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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O processo Arteterapêutico junto ao esquizofrênico
Por: Ana Laura Veloso e Sousa Torres
Orientadora
Prof.ª Deise Serra
Rio de Janeiro
2011
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O processo Arteterapêutico junto ao esquizofrênico
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Arteterapia em
Educação e Saúde.
Por: Ana Laura Veloso e Sousa Torres
3
AGRADECIMENTOS
Não tive o privilégio de ter conhecido
pessoalmente a Dra. Nise da Silveira
(in memorian), entretanto, a sua vida e
obra me fascinou de tal forma que não,
poderia deixar de registrar minha
gratidão pelo amor que devotava aos
deserdados da sociedade, os doentes
mentais. Pela sua coragem,
integridade, competência ao lidar com
a psique humana. A importância dada
às vivências com os esquizofrênicos, a
sensibilidade pelas imagens que
invadem a esfera da consciência e
aproximam se do processo criativo,
comprovando que toda arte autêntica
não tem parâmetros rígidos, podendo
existir por si própria.
4
DEDICATÓRIA
Dedico a todos os esquizofrênicos que
constantemente levantavam-se situações de
diversas ordens e que diante das dificuldades
me conduziram a estudos apaixonantes na
minha profissão de Terapeuta Ocupacional,
além de tornarem necessário encontrar as mais
profundas emoções humanas através da
Arteterapia.
“Conheças todas as teorias, domine todas as
técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja
apenas outra alma humana”.
Carl Gustay Jung
5
RESUMO
Este estudo é um levantamento do que seja a arteterapia como também
apresentar técnicas para a sua aplicabilidade e quais são as finalidades a serem atingidas.
Sendo o público alvo os esquizofrênicos e para tanto se dirá acerca do mesmo um pouco
do histórico, conceito, sintomas. Serão apresentados casos clínicos para uma melhor
compreensão. Demonstrando que o processo arte terapêutico é eficaz e necessário na
esquizofrenia.
6
METODOLOGIA
Este trabalho foi realizado através de uma pesquisa bibliográfica, do material que
consta nas referências.
Foram realizadas também pesquisas de artigos em sites relacionados com a pesquisa.
E ainda foi realizada uma visita ao museu “Imagens do Inconsciente”, no Instituto
Municipal Nise da Silveira. Como também com minha experiência como Terapeuta
Ocupacional junto a Saúde Mental.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Arteterapia 09
CAPÍTULO II - Esquizofrenia 14
CAPÍTULO III – Casos Clínicos 18
CONCLUSÃO 21
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 23
ANEXOS 26
FOLHA DE AVALIAÇÃO 00
8
INTRODUÇÃO
O tema sugerido deste estudo é o processo arte terapêutico no tratamento da
esquizofrenia. A questão substancial deste trabalho e demonstrar a relevância e eficácia
da arte terapia junto ao esquizofrênico. A Arteterapia não tem compromisso com o valor
estético nem com a utilização e conhecimentos de técnicas e movimentos artísticos,
entretanto, vincula-se com a expressão em si, proporcionando ao indivíduo encontrar
sua própria linguagem expressiva, possibilitando a expressão de seus conteúdos
conflitivo. Favorecendo a criatividade através da livre expressão, proporcionando o
enfrentamento de suas relações com o seu mundo interno como também externo,
contribuindo na autopercepção, no autoconhecimento e facilitando a reconciliação de
conflitos internos.
A aplicabilidade de várias atividades, como o desenho, a pintura, a colagem e a
modelagem, resultam em imagens para que o autor (criatura) dialogue com elas e assim
possa mostrar ou compreender seus arquétipos. Diante de tal vivência a arteterapia
atende pacientes portadores de esquizofrenia. O trabalho arteterapêutico acolhe
esquizofrênicos em intenso estado de sofrimento psíquico. As atividades
arteterâpeuticas conseguem atingir o processo criativo integrando elementos
perceptivos, sensoriais, sinestésicos e cognitivos, contribuindo no processo de melhoria
da qualidade de vida, contribuindo na comunicação e na integração do esquizofrênico,
junto à família e o grupo social representando o contexto social favorecendo a
reabilitação psicossocial.
Esta pesquisa tem como objetivos comprovar que a arteterapia consegue
apresentar linguagens expressivas, demonstrar o valor e a utilização dos materiais no
processo terapêutico, como também verificar as transformações através da arte do fazer
e acessar conteúdos conscientes e inconscientes, além de favorecer o processo mental
criativo do esquizofrênico.
9
CAPÍTULO I
ARTETERAPIA
1.1. O que é Arteterapia
A Arteterapia é um facilitador das questões de conflitos que a criatura não
consegue expor através da fala e, sendo assim, a atividade expressiva revela à mesma
seu sofrimento inconsciente proporcionando o processo de autoconhecimento .
Philippini afirma que “Existem inúmeras possibilidades de conceituar
arteterapia. Uma delas é considerá-la como um processo terapêutico decorrente da
utilização de modalidades expressivas diversas, que servem a materialização de
símbolos. Estas criações simbólicas expressam e representam níveis profundos e
inconscientes da psique, configurando um documentário que permite o confronto, no
nível da consciência, destas informações, propiciando “insights” e posterior
transformação e expansão da estrutura psíquica. Outra forma de dizer poderá ser
simplesmente terapia através da Arte. Embora seja necessário localizar com muito
cuidado, de que é mesmo que se fala, quando se emprega a palavra arte, pois neste
contexto, arte referencia – o processo expressivo – da forma mais ampla e abrangente
que se pode empregá-lo. Não haverá assim, a preocupação estética e com técnicas,
sendo privilegiada a possibilidade de expressão e comunicação e o resgate e ampliação
de possibilidades criativas” (PHILIPPINI, 2011)
Ainda sobre o conceito, Tocantins relata que a “Arteterapia é uma terapia que
através da estimulação da expressão, do desenvolvimento da criatividade, favorece a
liberação de emoções, de conflitos internos, de imagens perturbadoras do inconsciente;
o contato com ansiedades, conteúdos reprimidos, medos; a coordenação motora; mais e
melhores "saídas" no dia a dia; o processo de individuação; o equilíbrio físico/ mental/
espiritual” (TOCANTINS, 2011)
10
Medeiros e Branco completam relatando que “Arteterapia é o processo
terapêutico que utiliza técnicas de atividades plásticas como facilitadoras do processo de
expressão. Nela, a palavra surge, durante o processo terapêutico como o efeito do
desenvolvimento de uma consigna, tornando-se discurso por meio da expressão
plástica” (MEDEIROS e BRANCO, 2008, p. 23).
A partir dos conceitos descritos acima, entende-se a prática da Arteterapia como
caminho aonde a arte conduz o processo terapêutico
1.2. Trabalhando com Arteterapia
A Arteterapia estimula a criação através de diversas técnicas expressivas,
mobilizando conteúdos emocionais e levando à reflexão da personalidade das relações
sociais, familiarizando-se com a linguagem da arte a partir do trabalho com imagens,
revelando, assim, aspectos ocultos que levam ao favorecimento do desenvolvimento
psíquico. Logo, a constante produção de imagem conduz à percepção em direção dos
fatores primitivos da psique (URRUTIGARAY, 2008).
Dentre as diversas técnicas utilizadas para exercitar as expressões criativas,
pode-se trabalhar com as mãos e o corpo, criando espaço para entrar em contato com a
sua essência e se liberar de padrões pré-estabelecidos.
Técnicas expressivas não são simples utilização do ambiente terapêutico, mas
um processo do qual emergem as imagens e favorecem o surgimento de símbolos
pessoais, devendo ser utilizadas quando fizer algum sentido no tema que o indivíduo
estiver trazendo. Ou seja, o espaço terapêutico inspirará a utilização de variadas
técnicas. Arteterapia deve-se utilizar de inúmeros materiais, como papéis, tintas, lápis de
cor, cola, tesoura, tecidos, fios, madeiras, plásticos, argilas, massa e tanto mais. E
técnicas como desenho, pintura, modelagem, recorte e colagem etc., para vivenciar a
liberação de conteúdos conscientes e inconscientes. As possibilidades de técnicas têm
como objetivo oferecer elemento inspirador de escolha pessoal das próprias visões e
sensações, criando um espaço para a coragem de inovar não tendo a preocupação com o
11
valor estético nem com a utilização de conhecimentos de técnicas e movimentos
artísticos. Crescendo tanto o arteterapeuta quanto o cliente.
1.2.1. Desenho
O homem desenha a partir da forma de observação de que desenhar é produzir a
realidade à sua volta. A Arteterapia mostra o outro lado, deixando que as linhas
impressas tragam à luz sentimentos do âmago da alma, sem consciência de tal
profundidade. A criança desenha com liberdade, sem censura, sem valor estético, e
quando se deixa o lado criança vir à tona a criatividade expressa a realidade das
emoções.
1.2.2. Pintura
Diante de uma folha em branco, encara-se a liberdade de organizar, produzir
algo que até então possa estar difuso ou oculto do estado de consciência. Exercita-se a
autonomia, a coragem, a criatividade e a confiança em si mesmo. A pintura flui
conforme a leitura interna de cada indivíduo, podendo aliviar suas tensões, encontrar
novas alternativas, diversificar o olhar e, consequentemente, a forma de sentir o interno,
trazendo à tona padrões viciosos destes sentimentos. É claro que não é fácil a todos os
indivíduos identificar estes padrões de comportamento viciosos, entretanto, o primeiro
passo para qualquer movimento de mudança é o reconhecimento do que precisa ser
modificado. Sendo a pintura meio eficaz para flexibilizar pensamentos levando às
opções de auto-análise da expressão de vivências não verbalizáveis por aquele que se
encontra mergulhado na profundeza do inconsciente, isto é, no mundo ultrapassado de
pensamentos, emoções e impulsos fora do âmbito das elaborações da razão e da palavra.
12
1.2.3. Modelagem
A modelagem é uma possibilidade de apresentar um determinado padrão
arquétipo, uma necessidade de dar forma a qualquer matéria que possua flexibilidade e
se deixe manusear e tocar significando a capacidade de expressar conteúdo psíquico,
proporcionando várias experimentações e descobertas que estejam associadas aos
seguintes valores: ordem, paciência e persistência na imaginação e na criação,
esculpindo sentimentos internos o que permite cartazes e traz sentimentos múltiplos.
1.2.4. Recorte e Colagem
Implicam em ações de atividades de rasgar, recortar e colar proporcionando
sequência de ordem, desordem, nova ordem, o que origina distintos modos de
composição. É uma atividade que resulta em escolha inicial de imagens que já devem
ter sido selecionadas pelo terapeuta para sua utilização e finalização.
Quando os materiais são experimentados, são trabalhados os sentimentos, as
dificuldades, as criatividades e as habilidades, sendo capaz de se perceber e entender
movimentos, vivências das diversidades das técnicas criativas.
1.3. Finalidades da Arteterapia
A finalidade da Arteterapia no processo terapêutico é comentada por alguns
autores já em destaque nos estudos desta técnica facilitadora. Citando a visão de Jung,
para Philippini (2000), a Arteterapia tem a finalidade de “apoiar e de gerar instrumentos
apropriados, para que a energia psíquica forme símbolos em variadas produções, o que
ativa a comunicação entre o inconsciente e o consciente” (PHILIPPINI, 2000 In:
VALLADARES, 2001).
E Urrutigaray (2008, p.) diz que a Arteterapia tem como finalidade “a
atualização da imaginação trnasformadora, pela qual as imagens manifestam-se de
13
forma ativa, conectando o sujeito com novas modalidades vivencial presentes nas
imagens criadas. (...) consiste em possibilidade da emergência de uma imagem
imaginada transposta em imagem criada, a partir da utilização de materiais plásticos,
que cedem sua flexibilidade e maleabilidade a quem os utiliza, para expressar seus
conteúdos íntimos” (URRUTIGARAY, 2008)
Com base nos estudos apresentados neste trabalho, a Arteterapia tem como
finalidade a expressão através da aplicabilidade de técnicas expressivas nas quais
concerne a situação psíquica do indivíduo como um todo – inconsciente e consciente.
As atividades expressivas possuem validade terapêutica, como também
esclarece os processos que se desenrolam na obscuridade do inconsciente, logo, se a
atividade estimular a despontencialização das emoções contidas a terapia efetivamente
se realiza.
14
CAPÍTULO II
ESQUIZOFRENIA
2.1. História e Conceito
A Esquizofrenia é uma doença crônica que teve seu quadro clínico reconhecido
em 1849, sendo nomeada por Hebefrenia, Catatonia, Insanidade da Atenção entre
outros, mas somente em 1911, o termo Esquizofrenia foi consolidado pelo psiquiatra
suíço Eugen Bleuler e seu assistente Carl Gustav Jung (VELASCO, 2009).
Bleuler define a esquizofrenia como “um grupo de psicoses cujo curso pode ser
crônico ou intermitente, podendo deter-se ou retroceder em qualquer etapa (...). A
doença se caracteriza por um tipo específico de alteração do pensamento, dos
sentimentos e da relação com o mundo exterior. Em todos os casos encontra-se uma
clivagem (Spaltung) mais ou menos nítida das funções psíquicas. Essa clivagem atinge a
personalidade, o processo associativo e os afetos” (BLEULER, ano, p.15. In:
D’AGORD, 1960).
A Classificação Internacional das Doenças (CID–10), da Organização Mundial
da Saúde coloca os quadros de esquizofrenia na codificação F20, e os define como:
"Distorções fundamentais e características do pensamento e da percepção e por afeto
inadequado ou embotado. (TEIXEIRA 2005, p. 171. In: CARREIRA)
2.2. Quadro Clínico
Segundo Mari e Leitão (2000), a incidência da Esquizofrenia é de
aproximadamente 1 a 7 casos por ano a cada 10.000 habitantes (MARI e LEITÂO,
2000. In: BARROS)
15
O indivíduo esquizofrênico apresenta prejuízo nas suas atividades cotidianas
pela dificuldade de iniciativa, objetivo e propósito, assumirem compromisso, deliberar
decisões e possuir uma vida social saudável. Estes aspectos são agravados pelo estado
de apatia numa conduta comportamental regressiva e autista, ocorrendo perda de
interesse pelas suas obrigações ou levando-o à estagnação e a renuncia do mundo em
que vive.
O quadro de Esquizofrenia se manifesta no final da adolescência ou início da
idade adulta, antes dos 40 anos. Há estudos que defendem o surgimento da doença a
partir da combinação de fatores biológicos, genéticos e ambientais, mas ainda não se
pode especificar o real fator causador da Esquizofrenia. Filho de esquizofrênicos tem
10% de probabilidade de apresentar o mesmo quadro de seu antecedente, enquanto o
percentual de risco da massa populacional é de até 1% (GALVÃO, 2011).
A Esquizofrenia tem sua evolução diagnosticada por subtipos distintos, sendo os
principais: Paranóide – com predomínio dos sintomas psicóticos (delírios e
alucinações); Simples – baixa da afetividade e desejo, embotamento social e
empobrecimento psíquico; Catatônico – alteração da motricidade; Desorganizada ou
Hebefrênica – predomínio de alterações da afetividade e desorganização mental;
Residual – estágio crônico onde os sintomas positivos diminuem gradativamente
(GALVÂO, 2011).
2.2.1. Sintomas
Em seu estudo, D’Agord afirma que a pessoa portadora de Esquizofrenia
apresenta características de desligados de seus processos de pensamentos e respostas
emotivas. Os sintomas da doença surgem de vários processos físicos e responde
diferentemente aos tratamentos. Ela também diz que a doença é classificada em dois
grupos: sintomas negativos e sintomas positivos.
16
Segundo a autora, os sintomas negativos são “provavelmente devido à perda de células
nervosas resultando numa capacidade diminuta de funcionamento”. E os sintomas
positivos (alucinações e enganos) ou dano cognitivo (pensamento desordenado)
permitem ao portador de Esquizofrenia interagir com o mundo, já que não se encontra
mais em estado de apatia ou alienação (D’AGORD, M. 2011).
Para Velasco, a Esquizofrenia é uma doença grave e incapacitante. Ele identifica
os seguintes sintomas: comportamento excêntrico e extravagante, condutas anti-sociais,
autodestrutividade impulsiva, descontrole emocional, relações interpessoais
prejudicadas pelo aspecto delirante e alucinante, impulsos, inadequação aos processos
biológicos, sentimento de culpa, sentimento de insegurança, carência afetiva, pré-
disposição de inveja dos considerados normais e mais equilibrados. “De acordo com a
teoria psicanalítica, a esquizofrenia se refere àqueles que não absorvem um progresso
suficiente dos processos ou das capacidades do ego urgentes para solucionar, de forma
maleável, as subversões entre os impulsos do id, as posturas de um ego exigente e os
anseios do ego ideal” (VELASCO, 2009, p. 161).
Também são visíveis no comportamento destes indivíduos, as fases oscilatórias
que correspondem à vivência do estado saudável e estável e, em sofrimento psicótico, o
pensamento lógico e coerente é prejudicado pelo surgimento dos sintomas positivos que
confundem sua própria identidade ao ponto de não saberem quem são e deixando de
reconhecer seu cotidiano. Velasco comenta que tais sintomas “sejam motivados pela
desarmonia entre as substancias químicas cerebrais, proporcionando variações de fluxos
positivos ou negativos, mormente, piorando na maior parte dos momentos denominados
‘ciclo de recaída’ e voltando a melhorar em outros momentos chamados de remissão”
(VELASCO, 2009, p. 165)
Enquanto Kurt Scheider, de acordo com Nogueira et al. (2002, p. 53, 54),
subdividiu os sintomas, como sendo de primeira e segunda ordem, que estão listados
logo abaixo:
Sintomas de Primeira Ordem de Kurt Schneider:
-Alucinações na Terceira Pessoa (vozes comentadoras)
-Eco do Pensamento
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-Fenômenos de Influencia
-Percepção Delirante
-Inserção de Pensamentos
-Isolamento social
-Vivência de influência nos sentimentos, tendências e vontade
Sintomas de segunda ordem de Kurt Schneider:
-Desordens da percepção
-Perplexidade
-Intuição delirante
-Abulia
-Sentimentos de empobrecimento emocional
-Disposições de animo depressivas e maníacas
Giacon e Galera (2006) ressaltam que a doença tem como formas de início, a aguda e
insidiosa, onde a forma insidiosa tem um inicio mais ameno, porém quando não tratada
evoluiu para deterioração e exacerbação.
18
CAPÍTULO III
CASOS CLÍNICOS
3.1. Adelina Gomes
“Moça pobre, filha de camponeses, nasceu em 1916 na cidade de Campos (RJ).
Fez o curso primário e aprendeu variados trabalhos manuais numa escola profissional
Era tímida e sem vaidade, obediente aos pais, especialmente apegada à mãe. Aos 18
anos apaixona-se por um homem que não é aceito por sua mãe. Tornou-se cada vez mais
retraída, sendo internada em 1937, aos 21 anos.
Segundo depoimento de Almir Mavignier "agressiva e perigosa esta foi a
descrição que recebemos dela e que aconselharia a não aceitá-la no ateliê. Interessado,
porém, nas bonecas que ela fazia no hospital, fui buscá-la num dia chuvoso, protegendo-
a com um guarda-chuva. Esta atenção, tão normal, naquelas circunstâncias deve ter
contribuído para conquistar sua confiança."
Apesar de sua atitude agressiva, negativista, não houve dificuldade para que
aceitasse pintar quando começou a freqüentar o ateliê de pintura da Seção de
Terapêutica Ocupacional em 1946. Inicialmente dedica-se ao trabalho em barro,
modelando figuras que impressionam pela sua semelhança com imagens datadas do
período neolítico.
Na sua pintura ponde-se acompanhar passo a passo as incríveis metamorfoses
vegetais que ela vivenciou, originando famoso estudo da Dra. Nise da Silveira,
comparando-as com o mito de Dafne. Dedicou-se também à pintura e à confecção de
flores de papel, tornando-se uma pessoa dócil e simpática, sempre concentrada em suas
atividades, produzindo com intensa força de expressão cerca de 17.500 obras.
19
Adelina faleceu em 1984. “Sua produção plástica, e as importantes pesquisas daí
desenvolvidas pela Dra. Nise ao longo de muitos anos, tornaram-se objeto de
exposições, filmes documentários e publicações” (MUSEU IMAGENS DO
INCONSCIENTE) A importância do ateliê de pintura da sessão de Terapia Ocupacional
neste caso clínico, como o fazer, trás à tona questões psíquicas que possibilitam a
ordenação das fases de sofrimento por falta de coragem, de iniciativa para a ruptura de
padrões familiares e, até mesmo, sociais, fazendo, assim, que a paciente se enclausure
numa vida de dor sem conseguir elaborar novas possibilidades de vida saudável. A
subserviência à sua mãe, a levou a um estado de negação da vida. Percebe-se, então, que
a mesma inicia a ordenação da reflexão de suas vivências sendo retratada pelas suas
obras (anexo 1), emergindo tudo que até então se apresentava suprimido e que apenas
conseguia apresentar através da agressividade.
3.2. Isaac Liberato
“Nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1906, filho único de um velho e rico
negociante. Viveu isolado até os oito anos, longe do convívio com outras crianças. Aos
nove anos perdeu o pai, ficando sob os cuidados da mãe.
Aos dezenove anos, realizando um sonho de menino, ingressou na Marinha
Mercante como radia-telegrafista, fazendo inúmeras viagens nas rotas internacionais.
No intervalo entre essas viagens namorou uma vizinha loura e bonita. Em 1930,
voltando de uma viagem à Europa, casou-se com esta jovem. Três meses após o
casamento rompe com a esposa. Em dezembro do mesmo ano é internado no Hospital
da Praia Vermelha.
Dezesseis anos depois, Isaac começou a freqüentar o recém inaugurado ateliê de
pintura da Seção de Terapêutica Ocupacional no Hospital de Engenho de Dentro. Isaac é
sempre o primeiro a chegar e procura logo o material para iniciar os seus trabalhos,
demonstra grande interesse e prazer em pintar, principalmente telas a óleo. Pintava
lentamente e gostava de tocar ao piano, de ouvido, músicas que lembravam Debussy.
20
A primeira surpresa que a pintura de Isaac nos traz é a flagrante diferença entre a
sua linguagem verbal e sua linguagem plástica. Ele raramente constrói proposições – sua
linguagem é agramatical e cheia de neologismos. Entretanto, através da linguagem.
plástica narra uma história diretamente compreensível e concatenada, que jamais
verbalizaria.
Desde o início, suas pinturas já prenunciavam o desenvolvimento artístico que
ele alcançaria ao longo do tempo, como fica evidente nas paisagens onde se vê sua
procura em reter os reflexos mutáveis da luz e descobrir as nuances das cores.
Entre as diversas temáticas que aparecem em sua pintura destaca-se
constantemente a figura da mulher sob mil formas.
No dia 6 de julho de 1966 Isaac chegou ao ateliê, como de costume, por volta
das oito e meia. Em sua terceira pintura, retrata a última imagem da mulher amada.
Pintura inacabada. “Isaac morre com o pincel na mão, vítima de enfarte do miocárdio”
(MUSEU IMAGENS DO INCONSCIENTE, ano 2010).
Neste caso clínico, o paciente verbaliza e se constrói através da arte do fazer,
demonstrando que seu mundo interno está em desacordo com a forma com a qual
enfrenta o mundo externo. Busca através de suas obras (anexo 2), possibilidades para
viver em mundos tão diferentes através de seu enfoque sobre a vida e o viver em
plenitude entre o que é consciente e inconsciente.
21
CONCLUSÃO
A experiência desenvolvida no Museu do Inconsciente, por meio da Dra. Nise
da Silveira, motivada pela indignação com o tratamento existente e aplicado nos
hospitais psiquiátrico levou a implantar a seção terapêutica ocupacional, embora fosse
inicialmente considerado um método subalterno e sendo apenas visto como um meio de
“distrair” ou “ocupar” os pacientes. Levou-a se dedicar ainda mais a pesquisa e ao
desenvolvimento deste setor, proporcionando várias atividades que servissem aos
esquizofrênicos meio de expressão e assim permitissem revelar suas vivências não
verbalizáveis, por se acharem mergulhados nas profundezas do inconsciente.
A atividade expressiva possibilitou que esquizofrênicos através do processo do
inconsciente e nas manifestações da ordem de criar comprovassem que a arte não é
produtos somente de altas culturas intelectuais e cientificas, mas tendo o caráter
universal, podendo ser desenvolvida graças à livre expressão, sendo acesso fácil ao
mundo interno do esquizofrênico que em geral são herméticos.
“O estudo foi de fundamental importância para mim, pois, como Terapeuta
Ocupacional utiliza-me; do recurso terapêutico do fazer através de atividades (oficinas)
e percebo quanto outros profissionais da área da saúde desconhecem a importância e o
ganho na qualidade de vida dos pacientes. Numa das oficinas realizada coloquei para
algum paciente esquizofrênico o que é Terapia Ocupacional para eles. Tenho guardado
vários relatos e deixarei registrado nesse estudo uma que me emocionou por demais e
diz assim: “Para nós o trabalho da Terapia Ocupacional ajudou-nos a despertar da
sublimidade e delicadeza, através das suas atividades peculiares (a expressão
materializadas das coisas do coração espírito- alma- corpo), por meio da sua
instrumentalidade e todo potencial nela alcançada. Onde a interação destes elementos
busca um reordena mento do nosso conteúdo interior.
Amei te conhecer Ana que a delicadeza que mora no seu coração, nunca se
desfaça por causa do dia-dia que permeia a nossa sensibilidade, fazendo aos poucos um
esfriamento asséptico e distante e que do invés disso o vivido se transforme em
22
comunhão, e só Jesus pode fazer isso. “Ele te ama e quer esta comunhão íntima contigo,
obrigada por tudo”. “LOANE.”
Diante do exposto acima só posso agradecer poder concluir esta pós-graduação
em arte terapia para poder ser uma profissional compromissada a fazer cada vez mais o
melhor aos meus pacientes, pois a vida é a própria arte personificada em nosso fazer e
sentir a essência do melhor que podemos ser e dar.
23
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VELASCO, P. M. 2009. Em http://www.coladaweb.com/psicologia/historico-
esquizofrenia-parte-1, acessado em 14/01/2011.
VELASCO, P. M. Depressão e Transtornos Mentais. Rio de Janeiro: Wak Editora,
2009.
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ANEXOS
Anexo 1:
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Anexo 2:
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O Mundo das Imagens
Nise da Silveira
Quando se fala em ateliê de pintura instalado num hospital psiquiátrico, de
Ordinário supõe-se duas alternativas.
Tratar-se-ia de um setor de terapêutica ocupacional onde os doentes fariam
Cópias de estampas vulgares tentariam reproduzir objetos colocados diante de
Seus olhos decorariam vasos, cinzeiros, etc., sempre sob a orientação de um
Técnico. A criação espontânea seria habitualmente cerceada. Tal procedimento
Sempre esteve fora de cogitação para nós.
Ou tratar-se-ia de anexo a um serviço de psicoterapia analítica, no qual as
Pinturas seriam utilizadas como ponto de partida para associações verbais, aceito o
Critério de que as imagens constituem segundo Freud, meio muito imperfeito para
As representações tornarem-se conscientes. Seriam apenas dados para a busca
dos elos intermediários que são recordações verbais. Só através dos elos verbais o
material reprimido, simbolizado nas imagens, chegaria ao consciente. Muitas vezes
perguntaram-nos se seguimos essa diretriz no ateliê do Museu de Imagens do
Inconsciente.
No nosso ateliê, a pintura não é entendida como "médium", tem valor próprio,
não só para pesquisas referentes ao obscuro mundo interno de esquizofrênico,
mas também no tratamento da esquizofrenia.
Atribuímos grande importância à imagem em si mesma. Se o indivíduo que
Está mergulhado no caos de sua mente dissociada consegue dar forma às
Emoções, representar em imagens as experiências internas que o transtornam, se
Objetiva a perturbadora visão que tem agora do mundo, estará desde logo
despotencializando essas vivências, pelo menos em parte, de suas fortes cargas
energéticas, e tentando reorganizar sua psique dissociada.
A pintura dos esquizofrênicos é muito rica em símbolos e imagens que
ondensam profundas significações e constituem uma linguagem arcaica de raízes
universais. Linguagem arcaica, mas não morta. A linguagem simbólica desenvolve se
em várias claves e pautas, transforma-se e é transformadora.
Um dos objetivos principais de nosso trabalho é o estudo dessa linguagem.
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Não nos preocupamos em fazer o debulhamento da imagem simbólica, ou dissecála
intelectualmente. Nós nos esforçamos para entender a linguagem dos símbolos
colocando-nos na posição de quem aprende (ou reaprende) um idioma.
Procuramos ir até o doente. É essa a nossa intenção, quando estudamos os
símbolos e seus paralelos na arqueologia, mitologia, história da arte e das religiões.
A fim de dar uma idéia do que pode acontecer na condição denominada
ordinariamente esquizofrenia, citaremos Fernando: "... o mundo das imagens mudou
para o mundo das imagens mudou a alma para outra coisa as imagens tomam a
“alma da pessoa.”
São raras as verbalizações explícitas. O indivíduo cujo campo do consciente
foi invadido por conteúdos emergentes das camadas mais profundas da psique
estará perplexo, aterrorizado ou fascinado por coisas diferentes de tudo quanto
pertencia a seu mundo cotidiano. A palavra fracassa. Mas a necessidade de
expressão, necessidade imperiosa inerente à psique, leva o indivíduo a configurar
suas visões, o drama de que se tornou personagem, seja em formas toscas ou
belas, não importa.
Se o ambiente do ateliê for livre de toda coação, se o doente encontrar aí
suporte afetivo e em outros o desejo de aproximação, inicia-se não raro um
processo movido por forças instintivas de defesa em luta contra correntes
poderosas que se movem na direção das funduras no inconsciente. Decerto essas
forças autocurativas são derrotadas muitas vezes, entretanto nunca se apagam de
todo, mesmo nos casos mais graves.
Será preciso estar de antenas ligadas e conhecer algo da linguagem dos
símbolos para acompanhar o processo que se desdobra em séries de imagens,
tornando "visível o invisível" (Paul Klee).
Os sonhos observados em séries, diz C. G. Jung, revelam surpreendente
repetição de motivos e a existência de uma continuidade no fluxo de imagens do
inconsciente. Exatamente o mesmo acontece na expressão plástica dos psicóticos
examinadas em séries, tomando-se em conta que, na produção da psique
dissociada, os conteúdos do inconsciente apresentam-se mais tumultuados e
imbricados uns nos outros, as imagens são mais estranhas e arcaicas que nos
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sonhos. Entretanto, se dispusermos as pinturas em séries não será necessário
possuir paciência extraordinária para encontrar o fio que lhes dá sentido. Esta é a
lição aprendida na escola viva que é para nós o ateliê de pintura.
Em decorrência do avassalamento do consciente pelo inconsciente o
indivíduo perde o contato com a realidade e desadapta-se no meio onde vive. É
internado nos tristes lugares que são as instituições psiquiátricas. O ateliê de
pintura será um oásis, se o doente tiver a liberdade de exprimir-se livremente e aí
relacionar-se afetivamente com alguém que o aceite e procure entendê-lo na sua
peculiar forma de linguagem. Entretanto é fundamental não esquecer que as
imagens emergentes das camadas mais profundas da psique, por estranhas que
sejam, não são patológicas em si mesmas, mas são inerentes às estruturas
básicas da psique. O elemento patológico não reside na presença dessas imagens,
mas na falência do ego, que se tornou incapaz de controle sobre o inconsciente.
Acresce ainda que indivíduos rotulados em hospícios como seres
embrutecidos e absurdos sejam muitas vezes capazes de criar formas comparáveis
às produções de artistas socialmente reconhecidos. Eis um dos mistérios maiores
da psique humana.
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
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