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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
Utilização de mandalas como instrumento facilitador da
arteterapia para desenvolvimento da concentração
Maria Eugênia Pinheiro Caldas
Rio de Janeiro
2009
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
Utilização de mandalas como instrumento facilitador da
arteterapia para desenvolvimento da concentração
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre – Universidade Candido Mendes como
requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Arteterapia em Educação e Saúde.
Maria Eugênia Pinheiro Caldas
Rio de janeiro
2009
3
AGRADECIMENTOS
A Nossa Senhora dos
Desesperados.
4
DEDICATÓRIA
A Santa Paciência.
5
RESUMO
Vivendo em um mundo cercado de experiências sensoriais, o ser
humano é influenciado por estímulos externos que requerem constantemente a
sua atenção.
O desempenho de algumas funções, como por exemplo, manejar
máquinas, pode ser comprometido pelas influencias citadas acima; assim
verificamos que a concentração é fundamental para o homem desempenhar
determinadas funções.
Observando o uso de mandalas na contemplação e meditação de
adeptos do budismo, percebemos que estes atos os conduziam a
concentração, então lançando mão desta ferramenta encontramos o meio
através do qual conseguimos desenvolver a concentração no homem ocidental.
Mandadas são figuras geométricas circulares que ao serem criadas ou
reproduzidas e coloridas se transformam em instrumentos terapêuticos.
A nossa proposta consiste na utilização desses instrumentos com o
objetivo de auxiliar o individuo a desenvolver a concentração, qualidade
primordial para desempenhar certas funções, como por exemplo, estudos e
trabalhos onde a distração possa colocar em risco o bom desempenho dos
mesmos e, no caso de operar máquinas, comprometer a segurança da pessoa.
O arteterapeuta é o profissional mais indicado para fazer esta conexão
porque lança mão dos mais variados materiais e os transforma em ferramentas
eficientes para conduzir o homem a um estado de bem estar físico e psíquico.
A técnica usada não é onerosa nem exige que a pessoa tenha noções
de estética nas artes plásticas. Basta papel sem pauta – ofício, um instrumento
para riscar um círculo – compasso, lápis preto para fazer o contorno e lápis de
cor ou tintas para colorir. Ou Xerox preta e branca de mandalas já existentes
em livros e os materiais acima citados para pintá-las.
Concluímos que, através da arteterapia, a mandala se torna um
elemento condutor no auxílio a indivíduos que precisam de concentração para
cumprir tarefas.
6
METODOLOGIA
A metodologia utilizada nesta monografia está baseada na leitura de
livros que abordam a utilização de mandalas e sua aplicação nas diversas
áreas de ensino, saúde e religião.
Buscamos nestes círculos o apoio necessário para trabalhar técnicas de
concentração e vivencias para desenvolver esta aptidão.
A necessidade de se concentrar para executar determinadas tarefas é,
geralmente, impedida pela condição externa, que se acumula diariamente em
nossa psique. Assim sendo ao se utilizar mandalas nos concentramos e
executamos tarefas com maior segurança e objetivo.
A pesquisa metodológica deste trabalho ocupa extensa bibliografia
relacionada com o tema, desde livros sobre o budismo tibetano até os livros de
psicologia analítica.
Outro método utilizado neste trabalho está baseado na pintura e
confecção de mandalas feitas por clientes que necessitavam desenvolver a
concentração, e, o instrumento que se mostrou mais adequado para atingir
este estado foi a pintura ou confecção de mandalas.
E, finalmente, nossa proposta é a utilização de mandalas pelo
arteterapeuta como instrumento eficaz para dar apoio a seu trabalho.
Concluímos que as mandalas são objetos de grande utilidade a proposta
arteterapeuta.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO 1 - OS HOMENS E AS MANDALAS 10
CAPÍTULO 2 – A UTILIZAÇÃO DE MANDALAS NA ARTETERAPIA PARA DESENVOLVER A CONCENTRAÇÃO 22 CAPÍTULO 3 – TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO DE MANDALAS 34 CONCLUSÃO 40 ANEXOS DE FIGURAS 43 BIBLIOGRAFIA 49 INDICE 51
8
INTRODUÇÃO
O propósito deste trabalho é estabelecer a conexão entre mandalas e
arteterapia, aplicando técnicas para desenvolver a concentração em pessoas
com dificuldades para esta aptidão; desde que as mesmas, não apresentem
problemas neurológicos nem psiquiátricos que as impeçam de atingir tal
objetivo.
A mandala, como elemento facilitador, é de grande ajuda nesta prática.
Auxilia o indivíduo a atingir o autoconhecimento e amplia a conscientização de
si mesmo.
A forma mandálica é um símbolo preexistente na psique; sendo assim,
além de auxiliar os processos psicológicos, como por exemplo, acessar
conteúdos inconscientes, conecta o ser humano com o cosmo, isto é, a fonte
primordial de sua existência. Então o arteterapeuta lança mão desta ferramenta
valiosa para ajudar o cliente em seus objetivos.
O projeto se justifica pela observação feita em relação ao uso das
mandalas em algumas áreas: científica (matemática - geometria), humana
(terapias holística – relaxamento e autoconhecimento), religião (cristianismo,
budismo) e, recentemente, sua atuação na arteterapia em educação e saúde.
O resultado mostrou-se plenamente satisfatório no cumprimento do objetivo
proposto dentro de cada área específica.
A geometria é responsável pelo modelo das formas naturais ou criadas
pelo homem, é um alfabeto simbólico que conhecemos o significado. As formas
mais antigas deste alfabeto são o círculo, o quadrado e o triangulo; elementos
fundamentais na criação de mandalas.
Nas terapias holísticas a utilização da mandala está ligada as vivências
cujas práticas induzem ao relaxamento e a introspecção, ou seja, um convite
para acessar o mundo interior.
No aspecto religioso encontramos as mandalas, em forma de rosáceas,
nos vitrais das catedrais, principalmente, góticas, por onde a luz do sol é
9
filtrada, emprestando ao ambiente uma atmosfera metafísica. E, finalmente,
nas religiões orientais, as encontramos como objetos devocionais para induzir
a meditação e contemplação.
Na arteterapia auxilia o desenvolvimento da concentração, pois facilita,
de forma prática, solucionar incômodos ocasionados pela dificuldade de
concentrar-se e, sabemos que, este fator limita a conclusão de algumas
tarefas.
Observamos que as práticas descritas acima resultam na concentração
e paz interior.
Cores e formas são subsídios no processo da confecção e reprodução
das mandalas porque ajudam a trazer à tona a carga emocional.
Confeccionar, reproduzir e pintar formas mandálica é benéfico, pois
previne o estresse, preserva a saúde física e psíquica, é educativo, lúdico,
induz a paz interior, amplia a consciência, aumenta a criatividade, a capacidade
de atenção e concentração. O sujeito é levado a desenvolver o foco mental
suave e prazerosamente.
Este elemento, na arteterapia é de grande utilidade porque esta
modalidade terapêutica por si só trata a pessoa como um ser holístico e, a
mandala nos remete a totalidade.
Hoje se observa uma tendência a humanização dos métodos de
tratamento com ralação as dificuldades apresentadas pela nossa espécie, e, a
arteterapia é oportuna neste contexto histórico por sua abordagem abrangente
– tratar o ser “biopsicossocial”, e não mais compartimentado.
Se a arte é uma atividade que o ser humano usa para expressar-se
emocionalmente e a terapia põe em prática os meios para o alívio das feridas
emocionais; podemos concluir que a arteterapia é a ação de transformar e
curar através do coração.
10
CAPITULO 1
Iniciamos o primeiro capítulo falando sobre a relação entre o homem e a
mandala, objeto circular, encontrado na natureza e na psique humana. Dando
continuidade ao mesmo, explicamos o significado da palavra mandala e suas
aplicações ao longo da história da humanidade. Por fim abordamos a
experiência que foi constatada com algumas cores e formas aplicadas nas
mandalas para o desenvolvimento da concentração, que é o objetivo desta
pesquisa.
1.1 – COMO OS HOMENS SE RELACIONARAM COM AS MANDALAS
“Quando observamos a cultura humana, verificamos que o fazer do
homem, ao longo dos séculos, sempre revelou uma necessidade de
expressão típica e comum presente em todas as sociedades”.
(Urrutigaray, 2008:35).
O homem desde seu alvorecer tem consciência ou, um sentido, de algo
superior, divino, intimamente vinculado e interagindo com sua vida. As
populações primitivas utilizaram o mito para compreender, expressar e
vivenciar os ritos, lendas, vida cotidiana, sua cultura e religião; enfim, para
situar-se no mundo.
Nossos ancestrais sabiam, intuitivamente, que a estrutura fundamental
do universo era uma mandala, ou seja, era circular.
Segundo Mircea Eliade (...) “As sociedades arcaicas e tradicionais
concebem o mundo que as cerca como um microcosmo” (...). (Eliade, 1991:34).
Sendo assim, a forma circular da mandala nos remete a memória ancestral de
como o universo e a vida no planeta se manifestaram e se organizaram; em
outras palavras, a forma mandálica representa a relação simbólica entre o ser
humano e a fonte de sua existência, ou seja, o macrocosmo.
11
A convivência com a espiritualidade era retratada através da arte.
Encontramos evidencias espalhadas pelos continentes, preservadas em
cavernas (Lascoux e Altamira) e templos (gregos e egípcios). Para os gregos
as artes eram consideradas curativas (os fundamentos da Arteterapia?) além
de ser o veículo de comunicação com as divindades, e, para os egípcios as
artes eram utilizadas em um nível mais espiritual.
Nos antigos rituais pagãos a celebração aos deuses era feita em um
círculo de pedras ao ar livre, principalmente, nas florestas. Com o advento da
agricultura, estes ritos evoluíram e as celebrações sujeitaram-se aos solstícios
e equinócios, mas sua característica circular não se modificou.
Os índios construíam seus acampamentos dispostos
em círculos. O chefe oglala sioux Alce Negro, se referiu ao círculo:
“Tudo que o Poder do mundo faz é feito em círculo. O céu é redondo
e ouvi dizer que a terra é redonda como uma bola, assim como todas
as estrelas. O vento quando se mostra no máximo de sua força, gira.
Os pássaros fazem seus ninhos em círculos, pois a religião deles é a
mesma que a nossa. O sol nasce e se põe também em círculo. A lua
faz o mesmo e ambos são redondos. Até as estações formam um
grande círculo em sua passagem e sempre voltam para onde
estavam. A vida de um homem é um círculo da infância até a
infância. E assim é em tudo onde se movimenta o Poder”.
Por isso ao trabalhar com as mandalas nos reconectamos com esta
força primordial, que induz a reestruturação e reorganização da vida psíquica
quando esta se encontra em desarmonia.
1.2 - MANDALAS
“O mundo todo é um círculo. Todas as imagens circulares refletem a psique”.
(Joseph Campbell)
12
A palavra mandala originou-se no sânscrito (antiga língua de origem
hindu), possui muitos significados semelhantes, como por exemplo –
circunferência, círculo de proteção, círculo de cura (paganismo, xamanismo),
self (psicologia), entretanto a definição mais simples é círculo e, se refere a
toda figura geométrica circular organizada ao redor de um centro ou ponto.
Após este ponto existe uma área circunscrita complementar de onde surgem
desenhos das mais variadas formas, desde figuras geométricas simples –
quadrados e triângulos, ou complexos – poliedros; até as mais originais
encontradas na natureza – espiral em conchas marinhas ou caracóis e criadas
pelo ser humano – filtro dos sonhos, para citar exemplos.
A forma mandálica é encontrada em todo processo de formação do ser
(célula, embrião) e do planeta – também uma célula. Podemos ir além, esta
forma extrapola a terra, a encontramos no sol, na lua, nebulosas e na galáxia.
Afinal, nosso sistema solar está localizado em uma linda mandala chamada Via
Láctea.
Fazemos a seguinte observação: nesta pesquisa usaremos os nomes:
mandala, forma mandálica, círculo ou circunferência para fazer referencia a
esta figura e a trataremos por substantivo feminino.
A mandala como elemento protetor remonta a época em que o homem,
já dominando o fogo, acendia a fogueira e o circulo projetado por sua luz
circunscrevia a área onde o grupo sentia-se seguro porque os predadores não
se aproximavam (interessante notar que nos dias de hoje ainda “contamos
histórias” sentados em círculo ao redor da fogueira).
No paganismo o circulo de proteção tem por objetivo manter fora do
mesmo àquilo que é hostil ao sagrado e fomentar a passagem de nível de
consciência para o estado alfa. O interior, seguro, sagrado – uma reprodução
do cosmo. O exterior - mundo profano.
No circulo de cura xamânico, o paciente é isolado dentro dele para que o
animal de poder possa ser invocado e, através do xamã, remover, sem a
interferência externa, aquilo que está causando a doença ou incomodo.
Também significa a reprodução do sagrado e do cosmo. Mircea Eliade,
diz que o microcosmo (mandala) é a reprodução do macrocosmo. (Eliade, M.
2001:50).
13
A mandala simbolizando o self representa a totalidade da psique.
Segundo a psicóloga junguiana Rose Gwain: “o self representa o principio
central de organização da personalidade e a totalidade (representada em forma
circular) da psique” (...). (Gwain, 1996:15). Para Jung a mandala favorece a
meditação e a concentração.
Observamos que a primeira função da mandala é dar proteção ao que
se encontra em seu centro e área circunscritos. A integridade de seu interior é
considerada sagrada, mágica, seja o circulo xamânico, a psique ou a
comunidade.
Para Mircea Eliade:
“É bem provável que as defesas dos lugares habitados e das
cidades tenham começado como defesas mágicas; isto porque
essas defesas – fossos, labirintos, muralhas, etc. – eram
dispostas para impedir muito mais a invasão dos maus
espíritos do que o ataque dos humanos”. (...). E ainda segundo
este autor, todo microcosmo tem um centro, ou seja, um lugar
sagrado por excelência.
(Eliade, M. 2002:35)
Todos os autores pesquisados dizem que as mandalas são pré-
existentes na psique humana.
Como demonstra Fincher; “O ato de desenhar mandalas é espontâneo,
não ensinado, e executado mais ou menos da mesma maneira por culturas
diferentes”. (Fincher, 1994:31).
Para Moacanin (...) “- encontramos nelas uma conformidade
fundamental de padrão, porque se originam no inconsciente coletivo, comum a
toda a humanidade”. E finaliza brilhantemente citando Jung: “um dos melhores
exemplos da atuação universal de um arquétipo”. (Moacanin, citando Jung,
1989:86/Jung, 1969:353).
A definição mais adequada para dar suporte ao fato de que a mandala é
pré-existente na psique humana a encontramos através do escritor Mattew Fox
em seu livro: A Iluminação de Hildegard Von Bingen.
14
(...) “Crescemos por meio de fecundação de um ovo (óvulo),
atravessamos uma passagem tubular envolvida numa série de
músculos circulares para, finalmente, chegarmos ao mundo através
de uma abertura circular”. Após o nascimento o ser humano, que
ocorre num planeta também cuja forma é circular, entramos em
contato com a primeira forma: o peito da mãe, também circular, num
corpo formado por átomos que se movimentam através de padrões
curvos”. A experiência descrita acima, codificada em nosso corpo,
nos predispõe a reagir ao círculo”(...)
Desta forma, as mandalas estão no DNA, são engramas, bússolas que
orientam a psique. Como o instinto de sobrevivência é inerente ao ser humano
e promove a mudança necessária na mente e no corpo quando ambos são
ameaçados, as mandalas são símbolos de sobrevivência da psique, que
surgem espontaneamente quando esta se encontra em desequilíbrio.
As mandalas são amplamente utilizadas de muitas maneiras e para
diversas finalidades, na arquitetura, decoração de ambientes, nas psicoterapias
e na religião.
Ela é abrangente, tem função integradora, dinamiza e facilita; estrutura e
transforma os estados emocionais.
Foi largamente usada em forma de rosáceas nas antigas catedrais
góticas (Chartres e Notredame). Por estarem posicionadas nos vitrais e no alto,
as rosáceas filtram a luz solar promovendo no ambiente uma iluminação difusa,
cuja finalidade é induzir no homem um sentimento de proteção espiritual e,
concomitantemente observar sua pequenez diante da divindade ou cosmo.
Os mais belos exemplos de mandalas chegaram até nós através das
civilizações orientais que desenvolveram grande habilidade em lidar com as
mesmas. Para eles a mandala é o elemento que faz a integração entre a
realidade e a esfera divina. Elas tiveram grande expressão no budismo
tibetano, como forma de oferenda, contemplação e meditação.
O desenho é ritualmente preenchido com areia durante dias, sendo
depois destruído pelo vento ou varrido, representando a impermanência da
15
vida e do tempo. A areia que se torna abençoada através do processo de
confecção da mandala é utilizada para abençoar o local onde será depositada -
terra, rio.
No budismo tibetano mandala se refere a um tipo de diagrama –
“thanca” (sânscrito – Yantra) simbólico de uma mansão sagrada, palácio de
uma divindade meditacional, e simbolizam as virtudes da iluminação.
A mandala – thanca, (figura 01, página 43) chama-se “kalachakra” (roda
do tempo), é também o nome de uma das principais divindades do budismo
tibetano, que de acordo com a tradição, os ensinamentos de Kalachakra foram
transmitidos pelo Buda Skakyamuni no século VI a.C.. Seu objetivo principal é
levar o devoto à iluminação, ou seja, ao estado de Buda.
A mandala Sri Yantra indiana – também tem o mesmo objetivo. (figura
02, página 43)
O símbolo taoísta “Taiji” popularmente conhecido como “Tao” ou - yin
yang, (figura 03, página 43) é a forma mandálica mais conhecida e, dentre os
vários significados, o mais simples nos diz que na escuridão do caos
encontramos o ponto de iluminação e vice-versa.
Concluímos então que as mandalas são símbolos dinâmicos das forças
psíquicas.
1.3 – AS CORES �A MA�DALA As cores possuem fortes propriedades expressivas e estão relacionadas aos estados emocionais.
(Urrutigaray, 2008)
16
Um fato que chama a atenção é a incidência de cores, principalmente,
amarela e laranja no centro da mandala e, os tons: azuis claros, cobalto, índigo
e profundo, verde claro, lilás e seus matizes na área circunscrita. Estas cores
facilitam o ingresso no estado de concentração.
As cores provocam efeitos sobre a psique e o físico do ser humano. Seu
efeito é terapêutico, promovem o bem estar, o equilíbrio e , algumas cores,
associadas as mandalas estimulam a concentração.
O amarelo e o laranja no centro da mandala
Amarelo
Cor primária, masculina, irradia luminosidade e está associado às
divindades solares Apolo (Grécia) e Rá (Egito); portanto, representa
simbolicamente a força masculina de grande poder gerador – o pai.
De influência ativadora, age sobre processos mentais aumentando a
capacidade de raciocínio e concentração nos estudos. No centro de uma
mandala pode indicar a capacidade de estabelecer metas e alcançá-las.
(...) “Sob o aspecto psicológico, o amarelo está ligado para a liberação
da carga de responsabilidade excessiva” (...). (Urrutigaray, 2008:128).
Ao se entregar à tarefa de pintar mandalas, cuja escolha da cor para o
centro seja amarela, observa-se à tentativa de racionalização do que está se
fazendo, porém a liberação de cargas excessivas faz com que o hemisfério
direito possa se manifestar conduzindo a pessoa pelo caminho do símbolo.
Para Suzanne Fincher “Às vezes o seu inconsciente usa a imagem do
ouro para lembrá-lo de que você traz gravado dentro de si o potencial da
totalidade: o arquétipo do Self”. (Fincher, 1994:75).
Laranja
Sendo a soma do vermelho, ativador, com o amarelo, acelerador,
reproduz, no centro da mandala a capacidade de recuperação, do refazer. (...)
17
“refazer aquilo que não está certo” (...) (Fioravante, 2003:14). Nesta proposta ,
recuperar conteúdos que promovam a concentração.
OBS: em pacientes que devem passar pelo processo de
desestruturação e reconstrução, recomenda-se a “modelagem” utilizando esta
cor.
As cores na área circunscrita da mandala
Azul
É uma cor primária, fria, feminina, equilibradora e, induz a serenidade e
a contemplação.
O azul também é uma cor bloqueadora, suas vibrações criam “um
campo de proteção”; por isso, para proteger o centro da mandala – o seu
centro, a pessoa opta pelo azul entre o centro e a borda interna do círculo.
Para Lüscher a contemplação do azul... “tem um efeito apaziguador
sobre o sistema nervoso central. A pressão sanguínea, a pulsação e o ritmo da
respiração se reduzem enquanto os mecanismos autoprotetores entram em
ação” (...) (Citado em Fincher, S. 1994:75/Lücher, 1969:54-55).
O azul claro apresenta um aspecto de transparência e limpidez,
aspectos relacionados com a água, com a mãe arquetípica. Enquanto o azul
índigo e escuro remete a processos de interiorização. Para Fincher o azul
índigo pode estar relacionado com o despertar da intuição, sabedoria e
pressagia um renascimento psicológico. (Fincher, 1994:71) Ao utilizar estas
tonalidades do azul o indivíduo busca a transparência, e a limpidez na relação
com o arteterapeuta, enquanto este o conduz pelo caminho do azul profundo
ao estado de concentração.
(...) “No aspecto psicológico, o azul é bom nos casos de
excitação excessiva. É a cor que favorece as atividades
intelectuais, a meditação e a imaginação”.
(Urrutigaray, 2008:128).
18
Verde
Para o cromoterapeuta René Nunes:
“A força da cor verde, poderá ser avaliada pela sua própria
posição na faixa do espectro solar – a central. A partir daí, podemos
vê-lo como a cor principal de toda natureza e importantíssima em
relação à espiritualidade. É a cor do equilíbrio entre a natureza física e
o espírito imortal”.
(Nunes, 2003:56)
É a mistura do azul (mãe) e do amarelo (pai), sendo a primeira
inspiradora e a segunda ativadora, então o verde equilibra o estado de saúde
físico e mental.
Segundo Celina Fioravante (...) “Quando uma mandala tem a cor verde,
suas vibrações são sempre curativas” (...). (Fioravante, 2003:14).
O verde na área circunscrita da mandala conduz o cliente a cura
profunda de estados dolorosos – físicos e psíquicos, que impedem a
tranqüilidade necessária para a realização de seu objetivo, ou seja, a união da
mãe e do pai “sugere a capacidade de tomar conta de si próprio e, ao mesmo
tempo, de oferecer apoio aos outros”. (Fincher, 1994:77).
Lilás
Esta cor é obtida através da mistura do vermelho com o azul, que são
completamente opostos. Para Celina Fioravante: (...) “É a união da matéria
física com o amor mais elevado” (...). (Fioravante, 2003:14), assim o lilás pode
ser considerado o elemento que surge quando forças opostas se fundem.
Observamos que esta cor pode ser masculina ou feminina, depende da
quantidade de vermelho utilizado na mistura (roxo é mais carregado de
vermelho – masculino).
É considerada a cor da “transmutação”, ou seja, a transformação, literal,
de algo em outra coisa.
Uma mandala colorida com lilás estimula a pessoa a despertar a intuição
e se aproximar de suas fontes espirituais. O indivíduo que busca esta cor para
19
pintar uma mandala no processo de desenvolvimento da concentração, na
realidade, está buscando também a reconexão com a parte divina de sua
natureza. Devemos observar bem se o sujeito da preferência ao uso do lilás no
centro da mandala, se isto ocorrer, significa que podemos estar diante de uma
pessoa com fortes dons sensitivos e devemos fazê-lo compreender que sua
busca está voltada para desenvolver a concentração e não para entrar em
estados meditativos profundos. Ao passo que aquele que se recusa a usá-lo
pode estar desenvolvendo um materialismo exacerbado. Cabe ao arteterapeuta
conduzir da melhor forma o diálogo de arteterapia.
O uso da cor na mandala destinada a desenvolver a concentração é de
grande auxílio ao promover os estados emocionais propícios para que se atinja
este objetivo.
Concluímos que o arteterapeuta deve estimular a utilização destas
cores, a não ser que o cliente se recuse, porque os tons quentes – amarelos e
laranja no centro da forma mandálica promovem a ação da vontade em atingir
o objetivo – concentração. E os tons frios facilitam o afastamento de
interferências externas e internas. Então, o foco permanece no centro – no
objetivo.
1.4 – FORMAS NAS MANDALAS
“A matemática é o alfabeto com
qual Deus escreveu o universo”.
Galileu Galilei.
As formas que se destacaram nesta pesquisa são as mais eficientes para
auxiliar a concentração.
Triângulo
Figura geométrica que ocupa o espaço interno limitado por três linhas
retas.
20
Na mandala, esta figura geralmente indica o direcionamento para o
equilíbrio.
Seguindo esta linha de pensamento podemos conduzir uma sessão de
arteterapia convidando o cliente a colorir ou pintar mandalas com o triangulo no
centro, cujo vértice esteja apontado para a parte superior, visando desta
maneira, reforçar a afirmação da vontade para desenvolver a concentração.
Para Kellog “um triangulo no centro da mandala conota aspiração” (...).
(Fincher, citando Kellog, 1994:177).
Não podemos deixar de relacionar o triangulo com o numero três.
Numero este que representa a soma de duas forças opostas ou não. Porém,
seu resultado sempre será algo transmutado, ou seja, algo completamente
distinto das duas forças que o originou, como por exemplo, a cor lilás. Não
pensamos nas duas cores que o formaram, apenas visualizamos a cor lilás.
Jung acrescenta que “o três sugere a predominância da ideação e da
vontade”. (Fincher, citando Jung, 1994:127/Jung, 1997:267).
Concluímos que a mandala com base numérica três formando o
triangulo dinamiza forças para o individuo atingir seu objetivo – a concentração.
Quadrado
Figura geométrica que ocupa o espaço interno limitado por quatro linhas
retas.
Utilizar esta figura na mandala significa capacidade de realização
daquilo que se pretende. O quadrado transmite idéias de firmeza e
estabilidade.
Para Fincher o quadrado é produto feito pelo homem porque dificilmente
e encontramos na natureza, por isso deve ser cuidadosamente traçado para
que tenha simetria. Segundo a autora (...) “no Ocidente o quadrado costuma
ser o símbolo do pensamento racional”. (...) “existência de comportamentos
que visam determinada meta” (...) (Fincher, 1994:169).
21
O quadrado é associado ao número quatro, que sugere por sua vez,
equilíbrio e completude. Inserido nesta figura está a fronteira e o limite.
Segundo Suzanne Fincher “ao construir mandalas com um padrão
quaternário nossa mão é guiada pela necessidade de experimentar equilíbrio,
harmonia e a ordem”. (...) “busca-se, intuitivamente, por meio de um símbolo
antigo, alcançar o entendimento de si mesmo, do universo e do lugar que o
individuo nele ocupa”. (Fincher, 1994:131).
Convidar o cliente a trabalhar este modelo de mandala é conduzi-lo por
um caminho seguro, já conhecido por ele.
Interessante notar que a maioria das pessoas que manipularam este tipo
de energia - mandala, quadrado e quatro, ao término do trabalho, expressaram
basicamente a mesma emoção. Sentiram-se fortalecidos no cumprimento de
seus objetivos, se sentiam quase “poderosos” (é exatamente esta palavra que
utilizam).
Acreditamos que isto ocorra porque nesta mandala incorpora-se um
símbolo quadrado em um redondo, ou um símbolo circular inserido em um
quadrado; a isto se chama – “quadrar o círculo”, isto é, trazer para a realidade
o arquétipo da totalidade.
Ao quadrar o círculo, a energia liberada é uma energia de “poder”, ou
seja, ver concretizado o pensamento abstrato. Também significa sentir-se
protegido, o self (ou sua divindade, integridade) está completamente protegido.
Os exemplos clássicos dessas formas são as thankas tibetanas e os
yantras indianos.
Esta experiência é emocionante!
CAPITULO 2
Neste capítulo abordamos o conceito de concentração. Contamos a
história de como a arte encontrou a arteterapia, cujo guia será a psicologia.
Conceituamos arteterapia e tratamos da questão de como as mandalas podem
ser instrumentos utilizados pela arteterapia para desenvolver a concentração.
22
2.1 – CONCENTRAÇÃO
“A meditação rompe a ilusão da individualidade”.
Johnny De’Carli.
Segundo o dicionário da língua portuguesa Aurélio (edição
especial), concentração significa 1. Ato ou efeito de concentrar (-se). 2. P.ext.
Estado de quem se concentra num assunto ou matéria. (dicionário Aurélio,
2008:156).
Então, concentração pode ser definida pela ação de focar-se, centrar-se,
pôr toda a energia mental em um determinado objetivo e, a partir disso, ser
capaz de fazer a cognição, isto é, compreender, interpretar, interagir e
sintetizar.
A concentração propicia ao individuo a capacidade de afastar da mente
aquilo que não faz parte do objetivo pretendido para o qual ele necessita todo o
foco de atenção para realizar. Para atingir este estado é preciso abstrair as
interferências externas que bombardeiam, além de excluir influências internas
sob a forma de pensamentos que obstruem a clareza mental, impedindo a
concentração.
Pensando em uma maneira de atenuar estas intromissões e
pesquisando elementos que pudessem auxiliar o desenvolvimento desta
capacidade chegamos as mandalas.
Ao pesquisar mais profundamente estes círculos vimos que várias áreas
do conhecimento já os utilizavam para diversas finalidades, inclusive melhorar
a qualidade da concentração. Foi nas civilizações orientais onde observamos
que a mandala se sobressaiu com esta finalidade. O objetivo principal da
feitura de mandalas é o desenvolvimento das aptidões da meditação e
contemplação, atitudes mentais que levam a concentração.
A partir desse enfoque voltamos a atenção para a prática de pintar ou
colorir mandalas já existentes em livros que abordavam o assunto. Baseados
23
nos mesmos experenciamos esta vivencia e concluímos que o ato de colorir
mandalas realmente melhora a capacidade de concentração mental. Além
disto, descobrimos também um universo de infinitas possibilidades ao acessar
conteúdos inconscientes – pessoal e coletivo.
No inconsciente pessoal a mandala tem o poder de centrar a mente,
focar em um alvo, quanto ao inconsciente coletivo, a mandala proporciona o
reconhecimento de um elemento já existente na psique; sendo assim, nos
entregamos à tarefa de confeccioná-las com prazer porque nos sentimos
protegidos.
Concluímos que o diálogo entre mandala e o ser humano usa um
alfabeto arquetípico. O desenho é simbólico e seu significado metafísico.
Enquanto nos admirávamos diante do impacto da beleza deste diálogo gentil,
descobrimos o quanto estávamos concentrados. Dessa forma – gentilmente –
as mandalas nos ensinam a arte da concentração.
2.2 - DA ARTE A ARTETERAPIA – UM PASSO
HISTÓRICO
“Ouso tudo que é próprio de um homem comum; quem ousar
fazer mais do que isso não o é”.
Lord Macbeth (Shakespeare).
Como foi observado no capítulo 1 (1.2.), o homem se comunicava
através da arte – pinturas rupestres. Desde as culturas arcaicas até as grandes
civilizações, ele vai utilizar a linguagem simbólica para expressar-se.
A escrita aparece por volta de 4.000 a.C., mas os símbolos não
desaparecem e a arte evoluiu. A arte atinge seu apogeu com as civilizações
egípcia, grega e romana; podemos admirar algumas de suas obras ainda nos
dias de hoje.
24
Entre os séculos V e XV, com a queda definitiva do império romano do
ocidente, formou-se na Europa o que conhecemos como Idade Média. Do
século V ao X (alta Idade Média), consolidou-se o poder da igreja e da cultura
teocêntrica. As artes desde período são basicamente sacras. Do século X ao
XV (baixa Idade Média), esta estrutura sofre mudanças que vão culminar em
um modelo social, econômico e político diferente.
Socialmente a antiga hierarquia estamental foi desintegrando-se, uma
nova classe social ganha força e poder – burguesia. No plano econômico, a
economia auto-suficiente foi substituída pela economia comercial e
politicamente o poder do senhor feudal decaiu porque o poder do monarca,
ajudado pela classe burguesa, se sobressaiu.
A transição do modo de produção feudal para o comercial (mais tarde
capitalista) ocorreu gradativamente e só atingiu a maturidade por volta do
século XVI.
Segundo Nicolau Sevcenko: “Os fatores que têm sido apontados pelos
historiadores como os principais responsáveis por esse refluxo econômico são:
a Peste Negra, a Guerra dos 100 anos e as revoltas populares.” (Sevcenko,
1988:07).
Sendo assim, um conjunto de fatores será responsável pela mudança,
crescimento demográfico, movimento das Cruzadas, renascimento urbano e
comercial. O intercâmbio entre culturas – ocidental e oriental volta a fluir e, a
conseqüência final é o Renascimento Cultural, cuja expressão máxima será o
“humanismo” (o homem como centro do universo – antropocentrismo) em
oposição ao “teocentrismo”, sistema vigente até então.
Os humanistas buscam a revitalização de estudos que haviam sido
abandonados no feudalismo. Citando Sevcenko: “iniciou-se um movimento,
cujo objetivo era atualizar, dinamizar e revitalizar os estudos tradicionais (...),
incluir a poesia, a filosofia, a história, a matemática e a eloqüência, disciplina
esta resultante da fusão entre a retórica e a filosofia.” (Sevcenko, 1988:13).
Dessa forma os humanistas iam de encontro aos ensinamentos da igreja, que
tratavam do mundo a nível espiritual e, não vão considerar estas idéias. A
25
metodologia da igreja não compactuava com as novas idéias burguesas, o
conflito se torna insustentável. Ainda seguindo o raciocínio de Nicolau
Sevcenko com relação aos humanistas, ele nos diz: “Eram todos cristãos e
apenas desejavam reinterpretar a mensagem do Evangelho à luz da
experiência e dos valores da Antiguidade. Valores estes que exaltavam o
indivíduo.” (...), (...) “Os humanistas voltavam-se para o aqui e agora, para o
mundo concreto dos seres humanos em luta entre si e com a natureza, a fim de
terem um controle maior sobre o próprio destino.” (Sevcenko, 1988:15).
A liberação dessas forças transformou também as artes que se
desapegou do caráter religioso e se inseriu cada vez mais no mundo cotidiano
e profano.
O Renascimento Cultural retirou da igreja o monopólio do saber e das
artes e, conduziu o homem a outro patamar de experiência e conhecimento.
A partir do século XVI a Europa viveu uma efervescência artística que
vai influenciar a produção das artes até os dias atuais.
Sandro Botticelli conciliou os elementos cristãos e pagãos; Leonard Da
Vince fez a fusão do clássico com o moderno, e, Michelangelo Buonarroti
(conhecido como o gigante do Renascimento) introduzirá uma visão inovadora
da arte lançando mão do greco-romano que influenciará todos os outros de sua
época e posteriores.
Os séculos seguintes - XVII, XVIII e XIX, foram marcados por revoluções
em todos os níveis. Político – Absolutismo e Colonização. Econômico –
fundamentação do regime de produção Capitalista x Socialista e Revolução
Industrial. Social – revoluções burguesas e revolução artística cultural.
A produção artística buscou mais realismo usando perspectiva e
manipulação da luz e sombra.
As mudanças mostravam contestações que variavam desde a reação
contra a perfeição e realismo do classicismo até o uso da distorção da luz,
utilizada pelos adeptos do “maneirismo” (barroco e rococó) numa tentativa de
enfatizar o conteúdo emocional do artista, cuja obra será um reflexo da “ferida
social”.
26
Depois de quase mil anos vivendo a estrutura medieval, o ser humano
se lançou, ansiosamente, á vida; o questionamento, inerente a este ser, pode
libertar-se das amarras e se fazer presente em todos os setores.
São lançadas as bases que fundamentarão as ciências, e a partir delas
serão feitas as leituras físicas e psíquicas da espécie humana e sua produção
cultural.
A contestação será o pano de fundo do cenário mundial, e não só a arte
expressará o impulso para a mudança, neste contexto histórico esta nascendo
a “Psicologia” – cuja proposta estará voltada para o estudo do comportamento
psíquico do homem. Apesar de encontrarmos essa preocupação na
Antiguidade com os filósofos gregos, é no final do século XIX que se
fundamentam as bases desta ciência.
O precursor da psicologia como disciplina científica foi o alemão Wilhelm
Wundt. Após este, surgiram outros desenvolvendo métodos de investigação da
psique, porém dentro do modelo cartesiano de pesquisa. Quem modificará esta
visão será Sigmund Freud desenvolvendo o que ficou conhecido como
“Psicanálise”.
Esta nova abordagem dá ênfase ao inconsciente e sinaliza para o fato
da atenção que se deve dar a ele. Para Freud: “o inconsciente se manifesta por
meio de imagens, sendo uma comunicação simbólica com função catártica”.
(Andrade, L. 2000:50).
No final do século, Carl Gustav Jung, fundamenta o que se chamou de
“Psicologia Analítica”. Ele enfatizou que o inconsciente deveria ser estudado
mais detalhadamente, para o melhor entendimento da psique humana e
conhecimento do indivíduo. Foi Jung quem vinculou a arte, como terapia de
suporte, ao processo terapêutico. Para ele (...) “a criatividade é uma função
psíquica (...) natural da mente humana e tem função estruturante do
pensamento”. (Andrade, L. 2000:51-52).
Jung foi um estudioso de mitos, religiões ocidentais e orientais, sendo que,
nesta última teve contato com as mandalas, cuja forma – circular – já fazia
parte de sua observação, da freqüência, nos desenhos de seus pacientes.
27
Estudou profundamente este símbolo e o aplicou em tratamento terapêutico
para estimular o processo de individuação.
O desenvolvimento da arteterapia, como prática terapêutica, ocorre
através da Terapia Ocupacional (TO), quando os antigos tratamentos vão
sendo abandonados em função dessa nova abordagem freudiana-junguiana.
A TO será a alavanca para reintegrar o paciente ao convívio social.
Neste momento também estão sendo questionados as diretrizes de tratamento
e o saber psiquiátrico. O precursor do início desta discussão será o Dr. Pinel.
Segundo a mestra Urrutigaray:
(...) “Hermann Simon vê na Terapia Ocupacional um modelo ideal aos procedimentos de juízos lógicos, imprescindíveis á manutenção da vida psíquica. A ativação de núcleos da personalidade, ainda intactos aos efeitos dos sintomas psicógenos, daria à ação terapêutica um sentido educativo e social pela instrumentação da TO.”
(Urrutigaray, MC, 2008:21).
Com a rápida evolução desta visão, novas modalidades de terapias,
prognósticos e classificações do que deveria ser tratado pela clínica alopática
conduzirão a uma ação terapêutica menos invasiva; e, as artes, como terapias
expressivas, ganharam espaço e, hoje, facilitam cada vez mais o tratamento
ambulatorial, sem a necessidade de enclausuramento do paciente.
Entre as décadas de vinte e trinta a arteterapia começa a ser
sistematizada.
Em 1941, Margareth Naumburg e sua irmã Florence Cane são
consideradas as precursoras da arteterapia. Em 1914, Margareth fundou a
“Walden School”, colégio onde colocou em prática a arteterapia voltada para o
desenvolvimento espontâneo da expressão criativa.
Em 1950, Edith Kramer começa a trabalhar com crianças que sofrem de
perturbações emocionais. Sua forma de trabalho unia expressão verbal e
visual, e, segundo esta senhora a comunicação foi criativa, atingindo seu
objetivo.
28
2.2.1 – A Arteterapia no Brasil
A arteterapia no Brasil começa a se desenvolver em 1923 com o Dr.
Osório César (na época estudante interno do Hospital do Juquerí), ele
desenvolve o estudo da “arte” dos pacientes ou, como eram chamados,
“alienados”. Liomar Q. Andrade nos relata que seu trabalho mais importante
publicada em 1929 chamava-se “A expressão Artística dos Alienados”.
(Andrade, L. 2000:58).
Segundo este mesmo autor, na década de vinte, Osório César já
mantinha correspondência com Freud, (...) “podemos considerá-lo o precursor
no Brasil da análise da expressão psicopatológica de doentes mentais internos
em instituições psiquiátricas”. (Andrade, L. 2000:58). (...) “Osório César usava
como critério para o trabalho com arte para os psicóticos do Juquerí a
espontaneidade”.
Outra pessoa cujo trabalho não podemos deixar de mencionar pelo fato
de ter sido inovador é o trabalho da DRT Nise da Silveira, que em 1946 criou a
Seção de Terapêutica Ocupacional no centro Psiquiátrico D. Pedro II –
Engenho de Dentro RJ
Em 1952, ela funda o Museu de Imagens do Inconsciente, também no
Centro Psiquiátrico D. Pedro II.
(...) “A pintura dos pacientes internados originada no ateliê do Centro
Psiquiátrico tem um valor próprio, tanto para a pesquisa do mundo interno do
ser humano, “doente ou sadio”, como para tratamento”. (Andrade, L. 2000:59).
A Drª Nise da Silveira comunga com Jung sobre a simbologia retratada
na arte de seus pacientes, os mesmos vão produzir imagens geometricamente
ordenadas e circulares, ou seja, mandalas.
No Rio de Janeiro, na década de oitenta, a mestra Ângela Phillipini, que
havia estudado com uma das formandas do grupo do Dr.Luiz Duprat –
licenciado em arteterapia nos EUA-, participa da criação da Clínica Pomar, que
promove cursos de formação em arteterapia.
29
Muitos outros arteterapeutas estão neste contexto, desenvolvendo
trabalhos relevantes, porém, para não estender este projeto, não são citados,
entretanto, merecem também todo o nosso respeito, como por exemplo a
Associação Brasileira de Medicina Antroposófica (SBMA), sua prática é
denominada de “Terapia Artística” e, seu desenvolvimento também se deu na
década entre vinte e trinta.
Ao longo do processo histórico humano a produção artística esteve
ligada a comunicação não verbal, inventiva de situar-se no mundo ao mesmo
tempo em que interagia com este. A arte é um veículo de projeção utilizado
pelo homem, que mostra como este produziu a cultura e foi produzido por ela.
A arte como terapia vem endossar esta forma de comunicação simbólica,
porém profícua, onde cada indivíduo, independente das condições
psicológicas, pode e deve estar inserido no social porque esta estrutura busca
o equilíbrio biopsicossocial.
2.3 – ARTETERAPIA “Comprometa-se com a qualidade”.
(autor desconhecido).
A arteterapia é um processo terapêutico que utiliza a arte, de forma
singular, para solucionar dificuldades, por exemplo, psicomotoras, cognitivas,
desequilíbrios emocionais, entre outras. É um processo singular porque para o
arteterapeuta não existe a preocupação com a estética da obra criada, nem se
prende a regras acadêmicas das Belas Artes. O mais importante é a
criatividade do cliente. A função da arteterapia é conduzir a pessoa a uma qualidade de vida
satisfatória; seu principal objetivo é criar condições favoráveis, através de
materiais plásticos, que possibilitem a expressão de conteúdos inconscientes,
facilitando a conscientização e elaboração dos mesmos.
30
A arteterapia cria o diálogo entre consciente – inconsciente e, estimula a
reflexão do mesmo, assim a pessoa se confronta com limites e conflitos e,
consegue compreende-los. Isto amplia a consciência, gera organização,
fortalece a auto-estima e conseqüentemente produz a mudança da atitude
negativa em positiva.
O termo em questão oferece recursos de desenho, pintura, colagem,
modelagem, escultura, entre outros que podem ser utilizados para a expressão
da criatividade. Existem muitos materiais que são recursos; cada qual
classificado de acordo com a utilidade terapêutica. A escolha do material
correto é de vital importância porque será o convite para o inconsciente
expressar-se.
Consideramos o material mais importante o papel, objeto através do qual
o cliente começará a esboçar a expressão. Este recurso é o mais antigo
existente na história do homem - utilizado como material de “registro”. O
encontramos no Egito – papiro – extraído da planta homônima.
Urrutigaray aponta a importância deste material no processo terapêutico.
“Observa-se que, para qualquer tipo de papel, o seu fabrico sempre
se liga à origem de uma extração, ora de vegetais (pasta de
celulose, pedaços de bambu, etc) ora de peles de animais, mas, em
todos, há a prensa, pressão – resistência para determinar a
gramatura, o tipo e a utilidade. Esta idéia de ser um produto tirado de
dentro, ou um extrato, que forma uma tela plana diante de um estado
de pressão..., assemelha-se aos processos psíquicos inconscientes
que se dirigem a uma meta e que se condensam segundo a pressão
colocada pela prensa da consciência”.
(Urrutigaray, 2007:134).
Unindo o primeiro material – papel – com outros considerados “secos” e
os “molhados” o arteterapeuta dispõe de farto material para alcançar objetivos.
Os materiais secos são utilizados para criar restrições e limites. Estes
recursos – lápis de cor, grafite, de cera, hidrocor, pastéis; oferecem ao
31
indivíduo a segurança de que sua produção estará restrita àquilo que ele
projetou sobre a base escolhida.
Em se tratando, especificamente, de desenhar, pintar ou colorir
mandalas, o cliente terá de antemão a área onde será utilizado o material, ou
seja, a restrição (a figura circular) estará presente, sem ser imposta;
proporcionando conforto e tranqüilidade em relação ao processo de
concentração.
Segundo a Mestra Maria Cristina Urrutigaray:
(...) “esta espécie de elemento pode ser facilmente controlável, já
que se coloca a disposição do manuseio de quem o utiliza,
entregando-se a este, demovendo a possibilidade de ansiedade
frente à tarefa a ser executada, ou coloca em posições não
ameaçadoras á integridade pessoal” (...).
(Urrutigaray, 2008:53)
Os materiais considerados molhados – tintas – são utilizados quando
ocorre a necessidade de liberar conteúdos. Se o indivíduo que busca pelo
desenvolvimento da concentração sinalizar para esta necessidade, o
arteterapeuta deve incentivá-lo a criar sua própria mandala, tendo como limite
somente o círculo externo da mesma. Assim, a pessoa pode externar, na área
interna da mesma, o seu desconforto.
Através da avaliação preliminar (anamnese) o arteterapeuta está
habilitado a escolher o material mais adequado para dar início a terapia. Ele
conduzirá o cliente pelo caminho do autoconhecimento, modificando, de acordo
com o ritmo da pessoa, os materiais e, sempre o incentivando a descobrir o
significado de sua produção.
No processo de fazer a leitura do que produziu, ou seja, ter consciência
do conteúdo que estava oculto, a pessoa dá o primeiro passo em direção a
atenção e este atributo o conduzirá a concentração.
O ato de observar o que se produziu é muito utilizado também na área
educacional.
32
Para Urrutigaray a arteterapia como instrumento educativo é: (...) “um
excelente canal de intervenção para a minimização de problemas de
aprendizado, ou de tratamento de dificuldades em aprender, como também
atua de modo preventivo às possíveis questões de aquisição de conhecimento”
(...). (Urrutigaray, 2008:40).
A arteterapia é uma modalidade terapêutica abrangente que trata o
homem holisticamente, procurando despertar suas potencialidades para que o
mesmo se torne responsável pela sua transformação enquanto ser e melhorar
todos os aspectos de sua vida.
2.4 - MANDALAS NA ARTETERAPIA PARA
DESENVOLVER A CONCENTRAÇÃO
“Mandala, uma porta para a
consciência...”.
Jung.
Utilizar mandalas no processo terapêutico é gratificante para o paciente
e arteterapeuta porque cria a empatia necessária por intermédio da ativação de
sua energia. Ela faz a conexão entre os inconscientes das pessoas envolvidas
e o trabalho flui em um clima de cordialidade.
O processo de escolha das mandalas, formas e cores a serem aplicadas
devem obedecer a critérios dados pelo arteterapeuta após a anamnese.
Devido a sua forma circular o sujeito se sente confortável e seguro em
sua “área” para expressar conteúdos. Colorir mandalas leva o indivíduo ao
equilíbrio e harmonia enquanto se expressa criativamente. Favorece a reflexão,
introspecção, atenção e concentração; a mente se distancia dos problemas
cotidianos. Implica a abertura de consciência fazendo com que a pessoa
observe seus incômodos de forma natural, quase intuitivamente, e, se sinta
confortável caso queira verbalizá-los. A pessoa percebe que está caminhando
ao encontro de si mesma, e a integridade psíquica estará preservada pelo
aspecto circular arquetípica. A união entre mandala e arteterapia é uma
33
solução simples e objetiva para os indivíduos que precisam concluir tarefas que
requeiram a atenção concentrada, além de trazer muitos benefícios à saúde
física e psíquica.
Com relação a sua função terapêutica Celina Fioravanti comenta:
(...) “A maior parte das pessoas a quem eu sugeria colorir
mandalas, gostavam dessa atividade, aceitava bem, ao
contrário de outras sugestões que eu tinha. (...), era algo que
faziam com prazer e que mantinham como rotina terapêutica
por tempo suficiente para se curarem.”
(Fioravanti, 2003:19).
Para trabalhar a atenção e concentração, a pessoa deve utilizar a forma
mais agradável ou terapêutica para colorir ou pintar as mandalas, depende do
estado físico e psicológico em se encontra este indivíduo. O tempo de
tratamento deverá ser observado pelo arteterapeuta, sendo que a pessoa
estará preparada para cumprir seus afazeres com tranqüilidade, sabendo que
atingiu a concentração quando, ao realizar o trabalho, se abstrair das
influências externas e internas e se sentir, literalmente, focado no que está
fazendo.
Observamos que após um tempo de terapia com mandalas, a pessoa
gosta tanto que mesmo já atingido o objetivo, continua a trabalhar com elas.
CAPITULO 3
Neste capítulo falamos das técnicas de construção de mandalas. Como
confeccionar mandalas pessoais, colorir ou pintar as já existentes em livros que
abordam o assunto, confeccionar mandalas de cartolina preta com papel
celofane (vitrais). E, por fim, ensinaremos a técnica de pintar mandalas feitas
no vidro e adorná-la com cola e verniz vitral.
3.1 – TÉC�ICAS DE CO�STRUÇÃO DE MA�DALAS
34
Construir mandalas ativa energias, desperta sentimentos e sensações
que transcendem o entendimento racional. Promove o autoconhecimento,
desenvolve a espiritualidade e o equilíbrio. Cria o hábito da atenção e
concentração.
Para quem tem dificuldades em lidar com conteúdos dolorosos, a
mandala auxilia no seu desbloqueio.
A mestra Ângela Phillipini diz que a mandala é um símbolo de integração
e orientação da psique.
A primeira técnica que utilizaremos para ilustrar este trabalho é a de
reprodução de mandalas existentes em livros que abordam o assunto.
Seu objetivo é criar intimidade entre o cliente e o símbolo; enquanto o
símbolo ativa forças dinamizadoras, o objetivo proposto é atingido.
Está implícito, nesta modalidade, o convite ao acesso a conteúdos
inconscientes.
Embora, sendo um arquétipo, o arteterapeuta deve dar ao cliente
alguma informação sobre as mandalas e como este símbolo pode auxiliá-lo a
atingir a concentração.
3.1.1 – mandalas existentes em livros especializados
Obs: o arteterapeuta deve ter um acervo de Xerox de mandalas.
Primeiro passo – o arteterapeuta oferece ao cliente as mandalas cujas
formas sejam as mais simples e deve deixar que ele as escolha. Assim, cria-se
a empatia entre o sujeito e o símbolo.
Segundo passo – deve ser oferecido o material para colorir os círculos –
lápis, giz de cera e hidrocor. Outra boa opção é canetas coloridas com gliter.
Neste passo o arteterapeuta não deve influenciar na escolha das cores.
Dessa forma ele pode observar melhor o quadro emocional do indivíduo.
Terceiro passo – depois de terminada a tarefa o arteterapeuta deve
estimular a pessoa a comentar sobre sua obra.
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As mandalas, que se encontram em anexo - figuras - 4, 5, 6 e 7,
utilizadas nesta técnica foram retiradas do livro “Mandalas” de autoria de
Rudiger Dahlke, pgs. 79, 259, 287 e 343 (18ª edição).
Na figura 4 (anexo, página 47) foram utilizados lápis de cor e caneta com
gliter dourado. O centro desta mandala é amarelo e a área circunscrita está
colorida com matizes de azul, verde e, notamos a presença do rosa. Ao redor
do círculo, no lado externo está o que parece ser um sol estilizado.
Apesar do centro desta mandala ser luminoso, observamos que sua
forma, na área circunscrita, é pontiaguda, sugerindo um estado de
agressividade interno, enquanto que a forma do que chamamos de sol
estilizado, embora possua também pontas, as mesmas parecem estar
dobrando-se. Isto sugere um estado externo menos agressivo.
Na figura 5 (anexo, página 47), a pessoa preferiu cortar os círculos
externos da figura original. Observamos uma mudança significativa com
relação à forma; apresentando padrões curvos, entretanto as referidas pontas
citadas acima, apareceram voltadas para o centro cujo interior está azul,
mostrando que o conteúdo da agressividade continua voltado para dentro.
Na figura 6 (anexo, página 47I) todas as formas são curvas, embora as
cores escolhidas, exceto a amarela, são criadas a partir do vermelho e
observamos também que todas as retas e curvas de limites foram muito bem
delimitadas. A agressividade aqui está sob rígido controle.
Na figura 7 (anexo, página 47I), o centro volta a ser amarelo, porém
encontramos muitos limites até a borda externa da mandala, cujo limite exterior
é em forma de ponta e, mais uma vez a agressividade está presente voltando-
se para o centro, só que desta vez a terminação está em amarelo; podendo
significar acuidade de raciocínio.
Após a troca de informação com o indivíduo que as coloriu, concluímos
que é uma pessoa muito racional, cuja agressividade, na verdade, é o suporte
para seus objetivos.
Este primeiro contato habilita o arteterapeuta a introduzir as tintas,
quando julgue necessário, na seção de arteterapia.
3.1.2 – confecção de mandala pessoal
36
Nesta técnica o arteterapeuta tem uma avaliação mais apurada do
estado emocional de seu cliente.
Geralmente, após a anamnese, o arteterapeuta saberá qual tipo de
técnica deverá ser aplicada primeiro. No caso de começar com uma mandala
pessoal, significa que o cliente a necessita, primeiro, externar alguns conteúdos
para depois iniciar o trabalho com mandalas visando desenvolver a
concentração.
Material necessário a esta segunda técnica.
Papel ofício A4 ou canson (branco).
Compasso para fazer o círculo.
Lápis preto para traçar o contorno do círculo.
Lápis de cor, giz de cera, hidrocor ou tintas.
Destacamos que aqui, também, a preferência para colorir foi lápis
de cor, hidrocor e, a figura 10 – filtro dos sonhos (anexo, página 49), foi
confeccionada com os materiais pertinentes à construção deste objeto
A figura número 8 (anexo, página 48) mostra uma mandala com quatro
círculos menores em seu interior e um centro de cor amarela.
Os círculos menores desta figura mostram paisagens onde estão
presentes os elementos da natureza, sendo que o elemento água é o mais
destacado. Ele está em forma de rio, de mar e chuva. O círculo central, que
está destacado em amarelo representa o sol, cujo reflexo é óbvio nos círculos c
e d.
Observamos que a mandala está repleta de elementos femininos.
Na letra a, a presença de “boizinho” e “vaquinhas” (citados pela autora),
nos remetem ao equilíbrio entre masculino (touro) e o feminino (a lua que está
nos chifres destes animais). A autora disse que o nome desta mandala é “paz
de espírito”.
Na letra b encontramos um caminho, curvo, entre uma floresta, que ela
chamou de árvores da vida e do renascimento. Na letra c, um pescador está
preste a ter no anzol os peixes que estão no desenho d, isto é, os frutos serão
37
colhidos no devido tempo. Até a orla da praia do desenho d, tem a forma
ondulada; mais um símbolo do feminino.
Todos os elementos dos círculos estão iluminados pelo sol central, ou
seja, o ego - fator equilibrante da psique.
Fora dos desenhos a, b, c, e d, temos a chuva – fertilizadora, e as folhas
– símbolo da “leveza” que esta pessoa está buscando neste momento.
O motivo principal alegado pela autora desta mandala era a dificuldade
de concentração em relação ao seu trabalho, em uma área extremamente
técnica.
Após a confecção desta mandala e outras, que não colocamos aqui, ela
percorreu um caminho onde os elementos femininos se complementaram com
triângulos e quadrados, cujas cores se voltaram para o masculino.
A figura número 9 (anexo, página 48) mostra uma flor se abrindo; e uma
pétala se parece com uma borboleta. Ao redor desta figura central se encontra
a proteção, cuja cor utilizada no extremo do círculo interno é o azul escuro,
significando um estado de introspecção e, logo a seguir o azul mais claro,
cercado por curvas do mesmo azul do extremo já citado.
A autora desta forma mandálica referiu-se a flor como sendo sua
concentração, que precisava ser preservada porque estava estudando para o
vestibular.
E, finalmente, a figura de número10, cujo autor optou por trabalhar filtro
dos sonhos, um objeto, que ele já tinha prévio conhecimento. Segundo o
mesmo só necessitava um pouco mais de centramento para resolver alguns
problemas pessoais. Observamos que este indivíduo buscava, através desta
mandala, uma conexão com suas forças intuitivas na esperança de tomar a
atitude correta em relação ao momento que estava vivendo.
O marrom é bem evidente nesta mandala, indicando seu retraimento.
Ele vivenciava a conexão entre as forças instintivas e as racionais, buscando o
equilíbrio necessário para tomada de decisões.
Segundo Maida S. Catarina, com relação ao marrom: “indica a
importância dada “às raízes”, ao lar; à casa, é a segurança gregária e familiar”.
(Catarina, M. 2009:95). E, este aspecto estava sendo a prioridade do autor do
filtro dos sonhos.
38
3.1.3 – mandala confeccionada com cartolina preta e papel
celofane.
A terceira técnica apresentada é confeccionada com cartolina preta e
papel celofane de várias cores.
O objetivo é criar “vitrais” que ao serem colados no vidro transparente ou
em papel em branco deixem sobressair o colorido do papel celofane formando
assim, belíssimas figuras coloridas.
Quando confeccionadas em um papel grande podemos colar nos vidros
das janelas, emprestando ao ambiente o colorido da transparência do papel
celofane. O efeito é muito bonito.
Primeiro passo – cortar a cartolina preta em forma circular, depois se
dobra a mesma em quatro.
Segundo passo - na cartolina dobrada, desenhamos formas, que podem
ser círculos, triângulos, quadrados, folhas, gotas, que serão cortadas com
estilete ou tesoura. Quanto mais variarmos as formas mais bonito fica o
trabalho. Porém, o objetivo é deixar fluir a criatividade.
Terceiro passo – abrimos o papel contendo as formas já cortadas e o
viramos (chamaremos de avesso) e colamos nas formas vazadas, pedaços de
papel celofane.
Quarto passo – virar a rosácea pronta e colar a mesma em uma
superfície lisa, de preferência de vidro.
Esta mandala consta no anexo como figura de número 11 (página 50).
39
3.1.4 – mandala de vidro adornada com cola e verniz vitral.
Esta técnica não é aconselhável para pessoas alérgicas a vernizes
porque o cheiro do verniz vitral é impregnante.
Aconselhamos a trabalhar com este tipo de material em uma área ao ar
livre.
Material
Vidro cortado em forma circular. Neste contexto utilizamos uma circunferência
de 12 centímetros de diâmetro x 3 milímetros de espessura.
Cola branca. Também podemos usar cola colorida.
Potes de verniz vitral coloridos.
Ripas de madeira ou ripas de bambu
Papel camurça preto
Papel camurça branco ou em lugar do papel camurça, espelho da mesma
circunferência do vidro.
Papelão ou compensado fino encapado com papel branco. Neste trabalho
utilizamos papel ofício para encapar o papelão.
Primeiro passo – desenhar, de maneira que se obtenha espaços
internos, figuras no vidro com a cola. Esperar secar.
Segundo passo – cobrir os espaços internos das figuras que foram feitos
com a cola, utilizando-se o verniz vitral colorido. A secagem é rápida.
Obs: a cola será o limite entre o meio interno e o externo da figura.
Terceiro passo – colar papel branco na parte de trás da peça.
Entendemos por parte de trás, aquela em que foram usados a cola e o verniz.
Outra opção é colar o espelho.
Quarto passo – colar esta peça no papelão ou no compensado, que já
deve estar previamente encapado.
Quinto passo – colar nas extremidades superior e inferior as ripas ou
bambus.
Sexto passo (opcional) – colar papel camurça preto ao redor do vidro
para destacar a peça.
40
E, finalmente, caso queira colocar a peça na parede, fixar ganchos
pequenos na extremidade superior.
O principal objetivo deste trabalho com o vidro é desenvolver a
criatividade artística, apesar de se mostrar eficiente no tocante à concentração.
As outras técnicas citadas anteriormente se aplicam melhor porque são
trabalhadas nas oficinas ou consultórios dos arteterapeuta. E quando o cliente
sente a necessidade de verbalizar, ou melhor, fazer a leitura do que concluiu, é
aconselhável que ele esteja em um ambiente interno.
O trabalho com verniz vitral, como já foi esclarecido, deve ser feito em
ambiente externo por causa de sua toxidade em relação ao odor. Porém, se o
cliente sentir necessidade de falar sobre o que está ocorrendo com ele no
momento da confecção, o arteterapeuta deverá estar apto para ouvir, mesmo
em um ambiente externo, onde as influências são maiores.
A fotografia desta peça, número 12, está no anexo (página 51).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo desta monografia foi mostrar como as mandalas, associadas
a arteterapia, podem auxiliar pessoas que tenham problemas para concentrar-
se em suas tarefas diárias.
Partindo do princípio, de que estes elementos são pré-existentes na
psique humana, e, já eram utilizados pela arteterapia; o passo seguinte foi
vivenciar e os aplicar para observar a validade enquanto objeto de auxilio da
concentração.
Além de se mostrarem eficientes em uma infinidade de práticas, desde
materiais, até as metafísicas, as mandalas provaram ser excelentes
instrumentos para se atingir a concentração.
Além da percepção que tivemos sobre as mandalas, dadas pelos livros,
elas nos mostraram também algo curioso em relação à sociedade e seu
modelo patriarcal.
41
O modelo sócio econômico patriarcal, instaurado no Neolítico, onde
Zeus engole Métis, Amon Rá resplandece no horizonte, endoçado pelo
cristianismo, recrudescido e radicalizado na inquisição, baseado na ciência
cartesiana e no capitalismo, teve como conseqüência à insatisfação, o mal
estar, a inadequação, as guerras, dor, lágrimas tristeza e frustração. Já não
corresponde as perspectivas e anseios. Perdeu a posição de patrocinador e
mantenedor da ordem e do poder.
As instituições, reflexos deste modelo, se tornaram retrógradas, não
existem mais respostas.
Forças emergentes se movem, buscam formas alternativas e holísticas
para que se tenha mais qualidade de vida.
Saímos de padrões newtonianos, cujas ciências eram as responsáveis
pelo bem estar físico e mental da sociedade.
Hoje, Zeus é um apêndice de Athenas, lua cheia brilha no céu e forças
numinosas se manifestam através de Afrodite.
A participação e contribuição das artes para mostrar que a sociedade e
seu principal núcleo – a família -, se modificam rapidamente, estão pintadas
nos “muros”.
A arte, cuja base fundamental é o emocional, e, como o homem, não
pode ficar presa a padrões acadêmicos das escolas especializadas ou a
consultórios terapêuticos. Isto seria conter o imaginário a dogmas e
paradigmas e, podem fazer o que for com a estrutura física e psicológica do ser
humano – alterar, mutilar, até deformar, porém, um dia, do âmago do ser,
brotam as projeções, sombras, personas e, o mais aterrador – o “triunfante” -
inconsciente coletivo, desafiando todas as camadas de vernizes culturais,
mostrando sua verdadeira face, cujos principais batedores são – “os instintos” –
de sobrevivência, preservação da espécie, competição e proteção. Mostrando-
nos que é hora, novamente, de observarmos as pinturas rupestres de nossas
almas. Lá estará do alto de sua soberania, nos olhando com complacência, o
círculo urobórico, onde sobrevivemos, nos preservamos, competimos e nos
protegemos.
42
O todo é um grande círculo, que pode ser muito, muito frágil e ao mesmo
tempo, veementemente forte.
Esperamos com este trabalho, ter contribuído e acrescentado
parâmetros para serem experimentados, avaliados e utilizados.
43
ANEXO DE FIGURAS
FIGURAS: Figura 1 – Kalachakra Extraída do site: http://www.oficinacriativa.com.br/pdfs/mandalas Acessado em 09.09.08. Figura 2 – Sri Yantra Extraída do livro – Mandalas (FIORAVANTI, Celina, 2003, p.111). Figura 3 – Tao Extraída do livro – Mandalas (RÜDIGER, Dahlke, 2007, p. 60)
Figura 01 Figura 02
Figura 03
44
Figuras 4, 5, 6 e 7.
Extraídas do livro DAHLKE, Rüdiger, Mandalas formas que representam a harmonia do cosmos e a energia divina, 18ª edição, Pensamento, SP., 2007.
Figura 04 (p.79) Figura 05 (p.259)
Figura 06 (p. 287) Figura 07 (p.343)
45
Figuras 8 e 9.
Figura 08
Figura 09
46
Figura 10.
47
Figura 11
48
Figura 12
49
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Liomar Q., “Terapias Expressivas”, Vetor, SP., 2000.
CAMPBELL, Joseph., “O Poder do Mito”, 1ª edição, 5ª reimpressão, Palas Atenas, SP,
1993.
CATARINA, Maida S., “Mandala, o uso na Arteterapia”, Wak, RJ, 2009.
DAHLKE, Rüdiger., “Mandalas – formas que representam a harmonia do cosmos e a
energia divina”, 18ª edição, Pensamento, SP, 2007.
ELIADE, Mircea., “O Sagrado e o Profano”, 1ª edição, 5ª tiragem, Martins Fontes, SP,
2001.
__________, “Imagens e Símbolos”, 1ª edição, 3ª tiragem, Martins Fontes, SP, 2002.
FINCHER, Suzanne. “O autoconhecimento através das mandalas”, 10ª edição,
Pensamento, SP, 1994.
FERREIRA, Aurélio B. de Holanda, “Dicionário da Língua Portuguesa”, 2ª edição,
Positivo, PR, 2008.
FIORAVANTI, Celina., “Mandalas, como usar a energia dos desenhos sagrados”, 11ª
edição, Pensamento-Cultrix, SP, 2003.
GWAIN, Rose., “descobrindo o seu eu interior através do Tarô”, 9ª edição, Cultrix, SP,
1996.
JUNG, Carl. G., “Os arquétipos e o inconsciente coletivo” – v.IX/1, 2ª edição, Vozes,
RJ, 2002.
___________., “O homem e seus símbolos”, 12ª edição, Nova Fronteira, RJ, 1993.
___________., e WILHELM, R., “O segredo da flor de ouro”, 2ª edição, Vozes, RJ,
1984.
MOACANIN, Radmila., “A psicologia de Jung e o budismo tibetano”, 10ª edição,
Cultrix/Pensamento, SP, 1989.
50
NUNES, René., “Cromoterapia Aplicada”, 9ª edição, L.G. E., Brasília, 2003.
SEVCENKO, Nicolau, “O Renascimento”,coleção discutindo a história, 9ª edição,
Atual/Unicamp, SP, 1988.
TUCCI, Giuseppe., “Teoria e prática das mandalas”, 9ª edição, Pensamento, SP, 1984
URRUTIGARAY, Mª Cristina., “interpretando Imagens transformando Emoções”,
Wak, RJ., 2007.
__________________________., “A transformação pessoal pelas imagens”, 4 edição,
Wak, RJ., 2007.
REFERENCIAS DVD VÍDEO
Instinto – “o lado selvagem do comportamento”, DVD 1 e 2 , BBC, Super
Interessante, Abril, AM, 2005.
REFERENCIAS DE SITES
http://www.oficinacriativa.com.br/pdfs/mandalas (acessado em 09.09.08)
http://www.medicinaantroposofica.com.br (acessado em 03.04.09)
www.geocites.com/thevisionfalcon/falamosnativos.htm (acessado em 25.03.08)
51
INDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO 1
OS HOMENS E AS MANDALAS
1.1 – Como os homens se relacionaram com as mandalas 10
1.2 – Mandalas 11
1.3 – As Cores nas Mandalas 15
1.4 – Formas nas Mandalas 19
CAPÍTULO 2
A UTILIZAÇÃO DE MANDALAS NA ARTETERAPIA PARA DESENVOLVER A
CONCENTRAÇÃO
2.1 – Concentração 22
2.2 – Da Arte a Arteterapia – Um passo histórico 23
2.2.1 – A Arteterapia no Brasil 28
2.3 – Arteterapia 29
2.4 – Mandalas na Arteterapia para desenvolver a Concentração 32
CAPÍTULO 3
TÉCNICA DE CONSTRUÇÃO DE MANDALAS
3.1 – Técnicas de Construção de Mandalas 34
52
3.1.1 – Mandalas existentes em livros especializados 34
3.1.2 – Confecção de Mandala pessoal 36
3.1.3 – Mandala confeccionada com cartolina preta e papel celofane 38
3.1.4 – Mandala de vidro adornada com cola e verniz vitral 39
CONCLUSÃO 40
ANEXOS DE FIGURAS 43
FIGURAS 1, 2 e 3 43
FIGURAS 4, 5, 6, e 7 44
FIGURAS 8 e 9 45
FIGURA 10 46
FIGURA 11 47
FIGURA 12 48
BIBLIOGRAFIA 49
ÍNDICE 51