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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A ARTE DE LER MACHADO DE ASSIS
NO ENSINO SUPERIOR
Por
Isabela Nascimento da Silveira de Mendonça
Orientadora
Prof. Dina Lucia
Rio de Janeiro
2010
9
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A ARTE DE LER MACHADO DE ASSIS NO ENSINO SUPERIOR
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Docência do
Ensino Superior.
Por: Isabela Nascimento da Silveira de Mendonça
10
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, aos meus pais pela
dedicação, amor e educação que me
ofertaram. Sem eles nada seria
possível. Ao meu filho Henrique
Eduardo que irradia minha vida com a
sua luz, dando-me vontade de vencer
sempre. A minha mãe Jurema por ter
me oferecido e financiado este curso
para o enriquecimento dos meus
saberes. A Deus por tudo que tenho
conseguido alcançar, apesar das
dificuldades da vida.
11
DEDICATÓRIA
Dedico aos meus pais Abel e Jurema por
reconhecimento do valor que têm em
minha vida. Ao meu filho Henrique
Eduardo que tornou a minha vida muito
mais bela e doce, com o seu sorriso e seu
jeito de ser. A minha sobrinha Thalia com
carinho por também iluminar os meus
dias. A minha irmã Amanda por ter me
incentivado a ingressar no curso. A Deus
sempre, por estar direcionando o meu
caminho.
12
Resumo
Machado de Assis marcou presença na Literatura Brasileira com o seu jeito
inovador de escrever, surpreendendo a todos da época. Sempre atual por ter
apresentado em suas obras temas que são atemporais: traição, adultério,
imoralidade, política, racismo, preconceitos, entre outros.. Além dos temas
que sempre serão contemporâneos, Machado faz uma análise psicológica
profunda dos personagens, refletindo sobre suas atitudes.
O leitor participa das obras de Machado, espelhando-se nelas, por ter
vivenciado ou se assemelhar com alguma situação ocorrente nas obras. A sua
maneira instigante de escrever, a sua linguagem erudita, as ironias presentes
e digressões faz de sua obras uma relíquia que estará sempre em alta na
Literatura. Memórias Póstumas de Brás Cubas inaugurou a fase realista, e
atraiu olhares por ser narrado por um defunto-autor, sendo contado a história
do fim para o começo.
Machado não teve medo de inovar, de não se ater em regras da época.
Escreveu como quis, como achou melhor. E nos encantou, tornando-se
presente, por intermédio de suas obras, ele estará sempre vivo. A literatura o
imortalizou.
O presente estudo de Machado demonstrará sua importância, passando
por sua biografia, sugestões de aula, o nosso papel como orientadores,
análise de obras, enfim, conheceremos mais a fundo este magnífico escritor:
Machado de Assis.
13
Metodologia
Serão apresentadas possíveis maneiras de como ler as obras de Machado de Assis no Ensino Superior, demonstrando a sua importância, a partir da
discussão interativa de obras e contos selecionados.
A biografia do autor será apresentada brevemente, para que possamos
entrar na forma pedagógica de como mostrar aos alunos de Ensino
Universitário que a leitura é uma arte e precisa ser desvendada aos poucos,
por intermédio de estudos do autor, de textos críticos, e de uma leitura e
releitura do texto.
Machado de Assis tem uma forma peculiar de escrever, refletindo a
realidade das épocas vividas em suas obras, na maioria das vezes. Por isso,
seus textos apresentam um grande labor estético que deixaram marcas para o
enriquecimento de nossa Literatura. Depois de seu centenário, Machado
continua nos tempos modernos passando de geração para geração o seu
enorme legado.
A partir de estudos metodológicos, veremos como poderemos nos
aprofundar em obras de Machado de Assis, realizando uma leitura de fácil
compreensão com dinamismo e interação. A monografia estará sendo
baseada em obras na íntegra, estudos críticos e sites do autor que nos servirá
como fonte para análise das obras contos e conhecimento mais detalhado do
autor. Utilizaremos citações para podermos nos situar melhor na análise e
interpretação das obras, auxiliando principalmente os leitores que não tiveram
a oportunidade de ler Machado.
14
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
A Importância de Machado de Assis
CAPÍTULO II
A Arte de Ler
CAPÍTULO III –
Analisando obras e contos no Ensino Superior
CONCLUSÃO
ANEXOS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
WEBGRAFIA
BIBILOGRAFIA CITADA
Conclusão ÍNDICE
15
INTRODUÇÃO
Este trabalho acadêmico tem como objetivo geral perceber a
importância da leitura das obras de Machado de Assis,
demonstrando como podemos incentivar os alunos de Ensino
Superior à leitura das mesmas.
A maioria dos alunos chega ao Ensino Superior com o hábito de
ler por ler, sem refletir sobre a obra, criticá-la, expressando suas
opiniões. A leitura não é atrativa e não proporciona um feedback ao
aluno, que lê sem entender. Pretendo demonstrar a importância da
leitura e releitura das obras de Machado de Assis, de modo que os
alunos possam aprender com o ato de ler,
deixando de lado a premissa de que as obras de Machado de Assis
são de difícil compreensão, por apresentarem uma linguagem
rebuscada. Deste modo, incentivando os alunos a se aprofundarem
no assunto exposto na obra em questão, a partir de pesquisas e
discussões em sala de aula, cada um podendo explanar sua opinião,
sendo orientados pelo professor.
Apontarei as principais obras de Machado, tais como: Memórias
Póstumas de Brás Cubas; Dom Casmurro; Quincas Borba, Helena,
Papéis Avulsos e O Conto Pai Contra Mãe. O estudo será delimitado
a partir de sites, textos críticos, bibliografia consultada e Biografia do
autor, ou seja, através de uma vasta pesquisa, pois Machado de
Assis tem uma variedade de obras que abrange diferentes temas e
estilos. Mas iremos nos ater em somente algumas obras, mas
detalhadamente, pois o objetivo central do trabalho é aprender a
incentivar os alunos à leitura de Machado de Assis, apresentando
algumas formas interessantes para isso.
Como discutir e apresentar as obras de Machado de Assis em
sala de aula no Ensino Superior?. Esta é a pergunta problema a ser
tratada no trabalho que tenho como hipótese de que se fazendo uma
16
leitura reflexiva e interativa, por intermédio de uma dinamicidade em
grupo, os alunos motivados terão o prazer de ler Machado de Assis
CAPÍTULO I
A IMPORTÂNCIA DE MACHADO DE ASSIS
“Palavra puxa palavra, uma idéia traz a outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução, alguns dizem que assim é que a natureza
compôs as suas espécies”. ASSIS ( 1884, p.1)
( Primas de Sapucaia)
A importância de Machado de Assis para a nossa leitura e Literatura Brasileira é
reconhecida por nós leitores, a partir do momento em que deixamos de lado qualquer
pressuposição do autor. Linguagem rebuscada, ultrapassada... é o que muitos críticos dizem
sem ao menos chegarem ao conhecer o mundo vasto de obras de Machado de Assis. Mas
não é só isso, o mais importante é perceber e se apaixonar pela análise e profunda e reflexiva
que realiza do ser humano, abordando temas sempre atuais, realizando uma sondagem
psicológica das relações sociais e principalmente a interior. Convido a todos a uma viagem
pelos personagens do autor nos quais muitas vezes iremos nos encontrar.
“ Eu não sou um Homem que recuse elogios . Amo-os; eles fazem bem
à alma e até ao corpo. As melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou
brindado”. ASSIS (1892) -(Conto A Semana)
17
1.1 – A BIOGRAFIA DE MACHADO DE ASSIS
Joaquim Maria Machado de Assis, esse é o nome de um dos maiores escritores da
Literatura Brasileira. Com uma extensa obra incluindo poesias; romances; contos e até
mesmo teatro, Machado de Assis foi reconhecido pela sua maneira peculiar de escrever.
Para isso, ele teve que superar as dificuldades da vida: perdeu sua mãe na infância e foi
criado pela madrasta; estudou em escolas públicas e até mesmo sofreu preconceitos por ser mulato. Sabedor das intempéries que a vida oferece e que não o poupou, mesmo
assim ele seguiu em frente vendo um sonho que o impulsionava à grande missão: a de
formar cidadãos responsáveis e questionadores. Machado foi galgando, aos poucos, o
seu espaço. Foi aprendiz de tipógrafo e também revisor e funcionário público.
Iniciou sua carreira de escritor, aos 16 anos, publicando o seu primeiro poema
intitulado Ela, na Revista Marmota Fluminense, demonstrando uma imensa sensibilidade
e coragem de se expor. Aos 17 anos, foi aprendiz de tipógrafo e também revisor e funcionário público. Trabalhou como colaborador de revistas e Jornais do Rio de Janeiro.
Marcou presença na Academia de Letras, sendo um dos fundadores e o primeiro
presidente.
As obras do autor estudado perpassaram por duas fases do autor: Romantismo e
Realismo. Sendo assim, suas obras apresentam características comuns a cada momento
da época em que foram escritas. No Romantismo apresentam relacionamentos amorosos,
tendo caráter romântico como essência. Já no Realismo, realiza uma análise dos
personagens, destacando questões psicológicas e descrevendo necessidades, vontades
e desejos dos personagens, retratando características do Realismo Literário. O seu
primeiro livro Queda que as mulheres têm para os tolos foi publicado em 1861. O primeiro
livro de poesias foi nomeado Crisálidas e lançado em 1864. Daí, Machado não parou mais
e escreveu Ressurreição, lançado em 1872, A Mão e a Luva 1874, Helena 1876, Iaiá
García 1878, Memórias Póstumas de Brás Cubas 1881, dentre outros. Este último foi
considerado um marco do Realismo da Literatura Brasileira. Machadinho, como era
18
conhecido, foi e sempre será um transformador. Seus livros, poemas, contos são de suma importância por auxiliarem na formação de pensamentos firmes. Quem o lê adquire uma
perspicácia para entender o mundo e compreender a realidade que nos cerca. Casado
com Carolina Novais, para quem fez uma poesia após sua morte em 1904, tendo o nome
dela como título (“À Carolina). Depois da morte de sua esposa, Machado ficou muito triste
e começou a desmoronar e ficar doente. Escreveu para ela: “ Foi a melhor parte de
minha vida, e aqui estou só no mundo”
Machado de Assis infelizmente morreu de câncer em 1908, rodeado de amigos e
consagrado. Foi enterrado ao lado de sua esposa como prometido e as sua palavras lá
ficaram marcadas: “Querida, ao pé do leito derradeiro em que descansas dessa longa
vida. Aqui venho e virei, pobre querida. Trazer-te o coração de companheiro”.
O seu centenário foi comemorado, pois apesar de ter muito tempo nos deixado,
Machado de Assis nos marcou com o seu grande legado: obras que se fazem presentes
até hoje em matéria e em valor, por apresentarem temas ainda atuais, como o racismo, a
imaturidade política, o feminismo. Sem Machado e o seu estilo peculiar de escrever a Literatura Brasileira não seria a mesma.
1.2- A Importância da leitura de Machado de Assis para a
Literatura Brasileira
Machado de Assis enriqueceu a Literatura Brasileira, com seus romances, contos,
poesias e dramaturgias. Ele conseguiu permanecer vivo, por intermédio, de suas obras,
por apresentarem uma leitura instigante, imersa em temas que continuam sendo atuais.
Suas obras perpassam pela loucura ( O Alienista) , traição, vaidade( O Espelho), amor
impossível, amor realista (Memórias Póstumas Brás Cubas), ou seja, por todas as
situações que continuamos vivenciando. O autor analisa as relações sociais, românticas,
19
colocando os seus personagens em momentos em que nós algum dia já passamos ou
ainda iremos passar. Acredito que vem daí a paixão por este grande escritor que se
preocupava com a sociedade, com a política e com os problemas da humanidade. Tanto
que o seu personagem famoso Quincas Borbas demonstrou como é viver em uma
sociedade na qual se avalia o ser humano pelo que se tem e não pelas suas atitudes. Ele
realiza uma leitura de mundo reflexiva e libertadora. É o que chama atenção em Machado
de Assis: como ele já tinha em sua época uma visão psicológica e social do ser humano e
de suas relações? O autor apresentava uma enorme capacidade de realizar uma
interpretação da humanidade, colocando em suas obras todo o resultado, tornando-se
assim um eterno escritor contemporâneo, fazendo-nos viajar por personagens
interessantes e nos levando a conhecê-los psicologicamente.
A grandeza de seu estilo e linguagem rebuscada faz de seus escritos uma relíquia
que muito orgulha aos brasileiros, uma vez que podemos apresentá-las ao exterior sem
nada dever aos maiores escritores do mundo. Esse menino pobre, que venceu as
barreiras do preconceito racial e da pobreza, fez seu nome tornar-se imortal.
Reproduzirei um trecho de Dom Casmurro pedindo ao Imperador para intervir na
decisão de sua mãe em torná-lo padre para que pudesse namorar Capitu:
“Em caminho encontramos o Imperador, que vinha da Escola de Medicina. O ônibus que
íamos parou, como todos os veículos; os passageiros desceram à rua e tiraram o chapéu,
até que o coche imperial passasse. Quando tornei ao meu lugar, trazia uma idéia
fantástica, a idéia de ter com o Imperador, contar-lhe tudo e lhe pedir intervenção. Não
confiaria esta idéia a Capitu. “ Sua Majestade pedindo, mamãe cede”, pensei comigo”.
ASSIS ( 1899, p.25)
Variadas vezes gostaríamos que alguém interviesse pela gente e melhor ainda se
fosse um Imperador com toda a sua imponência. Como pudemos ver Machado faz seus
personagens a nossa semelhança, como pensamos ou gostaríamos de pensar e agir. E
escreve este trecho com um certo riso e humor.
Em Memórias Póstumas de Brás Cubas há um trecho em que o protagonista
defunto autor descreve um momento da criação de um emplasto anti-hipocondríaco “Brás
Cubas” destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. Vejamos:
“Com efeito um dia pela manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se
uma idéia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a
20
pernear, a fazer as mais arroadas cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu deixei-me
a contemplá-la . Súbito deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a
forma de um X: decifra-me ou devoro-te”. ASSIS (
Sem Machado de Assis a Literatura Brasileira teria tido uma lacuna irreparável, porque
se aprende com ele a não se importar com os preconceitos, a crer que somos capazes, apesar dos
obstáculos e injustiças da vida, a observar ao mundo ao redor e ver que a diversificação faz parte do
jogo da vida e nos ensina tanto, respeitar os limites dos outros e principalmente saber olhar para o
interior das pessoas, analisá-lo, sem julgar, permitindo ver além das aparências e dos poderes
financeiros
1.3- Apresentando as duas fases de Machado de Assis
“ O ponto mais alto e equilibrado da prosa realista brasileira acha-se
na ficção de Machado” Alfredo Bosi ( 1987,p.193).
A Literatura Brasileira tem sua história dividida em duas grandes eras, que
acompanham a evolução política e econômica do país: a Era Colonial e Era Nacional.
Sendo que Machado de Assis é inerente a Era Nacional que abrange o Romantismo e o
Realismo. A Literatura é uma forma de expressão de cultura, deste modo o autor faz parte
desta linda maneira de expressar cultura, escrevendo em dois estilos diferentes:
romântico e realista.
O Romantismo surgiu em 1836 e foi até 1881. Inicia-se com Gonçalves Dias, com
Suspiros Poéticos e Saudades e termina com Memórias Póstumas de Brás Cubas com
Machado de Assis ( obra realista). Nos romances de Machado de Assis encontramos
algumas novidades, pois ele não segue como os outros as características do romantismo
21
( subjetividade, mal do século, ultra-romantismo, individualismo). Ele arriscou e criou
personagens que ambicionavam, sobretudo, mudar de classe social, ainda que isso lhe
custasse sacrificar o amor. Em oposição aos autores românticos, Machado dá para as
heroínas de seus romances do século XIX uma força mais objetiva, capazes de direcionar
a ação. Mas ele faz de um jeito que a obra não deixa de ser romântica.
As obras mais conhecidas durante este período Romântico são: Ressurreição, A Mão
e a luva, Helena e Iaiá García.
A Mão e a Luva é um exemplo de que Machado de Assis escreve da maneira a obter
a atenção do leitor, seu modo de apresentar os capítulos não seguem uma forma linear,
isso muito instiga a curiosidade de quem o lê, ou seja, a leitura não é fatigante. Essa
técnica enobrece o livro.
O Realismo foi um movimento artístico da segunda metade do século XIX.
Caracteriza-se por uma abordagem objetiva da realidade e de temas sociais.
Teve como marco inicial a obra de Machado de Assis: Memórias Póstumas de Brás
Cubas, por conter uma análise crítica da época, de uma forma que só Machado sabia
fazer. Esta obra foge às formas tradicionais e que muito surpreende o leitor.
Revelando-se mais maduro, nesta segunda etapa de sua carreira,.produziu uma
ironia mais feroz, retrata um humor áspero em relação a que se fala. Nesta fase podemos
destacar as seguintes obras realistas do autor: Quincas Borbas, Dom Casmurro, Esaú e
Jacó, Memorial de Aires. E também podemos ressaltar alguns contos marcantes como: O
Alienista, A cartomante, A missa do Galo, Uns braços, O espelho.
O realismo foi a fase em que as pessoas estavam cansadas com a hipocrisia social,
focalizando na Literatura os fatos tais quais apareciam na vida real, despindo a ficção da
fantasia. Machado não queria agradar os leitores, mostrava a realidade como ela é, as
vezes cruel e cheio de injustiças.O mal podendo vencer o bem. Foi na verdade um divisor
de águas, um escritor em potencial que lutava em não mascarar a verdade e sim dizê-la
mesmo que para isso tivesse que se indispor com pseudos moralismos.O jeito sublime
de escrever do Romantismo deu lugar a um molde da língua mais clássica.
22
“ Eu sinto a nostalgia da imoralidade. Descobri
uma lei sublime, a lei da equivalência das janelas, e estabeleci que o modo de compensar
uma janela fechada é abrir outra, a fim de que a moral possa arejar continuamente a
consciência”
( www.machadodeassis.net)
CAPÍTULO II
A ARTE DE LER
A leitura torna-se um ato prazeroso a partir do momento que adquirimos o hábito de ler. Ler por ler não traz benefícios algum, pois não aprendemos nada com uma leitura fria.
Muitos estudantes, arrisco dizer a maioria,chegam à Universidade com o péssimo hábito
de ler por ler para responder perguntas banais sobre o livro.
“ A arte de viver consiste em dizer em tirar o maior bem do maior mal”
(www.paralerepensar.com.br/machadodeassis ).
2.1- O papel do professor na orientação da leitura
23
Na Faculdade, acredito que os alunos aprendem a ler de outra forma, pois são muito mais exigidos. São variados textos, livros que enriquecem os alunos com o tempo,
desenvolvendo a escrita, a cultura e sua maneira de perceber o ato da leitura.
Para muitos ler é cansativo, chato e monótono. E, infelizmente, a leitura não é uma
prática tão realizada em nosso país. As livrarias sentem por isso.
Para gostarmos de uma certa leitura precisamos nos aprofundar e nos deixar levar pela
história, tentando vivenciar aqueles momentos, realizando uma viagem ( da ficção para a
realidade). O livro sempre traz algo para a realidade ou tira dela para se espelhar.
Refletir sobre a obra, interessar-se pelo autor, pesquisar sobre ele, buscar o
significado de vocábulos desconhecidos, ler e reler o livro são alguns dos primeiros passos
para uma boa leitura. Nós aprendemos muito com a leitura, como exemplo: técnicas
utilizadas, figuras de palavras, de linguagem, neologismos. A escrita melhora muito e até
mesmo a fala.
Precisa haver comprometimento com a leitura. Ela nos leva ao conhecimento do
mundo, por trazer perspectivas divergentes deste. Já segundo Leonardo Boff, devemos ter
um conhecimento prévio de mundo para o conhecimento da leitura. Cito: “ cada um lê com
os olhos que tem. E interpreta onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um
ponto. Para entender o que alguém lê, é necessário saber como seus olhos e qual é a
visão de mundo. Isto faz da leitura, uma releitura. Sendo assim, fica evidente que cada
leitor é co-autor.” ( jhonatascabral.word.press.com)
Devemos criar hábitos para a leitura, desenvolvendo nos alunos habilidade para isto.
Terão como conseqüência o conhecimento pleno, criatividade e imaginação.
O erro de não saber ler direito vem desde a infância até o ensino fundamental. Crianças
que não são motivadas pela leitura, que os pais não contam histórias, não compram gibis
para os seus filhos; adolescentes que acham os livros chatos, cansativos e não são
incentivados com aulas criativas, demonstrando que os livros não são apenas histórias sem
nexo. E que eles podem aprender muito com elas. Pedir para que eles leiam, tragam suas
opiniões para discutir em sala de aula.
Machado de Assis utiliza vocábulos desconhecidos, eruditos, faz muitas comparações,
apresenta ironia, figuras de linguagem. Os seus personagens são complexos, pois
Machado os construía de dentro para fora. Como Nelson Motta disse: “Machado não
jogava as palavras fora.”. ( cartastrocadas.wordpress.com). Por isso, é necessário haver
24
um trabalho em conjunto, integrado. O professor e os alunos devem ter uma boa relação
em sala podendo, desta forma, aprenderem juntos. Cito um trecho de Paulo Freire retirado
de seu livro Pedagogia da autonomia. “A dialogicidade não nega a validade de momentos
explicativos, narrativos em que o professor expõe ou fala do objeto. O fundamental é que
professor e alunos saibam que a postura deles é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e
não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve. O importante é que professor e alunos
se assumam epistemologicamente curiosos.” Paulo Freire( 1996,p.86).
Nós devemos mostrar a importância de ler e reler mais tarde com maturidade, pois
sempre surge novas visões mais amplificadas sobre o livro. Assistir a filmes sobre o livro,
ler textos sobre a obra, enfim tentar ao máximo aprofundar o seu estudo.
2.2- Como atrair os olhares para as obras de Machado
Atrairemos os olhares para as obras de Machado de Assis a partir do momento que
demonstramos a magnitude de suas obras, ao interpretá-la, analisando-as profundamente.
Perceber cada detalhe da obra, sentindo as intenções do autor. Quando ele estava
analisando o comportamento humano, criticando-o ou não e quando o autor estava usando
de ironia, realizando digressões.
Para gostarmos de um autor precisamos entendê-lo. Estudar suas características,
interessar pela sua história, navegar em suas palavras compreendendo o significado delas.
Machado de Assis colocou em seus textos temas ainda atuais, ou seja, seus livros
estão sempre contemporâneos. Caracterizam-se, portanto pela atemporalidade.
Sempre escutamos alguém criticar Machado de Assis, dizendo que a idolatria que o
damos é um exagero. Mas, na verdade, é inegável a importância de Machado para a
história literária. Ele deixou uma esplêndida coleção de obras que só vieram a contribuir
para formação de leitores. Hoje, em dia, esta importância está sendo mais divulgada e
25
incentivada. Há organizações preocupadas com a formação de leitores que leiam com
prazer, e que tenham benefícios com esta leitura. Machado de Assis está sempre em
voga.
A melhor maneira para realmente atrair os alunos para a leitura de Machado de Assis é
organizar grupos para trocarem opiniões, discutirem, juntamente com o professor que
estará orientando as idéias, auxiliando para sanar as dificuldades para que depois
apresentem uma aula em seminários e entreguem um trabalho com a percepção deles ao
professor. Esta interação possibilita aos alunos um grande enriquecimento, pois eles
ouvem diversas opiniões. As vezes, pensamos algo que achamos estar errados e ao ouvir
o outro as nossas incertezas podem ser esclarecidas de uma forma mais clara e
agradável.
Ler com os alunos trechos de livro e analisá-los é um bom incentivo para que eles se
interessem pela leitura. Dizer somente leia tal obra produz um certo receio pelo aluno,
ainda mais quando chegam cheios de preconceitos por acreditarem em estereótipos.
Portanto, temos que fazer de tudo para desrotular o autor e mostrar o seu valor.
Que tal ler com eles contos, poemas, compará-los com outros autores. Brincar de
recitar, de continuar o poema, de escrever um poema do mesmo tema. Motivar os alunos a
escreverem, desenvolvendo a criatividade e quem sabe formando novos escritores.
O ato de ler é uma habilidade. Como diz Magda Soares em seu livro Letramento: “ Ler
é um conjunto de habilidades e comportamentos que se estendem desde simplesmente
decodificar sílabas ou palavras”. Soares ( 1998, p.48).
2.3 Conhecendo as obras
O primeiro romance do autor publicado foi Ressurreição, publicado em 1872. Este
romance demonstra sua forma de escrever: análise, o psicológico, o monólogo interior, o
desenvolvimento alinear da intriga, narrativa complexa. Ele rompeu com o nacionalismo
26
literário, presente nas características do Romantismo. Na verdade deixou fortes
características do romantismo da época para trás, realizando seu próprio estilo. Machado
disse a respeito de seu livro: “Não quis fazer romances de costumes; tentei os esboços
de uma situação e o contraste de dois caracteres; com esses simples elementos busquei o
interesse do livro”. ( http//pt.shvoong.com/books).
O romance conta a história de um homem Dr. Félix que apesar de não acreditar no
amor acaba se apaixonando loucamente por uma mulher chamada Lívia. Porém o seu
comportamento instável e ciumento, faz com que o seu relacionamento chegue ao fim.
Sua obra a Mão e a Luva foi a segunda obra de Machado ( 1839-1905), sendo
publicado em 1874. Tem como personagem principal Guiomar que tem três pretendentes:
Jorge, Estevão e Luis Alves. Cada um apresentando uma personalidade: calculista,
sentimental, e ambicioso, respectivamente. Guiomar apresenta uma personalidade
complexa e Mrs. Oswald tem astúcia e verossimilhança. Ressurreição é um romance sóbrio
e ao mesmo tempo instigante.
Em Iaiá García é retratada a sociedade contemporânea através de casamentos
arranjados, amores proibidos. O conflito social das classes é representado pelo romance
de Jorge e Estela, o rico e o pobre. O narrador apresenta as peculiaridades dos
personagens, por intermédio de descrições. Vejamos um trechinho do romance: “ No
momento em que começa esta narrativa tinha Luís García seus quarenta e um anos. Suas
maneiras eram frias, modestas e corteses, a fisionomia triste. Um observador atento podia
adivinhar por trás daquela impassividade aparente ou contraída as ruínas de um coração
desenganado. Assim, era, a experiência, que foi precoce, produzira em Luís García um
estado de apatia e ceticismo, com seus laivos de desdém”.( www.nead.unama.br)
Deixarei Memórias Póstumas, Quincas Borbas e Dom Casmurro para uma análise
mais detalhada no capítulo três. Passamos, então, para o romance Helena de 1876, a
protagonista morre e a história perpassa por tudo que ela viveu antes. Helena era uma
mulher equilibrada, linda, sensível e rica, chamando a atenção de toda a sociedade. É uma
mulher de fibra que cuida de toda a sua família. O enredo começa com uma morte, mas
com ela, o desaparecimento, tudo retorna à situação anterior à abertura do testamento do
Conselheiro.
A penúltima obra de Machado foi Esaú e Jacó, uma obra-prima de realismo lírico. O
livro conta a história de dois irmãos, Pedro mais cauteloso e Paulo mais arrojado. Eles
27
brigam muito. A narrativa é construída pela contraposição de duas personalidades e
opiniões divergentes. A partir desta diferença de temperamento, Machado mostra a sua
“veia” histórica, demonstrando a disputa política entre monarquias e republicanos.
É o romance que mostra a ambigüidade, as duas faces da verdade, que são
exatamente, Pedro e Paulo.
As divergências entre os irmãos aparecem em todo o romance, sendo em que dois
momentos eles juram ao túmulo de duas pessoas muito queridas. Porém o primeiro
juramento não foi cumprido, e o segundo ao final do livro realizado perante a mãe
agonizante, foi mais forte prometendo ambos amizade eterna. Será que conseguiram? Não
sabemos. O livro chegou ao fim. Cito um trecho do texto:
“Não se luta contra o destino, o melhor é que eles nos peguem pelos cabelos e nos
arraste até onde queira alçar-nos ou despenhar-nos”. (www.pribi.com.br/e-books).
Memorial de Aires é o último romance de Machado, publicado no ano de sua morte,
1908. É conhecido como o romance mais projetado de sua personalidade. Este romance foi
escrito pós a morte da esposa de Machado, Carolina. Por isso, apresenta um tom
melancólico quando trata da velhice, solidão e do mundo D. Carmo.
O livro apresenta a forma de um diário e o narrador onisciente. O autor mais uma vez
surpreende os leitores. A morte de uma protagonista algo muito difícil de ser visto em
Helena e agora um livro em forma de diário. E principalmente o livro que o protagonista é
um defunto. Machado soube inovar de uma maneira peculiar e em uma escrita perfeita,
detalhada.
Citarei um pedaço da linda poesia Crisálidas de Machado:
“ Estávamos a sós e pensativos
Eu contemplava-a. Da canção saudosa
Como que em nós estremecia um eco.
Ela curvou a lânguida cabeça ...
Pobre criança!- no teu seio acaso
Desdêmona gemia? Tu choravas,
28
E em tua boca consentias triste
Que eu depusesse estremecido beijo;
Guardou a tua dor ciosa e muda
Assim te beijei- te descorada e fria
Assim, depois tu resvalaste à campa
Foi, com a vida, tua morte um riso,
E a Deus voltaste no calor do berço
(machado.mec.gov.br)
Este trecho aparece na metade da poesia. Podemos perceber um tom romântico.
Machado seguiu as regras da métrica e demonstrou a busca incansável de um sonho e o
romantismo de uma paixão e até mesmo aquela idolatria sentida pelos apaixonados de
ficar contemplando um ao outro. A poesia é de 1864, ano que o pai do escritor morreu.
A poesia Livros e Flores do autor também apresenta romantismo. Vejamos:
“ Teus olhos são meus livros
Que livro há aí melhor
Em que melhor se leia
A página do amor?
Flores me são teus lábios
Onde há mais bela flor
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?
( www.jornaldepoesias.jor.br/ machado)
Como vemos, as poesias de Machado são simplesmente uma declaração de amor. Linda
e fácil de entender, e apesar de suas metáforas, compreendemos sem dificuldades. Teus
olhos são meus livros, ou seja, ele vê ela tanto em seus pensamentos, como seus livros.
Ele compara a importância de ambas.
29
Em se tratando de contos, digo a respeito de A Cartomante onde observamos
características marcantes de Machado. A utilização de metáforas, comportamento instável
de seus personagens. Mostra a visão pessimista e otimista da humanidade, realizando uma
análise psicológica da divergência humana. O autor apresenta uma análise profunda. O
conto demonstra conversas que acontecem durante a história colocando o leitor a parte de
todos os detalhes. Como tema há um triângulo amoroso e um adultério.
Selecionei algumas obras para comentar para que percebam a raridade que são essas
obras. E para quem não as leu, sinta o gosto de quero ler e para quem as leu sinta o
gostinho de quero mais. Ler e sempre ler Machado, pois ele escreve de uma forma
apaixonante. E só sentimos isso, quando realizamos uma leitura continuada, para
percebermos os detalhes da obras, as metáforas, o romantismo, o não romantismo, as
análise psicológicas. Com Machado nos aprofundamos na história da época pelas críticas e
ironias presentes. E ficamos mais reflexivo ao ler os seus pensamentos em arte. Machado
sempre Machado de Assis, o autor de todas as épocas.
2.4- Sugestões de aula
Temos uma imensa obra de Machado. Precisamos selecionar previamente antes da aula, realizando um planejamento. Na aula deve haver interação. Somente o professor
falar, ou não aceitar as opiniões dos alunos ficou lá no passado quando os professores
ainda acreditavam que o autoritarismo era a melhor saída. Como diz Paulo Freire:
“ Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém” ( 1996- capa).
É necessário que os livros solicitados sejam lidos antes, pois caso contrário, não vai
haver nenhuma compreensão. Podemos grifar os trechos melhores e significativos que
levem ao entendimento de toda a leitura e comentar e discutir com os alunos. Mas não
podemos nos deter somente nisso, acho importante sugerir a leitura de textos críticos
30
sobre a obra, sobre o autor para a amplificação dos pensamentos. Pois ler Machado não
é simplesmente ler uma história de romances, de adultérios, é ir além, já que o autor quer
isso da gente.
Ler poesias juntamente com os alunos, pedindo para que cada um leia uma parte
interpretando-a. E depois pedir para fazer uma análise.
Outra sugestão é comparar seus contos com poesias para perceber como o autor
transforma sua maneira de escrever, se ele foge ou não de seus temas, técnicas,
utilização de figuras de linguagem.
Realizar as aulas em roda, estando o professor mais perto dos alunos faz com que o clima fique mais agradável e receptivo. E a idéia de que o professor é o sabe tudo fica
mais distante.
Temos bons resultados ao solicitar trabalhos em grupos, aulas em seminário, assistir a filmes que apresentem a história dos livros, como A Capitu.
As vezes é bom mesclar trabalhos individuais com trabalhos em grupos, pois assim
percebemos como o aluno comporta-se nas mais variadas situações.
A criatividade do aluno deve ser incentivada por todas as formas. E a sua opinião deve
ser respeitada por mais que seja contrária ao do professor. Somos orientadores,
educadores e não os donos da verdade. Paulo Freire diz: “ Não há doscência sem
discência, as duas se explicam e seus sujeitos apesar das diferenças que os conotam,
não se reduzem à condição de objeto, um do outro” ( 1996,p.23).
Devemos utilizar a nossa psicologia da aprendizagem, estudando as melhores
metodologias, percebendo qual é a melhor maneira de incentivar, motivar os alunos a
lerem Machado de Assis.
A leitura requer atenção, paciência, vontade. Como tudo na vida, devemos ter prazer
no que fazemos, caso contrário não ganhamos nada com aquilo. Ler Machado é mais do
que ler apenas histórias, é fazer parte da história, é mergulhar em temas atuais, é refletir
sobre os personagens e sobre nós mesmos. Machado nos impulsiona a interagir com
suas narrativas e ficar atento as suas ironias, metalinguagem,
Perceber as obras, ler e sentir os personagens, analisá-los psicologicamente é uma
maneira de entender Machado. Compreendendo Machado, entendemos nós mesmos,
pois ele trata da gente, do ser humano. Como nós, muitas vezes, desejamos, Machado
31
ultrapassa as regras das épocas e faz o seu jeito, suas regras. O mal vencendo o bem, o
morto narrando a sua própria história, enfim a todo o momento o autor nos surpreende
com uma nova maneira de escrever, mas sempre num mesmo sentido: analisar a alma
humana, como faz em seu Conto O espelho; o adultério acontecendo com uma mulher
insatisfeita com seu marido em A Missa do Galo.
Em sala de aula, precisamos mostrar as características marcantes de Machado,
dando exemplos com as citações do livro, realizando diálogos com as obras.
Perceberemos como Machado incrivelmente será contemporâneo, pois ele foi muito
inovador para a sua época. Uma época de tabus, cheio de limites, onde tudo era feio,
onde as mulheres eram submissas. Por isso, suas personagens são heroínas, corajosas,
sábias e belas.
Analisando, interpretando, contextualizando as obras com os alunos,
desenvolveremos neles a autonomia. Perceberão que o estigma de Machado, o medo ou
receio de lê-lo vem de pessoas que não leram Machado profundamente, que não se
interessaram em conhecer a sua história, os seus objetivos.
Uma aula dinâmica que saia daquela mesmice de ler ou de deixar os alunos lerem
sozinhos ou pior a “ educação bancária” ( memorização), onde nada se aprende e com
isso nada se transforma. Temos que fazer uma educação” problematizadora” onde ao
diálogo e a dialética que nos dão resultado. Cito Paulo Freire ( Pedagogia do oprimido): “
A educação bancária tem por finalidade manter a divisão entre os que sabem e os que
não sabem , entre os oprimidos e os opressores. Ela nega a dialogicidade, ao passo que
a educação problematizadora funda-se justamente na relação dialógico-dialética entre
educador e educando; ambos aprendem juntos”.( 2005,p.100). Necessitamos de um
feedback da leitura,e nós orientadores temos como dever desvendar os mistérios de
Machado que ficam por detrás de uma metalinguagem que dificulta os mais preguiçosos e
desinteressados. Deste modo, a interação, é a melhor saída e os seminários obrigam os
alunos a estudarem e a desenvolverem os seus talentos. O que aprenderam? O que
entenderam?.
Comparar fatos das obras com a vida real, com as mais variadas situações que
estamos envolvidos ou vemos alguém envolvido, faz com que nos interessemos muito
mais pela obra. Elas ficam mais atraentes e muito mais fáceis de entender.
32
Segundo Celéstin Freinet, “a escola nunca é uma parada. É a estrada aberta para os
horizontes que se devem conquistar” ( 2004,p.47). Continuando com o pensamento de
Freinet, pois ele explicita a questão da existência de educadores que fazem com que os
alunos engulam a massa de conhecimentos que irá encher cabeças ingurgitadas até a
digestão e a náusea. Segundo ele, a arte deles é a de empaturramento e
condicionamento, e também da medicação suscetível de tornar assimiláveis as noções
ingeridas. ( 2004, p.55). Desta forma não desenvolvem a criação e as habilidades dos
alunos. Por isso, o autor nos pede: ” Conserve nos seus alunos o apetite natural.Deixe-os
escolher os alimentos no meio rico e propício que vocês lhe prepara. Então, você será um
educador.” (2004,p.55).
CAPÍTULO III
Analisando obras e contos no Ensino Superior
Memórias Póstumas de Brás Cubas, um livro surpreendente, inovador e instigante. Personagem leviano, um defunto-autor narrando a sua própria morte. Machado
de Assis marcou sua presença na fase realista literária, inaugurando-a com esta sua obra
de arte. Digna de várias leituras, pois a cada leitura entendemo-la melhor. É bom também
termos um dicionário ao lado, pela linguagem erudita. A ironia e a técnica de digressões
utilizada deixam o livro muito mais interessante. A história prende a nossa atenção, por
ser um livro apaixonante. Convido a todos a navegar pela análise da obra e se deliciar
com as citações que dão o gostinho de querer ler sempre Machado, de querer ler
Memórias Póstumas de Brás Cubas.
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Quincas Borbas, outra obra de Machado que marcou a época. Neste livro podemos
conhecer mais Quincas Borba, personagem que já fez sua presença em Memórias
Póstumas. Amigo de Brás Cubas.
“ Gosto dos epitáfios, eles são, entre a gente civilizada, uma expressão daquele pio
e secreto egoísmo que induz ao homem `a morte um farrapo ao menos da sombra que
passou”. ASSIS ( 2007, p.172).
3.1- Análise da obra Memória Póstumas de Brás Cubas e Quincas
Borba
Memória Póstumas marcou a Literatura Brasileira, especialmente o Realismo. Foi publicado em 1881, engloba-se no Realismo Psicológico por ter o enfoque na análise
psicológica de seus personagens. O Romance tem como principal personagem o anti-
herói Brás-Cuba por se apresentar em uma vida inútil e desperdiçada. Simultaneamente
aos eventos da história o personagem relata suas reflexões. Sua narrativa é realizada na
primeira pessoa.
Brás Cubas é um defunto-autor que narra sua história ao contrário de todos os
livros que já lemos, do fim ao começo. Machado impressionou os leitores com a sua nova
maneira de escrever. Vejamos um trecho inicial do livro: “ Algum tempo hesitei se devia
abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar meu
nascimento ou minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas
considerações me levam a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou
propriamente um autor-defunto para quem a campa foi pro primeiro berço, a segunda que
o escrito ficaria mais galante e mais novo, Moiséis que também contou a sua morte, não
a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco”. Neste
34
parágrafo ele demonstra em sua narrativa a dúvida em como começar seu livro, decidindo
por inovar, fugindo da mesmice. Machado (2007, p.1).
O personagem Brás Cubas relata como foi o seu funeral e após digressões volta a
ordem cronológica dos acontecimentos, contando a sua infância e a sua paixão aos 17
anos. Apaixonado pela cortesã Marcela realiza todos os seus desejos com um grande
gasto, desta forma, o pai de Brás Cubas irritado o manda para Coimbra para estudar
Direito. Brás vai contando a sua vida e conta sobre a sua relação com a prostituta Marcela
dizendo que a amou “ Durante quinze meses e onze conto de réis “. Volta de viagem,
porque à mãe fica à beira da morte. E começa a namorar Eugênia, filha de uma família
pobre, mas como naquele tempo era comum armar casamentos para enriquecer mais a
família, o pai de Brás Cubas, então, estava arrumando para o filho o casamento com
Virgilia, a filha de um político, o conselheiro Dutra. Porém Virgília acaba casando-se com
Lobo Alves e tornando-se amante de Brás Cubas. Encontravam-se a casa de Dona
Plácida. O pai de Brás morre e começa uma luta entre ele e sua irmã Sabina.
Vivendo nesta confusão, reencontra seu amigo da escola, Quincas Borbas, que fal
com ele sobre o Humanitismo, doutrina filosófica de sua criação. Tinha grande carinho
pelo amigo Quincas demonstrando nestas palavras: “ uma flor, o Quincas Borbas. Nunca
na minha infância, nunca em toda minha vida, achei o menino mais gracioso, inventivo e
travesso “. Quando reencontra Brás não acredita se ele: “ o Quincas Borba! Não,
impossível. Não podia acabar de crer que essa figura esquálida, essa barba pintada de
branco, esse maltrapilho avelhentado, que toda essa ruína fosse o Quincas Borbas e era”.
Quincas Borba estava rico e filósofo, mas não conseguiu alcançar seu projeto-político.
Virgília vai para o Norte com o seu marido, abandonado Brás-Cubas, por isso começa a
namorar a sobrinha do cunhado Cotrim, mas ele morre aos 19 anos.
Brás Cubas frusta-se na tentativa de virar ministro após ter sido deputado. Brás
passa por muitos momentos de perdas: a morte de Marcela, o enlouquecimento de
Quincas Borba, Lobo Neves e Eugênia aparecem em um cortiço. Virgilia o procura já
idosa,no momento que está querendo criar um emplasto que lhe daria a fama que
desejava. Adoece e recebe visita de sua ex-amante Virgilia. Morre aos 64 anos, após um
delírio.
O personagem apresenta uma densidade psicológica, refletindo a todo o momento
sua vida . Ele é um burguês que na infância foi protegido e abastado
35
Mas em sua vida adulta ele torna-se leviano, sem conseguir alcançar nada que gostaria.
A ironia áspera é marcante nesta obra de Machado, como exemplo temos a parte em que
lê faz Quincas Borba, um mendigo que enlouquece gradativamente, defender uma
doutrina de valorização da vida. Por isso, este personagem, marca tanto a história pela
tentativa de esclarecer o modo de viver de Brás Cubas. A ironia e a digressão são
elementos importantes de sua obra. A ironia é uma maneira de demonstrar a verdade
indiretamente e para tentar confundir os leitores a respeito das declarações feitas no
discurso do livro.
A digressão interrompe o fluxo da narrativa, relatando reflexões, interrupções com os
seus pensamentos. O interessante da obra é que o leitor constantemente é solicitado a
interagir com a obra, com as situações. Desta forma, contrapõe-se, definitivamente com o
romantismo que bloqueava a imaginação. O levianismo de Brás Cubas pode ser
reconhecido nesta declaração: “ Não digo que a Universidade me não tivesse ensinado
alguma coisa; mas eu decorei-lhe só as fórmulas, o vocabulário, o esqueleto. Tratei-a
como tratei o latim- embolsei três versos de Virgilio, dois de Horácio, uma dúzia de
locuções morais e política para as despesas da conversação. Tratei-as como tratei a
história e a jurisdiplicência . Colhi de todas as cosas a fraseologia, a casca, a
ornamentação.” ( http:pt.wikisource.org).
O emplasto que tentou fazer era uma medicação sublime, um emplastro anti-
hipocondríaco destinado a aliviar também a melancolia da humanidade e para perpetuar
sua vida por saber estar perto da morte sentir que a sua vida não teve muitas conquistas.
Por isso, no final, tenta ser ministro, buscando ser reconhecido e valorizado. Desejava
mostrar valores que não soube mostrar por toda a sua vida. Vejamos um trecho: “Com
efeito, um dia de manhã, estando a passear pela chácara? pendurou-se uma idéia de
trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, e das cabriolas, de contemplá-la.
Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas até tomar a forma de um X:
decifra-me ou devoro-te”. Machado ( 2007, p.6 ).
Vejamos agora uma parte em que Brás Cubas relata como foi a sua morte e seu
velório, vale a pena: “ Expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira no mês de
agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha us sessenta e quatro anos,
rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentas e fui acompanhado ao cemitério
por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce
que chovia- peneirava uma chuvinha miúda, triste e continua, que levou um daqueles
36
fiéis da última hora intercalar esta engenhosa idéia no discurso que proferi à beira da
minha cova: Vós que o conhecestes, meus senhores vós podeis dizer comigo que a
natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que
têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu aquelas nuvens escuras
que cobrem o azul com um crepe fúnebro, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói a
natureza as mais íntimas entranhas, tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre
finado”.Machado( 2007, p.4). Percebemos os detalhes em que narra, as ironias presentes
e como ele gostaria que tivesse sido, pois ele queria ter sido noticia de jornal, desejava
ser ilustre mas não conseguiu por levar uma ida inútil, sem objetivos e por não ter garra.
O livro é composto por 160 capítulos de puro detalhe. Uma obra pensada, articulada,
instigante. Cito o Caminho para Damasco; “ Pude perceber que Brás Cubas sente-se
importante, superior, e mente para nós leitores, cito no enterro e no emplasto. Brás Cubas
diz que em seu enterro havia onze amigos, exclamando surpreso e fala sobre a noticia
que nem chegou aos jornais e à imprensa. Porém não e uma figura que mobilize uma
multidão. Ele também é considerado narcisista pela sua petulância apresentada na
seguinte frase: “ aos que gostarem do livro, que é sorte de quem o lê, se não gostarem,
lhes dá um piparote ( “ pancada com o nó no dedo”) Machado( 2007, p.35). Brás Cubas
apresenta ironias que exigem do leitor uma atenção para não se enganarem com os seus
exageros e mentiras. Esta obra foge dos moldes de obras realistas que são documentais,
fotográficas e racionalistas. Tem como principal preocupação a narração dos fatos e a
análise dos mesmos. Mas é esse jeito inovador que faz do livro uma obra especial que
marcou a nossa história literária brasileira. Quem não leu, sugiro que leia, pois esta obra é
uma arte.
Brás Cubas é um anti-herói por não ser um modelo e não ter conseguido sucesso
em nenhum setor de sua vida como acontece com os heróis das outras histórias.
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3.1.1 – Quincas Borbas
“A moral é uma, os pecados são
diferentes” ( www.pensador.info/frase)
Quincas Borba é publicado após Memória Póstumas, em 1891. Apresenta ainda
características deste porém menos intensas como a digressão, a ironia e a
metalinguagem. É considerado um desdobramento de Memórias Póstumas
principalmente por Quincas ter sido amigo de Brás Cubas. Em Memórias, Quincas Borba
de mendigo passou a ser rico e filósofo, a partir de uma herança. O livro apresenta a
crença de que só os fortes vencem na vida, sendo uma eterna batalha entre fortes e
fracos. E os fracos são “engolidos” pelos fortes.
O livro é narrado em terceira pessoa. A narrativa trata de um professor de letras,
Rubião, para quem Quincas deixa todos os seus bens com a condição que ele cuidasse
de seu cachorro. Rubião jubilava Quincas com o interesse me sua herença, já sabendo
que ele não tinha família. Buscava interesses, pois tinha a ambição de ser famoso.
Rubião se muda para o Rio e durante a viagem conhece um casal, Sofia e Cristiano.
Rubião inocente, fala sobre sua herança e faz crescer os olhos do marido de Sofia que
logo se interessa a lhe oferecer a sua casa para Rubião ficar hospedado.
Rubião acaba se apaixonando por Sofia. Quando Sofia percebe o seu interesse não
cede aos seus desejos, mas também não é áspera com ele., pois sente-se lisonjeada com
o seu interesse, mas tem medo da reputação, por vaidade. E assim, fica dando
esperanças a ele, simplesmente por não dá logo um corte nele. Rubião começa a perder
todo o seu dinheiro em grandes empréstimos. Arruinado, Rubião é abandonado por todos
aqueles que lhe rodeavam somente por interesse. O casal afasta-se dele ele acaba em
um asilo só, porém consegue fugir para voltar onde tudo começou, em Minas. Quincas é o
único amigo de verdade de Rubião, que sempre esteve com ele na riqueza e na pobreza.
Rubião morre em um delírio de grandeza, finalizando a sua estada na terra com uma
frase de Humanitismo:”Ao vencedor, as batatas”. (www.educação.uol.com.br/literatura).
Quincas também morre por uma pneumonia fatal e o seu cão também.
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Na verdade, Quincas Borbas não é o protagonista, apesar de ter seu nome no título e
já vir de uma outra obra. Rubião é o protagonista.
“Quem percorre a narrativa de Machado, que cobre a vida do
Rio dos meados do século XIX , reconhece uma teia de relações , quer intrafamiliais,
quer de vizinhança, profissão e vida pública entre pares ou pessoas situadas em níveis
distintos. E o que salta à vista no desenho dessa teia? Relações assimétricas compõem a
maioria dos enredos machadianos; e levando em conta a dimensão subjetiva da
assimetria, pode-se afirmar que esta se encontra em toda parte e dentro de cada
personagem. A experiência do gradiente social aqui é fundamental...
Olhando de perto se vê que nesse contexto de diferenças predomina o tratamento de
intervalo menor.
Alfredo Bosi ( www.machadodeassis.net/download/Gogol )
3.2 - Interpretando o Conto Pai Contra Mãe
Publicado em 1906, no livro Relíquias da Casa Velha. A história passa no Rio de Janeiro no século XIX antes da abolição da escravatura, mas que é o seu pano de fundo,
mas não é o assunto primordial.Apresenta características do Realismo, pensamentos
obscuros, malvados. Resumem os escravos a mercadorias, não sendo tratados como
seres humanos.
O conto demonstra a grave situação dos escravos. Submetidos completamente, os
escravos não tinham os seus direitos de seres humanos. Tratados como animais sem
nenhuma piedade, eram anunciados como produto em jornais, quando fugiam. Os
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Senhores daquela época queriam alcançar a ordem a qualquer preço, não importa por
quais meios. Cito esta passagem:
“ Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse. Punha
anúncios nas folhas públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito físico,
se o tinha, o bairro por onde andava e a quantia de gratificação. Quando não vinha a
quantia, vinha promessa: “ gratificar-se-á generosamente ou receberá uma boa
gratificação. Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto,
descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa.” Contos Machado de Assis
( 2007, p.47).
Outras questões abordadas são: a felicidade pela infelicidade do outro, sentimento
motivado pela ambição; desemprego, gerando instabilidade; o mundo competitivo, cada
um querendo dá o seu melhor e pisando “ no pé” do outro se for necessário para alcançar
os objetivos; a miséria ( salário mínimo) e a frieza do personagem Cândido Neves,
preguiça que deixa o talento adormecer.
Citarei um trecho do conto:
: “ O pai recebeu o filho com a mesma fúria com que pegara a escrava fujona de há
pouco, fúria diversa, naturalmente, fúria de amor. Agradeceu depressa e mal, e saiu às
carreiras, não para a Roda dos Enjeitados, mas para casa de empréstimo com o filho e os
cem mil réis de gratificação.” Machado (2007,p.53).
Muitas pessoas desempregadas nesta época iam caçar escravos para ganhar
dinheiro, tendo este ato selvagem como profissão. Vejamos este trecho: “ Ora, pegar
escravos fugidios era um oficio do tempo. Não seria nobre, mas por ser instrumento da
força com que se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra nobreza implícita das
ações reinvidicadoras. Machado ( 2007,p.47.)
Pai contra Mãe relata uma história que nos faz lembrar da gravidade daquele tempo
em que os escravos não eram considerados humanos, pelo menos não eram tratados
como tal. Eram caçados como bichos em troca de dinheiro. A ambição cega a raça
humana, fazendo com que só pense em si , passando por cima do direito do outro viver.
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A MISSA DO GALO
Publicado pela primeira vez em 1893, incluído na edição de Páginas recolhidas. Neste
conto, a tristeza e amargura cedem lugar a uma doce melancolia. Encontramos
características marcantes de Machado: o tema do adultério, mostrada também na
personagem Conceição, a análise psicológica e a ambigüidade de comportamento.
Missa do Galo é uma história curta que segue os padrões do gênero: concisão, rapidez
e dramatismo.O conto se inicia com a declaração de Nogueira um rapaz bem novo: “
Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, eu
como meus dezessete anos, e ela com trinta anos”. Nogueira vai descobrindo o mundo
aos poucos e depois vai ter um relação enigmática com
Conceição”.(www.dominiopublico.com).
O narrador do conto é um rapaz de dezessete anos de idade que vem ao Rio para
estudar em cursos preparatórios, Nogueira. Viúvo de uma das primas, casa-se com
Conceição que apresenta ambigüidade em seu comportamento, sedutora e discreta. A
Missa do Galo é ambientado no Rio antes da Abolição.
Nogueira chegou da roça, por isso parece ser inocente e diz ter vindo ao Rio pela
Missa do Galo, mas na verdade ele estava com segundas intenções. Estava à procura de
luxo e gente. Diz Nogueira: “eu já devia estar em Mangaratiba, em feris, mas fiquei até o
Natal para ver a Missa do Galo na Corte ... e aqui no Rio de Janeiro há de haver mais
luxo e mais gente também”. ( www.dominiopublico.gov.br).
O conto apresenta-se em um caráter enigmático. Para Nogueira tudo é novo, pois ele
veio do interior. O interessante é que havia três chaves na cãs, uma ficava com escrivão,
outra com Nogueira e a terceira ficava em casa”. Cito um trecho: “A terceira chave fica na
porta, relata o narrador. Não pertence a ninguém, simplesmente é da casa. Como uma
chave imóvel, permanentemente na porta, ela é aberta para deixar alguém entrar, não
para sair. Delimita assim, uma área de trânsito possível para mulher, definindo-se dessa
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maneira seu lugar e função, no caso, a permanência na casa, os cuidados com o lar”.
Machado ( 2007, p 57)
No conto é relatado um diálogo, numa noite de Natal, entre um jovem e uma senhora
casada e frustrada com a traição de seu marido. A conversa deseja nos mostrar que se
parece banal, mas ao mesmo tempo assume um papel misterioso, pois onde não está
acontecendo muita coisa objetivamente pode ter segundas intenções não mostradas
explicitamente. Há uma atmosfera de sedução e erotismo, contrastando-se em a
ingenuidade do moço e a experiência da mulher. Enquanto Conceição e Nogueira
entrelaçavam olhares, aproximando um do outro aos poucos, alguém bate na janela
avisando: “ Missa do Galo! Missa do Galo”. Machado ( 2007, p.59)
A Missa do Galo é um conto que nos demonstra um adultério entre uma pessoa
inexperiente e outra experiente, a primeira cheia de ilusões a última amargurada já pela
experiência vivida. O sofrimento pela relação extraconjugal foi resignado: “ Menezes
trazia amores com uma senhora, separada do marido, e dormia fora de casa uma vez por
semana. Conceição padecera , a principio, com a existência da comborça; mas, afinal,
resignara-se.” Machado ( 2007, p.55).
O ESPELHO
O espelho simboliza no conto o jogo da dualidade, o eu e o outro. As duas faces de nós
mesmos. A imagem refletida que se torna o eu olhando para o outro. Inversão de papéis.
Este conto reflete sobre a sociedade contemporânea, abordando a realidade social e os
conflitos do ser humano. Há uma análise psicológica pessimista no conto, uma viagem
dentro do próprio individuo para se conhecer, os defeitos, qualidades e buscas.
Ele nos revela a ambigüidade da alma humana,como temos várias personalidades,
desejos e atitudes que se chocam entre si. Somos nós, a procura de nós mesmos,
sempre em busca de melhorar .
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O conto é do século XIX, incluído na obra Papéis avulsos de Machado. Desenvolve
uma trama onde há uma análise profunda da alma humana. Amigos senhores se reúnem
e conversam sobre a alma humana e o Universo em si. Sendo que um destes, acha a
conversa banal o seu Jacobina, ficando apático durante a conversa. Quando solicitado a
dizer sua opinião, explicita que os seres não têm apenas uma alma, mas duas almas
humanas: uma do interior e a outra ao exterior e a outra de fora para dentro. Eles vão
mais além dizendo que a alma pode perder a metade da existência quando perdem algo
afetivo. Inicialmente o conto está em terceira pessoa e depois passa à primeira pessoa
com o relato de Jacobina.
O personagem Jacobina pede que prestem atenção em uma história que ele
vivenciou em sua infância. Conta que ele foi passar algum tempo em sua tia, já sendo
nomeado alferes da Guarda Nacional, por isso recebia regalias de sua tia pela conquista
que teve. Um certo dia, ela lhe trouxe um grande e lindo espelho, proveniente da Família
Real Portuguesa, e colocou no seu quarto. Sendo tão bem tratado, Jacobina ficou
habituado ao luxo. Neste caso, “o alferes eliminou o Homem”. (www.helenasut.net).
Prova de que o meio em que vivemos nos transforma se não formos contra isso, os
deixando pessoas frias, calculistas e ambiciosas.
A tia de Jacobina viaja e os escravos aproveitam a saída dela e fogem. Sendo
assim, Jacobina sente-se na solidão estando vazio por dentro, sem a sua alma exterior.
Decide se olhar no espelho do quarto e não consegue se enxergar, perdeu sua
identidade. Então se veste de alferes e finalmente consegue ver os seus contornos,
parecendo voltar a si, recuperando o que havia perdido, a sua própria existência. Cito um
trecho da fala de Jacobina: “ Confesso-lhes que dede logo senti uma grande opressão,
alguma coisa semelhante ao efeito de quatro paredes de um cárcere, subitamente
levantadas e torno de mim.” (www.cce.ufsc.br).
Este conto nos demonstra que ambição corrompe o Homem, anestesiando o que lê
tem de melhor nele mesmo. O espelho serviu de análise, reflexão, um objeto que nos
permite nos olhar por fora, tentando enxergar-nos por dentro. Por isso, muita gente
conversa no espelho consigo mesmo, declarando seus desejos, vontades e percebendo
se suas atitudes têm tido valor.Olhando o nosso exterior podemos conseguir ver o nosso
interior também, pois refletimos na nossa imagem o nosso jeito, as nossas expressões:
contentamento, tristeza, vaidade ou não e atitudes. Jacobina redescobriu a sua essência
ao vestir uma farda.
43
Para solidificar a idéia de duas almas ele exemplifica com a laranja que tem duas
metades, dizendo que só as duas unidas estarão completas.
Após contar a história, Jacobina deixa a sala, evitando discussões, pois as
desprezaria.
Este conto é uma obra de arte, pois ele contextualiza a duplacidade do ser humano,
ou seja, o meio o modifica, transforma ou influencia o ser humano.
Conhecer as nossas várias faces , reações, desejos, atitudes nos faz nos
compreender melhor. Realizar sempre uma análise psicológica de nós mesmos é uma
boa maneira de fugir dos males que a ausência do auto-conhecimento provoca. O
espelho realmente nos ajuda a nos enxergar melhor. Temos que ser mais sensíveis, para
saber nos ver além do espelho e não somente enxergarmos o exterior, mas também com
clareza o interior a essência do ser humano.
“Olhava para o espelho, ia de um lado para o outro, recuava,
gesticulava, sorria e o vidro exprimia tudo. Não era mais um autômato, era um ente
animado. Daí em diante, fui outro”
(virtual.books.com.br)
3.3 - Desvendando a obra Dom Casmurro
“ A mentira é muita vez tão involuntária
como a respiração” (www.fraseseversos.com.br)
Publicado em 1900. A narrativa é em primeira pessoa, por Bento Santiago, conhecido
como Bentinho. Bentinho, chamado de Dom Casmurro por um rapaz de seu bairro,
escreve a história de sua vida.
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Bentinho, órfão de pai e protegido do mundo, mora com sua mãe em Matacavalos,
José Dias, o agregado, Tio Cosme e prima Justina. Bentinho se apaixona por sua vizinha
que havia convivido com sua irmã-namorada, a Capitolina, conhecida como Capitu. A
mãe de Bentinho havia prometido que seu filho iria para o seminário e se tornaria padre.
Ele acaba indo, mas não pela sua vontade, pois desejava-se casar com Capitu. José
Dias, amigo da família, consegue convencer a Dona Glória, mãe de Dom Casmurro, a
tirá-lo do seminário para estudar Direito no exterior.
Bentinho se forma em Direito e faz estreita amizade com Escobar, casado com
Sancha, amiga de Capitu. Bentinho e Capitu se casam e têm um filho chamado Ezequiel.
Escobar morre afogado. Durante o enterro do amigo, Bentinho fica intrigado com o modo
que Capitu comportou-se em no cemitério. Ela fica olhando para o cadáver com ternura.
Bento começa a perceber que seu filho é parecidíssimo com Escobar, seu amigo que
acaba de morrer. E lembrou de que já havia encontrado Capitu e Escobar sozinhos em
casa. Ele confiava em seu amigo, porém conforme os seu filho estava crescendo mas
parecido com Escobar ele ficava. Bento desesperou-se, pensou em matar Capitu e em se
matar em seguida, mas não teve coragem. E nessa situação, acabaram se separando.
Capitu e Ezequiel viajam para a Europa. Capitu morreu, seu filho visitar Bento que
constata mais uma vez a sua semelhança com Escobar. Seu filho também morre. E Bento
continua em a sua suspeita e grande dúvida, pois nunca soube por Capitu se o filho era
dele ou de Escobar.
O grande tema dessa obra é a suspeita do adultério. Bentinho é muito ciumento.
Serpa que o seu ciúme o fez ver coisas que não existiam. Nem ele mesmo ficou sabendo,
pois todos morreram. E só ele restou, ele e a sua dúvida.
Bentinho tenta nos persuadir com o relato de seus fatos. Na fase realista as obras
mostravam o adultério em si, mas Machado enfocou a suspeita do adultério, dando um
tom de mistério e suspense.
Bento assume uma postura de anti-herói. Ele foi super protegido e assim ele se
tornou inseguro, incapaz de tomar suas próprias decisões. Podemos perceber isso,
quando ele aceitou mesmo sem querer ir para o seminário. E depois ainda foi para o
exterior, mesmo amando Capitu. E também não teve atitude em colocar Capitu contra
parede obrigando-a dizer a verdade. Por isso, teve que levar esta dúvida consigo e ainda
ficou sem a Capitu e sem o filho. Frustrado, escreveu sua História.
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Dom Casmurro é uma obra que nos possibilita perceber como o ciúme doentio cega a
visão normal das coisas. A falta de atitude fez com que Bentinho perdesse sua própria
identidade, deixando a sua mãe mandar no seu destino. Ficou distante tento tempo e
ainda foi estudar no exterior, sentindo uma paixão louca por Capitu. E quando felizmente
conseguiu, não soube aproveitar, começou a se perturbar com a sua insegurança e
perdeu os dois maiores amores de sua vida.
Temos muitos caminhos a seguir na vida, por isso precisamos de cautela ao
decidir qual é o melhor para seguir.
“A vida é cheia de obrigações que a gente cumpre por mais vontade
que tenha de as infringir deslavadamente” Bentinho (www.wikipedia.com.br)
CONCLUSÃO
A proposta do trabalho foi de nos aprofundar no mundo da escrita de Machado de Assis, conscientizando nossos alunos da magnitude e importância deste autor. Pudemos
perceber as suas técnicas de escrever, analisar os seus personagens juntamente com o
narrador, refletir sobre os temas apresentados em sua obra. Enfim, lendo a obra de
Machado enriquecemos o nosso vocabulário, a nossa escrita, nos tornamos um
conhecedor da história da época, pois Machado sempre utiliza um pano de fundo crítico,
irônico, refletindo os momentos das fases romântica e realista.
O objetivo central da pesquisa foi demonstrar a importância do nosso papel como
orientador de incentivar a leitura de Machado, a partir de discussões, dinamicidade,
interação que mostrem a atemporalidade do autor, e que sua linguagem rebuscada não
faz de seus livros uma obra chata e antiga, pelo contrário só vem a contribuir para o
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enriquecimento da nossa linguagem. Lendo com os alunos, analisando, citando,
estudando Machado juntamente com os alunos podemos atrair seus olhares para as sua
obras. Assim, eles se tornarão mais críticos, criativos, pois a discussão em sala de aula
promove a criação de idéias e a troca das mesmas, ampliando o conhecimento do aluno e
as suas habilidades de pensar e agir.
Analisando suas obras podemos entender melhor as intenções de Machado,
estudando sobre ele compreendemos ainda mais os interesse de sua obra O escritor
tinha um tom irônico que instiga até hoje milhares de leitores que se apaixonam com as
suas obras. As digressões nos convidam a refletir juntamente com o personagem que
divaga em seus pensamentos e reflexões, fugindo alguns instantes da continuidade da
narrativa.
Machado é sem dúvida um grande exemplo de superação, garra, coragem,
criatividade, talento, crítico, reflexivo, enfim, Machado de Assis tinha um grande atributo
de qualidades que o fez um grande mestre da Literatura. Um grande exemplo para nos
espelharmos.
Como professores, devemos motivar os alunos a leitura, não só de Machado, mas em
geral. Porém Machado é um grande marco da Literatura, por isso escolhido para o
presente trabalho. Sugiro a contínua leitura de Machado de Assis, para conhecermos
todo o conjunto de sua obra, seus detalhes, temas, críticas, ironias, aprendendo muito
com elas. Boa leitura!!!
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BIBLIOGRAFIA COSULTADA
ASSIS, Machado de: Memórias Póstumas de Brás Cubas. São Paulo, SP:
Ciranda Cultural Editora e Distribuidora Ltda, 2007
ASSIS, Machado de: Dom Casmurro. São Paulo, SP: Ciranda Cultural Editora e
Distribuidora Ltda, 2007
Assis, Machado de: Contos Escolhidos. São Paulo, SP: Ciranda Cultural Editora
e Distribuidora Ltda, 2007
Freinet, Celéstin. Pedagogia do Bom Senso. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
48
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. SP: Paz e Terra, 1996.
--------------------. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2009.
--------------------. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro, Paz e
Terra, 2008.
MONTELLO, Josué. Os Inimigos de Machado de Assis. Rio de janeiro: Nova
Fronteira, 1998
PEREIRA, Lúcia Miguel. Machado de Assis Estudo Crítico e Biográfico. Ed.
Nacional São Paulo, 1946.
SABINO, Fernando. Amor de Capitu. São Paulo; Ática, 1999.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros/ Magda Soares. –
3.ed- Bela Horizonte: Autêntica Editora, 2009.
Bibliografia Citada
ASSIS, Machado de. Contos. São Paulo: Ciranda Cultural Editora e Distribuidora
Ltda, 2007. Coleção Clássicos da Literatura.
---------------------------: Memórias Póstumas de Brás Cubas. São Paulo, SP:
Ciranda Cultural Editora e Distribuidora Ltda, 2007
-----------------------------: Dom Casmurro. São Paulo, SP: Ciranda Cultural Editora
e Distribuidora Ltda, 2007
BOSI, Alfredo. História Concisa da literatura brasileira. SP: Cultrix, 1987
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Freinet, Celéstin. Pedagogia do Bom Senso. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. SP: Paz e Terra, 1996.
--------------------. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra
--------------------. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro, Paz e
Terra, 2008.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros/ Magda Soares. –
3.ed- Bela Horizonte: Autêntica Editora, 2009.
WEBGRAFIA
www.paralerepensar.com.br
www.cpv.com.br
www.machadodeassis.net
www.culturabrasil.pro.br
www.cartastrocadas.wordpress.com
www.machado.mec.gov.br
www.educação.uol.com.br/literatura
www.wikipedia.com.br
50
www.fraseseversos.com.br
virtual.books.com.br
www.cce.ufsc.br
www.machadodeassis.net/download/Gogol
www.pensador.info/frase
http:pt.wikisource.org
Anexo 1- ( www.baguete.com.br/colunasdetalhes)
09/2008 - Prazerosa entrevista com Machado de Assis
Hoje se comemora o centenário da morte de Joaquim Maria Machado de Assis. Assim, sugiro uma folga dos assuntos cotidianos para homenagear quem, muito antes de nós, transformou a palavra em obra-prima. Machado de Assis foi talvez o maior cronista brasileiro.
Em outubro de 1958, outro cronista e jornalista, Rubem Braga, escrevia “Entrevista com Machado de Assis”, publicado em seu livro “Ai de ti, Copacabana”, onde simulava trechos de um programa de televisão fictício em que Machado de Assis é entrevistado 50 anos depois de sua morte.
As respostas são frases retiradas dos contos, crônicas e romances escritos pelo próprio autor.
Repórter – O senhor gostava muito de jogar xadrez com o maestro Artur Napoleão, não é verdade? Machado – “O xadrez, um jogo delicioso, por Deus! Imaginem a anarquia, onde a rainha come o peão, o peão come o bispo, o bispo come o cavalo, o cavalo come a rainha, e todos come a
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todos. Graciosa anarquia...”
- Por falar em comer, é verdade que o senhor era vegetariano? “...eu era carnívoro por educação e vegetariano por princípio. Criaram-me a carne, mais carne, ainda carne, sempre carne. Quando cheguei à idade da razão e organizei meu código de princípios, incluí nele o vegetarianismo; mas era tarde para a execução. Fiquei carnívoro.”
- Que tal acha o nome da Capital de Minas? “Eu, se fosse Minas, mudava-lhe a denominação. Belo Horizonte parece antes uma exclamação que um nome.”
- E a respeito da ingratidão? “Não te irrites se te pagarem mal um benefício; antes cair das nuvens que de um terceiro andar.”
- E a imprensa do escândalo? “O maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado.”
- E esses camaradas que estão sempre na oposição? “O homem, uma vez criado, desobedeceu logo ao Criador, que aliás lhe dera um paraíso para viver; mas não há paraíso que valha o gosto da oposição.”
- E o trabalho? “O trabalho é honesto; mas há outras ocupações pouco menos honestas e muito mais lucrativas”
- E a loteria? “Loteria e mulher, pode acabar cedendo um dia”
- E sobre dívidas? “Que é pagar uma dívida? É suprimir, sem necessidade urgente, a prova do crédito que um homem merece. Aumentá-la é fazer crescer a prova.”
- Pode me dar uma boa definição do amor? “A melhor definição do amor não vale um beijo de moça namorada.”
- O amor dura muito? “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos.”
- E a honestidade? “Se achares três mil réis, leva-os à polícia; se achares três contos, leva-os a um banco.”
- E o Brasil? “O país real, esse é bom, revela os melhores instintos; mas o país oficial, esse é caricato e burlesco”.
- E os filhos? “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.”
- Muito obrigado, o senhor é muito franco em suas respostas. “A franqueza é a primeira virtude de um defunto.”
- De qualquer modo, desculpe por havê-lo incomodado. Mas é que neste programa sempre entrevistamos alguém que já morreu... “Há tanta coisa gaiata por esse mundo que não vale a pena ir ao outro arrancar de lá os que dormem...”
Você que chegou até aqui, muito obrigado. Não foi absolutamente perda de tempo. Àqueles que acreditam unicamente no conhecimento técnico, no aperfeiçoamento exclusivo de sua área de atuação, vale o remorso de Darwin.
“Meu espírito parece ter-se convertido numa máquina de extrair leis gerais de grandes
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acumulações de fatos. (...) Se eu tivesse que viver novamente minha vida tomaria como norma ler, ao menos uma vez por semana, algo de poesia, e ouvir música”.
Anexo 2 –( www.brasilwiki.com.br/noticia)
Volta ao tempo: uma entrevista com Machado de Assis Publicado em 13/02/2009
wiki repórter cal55
Porto Alegre-RS
Um grupo de alunos do curso de Letras da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), da unidade Porto Alegre, necessitando elaborar um trabalho para futura apresentação, reuniu-se em uma das salas para discutir o tema a ser abordado, os meios e o tempo disponível para tal. O tema: Machado de Assis - Teatro e Poesias; Os meios: pesquisas; O tempo: imediato; O grupo: Angelita, Paula Eva, Aline Dorigon, Adriana (Drica) e o Carlos; O resultado: seja o que Deus quiser e a tutora aceitar. Como naquela universidade tudo é possível, resolveram entrevistar o Machado, mas como? Paula teve a idéia mirabolante de viajar no tempo. Idos 1800, exatamente no ano de nascimento da nossa figura poética, em 1839. Sorte delas que contavam com a ajuda do Carlinhos (carioca), nascido em Laranjeiras, próximo ao Cosme Velho, local onde viveu o escritor e poeta. Aline discutia se valia à pena fazer tal viagem, para entrevistar afro-descendente e, em resposta, Lica lhe mostrou vários trabalhos publicados pelo neguinho. Para complementar, a Drica comentou sobre o Dom Casmurro. Nesse momento, Aline retornou dizendo que não gostava do tal Dom, mas que a Capitu sim é que era a mulher de verdade. Sem nos desviarmos dos assuntos que nos levariam até lá, iniciamos a viagem sugerida pela Paula e chegamos ao Rio de Janeiro para entrevistar o jovem (sempre presente) Joaquim Maria Machado de Assis. Ele estava ali, num banco da Praça Mauá, antigo Cais Pharoux, Rio de Janeiro. De traje escuro, pincenê, cabelo e barba grisalhos. Maneiras severas, olhos encovados no rosto trigueiro. Perguntamos se haveria a possibilidade dele nos dar uma entrevista sobre alguns detalhes de sua vida e, principalmente, a respeito de teatro e poesias de sua autoria. Com um sorriso, ele respondeu que o faria com prazer mas... que a entrevista servisse de algum modo ao futuro. Ele era futurista. Concordamos e nos organizamos. Lica, Drica e Carlos fariam as perguntas, Aline tomaria notas e a Paula iria registrar aquele momento com fotos e filmagens. Iniciamos.
Lica: Quem foram seus pais? Machado: - Sou filho de negro alforriado. Meu pai, Francisco José Machado de Assis, operário, e da uma portuguesa da Ilha de São Miguel (Açores), Maria Leopoldina Machado de Assis, lavadeira. Drica: Qual a data exata do seu nascimento e o lugar? Machado: Nasci no dia 21 de junho de 1839, no Morro do Livramento, aqui no Rio de Janeiro.
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Carlos: Quando iniciou sua carreira literária? Machado: Eu perdi minha mãe muito cedo e devido à minha infância pobre, estudei como pude. Ajudava na missa da igreja da Lampadosa e o contato com a igreja e com os padres me fizeram gostar da escrita.
Lica: Quando e qual foi a sua primeira publicação? Machado: Aos 16 anos incompletos publiquei meu primeiro trabalho literário, o poema Ela, na Marmota Fluminense, jornal de Francisco de Paula Brito. Era o dia 12 de janeiro de 1855. Drica: E continuou escrevendo? Machado: Sim, no ano seguinte, 1856, entrei na Imprensa Nacional como aprendiz de tipógrafo e lá conheci Manuel Antônio de Almeida, que se tornou meu protetor. Carlos: Cite outro fato importante no decorrer desse período? Machado: Fato relevante foram as aulas recebidas de forma gratuita do padre Antônio José da Silveira Sarmento, em 1858. Passei a ser revisor de provas e auxiliar tradutor (do francês) e colaborador em periódicos. Aline pediu um tempo para descansar os dedos e a Paula uma pausa para repor filmes. A máquina era do tempo da onça. Lica, achando por bem encerrar a entrevista, solicitou ao Machado uma lista de poesias e obras ligadas ao teatro. Lica: Sei que esta cansado mas... Machado: Tudo cansa, inclusive a solidão. Estou sozinho desde 1904, quando faleceu a minha querida Carolina Augusta Xavier de Novais. Nos casamos em 18 de novembro de 1869. Drica: Conheço esse nome! Machado: Ela era portuguesa, irmã de um grande amigo, o poeta Faustino Xavier de Novaes. Aline: Casou-se com uma portuguesa? Machado: Sim, mesmo com a oposição da família devido a minha cor. Sozinho desde o dia 20 de outubro de 1904, ficaram-me os olhos malferidos e a memória cheia de pensamentos idos e vividos. Lica: Nos permite então listar algumas de suas obras, teatro e poesias?
Machado: Sim, neste momento.
Obras: Desencantos, comédia (1861); Queda Que as Mulheres Tem Para os Tolos, sátira e prosa (1861); Teatro, volume que se compõe de duas comédias: O Protocolo e O Caminho da Porta (1863); Quase Ministro, comédia (s.d); Crisálidas, poesias (1864); Os Deuses de Casaca, comédia (1866); Falenas, poesia (1870); Americanas, poesias (1875); Tu.Só tu.puro amor. Comédia (1881); Páginas Recolhidas, contos, ensaios, teatro (1899); Poesias Completas (1901); Relíquias da Casa Velha, contos, crítica e teatro (1906); Publicações Póstumas: Crítica (1910); Outras Relíquias, contos, crítica e teatro (1932). Machado: Muitos dos meus contos e romances serão transformados em filmes, novelas e teatro, mas serão excelentes adaptações. Vocês irão ver... só não poderão me contar. Carlos: Para finalizar, pode nos falar a respeito da Academia Brasileira de Letras?
Machado: Existia a Revista Brasileira, em que eu publiquei Memórias Póstumas de Brás Cubas em folhetins, e mudou minha carreira literária. O projeto da Academia partiu de um grupo de intelectuais que se reunia na redação da revista e principalmente de Lúcio Mendonça. Sempre apoiei. Comparecia às reuniões preparatórias e, no dia 28 de janeiro de 1879, quando se instalou a Academia, fui eleito presidente. Devotei a ela o resto dos meus dias. Paula: Nós queremos lhe agradecer pela entrevista. Essa viagem no tempo foi para lhe dizer que o seu legado, continua presente em nossas vidas.
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Machado: Se é verdade, fico feliz, pois não tendo filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da miséria. Pelo menos ficou o legado da cultura. Bom, a prosa está boa mas tenho que ir. É que vai chover. Tive um personagem que, quando o relógio parava, dava-lhe corda para que ele não parasse de bater nunca e ele pudesse contar todos os seus instantes perdidos. Lica: O senhor falou que vai chover? Machado:Com pingos d’agua é que se alagam as ruas. Ah! Uma lágrima. Quem nos dera uma lágrima única e derramada em 29 de setembro de 1908, mas o mundo cresceu do dilúvio pra cá a tal ponto que uma lágrima chegaria para o mundo alagar.
Nos despedimos e... nos deparamos com olhos lacrimejantes. Não nos perguntem como fizemos essa viagem... só os livros respondem.
Carlos Alberto Soares –
INDICE
FOLHA DE ROSTO
AGRADECIMENTO
DEDICATÓRIA
RESUMO
METODOLOGIA
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
A importância de Machado de Assis
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1.1 –A Biografia de Machado de Assis
1.2 – A Importância da leitura de Machado de Assis para a Literatura Brasileira
1.3- Apresentando as duas fases de Machado de Assis
CAPITULO II
A ARTE DE LER
2.1- O Papel do professor na orientação da leitura
2.2- Como atrair os olhares para as obras de Machado?
2.3- Conhecendo as obras do autor
2.4 – Sugestões de aula
CAPITULO III
Analisando obras e contos com os alunos em sala de aula
3.1- Análise da obra Memória Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba
3.2- Interpretando o Conto Pai contra Mãe, O Espelho e Missa do Galo
3.3- Desvendando a obra Dom Casmurro
CONCLUSÃO 48
ANEXOS 49
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 52
BIBLIOGRAFIA CITADA
WEBGRAFIA 54
ÍNDICE 55
56
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito: