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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
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A LINGUAGEM DO PINCEL NO PROCESSO
ARTETERAPÊUTICO
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Por: José Rodolfo Ribeiro Tavares
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Orientador
Profa. Ms. Fátima Alves
Rio de Janeiro
2012
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
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A LINGUAGEM DO PINCEL NO PROCESSO ARTERAPÊUTICO
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Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Arteterapia em Educação e
Saúde
Por: . José Rodolfo R. Tavares
3
AGRADECIMENTOS
Aos mestres que me guiaram neste
longo caminho, aos voluntários da
pesquisa e aos amigos.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a toda minha família
que desde o início me incentivou dando
forças do começo ao fim de minhas
pesquisas.
5
RESUMO
A pesquisa apresentada abordará a variedade do material escolhido, o
pincel, confeccionado por pêlos, cerdas ou fios, fixados a uma extremidade de
cabo, comumente feita de madeira ou plástico, usualmente utilizado em
trabalhos plásticos junto com tintas à base de água ou óleo. O cunho central
deste trabalho é a aplicação prática deste material no processo arterapêutico,
exemplificando e explanando uma linguagem atribuída a determinados
modelos de pinceis e seus benefícios no atelier, não estabelecendo os
resultados obtidos como regras, mas sim um ponto de partida para uma
linguagem que aquele modelo de pincel pode ter num processo benéfico ao
tratamento do paciente. Ao decorrer deste estudo, serão apresentados casos
específicos de voluntários que possuem determinadas questões que os
conturbam, sendo aplicados os conhecimentos da Arteterapia através do
atelier terapêutico na tentativa de buscar soluções para suas demandas e
proporcionando o bem-estar de cada um. Serão apresentadas práticas
específicas para cada indivíduo desenvolver, criando trabalhos plásticos que
projetam para fora de seu interior, na forma de arte, seus conflitos e
trabalhando através da utilização dos pincéis adequados, a busca interna e
externa das repostas para suas subversões. Cada voluntário será instigado a
explanar sobre o resultante do seu trabalho plástico, desenvolvido com o
auxílio do pincel, que foi previamente escolhido com o intuito de atender a
demanda do mesmo, sendo assim, o indivíduo será capaz de compreender
melhor o motivo do seu estado naquele momento, indo de encontro ao seu
autoconhecimento, internalizando através das propostas arteterapêuticas e
encontrando respostas para seus problemas através do processo prático.
6
METODOLOGIA
A metodologia desta pesquisa se deu através da exploração dos
recursos gráficos que o pincel pode proporcionar através da utilização de
tintas, através dos trabalhos realizados por voluntários, sendo feito um estudo
de caso, relatando os resultados obtidos através do ateliê terapêutico. Os
principais autores e teóricos utilizados como base da pesquisa foram: Angela
Philippini, Eveline Carrano e Sara Paín.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - O Pincel e seus recursos gráficos 10
CAPÍTULO II - Demandas internas ao indivíduo e
a busca pelo autoconhecimento 15
CAPÍTULO III – Aplicação prática da Linguagem
do Pincel 27
CONCLUSÃO 35
ANEXOS 37
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41
ÍNDICE 42
8
INTRODUÇÃO
Segundo Paín (2009), cada material na arteterapia, ao impor suas leis
e qualidades, não são neutros, sendo cada propriedade altamente significativa
para o sujeito, na medida em que este percebe que elas o ajudam ou limitam
suas tentativas de expressão. Ao escolher um material, deve-se compreender
sua linguagem e se este material será o suficiente para atender as demandas
do indivíduo. Qual seria a linguagem do pincel no processo arteterapêutico? O
modelo escolhido interferirá no resultado terapêutico do paciente? São essas
algumas dentre outras questões abordadas ao decorrer deste trabalho.
O instrumento de estudo escolhido para esta monografia apresenta
uma característica intermediadora entre o paciente e a superfície de trabalho,
onde será projetada sua produção artística na qual é revelado seu estado
emocional. Sendo a Arteterapia uma linguagem visual, na qual auxilia a
pessoa que tem dificuldades de se expressar por palavras, fazendo-a através
de símbolos, desenvolvidos em trabalhos plásticos. O pincel servirá como
instrumento decodificador e facilitador das questões do paciente, que segundo
Carrano (2010), os materiais de arte devem ser apresentados ao paciente,
conforme for sua demanda, porém um de cada vez, para que seja sentido e
experimentado, percebido e explorado toda sua possibilidade.
Serão apresentados modelos distintos de pincéis ao decorrer do
primeiro capítulo – O Pincel e seus recursos gráficos – abordando os
resultados expressivos e gráficos obtidos com a utilização dos mesmos, dentre
os modelos, foram adotados os mais comuns de fácil acesso e encontrados no
comércio específico de arte.
9
No segundo capítulo – Demandas internas ao indivíduo e a busca pelo
autoconhecimento – serão relatados estudos de casos de voluntários que
apresentam distintas questões, e a busca pelo seu autoconhecimento através
da arteterapia. Passando por propostas plásticas, no intuito de trabalhar a
linguagem do pincel sobre a expressividade do paciente, em que cada
especificidade do pincel, irá proporcionar um resultado terapêutico distinto.
A partir dos trabalhos realizados com os voluntários, serão
apresentadas as questões pessoais projetadas nas pinturas, tais questões que
estavam adormecidas na sombra, no inconsciente que necessitavam ser
materializadas na forma de linguagem gráfica, comprovando que o indivíduo
em determinados momentos, consegue transparecer melhor seus temores por
símbolos do que com palavras. Resultando no tema central do terceiro capítulo
– Aplicação prática da Linguagem do Pincel -, onde serão analisados os
resultados que cada pessoa conseguiu atingir através da utilização do pincel
adequado dentro do processo terapêutico e o que esse resultado trouxe de
beneficente para seu bem-estar.
Esta pesquisa, não visa estabelecer atribuições rígidas a utilização dos
pincéis no processo arteterapêutico, apenas relatar os resultados práticos
identificados através da utilização dos mesmos dentro de determinadas
demandas específicas, Apresentando apenas algumas das infinitas maneiras
de como se utilizar este material no processo da Arteterapia.
10
CAPÍTULO I
O PINCEL E SEUS RECURSOS
GRÁFICOS
Tendo em vista a necessidade de ter um objeto de estudo para esta
pesquisa, tornou-se a investigação sobre as vertentes linguagens dos
materiais como um ponto inicial, sendo um conhecimento primordial para o
aperfeiçoamento e embasamento do saber do arteterapeuta. Tendo em mente
que estes instrumentos são passiveis construção de narrativas na qual se
refere à subjetividade do criador dos trabalhos pacientes (PHILIPPINI, 2009;
1).
Devido a tal importância de entender e explorar tais ferramentas, não
serão abordados diversos materiais em tal estudo, e sim um em específico, o
pincel e suas vertentes dentro da Arteterapia. Visto que, tal ferramenta é de
grande importância no trabalho dentro do ateliê terapêutico, no qual
generalizadamente o indivíduo no mínio uma vez em sua vida já teve algum
tipo de contato, mesmo que em remoto passado, na época das fases da vida.
É de extrema importância para o arteterapeuta entender a linguagem da
ferramenta na qual pretende trabalhar com seu paciente, tornando assim o
caminho para a busca da solução para questões de seu paciente menos
extensa. Na arte, o indivíduo que não detém o conhecimento básico sobre
finalidade é obstinada cada ferramenta, nem sempre e até mesmo pode-se
dizer, não conseguirá atingir as metas de seus trabalhos artísticos. Levando
em consideração que a utilização dos materiais, será dada através da
experimentação, na concepção da tentativa e do erro, podendo gerar um
conflito pessoal acarretando na frustração e até mesmo na desistência do
trabalho caso não tenha conseguido obter o resultado desejado.
11
“É importante que todos os arteterapeutas localizem qual
sua linguagem plástica mais facilitadora, que lhes permita
uma expressão mais livre, mais produtiva e mais fértil.”
(PHILIPPINI, 2009, p.39).
No mercado, conseguimos encontrar uma grande variedade de pincéis
no que diz respeito a modelos, podemos encontrar os que são feitos com pêlos
ou cerdas, porém existem dois tipos de organização destas particularidades
que resultam traçados distintos que devem atender a necessidade da
representação que o indivíduo pretende fazer sobre o suporte.
Os pinceis redondos, são materiais no qual absorvem mais as tintas,
permitindo assim, que o traçado sobre a folha seja mais prorrogado, devido a
retenção da tinta, não sendo necessário o mergulho do pincel na tinta várias
vezes. De acordo com o manuseio deste tipo de ferramenta, o resultado
gráfico pode variar, desde traços mais grossos, regulares e irregulares, até
traços finos de mesmas características. Já os pincéis chatos conseguem
espalhar mais a tinta sobre o papel ou tela, porém a pessoa que está o
utilizando fica condicionada a recorrer o recipiente com tinta mais vezes do
que se tivesse optado pelo redondo.
No que diz respeito a materiais de acabamento de tal ferramenta,
podemos encontrar os que são confeccionados com cerdas – na qual são
retiradas de animais suínos – ou pelos – extraídos de animais com pelos mais
macios e maleáveis. Lembrando que cada tipo vai proporcionar um resultado
diferente, efeitos que serão obtidos no momento em que se explora o pincel
com movimentos distintos, como por exemplo, um pincel de cerdas, com pouca
tinta, ao repousar sobre um suporte e sendo feito um movimento, o registro
será mais rústico, e se ao invés de movimentar e sim levantar o pincel e
repousar sobre a tela repetitivamente em espaços diferentes, será obtidos
pontos ou rabiscos próximos. Já com os pincéis de pelo, como mencionado
12
anteriormente, conseguimos uma gama maior de traçados, regulares e
irregulares, mas também podemos fazer o uso desta ferramenta um pouco
mais distante, carregando os pelos com tinta e jogando sobre o suporte, ai
vários fatores irão influenciar no resultado gráfico, desde a intensidade do
movimento da mão, a quantidade de tinta e o posicionamento do pincel
perante a tela ou papel.
Ao estabelecermos regras sobre as técnicas de pintura, estaremos
condicionando e podando o poder criativo da pessoa que irá utilizar o material,
o estudo deve-ser dado através da experimentação sem uma finalidade para
aquela produção, como pro exemplo, propor a uma pessoa que nem tem uma
certa familiaridade com o pincel, lhe oferecer folhas, pedir para que sinta a
textura da mesmo, lhe conduzindo a ficar com os olhos fechados, e em
seguida lhe oferecer o material junto com a tinta, pedir para que trace linhas
distintas, apenas deixando fluir os movimentos até que o instrutor, no caso do
foco da pesquisa, o arteterapeuta, sinta que já e o momento de trabalhar a
proposta do trabalho. Este caminho vai proporcionar mais segurança no
momento de se expressar, dando um desprendimento do meio exterior ao
ambiente do ateliê ou espaço onde será conduzida a sessão de Arteterapia.
Dentre as recomendação na produção artística é que seja usado, por exemplo,
um pincel com cerdas largas ou mais grossas para preencher um espaço maior
pretendido na pintura, e torna-se igual quando temos uma área de menor
dimensão, sendo os pinceis menores indicados para tais tarefas.
Na Arteterapia o uso do material vai além do que foi pré-estabelecido
por algum manual ou conceito, dando o livre arbítrio a quem o utiliza e qual
melhor forma de manuseá-lo, porém são apresentado parâmetros de uso,
apenas como orientação e não regras que devem ser seguidas e aplicadas,
enfatizando o eixo central desta linha lógica junguiana, onde a livre expressão
é a única condição que o sujeito tende a se submeter, para seus trabalhos
artísticos se libertem de conceitos no qual um adulto já está condicionado e
13
aprisionado, como por exemplo regras de proporção na representação dos
objetos ou pessoas.
A expressão deixa em evidência ideias e sentimentos, sendo conduzida
por gestos e até mesmo por palavras, dando forma a algo que pode estar no
nosso consciente ou no inconsciente (PAÍN, 2009, p.93). Esta forma de se
expressar através da arte, possibilita uma “verbalização” mesmo que através
da linguagem visual, deixando em evidência o estado do individuo
transversalmente na sua produção artística. Basta ser feita uma análise de sua
pintura e tendo um olhar apurado, que iremos identificar através de seus
registros sobre o suporte, um semblante de seu mundo interior, algo que até
mesmo está oculto para a pessoa que a produziu. O manuseio dos materiais
corretos no processo arte terapêutico, deixa transparecer aquilo que está
oculto na sombra dentro do sujeito, que necessita se materializar para ficar em
evidência e poder ser trabalhado.
Ao selecionar um pincel que atende as necessidades do paciente, o
arteterapeuta irá trabalhar com seu paciente aquela linguagem até que o
mesmo consiga combater seus anseios de forma e num ritmo pessoal, dando a
possibilidade do indivíduo refletir e contextualizar para sua vida todo aquele
processo praticado no momento em que sua arte deixou em evidência em qual
ponto ele precisa trabalhar e iluminar para que aquela demanda não se
esconda na sombra por de trás de seu ego. O objetivo desta monografia é
elucidar a importância desta ferramenta (o pincel) e suas possibilidades na
linguagem gráfica e libertação da expressividade do paciente em busca de sua
individualização, transformando sua vida através da Arteterapia.
“Transformação: Uma transição psíquica envolvendo
regressão e perda temporária do ego, para trazer à
consciência e preencher uma necessidade psicológica até
então não assumida. As experiências de transformação
14
envolvem uma morte e uma renascimento. Este processo
conduz a individualização.” (BELLO, 2003, p.234).
O manuseio do pincel no trabalho realizado que será explanado no
próximo capitulo, será de grande importância para o ateliê terapêutico, vista
que, abordagem desta pesquisa trata o pincel como ferramenta que
intermediadora entre o indivíduo e o meio onde a arte será representada.
Tendo em mente que de acordo com o estado emocional da pessoa, geradora
do trabalho terapêutico, os traçados produzidos sobre a folha ou tela, será
evidenciador da problemática que o indivíduo carrega consigo.
15
CAPÍTULO II
DEMANDAS INTERNAS AO INDIVÍDUO E
A BUSCA PELO AUTOCONHECIMENTO
Tendo como meio para este projeto de monografia e o que a tornou
possível, foi necessária a participação de voluntários para o estudo de caso,
algo que é de extrema importância para mostrar as questões propostas pelo
tema central do trabalho e exemplificando através das vivências relatadas.
Serão abordados neste capítulo o relato de pessoas que apresentam
determinadas questões, onde serão explanados momentos de suas vidas, no
ambiente na qual as frequentam e principalmente como essas demandas
pessoais podem interferir nestes meios, podendo refletir em seu desempenho
e até mesmo no relacionamento interpessoal de cada um.
Foram evidenciadas questões como: dispersão, timidez, expansividade
e apego. A busca do equilíbrio destas atribuições, serão dadas através das
propostas arte-terapêuticas, no manuseio do pincel e sua linguagem
arteterapêutica proposta nesta monografia. O pincel dentro deste processo
será determinante para a busca do bem estar destes indivíduos, desde o
momento em que cada um consiga absorver através das propostas plásticas a
linguagem que adequará a sua necessidade. Esta linguagem poderá ser direta
ou indireta, pois nem sempre no momento em que se esta manuseando a
ferramenta, o indivíduo consegue compreender o por que está manuseando
aquele material e daquela forma, assim em um momento póstumo, a reflexão
sobre tais ações se elucida para o paciente, dando-o a possibilidade de
transmitir e contextualizar aquele momento plástico e prático para a sua vida.
Tendo como base nos conceitos da Arteterapia, o processo que é dado
através das práticas, é estabelecer a individualização e a autoreflexão sobre o
16
estado do indivíduo naquele momento, transparecendo através de seus
trabalhos, no caso desta pesquisa, de maneira gráfica, qual seria o ponto de
partida para o arteterapeuta pode trabalhar como o seu cliente. O traçado
deixado pelos pinceis e as formas como eles serão conduzidos, irá evidenciar
o processo de amadurecimento do indivíduo, trazendo para sues trabalhos as
suas demandas e desmistificando-as.
O ateliê terapêutico proposto neste trabalho será desenvolvido na
residência do indivíduo, para que o mesmo se sinta à vontade ao se expressar,
sem a interferência de um meio exterior, fora ao seu comum frequentado.
Serão preservadas as identidades dos mesmos, levando em consideração a
importância apenas de suas questões e as evidenciando para que seja tratada
de uma forma geral dentro das propostas arteterapêuticas.
Antes de iniciar seu trabalho, o arteterapeuta, deve conhecer melhor
seus pacientes, para que possa ter um referencial, que possibilite destrinchada
a vida daquele indivíduo que necessitará de seu auxílio, então, o profissional
da área, deve fazer uma entrevista ou fornecer um formulário para este cliente,
fazendo perguntas indiretas até conseguir extrair qual a demanda que
necessitará ser trabalhada, caso não seja evidenciada no início. A Arteterapia
se dá através de seções, sendo um processo contínuo, onde o paciente irá se
conhecer e o arteterapêuta irá conhecer melhor seu cliente.
Para esta pesquisa, foi estabelecido o método de entregar o formulário
ao voluntário e assim, em seguida era feita uma entrevista com a pessoa,
possibilitando reforçar ou até mesmo evidenciar onde realmente precisa ser
17
trabalhado no ateliê terapêutico, sendo esse segundo momento dado pelo
encontro, transparecendo por parte do voluntário o que ele não conseguiu
descrever através de duas palavras no questionário. Tais questões necessitam
ser elucidadas, sendo a Arteterapia é a linguagem para quem não consegue
transmitir por palavras o que sente e sim por imagem, mas lembrando que a
linguagem gestual também pode representar muito, principalmente no
manuseio do pincel e o resultado gráfico e expressivo de tal ferramenta.
Urrutigaray (2011. p:34) diz que na interpretação dos materiais,
devemos encontrar sua linguagem e a suas possibilidades na expressividade
do trabalho que o arteterapeuta pode ter com o seu paciente, lembrando que o
profissional da área não irá transmitir técnicas de pintura para seu cliente e
sim fornecer canais para que o mesmo possa se compreender e ser
compreendido. Trabalhar com uma pessoa a ir estabelecendo regras como
utilizar tais matérias, irá podar o seu poder criativo, limitando-a a determinadas
condições que não permitirão com que a proposta da Arteterapia seja
realmente trabalhada de forma na qual deve ser, conduzindo assim o processo
terapêutico para o extremo oposto do foco da pesquisa.
Devido a tal trabalho ser desconhecido para as pessoas que fizeram
parte desta pesquisa, iremos constatar uma certa dificuldade em compreensão
de sua proposta, porém o objetivo que deve ser levantado pelo arteterapêuta é
que os indivíduos que se submete a tal terapia irá de encontro com seu
18
autoconhecimento e irá estabelecer meios para melhorar sua condição e
reflexões, com o objetivo também de manter o seu bem-estar.
2.1. - DISPERSÃO
Como meio de pesquisa, esta monografia irá relatar casos particulares
de voluntários e o processo arteterapêutico trabalhado dentro de um
determinado tempo. Como ponto de partida do estudo de caso, iremos
conhecer melhor a primeira voluntária deste trabalho, Érica que mora com seu
marido e filha, sendo sua rotina nada repetitiva devido ao fato de ainda ter uma
filha com menos de dois anos de idade e seus momentos de experimentação
em ser mãe pela primeira vez. Além de dividir as atividades do lar com seu
marido, ambos trabalham em um restaurante e dividem os cuidados de sua
filha com sua sogra e seu cunhado durante a noite, momento em que o casal
está no trabalho.
A voluntária relata que a cada dia tem algo novo para fazer, apesar das
recorrentes atividades do trabalho, no momento que cuida de sua filha única
que ainda está desenvolvendo seus meios de expressão, sempre tendo de
arrumar seus brinquedos espalhados pela casa, devido a sua filha ter retirado
do local ou até em suas tentativas de andar pela casa. Érica se mostra calma
ao se referir a essa experiência, pois diz que o marido a ajuda muito, dividindo
os momentos em que necessitam alimentar e dar banho na neném, elogiando
que enquanto a isso não tem do que reclamar.
No trabalho, ela relata que auxilia no preparo das refeições, cortando
alguns legumes, aplicando tempero, dentre outras atividades que um auxiliar
de cozinha devidamente tem que fazer. Descreve suas atividades de uma
forma afetiva, na qual diz estar satisfeita com o trabalho no qual está atuando,
por estar também próxima ao marido, que é chefe no restaurante e toda a
realização de ter sua família estruturada.
19
Dentre essas questões de realização, é instigado no momento da
entrevista à questão de que se ela tinha algo que a incomodasse, podendo ser
em si ou em outra pessoa, tendo como resposta apenas que ela se sentia uma
pessoa diferente e que as pessoas em si não devem ser iguais e que devemos
respeitá-las. Insistindo na questão pessoal, confessa que se sente às vezes
dispersa em determinados momentos, tanto em seu trabalho quanto em casa.
Esse tipo de pergunta, partindo de um meio coletivo para o pessoal, deve ser
abordado pelo arteterapeuta, pois quando essas demandas não estão tão
claras, o indivíduo pode se sentir realizado ou até mesmo normal a ponto de
esquecer que somos seres humanos e temos nossos extremos, como o uma
satisfação ou desconforto sobre si quanto pelo próximo.
É ressaltada pela voluntária de que em momentos de seu trabalho
esquecer de realizar algumas tarefas na qual lhe é destinada, pois o excesso
de trabalho é relevante, e que não consegue guardar as tarefas que tem que
cumprir, ou até mesmo começa uma e parte para outra e não consegue
cumprir com as duas até o término por conta própria, sendo as vezes ajudado
pelo marido.
Nos afazeres de casa, Érica também se sente dispersa, tenta fazer tudo
ao mesmo tempo, cuidar da filha, cozinhar e arrumar sua casa, nos momentos
que está só, não consegue concretizar todas as suas tarefas e pelo seu relato,
declara se pegar em momentos como se estivesse desligada do mundo que a
cerca, necessitando “despertar” para finalizar seus afazeres. A partir deste
caso, podemos evidenciar uma pessoa que se sente auto-realizada com sua
família e trabalho, porém se sente acuada devido a sua dispersão, mas mesmo
assim, não consegue dar conta de que esta questão pode vir a acarretar algum
prejuízo em sua vida. Porém já é sinalizada pela própria pessoa que tem algo
que precisa melhor, porém não reconhece da devida forma, pois a convicção
20
de que tudo está certo e esquematizado em sua vida, que deixa tal entusiasmo
sobressair sobre esta demanda que é evidenciada a partir do relato.
Deixar evidente para o indivíduo a questão que ele necessita trabalhar é
de caráter neste processo arteterapêutico, porém, não deve ser dito pelo
arteterapêuta, se dando pela análise que o próprio paciente irá fazer a partir
de seus trabalhos. Todo este processo quando não é evidente pelo paciente,
de forma alguma, ai sim pode ser instigado pelo profissional, fazendo
perguntas sobre o que desenhou, e quais são os significados pelas
representações para si, podendo estender suas perguntar para questionar
como estava o estado deste paciente, como ele se sentia no momento em que
estava realizando a atividade. Estava concentrado? Dispenso? E assim por
diante...
2.2. – TIMIDEZ
Tendo em vista a experimentação através de vivências, foi dada a
importância de casos distintos para tentarmos compreender melhor algumas
demandas, que podem se assemelhar em alguns momentos, porém
compreendemos suas particularidades através dos relatos descritos nesta
monografia. A busca do bem-estar se dá quando o indivíduo enxerga de forma
clara que necessita de ajuda, porém esta se dá através de um procedimento
no qual ele é submetido como mencionado anteriormente.
PAIN (2009. p:81) , diz que a representação mental até chegar a uma
representação objetiva, possibilita a visibilidade que o sujeito esquematiza,
também reflete sobre a questão do trabalho da Arteterapia, de que a pessoas
não precisa ter o domínio e nenhum conhecimento prévio sobre as técnicas
artísticas, podendo ter tido uma remota noção na época escolar como um
contato anterior direto com os matérias plásticos de arte. Podemos constatar
que tal circunstância não é agravante no trabalho com a Arteterapia, pois os
21
caminhos para qual tal área segue não estão ligados diretamente com as
técnicas e sim o processo, a experimentação dos matérias como meio de
intercambiar as demandas do indivíduo se torna mais plausível do que o seu
valor real estético. Sendo assim, neste segundo caso, iremos evidenciar
também a expressão corporal do voluntário, onde podemos fazer um esboço
da característica do mesmo através de seu aspecto corpóreo.
Alex é uma pessoa jovem que se mostra calmo e de poucas palavras,
mora com sua família e cursa o ensino superior em uma instituição pública.
Sua auto descrição é de uma pessoa responsável, compenetrado em suas
atividades e ressaltando que sempre se esforça para ajudar o próximo, mas
em momentos esquece de que também precisa de cuidados, tendendo a olhar
melhor para problemas dos outros como prioridade e esquece dos seus. Se
adjetiva como uma pessoa tímida que só fala o necessário, não conseguindo
em determinados momentos se expressar e mantendo-se em silêncio.
Menciona também que possui apenas alguns amigos no qual tem mais
cumplicidade e que apenas com eles é que consegue se expressar e
desabafar sobre seus problemas e questões pessoais. Diz que sente uma
determinada dificuldade em chegar próximo à outras pessoas para conversar,
não verbalizando muito quando o faz, não aumentando seu clico de amizade,
sendo assim também sente dificuldades para se expressar em público, em que
se vê em determinados momentos acuado e principalmente exposto na hora
em que necessita apresentar algum trabalho científico em sua faculdade.
Ao observar sua expressão corporal, pode-se detectar uma figura
fechada para si, que não deixa seus canais expressivos se manifestarem, não
se gesticulando no decorrer da entrevista e mantém o mesmo semblante
22
durante o tempo todo. A partir destes apontamentos, podemos evidenciar uma
série de fatores que sinalizam uma pessoa tímida, que não consegue ter tanta
proximidade com outras pessoas foras àquelas que já pertencem ao seu ciclo
de amizade, onde não consegue e evita ao máximo se apresentar ao público, e
quando isto acontece, segundo relato se dá em voz baixa e às vezes trêmula.
“O profissional em Arteterapia destina-se, assim, como
agente facilitador do processo de busca pela totalidade
cológica, ou realização do Self, ao exercício de
estimulação da criação e ao de observar e acompanhar o
processo de criação, de maneira que seu atentar deve
dirigir-se para o que vê e ouve durante a dita execução da
obra.“ (URRUTIGARAY, 2011, p.109).
Em um determinado momento mais adiante, iremos observar que este
olhar do arteterapêuta deve ser realmente apurado, não apenas na análise do
resultante da obra de seu paciente como também em seus gestos na execução
de seus trabalhos.
2.3. – EXPANSIVIDADE
A partir destas descrições, estaremos conhecendo melhor a terceira
pessoa na qual foram trabalhadas as propostas arteterapêuticas enfatizando a
linguagem do material (pincel). O trabalho foi feito com uma pessoa do sexo
masculino, vinte e dois anos que reside com seus avôs desde pequeno, sendo
pessoas conservadoras e um pouco rígidas.
23
Allan diz que se sente um pouco introspectivo dentro do seu ambiente
familiar, pois sente certa frieza no relacionamento com seus avôs, porém no
ambiente externo, já consegue lhe dar fácil com outras pessoas, onde
consegue se expressar melhor e principalmente com seus amigos. Relata que
consegue verbalizar melhor com pessoas que não pertencem a sua família dos
que a que pertencem, sendo assim o mesmo se descreve como sendo uma
pessoa carinhosa e que não consegue obter este afeto do ponto que esperava
dentro de sua casa.
Devido a tal circunstância, o voluntário menciona algo que observa em
si, em momentos que se vê em amigos, se enxerga como uma pessoa
expansiva, que fica ansioso em se manifestar com os outros que estão ao seu
redor que até mesmo às vezes não consegue ter uma visão definida sobre
algumas pessoas. Se mostrando uma pessoa que se dá bem com outras em
qualquer tipo de ambiente, mostrando ser um indivíduo flexível, afável e muito
comunicativo, sendo assim em determinados momentos relata ter uma
presença forte aonde ele vai.
Um auto questionamento que foi mencionado antes e que estaremos
focando neste caso é sua expansividade em ambientes em grupo, visto que o
Allan se diz uma pessoa comunicativa, porém confessa que às vezes devido a
sua ansiedade em contar algo acaba excedendo seu espaço e não permitindo
que em alguns momentos a pessoa que está em sua companhia se manifeste,
este seria um ponto que foi mencionado durante a entrevista com o voluntário.
E este aspecto também se dá em alguns momentos no espaço físico, como no
seu ambiente de estudo e trabalho, onde se expande também com seus
pertences, organizando-os, porém não consegue dar conta apenas daquele
local a si reservado, tendo a necessidade de ocupar mais espaço do que
realmente necessita para conseguir realizar seus trabalhos.
24
Como um arteterepêuta poderia analisar este tipo de situação?
Observando todos esses aspectos descritos pelo indivíduo, pode-se analisar
que ele é uma pessoa que se sente em alguns momentos reprimida dentro de
sua casa, que tem um determinado tipo de comportamento diferente com os
que convivem, sentindo falta de um retorno afetivo na qual espera, sendo
assim ao estar com outras pessoas que não são tão rígidas, consegue se
expressar melhor e transparecer o seu verdadeiro eu. Neste momento a
pessoa se sente compreendida e se manifesta de forma expansiva,
enfatizando o ponto de vista que este meio na qual ela passou a pertencer,
consegue de fato uma determinada atenção e sente tanta necessidade de se
tornar ouvida que acaba gerando uma ansiedade além da conta.
“Já com relação aos objetivos sociais, a Arteterapia
favorece, por sua modalidade pedagógica, o
reconhecimento da dimensão simbólica presente na
relação com o outro, das qualidades humanas tanto
positivas quanto negativas. Além, de perceber-se mais
tolerante e paciente para com a dificuldade alheia e,
também, para com a sua, o indivíduo tem a possibilidade
de se sentir incluído, ou fazendo parte de um grupo.“
(URRUTIGARAY, 2011, p.87).
Este tipo de caso, pode ser generalizado para indivíduos que não
conseguem se conter ou preservar apenas o seu espaço por algum
determinado motivo, e quando se sentem acolhidos por uma outra pessoa ou
por um determinado grupo, se expande e tende a ter sua presença notável
naquele meio. O motivo para tal comportamento em muitos casos, não é feito
pela intenção do próprio indivíduo, dado de forma natural e imperceptível para
quem se manifesta desta forma. Podemos analisar do ponto de vista que
quando a pessoa consegue encontrar alguém para lhe ouvir, detecta meios
para se expressar, tendo pessoas que estão ali para lhe ouvir e compartilhar.
25
Retomando o caso do terceiro voluntário, é evidenciado alguns
aspectos no qual o próprio sente-se na necessidade de trabalhar, se interar ao
meio de forma pessoal e interpessoal, tendo esse parâmetro pela conversa e
descrição dos fatos dentro do ambiente acadêmico e de trabalho. Um fator
determinante neste relato é a consciência do indivíduo perante a sua questão,
na qual pretende trabalhar, pois nem sempre é nítido, apenas sendo uma
questão latente para a pessoa, não sabendo onde necessita de ajuda, apenas
sabe que necessita dela para se estabilizar. Reforçando que a individualização
é algo primordial no trabalho arteterapêutico, pois no momento que as
propostas plásticas forem sendo trabalhada, a pessoa irá afligir suas questões
internas e as transmitir para o papel, mesmo que não seja através do primeiro
trabalho, sendo um processo e não apenas um momento único.
Pelo fato do voluntário já ter evidenciado sua demanda, o trabalho do
ateliê terapêutico, poderá ser menos extenso, porém se o mesmo não
conseguir internalizar a linguagem do material no qual lhe foi fornecido, poderá
ter um processo um pouco mais longo, a partir das experimentações que serão
feitas com objetivo de atender sua questão, mostrando qual seria o espaço do
próximo e qual ele poderia ocupar. Os métodos utilizados nas práticas irão
direcionar-lo para seu autoconhecimento e a busca pela sua individualização
dentro dos seus ambientes comumente frequentados.
2. 4. – APEGO
Neste relato, iremos ressaltar a experiência da quarta voluntária, sendo
ela uma senhora de idade, Esmeralda que tem oitenta anos, é solteira e vive
com seus dois netos, que os cria desde pequenos. Filha caçula dentre cinco
irmãos, desde nova está acostumada a cuidar dos afazeres do lar, relata que
os faz com muita dedicação e carinho pelas pessoas que estima, sendo uma
pessoa que tem uma vida normal e uma rotina de um certo modo repetitiva.
26
Esmeralda relata que costuma guardar objetos que lembram seu
passado, como roupas, tecidos, e objetos de pequeno porte, cuida-os de forma
pessoal e minuciosa, os mantendo guardados dentro de seu guarda roupa. Um
outro ponto que é evidenciado durante a conversa, é o foto dela preservar
suas fotos e outros papéis de até mesmo de valor nenhum guardado.
A trajetória de sua história vai descrevendo uma pessoa que se sente
presa a passado, mas também esboça uma pessoa presa aos seus pertences,
mesmo os que não tem valor real, porém se fosse apurado com um olhar de
arteterapêuta, será evidenciado uma carga afeto-sentimental presentes neste
caso. O perfil descrito acima poderia se enquadrar num caso de um indivíduo
ao qual se prende a determinados objetos, uma afeição e até mesmo um
caráter de apego sobre esses objetos que podem estar remetendo a símbolos
do seu passado.
Durante a conversa, a voluntária menciona que não gosta de ver suas
coisas fora do local onde as deixou, diz que se sente algo desfragmentando
dentro de si quando um objeto seu é danificado ou perdido por algum motivo
qualquer. Costuma guardar outros pertences em gavetas, estas sempre com a
maçaneta trancada, segundo suas palavras para que outros não baguncem
seu espaço no qual se dedica seu tempo para arrumar.
Ao decorrer das propostas que iremos analisar no próximo capítulo,
conseguiremos detectar essas as características de cada voluntário durante as
o desenvolvimento dos seus trabalhos no ateliê terapêutico, evidenciando o
processo constante do indivíduo através da linguagem do pincel nas propostas
arteterapêuticas.
27
CAPÍTULO III
APLICAÇÃO PRÁTICA DA
LINGUAGEM DO PINCEL
Com base nos relatos coletados dos voluntários, pode-se analisar
questões afetivas que necessitam serem trabalhadas, fazendo do tratamento
arteterapêutico um marco inicial no processo evolutivo destes indivíduos que
são inerentes a tais questões apresentadas.
As propostas dos ateliês terapêuticos que serão apresentadas terão
como base fundamentadora princípios da Arteterapia, no que diz respeito aos
materiais artísticos facilitadores, que proporcionam uma melhor expressão do
paciente quando bem selecionado pelo arteterapeuta. Juntamente com o
manuseio dos pincéis, os voluntários irão trabalhar o grafismo através de suas
pinturas, porém não será enfatizando o valor simbólico de tais criações,
apenas a expressividade e contextualidade que este fazer irá lhe proporcionar
seu bem estar.
“No entanto, este é um dos mais significativos
aprendizados a fazer com a pintura: deixar fluir, deixar
sair, escorrer, extravasar, transbordar, abrir mão do
controle, não tentar controlar a forma e deixar-se levar
pelo prazer da descoberta que vem usinada por cada
tom, cada mancha, cada espaço.” (PHILIPPINI, 2009,
p.38).
PHILIPPINI apresenta a linguagem da pintura como um processo
criativo, em que o paciente necessita se desprender de conceitos, podendo ser
estes estéticos ou não e regras, dando o livre arbítrio no processo criativo na
Arteterapia.
28
Antes de iniciar a parte prática com cada voluntário, foi realizado um
processo de relaxamento, em que consistia no desprendimento do mundo
exterior a cada um, pois durante o processo criativo, o indivíduo busca
referências de vivências anteriores que nem sempre referem-se às propostas
dos trabalhos arteterapêutico. Foi induzido a cada um que fechasse os olhos,
buscando olhar para o seu interior, ficando em silêncio e se sentindo como
matéria que ocupa aquele espaço, respirando fundo e soltando todo o ar
inspirado repetidamente. Quando foi constatado que o voluntário atingiu um
semblante estável que demonstrou que ele conseguiu relaxar, dói induzido que
o mesmo busca-se tais demandas que foram mencionadas no momento da
entrevista.
Após a reflexão sobre tais assuntos, foi iniciada com a voluntária Érica a
prática que consistia na criação de imagens que representassem seu dia a dia,
como método prático, foi selecionada uma folha tamanho A4 (tamanho padrão)
e um pincel redondo grande. Deixando sempre a disposição todas as tintas,
somente limitando ao pincel previamente selecionado. Em seguida, foi
oferecida mais uma folha e só que de tamanho menor A5 (metade de uma
folha A4) e ofertado um pincel também redondo com cerdas menos volumosas
e pequenas.
As representações apresentadas por Érica, descrevem toda sua rotina
relatada anteriormente, porém durante a realização dos trabalhos plásticos, foi
observado que em determinados momentos era iniciado um desenho na folha,
não concluindo e partindo para outra representação em outro espaço do papel,
deixando lacunas para serem preenchidas. Um questionamento apresentado a
voluntária é que se ela se sentia satisfeita com as representações, e por quê?
A resposta foi não plenamente, em ambos os desenhos em alguns momentos
29
as formas estavam incompletas, tendo como reflexão para um próximo
encontro, qual seria a melhor forma de resolver tal questão.
Numa segunda sessão com a voluntária, apresentei os dois pinceis
anteriormente utilizados por ele, pedi para que ela os analisasse e desse
algumas características, sendo descrito por ela como ambos macios e
delicados e o outro menos devido a suas cerdas. Neste momento poderia ser
utilizado qualquer tipo de pincel redondo, porém de tamanhos distintos,
lembrando que este tipo de pincel retém mais tinta. Para dar continuidade foi
perguntado se ambos conseguiam realizar o mesmo tipo de trabalho, tendo
como resposta, não, que cada um tem sua particularidade, e para terminar, foi
questionado se ela fosse refazer os mesmos desenhos como ela poderia se
organizar para chegar ao resultado esperado – fazendo os desenhos e
pintando um por vez.
Neste momento chegamos à questão que foi abordada com o intuito de
voluntária internalizar tal questão plástica as demandas de sua vida, que é o
objetivo da Arteterapia. Então foi proposto as pinturas fossem refeitas com os
mesmos materiais e as mesmas representações das pinturas anteriores,
somente tendo a interferência, induzindo e perguntando qual foi o primeiro
desenho dentro da pintura que foi feito, tendo como resposta, sua filha, e
sugerindo que fosse pintada primeiro, em seguida o segundo, e assim até que
ela mesma tomasse consciência da importância de cada representação e a
que momento seria concretizado cada uma.
O pincel redondo possibilita um contato mais próximo da folha, por ter
cabo menor e esta particularidade permite que o indivíduo que o utilize esteja
mais próximo da área de trabalho e lançando a questão da finalização de cada
representação por vez e sendo pontuado pelo arteterapeuta, toca na questão
da dispersão apresentada pela voluntária, sua dispersão, porém não é tarefa
30
do profissional responder as perguntar aos seus pacientes, e sim lançar
respostas e esperar sua autocrítica ou auto-reflexão.
O trabalho realizado com Alex, não foi enfatizada a representação
figurativa e sim a abstrata, devido o voluntário não se sentir a vontade em
fazer imagens que não fiquem parecidas com as formas reais, mesmo sendo
elucidado que o valor estético no trabalho arteterapêutico não é de tão
importância quanto o significado das formas apresentadas.
Após o relaxamento foi oferecida uma folha de pequena dimensão,
menor do que um A5, um lápis grafite e um pincel de cerdas chatas e
pequenas. Como primeiro passo, foi pedido para que Alex pegasse a folha e
sentisse o papel, fechasse os olhos e tateasse por toda dimensão que seria
pintada. O objetivo de selecionar também o lápis para está pratica
arteterapêutica é de dar segurança ao paciente quando o arteterapeuta
observar que o mesmo não está se sentindo seguro ao manusear de início os
pinceis.
Com a folha já posicionada e tendo em mente quais eram as formas que
iria representar, o voluntário ficou muito concentrado, e em cima da folha, se
colocando sobre seu desenho, como se estivesse se fechando naquele
espaço. Após ter usado o lápis em seguida o pincel, o trabalho apresentado,
constata formas básicas que estão ocupando apenas um pequeno espaço da
folha, ressaltando que a folha já era pequena. Levando para uma reflexão com
o voluntário se aquelas formas tinham algum significado, sendo contestado
que não, que representavam apenas figuras (geométricas) aleatórias.
O segundo momento foi dado no instante que Alex recebeu a folha A4
para trabalhar, tamanho relativamente três vezes maior que a folha anterior e
31
um pincel chato, só que com cerdas um pouco mais amplas. A proposta da
abstração foi mantida, porém o lápis já foi retirado, com o intuito de auxiliar o
voluntário a ter uma autoconfiança em seu trabalho e com o material que será
trabalhado. O mesmo procedimento de análise do espaço da folha foi repetido
e o pincel oferecido já tem um cabo maior que permite que a pessoa pinte um
pouco mais distante do suporte.
O arteterapeuta necessita, como mencionado num momento anterior
nesta pesquisa, observar também a expressão corporal do paciente no
momento da confecção do trabalho, principalmente para indivíduos que se
sentem retraídos e que buscam uma melhora nesta questão. No primeiro
trabalho o voluntário estava mais próximo a sua folha e com este segundo
pincel de cabo longo oferecido, fez com que ele se distanciasse mais do papel
permitindo-lhe uma visão mais ampla do espaço que poderia preencher. A
segunda pintura apresentada já mostra uma grande evolução enquanto
material plástico.
Após os dois trabalhos concluídos foi pedido para que Alex fizesse uma
comparação entre ambos, sendo analisada a pintura menor como apenas
contendo formas simples, posicionadas mais para a extremidade da folha
como se tivesse querendo sair do papel e a segunda pintura, mais harmoniosa
porém descentralizada. Sendo questionado também o espaço vazio, a
distribuição das formas e como isso se reflete na vida dele, tendo como
resposta que em momentos específicos se sente assim, não ocupando o
espaço que lhe cabe, tentando ficar apenas no seu canto e que gostaria de ser
mais comunicativo e expressivo.
Levando esta questão para a Arteterapia e abordando a linguagem do
pincel, vimos que a seleção de pincel diferentes proporcionou uma visão
diferente e mais ampla do espaço conforme a necessidade da situação
32
desejada, sendo este o momento para ampliar o campo expressivo
apresentando um pincel maior e que preencha mais o espaço da folha.
No terceiro e último trabalho da única sessão, a pintura foi realizada
numa folha A3 fixada a mesa, repetido o mesmo procedimento anterior do
mapeamento da folha, e em seguida foi orientado que Alex fechasse os olhos
e retornasse com o lápis fazendo linhas aleatórias sobre a folha sem levantá-
lo, fazendo com que o mesmo se sentisse livre para se expressar e se
gesticular sobre a folha. O campo de espaço que antes era sobre a folha,
quase que escondendo o desenho, se tornou mais amplio, necessitando que o
voluntário saísse da sua zona de conforto e percorrendo por todo espaço da
folha. Após com o pincel de cerdas largas e chatas foi dado o preenchimento
dos espaços e ao término a folha por completo estava colorida, levando para a
reflexão do voluntário os espaços e as possibilidades de preencher e se
expandir, buscando a perda da inibição e o receio de explorar ambientes
novos.
O trabalho proposto com a voluntária Esmeralda foi realizado em duas
sessões, sendo necessário um resgate de alguns momentos para que possa
ser trabalho o desapego das imagens simbólicas. No primeiro encontro foi
feito um apanhado em revistas, sendo feito recorte de imagens de
elementos que lembrassem seu passado, sendo de caráter positivo ou
negativo. Com as imagens coletadas e após o relaxamento, foi solicitado à
Esmeralda que selecionasse as primeiras imagens que lembrasse sua
infância e que mantivesse essas imagens como referências para o trabalho
plástico.
A partir de tais imagens, foi fornecida uma folha padrão e dois pincéis,
um redondo fino e um chato médio e tintas, com a intenção de representar
tais imagens que lhe proporcionavam sensações que remetiam a sua
33
infância na folha. A voluntária começou a realizar as pinturas com muita
dedicação e levou um bom tempo para concretizar o trabalho.
O trabalho de Esmeralda apresentava todo o cuidado e afeto o mesmo
apresentado durante a entrevista tida anteriormente, representando uma
carga muito afetiva, tendo direito a uma narrativa para justificar as escolhas
das imagens que utilizou como referência no ateliê terapêutico.
Uma questão que vale ser pontuada em trabalhos com pacientes com
uma determinada idade avançada, é que, mesmo querendo chegar a uma
determinada proposta dentro do objetivo da Arteterapia, necessitamos
oferecer mais possibilidades para que o indivíduo mesmo dentro de suas
limitações, que neste caso pode ser motora, possa adotar um meio de se
expressar claramente, e devido a tal observação que durante o trabalho
realizado com esta voluntária, foram oferecidos mais de um tipo de pincel e
que atendesse o preenchimento tanto de uma área pequena quanto grande.
No segundo encontro e previamente combinado no anterior, Esmeralda
separou as imagens que remetessem ao seu presente e foi lança a proposta
de cobrir o desenho feito anteriormente com o novo desenho com base
nessas novas imagens, tendo certa resistência por parte da mesma, mas
que acabou aceitando. Trabalhar o efêmero para pacientes que necessitam
desapegar de alguma forma de objetos ou determinadas situações que
vivenciaram, faz com que reflitam sobre o passageiro, o momento em que
vivem e o que deixou para trás. Neste caso, se o paciente apresentar
resistência em se desfazer de seus trabalhos e transformá-los em outros,
pode registrar com fotografias e propor que a guardem e assim continuem
seu trabalho arteterapêutico em cima do que já fizeram.
34
Com os mesmos pincéis oferecidos anteriormente, Esmeralda foi
pintando as novas imagens e ao término disse que ficou surpreendida com
o resultado e que gostou de ter feito esta proposta mesmo que internamente
se sentisse como se estivesse perdendo uma parte de sí. Se desapegar é
difícil, pode ser trabalhado continuamente, e para término de trabalho com
nossa voluntária, foi proposto que em determinados momentos mais adiante
ela faça o mesmo tipo de trabalho, coletando imagens que expressem seu
estado naquele momento e pintando em cima daquele trabalho realizado no
ateliê terapêutico e caso queira pode guardar uma foto-cópia do trabalho
antes de descontruí-lo.
No estudo de caso relatado, vimos algumas das grandes possibilidades
da linguagem do pincel que podemos aplicar no trabalho com Arteterapia,
lembrando que tais descrições não são rígidas a ponto de torná-las regras
como manual de uso, senão a proposta iria contra os princípios da nossa
área de competência. O arteterapeuta no momento que faz o seu
atendimento deve além de observar a expressão corporal de seu cliente,
também deve se atentar ao seu modo expressivo motor, e caso detecte uma
dificuldade com determinado material deve interromper tal procedimento e
buscar outra ferramenta facilite e supra as necessidades de seu paciente.
35
CONCLUSÃO
O fator gerador desta problemática exposta é direcionar o Arteterapeuta
para o uso adequado à linguagem do material, no caso, o pincel, que
constatamos que pode ser aplicado de diversas formas de acordo com a
necessidade apresentada. Com esta pesquisa, vimos que quando o material
é bem selecionado, minuciosamente, atendendo a indigência do paciente, a
verbalização plástica, quer dizer, a expressão no trabalho arteterapêutico,
se torna viável e compreensível perante o profissional que está auxiliando
seu cliente pela busca do bem-estar.
Antes de começar o trabalho arteterapêutico com seu paciente, o
profissional, deve fazer uma sessão de relaxamento, pois concluímos que
esta dinâmica, proporciona uma desvinculação do mundo exterior, e dos
fatores conturbastes que podem vir a desfavorecer o trabalho do
arteterapeuta.
Com o primeiro ateliê feito com a voluntária Érica, aplicamos a
linguagem do pincel para que sua dispersão nos seus afazeres fosse
amenizada, trazendo reflexões de o que poderia ser feito para que suas
atividades conseguissem chegar à conclusão desejada. No processo
arteterapêutico, foi proposta a representação de sua vida cotidiana em dois
momentos e em suportes de tamanhos distintos. Com o pincel de cerdas
redondas grandes ou pequenos, o indivíduo consegue transportar uma
quantidade maior de tinta para seu trabalho, permitindo ficar mais em
contato com o seu trabalho. Para a análise póstuma do trabalho da
paciente, vimos sua necessidade também em seu trabalho plástico em
finalizar as representações, sendo necessário a elucidação pelo profissional
e sua orientação para realização novamente de seu trabalho só que se
atentando para os detalhes mínimos e fechando cada símbolo por vez.
36
Ao decorrer do trabalho realizado com Alex, vimos a importância do
trabalho ser previamente esboçar com o lápis, caso o paciente não
familiaridade com a ferramenta selecionada e o contato prévio com o
suporte, também possibilita uma certa confiança, por já conhecer
detalhadamente o espaço em que se pode explorar o trabalho plástico. Com
o pincel de cerdas achatadas e cabo pequeno, permitiu ao voluntário ter um
contato mais próximo do suporte, deixando-o na sua área de conforto, no
momento em que lhe foi ofertado um pincel com o cabo mais prolongado e
uma folha de proporções maior fez com que sua visão ganhasse uma
amplitude, o estimulando a se expressar e expandir seus meios
comunicativos.
No último relato sobre a voluntária Esmeralda, foi trabalhada a proposta
do desapego material, onde foram selecionados recorte que remetiam seu
passado e a representação de tais imagens nas pinturas, onde o pincel
selecionado atendia as limitações motoras da paciente, tendo a sua
coordenação motora fina não tão apurada devido a sua idade. Com um
pincel com cerdas achatadas mais largas, foi trabalhado a proposta de
cobrir as imagens anteriores, trabalhando a linguagem, o desapego, onde
era pintado imagens que lhe remetiam o seu momento atual. Sendo esta
proposta uma possibilidade contínua e terapêutica, onde em momentos
diferentes a cada fase seja pintado símbolos que sobreponham o anterior.
Dada a pesquisa, constatamos a linguagem do pincel de certa
importância para o profissional em Arteterapia, saber qual o modelo e
particularidade do pincel que atende as necessidades de seu paciente, não
tornando tais linguagens como regas e sim indicações que podem vir a ser
maleáveis
37
ANEXOS
A seguir serão apresentados os trabalhos realizados pelos voluntários
conforme descrito no desenvolvimento desta pesquisa.
Anexo 1 – Primeiro trabalho desenvolvido por Érica
Anexo 2 – Segundo trabalho desenvolvido por Érica, com base no desenho
anterior.
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Anexo 3 – Primeira pintura feita por Alex - Imagem próxima ao canto inferior
esquerdo do papel.
Anexo 4 – Segundo trabalho realizado por Alex – Imagens distribuídas e mais
ampliadas.
Anexo 5 – Imagem tamanho A3 – Formas abstratas, centralizada e ricamente
colorida.
39
Anexo 6 – Colagem feita por Esmeralda – Imagens que remetem ao seu
passado.
Anexo 7 – Pintura feita por Esmeralda – Baseada na colagem.
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Anexo 8 – Colagem feita por Esmeralda – Imagens que remetem o seu
presente.
Anexo 9 – Pintura feita por Esmeralda – Baseada na colagem.
41
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
1 - PHILIPPINI, Angela - Linguagens e Materiais Expressivos – Uso,
Indicações e Propriedades – Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009
2 - PAÍN, Sara – Os fundamentos da Arteterapia – Petrópolis – RJ – Editora
vozes, 2009
3 - URRUTIGARAY, Maria Cristina - Arteterapia: A Transformação Pessoal
Pelas Imagens – Rio de Janeiro: Wak Editora, 2010
4 - DOIS, Casa – Guia de Pintura – São Paulo – Casa Dois Editora, 2011
42
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
O PINCEL E SEUS RECURSOS GRÁFICOS 10
CAPÍTULO II
DEMANDAS INTERNAS AO INDIVÍDUO E A BUSCA 15
PELO AUTO CONHECIMENTO
2.1 – Dispersão 18
2.2 – Timidez 20
2.3 – Expansividade 22
2.4 – Apego 25
CAPÍTULO III
APLICAÇÃO PRÁTICA DA LINGUAGEM DO PINCEL 27
CONCLUSÃO 35
ANEXOS 37
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41
ÍNDICE 42