitem liberdade de

ação, pulsão interior, naturalidade e, conseqüentemente, prazer que raramente

são encontrados em outras atividades escolares. Por isso necessitam ser

estudados por educadores para poderem utilizá-los pedagogicamente como

uma alternativa a mais a serviço do desenvolvimento integral da criança.

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CONCLUSÃO

As crianças são seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito

próprio. Nas interações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe

são próximas e com o meio que as circundam, as crianças revelam seu esforço

para compreender o mundo em que vivem, as relações contraditórias que

presenteiam e, por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a

que são submetidas e seus anseios e desejos.

No processo de construção do conhecimento, as crianças se utilizam

das mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de

terem idéias e hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar. O

conhecimento não se constitui em cópia da realidade, mas sim, fruto de um

intenso trabalho de criação, significação e ressignificação.

O desenvolvimento da imaginação criadora, da expressão, da

sensibilidade e das capacidades estéticas das crianças poderão ocorrer no

fazer artístico, assim como no contato com a produção de arte presente nos

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museus, igrejas, livros, reproduções, revistas, gibis, vídeos, ateliês de artistas e

artesões regionais, feiras de objetos, espaços urbanos etc. .

É através da brincadeira que a criança dispõe de uma forma privilegiada

de aprendizagem. E na medida em que vão crescendo, as crianças trazem

para suas brincadeiras o que vêem, escutam, observam e experimentam. As

brincadeiras ficam mais interessantes quando as crianças podem combinar os

diversos conhecimentos a que tiveram acesso. Nessas combinações, muitas

vezes inusitadas aos olhos dos adultos, as crianças revelam suas visões de

mundo, suas descobertas.

Na atualidade, as crianças freqüentam as instituições escolares mais

cedo, como as creches e as escolas de Educação Infantil. Nesses espaços, o

brincar é, muitas vezes desvalorizado em relação a outras atividades,

considerado mais produtivo. A brincadeira acaba ocupando o tempo da espera,

do intervalo. Valorizar a brincadeira não é apenas permiti-la, é suscitá-la.

E ainda, atenta-se que as crianças na atualidade estão a cada dia mais

agressivas dentro do ambiente escolar, e diante da preocupação em observar o

motivo pelo qual está ocasionando essa agressividade infantil, torna-se

importante pesquisar sobre a influência dos desenhos animados no

comportamento infantil. Para tanto, é relevante que os pais e a escola atuem

em conjunto com as crianças com o propósito de orientá-las sobre os desenhos

animados que estão assistindo, formando futuros cidadãos críticos e não

“robôs” no mundo audiovisual.

Observa-se que o modo como as diferentes crianças brincam, é possível

perceber que os usos que fazem dos brinquedos e a forma de organizá-los

estão relacionados com seus contextos de vida e expressam visões de mundo

particulares. É por isso que o lúdico é tão importante para a saúde mental do

ser humano é um espaço que merece atenção dos pais e educadores, pois é o

espaço para expressão mais genuína do ser, é o espaço e o direito de toda

criança para o exercício da relação afetiva com o mundo, com as pessoas e

com os objetos.

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É através do lúdico que as crianças apreciam o tempo, espaço,

companhia e material para brincar; e quanto mais as crianças experimentem,

mais aprendam e assimilem, e quanto mais elementos reais disponham em

suas experiências, tanto mais considerável e produtiva será a atividade de sua

imaginação. É nesse entendimento que a escola pode e deve reunir todos

esses fatores e o papel do professor nesse processo é fundamental.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

O desenvolvimento infantil e a escola 10

CAPÍTULO II

O lúdico: abordagem geral 19

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CAPÍTULO III

O ato de brinca 23

CAPÍTULO IV

A brincadeira e a aprendizagem 26

CONCLUSÃO 33

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 35

ÍNDICE 38

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: