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cabeçalho, apague em seguida <> <> <> <> UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA <> <> <> <> <> A LINGUAGEM DO PINCEL NO PROCESSO ARTETERAPÊUTICO <> <> <> Por: José Rodolfo Ribeiro Tavares <> <> <> Orientador Profa. Ms. Fátima Alves Rio de Janeiro 2012

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · tipo de contato, mesmo que em remoto passado, na época das fases da vida. É de extrema importância para o arteterapeuta entender

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cabeçalho, apague em seguida

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

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A LINGUAGEM DO PINCEL NO PROCESSO

ARTETERAPÊUTICO

<>

<>

<>

Por: José Rodolfo Ribeiro Tavares

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Orientador

Profa. Ms. Fátima Alves

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

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A LINGUAGEM DO PINCEL NO PROCESSO ARTERAPÊUTICO

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Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Arteterapia em Educação e

Saúde

Por: . José Rodolfo R. Tavares

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AGRADECIMENTOS

Aos mestres que me guiaram neste

longo caminho, aos voluntários da

pesquisa e aos amigos.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a toda minha família

que desde o início me incentivou dando

forças do começo ao fim de minhas

pesquisas.

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RESUMO

A pesquisa apresentada abordará a variedade do material escolhido, o

pincel, confeccionado por pêlos, cerdas ou fios, fixados a uma extremidade de

cabo, comumente feita de madeira ou plástico, usualmente utilizado em

trabalhos plásticos junto com tintas à base de água ou óleo. O cunho central

deste trabalho é a aplicação prática deste material no processo arterapêutico,

exemplificando e explanando uma linguagem atribuída a determinados

modelos de pinceis e seus benefícios no atelier, não estabelecendo os

resultados obtidos como regras, mas sim um ponto de partida para uma

linguagem que aquele modelo de pincel pode ter num processo benéfico ao

tratamento do paciente. Ao decorrer deste estudo, serão apresentados casos

específicos de voluntários que possuem determinadas questões que os

conturbam, sendo aplicados os conhecimentos da Arteterapia através do

atelier terapêutico na tentativa de buscar soluções para suas demandas e

proporcionando o bem-estar de cada um. Serão apresentadas práticas

específicas para cada indivíduo desenvolver, criando trabalhos plásticos que

projetam para fora de seu interior, na forma de arte, seus conflitos e

trabalhando através da utilização dos pincéis adequados, a busca interna e

externa das repostas para suas subversões. Cada voluntário será instigado a

explanar sobre o resultante do seu trabalho plástico, desenvolvido com o

auxílio do pincel, que foi previamente escolhido com o intuito de atender a

demanda do mesmo, sendo assim, o indivíduo será capaz de compreender

melhor o motivo do seu estado naquele momento, indo de encontro ao seu

autoconhecimento, internalizando através das propostas arteterapêuticas e

encontrando respostas para seus problemas através do processo prático.

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METODOLOGIA

A metodologia desta pesquisa se deu através da exploração dos

recursos gráficos que o pincel pode proporcionar através da utilização de

tintas, através dos trabalhos realizados por voluntários, sendo feito um estudo

de caso, relatando os resultados obtidos através do ateliê terapêutico. Os

principais autores e teóricos utilizados como base da pesquisa foram: Angela

Philippini, Eveline Carrano e Sara Paín.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - O Pincel e seus recursos gráficos 10

CAPÍTULO II - Demandas internas ao indivíduo e

a busca pelo autoconhecimento 15

CAPÍTULO III – Aplicação prática da Linguagem

do Pincel 27

CONCLUSÃO 35

ANEXOS 37

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41

ÍNDICE 42

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INTRODUÇÃO

Segundo Paín (2009), cada material na arteterapia, ao impor suas leis

e qualidades, não são neutros, sendo cada propriedade altamente significativa

para o sujeito, na medida em que este percebe que elas o ajudam ou limitam

suas tentativas de expressão. Ao escolher um material, deve-se compreender

sua linguagem e se este material será o suficiente para atender as demandas

do indivíduo. Qual seria a linguagem do pincel no processo arteterapêutico? O

modelo escolhido interferirá no resultado terapêutico do paciente? São essas

algumas dentre outras questões abordadas ao decorrer deste trabalho.

O instrumento de estudo escolhido para esta monografia apresenta

uma característica intermediadora entre o paciente e a superfície de trabalho,

onde será projetada sua produção artística na qual é revelado seu estado

emocional. Sendo a Arteterapia uma linguagem visual, na qual auxilia a

pessoa que tem dificuldades de se expressar por palavras, fazendo-a através

de símbolos, desenvolvidos em trabalhos plásticos. O pincel servirá como

instrumento decodificador e facilitador das questões do paciente, que segundo

Carrano (2010), os materiais de arte devem ser apresentados ao paciente,

conforme for sua demanda, porém um de cada vez, para que seja sentido e

experimentado, percebido e explorado toda sua possibilidade.

Serão apresentados modelos distintos de pincéis ao decorrer do

primeiro capítulo – O Pincel e seus recursos gráficos – abordando os

resultados expressivos e gráficos obtidos com a utilização dos mesmos, dentre

os modelos, foram adotados os mais comuns de fácil acesso e encontrados no

comércio específico de arte.

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No segundo capítulo – Demandas internas ao indivíduo e a busca pelo

autoconhecimento – serão relatados estudos de casos de voluntários que

apresentam distintas questões, e a busca pelo seu autoconhecimento através

da arteterapia. Passando por propostas plásticas, no intuito de trabalhar a

linguagem do pincel sobre a expressividade do paciente, em que cada

especificidade do pincel, irá proporcionar um resultado terapêutico distinto.

A partir dos trabalhos realizados com os voluntários, serão

apresentadas as questões pessoais projetadas nas pinturas, tais questões que

estavam adormecidas na sombra, no inconsciente que necessitavam ser

materializadas na forma de linguagem gráfica, comprovando que o indivíduo

em determinados momentos, consegue transparecer melhor seus temores por

símbolos do que com palavras. Resultando no tema central do terceiro capítulo

– Aplicação prática da Linguagem do Pincel -, onde serão analisados os

resultados que cada pessoa conseguiu atingir através da utilização do pincel

adequado dentro do processo terapêutico e o que esse resultado trouxe de

beneficente para seu bem-estar.

Esta pesquisa, não visa estabelecer atribuições rígidas a utilização dos

pincéis no processo arteterapêutico, apenas relatar os resultados práticos

identificados através da utilização dos mesmos dentro de determinadas

demandas específicas, Apresentando apenas algumas das infinitas maneiras

de como se utilizar este material no processo da Arteterapia.

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CAPÍTULO I

O PINCEL E SEUS RECURSOS

GRÁFICOS

Tendo em vista a necessidade de ter um objeto de estudo para esta

pesquisa, tornou-se a investigação sobre as vertentes linguagens dos

materiais como um ponto inicial, sendo um conhecimento primordial para o

aperfeiçoamento e embasamento do saber do arteterapeuta. Tendo em mente

que estes instrumentos são passiveis construção de narrativas na qual se

refere à subjetividade do criador dos trabalhos pacientes (PHILIPPINI, 2009;

1).

Devido a tal importância de entender e explorar tais ferramentas, não

serão abordados diversos materiais em tal estudo, e sim um em específico, o

pincel e suas vertentes dentro da Arteterapia. Visto que, tal ferramenta é de

grande importância no trabalho dentro do ateliê terapêutico, no qual

generalizadamente o indivíduo no mínio uma vez em sua vida já teve algum

tipo de contato, mesmo que em remoto passado, na época das fases da vida.

É de extrema importância para o arteterapeuta entender a linguagem da

ferramenta na qual pretende trabalhar com seu paciente, tornando assim o

caminho para a busca da solução para questões de seu paciente menos

extensa. Na arte, o indivíduo que não detém o conhecimento básico sobre

finalidade é obstinada cada ferramenta, nem sempre e até mesmo pode-se

dizer, não conseguirá atingir as metas de seus trabalhos artísticos. Levando

em consideração que a utilização dos materiais, será dada através da

experimentação, na concepção da tentativa e do erro, podendo gerar um

conflito pessoal acarretando na frustração e até mesmo na desistência do

trabalho caso não tenha conseguido obter o resultado desejado.

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“É importante que todos os arteterapeutas localizem qual

sua linguagem plástica mais facilitadora, que lhes permita

uma expressão mais livre, mais produtiva e mais fértil.”

(PHILIPPINI, 2009, p.39).

No mercado, conseguimos encontrar uma grande variedade de pincéis

no que diz respeito a modelos, podemos encontrar os que são feitos com pêlos

ou cerdas, porém existem dois tipos de organização destas particularidades

que resultam traçados distintos que devem atender a necessidade da

representação que o indivíduo pretende fazer sobre o suporte.

Os pinceis redondos, são materiais no qual absorvem mais as tintas,

permitindo assim, que o traçado sobre a folha seja mais prorrogado, devido a

retenção da tinta, não sendo necessário o mergulho do pincel na tinta várias

vezes. De acordo com o manuseio deste tipo de ferramenta, o resultado

gráfico pode variar, desde traços mais grossos, regulares e irregulares, até

traços finos de mesmas características. Já os pincéis chatos conseguem

espalhar mais a tinta sobre o papel ou tela, porém a pessoa que está o

utilizando fica condicionada a recorrer o recipiente com tinta mais vezes do

que se tivesse optado pelo redondo.

No que diz respeito a materiais de acabamento de tal ferramenta,

podemos encontrar os que são confeccionados com cerdas – na qual são

retiradas de animais suínos – ou pelos – extraídos de animais com pelos mais

macios e maleáveis. Lembrando que cada tipo vai proporcionar um resultado

diferente, efeitos que serão obtidos no momento em que se explora o pincel

com movimentos distintos, como por exemplo, um pincel de cerdas, com pouca

tinta, ao repousar sobre um suporte e sendo feito um movimento, o registro

será mais rústico, e se ao invés de movimentar e sim levantar o pincel e

repousar sobre a tela repetitivamente em espaços diferentes, será obtidos

pontos ou rabiscos próximos. Já com os pincéis de pelo, como mencionado

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anteriormente, conseguimos uma gama maior de traçados, regulares e

irregulares, mas também podemos fazer o uso desta ferramenta um pouco

mais distante, carregando os pelos com tinta e jogando sobre o suporte, ai

vários fatores irão influenciar no resultado gráfico, desde a intensidade do

movimento da mão, a quantidade de tinta e o posicionamento do pincel

perante a tela ou papel.

Ao estabelecermos regras sobre as técnicas de pintura, estaremos

condicionando e podando o poder criativo da pessoa que irá utilizar o material,

o estudo deve-ser dado através da experimentação sem uma finalidade para

aquela produção, como pro exemplo, propor a uma pessoa que nem tem uma

certa familiaridade com o pincel, lhe oferecer folhas, pedir para que sinta a

textura da mesmo, lhe conduzindo a ficar com os olhos fechados, e em

seguida lhe oferecer o material junto com a tinta, pedir para que trace linhas

distintas, apenas deixando fluir os movimentos até que o instrutor, no caso do

foco da pesquisa, o arteterapeuta, sinta que já e o momento de trabalhar a

proposta do trabalho. Este caminho vai proporcionar mais segurança no

momento de se expressar, dando um desprendimento do meio exterior ao

ambiente do ateliê ou espaço onde será conduzida a sessão de Arteterapia.

Dentre as recomendação na produção artística é que seja usado, por exemplo,

um pincel com cerdas largas ou mais grossas para preencher um espaço maior

pretendido na pintura, e torna-se igual quando temos uma área de menor

dimensão, sendo os pinceis menores indicados para tais tarefas.

Na Arteterapia o uso do material vai além do que foi pré-estabelecido

por algum manual ou conceito, dando o livre arbítrio a quem o utiliza e qual

melhor forma de manuseá-lo, porém são apresentado parâmetros de uso,

apenas como orientação e não regras que devem ser seguidas e aplicadas,

enfatizando o eixo central desta linha lógica junguiana, onde a livre expressão

é a única condição que o sujeito tende a se submeter, para seus trabalhos

artísticos se libertem de conceitos no qual um adulto já está condicionado e

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aprisionado, como por exemplo regras de proporção na representação dos

objetos ou pessoas.

A expressão deixa em evidência ideias e sentimentos, sendo conduzida

por gestos e até mesmo por palavras, dando forma a algo que pode estar no

nosso consciente ou no inconsciente (PAÍN, 2009, p.93). Esta forma de se

expressar através da arte, possibilita uma “verbalização” mesmo que através

da linguagem visual, deixando em evidência o estado do individuo

transversalmente na sua produção artística. Basta ser feita uma análise de sua

pintura e tendo um olhar apurado, que iremos identificar através de seus

registros sobre o suporte, um semblante de seu mundo interior, algo que até

mesmo está oculto para a pessoa que a produziu. O manuseio dos materiais

corretos no processo arte terapêutico, deixa transparecer aquilo que está

oculto na sombra dentro do sujeito, que necessita se materializar para ficar em

evidência e poder ser trabalhado.

Ao selecionar um pincel que atende as necessidades do paciente, o

arteterapeuta irá trabalhar com seu paciente aquela linguagem até que o

mesmo consiga combater seus anseios de forma e num ritmo pessoal, dando a

possibilidade do indivíduo refletir e contextualizar para sua vida todo aquele

processo praticado no momento em que sua arte deixou em evidência em qual

ponto ele precisa trabalhar e iluminar para que aquela demanda não se

esconda na sombra por de trás de seu ego. O objetivo desta monografia é

elucidar a importância desta ferramenta (o pincel) e suas possibilidades na

linguagem gráfica e libertação da expressividade do paciente em busca de sua

individualização, transformando sua vida através da Arteterapia.

“Transformação: Uma transição psíquica envolvendo

regressão e perda temporária do ego, para trazer à

consciência e preencher uma necessidade psicológica até

então não assumida. As experiências de transformação

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envolvem uma morte e uma renascimento. Este processo

conduz a individualização.” (BELLO, 2003, p.234).

O manuseio do pincel no trabalho realizado que será explanado no

próximo capitulo, será de grande importância para o ateliê terapêutico, vista

que, abordagem desta pesquisa trata o pincel como ferramenta que

intermediadora entre o indivíduo e o meio onde a arte será representada.

Tendo em mente que de acordo com o estado emocional da pessoa, geradora

do trabalho terapêutico, os traçados produzidos sobre a folha ou tela, será

evidenciador da problemática que o indivíduo carrega consigo.

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CAPÍTULO II

DEMANDAS INTERNAS AO INDIVÍDUO E

A BUSCA PELO AUTOCONHECIMENTO

Tendo como meio para este projeto de monografia e o que a tornou

possível, foi necessária a participação de voluntários para o estudo de caso,

algo que é de extrema importância para mostrar as questões propostas pelo

tema central do trabalho e exemplificando através das vivências relatadas.

Serão abordados neste capítulo o relato de pessoas que apresentam

determinadas questões, onde serão explanados momentos de suas vidas, no

ambiente na qual as frequentam e principalmente como essas demandas

pessoais podem interferir nestes meios, podendo refletir em seu desempenho

e até mesmo no relacionamento interpessoal de cada um.

Foram evidenciadas questões como: dispersão, timidez, expansividade

e apego. A busca do equilíbrio destas atribuições, serão dadas através das

propostas arte-terapêuticas, no manuseio do pincel e sua linguagem

arteterapêutica proposta nesta monografia. O pincel dentro deste processo

será determinante para a busca do bem estar destes indivíduos, desde o

momento em que cada um consiga absorver através das propostas plásticas a

linguagem que adequará a sua necessidade. Esta linguagem poderá ser direta

ou indireta, pois nem sempre no momento em que se esta manuseando a

ferramenta, o indivíduo consegue compreender o por que está manuseando

aquele material e daquela forma, assim em um momento póstumo, a reflexão

sobre tais ações se elucida para o paciente, dando-o a possibilidade de

transmitir e contextualizar aquele momento plástico e prático para a sua vida.

Tendo como base nos conceitos da Arteterapia, o processo que é dado

através das práticas, é estabelecer a individualização e a autoreflexão sobre o

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estado do indivíduo naquele momento, transparecendo através de seus

trabalhos, no caso desta pesquisa, de maneira gráfica, qual seria o ponto de

partida para o arteterapeuta pode trabalhar como o seu cliente. O traçado

deixado pelos pinceis e as formas como eles serão conduzidos, irá evidenciar

o processo de amadurecimento do indivíduo, trazendo para sues trabalhos as

suas demandas e desmistificando-as.

O ateliê terapêutico proposto neste trabalho será desenvolvido na

residência do indivíduo, para que o mesmo se sinta à vontade ao se expressar,

sem a interferência de um meio exterior, fora ao seu comum frequentado.

Serão preservadas as identidades dos mesmos, levando em consideração a

importância apenas de suas questões e as evidenciando para que seja tratada

de uma forma geral dentro das propostas arteterapêuticas.

Antes de iniciar seu trabalho, o arteterapeuta, deve conhecer melhor

seus pacientes, para que possa ter um referencial, que possibilite destrinchada

a vida daquele indivíduo que necessitará de seu auxílio, então, o profissional

da área, deve fazer uma entrevista ou fornecer um formulário para este cliente,

fazendo perguntas indiretas até conseguir extrair qual a demanda que

necessitará ser trabalhada, caso não seja evidenciada no início. A Arteterapia

se dá através de seções, sendo um processo contínuo, onde o paciente irá se

conhecer e o arteterapêuta irá conhecer melhor seu cliente.

Para esta pesquisa, foi estabelecido o método de entregar o formulário

ao voluntário e assim, em seguida era feita uma entrevista com a pessoa,

possibilitando reforçar ou até mesmo evidenciar onde realmente precisa ser

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trabalhado no ateliê terapêutico, sendo esse segundo momento dado pelo

encontro, transparecendo por parte do voluntário o que ele não conseguiu

descrever através de duas palavras no questionário. Tais questões necessitam

ser elucidadas, sendo a Arteterapia é a linguagem para quem não consegue

transmitir por palavras o que sente e sim por imagem, mas lembrando que a

linguagem gestual também pode representar muito, principalmente no

manuseio do pincel e o resultado gráfico e expressivo de tal ferramenta.

Urrutigaray (2011. p:34) diz que na interpretação dos materiais,

devemos encontrar sua linguagem e a suas possibilidades na expressividade

do trabalho que o arteterapeuta pode ter com o seu paciente, lembrando que o

profissional da área não irá transmitir técnicas de pintura para seu cliente e

sim fornecer canais para que o mesmo possa se compreender e ser

compreendido. Trabalhar com uma pessoa a ir estabelecendo regras como

utilizar tais matérias, irá podar o seu poder criativo, limitando-a a determinadas

condições que não permitirão com que a proposta da Arteterapia seja

realmente trabalhada de forma na qual deve ser, conduzindo assim o processo

terapêutico para o extremo oposto do foco da pesquisa.

Devido a tal trabalho ser desconhecido para as pessoas que fizeram

parte desta pesquisa, iremos constatar uma certa dificuldade em compreensão

de sua proposta, porém o objetivo que deve ser levantado pelo arteterapêuta é

que os indivíduos que se submete a tal terapia irá de encontro com seu

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autoconhecimento e irá estabelecer meios para melhorar sua condição e

reflexões, com o objetivo também de manter o seu bem-estar.

2.1. - DISPERSÃO

Como meio de pesquisa, esta monografia irá relatar casos particulares

de voluntários e o processo arteterapêutico trabalhado dentro de um

determinado tempo. Como ponto de partida do estudo de caso, iremos

conhecer melhor a primeira voluntária deste trabalho, Érica que mora com seu

marido e filha, sendo sua rotina nada repetitiva devido ao fato de ainda ter uma

filha com menos de dois anos de idade e seus momentos de experimentação

em ser mãe pela primeira vez. Além de dividir as atividades do lar com seu

marido, ambos trabalham em um restaurante e dividem os cuidados de sua

filha com sua sogra e seu cunhado durante a noite, momento em que o casal

está no trabalho.

A voluntária relata que a cada dia tem algo novo para fazer, apesar das

recorrentes atividades do trabalho, no momento que cuida de sua filha única

que ainda está desenvolvendo seus meios de expressão, sempre tendo de

arrumar seus brinquedos espalhados pela casa, devido a sua filha ter retirado

do local ou até em suas tentativas de andar pela casa. Érica se mostra calma

ao se referir a essa experiência, pois diz que o marido a ajuda muito, dividindo

os momentos em que necessitam alimentar e dar banho na neném, elogiando

que enquanto a isso não tem do que reclamar.

No trabalho, ela relata que auxilia no preparo das refeições, cortando

alguns legumes, aplicando tempero, dentre outras atividades que um auxiliar

de cozinha devidamente tem que fazer. Descreve suas atividades de uma

forma afetiva, na qual diz estar satisfeita com o trabalho no qual está atuando,

por estar também próxima ao marido, que é chefe no restaurante e toda a

realização de ter sua família estruturada.

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Dentre essas questões de realização, é instigado no momento da

entrevista à questão de que se ela tinha algo que a incomodasse, podendo ser

em si ou em outra pessoa, tendo como resposta apenas que ela se sentia uma

pessoa diferente e que as pessoas em si não devem ser iguais e que devemos

respeitá-las. Insistindo na questão pessoal, confessa que se sente às vezes

dispersa em determinados momentos, tanto em seu trabalho quanto em casa.

Esse tipo de pergunta, partindo de um meio coletivo para o pessoal, deve ser

abordado pelo arteterapeuta, pois quando essas demandas não estão tão

claras, o indivíduo pode se sentir realizado ou até mesmo normal a ponto de

esquecer que somos seres humanos e temos nossos extremos, como o uma

satisfação ou desconforto sobre si quanto pelo próximo.

É ressaltada pela voluntária de que em momentos de seu trabalho

esquecer de realizar algumas tarefas na qual lhe é destinada, pois o excesso

de trabalho é relevante, e que não consegue guardar as tarefas que tem que

cumprir, ou até mesmo começa uma e parte para outra e não consegue

cumprir com as duas até o término por conta própria, sendo as vezes ajudado

pelo marido.

Nos afazeres de casa, Érica também se sente dispersa, tenta fazer tudo

ao mesmo tempo, cuidar da filha, cozinhar e arrumar sua casa, nos momentos

que está só, não consegue concretizar todas as suas tarefas e pelo seu relato,

declara se pegar em momentos como se estivesse desligada do mundo que a

cerca, necessitando “despertar” para finalizar seus afazeres. A partir deste

caso, podemos evidenciar uma pessoa que se sente auto-realizada com sua

família e trabalho, porém se sente acuada devido a sua dispersão, mas mesmo

assim, não consegue dar conta de que esta questão pode vir a acarretar algum

prejuízo em sua vida. Porém já é sinalizada pela própria pessoa que tem algo

que precisa melhor, porém não reconhece da devida forma, pois a convicção

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de que tudo está certo e esquematizado em sua vida, que deixa tal entusiasmo

sobressair sobre esta demanda que é evidenciada a partir do relato.

Deixar evidente para o indivíduo a questão que ele necessita trabalhar é

de caráter neste processo arteterapêutico, porém, não deve ser dito pelo

arteterapêuta, se dando pela análise que o próprio paciente irá fazer a partir

de seus trabalhos. Todo este processo quando não é evidente pelo paciente,

de forma alguma, ai sim pode ser instigado pelo profissional, fazendo

perguntas sobre o que desenhou, e quais são os significados pelas

representações para si, podendo estender suas perguntar para questionar

como estava o estado deste paciente, como ele se sentia no momento em que

estava realizando a atividade. Estava concentrado? Dispenso? E assim por

diante...

2.2. – TIMIDEZ

Tendo em vista a experimentação através de vivências, foi dada a

importância de casos distintos para tentarmos compreender melhor algumas

demandas, que podem se assemelhar em alguns momentos, porém

compreendemos suas particularidades através dos relatos descritos nesta

monografia. A busca do bem-estar se dá quando o indivíduo enxerga de forma

clara que necessita de ajuda, porém esta se dá através de um procedimento

no qual ele é submetido como mencionado anteriormente.

PAIN (2009. p:81) , diz que a representação mental até chegar a uma

representação objetiva, possibilita a visibilidade que o sujeito esquematiza,

também reflete sobre a questão do trabalho da Arteterapia, de que a pessoas

não precisa ter o domínio e nenhum conhecimento prévio sobre as técnicas

artísticas, podendo ter tido uma remota noção na época escolar como um

contato anterior direto com os matérias plásticos de arte. Podemos constatar

que tal circunstância não é agravante no trabalho com a Arteterapia, pois os

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caminhos para qual tal área segue não estão ligados diretamente com as

técnicas e sim o processo, a experimentação dos matérias como meio de

intercambiar as demandas do indivíduo se torna mais plausível do que o seu

valor real estético. Sendo assim, neste segundo caso, iremos evidenciar

também a expressão corporal do voluntário, onde podemos fazer um esboço

da característica do mesmo através de seu aspecto corpóreo.

Alex é uma pessoa jovem que se mostra calmo e de poucas palavras,

mora com sua família e cursa o ensino superior em uma instituição pública.

Sua auto descrição é de uma pessoa responsável, compenetrado em suas

atividades e ressaltando que sempre se esforça para ajudar o próximo, mas

em momentos esquece de que também precisa de cuidados, tendendo a olhar

melhor para problemas dos outros como prioridade e esquece dos seus. Se

adjetiva como uma pessoa tímida que só fala o necessário, não conseguindo

em determinados momentos se expressar e mantendo-se em silêncio.

Menciona também que possui apenas alguns amigos no qual tem mais

cumplicidade e que apenas com eles é que consegue se expressar e

desabafar sobre seus problemas e questões pessoais. Diz que sente uma

determinada dificuldade em chegar próximo à outras pessoas para conversar,

não verbalizando muito quando o faz, não aumentando seu clico de amizade,

sendo assim também sente dificuldades para se expressar em público, em que

se vê em determinados momentos acuado e principalmente exposto na hora

em que necessita apresentar algum trabalho científico em sua faculdade.

Ao observar sua expressão corporal, pode-se detectar uma figura

fechada para si, que não deixa seus canais expressivos se manifestarem, não

se gesticulando no decorrer da entrevista e mantém o mesmo semblante

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durante o tempo todo. A partir destes apontamentos, podemos evidenciar uma

série de fatores que sinalizam uma pessoa tímida, que não consegue ter tanta

proximidade com outras pessoas foras àquelas que já pertencem ao seu ciclo

de amizade, onde não consegue e evita ao máximo se apresentar ao público, e

quando isto acontece, segundo relato se dá em voz baixa e às vezes trêmula.

“O profissional em Arteterapia destina-se, assim, como

agente facilitador do processo de busca pela totalidade

cológica, ou realização do Self, ao exercício de

estimulação da criação e ao de observar e acompanhar o

processo de criação, de maneira que seu atentar deve

dirigir-se para o que vê e ouve durante a dita execução da

obra.“ (URRUTIGARAY, 2011, p.109).

Em um determinado momento mais adiante, iremos observar que este

olhar do arteterapêuta deve ser realmente apurado, não apenas na análise do

resultante da obra de seu paciente como também em seus gestos na execução

de seus trabalhos.

2.3. – EXPANSIVIDADE

A partir destas descrições, estaremos conhecendo melhor a terceira

pessoa na qual foram trabalhadas as propostas arteterapêuticas enfatizando a

linguagem do material (pincel). O trabalho foi feito com uma pessoa do sexo

masculino, vinte e dois anos que reside com seus avôs desde pequeno, sendo

pessoas conservadoras e um pouco rígidas.

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Allan diz que se sente um pouco introspectivo dentro do seu ambiente

familiar, pois sente certa frieza no relacionamento com seus avôs, porém no

ambiente externo, já consegue lhe dar fácil com outras pessoas, onde

consegue se expressar melhor e principalmente com seus amigos. Relata que

consegue verbalizar melhor com pessoas que não pertencem a sua família dos

que a que pertencem, sendo assim o mesmo se descreve como sendo uma

pessoa carinhosa e que não consegue obter este afeto do ponto que esperava

dentro de sua casa.

Devido a tal circunstância, o voluntário menciona algo que observa em

si, em momentos que se vê em amigos, se enxerga como uma pessoa

expansiva, que fica ansioso em se manifestar com os outros que estão ao seu

redor que até mesmo às vezes não consegue ter uma visão definida sobre

algumas pessoas. Se mostrando uma pessoa que se dá bem com outras em

qualquer tipo de ambiente, mostrando ser um indivíduo flexível, afável e muito

comunicativo, sendo assim em determinados momentos relata ter uma

presença forte aonde ele vai.

Um auto questionamento que foi mencionado antes e que estaremos

focando neste caso é sua expansividade em ambientes em grupo, visto que o

Allan se diz uma pessoa comunicativa, porém confessa que às vezes devido a

sua ansiedade em contar algo acaba excedendo seu espaço e não permitindo

que em alguns momentos a pessoa que está em sua companhia se manifeste,

este seria um ponto que foi mencionado durante a entrevista com o voluntário.

E este aspecto também se dá em alguns momentos no espaço físico, como no

seu ambiente de estudo e trabalho, onde se expande também com seus

pertences, organizando-os, porém não consegue dar conta apenas daquele

local a si reservado, tendo a necessidade de ocupar mais espaço do que

realmente necessita para conseguir realizar seus trabalhos.

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Como um arteterepêuta poderia analisar este tipo de situação?

Observando todos esses aspectos descritos pelo indivíduo, pode-se analisar

que ele é uma pessoa que se sente em alguns momentos reprimida dentro de

sua casa, que tem um determinado tipo de comportamento diferente com os

que convivem, sentindo falta de um retorno afetivo na qual espera, sendo

assim ao estar com outras pessoas que não são tão rígidas, consegue se

expressar melhor e transparecer o seu verdadeiro eu. Neste momento a

pessoa se sente compreendida e se manifesta de forma expansiva,

enfatizando o ponto de vista que este meio na qual ela passou a pertencer,

consegue de fato uma determinada atenção e sente tanta necessidade de se

tornar ouvida que acaba gerando uma ansiedade além da conta.

“Já com relação aos objetivos sociais, a Arteterapia

favorece, por sua modalidade pedagógica, o

reconhecimento da dimensão simbólica presente na

relação com o outro, das qualidades humanas tanto

positivas quanto negativas. Além, de perceber-se mais

tolerante e paciente para com a dificuldade alheia e,

também, para com a sua, o indivíduo tem a possibilidade

de se sentir incluído, ou fazendo parte de um grupo.“

(URRUTIGARAY, 2011, p.87).

Este tipo de caso, pode ser generalizado para indivíduos que não

conseguem se conter ou preservar apenas o seu espaço por algum

determinado motivo, e quando se sentem acolhidos por uma outra pessoa ou

por um determinado grupo, se expande e tende a ter sua presença notável

naquele meio. O motivo para tal comportamento em muitos casos, não é feito

pela intenção do próprio indivíduo, dado de forma natural e imperceptível para

quem se manifesta desta forma. Podemos analisar do ponto de vista que

quando a pessoa consegue encontrar alguém para lhe ouvir, detecta meios

para se expressar, tendo pessoas que estão ali para lhe ouvir e compartilhar.

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Retomando o caso do terceiro voluntário, é evidenciado alguns

aspectos no qual o próprio sente-se na necessidade de trabalhar, se interar ao

meio de forma pessoal e interpessoal, tendo esse parâmetro pela conversa e

descrição dos fatos dentro do ambiente acadêmico e de trabalho. Um fator

determinante neste relato é a consciência do indivíduo perante a sua questão,

na qual pretende trabalhar, pois nem sempre é nítido, apenas sendo uma

questão latente para a pessoa, não sabendo onde necessita de ajuda, apenas

sabe que necessita dela para se estabilizar. Reforçando que a individualização

é algo primordial no trabalho arteterapêutico, pois no momento que as

propostas plásticas forem sendo trabalhada, a pessoa irá afligir suas questões

internas e as transmitir para o papel, mesmo que não seja através do primeiro

trabalho, sendo um processo e não apenas um momento único.

Pelo fato do voluntário já ter evidenciado sua demanda, o trabalho do

ateliê terapêutico, poderá ser menos extenso, porém se o mesmo não

conseguir internalizar a linguagem do material no qual lhe foi fornecido, poderá

ter um processo um pouco mais longo, a partir das experimentações que serão

feitas com objetivo de atender sua questão, mostrando qual seria o espaço do

próximo e qual ele poderia ocupar. Os métodos utilizados nas práticas irão

direcionar-lo para seu autoconhecimento e a busca pela sua individualização

dentro dos seus ambientes comumente frequentados.

2. 4. – APEGO

Neste relato, iremos ressaltar a experiência da quarta voluntária, sendo

ela uma senhora de idade, Esmeralda que tem oitenta anos, é solteira e vive

com seus dois netos, que os cria desde pequenos. Filha caçula dentre cinco

irmãos, desde nova está acostumada a cuidar dos afazeres do lar, relata que

os faz com muita dedicação e carinho pelas pessoas que estima, sendo uma

pessoa que tem uma vida normal e uma rotina de um certo modo repetitiva.

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Esmeralda relata que costuma guardar objetos que lembram seu

passado, como roupas, tecidos, e objetos de pequeno porte, cuida-os de forma

pessoal e minuciosa, os mantendo guardados dentro de seu guarda roupa. Um

outro ponto que é evidenciado durante a conversa, é o foto dela preservar

suas fotos e outros papéis de até mesmo de valor nenhum guardado.

A trajetória de sua história vai descrevendo uma pessoa que se sente

presa a passado, mas também esboça uma pessoa presa aos seus pertences,

mesmo os que não tem valor real, porém se fosse apurado com um olhar de

arteterapêuta, será evidenciado uma carga afeto-sentimental presentes neste

caso. O perfil descrito acima poderia se enquadrar num caso de um indivíduo

ao qual se prende a determinados objetos, uma afeição e até mesmo um

caráter de apego sobre esses objetos que podem estar remetendo a símbolos

do seu passado.

Durante a conversa, a voluntária menciona que não gosta de ver suas

coisas fora do local onde as deixou, diz que se sente algo desfragmentando

dentro de si quando um objeto seu é danificado ou perdido por algum motivo

qualquer. Costuma guardar outros pertences em gavetas, estas sempre com a

maçaneta trancada, segundo suas palavras para que outros não baguncem

seu espaço no qual se dedica seu tempo para arrumar.

Ao decorrer das propostas que iremos analisar no próximo capítulo,

conseguiremos detectar essas as características de cada voluntário durante as

o desenvolvimento dos seus trabalhos no ateliê terapêutico, evidenciando o

processo constante do indivíduo através da linguagem do pincel nas propostas

arteterapêuticas.

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CAPÍTULO III

APLICAÇÃO PRÁTICA DA

LINGUAGEM DO PINCEL

Com base nos relatos coletados dos voluntários, pode-se analisar

questões afetivas que necessitam serem trabalhadas, fazendo do tratamento

arteterapêutico um marco inicial no processo evolutivo destes indivíduos que

são inerentes a tais questões apresentadas.

As propostas dos ateliês terapêuticos que serão apresentadas terão

como base fundamentadora princípios da Arteterapia, no que diz respeito aos

materiais artísticos facilitadores, que proporcionam uma melhor expressão do

paciente quando bem selecionado pelo arteterapeuta. Juntamente com o

manuseio dos pincéis, os voluntários irão trabalhar o grafismo através de suas

pinturas, porém não será enfatizando o valor simbólico de tais criações,

apenas a expressividade e contextualidade que este fazer irá lhe proporcionar

seu bem estar.

“No entanto, este é um dos mais significativos

aprendizados a fazer com a pintura: deixar fluir, deixar

sair, escorrer, extravasar, transbordar, abrir mão do

controle, não tentar controlar a forma e deixar-se levar

pelo prazer da descoberta que vem usinada por cada

tom, cada mancha, cada espaço.” (PHILIPPINI, 2009,

p.38).

PHILIPPINI apresenta a linguagem da pintura como um processo

criativo, em que o paciente necessita se desprender de conceitos, podendo ser

estes estéticos ou não e regras, dando o livre arbítrio no processo criativo na

Arteterapia.

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Antes de iniciar a parte prática com cada voluntário, foi realizado um

processo de relaxamento, em que consistia no desprendimento do mundo

exterior a cada um, pois durante o processo criativo, o indivíduo busca

referências de vivências anteriores que nem sempre referem-se às propostas

dos trabalhos arteterapêutico. Foi induzido a cada um que fechasse os olhos,

buscando olhar para o seu interior, ficando em silêncio e se sentindo como

matéria que ocupa aquele espaço, respirando fundo e soltando todo o ar

inspirado repetidamente. Quando foi constatado que o voluntário atingiu um

semblante estável que demonstrou que ele conseguiu relaxar, dói induzido que

o mesmo busca-se tais demandas que foram mencionadas no momento da

entrevista.

Após a reflexão sobre tais assuntos, foi iniciada com a voluntária Érica a

prática que consistia na criação de imagens que representassem seu dia a dia,

como método prático, foi selecionada uma folha tamanho A4 (tamanho padrão)

e um pincel redondo grande. Deixando sempre a disposição todas as tintas,

somente limitando ao pincel previamente selecionado. Em seguida, foi

oferecida mais uma folha e só que de tamanho menor A5 (metade de uma

folha A4) e ofertado um pincel também redondo com cerdas menos volumosas

e pequenas.

As representações apresentadas por Érica, descrevem toda sua rotina

relatada anteriormente, porém durante a realização dos trabalhos plásticos, foi

observado que em determinados momentos era iniciado um desenho na folha,

não concluindo e partindo para outra representação em outro espaço do papel,

deixando lacunas para serem preenchidas. Um questionamento apresentado a

voluntária é que se ela se sentia satisfeita com as representações, e por quê?

A resposta foi não plenamente, em ambos os desenhos em alguns momentos

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as formas estavam incompletas, tendo como reflexão para um próximo

encontro, qual seria a melhor forma de resolver tal questão.

Numa segunda sessão com a voluntária, apresentei os dois pinceis

anteriormente utilizados por ele, pedi para que ela os analisasse e desse

algumas características, sendo descrito por ela como ambos macios e

delicados e o outro menos devido a suas cerdas. Neste momento poderia ser

utilizado qualquer tipo de pincel redondo, porém de tamanhos distintos,

lembrando que este tipo de pincel retém mais tinta. Para dar continuidade foi

perguntado se ambos conseguiam realizar o mesmo tipo de trabalho, tendo

como resposta, não, que cada um tem sua particularidade, e para terminar, foi

questionado se ela fosse refazer os mesmos desenhos como ela poderia se

organizar para chegar ao resultado esperado – fazendo os desenhos e

pintando um por vez.

Neste momento chegamos à questão que foi abordada com o intuito de

voluntária internalizar tal questão plástica as demandas de sua vida, que é o

objetivo da Arteterapia. Então foi proposto as pinturas fossem refeitas com os

mesmos materiais e as mesmas representações das pinturas anteriores,

somente tendo a interferência, induzindo e perguntando qual foi o primeiro

desenho dentro da pintura que foi feito, tendo como resposta, sua filha, e

sugerindo que fosse pintada primeiro, em seguida o segundo, e assim até que

ela mesma tomasse consciência da importância de cada representação e a

que momento seria concretizado cada uma.

O pincel redondo possibilita um contato mais próximo da folha, por ter

cabo menor e esta particularidade permite que o indivíduo que o utilize esteja

mais próximo da área de trabalho e lançando a questão da finalização de cada

representação por vez e sendo pontuado pelo arteterapeuta, toca na questão

da dispersão apresentada pela voluntária, sua dispersão, porém não é tarefa

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do profissional responder as perguntar aos seus pacientes, e sim lançar

respostas e esperar sua autocrítica ou auto-reflexão.

O trabalho realizado com Alex, não foi enfatizada a representação

figurativa e sim a abstrata, devido o voluntário não se sentir a vontade em

fazer imagens que não fiquem parecidas com as formas reais, mesmo sendo

elucidado que o valor estético no trabalho arteterapêutico não é de tão

importância quanto o significado das formas apresentadas.

Após o relaxamento foi oferecida uma folha de pequena dimensão,

menor do que um A5, um lápis grafite e um pincel de cerdas chatas e

pequenas. Como primeiro passo, foi pedido para que Alex pegasse a folha e

sentisse o papel, fechasse os olhos e tateasse por toda dimensão que seria

pintada. O objetivo de selecionar também o lápis para está pratica

arteterapêutica é de dar segurança ao paciente quando o arteterapeuta

observar que o mesmo não está se sentindo seguro ao manusear de início os

pinceis.

Com a folha já posicionada e tendo em mente quais eram as formas que

iria representar, o voluntário ficou muito concentrado, e em cima da folha, se

colocando sobre seu desenho, como se estivesse se fechando naquele

espaço. Após ter usado o lápis em seguida o pincel, o trabalho apresentado,

constata formas básicas que estão ocupando apenas um pequeno espaço da

folha, ressaltando que a folha já era pequena. Levando para uma reflexão com

o voluntário se aquelas formas tinham algum significado, sendo contestado

que não, que representavam apenas figuras (geométricas) aleatórias.

O segundo momento foi dado no instante que Alex recebeu a folha A4

para trabalhar, tamanho relativamente três vezes maior que a folha anterior e

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um pincel chato, só que com cerdas um pouco mais amplas. A proposta da

abstração foi mantida, porém o lápis já foi retirado, com o intuito de auxiliar o

voluntário a ter uma autoconfiança em seu trabalho e com o material que será

trabalhado. O mesmo procedimento de análise do espaço da folha foi repetido

e o pincel oferecido já tem um cabo maior que permite que a pessoa pinte um

pouco mais distante do suporte.

O arteterapeuta necessita, como mencionado num momento anterior

nesta pesquisa, observar também a expressão corporal do paciente no

momento da confecção do trabalho, principalmente para indivíduos que se

sentem retraídos e que buscam uma melhora nesta questão. No primeiro

trabalho o voluntário estava mais próximo a sua folha e com este segundo

pincel de cabo longo oferecido, fez com que ele se distanciasse mais do papel

permitindo-lhe uma visão mais ampla do espaço que poderia preencher. A

segunda pintura apresentada já mostra uma grande evolução enquanto

material plástico.

Após os dois trabalhos concluídos foi pedido para que Alex fizesse uma

comparação entre ambos, sendo analisada a pintura menor como apenas

contendo formas simples, posicionadas mais para a extremidade da folha

como se tivesse querendo sair do papel e a segunda pintura, mais harmoniosa

porém descentralizada. Sendo questionado também o espaço vazio, a

distribuição das formas e como isso se reflete na vida dele, tendo como

resposta que em momentos específicos se sente assim, não ocupando o

espaço que lhe cabe, tentando ficar apenas no seu canto e que gostaria de ser

mais comunicativo e expressivo.

Levando esta questão para a Arteterapia e abordando a linguagem do

pincel, vimos que a seleção de pincel diferentes proporcionou uma visão

diferente e mais ampla do espaço conforme a necessidade da situação

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desejada, sendo este o momento para ampliar o campo expressivo

apresentando um pincel maior e que preencha mais o espaço da folha.

No terceiro e último trabalho da única sessão, a pintura foi realizada

numa folha A3 fixada a mesa, repetido o mesmo procedimento anterior do

mapeamento da folha, e em seguida foi orientado que Alex fechasse os olhos

e retornasse com o lápis fazendo linhas aleatórias sobre a folha sem levantá-

lo, fazendo com que o mesmo se sentisse livre para se expressar e se

gesticular sobre a folha. O campo de espaço que antes era sobre a folha,

quase que escondendo o desenho, se tornou mais amplio, necessitando que o

voluntário saísse da sua zona de conforto e percorrendo por todo espaço da

folha. Após com o pincel de cerdas largas e chatas foi dado o preenchimento

dos espaços e ao término a folha por completo estava colorida, levando para a

reflexão do voluntário os espaços e as possibilidades de preencher e se

expandir, buscando a perda da inibição e o receio de explorar ambientes

novos.

O trabalho proposto com a voluntária Esmeralda foi realizado em duas

sessões, sendo necessário um resgate de alguns momentos para que possa

ser trabalho o desapego das imagens simbólicas. No primeiro encontro foi

feito um apanhado em revistas, sendo feito recorte de imagens de

elementos que lembrassem seu passado, sendo de caráter positivo ou

negativo. Com as imagens coletadas e após o relaxamento, foi solicitado à

Esmeralda que selecionasse as primeiras imagens que lembrasse sua

infância e que mantivesse essas imagens como referências para o trabalho

plástico.

A partir de tais imagens, foi fornecida uma folha padrão e dois pincéis,

um redondo fino e um chato médio e tintas, com a intenção de representar

tais imagens que lhe proporcionavam sensações que remetiam a sua

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infância na folha. A voluntária começou a realizar as pinturas com muita

dedicação e levou um bom tempo para concretizar o trabalho.

O trabalho de Esmeralda apresentava todo o cuidado e afeto o mesmo

apresentado durante a entrevista tida anteriormente, representando uma

carga muito afetiva, tendo direito a uma narrativa para justificar as escolhas

das imagens que utilizou como referência no ateliê terapêutico.

Uma questão que vale ser pontuada em trabalhos com pacientes com

uma determinada idade avançada, é que, mesmo querendo chegar a uma

determinada proposta dentro do objetivo da Arteterapia, necessitamos

oferecer mais possibilidades para que o indivíduo mesmo dentro de suas

limitações, que neste caso pode ser motora, possa adotar um meio de se

expressar claramente, e devido a tal observação que durante o trabalho

realizado com esta voluntária, foram oferecidos mais de um tipo de pincel e

que atendesse o preenchimento tanto de uma área pequena quanto grande.

No segundo encontro e previamente combinado no anterior, Esmeralda

separou as imagens que remetessem ao seu presente e foi lança a proposta

de cobrir o desenho feito anteriormente com o novo desenho com base

nessas novas imagens, tendo certa resistência por parte da mesma, mas

que acabou aceitando. Trabalhar o efêmero para pacientes que necessitam

desapegar de alguma forma de objetos ou determinadas situações que

vivenciaram, faz com que reflitam sobre o passageiro, o momento em que

vivem e o que deixou para trás. Neste caso, se o paciente apresentar

resistência em se desfazer de seus trabalhos e transformá-los em outros,

pode registrar com fotografias e propor que a guardem e assim continuem

seu trabalho arteterapêutico em cima do que já fizeram.

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Com os mesmos pincéis oferecidos anteriormente, Esmeralda foi

pintando as novas imagens e ao término disse que ficou surpreendida com

o resultado e que gostou de ter feito esta proposta mesmo que internamente

se sentisse como se estivesse perdendo uma parte de sí. Se desapegar é

difícil, pode ser trabalhado continuamente, e para término de trabalho com

nossa voluntária, foi proposto que em determinados momentos mais adiante

ela faça o mesmo tipo de trabalho, coletando imagens que expressem seu

estado naquele momento e pintando em cima daquele trabalho realizado no

ateliê terapêutico e caso queira pode guardar uma foto-cópia do trabalho

antes de descontruí-lo.

No estudo de caso relatado, vimos algumas das grandes possibilidades

da linguagem do pincel que podemos aplicar no trabalho com Arteterapia,

lembrando que tais descrições não são rígidas a ponto de torná-las regras

como manual de uso, senão a proposta iria contra os princípios da nossa

área de competência. O arteterapeuta no momento que faz o seu

atendimento deve além de observar a expressão corporal de seu cliente,

também deve se atentar ao seu modo expressivo motor, e caso detecte uma

dificuldade com determinado material deve interromper tal procedimento e

buscar outra ferramenta facilite e supra as necessidades de seu paciente.

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CONCLUSÃO

O fator gerador desta problemática exposta é direcionar o Arteterapeuta

para o uso adequado à linguagem do material, no caso, o pincel, que

constatamos que pode ser aplicado de diversas formas de acordo com a

necessidade apresentada. Com esta pesquisa, vimos que quando o material

é bem selecionado, minuciosamente, atendendo a indigência do paciente, a

verbalização plástica, quer dizer, a expressão no trabalho arteterapêutico,

se torna viável e compreensível perante o profissional que está auxiliando

seu cliente pela busca do bem-estar.

Antes de começar o trabalho arteterapêutico com seu paciente, o

profissional, deve fazer uma sessão de relaxamento, pois concluímos que

esta dinâmica, proporciona uma desvinculação do mundo exterior, e dos

fatores conturbastes que podem vir a desfavorecer o trabalho do

arteterapeuta.

Com o primeiro ateliê feito com a voluntária Érica, aplicamos a

linguagem do pincel para que sua dispersão nos seus afazeres fosse

amenizada, trazendo reflexões de o que poderia ser feito para que suas

atividades conseguissem chegar à conclusão desejada. No processo

arteterapêutico, foi proposta a representação de sua vida cotidiana em dois

momentos e em suportes de tamanhos distintos. Com o pincel de cerdas

redondas grandes ou pequenos, o indivíduo consegue transportar uma

quantidade maior de tinta para seu trabalho, permitindo ficar mais em

contato com o seu trabalho. Para a análise póstuma do trabalho da

paciente, vimos sua necessidade também em seu trabalho plástico em

finalizar as representações, sendo necessário a elucidação pelo profissional

e sua orientação para realização novamente de seu trabalho só que se

atentando para os detalhes mínimos e fechando cada símbolo por vez.

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Ao decorrer do trabalho realizado com Alex, vimos a importância do

trabalho ser previamente esboçar com o lápis, caso o paciente não

familiaridade com a ferramenta selecionada e o contato prévio com o

suporte, também possibilita uma certa confiança, por já conhecer

detalhadamente o espaço em que se pode explorar o trabalho plástico. Com

o pincel de cerdas achatadas e cabo pequeno, permitiu ao voluntário ter um

contato mais próximo do suporte, deixando-o na sua área de conforto, no

momento em que lhe foi ofertado um pincel com o cabo mais prolongado e

uma folha de proporções maior fez com que sua visão ganhasse uma

amplitude, o estimulando a se expressar e expandir seus meios

comunicativos.

No último relato sobre a voluntária Esmeralda, foi trabalhada a proposta

do desapego material, onde foram selecionados recorte que remetiam seu

passado e a representação de tais imagens nas pinturas, onde o pincel

selecionado atendia as limitações motoras da paciente, tendo a sua

coordenação motora fina não tão apurada devido a sua idade. Com um

pincel com cerdas achatadas mais largas, foi trabalhado a proposta de

cobrir as imagens anteriores, trabalhando a linguagem, o desapego, onde

era pintado imagens que lhe remetiam o seu momento atual. Sendo esta

proposta uma possibilidade contínua e terapêutica, onde em momentos

diferentes a cada fase seja pintado símbolos que sobreponham o anterior.

Dada a pesquisa, constatamos a linguagem do pincel de certa

importância para o profissional em Arteterapia, saber qual o modelo e

particularidade do pincel que atende as necessidades de seu paciente, não

tornando tais linguagens como regas e sim indicações que podem vir a ser

maleáveis

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ANEXOS

A seguir serão apresentados os trabalhos realizados pelos voluntários

conforme descrito no desenvolvimento desta pesquisa.

Anexo 1 – Primeiro trabalho desenvolvido por Érica

Anexo 2 – Segundo trabalho desenvolvido por Érica, com base no desenho

anterior.

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Anexo 3 – Primeira pintura feita por Alex - Imagem próxima ao canto inferior

esquerdo do papel.

Anexo 4 – Segundo trabalho realizado por Alex – Imagens distribuídas e mais

ampliadas.

Anexo 5 – Imagem tamanho A3 – Formas abstratas, centralizada e ricamente

colorida.

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Anexo 6 – Colagem feita por Esmeralda – Imagens que remetem ao seu

passado.

Anexo 7 – Pintura feita por Esmeralda – Baseada na colagem.

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Anexo 8 – Colagem feita por Esmeralda – Imagens que remetem o seu

presente.

Anexo 9 – Pintura feita por Esmeralda – Baseada na colagem.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1 - PHILIPPINI, Angela - Linguagens e Materiais Expressivos – Uso,

Indicações e Propriedades – Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009

2 - PAÍN, Sara – Os fundamentos da Arteterapia – Petrópolis – RJ – Editora

vozes, 2009

3 - URRUTIGARAY, Maria Cristina - Arteterapia: A Transformação Pessoal

Pelas Imagens – Rio de Janeiro: Wak Editora, 2010

4 - DOIS, Casa – Guia de Pintura – São Paulo – Casa Dois Editora, 2011

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

O PINCEL E SEUS RECURSOS GRÁFICOS 10

CAPÍTULO II

DEMANDAS INTERNAS AO INDIVÍDUO E A BUSCA 15

PELO AUTO CONHECIMENTO

2.1 – Dispersão 18

2.2 – Timidez 20

2.3 – Expansividade 22

2.4 – Apego 25

CAPÍTULO III

APLICAÇÃO PRÁTICA DA LINGUAGEM DO PINCEL 27

CONCLUSÃO 35

ANEXOS 37

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41

ÍNDICE 42