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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE AFETIVIDADE COMO AUXÍLIO À APRENDIZAGEM Por: Líliam de Jesus dos Passos Orientador (a) Profª. Maria Estter de Araújo Nova Iorque 2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (Vol. 2) ainda nos diz que a construção da autoconfiança da criança,

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

AFETIVIDADE COMO AUXÍLIO À APRENDIZAGEM

Por: Líliam de Jesus dos Passos

Orientador (a)

Profª. Maria Estter de Araújo

Nova Iorque 2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

AFETIVIDADE COMO AUXÍLIO À APRENDIZAGEM

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Orientação

Educacional.

Por: Líliam de Jesus Passos.

AGRADECIMENTOS

A Deus por capacitar-me a cada dia a ser exatamente o que Ele quer que eu

seja, e pelas infinitas graças que me dá todos os dias.

A Raimunda Passos da Silveira, por ser exemplo de sabedoria, sinônimo de

doação, de carinho, de afeto, de verdade, de profissionalismo. E ainda por ser

amiga, companheira e acima de tudo, uma mãe exemplar.

Aos meus irmãos que mesmo distante têm sido minha fortaleza quando me

encorajam a ir em frente acreditando em meu potencial.

Aos meus sobrinhos, em especial a João Pedro, por ter sido fonte de

inspiração para a escolha do tema desse trabalho.

A minha amiga de infância Maria Inilde pela colaboração, interesse, paciência e

dedicação a mim dispensados, pois sem ela a realização desse trabalho não

seria possível.

A todos meus sinceros agradecimentos.

DEDICATÓRIA

Aos que amo.

RESUMO

Com base na visão de alguns teóricos, este estudo trata da importância da

afetividade na relação professor e aluno no processo de ensino e

aprendizagem, visto que é a inclusão ou não do afeto no processo educativo

que norteará a conduta do educando na vida pessoal e social. Na sala de

aula, muitas vezes, alguns professores têm privilegiado os conteúdos escolares

esquecendo-se de que, ali estão seres humanos em busca de um espaço ou

um olhar que possibilite a construção de uma aprendizagem. Nossa proposta

enquanto, profissional da educação, é refletir sobre a importância de uma

tomada de consciência do nosso papel para possibilitarmos ao aluno, um

desenvolvimento afetivo sadio, que o leve à construção de uma personalidade

autônoma, atuando como sujeito de si mesmo.

Palavras-chave: Afetividade; Aprendizagem; Auto-estima; Professor; Aluno.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada no presente estudo será feita com base em

pesquisa bibliográfica de material referente ao tema proposto.

Inicialmente realizar-se-á o levantamento de material bibliográfico em

bibliotecas, tomando como base livros, revistas, jornais, periódicos congêneres,

artigos, monografias, e sites.

Por conseguinte far-se-á a leitura do material, em seguida o registro e

síntese dos dados e por fim realizar a redação desta monografia.

Tomando como pressuposto inicial para a organização desta pesquisa a

importância do desenvolvimento afetivo entre professor-aluno como facilitador

no processo ensino-aprendizagem, cabe destacar os nomes de alguns autores

os quais suas obras serviram como orientação para a análise e elaboração

desta monografia, como: Augusto Jorge Cury, Dinah Campos, Daniel Goleman,

Içami Tiba, Piaget, Vygotsky, bem como a própria LDB, dentre outros.

SUMÁRIO

Introdução 08

Capítulo 1 - Conceito de afetividade 10

1.1 - Auto-estima 11

1.2 - Desenvolvimento afetivo 14

1.3 - Vínculos afetivos: Família – Escola 16

Capítulo 2- A afetividade no ambiente escolar 18

2.1 - A importância do afeto no cotidiano escolar 22

2.2 – Afeto e autoridade 23

Capítulo 3 – Relação professor – aluno 25

Conclusão 32

Bibliografia Básica 34

INTRODUÇÃO

Pensar e sentir são ações indissociáveis. Esta é a ideia que tentaremos

imprimir e defender ao longo deste estudo, tendo como preocupação central

transpô-la para o campo educacional. E o faremos expondo algumas reflexões

acerca do papel da afetividade no funcionamento psicológico e na construção

do conhecimento.

Costuma-se ouvir nos diferentes contextos da educação que um dos

fatores geradores da dificuldade na aprendizagem pode ser ocasionado por

problemas emocionais, podendo também considerar a evasão escolar

conseqüência deste tema.

Por outro lado as escolas têm passado por constantes inovações

tecnológicas, mas acreditamos que não tem sido o suficiente para motivar e

cativar os alunos que acabam muitas vezes tendo dificuldades para apropriar-

se dos conhecimentos.

Apesar de reconhecer a importância dessas inovações existem outros

fatores tão importantes que precisam ser considerados. É o caso da relação

professor e aluno, mais especificamente a afetividade, sendo um dos fatores

que poderá interferir no processo de ensino aprendizagem.

Mas, de que forma pode-se relacionar a afetividade no contexto de sala

de aula para que contribua com o processo de aprendizagem?

O presente estudo tem o propósito de verificar se a afetividade do

professor interfere na aprendizagem dos alunos. E o que isso tem a ver com a

educação? Tudo, pois segundo Goleman (1995) as aptidões emocionais

podem e devem ser desenvolvidas no ambiente familiar e na escola. Para ele,

a base genética que determina nossas características emocionais se consolida

ao longo da infância. Sendo assim, um desenvolvimento positivo nessa fase se

refletirá em todos os aspectos de nossa vida futura.

Para atender ao objetivo proposto, o trabalho pautou-se em pesquisas

bibliográfica sobre o tema apresentado, e constará dos seguintes capítulos: o

primeiro conceituará a afetividade; por conseguinte tratar-se-á da afetividade

no ambiente escolar como um todo, chegando-se finalmente numa abordagem

sobre a afetividade mais especificamente voltada para a relação professor-

aluno.

CAPÍTULO I

CONCEITO DE AFETIVIDADE

Conforme Aurélio (1994, p.20), a palavra afeto vem do latim affectu

(afetar, tocar) e constitui o elemento básico da afetividade, conjunto de

fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções, sentimentos

e paixões, acompanhados sempre da impressão de dor ou prazer, de

satisfação ou insatisfação de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza.

Segundo Wallon (apud Almeida, 1999, p. 107):

no início da vida a afetividade e a inteligência estão sincreticamente misturadas. A afetividade é uma fase de desenvolvimento mais arcaica do ser humano, pois ela ocupa um lugar central tanto no ponto de vista da pessoa quanto do conhecimento, e se estende no primeiro ano de vida.

Sendo assim, verifica-se que desde que uma criança nasce ela precisa de

um ambiente que lhe proporcione afeto, comunicação, disciplina para

desenvolver-se com segurança. Para que haja essa interação de afeto entre a

criança e seus genitores, não será necessário um modelo de família tradicional,

como pai, mãe e irmãos, mas atualmente o perfil da família tem-se modificado

ao longo do tempo, ou seja, o filho mora com apenas um dos genitores, com

pessoas conhecidas ou com os avós. O importante é que o ambiente social em

que a criança convive propicie momentos de interação, que venha desenvolver

os seus aspectos emocionais necessários ao longo da sua vida.

Mesmo não havendo a presença do pai ou da mãe é importante que a

criança conviva com pessoas dos dois gêneros. Nesse sentido Tiba (2002)

menciona que “se possível a figura masculina e a feminina devem estar

presentes e atuantes na formação do caráter da criança, mas nem por isso a

falta de uma delas prejudica o futuro dos filhos”.

De acordo com Codo (1999, p. 50),

todo trabalho envolve algum investimento afetivo por parte do trabalhador, mas por parte do professor a relação afetiva é obrigatória para o próprio exercício do

trabalho, ou seja, para que atinja seus objetivos, a relação afetiva necessariamente tem que ser estabelecida entre professor e aluno.

1.1 Auto-estima

Em nosso dia-a-dia, é comum cruzarmos com pessoas que carregam no

semblante um ar de insatisfação e de mal-estar. Estes podem ter como causa,

muitas vezes, a vivência em ambientes conflituosos, a ausência de respeito

adequado a nossa mente e pessoa, levando-nos a desenvolver sentimentos e

condutas que afetam nossa autoestima.

A auto-estima é conceituada como “a postura que cada pessoa tem em

relação a si mesma” (STROCCHI, 2003, p.15), e é compreendida nos

aspectos:

S Cognitivo – com relação à auto-realização (opiniões de si mesmo, suas

emoções, vida afetiva e social);

S Emotivo – seus sentimentos em relação ao afeto (indiferença,

hostilidade);

S Comportamental – modo como o sujeito se comporta diante de si mesmo

(auto-respeito).

A auto-estima é definida por Claret (1995, p.174),

como a confiança que o indivíduo tem em sua capacidade de pensar e de enfrentar desafios. É a confiança na qualificação para expressar suas necessidades e desejos, de desfrutar dos resultados de seus esforços, e de se ver como merecedor e digno de felicidade.

Com base nessa definição, fica claro que a autoestima tem valor de

sobrevivência, visto que, é uma poderosa necessidade humana, que contribui,

essencialmente, para o processo vital. “Uma autoestima negativa interdita o

crescimento psicológico, enquanto que a autoestima positiva oferece força,

resistência e capacidade de regeneração”. (CLARET, 1995, p. 152).

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, diz no seu

texto que a autoestima é desenvolvida no indivíduo pouco a pouco, já na

infância, e que consiste na interiorização da estima e da confiança que se tem

por ele. Portanto, faz-se necessário que o adulto, pais ou professores,

favoreça a construção positiva da autoestima da criança, confiando e

acreditando na capacidade da mesma.

Para que a escola favoreça a construção da auto-estima positiva, ela

precisa criar situações educativas, obedecendo a limites impostos pela vivência

coletiva, onde todas as crianças possam ter seus hábitos, ritmos e preferências

individuais respeitados, suas falas ouvidas e compreendidas, possibilitando

assim, o fortalecimento de sua autoconfiança.

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (Vol. 2) ainda

nos diz que a construção da autoconfiança da criança, tem seu processo

marcado por avanços e retrocessos. Visto que, frente a frustrações, a criança

pode demonstrar sentimentos de medo, vergonha, birra ou até pesadelos,

surgindo daí, a necessidade de apoio e compreensão por parte dos pais e

professores, de forma controlada, flexível, porém segura.

O brincar, por sua vez, é fundamental para o desenvolvimento da

autonomia da criança, pois é através da brincadeira que ela desenvolve

capacidades como imitação e imaginação, que junto com a fantasia são

elementos importantes no relacionamento interpessoal, levando-a a aprender

mais sobre ela mesma e o outro.

O que nos entristece, entretanto, é que o modelo de educação que nos é

apresentado até hoje, é o tradicional, onde as escolas associam disciplina a

silêncio, onde conversa é sinal de bagunça além de privilegiar a mensuração

dos resultados e o percentual de aprovado/reprovado do total de alunos. A

pedagogia tradicionalista tem sua atenção centrada no professor, e preocupa-

se com a manutenção do bom comportamento e reprime a livre expressão do

aluno.

A consequência dessa pedagogia, é que ela desenvolve indivíduos sem

autovalorização com autoestima fragilizada.

É importante lembrar que os fenômenos que dizem respeito ao ensino e a

aprendizagem possuem tanto componentes intelectuais quanto emocionais.

Isso diz respeito tanto ao professor, que detém e transmite os conhecimentos

sistematizados, quanto ao aluno, para quem esses conhecimentos são

destinados.

Falta, nesse modelo educacional o apreço pelo amor incondicional, onde

o sujeito deve ser amado pelo que é, e as diferenças respeitadas.

A prática pedagógica deve trilhar o caminho da vivência humanizadora, da

compreensão do outro, da busca incessante de boas relações do indivíduo

consigo mesmo e com o meio, enfatizando a pessoa num todo.

Os PCNs reconhecem a importância da participação do aluno e da

relação interpessoal no processo de ensino e aprendizagem, como também a

intervenção do professor nessa aprendizagem, ministrando conteúdos que

possibilitem o desenvolvimento das capacidades necessárias à formação do

cidadão em sua totalidade, levando-o a exercer uma cidadania e construir uma

sociedade menos excludente e mais humanista.

O Aurélio (1994, p. 153) traz como definição de cidadão: “o indivíduo no

gozo dos seus direitos civis e políticos de um Estado. Indivíduo sujeito”.

Entretanto, o que vemos atualmente é alguns jovens se distanciando cada

vez mais de sua condição de cidadãos, mostrando-se perdidos, sem objetivo e

vida e deixando de atuar como sujeitos de si mesmo.

O que será que causa esse distanciamento e essa alienação em alguns

de nossos jovens? Ainda não conseguimos encontrar uma resposta efetiva

para essa pergunta. Mas talvez a resposta esteja na família, pois sabemos da

importância de uma boa estrutura familiar na formação do ser humano. A

escola também tem posição de destaque nessa formação, por isso, está claro

que a parceria entre família e escola é essencial, visto que ambas têm os

mesmos objetivos: o desenvolvimento sadio do indivíduo em todos os aspectos

e o sucesso na aprendizagem, preparando cidadãos ativos, participativos,

conscientes e sujeitos de sua própria história.

1.2 Desenvolvimento afetivo

Segundo Piaget (1967), “desde que a comunicação da criança com o

meio social se torna possível, simpatias e antipatias vão se desenvolvendo

completando e diferenciando os sentimentos elementares característicos.”

A criança terá simpatia pelas pessoas que respondem aos seus

interesses e que a valorizam.

Para que haja simpatia as trocas afetivas devem ser equilibradas, ou seja,

devemos orientar os alunos a ponderar as suas falas para que o outro tenha

espaço para falar. É preciso que haja um enriquecimento mútuo, resultando

uma reciprocidade entre os pares.

Já a antipatia tem origem nas trocas em que não há enriquecimento

mútuo.

Observa-se a simpatia nas crianças que brincam mais tempo juntas, são

as que têm interesses comuns e se entendem bem. E as antipatias quando a

criança submete as outras a sua vontade própria, exigindo que elas façam o

que ela quer. A melhor maneira de amenizar esse fato é interferir criando

situações com conversas de reflexão, um pedido de desculpas, um abraço, um

jogo de cooperação tentando assim, manter trocas afetivas positivas. Pois a

atenção, o carinho, o respeito mútuo, a compreensão do outro e todo contato e

interação individual, devem estar voltados para todos os alunos.

Deste modo, deve-se trabalhar com cuidado para não deixar que a

afetividade positiva seja deficitária e que a aprendizagem aconteça

gradualmente, sendo transformadora e libertária.

Acredita-se que a aprendizagem resulta da convivência social dos alunos

entre si e com o professor. Procurar trabalhar com os alunos, fazendo-os,

sempre que possível, se colocar um no lugar do outro para, assim, perceber se

o que estão fazendo é agradável ou não.

Conforme Piaget (1967, p.38), “a autovalorização é uma troca afetiva

consigo mesmo em contraposição com o outro. A autovalorização se exprime

pelos sentimentos de inferioridade e de superioridade.”

Neste sentido, nós professores, temos a responsabilidade de conduzir os

alunos em sua autovalorização, pois o sucesso ou o fracasso das ações deles

influenciará em suas ações futuras uma vez que, o sucesso vai gerar confiança

e o fracasso, a angústia.

Esses sentimentos duradouros dão lugar a um valor, a uma valorização

durável, ou seja, o professor deve incentivar o aluno a julgar a si mesmo, como

um todo. Às vezes, o julgamento é inferior e quando isso ocorre, deve-se

demonstrar ao aluno que ele é capaz, encorajando-o a pensar que só não fará

se não quiser, mas que ele tem competência para conseguir, poderá errar até

que consiga. “Educar é ser um artesão da personalidade, um poeta da

inteligência, um semeador de ideias” (Cury, 2003, p. 55).

Criando essas oportunidades, e estimulando o aluno a fazer o julgamento

de si próprio ela irá comparar-se consigo mesmo, não se deixando comparar

com os outros.

Se quisermos favorecer o desenvolvimento afetivo é preciso criar na

escola um ambiente livre de tensões, em que seja permitido ao aluno escolher

a atividade que quer realizar, decidindo sobre a melhor maneira de fazê-la e

participando das decisões que orientam a organização da sala. Ao aluno deve

ser dada a oportunidade de manifestar livremente suas emoções e seus

sentimentos. Como diz Kamii (1980, p. 53):

Se a criança está ansiosa e desencorajada, ou afetivamente perturbada por qualquer razão, o seu desenvolvimento geral em todos os domínios será entravado, na medida em que suas preocupações infelizes canalizam as suas energias.

Sendo assim, se o aluno não tiver na escola um ambiente para satisfazer

sua curiosidade natural, oportunidade para ser inventivo, criativo e capaz de ter

ideias novas, seu desenvolvimento cognitivo estará comprometido. A

curiosidade é uma tendência para pesquisar, para saber mais. É ela que está

na origem de todas as descobertas e invenções. Em geral, os alunos estão

sempre procurando encontrar coisas para satisfazer a sua curiosidade. É a

curiosidade que os impulsiona a descobrir, inventar, aprender e, portanto,

construir o conhecimento.

Para estimularmos a curiosidade do aluno é preciso responder às suas

perguntas. Deixar o aluno sem respostas ou zombar de suas perguntas pode

levá-lo a não mais perguntar. Como diz Elkind (1979, p.33), “A curiosidade

intelectual é uma centelha que pode ser facilmente abafada pela zombaria e

indiferença dos adultos”.

1.3 – Vínculos afetivos: Família – Escola

O ato de ensinar e o de aprender caracterizam-se pelo vínculo cultural

estabelecido entre os homens. Esse processo transcorre a partir de vínculos

entre pessoas e inicia-se no ambiente familiar, sendo que a base desta relação

é afetiva, pois o bebê, sujeito às diversas influências sociais, é alvo de

inúmeras relações nas quais estão em jogo a linguagem, os valores, as regras

e normas sociais. Portanto, “é o vínculo afetivo entre o adulto e a criança que

sustentará o processo de aprendizagem” (Wallon, 1978, p. 180).

Esta questão permite refletir muito acerca da afetividade em sala de aula,

principalmente no processo de adaptação da criança. Para ela é um choque

muito grande “deixar a mãe” e ir com a professora. É um momento em que o

professor deve demonstrar segurança e confiança, para que estes sintam-se

mais seguros, superando estes conflitos pessoais. Sentindo-se membro de um

ambiente escolar tranquilo e afetuoso.

CAPÍTULO II

A AFETIVIDADE NO AMBIENTE ESCOLAR

Historicamente foi possível constatar que a escola não considera a

dimensão afetiva como objeto de ensino e de aprendizagem, privilegiando o

conhecimento lógico e científico e deixando muitas vezes de lado, o

conhecimento relativo ao corpo, às artes, aos sentimentos e às relações na

sala de aula.

A escola, como espaço legítimo para promover a apropriação da experiência culturalmente acumulada, deve levar em conta que os aspectos cognitivos e afetivos são indissociáveis e proporcionar o desenvolvimento do indivíduo na sua totalidade. Toda aprendizagem está impregnada de afetividade. A trama que se tece entre alunos, professores, conteúdos escolar, livros, escrita etc. não acontece puramente no campo cognitivo. Existe uma base afetiva permeando essas relações. (TASSONI, 2003)

Segundo Leite e Tassoni (2002, p. 13), “neste momento a escola assume

um papel importantíssimo, pois ajuda a criança a distinguir o meio familiar do

meio escolar, estabelecendo uma diversidade de relações que se compõem.”

Desse modo, a criança participa de grupos, nos quais precisa seguir

regras, assumir tarefas, reconhecer suas capacidades e respeitar a si e ao

outro, experimentando situações diferenciadas do âmbito familiar.

Seguindo esse pensamento, a escola precisa compreender o aluno e seu

universo escolar sócio-cultural, conhecendo o universo em que atua tanto

cultural e pessoal, já que na espécie humana, existem processos mentais

próprios, mas que variam de acordo com as culturas regionais e momentos

históricos.

Segundo Vygotsky (apud Arantes, 2002, p.162), o ponto de partida para a

aprendizagem, precisa ser aquilo que a criança já sabe, levando-a para o

caminho da análise intelectual, da comparação, da unificação e do

estabelecimento de relações lógicas.

Cada aluno tem suas características individuais, das quais vai depender

sua aprendizagem, pois correspondem em grande parte a experiências já

vivenciadas, que variam em vista de suas capacidades, motivações e

interesses pessoais e também das pessoas que convivem com eles. Aí a

família desempenha um papel importante na vida da criança, na interação do

físico com o mental.

Todo processo de educação significa a constituição de um sujeito, em

casa, na escola, em todo lugar: a criança está se constituindo como ser

humano, através de suas experiências com o outro, em diversos lugares e

momentos. E essa construção se dá através de informações, superações de

desafios sobre o que acontece a sua volta.

No cotidiano da instituição escolar, diferentes indivíduos confrontam-se com suas histórias de vida, suas concepções de mundo, com seus objetivos e intenções. Encontros e desencontros, as diferenças ações e reflexões dos que participam dessa dinâmica escolar propiciam novas relações que podem facilitar, ou não, o processo ensino / aprendizagem. (SOUZA apud TASSONI, 2003, p. 252)

Percebe-se também, que a escola não é necessariamente uma extensão

da família, pois cada uma tem sua parcela de contribuição. Por isso, a criança

precisa ter essa oportunidade de participação em outro tipo de grupo, com

regras a serem cumpridas, tarefas a serem assumidas, necessidade de

respeitar a si mesmo e ao outro.

Nessa perspectiva, observa-se que nem sempre um passar a mão na

cabeça resolve o problema. A criança precisa saber que há limites, e construir

esses limites não significa falta de afeto, mas favorece o autodomínio e

consequentemente a autonomia moral da criança.

Percebe-se então, que uma criança que não tenha construído por ela

própria essa autonomia moral, pode se tornar agressiva e indisciplinada. Outra

consequência é a atribuição da culpa à própria criança ou a seu ambiente

familiar, tirando da escola a responsabilidade perante o próprio aluno e a

sociedade.

No ambiente escolar muitas vezes pode ser observado mensagens

humilhantes ditas aos alunos e até mesmo de um profissional para outro,

sempre vindo de maneira hierárquica, onde quem tem o poder manda e o outro

obedece. Nota-se que isso pode causar danos irreparáveis, principalmente se

forem ditas a uma criança, deixando marcas indeléveis, a ponto de prejudicar

sua dignidade ou auto-estima pelo resto de sua vida.

O professor, muitas vezes, age na sala com autoritarismo,

impossibilitando a criança de expressar seus sentimentos e suas vontades,

determinando tarefas e regras já prontas, sem deixar que o aluno participe de

forma democrática e justa, proporcionando escolhas.

Araújo (2002, p. 35), após estudos, relata que essa democracia que deve

existir dentro da sala de aula, precisa também ser construída socialmente, de

modo a criar um ambiente democrático nas relações entre seus membros,

pautadas no respeito mútuo.

Neste pensamento, a escola apresenta-se, sem sombras de dúvidas,

como um dos locais mais eficientes para a construção dos valores morais, ou

virtudes, pela troca entre iguais. Então é preciso que esse ser humano que

sente, tenha ao longo da sua vida escolar e social, oportunidades de expressar

esses sentimentos, permitindo compreender a si mesmo e sua relação com o

outro.

Refletindo melhor sobre o papel da escola na formação da tão desejada

democracia, constatamos que para conquistá-la precisamos de um

comprometimento maior por todos envolvidos no processo educacional,

buscando a construção coletiva de um modelo democrático de ensino, onde o

autoritarismo não prevaleça na educação.

Wallon (apud Almeida, 1999, p. 107) na sua concepção deixa claro que

essa mudança não acontece de um dia para outro.

É preciso tempo e coragem para assumir esse compromisso. Por isso, é necessário ficar atento às relações que perpassam o cotidiano de sala de aula, e

todos os envolvidos com o trabalho escolar, refletindo sobre os fatores que atraem e distanciam um do outro.

Gardner (1995, p. 16) propõe que:

as escolas preparem seus alunos para a vida, o que certamente não se limita aos raciocínios verbais e lógicos. Ele propõe que as escolas favoreçam o conhecimento para resolver problemas e efetuar tarefas que estejam relacionadas com vida na comunidade a que pertencem.

Ainda de acordo com o referido autor, com certeza esses esforços vão

ajudar no desenvolvimento da personalidade da criança. Para isso, a escola

precisa proporcionar experiências que estimulem o crescimento da inteligência

juntamente com a afetividade, envolvendo a criança em um ambiente

cooperativo, favorecendo o desenvolvimento e manifestações de inteligências

e, ao mesmo tempo, promovendo interação entre os significados apreendidos

pelos alunos, a partir das propostas realizadas e dos desafios vencidos por

eles.

Acredita-se que a escola deve ter um ambiente positivo, onde os alunos

devem ser incentivados constantemente a imaginar soluções, explorar

possibilidades, levantar hipóteses, justificar seu raciocínio e acreditar em suas

próprias conclusões.

Para Gardner (1995, p. 16),

a escola deveria ser modelada de forma a atender às diferenças entre os alunos, em vez de ignorá-las, e ao mesmo tempo garantir para cada indivíduo a possibilidade de uma educação que considere ao máximo o seu potencial intelectual.

Entretanto, observando as práticas educativas oferecidas e percebe-se o

não favorecimento ao desenvolvimento destas potencialidades. Mas acredita-

se em uma escola melhor, em que comunidade, professor e aluno unam forças

para superar os obstáculos que surgem no decorrer do contexto onde vivem,

modificando os métodos de ensino, os conteúdos e principalmente nossa

postura de educador, valorizando e respeitando a diversidade cultural dele e

dos outros.

2.1 - A importância do afeto no cotidiano escolar

O desânimo e a falta de motivação demonstrada pelo educador vêm

comprovar que, como afirma Galvão (1995, p.37), “as reações causadas pelas

emoções no ambiente funcionam como combustível para sua manifestação.”

Isto é, a alegria ou a tensão de um determinado ambiente pode contagiar o

estado de ânimo de alguém que chega nesse ambiente ou vice-versa.

Chalita (2004, p. 193) afirma que “o grande pilar da educação é a

habilidade emocional”, portanto, mesmo em ambiente escolar, é impossível

desenvolver as habilidades cognitivas e sociais, sem trabalhar a emoção.

É importante compreendermos que as emoções e os sentimentos que

compõem o homem são constituídos de um aspecto de importância

fundamental na vida psíquica do sujeito, visto que emoções e sentimentos

estão presentes em todas as manifestações de nossa vida.

“São os afetos que preparam as ações do sujeito, participando ativamente

da percepção que ele tem das situações vividas e do planejamento de suas

reações ao meio”. (BOCK, 1999, p. 193).

A falta de ânimo do professor acaba por contagiar a turma, resultando

numa aprendizagem lenta com alunos apáticos e desmotivados, ficando claro

que o caráter contagioso e coletivo, que caracteriza as emoções é de

importância decisiva na harmonia do grupo social.

Todavia, se o educador demonstra ânimo e dedicação à aprendizagem se

efetiva a cada dia, pois a alegria, o carinho (toque/escuta) e a motivação ficam

explicitas, tanto no semblante da professora, quanto no semblante dos alunos.

Freire nos diz que não existe educação sem amor. “Ama-se na medida em

que se busca comunicação, integração a partir da comunicação com os

demais” (FREIRE, 1983, p. 29). Portanto, comunicação e integração são

fatores que devem estar presentes no ambiente escolar para que resulte numa

aprendizagem efetiva com indivíduos alegres, ativos e participativos.

O trato com os sentimentos pessoais e interpessoais, vistos numa

abordagem dos sentimentos humanos de forma sistematizada, é algo premente

em nosso sistema educacional. Assim, uma forma de mudar o perfil de nossa

educação, seria tirar do papel e fazer de fato vigorar a elaboração de um

projeto educativo. Um projeto elaborado por pais, professores, coordenadores

e gestor que construa homens e mulheres capazes não apenas de viver, mas,

sobretudo, de entender a vida e participar dela de forma intensa.

2.2 Afeto e Autoridade

Alicia Fernández, psicopedagoga argentina, em entrevista dada à revista

Aprende Brasil (junho/julho 2007, p. 14-17), atenta para a necessidade de fazer

do afeto uma das ferramentas no ato de educar. A inclusão ou não do afeto no

processo educativo definirá se a sala de aula funcionará como espaço de

verdadeira aprendizagem ou como espaço apenas para passar o tempo e

concluir os níveis educacionais.

Ter boas notas não significa que a aprendizagem ocorreu de forma

efetiva, pois isso só acontece quando o aluno é realmente afetado pela escola

que o leva à transformação pessoal, tornando-o capaz de participar da

transformação do mundo e evoluindo como ser humano.

O professor tem papel fundamental no desenvolvimento do aluno. Muitas

vezes, ele é a única pessoa que pode reconhecer esse aluno como ser dotado

de sonhos, desejos e muita vontade de mudar a história de sua existência.

Tratar o aluno com afeto não significa tratá-lo com beijos, abraços ou

procurando agradá-lo, significa apenas que devemos acordar e tomar atitudes

que nos leve a sair de nossa indiferença, porque essa “indiferença” é

justamente a falta de afetividade. Não podemos mais fazer de conta que não

sentimos nada diante do que acontece a nossa volta, que toda essa violência e

falta de objetivos não nos atinge. A capacidade de sentir nos torna seres

privilegiados e com capacidade de transformar o mundo a nossa volta.

Numa sala de aula onde a afetividade é levada em consideração

provavelmente formará indivíduos com condições para lidar com seus

sentimentos o que contribuirá para um mundo menos agressivo. Para que isso

aconteça, é preciso que haja uma relação de respeito e cumplicidade entre

professor e aluno. E isso só será possível se houver autoridade por parte do

professor.

A palavra autoridade possui a mesma raiz da palavra autor. E, ser autor é

ter a capacidade de fazer algo, de criar algo. Muitas pessoas pensam que

autoridade deve estar atrelada à obediência. Não. Autoridade está atrelada à

responsabilidade.

O professor precisa sentir-se responsável. Se nós conseguirmos

reconhecer a importância do que nossos alunos pensam; se conseguirmos

ouvir um pouco da história de sua vida, até das dores que trazem de casa, nós

termos autoridade, porque todo ser humano que se sente escutado e acolhido,

ele consegue respeitar regras. Portanto, afeto e autoridade são palavras que

não devem ausentar-se do ambiente escolar.

CAPÍTULO III

RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO

Compreender a afetividade na relação professor–aluno nos dias atuais,

desencadeou-nos a uma reflexão pessoal sobre os primeiros anos escolares

pela qual se deu a aprendizagem, onde o modelo tradicional vigorava em sua

plenitude.Deixando de lado a emoção e prevalecendo o autoritarismo.

Neste sentido observa-se que alguns professores, na maioria das vezes,

aparentam sempre um semblante sério e autoritário, como detentores do saber,

preocupados em manter a disciplina e ordem, para a transmissão de conteúdos

através de práticas educativas tradicionais. Os alunos, nesse contexto são

vistos como seres inacabados e desprovidos de conhecimentos próprios e

emoção. Tudo isso, ajuda a reforçar o individualismo e a insegurança,

acentuando as diferenças sociais, ignorando os valores éticos para a formação

de cidadãos.

Nesta perspectiva, o trabalho do professor precisa ser de colaborar,

valendo-se do ponto de vista moral e racional, deixando transparecer o lado

afetivo e não a de um professor autoritário.

Pode-se perceber essas marcas ainda hoje, nos relacionamento do dia-a-

dia, a dificuldade que alguns têm em expor seus sentimentos e opiniões, até

mesmo deixando de lado ideias que são consideradas importantes, por medo

de rejeição, vivendo uma luta constante.

Assim, o educador procurar estar sempre estudando e aprimorando seus

conhecimentos, para não continuar com antigas práticas escolares, está em

constante análise, para saber qual o melhor caminho a seguir.

O caminho é difícil, a reflexão precisa ser contínua, por isso é necessário

um envolvimento maior entre professor-aluno e também entre os envolvidos no

trabalho escolar. Vale ressaltar que precisa-se rever seus conceitos para não

incorrer no risco de se ater apenas ao senso-comum e sim desenvolver o

senso-crítico, tão importante nos dias de hoje, quando constantemente, somos

manipulados pelo mundo que nos cerca.

Sendo assim, a afetividade pode transformar o desenvolvimento do aluno,

pois através dela, ele ganha autoestima.

Durante todo o processo de desenvolvimento, a afetividade é como a

energia, impulsionando as ações. Fica claro, no caso da escola, que a relação

professor-aluno é muito importante e permite a convivência em um ambiente de

harmonia. Assim, a aprendizagem poderá fluir com mais facilidade, criando um

a ambiente de aprendizado tranquilo, com maior desempenho e união dos

sujeitos envolvidos.

A cada momento temos mais a confirmação da necessidade de um

professor com alma de pesquisador, para compreender a importância sobre a

natureza das emoções, dando espaço para que os alunos coloquem seus

sentimentos, interesses e impulsos.

Vários autores já defendem que o afeto é indispensável na atividade de

ensinar, entendendo que as relações entre ensino e aprendizagem são

movidas pelo desejo e pela paixão e que, portanto, é possível identificar e

prever condições afetivas favoráveis que facilitem a aprendizagem.

Neste sentido, o professor deve procurar incluir em seu planejamento,

práticas educativas que envolvam relações de solidariedade e afetividade,

proporcionando situações de construção de conhecimento e adequação de

atividades, motivação, entre outras. Conforme salienta Dantas (apud Leite e

Tassoni, 2002, p. 128), “a afetividade não se limita às trocas de carinho físico,

mas conforme a criança vai se desenvolvendo, as trocas ganham

complexidade.”

Assim sendo, pode-se dizer que a importância da afetividade e do respeito

mútuo, como experiências devem ser sentidas e vivenciadas conjuntamente

pelos alunos e professores. Sendo assim:

as relações afetivas se evidenciam, pois a transmissão de conhecimento implica, necessariamente, uma relação entre pessoas. Portanto, na relação professor-aluno, uma relação de pessoa para pessoa, o afeto está presente. (Almeida, 1999, 107)

Assim, buscar através do fazer pedagógico, procurar fontes que apoiem

nas construções das relações em sala de aula, ampliando e contextualizando

procedimentos, para que estes sejam realizados de forma planejada,

consciente e real, sem perder de vista nossa imagem junto aos alunos e

refletindo sobre qual cidadão queremos formar.

Nesse sentido, o olhar e ouvir funciona tanto quanto um elogio, pois o

aluno se sente motivado quando percebe o interesse do professor, se o

ambiente é acolhedor ele sente-se seguro e a aprendizagem torna-se

prazerosa e cativante. Conforme Goleman (1995) “é necessário que se faça

uma alfabetização emocional, ser emocionalmente alfabetizado é tão

importante na aprendizagem quanto a matemática e a leitura.”

Nestes termos, o professor estará abrindo caminhos para que o aluno

possa sentir-se capaz de aprender e apropriar-se de conhecimentos através do

seu modo de agir e no interagir com os outros, pois o papel do professor neste

processo é fundamental.

Através desta relação o aluno terá maior possibilidade de desenvolver-se

tanto no aspecto cognitivo quanto afetivo como relata Piaget (apud La Taille,

1992, p. 65 e 66).

O desenvolvimento da inteligência permite, sem dúvida, que a motivação possa ser despertada por um número cada vez maior de objetivos ou situações, todavia ao longo desse desenvolvimento, o princípio básico permanece o mesmo: a afetividade é a mola propulsora das ações e a razão está ao seu serviço.

Pois se a afetividade, mencionada é a mola propulsora da inteligência

constata-se que quando a criança está nos seus primeiros anos de

escolaridade com a interação estabelecida no seu lar com a família, poderá

ocorrer também na escola através da pessoa do professor, já que esta é o que

ficará mais tempo em contato com a criança, propiciando-lhe a continuidade da

aprendizagem.

Através da motivação, o professor fará esta mediação, pois o objetivo

proposto não é transferir o modelo de pai ou mãe, mas que nesta atitude o

mesmo possa crescer e ser despertado nele interesse que, ao longo de sua

vida, faça a diferença intelectualmente, que o professor não vise somente o

fator cognitivo, como elemento principal no desenvolvimento do seu dia-a-dia,

mas que o afeto deva ser a ação mediadora nesta relação.

Se esta relação afetiva com os alunos não se estabelece, se os movimentos são bruscos e os passos fora do ritmo, é ilusório acreditar que o sucesso de educar será completo. Se os alunos não se envolvem, poderá até ocorrer algum tipo de fixação de conteúdos, mas certamente não ocorrerá nenhum tipo de aprendizagem significativa; nada que contribua para a formação destes no sentido de preparação para vida futura, deixando o processo de ensino aprendizagem com sérias lacunas. (CODO, 1999, p. 50).

Se com a criança a afetividade é fundamental, com os adolescentes ela

também deve ser valorizada já que se trata do momento em que o aluno perde

o encanto pela escola. Nesta trajetória é de grande importância que o mesmo

esteja afetivamente ligado ao professor, pois, é nesta fase que ocorre alteração

de comportamento resultante da ação hormonal, onde ele passa a ter uma vida

promissora com a ajuda do professor comprometido não somente com a

educação de um adolescente, mas com o dever de formar homens de valores

para uma sociedade que acredita que educandos se transformam através do

afeto.

Vygotsky (apud Oliveira 1992, p. 60) explica que “o pensamento tem sua

origem no campo da motivação a qual inclui inclinações, necessidades,

interesses impulsos, afeto e emoção neste campo estaria a razão última do

pensamento”.

Sendo assim percebe-se que o professor poderá influenciar com seu

interesse, afeto, podendo ir de encontro às dificuldades do aluno através de

uma boa relação afetiva.

Quando o aluno aprende, o professor acredita que é pelo fato de ser ele o

professor que fez um bom trabalho. Porém se não aprende é porque ele não

quer, deixando assim, de levar em conta a sua importância no processo de

ensino aprendizagem, porque a cada dia o aluno deseja ser conquistado pelo

saber, pela afinidade mediante essa relação que requer do educador e

educandos a qual se inicia a interação e aquisição do conhecimento. Quando o

professor acredita que ele pode estimular, neste caso será a própria

ferramenta, para o cotidiano do aluno que poderá com sua criatividade permitir

que a escola possibilite momentos de prazer, de auto-estima, de valor e que

esta troca seja recíproca, porque havendo este mover da ação pedagógica e a

mesma poderá nortear a relação afetiva.

Pois assim estará influenciando na autoestima do aluno, porque para o

mesmo é um referencial para fundamentar, o amor próprio e solidificar a

aprendizagem.

Segundo Werner (apud Campos, 1987, p. 13) “a falta de estímulos normal

do meio determina retardamentos ou retrocessos no amadurecimento das

funções intelectuais.” É interessante referir, porém que não existe apenas

maturidade física, mas também maturidade mental, social, emocional e mesmo

a maturidade geral da personalidade que é também de grande importância na

consideração da aprendizagem de cada um.

Entende-se assim, que o professor pode ser este referencial capaz de

possibilitar esta aprendizagem consistente, para que o aluno desenvolva o seu

processo de maturação e adquira a motivação necessária para aprender

através do empenho do professor. Se no presente este aluno contar com o

auxílio do educador na realização de sua aprendizagem, futuramente, o mesmo

será capaz de fazer sozinho.

O que muitas vezes ocorre, porém é que “professores e alunos dividem o

espaço de uma sala, mas não se conhecem, passam anos muito próximos,

mas são estranhos uns para os outros” (CURY, 2003, p. 12).

Percebe-se com esta citação que a escola passou por várias mudanças,

mas que ainda educadores têm conservado a prática educacional como uma

transferência de conteúdos, tendo o diálogo silenciado, diante de um mundo

moderno numa sociedade que vive em busca de solução para a violência.

Pode-se dizer que a escola não tem a solução para as dificuldades do ser

humano, mas como órgão educacional tem como função primordial na

formação deste educando. Quanto ao papel do educador acreditamos que seu

tom de voz ao transmitir alguma informação que deseja ouvir mais que venha

de encontro a sua necessidade emocional. São pequenos gestos que podem

influenciar a formação do aluno. “Ser educador é ser promotor de auto-estima”.

(CURY, 2003, p. 145).

De fato o educador é o promotor da auto-estima, o qual transpassa este

sentimento elegendo, de certa forma, o educando a ser um cidadão seguro,

confiante em seus conhecimentos apropriados através da motivação por um

educador preocupado com a afetividade, na formação de uma nação mais

humanista.

Este sentimento expressado refletirá que relação este ou aquele professor

teve ao longo de sua vida escolar, qual o educador que lhe atribuiu valores

marcantes para a vida. Sendo o afeto é um conjunto de fenômenos psíquicos

como prazer, satisfação ou insatisfação, Goleman (1995, p. 276) acrescenta:

A criança que não consegue se concentrar, que é mais desconfiada que confiante, mais triste ou zangada do que otimista, mais destrutiva que respeitosa, e muito ansiosa, que vive preocupada com fantasias assustadoras, e que se sente em geral infeliz, uma criança assim tem, normalmente, pouca oportunidade, quanto mais igual oportunidade, de reivindicar para si as possibilidades que o mundo lhe oferece.

Entende-se então, que mediante a esta citação, os efeitos emocionais que

estão em desenvolvimento em uma criança, no ambiente escolar, provocarão

conseqüências para toda a vida. E que essa geração sofrerá com a ausência

de amor, compreensão conseqüentemente, sendo assim acredita-se que um

bom relacionamento é essencial para concretizar a autonomia do indivíduo.

Conforme a LDB (Lei de Diretrizes e Bases-9394/96) art. 2º, a finalidade

da educação como processo intencional deve contribuir para que o organismo

psicológico do aprendiz se desenvolva numa trajetória harmoniosa e

progressiva preparar para o exercício da cidadania. O conceito de cidadania

centra-se nos direitos e deveres numa condição básica de cidadão.

Diante do exposto o professor poderá repensar a sua prática,

antecedendo o futuro do educando, possibilitando a formação de um indivíduo,

acentuando as suas capacidades cognitivas sociáveis e, acima de tudo,

tornando-o um ser humano felizes para desenvolver o seu papel na sociedade.

CONCLUSÃO

Através deste trabalho, tivemos a oportunidade de estudar um pouco da

visão de alguns teóricos os quais se interessam pela temática pertinente ao

nosso objeto de estudo. Com os dados colhidos no decorrer das pesquisas,

observamos que, na maioria das vezes, comungam com os conceitos que

serviram de alicerce para a elaboração e efetivação deste trabalho.

As considerações feitas durante este estudo levou-nos a refletir mais

sobre a prática docente.

O diálogo estabelecido entre professor e aluno é fator importante no

processo de aprendizagem, visto que forma elos afetivos que despertam o

interesse e a motivação, levando os alunos a executarem suas tarefas com boa

vontade. Codo e Gazzotti (2002, p. 55) ainda nos dizem que,

o ato de educar só terá sucesso se houver uma relação afetiva entre professor e aluno, caso contrário, a aprendizagem não será significativa e não preparará o indivíduo para uma vida futura, deixando lacunas no processo ensino-aprendizagem.

Portanto, é fundamental conhecer as questões ligadas à afetividade, no

processo educativo, a educação de ontem e hoje, o que mudou, o que precisa

mudar. Somente a teoria não é suficiente, mas necessária para romper com o

senso-comum e procurar entender a realidade que nos cerca.

Entender que a afetividade assim como o conhecimento são construídos

através de vivência, do respeito mútuo, esquecendo das dificuldades e

respeitando os valores mais simples como um gesto de afeto. Talvez um gesto

tão insignificante pode mudar a vida de uma criança. Muitas vezes uma criança

carente se sente inferior às outras, desvalorizada e por falta do afeto, rejeita os

livros, as atividades e o aprender.

A afetividade é essencial para que o professor conheça as qualidades de

suas relações, valorizando os desenvolvimentos afetivos, sociais e não apenas

cognitivo, como elementos fundamentais no desenvolvimento da criança como

um todo.

Por isso, é necessário que os conhecimentos construídos sejam

instrumento de indagações e reflexões. É possível também constatar

profissionais descontentes e despreparados para uma função escolhida,

criando conseqüências desagradáveis e irreparáveis, denegrindo a imagem do

verdadeiro profissional que trabalha por um ideal de transformação e sucesso.

Elemento essencial na efetivação da aprendizagem é uma auto-estima

positiva, pois todo indivíduo precisa sentir-se capaz de pensar e agir, e ver-se

como merecedor de felicidade. A autoestima nos diz Claret (1995, p. 188), “é

uma necessidade humana, que contribui essencialmente para o processo vital.”

Entretanto um profissional que construa relações em sala de aula,

pautadas na realidade infantil, ampliando e contextualizando procedimentos,

proporcionando momentos de interação, que levem a uma real tomada de

consciência. Isso implica considerar diferentes características das crianças,

não só em termos de história de vida, mas de classe social, etnia, sexo e

religiosa, sendo essa diversidade rica em contradições e alvo da intervenção

pedagógica, isto é, como educadores precisamos tomar conhecimento da

realidade infantil como ponto inicial, desenvolvê-lo e organizá-lo, pensando em

um trabalho significativo, planejado e consistente.

Finalizando com Paulo Freire (1996, p. 34) se referindo ao professor como

pesquisador não como qualidade ou forma de ser ou em exercer sua função de

ensinar, mas “tendo na natureza da prática docente a indagação, a busca, a

pesquisa”. Onde ninguém forma ninguém, e sim cada um forma a si próprio.

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