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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE JUNG, MANDALAS E O PATCHWORK EM ARTETERAPIA. Por: Leopoldina Rita do Nascimento Balzani Orientador Prof.: Fabiane Muniz da Silva Co-orientador Prof.: Narcisa Castilho Melo Brasília-DF 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

JUNG, MANDALAS E O PATCHWORK EM ARTETERAPIA.

Por: Leopoldina Rita do Nascimento Balzani

Orientador

Prof.: Fabiane Muniz da Silva

Co-orientador

Prof.: Narcisa Castilho Melo

Brasília-DF

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

JUNG, MANDALAS E O PATCHWORK EM ARTETERAPIA.

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre

– Universidade Candido Mendes como requisito parcial

para obtenção do grau de especialista ”Latu Sensu” em

Arteterapia em Educação e Saúde.

Por: Leopoldina Rita do Nascimento Balzani

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SUMÁRIO

Introdução..........................................................................................................12

Capitulo I - O que é Arteterapia?.......................................................................14

Capitulo II - Mandala .........................................................................................16

Capitulo III - História do Patchwork....................................................................26

Capitulo IV - Jung, Mandalas e Patchwork .......................................................32

Capitulo V - Patchwork e Arteterapia – Trabalho em grupo..............................34

Conclusão .........................................................................................................35

Referências .......................................................................................................37

Índice.................................................................................................................41

DEDICATÓRIA

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Dedico essa monografia ao meu

marido Diones e aos meus filhos Henrique e

Renan que são a minha inspiração para

crescer.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus em primeiro lugar,

meu filho Henrique que me ajudou na

elaboração dessa monografia, a minha amiga

e psicóloga Andrea Pepino que me incentivou

a fazer essa pós-graduação, e as professora

orientadoras Fabiane Muniz e Narcisa

Castilho Melo.

EPÍGRAFE

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“O circulo (ou esfera) como o símbolo do “Self” expressa à totalidade da psique

em todos os seus aspectos, incluindo ao relacionamento entre o homem e a

natureza (...) ele indica sempre o mais importante aspecto da vida: sua estrema

e integral totalidade”.

Marie-Louise von Franz

RESUMO

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A Mandala é a representação geométrica da dinâmica entre o homem e

o Cosmos. Sua estrutura de combinações variadas de círculos, quadrados e

triângulos, entorno de um centro simbolizam a união do plano espiritual com o

material, servindo para organizar visões religiosas do mundo, sistemas

cósmicos e símbolos, assim como fatores de nossa psique, e como a Dra Marie

Louis Von Franz expõe o círculo ou esfera é um símbolo do “Self” ou si -

mesmo, que expressa à totalidade da psique em todos os seus aspectos,

incluindo o relacionamento entre o homem e a natureza, e indica sempre o

mais importante aspecto da vida, sua extrema e integral totalização não

importando onde ele se apresenta.

A Mandala representa a necessidade de orientação psíquica do ser

humano, as quatro funções da consciência descritas por Jung (o pensamento,

o sentimento, a intuição e a sensação) preparam o homem para lidar com as

impressões que recebe do exterior e do interior, é através destas funções que

ele compreende e assimila a sua experiência e pode reagir.

O círculo de quatro ou de oito raios é o padrão habitual das imagens

religiosas no Oriente que servem de instrumentos à meditação e simboliza a

integração destas quatro funções que o homem deve alcançar.

Mandalas ricamente ornamentadas em geral significam o cosmo na sua

relação com os poderes divinos, mas a maioria são apenas desenhos

geométricos chamados de “Iantras”, cujo motivo mais comum é o círculo com

dois triângulos um virado para cima e o outro virado para baixo representando

a união das divindades Xiva e Shakti, o masculino e o feminino, o que com

relação ao simbolismo psicológico representa a união dos opostos, ou seja,

união do mundo pessoal e temporal do Ego com o mundo impessoal e

intemporal do não - Ego é a consumação da busca de todas as religiões, a

união da alma com Deus. O “Iantra” representa a unidade e a totalidade da

psique ou “Self” (consciente e inconsciente) e acentua a tensão entre os

contrários.

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Na Europa as Mandalas abstratas são comuns na arte cristã,

representam o “Self” do homem transposto para um plano cósmico, as auréolas

dos santos são consideradas Mandalas.

As Mandalas também são usadas na arquitetura e no traçado das

cidades, é a transformação da cidade em uma imagem ordenada do cosmos;

toda construção religiosa ou secular baseada em uma Mandala é uma projeção

da imagem arquetípica do interior do inconsciente humano sobre o mundo

exterior, tornam-se símbolos da unidade psíquica e, assim, exercem influência

específica sobre o ser humano que entra e vive naquele lugar.

Como o círculo é um símbolo da psique, o quadrado (e o retângulo) é um

símbolo da matéria terrestre, do corpo e da realidade, juntando se os dois têm-

se a totalidade do ser, como o Patchwork com suas estruturas de combinações

variadas de círculos, quadrados, retângulos e triângulos entorno de um centro

se presta muito bem para a confecção de Mandalas, podemos transpor a

função exercida pela arquitetura na confecção das Mandalas em Patchwork.

O círculo e o quadrado têm representado uma parte invulgar de nossa

vida e realidade, e as Mandalas surgem sempre que há necessidade de cura

seja individual ou coletivamente.

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RÉSUMÉ

La Mandala est la representation géometrique de la dynamique entre

l’homme et le Cosmos, as struture Du combenaison varie dês cercle, carrés et

du triangles entour d’um centre que simbolize la union du plan spirituel avec le

materiel, em sevant pour organizer visions religieux du monde, sistemas

còsmiques et simboles, ansi comme facteurs de notre psyque.

Comme la docter Marie-Louise Von Franz explique Le cercle ou sphère

est um simbole du “Self” ou Il-même, que represente la totalité de La psyque

dans tote leurs aspèctes, en incluant le relacionement entre l’homme et La

nature et indique sempre le plus important aspect de la vie, as extreme et

integral totalization n’em important pás ou il se presente.

La Mandala represente la necessite du orientation psychique du etre-

humain, les quatre functions de la conscience descrite pour Jung, le

pensement, le sentiment, l’intuition et la sensatoin preparent l’homme pour

travailler l’impressions que reçoit du l’exterior et du l’interior, et est à traves dês

cettes funtions que il comprende et assimile as experience et peux réagir.

Le cercle de quatre ou huite rayon est le modèle habituel des images

religieuses dans l’orient que servent de instrument à meditation et simbolize

l’integration du cettes quatre fuctions que l’homme doit alcancer.

Mandalas riquement décoré en geral signifient le Cosmos dans as

retaltion avec les pouvoirs divin, mas la majorité sont solement desins

gómetrique que sont appellé du “Iantras”, et le motif plus comune est le cercle

avec deux triangles um posissioné avec la point pour la sommet et l’otre point

pour bas, ils representant La union des les divinités “Xiva” et “Shakti”, le

masculin et le feminin, que avec la relation au simbolisme psychicologique

represent l’union dês opostes ou l’union de monde personal et séculier du Ego

avec le monde impersonel et intemporel du ne pas Ego, est la consumation de

rechercher de toute lês religions, l’union d’âme avec Dieu.

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Le “Iantra” represent la unité et la totalité de la psyque ou “Self” (il-

même) conscient et inconscient et augmant la tension entre les contraíres.

Dans l’Europe les Mandalas abstrates sont communs a l’art chrétiene, ils

representant le “Self” du home transporte pour un plan còsmique, les aureoles

des saints sont considerent Mandalas (CAMPBELL,2005).

Les Mandalas sont usent aussi a l’architecture et dans le projet des

villes, et est la transformation de la ville en un image ordonneé du Cosmos, tout

le bâtiment religieux ou séculier que ont pour base une Mandala est une

projection de l’image archetypique de l’interior de l’inconscient du etre-humain,

sur le monde exterior, se retournant símboles de l’unité psychique et ansi,

exercent influende espécifique sur le etre-humain que va habiter dans cet

place. Comme le “Patchwork” avec leurs structures du combinaisons variés du

cercles, carrés, rectángles et triangles entour d’un centre serte perfectement

pour confeccioner du Mandalas, nous pouvons transporter la function exerçant

pour la architecture de les Mandalas en Patchwork.

Le cercle est un simbole de la psyque, le carré ( et le rectangle) estun

simbole dela matière terrestre, des corps et de la realité, il represent une partie

invulgaire de notre vie et surge sempre que nous avon la necessité de santé

individuel ou coletive.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada pra a realização do presente trabalho foi revisão

literária. Foram pesquisados diversos livros sobre arteterapia, mandalas, foram

usados livros do psiquiatra Jung, sites relacionados ao tema, reportagens em

revistas cientificas, até mesmo em fontes menos usuais como revistas de moda

que abordavam o assunto, também foram utilizadas revistas especializadas em

Patchwork (um tipo determinado de artesanato realizado com tecidos)

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INTRODUÇÃO

Como em todos os campos de conhecimento a saúde mental, assim

como as terapias em geral, passa por um momento de transformação que está

ligada as transfor- mações das ciências humanas e sociais. O mundo

contemporâneo é caracterizado pelas rápidas transformações e a imagem está

cada vez mais presente na vida das pessoas.

Para que um arte-terapeuta seja formado atualmente é preciso

expressões menos estereotipadas e mais funcionais principalmente no ensino

da arte em ateliê terapêutico.

A arte é a essência da arteterapia, sua razão de existir como terapia. As

três dimensões da arte devem estar presentes na atuação do arteterapeuta, o

como fazer, o como conhecer, e o como exprimir, elas se contrapõem, se

excluem e se combinam de muitas maneiras.

A arteterapia cuida do ser humano em sua totalidade promove sua

saúde emocional, cognitiva, afetiva e neurológica integrando sua percepção,

atenção, memória e suas capacidades de forma geral.

O arteterapeuta deve ter sua base de atuação e prática na teoria,

buscando sempre refletir se está contribuindo para o aperfeiçoamento do

paciente, e buscar sempre fundamentos e pressupostos para cada coisa que

faz.

As Ciências Sociais e Humanas devem procurar olhar o ser humano de

forma mais integrada, o século XX com sua ênfase na tecnologia e total

descaso com a concepção afetiva e cognitiva do homem e da sociedade levou

a concepções de comportamentos longe da natureza e da realidade, levando a

se desconsiderar os fatores emocionais, as fantasias, os sonhos e as intuições

como fatos constituintes da subjetividade, com isso prejudicando a

compreensão do ser humano como um todo.

A arteterapia como ciência social deve através do trabalho com arte, que

é manifestação cultural e subjetiva, e como tal possibilita inserção social, e

“para que alguém consiga entender como outrem interpreta um fato é preciso

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saber qual a sua visão de mundo “(Urrutigaray, 2004). E através da criatividade

que podemos vincular as dimensões intuitivas e emocionais presentes na

produção do ser humano, e compreender a sua complexidade.

“A experiência do trabalho com arteterapia proporciona a possibilidade

de reconstrução e de integração de uma personalidade” (URRUTIGARAY,

2004).

“O poder da autoridade de inovar, de fazer diferente, aumenta a auto-

estima, fortalece a personalidade e dota de energia a consciência para

enfrentar futuras escolhas e definições diante da própria vida”

(URRUTIGARAY, 2004).

Portanto a arteterapia proporciona suporte para a aquisição da

autonomia, reconstrução e integração da personalidade sendo sua meta a

melhoria da vida.

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I - O QUE É ARTETERAPIA?

Toda criança desenha, constrói, experimenta e transforma o uso dos

objetos com uma liberdade e uma criatividade notável. Criar é a primeira

linguagem do homem que lhe permite assimilar as experiências vividas e

traduzi-las. É um dom inato cuja espontaneidade se perde em geral com a

socialização.

Ao longo da antiguidade, as artes surgiram como formas de cada

sociedade expressar criativamente a sua percepção do mundo. Para manter a

coesão do grupo, seus ritos e mitos eram constantemente representados de

múltiplos modos, assim como transformados segundo a evolução da época.

Para os gregos, as artes como música, poesia, teatro, escultura eram tidos

como curativas, verdadeiros remédios para a alma tanto do artista quanto do

espectador.

A Arteterapia resgata essa tradição milenar e compreende as atividades

criativas da arte como elementos terapêuticos de grande poder transformador.

Ela pode se ancorar sobre modelos teóricos distintos (gestalt, transpessoal,

antroposofia, ludoterapia, psicanálise), mas encontra sua fundamentação mais

abrangente na psicologia Junguiana. Esta considera a atividade simbólica da

alma – praticada diariamente nos sonhos – como necessária e singular a cada

homem para estruturar a progressão de um mundo interno mais saudável. Por

amplos estudos, Jung revela a universalidade de muitos símbolos e como

temas matriciais regem os processos de criação, pedindo uma constante

redefinição por parte do indivíduo que cria.

A Arteterapia oferece os recursos expressivos do desenho, pintura,

modelagem, colagem, tecelagem construção, criação de personagens etc.,

para auxiliar a pessoa a contatar o seu universo profundo e dar-lhe forma

plástica externa, vão se elaborando e polindo as formas internas, num diálogo

pessoal que leva aos poucos a uma ampliação de consciência e mudança de

atitudes.

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Cada um tem um processo de criação particular e as diferenças são

sempre respeitadas. O objetivo não é a estética das produções, mas a

recuperação da possibilidade de cada um criar livremente para, através de

símbolos que vão surgindo pouco a pouco, mapear suas limitações e ativar

seus núcleos sadios, fortalecendo assim o seu processo de individuação e a

apropriação de si mesmo.

A Arteterapia tem surgido como uma solução produtiva para a

promoção, preservação e recuperação da saúde e do equilíbrio interno. Ao

integrar três áreas de conhecimento – Arte, Saúde e Educação – ela possibilita

uma ampla transformação dos indivíduos e assim, se inscreve no elenco de

processos possíveis que abordam o ser de forma holística, tendência cada vez

mais forte na consciência coletiva do terceiro milênio (ANNIE ROTTENSTEIN,

2000).

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II - MANDALA

Palavra Sânscrita para circulo de cura ou mundo inteiro. É uma

representação do universo e tudo que há nele. A palavra tibetana para mandala

é khyil-khor e significa “centro do universo onde um ser totalmente iluminado

habita”. Os círculos sugerem totalidade, unidade, o útero, completude e

eternidade. Elas representam um mundo iluminado que sempre existiu; como

são constituídas das mesmas energias que nós, são vistas de duas formas:

raiva, apego e ignorância e são tidas coma mandalas de “transmutação de

forças demoníacas” ou força, compaixão e sabedoria e são mandalas

chamadas de “fortalezas cósmicas”. As mandalas de “transmutação de forças

demoníacas” são reconhecidas por suas imagens de fogo sinistras, dragões e

guerreiros onde se tem a impressão geral de dinâmica ou movimento de

energias. Já as “fortalezas cósmicas” criam um visual de paz, de lugar seguro,

repleto de deuses, deusas, lótus e figuras angelicais que possuem a função de

nos proteger e nos abençoar à medida que nos sintonizamos com nosso

próprio ser interior, aquele centro dentro de nós mesmos.

Mandalas são na realidade projetos arquitetônicos ou vista aéreas de

palácios celestiais constituídos de conceitos iluminados.

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2.1 - Mandalas no Oriente

No oriente as mandalas são usadas para recompor o ego diante da

majestade do Eu interior. A contemplação destas imagens homogêneas,

organizadas em torno de um centro, por analogia, tende a facilitar à

emergência de processos inconscientes. Esses processos são capazes de

permear de paz interior a mente, que deseja vislumbrar a ordem subjacente no

Cosmos, ou que queira abstrair da contemplação algum significado para a

existência ou para o milagre da vida (URBAN, 2002). As mandalas no Oriente

estão presentes em tapetes, tecidos, roupas, tempos e em artesanatos (figura

1).

Figura 1 - Na figura temos um exemplo de mandala feita com areias

típicas do Tibete (TENZIN-DOLMA, 2007).

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2.2 Mandalas no Ocidente

No Ocidente existe também uma tradição de círculos de cura. Um

simbolismo poderoso pode ser observado nas pinturas nativas do índio

americano, nas rodas medicinais e escudos de guerra. As rodas medicinais

representam o universo, mudança, vida, morte, nascimento e aprendizagem.

O grande círculo é a hospedaria de nossos corpos, nossas mentes e

nossos corações. Apesar de existir muitos paralelos com as mandalas

tibetanas, os nativos americanos, nunca usaram a palavra para descrever seus

próprios círculos sagrados. Na Europa só foram conhecidos em época recente.

As mandalas herméticas, apesar de desenhadas linearmente, podem ser

também circulares.

A arquitetura das catedrais góticas nos mostra outro caminho para a

iluminação: os vitrais rosáceos, como as mandalas, eram construídos para ser

um símbolo de iluminação do espírito humano (SALVES, 2000). A figura 2 nos

mostra exemplo das mandalas em catedrais góticas.

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Figura 2 – Mandala presente no vitral, Rosácea, na entrada oeste da

Catedral de Chartres, 1197-1260 (CAMPBELL, 1990).

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2.3 Mandalas na sala de aula

O sonho de um professor pode se tornar realidade? No quadro de sua

sala de aula o professor escreveu “escolha uma destas mandalas e pode

começar”. O professor fez várias cópias de mandalas para colorir e colocou

sobre a mesa. Conforme as crianças iam chegando, pegavam um a das cópias

e começavam a trabalhar, enquanto ouvia uma música relaxante, a sala estava

em silêncio e as crianças totalmente calmas. A aula começou quinze minutos

após sem que o professor precisasse pedir que os alunos ficassem quietos. As

que não terminaram as suas mandalas poderiam levá-las e terminar em casa.

De tempos em tempos as mandalas eram combinadas para se formar um

mural na parede da sala de aula.

Isso soa como um conto de fadas? È impossível porque a mídia estimula

constantemente as crianças todos os dias? Sim isso é possível basta o

professor estar disposto a tentar, não importa em que nível ele atua.

A idéia de usar mandalas na sala de aula é muito interessante, elas

servem efetivamente como meio de relaxar, principalmente após várias horas

de trabalho, essa técnica é de grande valor para o professor que precisa

manter sua habilidade de trabalhar em um nível ótimo.

Segundo Maria Montessori as crianças precisam ficar quietas para que o

aprendizado se dê, mas isso não significa ser forçado a permanecer quieta,

condição que apenas gera tensão, conflito e ressentimento. O uso das

mandalas em sala de aula proporciona a necessária quietude que o professor

necessita para poder introduzir conhecimentos novos. Como sabemos as

mandalas são recomendadas pelos terapeutas como método de defesa contra

o stress e como tratamento de problemas psicossomáticos, então por que não

usá-las em sala de aula?

As mandalas podem ser usadas de várias formas na sala de aula, por

exemplo: cortando e colando, colorindo ou se criando a própria mandala.

2.4 Mandalas na Natureza

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A Natureza, a força criativa, em muitos sentidos, é a mandala suprema.

Podemos ver mandalas naturais onde quer que olhemos. Os espirais de um

caracol, as pétalas apertadas de uma rosa, os anéis concêntricos do tronco de

uma árvore, as folhas que formam a copa de uma árvore contra o céu, tudo

isso, e mais são portas para um reino que transcende o prosaico ou comum.

As mandalas, imagens simbólicas que são utilizadas na meditação, têm

representado tradicionalmente a arquitetura divina do Cosmos. Não obstante,

os símbolos da natureza podem constituir uma base adequada pra as

mandalas, através da natureza voltamos a nos conectarmos com experiências

essenciais de autoconsciência, sensibilidade e paz.

Uma mandala é um modelo ou uma estrutura para se meditar. O objetivo

da meditação é acalmar a mente. Em essência as mandalas representam o

palácio dos deuses em suas infinitas variações, quando interioriza a mandala

em sua própria consciência, quem está meditando reorienta sua cosmo - visão

e a sua concentração interna se desprega das distrações mundanas a sua auto

consciência e a sua compaixão.

As mandalas do budismo tântrico representam os elementos e os ciclos

do nascimento, a vida e a morte, ambas as forças originais da natureza, junto

com diversas divindades e demônios. As mandalas foram concebidas

cuidadosamente pelos sábios para aguçar a percepção na meditação, é

possível conseguir o mesmo efeito utilizando os fenômenos da natureza na

meditação. Cada objeto contemplado é um símbolo que abre uma porta para a

mente poder ter uma maior compreensão da vida. A seguir temos exemplos de

figuras que mostram mandalas na natureza (Figura 3 e Figura 4).

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Figura 3 – A imagem com

girassol), conduz o observador a uma simetria dinâmica

mandala natural (TENZIN

A imagem como modelo de centro giratório (inflorescência do tipo capítulo de

girassol), conduz o observador a uma simetria dinâmica, sendo um tema ideal para a

mandala natural (TENZIN-DOLMA, 2007).

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florescência do tipo capítulo de

, sendo um tema ideal para a

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Figura 4 – Olho de camaleão pantera de Madagascar. Os animais também podem servir como

fonte muito interessante para construção de mandalas, resultando em grande gratificação na

meditação.(TENZIN-DOLMA, 2007).

2.5 Mandalas de Tarô

O Tarô (famoso jogo de cartas) é comumente usado para prever o

futuro, mas pode ser usado eficazmente como um instrumento de terapia.

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Nessa proposta de Mandala terapêutica você recebe conselhos práticos

não sobre o futuro, mas sobre você mesmo. Esse jogo é voltado

exclusivamente para o autoconhecimento. Como é sabido Jung se interessou

pelo estudo do tarô,assim como por diversos outros jogos e tentativas

primordiais de adivinhação do invisível e do futuro,ele reconheceu de pronto

que o tarô tinha sua origem e antecipação em padrões profundos do

inconsciente coletivo, com acesso a potenciais de maior percepção à

disposição desses padrões, e que era outra ponte não-racional para o

inconsciente e a consciência (NICHOLS, 2007). Ele via nas figuras das cartas a

representação dos diversos arquétipos.

Existem muitos modos de lançar as cartas, entre os quais a tradicional

mandala. Foi o tarólogo Arhan, que realiza workshops e vivências terapêuticas,

que inventou um jogo voltado exclusivamente para o autoconhecimento com a

forma de uma mandala.

O tarô clássico é composto de 78 cartas (22 arcanos maiores e 56

menores). Para os jogos divinatórios, utiliza-se o baralho completo, mas, na

mandala terapêutica, usam-se somente os 22 arcanos maiores, que

representam as forças arquetípicas, como o mago, a imperatriz, o sol, a lua,

etc. Cada carta condensa uma série de símbolos cuja interpretação ilumina

pontos obscuros de nossa história, trazendo à tona aspectos que até então

estavam inconscientes.

Jogar o tarô amplia nossa consciência e discernimento apesar de nem

sempre ficarmos satisfeitos com as revelações (SOUZA, 2007). Na mandala

terapêutica, as cartas são distribuídas por 13 casas, cada uma lhe dará um

conselho: 12 casas representam áreas específicas da vida e a última traz a

mensagem final (figura 5).

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Figura 5 - Acima é mostra

com 13 cartas. 1 – essência; 2

– rotina; 7 – relacionamentos; 8

12 – carma; 13 – conselho final

mostrada a disposição das cartas no formato de mandala

essência; 2 – segurança; 3 – comunicação; 4 – emoções; 5

relacionamentos; 8 – transcendência; 9 – sabedoria; 10 – drama; 11

conselho final (SOUZA, 2007).

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a disposição das cartas no formato de mandala no jogo de Tarô,

emoções; 5 – criatividade; 6

drama; 11 – objetivos;

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III História do Patchwork

O Patchwork remonta a noite dos tempos, esta tradição veio à luz no

Egito antigo em 3400 antes de Jesus Cristo. É descrito na Bíblia que o manto

de Joseph era costurado de pedaços de diversas cores.

Na idade média, os cruzados descobriram o Patchwork na Ásia Menor e

o introduziram na Europa (eles decoravam xairel, manta de sela, e toucas com

motivos aplicados).

Na literatura, em um poema de século XIII “A lei do desejo”, há uma

disputa por uma colcha de cama, feita de pedaços de tecidos e reproduzia um

tabuleiro de xadrez. Arlequim também usava uma roupa feita de losangos

unidos.

O Patchwork é uma tradição universal, mesmo as técnicas, os motivos e

as cores variando segundo os países e os continentes. Antigamente as

mulheres aproveitavam as partes não usadas de uma roupa, de uma cortina

etc., para confeccionar outras peças de seus enxovais, sendo os tecidos caros

e raros. Elas davam assim uma nova vida a cada pedaço de tecido, criando

motivos mais e mais procurados, variando as cores, os tamanhos, as formas e

as texturas, permitindo então conciliar conforto, economia e estética, elas

faziam do velho novo, permitindo também as mulheres expressar sua

criatividade, e isso há muito tempo. Na figura a seguir pode se observar as

cores e formas citadas anteriormente (Figura 6).

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Figura 6 – Patchwork e Quilt feito por Deb Karasik, bela colcha em que podemos visualizar

todos os aspectos da mandala nas forma e cores geométricas, assim como a criatividade na

escolha dos tecidos (Quilt Marvens,2007).

3.1 - O Patchwork conta histórias de vida

Segundo Maria Zélia de Alvarenga a arte de contar histórias, mágica por

natureza, transforma e fascina a quem conta. O transformar e o fascinar são

movimentos do processo de cura da alma. Em todas as culturas os povos

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contam histórias registrando suas tradições, cultos e ritos em textos

considerados sagrados. Da mesma forma quando as mulheres se reúnem para

confeccionar os patchworks, contam seus dramas, falam de suas experiências

de vida, ao mesmo tempo em que criam arte. Como exemplo, temos o

Patchwork americano, remontando ao século XVII, a época da conquista dos

Estados Unidos pelos emigrantes que chegaram a costa oeste por La May

Flower, fugindo das perseguições ao movimento da reforma na Europa.

Os pioneiros difundiram assim as tradições de seus países de origem.

Seus estados de pobreza fizeram com que usassem de engenhosidade,

segundo a tradição, visinhos e amigos de uma mesma cidadezinha se reuniam

para fazer seus trabalhos. No romance “A cabana do tio Tom” de Harriet

Beecher-stowe (1851) pode ler “jovens e velhas se reuniam para trabalhar com

mãos ágeis enquanto a conversa continuava sem parar”. O dia passava assim

em uma alegre conversação enquanto as mulheres uniam os pedaços de

tecidos. Mesmo durante a guerra da Secessão de 1861 a 1865, as mulheres

dos colonos se reuniam pela necessidade de unir os pedaços de tecidos ou

mesmo dos sacos de grãos, e o recheio era feito com folhas secas. Elas

embelezaram seus trabalhos e pouco a pouco se tornaram trabalhos de arte.

No século XIX havia numerosos costumes ligados ao Patchwork nos

Estados. As jovens deveriam ter realizado doze colchas antes de seu noivado,

um por cada mês do ano em algodão, linho e lã, depois elas deveriam realizar

um décimo terceiro acolchoado para o casamento chamado “quilt das

alianças”. Dever-se-ia confeccionar igualmente um “quilt” em memória de um

ente querido desaparecido “quilt du souvenir”. Deveria ser confeccionado com

pedaços de tecidos cortados das roupas do morto. O “quilt” da amizade era

criado para um aniversário, noivado, casamento ou aniversário de casamento.

Todos os mais próximos confeccionavam um bloco. Os blocos eram

costurados juntos; e o “quilt” assim realizado era então entregue ao interessado

durante uma pequena festa. O “quilt” da liberdade ou “Freedom Quilt” era

oferecido por uma jovem a um homem pelos seus 21 anos.

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3.2 Costuras com retalho

O Patchwork usado em arteterapia nos revela verdades profundas sobre

mudanças que vão sendo costuradas para se obter o que se deseja da vida,

em direção ao nosso crescimento, nos ajuda a estabelecer metas, a

comprometer-se, a planejar e a ter responsabilidade. Todos esses

componentes ajudam a recompor todas as nossas partes formando um todo e

tornando-nos inteiros (SILVEIRA). Como observa Fayga Ostrower “a

criatividade é um potencial inerente ao homem e a realização deste potencial

uma de suas necessidades”.

3.3 O Patchwork moderno

A revolução industrial permite o desenvolvimento do Patchwork na

Europa introduzindo no comércio os “Chintz” vindos da Índia. O Patchwork teve

um desenvolvimento todo particular na Inglaterra, num primeiro momento entre

a aristocracia onde a rainha Victória era uma adepta. Concursos foram

organizados, vindo mesmo a ser uma “obsessão nacional”. Durante o século

XIX se organiza os “Quilting bee” reuniões para se realizar um ou vários

trabalhos em comum. Estes encontros desenvolviam a vida social, permitindo à

mulher sair de casa.

Depois, a moda muda e os cobrem leitos e outras peças em Patchwork

foram guardadas nos sótãos. Em 1972, o Museu das Artes Decorativas

organiza, em Paris, uma exposição de “Quilts” americanos, essa exposição

marca o renascimento do Patchwork na França e no resto do mundo. A união

de tecidos não era mais uma necessidade, o Patchwork se transforma em arte.

Pedaços, apliques, crazy, cabana de toras, boutis provençal, mola, sashiko,

trapunto... Cada uma dessas técnicas dá um efeito particular ao trabalho.

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Hoje são milhares de mulheres que se apaixonaram por esta arte pelo

mundo e se exprimem graças a ele. Pouco a pouco o Patchwork tradicional

evolui através da arte têxtil contemporâneo. Novos processos (tinturas, pinturas

etc.) e com novas técnicas que o enriquecem.

O Patchwork é uma arte reconhecida no mundo inteiro que atraí

inúmeros colecionadores, principalmente nos Estados Unidos onde os Quilts

(acolchoados) antigos são mesmo cotados na Wall-street. As exposições

internacionais acontecem por toda parte, mas o “Houston Internacional Quilt

Festival” já é hoje em dia a maior manifestação mundial.

3.4 O Patchwork no Brasil

Em princípio os portugueses chegaram ao Brasil em 1500 sem nenhum

interesse em colonizar essas terras, quando eles chegaram o Brasil era

habitado por índios de várias etnias diferentes que viviam de forma rudimentar,

viviam da caça e da pesca e andavam nus, as mulheres plantavam o algodão e

teciam com eles redes, apenas com a vinda dos europeus surgiu a

necessidade da fabricação de peças de roupas, que eram usadas pelos índios,

africanos e europeus.

Os tecidos fabricados eram grosseiros e de forma manual. Na realidade

nunca as mulheres no Brasil dominaram as técnicas empregadas na Europa

nos seus trabalhos, mas a mistura aqui ocorrida propiciou o surgimento de

trabalhos característicos adaptados à região tropical.

No Brasil não existe muita tradição de trabalhos em tecidos, mas

atividades com fios e fibras sempre existiram.

No século XIX o imperador Dom Pedro II facilitou a vinda ao Brasil de

plantadores de algodão americanos dos estados da confederação vencidos na

guerra civil, eles fundaram em São Paulo a Vila Americana e iniciaram a

primeira indústria brasileira de tecidos de algodão.

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Com eles chegaram os primeiros “quilts” ou acolchoados, esses

imigrantes, a maioria presbiterianos contribuíram não só com a difusão da

religião como vários aspectos da cultura americana. O clima quente e a

preferência por trabalhos de agulhas como o crochê e o bordado contribuíram

para a pouca difusão do Patchwork.

Entretanto ele tomou outras formas diferentes de expressão como o

fuxico, cuja origem é atribuída aos escravos africanos. Um pequeno círculo

colorido de tecido franzido inspirou a criação de pequenos enfeites e

acessórios e até a confecção de grandes peças como os cobre-leitos.

O fuxico é um Patchwork artesanal típico, presente em todas as regiões

do Brasil. O nome vem do costume de se reunir para fazer o trabalho manual e

ao mesmo tempo falar da vida dos outros, ele é associado aos de pouca renda,

ou comunidades rurais. Depois dos anos 70 começou a ser valorizado com a

aparição da customização e a introdução do Patchwork na moda e na

decoração.

No Brasil apenas três regiões conservaram a tradição do Patchwork,

Goiás, São Paulo e o Triângulo Mineiro.

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IV – Jung, Mandalas e Patchwork

Foi Jung quem nos chamou a atenção desses desenhos circulares

percebido por ele enquanto estudava religião oriental. Ele percebeu que seus

clientes experienciavam estas imagens circulares como “movimento” em

direção a um crescimento psicológico expressando a idéia de refúgio seguro,

de reconciliação interna e inteireza.

Para Jung as mandalas são vasos ou embarcações na qual nós

projetamos nossa psique que retorna a nós como um caminho de restauração.

Ele reconheceu que figuras arquetípicas (símbolos universais) de várias

culturas podem funcionar como chaves para os mistérios de nosso reino

interior, que se usados para esta finalidade podem nos levar de encontro com

os mistérios de nossa alma (SALVES, 2000).

Segundo Jung, há duas razões principais pelas quais podemos perder

contato com o “Self” ou si mesmo, que

nos regula e nos tempera, o que compromete a distribuição homogênea da

energia anímica por toda a mandala de um psiquismo saudável.

O primeiro surge sempre que nos vemos tomados por impulsos

instintivos emocionalmente fortes, que nos leva a reagir visceralmente.

O segundo é uma condição oposta a primeira e advém da cristalização

excessiva do ego que adora se prender ao mundo da realidade objetiva e

esquecer-se de todo o resto, dificultando a percepção dos estímulos

inconsciente provenientes do centro psíquico interior.

A Dra Nize da Silveira relacionou o poder das mandalas aos desenhos

de seus pacientes, pois segundo a teoria de Jung esses símbolos ou figuras

concêntricas estão relacionados à reordenação psíquica. “Se certas figuras

angustiam, a beleza de outras formas fascina” (JUNG, 2009).

Jung atribui aos elementos rituais, às formas circulares e às

metamorfoses presentes nessas obras uma função compensatória,

autocurativa, espécie de reordenamento do mundo interno e das experiências

cotidianas (por Walter Melo in Memória da Psicanálise). Como sabemos o

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Patchwork utiliza inúmeros projetos que são representações de mandalas,

mandalas redondas e mandalas quadradas, segundo Chevalier e Gheerbrant, a

mandala redonda simboliza, em geral, a integridade natural da personalidade,

enquanto a mandala quadrada representa a tomada de consciência dessa

integridade. Quando fazemos a escolha de combinação de cores nos tecidos

para executarmos um trabalho, seja em Patchwork ou qualquer outro material,

é isso que estamos fazendo, buscando o nosso equilíbrio interior mesmo que

de forma inconsciente.

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V – Patchwork e Arteterapia – Trabalho em grupo

A Arteterapia trabalha em grupos, pois possibilita tanto o alcance de

objetivos pessoais, quanto objetivos sociais, já que proporciona a

personalidade adaptação e integração das necessidades externas da

sociedade e garante a aquisição da auto-estima e autoconfiança, fortalecendo

o Ego. No sentido da valorização e reconhecimento pessoais, aumentam o

grau de motivação, de orientação e disposição para expressão de novas idéias,

escolhas e vivenciando a liberdade.

Nos objetivos sociais facilita a convivência com o outro possibilitando a

percepção das dificuldades próprias e dos outros o levando a se sentir incluído

e parte de um grupo. “A consecução de uma tarefa em grupo, desenvolve

sentimentos de companheirismo, intimidade, satisfação, identificação,

semelhança, atração, apoio, proteção e ajuda” (URRUTIGARAY, 2003).

5.1 – Oficinas de Arteterapia usando o Patchwork

A proposta da oficina é utilizar o Patchwork para que os participantes

possam importantes e histórias familiares através de retalhos e tecidos que

foram guardados, formando e transformando experiências que poderão

compartilhar com outras pessoas.

Objetivo – Estimular o autoconhecimento, a reflexão e a relação interpessoal.

Conteúdo

1-Breve história do Patchwork;

2-Reflexão;

3-Escolha dos modelos a serem confeccionados;

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4-Confecção dos trabalhos com os tecidos escolhidos;

5-Compartilhamento das experiências;

Público alvo

1-Mulheres na faixa dos 35 anos em diante;

Número de participantes

Seis pessoas por oficina;

Duração de três horas por oficina;

Materiais utilizados nas oficinas

1-Retalhos diversos de tecidos de algodão

2-Linha e agulhas para costura a mão;

3-Duas tesouras: uma para cortar o tecido e outra para cotar papelão

4-Papelão para fazer moldes.

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CONCLUSÃO

Vimos que as mandalas significam circulo ou centro e que

tradicionalmente em seu desenho usa-se frequentemente o círculo, símbolo do

Cosmos na sua totalidade, e o quadrado, símbolo da terra ou mundo

construído pelo homem. No centro está a divindade, ele está contido no

quadrado, ou palácio do ser rodeado por círculos simbolizando cada um uma

fase de iniciação ou nível de consciência.

A mandala é a terra e o homem, é ao mesmo tempo átomo e galáxia, ela

é normalmente utilizada como veiculo para concentrar a mente, e são para

revelar o jogo oculto das forças que operam no universo e em nós mesmos,

deverão ensinar o caminho da reintegração da consciência. Elas se

manifestam em diferentes épocas e lugares sempre que o homem busca

recompor aquela unidade que foi quebrada ou abalada por um ou outro dos

caracteres que constituem a sua personalidade, auxiliarem a consciência

primordial, que é fundamentalmente unitária a reencontrar sua integridade

(TUCCI, 1969).

Foi Jung quem nos chamou a atenção para esses desenhos circulares e

sua importância no inconsciente, eles podem ser confeccionados de vários

materiais, um deles é o tecido, aparecem em todas as culturas e em várias

épocas diferentes, principalmente quando há a necessidade de cura seja

individual ou coletiva.

“Jung considera a criatividade um determinante que possui a força de

um instinto; a arte é um produto fundamental à espécie humana” (LIVIANO

WAHBA, 2009).

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Índice

Folha de rosto......................................................................................................2

Dedicatória ..........................................................................................................4

Agradecimentos...................................................................................................5

Epígrafe...............................................................................................................6

Resumo...............................................................................................................7

Résumé...............................................................................................................9

Metodologia.......................................................................................................10

Introdução..........................................................................................................12

Capitulo I O que é Arteterapia?.........................................................................14

Capitulo II Mandala ...........................................................................................16

2.1 Mandalas no Oriente............................................................................17

2.2 Mandalas no Ocidente.........................................................................18

2.3 Mandalas na Sala de Aula...................................................................20

2.4 Mandalas na Natureza.........................................................................21

2.5 Mandalas de Tarô................................................................................23

Capitulo III História do Patchwork......................................................................26

3.1 O Patchwork conta histórias de vida...................................................29

3.2 Costuras com retalhos.........................................................................29

3.3 O Patchwork moderno.........................................................................29

3.4 O Patchwork no Brasil.........................................................................30

Capitulo IV Jung, Mandalas e Patchwork .........................................................32

Capitulo V Patchwork e Arteterapia – Trabalho em grupo................................34

5. Oficina de Arteterapia............................................................................34

Conclusão .........................................................................................................36

Referências .......................................................................................................37