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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO “A VEZ DO MESTRE”
ORGANIZAÇÕES E CONECTIVIDADE
MARIA ANTONIA LINHARES ROSA
ORIENTADOR:
PROF. NELSOM JOSÉ VEIGA DE MAGALHÃES
RIO DE JANEIROJULHO/2006
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO “A VEZ DO MESTRE”
Apresentação de monografia ao Conjunto Universitário Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Gestão de Recursos Humanos.
RIO DE JANEIROJULHO/2006
ORGANIZAÇÕES E CONECTIVIDADE
MARIA ANTONIA LINHARES ROSA
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AGRADECIMENTOS
Ao professor Nelsom por me incentivar e compreender minhas dores.Aos meus colegas de turma Angélica, Carlos, Carla, Manuela e Tainá.Agradeço também a professora Libera.
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DEDICATÓRIA
À memória de meus avós Mary e Aurélio, aos meus pais Sylvia e Antônio, à minha madrinha Wanda e às minhas afilhadas Maria Clara, Cecília e Safira, amores do presente, passado, futuro, juntos em conectividade no eterno agora do meu coração.
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RESUMO
O presente trabalho aborda o conceito de conectividade, sua
vinculação com a valorização do ser humano dentro das organizações, a
adoção de novos paradigmas baseados no resgate dos valores éticos e
espirituais, num enfoque sistêmico e holístico. Enfatizamos a relevância do
diálogo, das inter-relações, do trabalho em equipe e do gerenciamento
humanístico. È imprescindível que conheçamos um pouco os conceitos da
visão holística e das organizações holísticas e metanóicas; da teoria sistêmica
que causou a quebra de antigos paradigmas cartesianos, revolucionando
praticamente todas as ciências; das teorias fenomenológica e dialógica que
respectivamente apontam para o despojamento de preconceitos como
condição para a compreensão dos fenômenos e para a busca constante do
dialogo no respeito à alteridade .O conceito de conectividade deriva-se destas
bases teóricas , transitando pelas organizações, pelo serviço social e pela
gestão de pessoas.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 07
CAPÍTULO I
Conectividade 09
CAPÍTULO II
Serviço social em conectividade 33
CAPÍTULO III
Gestão de pessoas em conectividade 37
CAPÍTULO IV
Organizações em conectividade 45
CONCLUSÃO 67
BIBLIOGRAFIA 69
ÍNDICE 71
ANEXOS 00
FOLHA DE AVALIAÇÃO 00
7
INTRODUÇÃO
Não se pode dissociar pessoas de sociedade, bem como
empresa/pessoa/sociedade. É fundamental contextualizar e estabelecer uma
relação de interação, de conectividade. Esta dinâmica se efetua através do
diálogo constante, do exercício democrático da flexibilidade, do inter-
relacionamento entre as pessoas componentes da organização. Pretendemos
transmitir o conceito de conectividade e sua praticidade no mundo
organizacional, assim como na sociedade.
Temos aqui o seguinte questionamento, como o conceito de
conectividade vinculado à valorização do ser humano e aos novos paradigmas
pode se manifestar nas organizações gerando um diferencial de mercado?
O inter-relacionamento deve ser encarado com prioridade, bem
como o diálogo, as relações éticas, democráticas e transparentes, com intuito
de intercâmbio de saberes, habilidades, idéias. Busca-se a comunicação plena
e a compreensão sistêmica da organização. Da valorização do ser humano e
da boa relação consigo mesmo e especialmente com os outros, emerge o que
conceituamos conectividade.
As peculiaridades ao serem somadas e gerenciadas
harmonicamente convergem para um crescimento comum, num ambiente onde
prevaleça à ecologia social.
A priorização do ser humano, o desenvolvimento pleno de suas
potencialidades, com base na comunicação, na troca e a adoção de novos
paradigmas coerentes com isto, são intrínsecos à premissa de conectividade..
Os valores da conectividade devem agregar à organização um diferencial de
mercado, estimulando nas pessoas que a compõe um sentimento de
motivação, pertencimento e um desejo de aperfeiçoamento.
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A metodologia para realização desta monografia foi uma pesquisa
bibliográfica.
No capítulo I abordamos o conceito de conectividade em si , a visão
holística e as teorias sistêmica, fenomenológica e dialógica pois são estas que
o embasam.
No capítulo II destacamos o papel do Serviço Social dentro da área
de ARH como o elemento expressivo e representante da conectividade no
ambiente organizacional.
No capítulo III atentamos para como pode se manifestar a
conectividade na Gestão de Pessoas, gerindo com e para as pessoas, onde o
ser humano é diferencial mercadológico e traçamos um paralelo com as “cinco
disciplinas” propostas por Senge.
No capítulo IV descrevemos as organizações calcadas nos valores
da conectividade, destacando as organizações holísticas e metanóicas como
exemplos e também a visão de estratégia em conectividade.
Na conclusão delineamos algumas considerações que julgamos
importantes e que foram testadas ao longo dos capítulos.
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CAPÍTULO I
CONECTIVIDADE
Nos últimos 50 anos, as abordagens para se atingir o sucesso ofereceram pouco mais do que uma variação em torno de um tema básico: pense positivamente. Como há muitas maneiras de pensar num mundo onde estão ocorrendo inúmeras mudanças – e onde há muitos desafios a serem enfrentados – queremos substituir essa venerável, mas ultrapassada idéia por uma ainda melhor: pense poderosamente.Entretanto, queremos fazê-lo de uma maneira que ajude todas as pessoas a terem suas necessidades atendidas.Que ajude todas as pessoas a serem bem-sucedidas. No limite de suas competências pessoais.E que faça do mundo um lugar melhor para se viver (Dudley Lynch e Paul Kordis, 1988, p. 18).
Esse mundo melhor de se viver, em todo sua abrangência, pode ser
construído através do conceito de Conectividade que será abordado nesta
monografia., baseado nas teorias e trabalhos de autores como Fritjof Capra,
Abraham Maslow, Peter Senge, Charles Kiefer, Humberto Maturana, Francisco
Varela, Dudley Lynch, Paul Kordis, Edmund Russerl, Martin Buber, Pierre Weill,
entre outros.
Conectividade é a interseção, não apenas a soma das partes, mas o
gerar infinitas possibilidades por meio desta premissa.
Conectividade de pessoas, de grupos, com base no agregar, no
relacionar, com ritmo, dinamismo, num pulsar alimentado pela interação
humana. Um conglomerado de seres em constante comunicação, em
Conectividade, ligados entre si, com práticas também interligadas.
É troca, alinhamento, relacionamento, comunicação. É sinergia, no
seu mais amplo sentido de cooperação, como esforço de vários componentes,
numa associação simultânea de vários indivíduos em coordenação.
O conceito de Conectividade pode também ser compreendido pela
luz do estudo das coisas, a hermenêutica, englobando o mundo interno, a
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comunicação e a linguagem, o relacionamento com o mundo social e as
relações sociais propriamente ditas.
Este conceito ao ser transposto para a prática, dentro de uma
organização, redefine o valor e a posição do relacionamento interpessoal, que
passa a ser encarado como fundamental, pois envolve as pessoas, a maneira
como estas interagem.
A Conectividade possui como valores a ética, a transparência, o
diálogo, a comunicação, a flexibilidade, o respeito. As relações humanas, ou
inter-relações, são prioritárias quanto pensamos sob a premissa de
Conectividade. Os pensamentos sistêmicos e holísticos embasam entre outros
aspectos mais sofisticados algo simples, talvez por isso mesmo verdadeiro, o
fato de que fazemos parte de um todo.
As relações extrativistas sejam em relação ao meio ambiente ou
sociais e o mecanicismo vem progressivamente perdendo espaço. E os valores
éticos, a ecologia social, a busca do diálogo, o trabalho em equipe, a inter e a
transdisciplinariedade são exemplos desta nova era.
Com propriedade Charles Kiefer afirma: “a realidade é composta de
relacionamentos múltiplos-simultâneos e interdependentes de causa-feito-
causa” (Apud Peter Senge, 2005, p. 294).
Relacionamentos envolvem comunicação, diálogo,compartilhamento
de espaços, idéias e não raro ideais.
O homem é um ser social e como tal as suas relações em sociedade
devem ser pensadas com a dimensão que a questão exige. É necessário saber
como se dão estas relações, se comunicação está fluindo, se o que é expresso
verbalmente correspondente às atitudes tomadas, sejam por determinado
membro da equipe ou alta cúpula.
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É vital que haja coerência, transparência, clareza e diálogo para que
se estabeleça a Conectividade, que significa habilidade em construir parcerias
e relacionamentos, tanto dentro da organização, tomando os funcionários como
clientes internos ou primevos, quanto fora, com os stakeholders-parceiros,
acionistas, fornecedores, clientes. Desta forma ocorre a ecologia social.
Os valores da Conectividade devem estar primeiramente
estabelecidos, ou seja, compreendidos e praticados, dentro do ambiente
corporativo, encarando os funcionários como clientes internos. Assim ocorre a
valorização do ser humano juntamente com seu constante aprimoramento. Há
que conhecê-lo e dar reconhecimento à função que este desenvolve,
respeitando-o independente de nível seu hierárquico. A compreensão e a
valorização das pessoas que compõem a organização são primordiais para que
esta seja bem sucedida, pois pessoas motivadas, satisfeitas, estão
comprometidas com o sucesso da empresa a que pertencem, pois passa a
existir um sentimento de pertencimento, onde o espírito grupal é enfatizado
paralelamente às necessidades individuais. A cultura organização deve
enfatizar o mútuo apoio, o trabalho em equipe, o estabelecimento de redes,
criar um ambiente agradável, com a preponderância do diálogo. E diálogo é um
fator integrativo. David Bohn desenvolve um trabalho na física acerca de
diálogo num enfoque sistêmico. Buber criou a teoria Dialógica, que muito
influenciou o presente trabalho.
Cremos na afirmação de Kurt Lewin de que “não há nada mais
prático que uma boa teoria” (Apud Pierre Weill, 1999, p. 165).
Estar sob os valores da Conectividade significa assimilar as teorias
sistêmicas, dialógica, fenomenológica, e a visão holística. Ou seja, considerar o
todo e todos os que o compõem. É unidade na diversidade, priorizando os
valores éticos. Citando Perry:
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Isso nós sabemos, todas as coisas são conectadas como o sangue que une uma família...O que acontecer com a terra acontecerá com os filhos e as filhas da terra. O homem não teceu a teia da vida, é dela apenas um fio. O que ele fizer para a teia estará fazendo para si mesmo (Apud Capra, 1996, contracapa).
O assumir destes paradigmas trará a organização um diferencial de
mercado significativo, refletindo externamente mudanças internas profundas,
onde cérebro ou intelecto e coração se conectam, integrados que são num
mesmo sistema, pessoas-organização-sociedade-mundo. Este encadeamento
fica claro nas visões sistêmicas e holística, tão fundamentais para a gestão de
pessoas e perenização das instituições.
Outro aspecto importante é a do intra-relacionamento, ou seja, como
o indivíduo lida com as suas questões internas, a sua inteligência emocional, o
que o motiva e desmotiva, quais suas potencialidades e limites.
Para Lao-Tse: “Quem conhece outrem é inteligente, quem conhece
a si mesmo é esclarecido, quem vence outrem é forte, quem vence a si mesmo
tem a força da alma”. (Apud Pierre Weill, 1999, p. 95).
A Conectividade com nosso eu interno, nosso potencial criador,
nossa consciência, nos possibilita a sermos pessoas auto-motivadas, que
buscam através do aprimoramento. Uma satisfação não apenas de fachada,
relativa a status, mas uma realização genuína. Isto certamente se manifestará
no modo como nos relacionamos com o próximo, com o mundo. De uma
relação de qualidade com nós mesmos virá uma saudável, logo produtiva, da
relação mantida com nossos colegas, chefias, parceiros etc.
Cremos que Conectividade pode ser compreendida muito
especialmente por seu caráter sinergístico e interativo.
Para Boulding:
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Não há, é óbvio, nenhum conjunto organizado de valores humanos, e cada ser humano possui o seu conjunto de próprio. No entanto, há processos, na interação ecológica ou social, nos quais estes valores diferentes, embora não reduzidos a um conjunto, estão pelo menos coordenados num processo evolutivo progressivo (Boulding, 1978).
O despertar para os valores espirituais abre todo um leque de
perspectivas tanto individuais, quanto sociais, consequentemente dando um
novo sentido a vida organizacional.
O estadista soviético Gorbachev ressalta os valores espirituais:
Atualmente, nossa tarefa principal é erguer o indivíduo espiritualmente, respeitando seu mundo interior e dando-lhe apoio moral. Nós procuramos fazer com que todo o potencial intelectual da sociedade e todas as forças da cultura ajam pra moldar um ser social ativo, espiritualmente rico, justo e consciencioso. O indivíduo precisa sentir e saber que necessitamos da sua contribuição, que sua dignidade não está sendo prejudicada, que ele está sendo tratado com confiança e respeito. Quando enxerga isso tudo, é capaz de realizar muito mais. (Apud Weill, 2000, p. 135).
O conceito de Conectividade por nós proposto, coloca em primazia o
ser humano, seus relacionamentos, sua dinâmica.
Suas bases holística, sistêmica, fenomenológica e dialógica, com
freqüência abordarão a relação do um com o todo, do ser na organização, das
relações inter-pessoais, da comunicação, da troca, da sinergia, da cognição e
da gestão do conhecimento como elos fundamentais que contribuem para o
desabrochar das potencialidades humanas e dos valores éticos nas
organizações.
Em Conectividade reconhecemos o trabalho desenvolvido pelo físico
e teórico de sistemas F. Capra, por ele denominado de “visão sistêmica da
vida”. Acerca disto discorre o autor:
... A nova visão de realidade que haveria enfim de substituir em diversas disciplinas a visão de mundo mecanicista e cartesiana... Dei à sua formulação científica o nome de visão sistêmica da vida, numa referência à tradição intelectual da teoria dos sistemas; e defende também a idéia de que a escola filosófica da ecologia profunda, que reconhece o valor intrínseco de todos os seres vivos, poderia fornecer
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uma base filosófica e mesmo espiritual, para um novo paradigma (Capra, 2002, p. 15).
E completa Capra:
... A ecologia profunda foi desenvolvida e elaborada em seus detalhes no decorrer da década de 1980, e publicaram-se numerosos livros e artigos sobre disciplinas correlatas, como o eco-feminismo, a eco-psicologia, a eco-ética e a ecologia transpessoal... Minha aplicação da abordagem sistêmica ao domínio social abarca em si, tacitamente, o mundo material... Os princípios sobre os quais se erguerão as nossas futuras instituições sociais terão de ser coerentes com os princípios de organização que a natureza fez evoluir para sustentar a vida. Para tanto é essencial que se desenvolva uma estrutura conceitual unificada para a compreensão das estruturas materiais e sociais (Capra, 2002, pp. 16-17).
Capra nos leva a refletir sobre coesão, unidade, e especialmente o
fato de estarmos todos conectados numa grande rede que é a vida. Nós
existimos co-existindo, existimos em Conectividade. A busca do conhecimento
interno, sobre a qual falamos, desperta o desejo de conhecer também o outro,
de ampliarmos nosso mundo através do conhecimento dos fenômenos e das
pessoas, ou seja, individual e coletivo. De nos comunicarmos, de partilharmos,
de cooperarmos – de operarmos conjunto. A busca por conhecimento flui para
o gerar do conhecimento.
O gerar do conhecimento, seja este tácito ou explícito é outro
aspecto a ser considerado. O conhecimento tácito provém da dinâmica cultural,
de uma rede de comunicações, verbais e não verbais que ocorrem na prática,
com a vivência. Possui dimensões sociais e individuais, nem sempre sendo
exteriorizado. O conhecimento explícito toma um aspecto mais material, na
medida em que pode ser documentado pela linguagem. Entretanto, apesar de
caracterizá-los, não devemos separá-los, ou pô-los em blocos, porque são
complementares. O conhecimento explícito, gerado individual ou coletivamente,
tem origem no conhecimento tácito.
Sob influência da visão sistêmica, que abordaremos posteriormente,
os paradigmas cartesianos e newtonianos, são postos em cheque, tanto nas
ciências sociais, quanto nas ciências biológicas e nas ciências exatas. René
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Descartes, no século XVII, concebeu uma divisão fundamental na natureza da
mente e da matéria. Por cerca de trezentos anos essa concepção conceituada
separatista influenciada da ciência à filosofias ocidentais.
Por milhares de anos a metáfora do conhecimento como algo
arquitetônico, em blocos, como um edifício, foi assumida por nossos filósofos e
cientistas.
Descartes afirmou: “Na medida em que as ciências tomam
emprestado da filosofia seus princípios, ponderei que nada de sólido podia ser
construído sobre tais fundamentos movediço” (Apud Capra, 1996, p. 47).
Trezentos anos depois, Werner Heisemberg em “Física e Filosofia”
desperta para um pensamento em oposição:
A reação violenta diante do recente desenvolvimento da física moderna só pode ser entendida quando se compreende que aqui os fundamentos da física começaram a se mover; e que esse movimento causou a sensação de que o solo seria retirado de debaixo da ciência (Apud Capra, 1996, p. 48).
Pois bem, se no paradigma cartesiano/newtoniano movimento e
fluidez possuem uma conotação negativa, não científica, nos novos
paradigmas representam justamente o que deve ser estimulado, estudado e
valorizado, num processo de elaboração de conhecimento, onde esta
elaboração se manifesta não em blocos separatistas, mas por meio elos que
formam uma rede flexível, fluida, viva, aceitando a unidade na diversidade. Há
o reconhecimento de que a ciência não detém verdades intocáveis e absolutas.
Segundo Descartes a matéria, a “coisa extensa” e a mente, “coisa
pensante” constituem blocos distintos e separados. A relação entre a mente, a
“coisa pensante”, e o corpo, começou a ser uma grande questão a ser
estudada. No século XIX, os neurocientistas sabiam que as funções mentais e
as estruturas cerebrais estão estreitamente ligadas, porém o quão exatamente
é esta relação permanece um mistério. Em 1994, a apenas doze anos atrás, os
16
organizadores de uma antologia denominada A Consciência na Filosofia e nas
Neurociências da Cognição declararam na introdução que: “Muito embora
todos concordem em que a mente tem algo a ver com o cérebro, ainda não há
consenso, generalizado quanto à natureza exata desta relação”. A visão
sistêmica nos dá o enfoque dos processos, ou seja, concebe tanto a
consciência quanto a mente como processos e não como coisas. O próprio
significado da vida, como veremos, é muito diferente de tudo o que foi
considerado como absoluto até então. Por exemplo, a dimensão cognitiva da
vida emerge como uma unidade de mente e consciência, onde os
relacionamentos inter-pessoais, o mundo cultural/social, estão intrinsecamente
ligados à consciência humana.
Citando Einstein:
(o ser humano) experimenta a si mesmo, seus pensamentos e sentimentos, como algo separado do resto – uma espécie de ilusão óptica de nossa consciência. Essa ilusão e uma espécie de prisão para nós, restringindo-nos aos nossos desejos pessoais e à nossa afeição a algumas pessoas mais próximas. A nossa tarefa deve ser de nos libertar dessa prisão ampliando nosso ciclo de compaixão, a fim de abraçar todas as criaturas vivas e a natureza em toda a sua beleza (Apud Senge, 2005, p. 198).
Humberto Maturana e Francisco Varela, na década de 1970,
desenvolveram sob influência sistêmica uma teoria acerca do processo de
conhecimento, a cognição, que vem a ser conhecida como a Teoria de
Cognição de Santiago. O estudo da mente, nesta teoria, engloba um campo de
estudo transdisciplinar. O estudo da cognição é intrínseco ao estudo da vida;
para Maturana e Varela “viver é conhecer” e “cognição é próprio processo da
vida”. Capra considera a teoria de Santiago como sendo “a primeira teoria
científica a superar a cisão cartesiana entre mente e matéria”.
Cognição é o processo do conhecimento, a aprendizagem. Seria a
vida uma eterna aprendizagem? Assim o cremos que tanto a vida quanto a
aprendizagem possuem fluidez, não são estáticos, ao contrário, estão em
motocontinuum. Faz-se necessário então que estejamos abertos à reflexão
constante, ao novo, às mudanças, com atitudes flexíveis e abertos ao diálogo.
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Que tragamos para o ambiente organizacional atitudes como, pactos, objetivos
e valores compartilhados, multiliderança, pró-atividade, aprendizagem e
trabalho em equipes e em redes, pois estaremos assim atuando em
conectividade.
O constante exercício da aprendizagem, de conhecimento, contribui
para que não fiquemos estagnados em velhas crenças; o resultado é que
estaremos nos colocando como indivíduos que buscam acrescentar algo
positivo tanto para nós mesmos quanto para a sociedade. Dewey afirma que:
“aprender é uma função permanente, atividade pela qual o homem cresce, isto
é, busca ser mais”. E ele completa que a
educação é uma premissa democrática (...): Na teoria que expomos a educação não é preparação, nem conformidade. Educação é vida. E viver é desenvolver-se, é crescer. O processo educativo é, portanto, o processo de contínua reconstrução, reorganização e transformação da vida (Apud Marlova Jovchelovitch, 1989, pp. 29-31).
O ser humano não é algo pronto, parado, portanto, não podemos
entender educação como algo estático. A busca, no sentido de anseios,
aspirações, faz parte da natureza humana, e a educação faz parte deste
caminhar, é um processo. O mundo humano baseia-se em co-existência, assim
como a educação. Para Gagné, o ensino pode ser “entendido como uma
influência interpessoal que se destina a organizar os meios para a pessoa
aprender, o ensino é, portanto uma organização das condições de
aprendizagem” (Apud Marlova Jovchelovitch, 1989, pp. 29).
Fluxo, movimento, flexibilidade, mudança, aprendizagem, interação,
diálogo, vida, pessoas, são palavras que se repetirão ao longo deste trabalho,
pois representam a essência de conectividade, amparada nas teorias
sistêmicas, dialógica, na fenomenologia, na visão holística.
Uma nova forma de encarar o mundo, como Maslow questiona:
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Sinto que devo levar mais a sério (...), o tipo de ênfase no mundo observado por Heráclito, Whitehead e Bérgson, segundo a qual o mundo era visto como um fluxo, um movimento, um processo, e não algo estático (...) parece bastante óbvio para mim que isso requer uma mudança de nossa atitude em relação ao ser humano e emrelação a seus relacionamentos (Apud Deborah C. Stephens, 2003, p. 188).
O homem é um ser social em sua essência e raízes, em constante
conectividade com o mundo que o cerca, seja na família, no trabalho, na
comunidade em que está inserido, em suas crenças; em seu desejo de
afirmação e progresso.
Mental, emocional, profissionalmente, socialmente, ele está sempre
se conectando, absorvendo o que se passa ao seu redor, influenciando e
sendo influenciado, vendo e sendo visto. Tudo isso é conectividade, pois
convivência é conectividade em ação.
A alquimia da conectividade se manifesta na troca, assimilação e
projeção de valores, talentos, conhecimento, experiências, criatividade,
emoções, afetos, pensamentos, visão compartilhada.
A conectividade flui através do dia-a-dia das pessoas e dos povos,
no ver televisão, ler jornais e revistas, na internet, na conversa entre amigos,
no trabalho, na profissão, no lazer, no sorriso e no olhar, na mão amiga, no
mutirão fraterno. O próprio cérebro humano se conecta com o mundo visível ao
ser redor, imprimindo.
Tudo o que está vivo é conectado e é conectante, porque viver já é
conectividade com o meio ambiente, e com outros seres. O despertar da
sensibilidade faz perceber o mundo a seu dispor, visível, palpável, conectável,
pleno de possibilidades, descobertas e aprendizagens, alegrias e dores,
sucessos e fracassos.
Conectividade é o estímulo de conhecer-se a si próprio, seu Eu, seu
potencial, defeitos e qualidades, suas possibilidades, a capacidade inerente de
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compreender e vencer seus limites sobrepor-se às circunstâncias e condições,
crescer tanto material quanto espiritualmente. E finalmente o diálogo, a troca, a
inclusão, a conectividade. O crescimento dessa conectividade abrange o visível
e o invisível, o palpável e o intocável. E aparece o inventor, o pesquisador, o
cientista, filósofo, o artista, o criativo, o físico quântico, o ecologista, o
transpessoal, a medicina alternativa.
No mundo dos negócios cujas transformações vêm se manifestando
em ritmo cada vez mais acelerado. A sociedade começa a tomar consciência
das grandes modificações que estão ocorrendo sejam nas relações sociais,
políticas e econômicas, seja no avanço da tecnologia, no mundo do trabalho,
na busca de respostas e de espiritualidade, e no próprio papel do elemento
humano nesse contexto social, ético, moral e espiritual.
Nas organizações do século XXI, conectividade implica em
crescimento, perenização; é readaptação às condições e circunstâncias de um
mundo moderno em constante mutação. É flexibilidade no despertar de novas
oportunidades; novos valores, compreensão de novos paradigmas; avaliação
criteriosa das alternativas. É a lógica somada à intuição; ação cooperativa e
consciente; coexistência do todo e respeito a diversidade de suas partes.
Conectividade é liberdade exercida conscientemente dentro de um contexto
interativo.
É a visão holística do passado e futuro convergindo para o eterno
agora, na unidade indissolúvel do todo com suas partes.
É a teoria sistêmica a integração das diversificadas expressões,
ciências, atividades e atuações inclusas em um sistema único, abarcante.
É a teoria dialógica do Eu-Tu em perfeita conectividade, expandindo-
se para o Eu-Nós, Eu-Isso, equilibrando os relacionamentos inter-pessoais com
a relação ser humano-objeto.
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É a teoria fenomenológica na prática do “pôr entre parênteses”,
despindo-se de preconceitos para ver o âmago dos fenômenos.
Visão Holística
Pierre Weill é doutor em psicologia pela Universidade de Paris,
educador, presidente da Fundação Cidade da Paz e reitor da Universidade
Holística Internacional de Brasília, consultor da Organização das Nações
Unidade (ONU) sobre educação para a paz, além de autor de mais de trinta
livros.
Weill em seu livro “A mudança de sentido e o sentido da mudança”,
2000, p. 17, diz que o termo “holístico” está aparecendo em textos e relatos de
vários ramos adiantados da ciência, como as ciências físicas, biológicas e
humanas, inclusive na medicina; e que ele responde à necessidade de
expressar uma mudança de paradigma. Na p. 25, Weill acrescenta que “são
vários os fatores essenciais que concorrem para a mudança de paradigmas; e
são tão interligados que é difícil dizer exatamente qual foi o principal e qual foi
o desencadeador dos outros”.
O autor dá um resumo da visão e abordagem holística, dizendo que
ela procura o que há de comum entre a visão racionalista e científica atual e a
visão das grandes tradições espirituais nas quais a sabedoria primordial é
inseparável do amor. E acrescenta que essa visão holística é de igual modo
fundamentada nas teorias recentes que descrevem o universo como um vasto
holograma, e que em todas as partes se reencontra o mesmo sistema que
forma o todo. Ele refere-se especialmente a David Bohm, discípulo de Einstein,
que elaborou a teoria conhecida como a “teoria holonômica do universo”, no
qual o próprio universo se conduz como um vasto holograma. A teoria
holonômica de Bohm posteriormente foi estendida pelo neurologista Karl
Pribram, e os dois elaboraram uma teoria holomônica do cérebro,
fundamentada em longas pesquisas de K. Pribram, pois, segundo ele, o
cérebro funciona como um holograma, o que explica o fato de que partes não
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lesadas do cérebro assumem a função de partes lesadas, sobretudo as que se
referem a memória.
Na visão holística, o universo ou a natureza em geral é composto ou
feito de energia, da mesma energia que emana do espaço, e que se manifesta
sob a forma de matéria, de vida e de informação ou programas. Essa energia
só é conhecida por suas manifestações. O ser humano é como se fosse um
micro universo; ele também é feito de energia, da mesma energia que se
manifesta sob a forma de corpo (matéria), vida (emoções) e mente (informação
e programas). A sociedade, por sua vez, reproduz o mesmo sistema
energético: ela produz bens materiais no aspecto econômico (matéria), tem
vida social e política (vida), e tudo isto é regido por leis, valores e ideologias
(programas e informações). Para Pierre Weill no universo todos os sistemas
são de natureza energética, da mesma energia; e sujeito e objeto
indissoluvelmente interligados.
Temos através dessa visão cósmica, holística e inclusiva, o desvelar
da plena consciência; a reafirmação do conceito de que “como é em cima, é
embaixo; como é o todo, devem ser as partes”, claro que em estado
embrionário, a ser cultivado em escalas cada vez mais ascendentes, uma
verdadeira espiral de aprendizados, experiências, conhecimentos, realizações,
trocas, diálogos, complementações, alquimias, cooperação, na dinâmica
conectividade entre o todo e suas partes; na compreensão que o todo, neste
sentido, tanto pode ser o universo, quanto um país, uma organização,
empresa, lar.
Para enfrentar os novos problemas que vão surgindo à medida que
nossas fronteiras se expandem aos limites quânticos, do relativismo, dos
sistemas complexos, da própria vida, enfim, a humanidade continuará a valer-
se da ciência, da tecnologia, da razão que ensina, modifica e constrói, mas
também da fé, do sentimento, da intuição, da criatividade, da arte que a
completam e a tornam mais abrangentes, transcendendo à novas dimensões,
aos chamados horizontes paralelos. Na visão holística, nosso progresso no
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próximo milênio, será construído por gente que pensa, crê e sente, capaz de
enfrentar os desafios do futuro, buscando com criatividade alternativas
transformadoras, não só para os indivíduos, quanto para o próprio planeta.
Em colaboração com seu modelo holístico, Weill em “A mudança de
sentido e o sentido da mudança”, 2000, p. 211, cita o pensamento de Ervin
Laszlo: “Se nós persistirmos em manter valores e crenças obsoletas, uma
consciência fragmentária e um espírito autocentrado, manteremos também
objetivos e comportamentos ultrapassados”. Nesse livro, Weill defende
mudanças de paradigmas para que seja alcançado um alargamento de
consciência, que é a soma da razão com a intuição, do pensamento com o
sentimento, do concreto com o abstrato. É o casamento da ciência com a
espiritualidade, tão preconizado na visão holística. Essa mudança de
paradigmas, segundo Weill, seria bem abrangente, pois aborda novos
paradigmas no campo da ciência, da medicina, da psicoterapia, da educação,
das artes, comunicação e mídia, da ecologia, economia, política etc. Uma
totalizadora visão do mundo, na perfeita conectividade entre o macro e o
microcosmos, entre o universo e o indivíduo, entre a teoria e a ação e sua
consequentemente manifestação. E o surgimento de uma nova ética, que
tornará as relações humanas mais fraternas e espontaneamente amorosas.
Teoria Dialógica
Martin Buber (1878-1965) nasceu em Viena, Áustria, e as bases do
pensamento buberiano ligadas à tradição judaica começam para Buber desde
sua infância sob a influência de seu avô paterno. Cursou Filosofia e História da
Arte na Universidade de Viena; e Psiquiatria e Sociologia em Leipzig e Zurich,
e obteve o título de doutor em Filosofia pela Universidade de Berlim com a tese
A história do problema da individualização.
Em sua adolescência teve uma formação filosófica influenciada por
Kant (1734-18040) através do livro Prolegômenos; por Nietzsche (1844-1900)
em “Assim falava Zaratustra”.
23
Pelo existencialismo de Kierkegaad; a fenomenologia de Russerl, o
humanismo ateu de Feuerbach; pelas idéias libertárias da Europa central do
início do século.
O judaísmo, por meio do Hassidismo, foi também fundamental para
o pensamento buberiano, a ponto do reconhecimento:
O assíduo contato e a intimidade que manteve, durante anos, com este movimento da mística hassídica representaram mais do que uma simples influência, o clima ou o molde de pensamento (Martin Buber, 1977, p. 32).
O Hassidismo não admite divisão entre ética e religião. Não há
distinção entre a relação direta com Deus e a relação com o companheiro.
Buber resumiu o sentido da mensagem hassídica quando escreveu: “Deus
pode ser contemplado em cada coisa, e atingido em cada ação pura”.
No entanto, as idéias buberianas não só transcendem temas
religiosos, como também não se deixam “etiquetar”. Em realidade, Buber
preocupou-se fundamentalmente com o fenômeno inter-humano, ou seja, a
realidade da diferença entre eu e tu, demonstrada pela que é considerada sua
obra principal, publicada em 1923 – EU e Tu, a ponto de seus escritos poderem
ser considerados antes e depois deste livro. Na realidade, “se quiséssemos
inserir Buber dentro de uma corrente do pensamento filosófico talvez
pudéssemos optar pela Filosofia da Vida” (Martin Buber, 1977, p. 45).
A preocupação do autor com o relacionamento inter-humano pode
ser identificada no próprio Martin Buber, quando ele diz:
... Sim, é justamente a ele que me refiro, ele, na fábrica, na loja, no escritório, nas minas, no trator, na tipografia: o homem. É este o que tenho em mente, este atrelado ao serviço, o que move a roda, o condicionado. O diálogo não é um assunto de luxo intelectual e deluxúria intelectual, ele diz respeito à criação, à criatura; e o homem dequem falo, o homem de que falamos, é isto, é criatura, trivial e insubstituível (Apud Tenório, 2002, p. 84).
24
Para uma melhor compreensão da teoria dialógica vamos
compreender o que significa palavras-chaves, ou seja, categorias facilitadoras
da compreensão de determinado pensamento filosófico, vocábulos com os
quais o pensador procura nortear o significado de suas proposições. No caso
buberiano, elas identificam a dualidade do homem em sua dupla atitude
perante o mundo: - o conteúdo do par de palavras-princípio Eu-Tu difere do
conteúdo do par de palavras-princípio Eu-Isso.
Nas palavras-princípio Eu-Tu a base é uma vida dialógica na qual se
desenvolve a ética da reciprocidade, do inter-humano; uma atitude de encontro.
Nas palavras-princípio Eu-Isso a base é a materialização da relação
instrumental entre os humanos, coisificando-a; uma atitude objetivante.
No pensamento buberiano, na relação Eu-Tu o diálogo será o
elemento explicativo da relação entre pessoas, um ato totalizador, mais do que
a simples soma das partes da estrutura relacional e, portanto, fundamenta o
mundo da relação, já que na relação dialógica, quando se profere o Tu,
profere-se também o Eu da palavra-princípio Eu-Tu.
Para Buber o “homem não é uma coisa entre coisas, ou formado por
coisas, nem Ele ou Ela limitado por outros Eles ou Elas, um ponto inscrito na
rede do universo de espaço e tempo”.
No entanto, o par da relação Eu-Isso é configurado por um
ordenamento de relações que se dão no espaço e no tempo, e não por um
encontro. Nesse caso, o Eu, ser egótico, vê o outro como um objeto
manipulável, no qual o relacionamento é uma soma das partes. Na sociedade
das organizações, se isso acontecer, “o Tu, segundo Buber, já não é mais
senão Isso, uma soma de qualidades, útil a um propósito realizável” e o mundo
Isso “ordenado e coerente, indispensável para a existência humana; um dos
lugares onde nós podemos entender com os outros”. Mas Buber ressalva “ele
25
não pode ser o sustentáculo ontológico do inter-humano, já que o mundo do Tu
não tem coerência nem no espaço nem no tempo”.
Os conceitos comunidade e sociedade são também chaves para
compreender a filosofia dialógica buberiana. O uso por Buber dos conceitos de
comunidade e seus afins (qualquer espaço inter-humano no qual haja
dialogicidade), bem como de seus opostos: sociedade, coletividade, massa,
Estado, empresa, foram influenciados por Ferdinand Tönnies (1855-1936)
mediante o livro Comunidade e sociedade (Germeinschaft und Gesellschaft-
1877).
Ringer acrescenta:
Todos os relacionamentos e agrupamentos humanos, segundoTönnies, podem ser classificados com referência ao tipo de vontade que os cria e os mantém unidos. Os membros de uma comunidade estão unidos na e por meio da sua vontade natural; os parceiros de uma sociedade moderna juntam-se para realizar algum objetoespecífico de vontade racional (Apud Tenório, 2002, p. 86).
A diferença é que em uma comunidade, os indivíduos agem sob a
influência da vontade natural, sem haver necessidade de se perguntar o motivo
ou a causa de uma determinada conduta, ao passo que na sociedade os
indivíduos agem sob a influência da vontade racional, e a conduta é
determinada pelas metas estabelecidas.
Para Tönnies, a Gemeinschaft-comunidade é real e orgânica, porque
“há uma vida comum”, na qual “os indivíduos se mantém essencialmente
unidos”; a Gesellschaf-sociedade, por sua vez, “é um agregado mecânico e
artificial” no qual as pessoas “estão por essência separadas, apesar de todos
os fatores agregantes” (Martin Buber,1987, p 15-17).
A base de uma relação comunitária é o trabalho comum, o esforço
comum, em que as relações são do tipo Eu-Tu, e não Eu-Isso. É uma relação
de conectividade, cujos membros formam um nós, ou seja, um-com-o-outro, e
não um “a gente”, significando um-ao-lado-do-outro. Dessa maneira, a vida
26
comunitária tem uma dimensão especial no espaço social porque pressupõe o
diálogo, como forma de comunicação entre os indivíduos. Daí se conclui que a
dialocidade só ocorre quando existe uma relação Eu-Tu (um-com-o-outro),
porque nesse caso, o outro é reconhecido em sua alteridade, em sua diferença.
Já na relação Eu-Isso (um-ao-lado-do-outro), o outro não é identificado em sua
alteridade, o que impede uma situação dialógica.
Nas organizações, a relação Eu-Tu (um-com-o-outro) torna-se difícil,
porque ela dá-se sob uma estrutura artificial, formal, projetada, estimulada por
uma intermediação de processo de produção, que por sua vez, proporciona
uma maior freqüência da relação Eu-Isso (um-ao-lado-do-outro), e, portanto,
expressando “o desejo isolado de tirar vantagem gerado pelo pensamento
isolado da totalidade”, uma soma de qualidades úteis para atender aos
objetivos planejados. Nessa visão funcionalista, a relação homem-objeto,
homem-organização é de caráter utilitário da relação Eu-Isso.
Em um espaço comunitário, dialógico, natural, o homem expressa
sua totalidade reciprocamente, com base do que ele é. É uma pessoa humana,
uma criatura trivial e insubstituível, não uma qualidade de um modo a ser
programado. Entre Eu e Tu não deve haver fim algum que não seja com
objetivos comunitários, e nada deveria interpor-se entre ele e seus
semelhantes, nenhum jogo de conceitos teóricos, nenhum esquema ou
modelo.
No entanto, devemos estar alertas ao equívoco de atribuir ao Tu, em
Buber, o significado simplista de pessoa e ao Isso o significado de coisa,
objeto. Eu-Tu não é exclusivamente uma relação inter-humana. Há muitas
maneiras de Eu-Tu, e o Tu pode ser qualquer ser que esteja presente face-a-
face: homem, Deus, uma obra de arte, uma pedra, uma flor, uma peça musical.
Assim como Isso pode ser considerado qualquer ser que é considerado um
objeto de uso, de conhecimento, de experiência de um Eu.
.
27
Reforçando a relação Eu-Tu, desenvolvida conceitualmente pelo
pensamento de Martim Buber, pressupõe-se a importância do Outro ser
reconhecido em sua alteridade a fim de que haja uma aproximação
comunitária, natural entre os homens, um diálogo verdadeiro com a intenção de
estabelecer uma reciprocidade viva, transparente.
Teoria Fenomenológica
Foi criada por Edmund Russerl, filósofo alemão, não como proposta
de doutrina, porém como método geral. Primando pela originalidade, enfocando
a consciência, o método da fenomenologia de Russerl é um dos mais férteis da
filosofia do século XX, originando uma escola fenomenológica, tendo Martin
Heidegger, outro grande filósofo alemão como expoente.
A Fenomenologia influenciou setores científicos como a sociologia, o
serviço social, a psicologia e a psiquiatria. Propõe um retorno às raízes do
conhecimento “às próprias coisas”, negando o conhecimento elaborado através
do experimentalismo objetivo, da ciência objetiva. Tanto a subjetividade pura
quanto a objetividade pura são rejeitadas. Anteriormente, os principais
iniciadores do movimento existencialista, Kierkegaard (1844) e Nietzche (1881)
já alertavam contra a objetividade e neutralidade científica, afirmando que o
atingir do conhecimento advém da própria existência do cientista, não sendo o
foco nem o pensador nem a realidade, porém, a realidade vivenciada pelo
pensador. A reflexão ou conhecimento deve fundir pensamento e sentimento. A
existência precede o pensar, o elaborar, sendo o ponto de partida, o
fundamento. Russerl redimensiona a relação homem-sujeito e mundo. Estes
não são encarados como “puros” ou independentes, ao contrário se
desenvolvem no mútuo relacionamento. O homem é afirmado como um ser
consciente, cuja consciência é intencional, sempre existindo voltada para um
objeto, sendo, portanto a consciência de algo localizado no mundo do vivido. O
fenômeno ou a consciência são pré-reflexivos intencionais, anteriores a
separação entre sujeito e mundo, consciência e objeto. Basicamente o método
da fenomenologia requer um exame apurado da experiência subjetiva, de
28
forma desinibida e crítica. O “mundo da vida”, onde nós existimos, portanto,
existindo para nós, é o campo universal da práxis.
O termo “redução fenomenológica” implica na supressão da
formulação prévia de opiniões de juízos. No latim redução é reducere,
significando recondução. Esta recondução é uma proposta de apreensão do
subjetivo, despida de preconceitos. Propõe uma ciência que perceba a
espiritualidade, onde o cientista inclua a subjetividade, assim lhe dando a
devida importância. O “mundo do vivido” não deve ser separado da ciência,
pelo contrário. Russerl nutria a esperança de “uma verdadeira ciência das
experiências subjetivas, criada em associação com as ciências naturais”.
Muito depois, Francisco Varela, um dos fundadores da Teoria da
Complexidade, propõe a neurofenomenologia, que se dedica aos estudos da
consciência, “através da combinação do exame disciplinado das experiências
subjetivas com a análise dos padrões e processos neurais correspondentes”.
Russerl propõe a prática do “epoché” fenomenológico, que significa
colocar entre parênteses as crenças, convicções, juízos prévios, num exercício
metódico da dúvida, não no sentido de ceticismo, porém na busca de um
ambiente mental claro, vazio de preconceitos, para uma análise mais acurada
do mundo, dos fenômenos, do espírito e da consciência.
Teoria Sistêmica
Bogdanov, criou entre 1812 e 1817 uma teoria denominada
“tectologia”, significando “ciência das estruturas”, que definia a forma de
organização como” a totalidade de conexões entre elementos sistêmicos”. Foi
incompreendido e é pouco conhecido, cabendo a Ludwig von Berttalanffy a
difusão da “Teoria Geral dos Sistemas” (Capra, 1996, p.52 - 53)
Na primeira metade do século XX, na década de vinte, surgiu a partir
de um ponto de vista holístico, nas ciências, tendo os biólogos como seus
29
precursores, o que passou a ser chamado de pensamento sistêmico. Os
biólogos ressaltavam os organismos vivos desde a concepção como
“totalidades integradas”, onde a forma biológica não é apenas a soma estática
de vários componentes. A matéria está em fluxo constante; há movimento,
desenvolvimento, evolução.
Da Alemanha, por meio dos biólogos organicistas e dos psicólogos
da Gestalt, emergiu uma corrente de pensamento contra a fragmentação da
natureza humana. Destacamos os psicólogos Wertheimer e Köller na defesa da
“existência de totalidades irredutíveis como aspecto chave da percepção”
(Apud Capra,1996,p42) A partir de 1960, a Gestalt terapia enfatiza a
relevância das experiências pessoais como fator essencial e integrativo.
Muitíssimo antes, o filósofo, escritor e cientista alemão Goethe
(1749-1832) já chamava atenção para a “ordem móvel da natureza” -
bewegliche Ordung onde “cada criatura é apenas uma gradação de um grande
todo harmonioso” (Apud Capra,1996, p. 35). Ele, com acurada sensibilidade
romântica, antecipou-se aos pensadores sistêmicos, inspirando os cientistas,
percebeu a natureza como um ser vivo, talvez, por seu turno, inspirado na
crença grega pré-helênica em Gaia, a Deusa Terra.
Immanuel Kant, um dos maiores filósofos modernos, em sua obra
Crítica do Juízo, 1790, questionava a natureza dos organismos vivos,
percebendo-os como totalidades auto-organizadoras e auto-reprodutoras. Foi
quem 1º usou a expressão “auto-organização” para descrever a origem dos
organismos vivos. Colocou-se em oposição à visão mecanicista, buscando a
compreensão da vida. , pois contrariamente à máquina onde as partes existem
uma para dar suporte a outra, na vida as partes existem por meio de cada
outra. “Devemos pensar em cada parte como um órgão que produz as outras
partes... devido a isso o organismo será tanto um ser organizado como auto-
organizador” (Apud Capra, 1996, p36) Fica nítido aqui o quanto Kant
influenciou os teóricos sistêmicos.
30
A origem da palavra sistema contribui para compreensão da teoria
sistêmica. Sua origem vem do grego synhistanai que é “colocar junto”. Este é
um dos paradigmas sistêmicos, o contextualizar. Igualmente o é integrar e ter
uma compreensão da complexidade organizada, que implica em acreditar que
“a propriedade das partes pode ser entendidas apenas a partir da organização
do todo” (Capra, 1996, p41).
O termo sistema foi resgatado no início do séc.XX pelo bioquímico
Lawrence Henderson “para denotar tanto organismos vivos como sistemas
sociais; dessa época em diante sistema passou a significar um todo integrado
cujas propriedades essenciais surgem das relações entre as partes” (Capra,
1996, p. 39).
Capra explica:
Cada um desses sistemas forma um todo com relação às partes, enquanto que, ao mesmo tempo é parte de um todo maior. Desse modo as células combinam-se para formar tecidos, os tecidos para formar órgãos e os órgãos para formar organismos. Estes, por suavez, existem dentro de sistemas sociais e ecossistemas (Capra,1996, p.40).
Pensar sistemicamente implica em contextualizar, conectar,
relacionar, inter-relacionar. É enfatizar a integração das partes, a despeito de
reconhecer as diversidades, as variedades. Vai bem além de uma simplista
soma destas partes.
Os sistemas não podem ser compreendidos e estudados por meio
da análise tão proclamada pelo pensamento reducionista, uma vez que suas
propriedades são compreendidas no unicamente no contexto do todo, na
organização do todo abrangente. Este novo paradigma se choca com a ótica
analítica e reducionista cartesiana, até então fundamental para o pensamento
científico. O pensamento sistêmico se estrutura em princípios básicos de
organização, contrariamente aos rígidos blocos de construção se manifesta
como uma rede flexível, composta de elos. Não há isolamento, reducionismo,
mas sim totalidades integradas.
31
Discípulo de Einstein, Heisenberg, um dos principais teóricos da
física quântica coloca que “o mundo aparece assim como um complicado
tecido de eventos, no qual conexões de diferentes tipos se alternam, se
sobrepõem ou se combinam e por meio disso, determinam a textura do todo”
(Apud Capra, 1996, p.42).
A teoria sistêmica causou um choque, uma quebra de paradigmas,
em todas as ciências. Na física em especial, baseada na teoria de Newton do
reducionismo dos fenômenos, o impacto extremamente significativo.
Capra clarifica:
As partículas subatômicas não têm significado enquanto entidades isoladas, mas podem ser entendidas somente como interconexões, ou correlações, entre vários processos de observação e medida. Em outras palavras, as partículas subatômicas não são coisas, mas interconexões entre coisas, e estas, por sua vez, são interconexões entre outras coisas, e assim por diante (Capra,1996, p. 41).
No âmbito das teorias sociais, ressaltamos Anthony Giddens com
sua “teoria da estruturação“ e Jürgen Habermas com a “teoria da ação
comunicativa”, ambas teorias integradoras entre as ciências sociais, as
filosofias cognitivas.e as ciências da natureza.
Capra opina:
Penso que essa integração pode ser promovida de modo significativo se aplicarmos ao domínio social a nova concepção sistêmica da vida dentro da estrutura conceitual das quatro perspectivas já delineadas –forma, matéria, processo e significado. Temos de integrar todas as quatro perspectivas para chegar a uma compreensão sistêmica da realidade social. Essa compreensão sistêmica baseia-se no pressuposto de que a vida é dotada de uma unidade fundamental, de que os diversos sistemas vivos apresentam padrões de organização semelhantes; a aplicação da compreensão sistêmica da vida ao domínio social, portanto, identifica-se à aplicação do nosso conhecimento dos padrões e princípios básicos da organização da vida – e, em específico da nossa compreensão das redes vivas – à realidade social (Capra, 2002, p .93).
32
No pensamento sistêmico a ciência passa de objetiva para
epistêmica, o que implica em questionamento constante, reconhecendo não
poder dar respostas definitivas, pois o próprio conhecimento é aproximado.
A imagem metafórica do conhecimento sistêmico é a de uma rede
fluida, formada por elos interligados e flexíveis. Contrasta com a metáfora do
conhecimento cartesiano de rígidos blocos formando um edifício.
A compreensão de redes é extremamente importante para
compreensão do pensamento sistêmico.
O padrão de redes é o denominador comum de organização em
todos os organismos vivos. O conceito de realimentação, auto-organização,
auto-regulação, é essencialmente vinculado ao padrão de redes. Esta
dinâmica possibilita que a comunidade se auto-corrija. “O padrão da vida,
poderíamos dizer, é um padrão de rede capaz de auto-organização” (Capra,
1996, p. 78)
Sobre os sistemas sociais Luhmann diz: que “seus elementos são
comunicações que são produzidas e reproduzidas por uma rede de
comunicações e que não podem existir fora dessa rede” (Apud Capra, 1996, p.
172).
As redes auto-geradoras de comunicação são então os sistemas
sociais vivos. Numa empresa, por exemplo, as redes de trabalho ou networks,
são redes que contém redes menores. formando as “comunidades de prática”
concebidas por Wenger (Apud Capra,2002.p 119). Várias são estas
comunidades, pois são diversas as redes sociais, sejam, pedagógicas,
médicas, jurídicas ou outras, podendo ser formais ou informais, como uma rede
de colegas de trabalho, por exemplo.
O fato é que as redes são um dos principais fenômenos sociais da
atualidade e pensar sistemicamente implica em pensar em redes.
33
CAPÍTULO II
SERVIÇO SOCIAL EM CONECTIVIDADE
Cremos que o profissional de Serviço Social possui a especialidade
lidar com o material humano, por seu embasamento teórico e sua prática
profissional. É este o seu universo, o seu sujeito, o seu objeto de pesquisa e
atuação. O assistente social atua sempre como fio condutor, como uma linha
que une elementos, que se dispõe a ouvir e a falar, portanto, interagir, mediar
as relações entre os sujeito. A profissão resulta de uma prática histórica,
especializada no trabalho coletivo bem como dos indivíduos na sociedade, ou
seja, em processos micro e macroscópicos, com competências sócio-políticas
e teórico-instrumentais. Dentro da área de Recursos Humanos, o Serviço
Social, com sua multiplicidade, enquanto serviço, assume competências desde
gerir pessoas a estratégias administrativas e até políticas. O conceito de
serviço segundo Karsch:
...serviço é prestação de serviço, portanto, atividade útil, valor de uso. Mas a questão da utilidade termina em si mesma, pois vai desde a satisfação das necessidades básicas do homem até toda e qualquer necessidade gerada pelas formas de adaptação, realização ou exigência de vida numa sociedade. Servir a pessoas, servir a processos, servir à produção, servir a grupos, ou servir à sociedade... serviço como mecanismo produtivo de capital monopolista, e, consequentemente, a sua presença na divisão social do trabalho... os serviços não podem mais ser entendidos como um setor específico na divisão social do trabalho, de tão articuladas que estão as suas formas de produção social com as relações sociais na sociedade; isso faz com que os serviços, em condições históricas concretas, desenvolvam uma cultura própria, conforme articulam a sua produção nas relações sociais; tal cultura se expressa através da aceitação dos valores que a sociedade legitima e assume uma lógica política que os organiza e justifica (Karsh, 1987, pp. 25-27).
No presente trabalho, a concepção serviço será voltada para
algumas palavras chaves da citação acima:
articulação/pessoas/sociedade/cultura/relações/processos/grupos e
acrescentamos: diálogo, flexibilidade, construção, sistemas, fenômenos, redes,
relacionamentos, parceria, comunicação. Nossa atuação em Serviço Social é
baseada na Fenomenologia de E. Russerl e na Dialógica de M. Buber, bem
34
como nosso despertar par ao valor Conectividade deu-se através da Teoria
Sistêmica e da Visão Holística.
Encaramos o ato de mediação, característico da profissão, como
uma postura que reflete valores da conectividade. Citando Marx: “Não é
necessário apenas que o pensamento tenda para a realidade, mas que a
realidade também tenda para o pensamento” (Apud Debates Sociais, 2002, p.
16).
O Serviço Social Organizacional, dentro dos Recursos Humanos,
deve representar o núcleo positivo ou positive core da empresa em que atua,
ou seja, tudo que agregue valor, seja a busca de práticas cada vez melhores, a
busca por conhecimento, por aprendizado contínuo, crescimento pessoal,
profissional e empresarial, sintoma interna e externa, um ambiente de trabalho
agradável e motivador, sentimento de pertencimento, trabalho em equipe. Se
este núcleo positivo for incorporado a nível estratégico, transformações podem
ser iniciadas, podendo até mesmo influenciar na criação de nova cultura
organizacional. O capital intelectual implica não apenas em habilidades
técnicas, mas sim em habilidades de inter-relacionamento, sociabilidade e de
intra-relacionamento, equilíbrio interno.
O assistente social, numa empresa humanizada, pode atuar na
gestão do clima organizacional, prestando assessoria e consultoria, focando o
cliente interno nas áreas de Treinamento e Desenvolvimento. Paralelamente
deve ter apurado conhecimento da cultura da empresa, sua missão, sua visão,
bem como do contexto em que esta está inserida. Assim estará conectado e
conectando, orientado eticamente tanto quanto alinhado com a competitividade
que o mercado exige. Esta postura demanda um alto grau de flexibilidade.
Adotar teorias sistêmica e holística, especialmente, resulta o possuir de um
sólido conhecimento sobre os processos produtivos, a política financeira,
estratégias de vendas ou distribuição, por exemplo, ao assistente social. Ele
não resume o seu comportamento ao atendimento sócio-funcional; ele
conhece, interage e pertence ao todo, que é um sistema. Este pertencimento
35
ao todo é intrínseco ao respeito e conhecimento das singularidades; ao gostar
do relacionamento com o ser humano despido de preconceitos. Tecer redes de
relacionamento, implantá-las ou implementá-las, sejam internas - ou externas -
como parcerias e conexões.
Ao contextualizarmos tomamos conhecimento do ambiente, das
forças humanas, financeiras, sociais e técnicas (o que propicia diminuição do
grau de vulnerabilidade), assume-se a postura holística e sistêmica,
conjugando isto à valorização do ser humano. Mais uma vez, o conhecimento
do “ser funcionário”, de suas angústias, potencialidades, necessidades, o
estabelecimento de um vínculo resultante desta postura e desta comunicação,
fundamentados na Fenomenologia e na Dialógica, é inerente ao “ser-pessoa-
profissional” assistente social, ao atuar através da premissa de conectividade.
Dentre suas características estão, o espírito de equipe, a visão não
factual, a iniciativa, a discrição, a capacidade de análise e diagnóstico, a
sensibilidade, capacidade de comunicação falada e escrita, desenvoltura,
liderança, criatividade, a empatia, o saber ouvir, o desejo de aprender. A
dinâmica entre micro e macro, indivíduo e empresa, empresa e sociedade,
teoria e prática, é uma constante para esse profissional. Leite afirma: “O
Assistente Social: Administrador de Recursos Humanos e Sociais” (Temas
Sociais, nº. 197, 1986, contracapa).
Pois bem, estes Recursos Humanos e Sociais devem perceber não
somente a realidade factual, aparente, porém, as possibilidades contidas nesta,
já que o ser humano é pleno de possibilidades. A empresa ou organização
pode se beneficiar da diversidade de seus colaboradores, desde que quem
atue na gestão de pessoas, reconheça qual o perfil adequado para um
determinado cargo, que conecte função e pessoa. O respeito a diversidade é
fundamental para o equilíbrio e crescimento da organização, deve compor a
cultura corporativa. Envolve questões como desempenho, atitude pró-ativa,
sentimento de equipe, diálogo.
36
É a premissa da conectividade, inspirada nas teorias sistêmica,
holística, fenomenológica e dialógica, cuja essência é representada pelo
Serviço Social através do assistente social que atua em Recursos Humanos.
37
CAPÍTULO III
GESTÃO DE PESSOAS EM CONECTIVIDADE
As organizações são compostas por pessoas e para pessoas, sejam
esta da gerência, alta cúpula, operários, colaboradores em geral, fornecedores,
parceiros, consumidores, ou seja, clientes internos e externos. São as mesmas
pessoas que compõem a sociedade em que a empresa está inserida. Não é
por acaso que a área de Recursos Humanos, possa conforme afirma Idalberto
Chiavenato, ser denominada de Gestão de Pessoas, ou Gestão de Talentos,
Capital Intelectual ou Capital Humano. É este novo enfoque que produz o
diferencial competitivo no mundo do século XXI, ou seja, com tantas
tecnologias criadas e implementadas a cada hora, mais do que nunca, o ser
humano instaura-se como grande diferencial, como gerador capital de impacto.
Portanto, torna-se estratégica a função de gerir pessoas, e mais, gerir para e
com pessoas. Chiavenato fala:
Administrar com as pessoas – consideradas agora parceiras do negócio e não mais meros recursos empresariais – passou a ser o mais importante desafio das empresas em plena Era da Informação. Em uma época em que a globalização, a competição, o forte impacto da tecnologia e as céleres mudanças se tornaram os maiores desafios externos, a vantagem competitiva das empresas está na maneira de utilizar o conhecimento da pessoas e colocá-lo rápida e eficazmente em ação na busca de soluções satisfatórias e de novos produtos e serviços inovadores. A transformação das pessoas – de meras fornecedoras de mão-de-obra para fornecedoras de conhecimento – é a nova revolução que está ocorrendo nas organizações bem sucedidas. Isso decorre de uma nova cultura e de uma nova estrutura organizacional na qual se privilegiam o capital intelectual e o aporte que somente as pessoas podem proporcionar, desde que devidamente preparadas e motivadas para tanto. O talento humano passou a ser tão importante quanto o próprio negócio, pois é o elemento essencial para sua preservação, consolidação e sucesso (Chiavenato, 2005, contracapa).
A legitimação de novas práticas organizacionais dá-se pela
necessidade social oriunda do processo de trabalho, seja na produção de bens
ou de serviços. O redimensionamento do valor das pessoas é uma
conseqüência de percepção de que é o talento humano o responsável pela
mais eficiente utilização de todo e quaisquer recursos materiais e/ou
38
tecnológicos. Tornou-se impreterível o reconhecimento da importância do ser
humano como não somente um executor de tarefas, mas como um ser pleno,
dotado da capacidade de criação. O ser humano é o diferencial. Daí a
necessidade de um ambiente de trabalho agradável, de uma cultura
organizacional que preze a Qualidade de Vida no Trabalho, que esteja atenta
para a retenção de talentos, para o estímulo das potencialidades de seus
profissionais, mantendo um canal de comunicação efetivo, afetivo e
democrático, enfim, estabelecendo um ambiente de trabalho o mais prazeroso
possível, o que não necessariamente demanda custos elevados. A adequação
de cada pessoa à função por ela desenvolvida é um passo significativo
aparentemente simples, mas que requer do gestor de pessoas um olhar
apurado, atento e sensível. A conexão entre habilidade, conhecimento,
performance, experiência, cargo influem para que as metas organizacionais e a
perenização da própria organização sejam atingidas. A pessoa certa, no local
certo irá desempenhar sua função de forma prazerosa, criativa e eficiente, pois
estará em conectividade.
O sentimento de satisfação é alcançado pela valorização do trabalho
que o indivíduo realiza, pela expressão de sua criatividade, por uma relação de
diálogo, por um bom relacionamento entre os colegas de trabalho, pelo impacto
positivo que a organização tem perante a sociedade (por exemplo,
organizações que priorizem a responsabilidade sócio/ambiental). É necessário
repensar as práticas de gestão de pessoas. Chiavenato distingue assim os
modelos de gestão:
Modelo clássico: ênfase na tarefa e na tecnologia; fundamentado na estrutura organizacional; busca da eficiência pelo método e racionalização do trabalho; preocupação com o conteúdo do cargo; baseado em ordens e imposições; trabalhador executa e obedece; conceito de homo economicus; recompensas salariais e materiais.Modelo humanístico: ênfase na pessoa e no grupo social; fundamentado na interação e na dinâmica de grupo; busca da eficiência pela satisfação das pessoas; preocupação com o contexto do cargo, isto é, com seu entorno social; baseado em comunicações; trabalhador participa das decisões; conceito de homo social; recompensas sociais e simbólicas (Chiavenato, 2005, p. 197).
39
Mais uma vez ressaltamos que não é mais viável que o ser humano,
com suas necessidades, suas aspirações e potenciais seja preterido, pois ele é
sem dúvida um diferencial competitivo de mercado; é um valor por si só e um
gerado de valores para o contexto em que se encontra. De fato, o resgatar dos
ideais éticos e espirituais que compõem a ecologia social, a visão integradora
holística e sistêmica aponta para o desenvolvimento da pessoa humana ou
“capital humano”.
Stephens em concordância com os pensamentos de Maslow afirma:
Os seres humanos são capazes de aquisições extraordinárias... trabalho em equipe, muito embora imperativo para resultados gerenciais é uma fonte negligenciada de comunidade e de estima pelas pessoas... a política de gerenciamento esclarecido não apenas aperfeiçoa os produtos e lucros por cota de ação; ela aperfeiçoa pessoas e, dessa forma, melhora o mundo (Apud Maslow, 1970, prefácio).
Abraham Maslow, renomado psicólogo, realizou entre tantos estudos
uma teoria acerca da hierarquia das necessidades humanas, abordando o
trabalho auto-realizável. Para ele o potencial humano era um território ainda
inexplicado e subestimado. O conceito por ele criado é caracterizado por uma
pirâmide em cuja base encontra-se a necessidade fisiológica, seguindo-se as
necessidades, de segurança, social, estima e no topo a auto-realização. O
cerne da teoria das necessidades humanas é a organização destas
hierarquicamente. Por exemplo, a sobrevivência, alimentação, o abrigo
localizam-se na base da pirâmide. Na seqüência dos níveis da hierarquia deste
autor estão a necessidade de segurança, interação social e especialmente a
necessidade de aprender, crescer e alcançar seu potencial; sendo estas as
necessidades superiores. Quando as necessidades básicas são razoavelmente
satisfeitas, as superiores passam a ter uma maior influência na motivação do
comportamento humano. Ao contrário, quando às necessidades básicas estão
insatisfeitas, a aprendizagem, a criatividade, a inovação e a auto-estima ficam
estagnadas, não emergindo a superfície. Maslow prioriza a auto-realização do
ser humano:
40
...O que o homem pode ser, ele deve ser. A essa necessidade podemos dar o nome de auto-realização. Refere-se ao desejo do homem de auto-preenchimento, isto é, há tendência que ele apresenta de se tornar, em realidade, no que já é em potencial; tornar-se tudo aquilo de que uma pessoa é capaz (Maslow, 1970, p. 1).
Entretanto, Bill O’ Brien, presidente da Hanover Insurance enfatiza
que é necessário disponibilizar ainda mais do que a satisfação das
necessidades propostas por Maslow para assegurar um comprometimento
genuíno, é preciso fomentar o auto-respeito e a auto-realização.
A questão da interação e da sociabilização, um clima organizacional
positivo influem também na motivação dos indivíduos que compõem a
organização. A gestão de pessoas numa organização que preze o trabalho
auto-realizado certamente comporá um ambiente propício para a
aprendizagem, para a formação e integração de equipes com alto
desempenho, além de estabelecer uma atitude dialogal, afetiva, ética e
democrática. A aplicabilidade das visões sistêmica e holística é fundamental
neste contexto. O conhecimento e a gestão do cliente interno/colaborador é tão
ou mais importante que o conhecimento de mercado. O foco no bem-estar das
pessoas contrasta com o conceito meramente mecanicista, hoje defasado.
Velhos paradigmas são abandonados gradualmente. A própria conceituação de
trabalho começa a ser repensada. Para o pesquisador Daniel Yankelovich:
“Pessoas ou objetos são sagrados no sentido sociológico quando, a despeito
de qualquer uso instrumental que possam ter, são valorizados por serem quem
são” (Apud Peter Senge, 2005, p 172).
Muitas vezes conceitos e teorias aparentemente utópicos, se
encontram na origem da mudança de mentalidade, que é o princípio para que
novas atitudes se manifestem no mundo da prática. É fundamental que existia
uma centelha, pois é a partir desta ainda tênue luz, que se percebe a
necessidade de mudança e quais os caminhos e os passos para a
resignificação em busca um estado melhor. Isto vale para tanto para os
aspectos individuais, quanto para os sociais. O mundo organizacional está
obviamente inserido no coletivo, na sociedade. Conforme falamos no início
41
desta monografia, propondo o enfoque em Conectividade, organizações são
compostas por pessoas, por isso mesmo o modo como se dão as relações
interpessoais é fundamental. A mudança de paradigma da Era da Informação
ao classificar pessoas como receita ao invés de custos é substancial. Os
termos “capital humano” e “capital intelectual” em organizações que primam
pelo conhecimento estão em concordância com o novo enfoque de pessoas
como fontes de receita e possuidoras de “ativos intangíveis”. Detalhando três
componentes dos ativos intangíveis está Chiavenato:
1) Competência dos funcionários. Envolve a capacidade de agir em diversas situações para criar ativos tangíveis e inatingíveis. Embora a competência individual não seja propriedade da organização, a não ser da pessoa que a possui, ela deveria ser incluída no balanço patrimonial dos ativos intangíveis, pois é impossível conceber uma organização sem pessoas. Nas organizações de conhecimento existe pouco equipamento além de funcionários. É o caso da Microsoft. Todos os ativos e estrutura – sejam tangíveis ou intangíveis são resultado das ações humanas. Todos dependem das pessoas para continuar a existir. As pessoas conseguem expandir seu mundo através de meios tangíveis (quando adquirem bens ou fazem coisas concretas) ou de meios intangíveis (quando geram idéias ou desenvolvem relações com organizações ou outras pessoas). A responsabilidade gerencial está em desenvolver os ativos da organização. A dificuldade aparece quando os ativos mais valiosos não são materiais e concretos, mas intangíveis e, portanto, invisíveis.2) Estrutura Interna. Envolve marcas, patentes, modelos e sistemas administrativos e de computadores, todos criados pelos funcionários e que pertencem à organização ou podem ser adquiridos ou alugados. A cultura organizacional faz parte da estrutura interna. A estrutura interna e as pessoas constituem o que chamamos de organização. Mas são pessoas que criam a organização por meio da interação mútua.3) Estrutura externa. Envolve relações com clientes e fornecedores, bem como com outras organizações. Reputação e imagem da organização estão incluídas nesse conceito. O valor desses ativos depende do grau de satisfatoriedade com que a organização soluciona os problemas de seus clientes e demais elementos do ambiente externo (Chiavenato, 2005, p. 510).
Há uma forte tendência da atualidade globalizada, a de
administração com as pessoas, que vai além do enfoque de pessoas como
mais um recurso da organização, que por seu turno já foi um passo a diante
comparando-se às décadas de 1950, 1960, 1970, 1980. O indivíduo foi
designado como empregado, funcionário, colaborador, até que um novo perfil e
um novo posicionamento que vai se delineando, o do ser humano como
parceiro interno. Isto faz parte de um processo que abrange mudança de
42
mentalidade, de valores, de exercício da criatividade, de pró-atividade, de
interação, de coesão, de conectividade, de comunicação, de trabalho em rede,
de gestão do conhecimento. Senge alerta que “uma visão compartilhada não é
uma idéia “ é uma força no coração das pessoas, uma força de impressionante
poder”. Se uma organização estimula um sentimento de pertencimento,
mantém um ambiente o mais agradável possível, com políticas que priorizam o
ser humano, e se busca a aprendizagem, certamente será o cenário fecundo
para que se manifestem as visões compartilhadas. Ou seja, pessoas
partilhando idéias e ideais, havendo comprometimento, já que se sentem
conectadas.por interesses em comum. Estarão de fato entusiasmadas,
“vestirão a camisa”. Uma visão compartilhada implica em sentimento, vibração,
interação. Estão unidas em torno de um objetivo. É o tipo de atitude que só
funciona plenamente se não for imposta. É imprescindível que as pessoas
sintam que é através de determinados procedimentos de trabalho e pessoais
que a visão compartilhada será atingida. É um estado de espírito que envolve
motivação, valorização, integração e compartilhamento. É um estímulo às
novas experiências, novas maneiras de agir, à coragem, na medida em que o
novo quase sempre abrange riscos.
Conforme Peter Senge exemplifica: “As visões compartilhadas
estimulam a coragem de uma forma tão natural que as pessoas nem percebem
a extensão de sua coragem. Ter coragem é simplesmente fazer o que for
necessário para realizar a visão”. O estabelecimento das visões compartilhadas
não é algo rápido, nem fácil. É de uma visão pessoal que se originam as visões
compartilhadas, sendo fundamental que haja estímulo genuíno, sem
autoritarismo, por parte da organização para que isso ocorra. O líder que
exerce uma “liderança visionária” estabelece um ambiente propício ao
compartilhar com os demais as suas visões, deixando-os à vontade para
manifestarem suas idéias. Há uma atmosfera de parceria, de co-criação, de
engajamento. As visões pessoais ou compartilhadas, paralelamente a um
estado de “tensão criativa”, mantêm-se a atenção tanto no momento atual
quanto no estágio desejado, havendo equilíbrio, portanto. Coragem, idealismo,
força, equilíbrio, criatividade, cooperação. Palavras que nos levarão para o que
43
o autor concebeu como “as cinco disciplinas” fundamentais para uma
“organização que aprende”.
São estas disciplinas denominadas de modelos mentais;
pensamento sistêmico (abordado no capítulo I); maestria pessoal;
aprendizagem em equipe; visão compartilhada (a qual já falamos um pouco).
As “disciplinas” propriamente ditas representam valores que se convertem em
atitudes constituintes das “organizações que aprendem”; estas são ainda um
estado de proficiência alcançado pelo desenvolvimento de várias técnicas,
habilidades e práticas. Vamos a compreensão do significado de cada disciplina.
Maestria ou domínio pessoal implica em perceber e expressar a vida de
maneira criativa, com a mente aberta e com padrões espirituais. Essa postura
permite que sejam conjugados o anseio de aprendizagem, a definição das
metas a serem alcançadas, a visão do que é desejado com uma visão da
realidade factual. Tal justaposição provoca uma “tensão criativa” que deve levar
ao objetivo desejado. Transcende a acumulação de informações, já que cria
mecanismos para atingir o alvo. É um estado permanente de busca da
aprendizagem, da criatividade. As pessoas dotadas de um grande nível de
maestria ou domínio pessoal possuem maturidade, auto-conhecimento, ou
seja, sabem das suas capacidades e deficiências. Desenvolvem a sensibilidade
para se aliarem às condições de mudança quando assim necessário, sem
perder sua singularidade, entretanto. Existe um equilíbrio entre o aspecto
pessoal/criativo e o contexto da realidade. São mais comprometidas, intuitivas
e conectadas com as outras pessoas. Desta forma, as pessoas com alto grau
de domínio/maestria pessoal contribuem tanto para potencializar suas
capacidades individuais quanto para elevar o desenvolvimento organizacional.
Cabe destacar que todas as “disciplinas” se complementam entre si e que
florescem através da prática, além de ampliar o horizonte daqueles que as
praticam.
A disciplina modelos mentais diz respeito imagens internas
impregnadas na mente que influem em nossa conduta, geralmente limitando-a.
Por ser um mecanismo interno, é sutil, daí a importância de que se tenha
44
conhecimento de sua dimensão, de sua figura, par que não sejam
automaticamente seguidos, que tomemos consciência de quais são estes
modelos para quando preciso for modificá-los.
A disciplina visão compartilhada é trabalhada em grupo, um
compromisso em comum. Já o pensamento sistêmico, que foi abordado com
maiores detalhes do Capítulo I, dentro da organização, implica em considerar
todos os elementos e inter-relações, em sincronicidade, que compõem e
afetam um sistema. A aprendizagem em equipe propõe a aprendizagem
colaborativa, ao estimular o diálogo, a troca de idéias e conhecimentos,
instaura segundo D. Bohn “um fenômeno em grande parte coletivo”.
As disciplinas aprendizagem em equipe, onde há alinhamento, e
visão compartilhada, onde há comunhão de propósito, devem ter seus
pressupostos compreendidos pelos grupos, pois possuem um caráter grupal.
As cinco disciplinas podem ainda serem analisadas sob três ângulos distintos:
o das práticas, o dos princípios e o das essências. A Gestão de Pessoas em
Conectividade absorve todos os conceitos citados; a valorização do ser
humano, seu reposicionamento dentro da organização.
45
CAPÍTULO IV
ORGANIZAÇÕES EM CONECTIVIDADE
Sendo as organizações compostas por pessoas e para pessoas, a
busca do equilíbrio, do alinhamento das relações entre estas é fundamental.
Na nova era da administração, onde o ser humano deve ser
reconhecido como o real valor para a perenização das organizações, deve ser
buscada, prioritariamente, a fusão de interesses dos distintos elementos/
pessoas que a compõe, sem detrimento da necessidade genuína de geração
de capital de impacto, da produtividade, do lucro. Isto está intimamente ligado
com a forma de como se relaciona o “ser” empresa/ instituição com os seres
humanos que são seus clientes primevos ou clientes internos. E também o
contexto em que esta empresa está inserida, a sua postura para com seu
entorno tanto no aspecto social quanto no aspecto ambiental. Reforçamos aqui
a relevância da aplicabilidade das teorias sistêmica, fenomenológica, dialógica
e da visão holística.
A conectividade enquanto valor constrói uma práxis de unidade na
diversidade. Os sujeitos envolvidos, a saber, indivíduo, empresa, sociedade,
mundo, continuamente interagem, pulsam cada um com seu ritmo peculiar,
porém em sintonia, em troca, em coesão, em conectividade. As necessidades
individuais e a das organizações podem conviver e convergir. Enfatizar os
pontos em comum é tão necessário quanto à promoção do crescimento oriundo
do conhecimento e da aceitação das diversidades.
Em conectividade vemos as organizações como um organismo vivo,
cujos elementos se conectam, se apóiam, se ajustam. Há o reconhecimento ao
ser humano, com suas potencialidades, como um ser criativo, responsável,
versátil, cuja ação na empresa, se devidamente motivado e reconhecido, pode
influenciar o progresso e o andamento da organização, na medida em que
46
cresce em experiência e conhecimento pelo estímulo à sua capacidade inata e
seu crescimento pessoal e profissional.
Neste sentido Manãs diz:
... é parte de meu grande interesse pessoal que se soma à experiência e discernimento sobre como fazer as pessoas, principalmente dentro das organizações, utilizarem a capacidade que obviamente possuem e, claro, podem melhorar no sentido de beneficiar a si, ao grupo a que pertencem, à organização onde convivem e ao cliente do qual de alguma maneira dependem; formas práticas de pensar, usando holística, criatividade e lógica, aos problemas rotineiros e suas soluções, estabelecem um elo de ligação com a história evolutiva da tecnologia, seu casamento com a ciência e mais tarde com a sociedade em geral ... (Manãs, 1993).
Neste enfoque fica delimitada a conectividade entre razão, intuição,
técnica, criatividade, o Eu-Tu, o Eu-Nós da Dialógica de Martin Buber em
sentido mais amplo, no qual a ecologia social tem papel fundamental.
As organizações metanóicas, as “organizações que aprendem”, a
gestão holística, a gestão participativa, a gestão em rede são exemplos
bastante positivos da globalização de manifestação de conectividade. Quando
citamos estes tipos de gestão pressupomos que já houve um processo de
mudança organizacional, um desmoronamento de velhos paradigmas e um
direcionamento em busca da construção de novas práticas organizacionais
com predominância da ecologia social, termo citado por Peter Drucker.
Surgem questionamentos como o que é uma sociedade funcional e quais são
os fatores intrínsecos ao seu funcionamento, quais os posicionamentos e
funções do indivíduo, que se relacionam com os impactos e transformações
decorrentes da evolução da era da informação e seus impactos sociais.
O emergir de uma sociedade do conhecimento, portanto a ascensão
do trabalhador do conhecimento, do ecologista social e, sobretudo a ratificação
da esperança, colocações estas elaboradas por tal mestre (Drucker), são para
dizer o mínimo, um incentivo pujante para a busca de uma nova ótica e de um
novo posicionamento relativo às políticas e práticas organizacionais.
47
Arie De Geus, ex-executivo da Shell, realizou na década de 1980 um
estudo sobre a perenização organizacional, tendo sob análise várias
empresas com mais de cem anos de existência, portanto sobreviventes a uma
série de mudanças no mundo ao seu redor e mesmo assim mantendo sua
identidade e força empresarial. O autor questionou quais seriam os aspectos
em comum entre estas distintas organizações. Notou uma similaridade entre as
organizações e as “entidades vivas” e identificou basicamente dois grupos de
características.
Primeiramente o aspecto da acentuada identidade coletiva, do senso
grupal, o que propicia a elaboração de valores compartilhados e sentimento de
pertencimento. O outro grupo de características diz respeito ao relacionamento
com o mundo, com a aceitação de novos membros na organização, as
inovações que envolvem criatividade, aprendizagem, flexibilidade e a
capacidade de adaptação perante circunstâncias inesperadas. Estas são
características da “empresa aprendiz” a qual Peter Senge aborda em “A Quinta
Disciplina”, 2005.
De Geus contrapõe a “empresa aprendiz” ou a “empresa viva” a
“empresa econômica”, destacando que os gestores devem “mudar suas
prioridades, de administrar empresas a fim de otimizar o capital para
administrar empresas a fim de otimizar as pessoas” (Apud Capra, 2002, p.116-
117).
A “teoria z” de Maslow, os estudos sobre os metavalores, cuja
origem advém da palavra grega Metanóia que significa mudança da mente, ou
da mentalidade, a proposta de das organizações metanóicas desenvolvida por
Charles Kiefer e Peter Senge propõem a adesão a valores éticos como a
justiça, a bondade, a simplicidade, a transparência, a honestidade. O
entendimento do termo metanóia implica na compreensão mais visceral do
significado de aprendizagem. As organizações necessitam do exercício da
aprendizagem para o seu desenvolvimento.
48
A real aprendizagem não é unicamente um processo intelectual,
envolve a nossa relação com o mundo sendo algo criativo, abrangendo
emoção, expansão, recriação, reflexão. Daí sua íntima ligação, ou
conectividade, com a mudança de mentalidade.
“Meta”, acima ou além-transcender, a mente “nous” raiz de “nóia” em
grego, significa transformação da mentalidade; para os cristãos gnósticos
metanóia implica numa percepção ou intuição compartilhada acerca de Deus e
dos valores espirituais. Já Maslow afirmou que o despertar destes valores dá-
se por meio de uma experiência culminante de intuição- “peak experience”-
onde o ser empresário tem uma ampliação de consciência. Ele, empresário,
primeiramente um ser humano, então transpõe esta sua pessoal experiência
culminante de intuição para seu cotidiano organizacional, surgindo assim novos
conceitos e práticas de gestão.
Por exemplo, as “organizações que aprendem”, como Senge
designa as organizações que buscam expandir as capacidades e percepções
individuais, grupais e organizacionais. Nelas a busca constante por
desenvolvimento e aprendizagem mediante a experimentação consciente de
novas práticas são norteadas sempre pela percepção sistêmica de mundo e
pela prática das “cinco disciplinas” propostas por Senge em “A Quinta
Disciplina”. As “organizações que aprendem” assim o são porque as pessoas
que a compõem estão em processo de aprendizado contínuo. A aprendizagem
do indivíduo não é necessariamente uma garantia de aprendizagem da
organização, entretanto se isto não acontece, a aprendizagem organizacional
fica comprometida. Confirmamos no entrelaçamento dos elementos, a
relevância da sinergia, da conectividade, presentes na teoria sistêmica, no
trabalho em rede, na visão do holos -do todo não fragmentado.
As “organizações que aprendem” envolvem o comprometimento com
o ser humano, seja este descrito poeticamente tanto por Kazuo Inamori,
fundador da Kyocera, como “Respeite o céu, ame as pessoas” quanto por Bill
O´Brien, presidente da Hanover Insurance, na afirmação de que as
49
organizações precisam perceber “a natureza quase sagrada de sua
responsabilidade pela vida de tantas pessoas”
Senge em “A Dança das Mudanças”, 1999, usa a expressão
“mudança profunda” para designar mudanças organizacionais que abrangem
transformações internas, a nível de valores, aspirações pessoais, e, externas, a
nível de estratégias, processos, práticas. A conjugação dos aspectos internos e
externos denota a base ou o fundamento da “mudança profunda”.
Ciclicamente, o mundo e suas civilizações conhecem o que
poderíamos chamar de epifania social. Esta palavra vem do grego
“epiphaneia”, significando aparecimento. Epifania (como substantivo) é um
aparecimento de Deus ou a manifestação de um ser divino. Como verbo,
epifania é a súbita realização do ser divino trazendo um salto intuitivo de
entendimento. Nossa epifania social refere-se a este salto de entendimento de
como melhorar o mundo; a intuição de uma mudança de rumos entre as
interligações humanas; uma revelação entre o mundo atual, o mundo do futuro,
e a oportunidade do aqui e agora. Às vezes essa epifania acontece com um
povo, com um grupo, com uma religião, com uma organização, com um
inventor, cientista ou artista, ou mesmo com um indivíduo comum. Através de
sua intensidade, como também da conectividade, ou esfera de influência, ela
se expande ou se restringe. Com isso são realizados saltos quânticos que
abalam as estruturas, a ordem pré-estabelecida, que sacodem os indivíduos,
que modificam os conceitos, que fazem desabar os muros de Berlim.
Estimulam a fraternidade entre povos, seres, raças e credos. Outras
vezes fazem aflorar valores preservados somente pela tradição oral de
civilizações e povos muito antigos, desaparecidos geograficamente, revestidos
com a força de novos paradigmas que devem orientar uma nova sociedade,
sacudindo-a da poeira e da mesmice da força do hábito; resistência às
mudanças; preguiça e comodismo intelectual.
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Há também o medo do desconhecido, fazendo com que as pessoas
e organizações se cristalizem numa zona de conforto, baseados numa falsa
segurança em manter o que sempre foi ignorando os sinais de advertência que
antecedem essas epifanias que apontam para novos rumos.
Kiefer e Senge afirmam que “indivíduos alinhados em torno de uma
visão apropriada podem ter uma influencia extraordinária sobre o mundo”
(Apud Pierre Weilll, 1997, p.60).
São várias as teorias, as visões, os autores que apontam para a
mudança de paradigma, entre físicos, filósofos, ecologistas, matemáticos,
cientistas, químicos, executivos, biólogos, psicólogos.
Peter Russell alerta para uma revolução da consciência interna, uma
“luz de conhecimento” que parte de dentro para o mundo externo, criando uma
“supernova” consciência que inclui conviver em paz e que irá se refletir na
externalização do amor.
O mesmo autor disserta:
As organizações que sobreviverem nos próximos anos serão aquelas que se dispuserem a abandonar atitudes inadequadas e a responder criativamente às pressões de mudança. Isto se aplica a todos os tipos e níveis de organização - desde as governamentais e comerciais até as familiares e comunitárias; o desenvolvimento destas habilidades não só exige treinamento mas também a compreensão de nósmesmos. As pessoas precisam aprender a lidar com seus conflitos, administrar suas atitudes, forças e fraquezas, compreender e usar seus processos criativos, é necessário um treinamento de habilidades de auto-administração (Debates Sociais, 2002).
Maslow chama atenção para o “respeito taoista” que significa não o
controle das outras pessoas, porém o respeito e o encorajamento para ajudá-
las em suas próprias escolhas. Tratando-se de gerenciamento, o “respeito
taoísta envolve um esforço ativo para responder a todo feedback através da
melhoria das alternativas a partir das quais a escolha será feita” (Apud
Stephens, 2003, p. 155).
51
O autor ressalta que o estabelecimento de uma atitude democrática
nas organizações denota tanto disposições sociais quanto o emergir do caráter
de uma nova liderança, sempre respeitando as outras pessoas. Isso pode ser
comparado com a disponibilidade acerca do outro, incluindo amor, ou mesmo
compaixão. O desejo sincero de ouvir o outro, de receber o verdadeiro
feedback (o retorno ou resposta sobre algum assunto), abre caminho para que
novas possibilidades ocorram. É necessário gostar do ser humano, crer no seu
desenvolvimento, na sua natureza como um enorme potencial. Isso trará
satisfação genuína pelo crescimento, realização e felicidade dos indivíduos
para aqueles que de fato apreciam o ser humano, com sentimento fraternal
grupal e social.
A liderança autoritarista, ego centrada vai sendo substituída, sob tal
ponto de vista, por uma liderança participativa, de cunho holocentrado-centrado
no todo.
Segundo P. Weilll, este tipo de liderança prioriza a pessoa, a
produção e a plenitude.
Pensar globalmente; agir localmente; integração líder/colaborador,
visão da sociedade e do indivíduo; ética profunda; cooperação; trabalho em
rede; transparência; lucidez, equilíbrio emocional; encarar conflitos como
oportunidade para o diálogo e a aprendizagem; capacidade analítica e de
síntese; ênfase aos valores superiores como perdão, compreensão e
compaixão. Estes são os novos paradigmas de liderança.
Para Kapaz :
... Começa a evoluir em relação ao empreendedor, a nível de valores, isto é, no nível dos sentimentos, e de novas formas de pensar, de outras concepções em relação ao mundo dos negócios e do seu papel na sociedade. O lucro, por exemplo, deixa de ser o objetivo único da empresa e insere-se num conjunto de outras preocupações também tão importante. A rentabilidade deixa de ser vista como um fim em si mesma, passando a ser vista como conseqüência de uma “administração competente e, principalmente, o instrumento necessário para o empresário revitalizar seus negócios e melhor
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remunerar os diversos públicos ligados aos seus empreendimentos, principalmente os trabalhadores. Outra característica deste empresário é a concepção do negócio dentro de um enfoque social, comunitário e cultural, administrando suas empresas como um conjunto de atividades identificadas com o ambiente e a época em que ele opera. Uma das medidas dentro desta vocação comunitária é conduzir os seus negócios com ética, com um profundo respeito aos diversos públicos ligados à empresa... o verdadeiro patrimônio desta organização passa a ser representado pelas pessoas que trabalham com ela e por aquelas para as quais ela trabalha. O esforço do empresário transcende as quatro paredes da organização, havendo da parte dele uma forte motivação de contribuir para o desenvolvimento da comunidade, quer tendo uma participação mais ativa na vida de suas entidades de classe, quer exercendo uma sadia atividade política. Não necessariamente a política partidária, masaquela que advém de uma conscientização maior de sua importânciadentro do contexto social (Kapaz, Gazeta Mercantil de São Paulo, 21.12.1989).
Quando não enfatizamos o pensamento racional, linear, cartesiano,
abrimos espaço para um raciocínio muito mais amplo que funde razão e
intuição, o eu/ nós e o todo em conectividade, como propõe o pensamento
sistêmico. A intenção é conectar o pensamento racional com a intuição inerente
ao ser humano por tanto tempo sufocada e incompreendida.
Eisntein afirma: “Jamais descobri coisa alguma com minha mente
racional”; (Apud Senge, 2005, p. 196).
Ao ampliarmos nossa percepção em relação à realidade não nos
paralisamos ante o aspecto meramente factual desta; as idéias, filosofias,
teorias, tomam corpo concreto como sistematização de movimentos
organizacionais. As empresas estão cada vez mais percebendo que a adoção
comportamentos fundamentados na ética, cidadania, transparência,
responsabilidade social/ambiental, geram negócios lucrativos.
A cidadania organizacional, a chamada Responsabilidade Social
Empresarial-RSE. pode ocorrer externamente ou internamente. Quando é
voltada para o público interno, os funcionários e suas famílias é a gestão de
RSE interna. Ao promover um ambiente melhor de trabalho e afetar
positivamente também os dependentes do trabalhador, há um aumento
significativo no âmbito motivacional. Isso gera menor absentismo, portanto
53
maior lealdade, empenho e produtividade. Como gestão da responsabilidade
social interna incluem-se os investimento no bem-estar do funcionário e de
seus dependentes programas de assistência médica, odontológica, social,
alimentar, de transporte,de remuneração e participação nos lucros, planos de
previdência, de capacitação, treinamento, qualificação e formação,cursos
externos, desde níveis médio à graduações e pós-graduações
Quando falamos Serviço Social, Recursos Humanos e Organizações
– Conectividade, falamos de como todos os segmentos podem estar coesos,
sem perder a singularidade; interagir, trocar; falamos de sinergia, de
transdiscipilnariedade; do relacionamento intra e inter-pessoal. Movimento,
ação, trânsito, troca, inclusão e diálogo entre os distintos seres humanos que
compõem uma organização refletem o valor conectividade.
O termo transdisciplinariedade foi criado por Jean Piaget,
representando uma resposta à crise de da fragmentação das inúmeras
disciplinas e suas interfaces.
Nicolescu acrescenta:
Tal como toda ciência, a nova transdiciplinariedade jamais irá vincular certezas absolutas, mas, através de um permanente questionamento do real. Levará á elaboração de um enfoque aberto, em permanente evolução, nutrindo-se de todos os conhecimentos humanos e recolocando o homem no centro das preocupações do homem (Apud Weilll, 2000, p.85).
Então a gestão de pessoas, ou administração de pessoas, assume
importância estratégica. E estratégia organizacional diz respeito à maneira de
relacionamento e integração adotada pela organização com o mundo no qual
está inserida, ou seja, a sua postura global em conectividade. A organização
precisa conhecer os aspectos culturais, econômicos, tecnológicos, sociais, do
ambiente que a circunda e com o qual se relaciona, identificando quais os
riscos e quais as possibilidades. O mesmo se dá internamente; é necessário
profundo conhecimento de sua própria estrutura gerencial, pessoal, financeira,
de quais recursos dispõe. Este conhecimento é imprescindível para definir a
54
missão e sequencialmente a visão organizacional. Aí parte-se para a
formulação da estratégia que levará ao alcance dos objetivos.
Estratégia segundo Chiavenato:
É definida pelo nível institucional da organização, quase sempre, através da ampla participação de todos os demais níveis e de negociação quanto aos interesses e objetivos envolvidos. É projetada em longo prazo e define o futuro e o destino da organização. Nesse sentido ela atende a missão, focaliza a visão organizacional enfatiza os objetivos organizacionais de longo prazo. Envolve a empresa em sua totalidade para obtenção de efeitos sinergísticos. Isto significa que a estratégia é um mutirão de esforços convergentes, coordenados e integrados para proporcionar resultados alavancados.Na verdade a estratégia organizacional não é a soma das táticas departamentais ou de suas operações. Ela é muito mais do que isso. Para obter sinergia, a estratégia precisa ser global e total e não um conjunto de ações isoladas e fragmentadas. É um mecanismo de aprendizagem organizacional, através do qual a empresa aprende com a retroação decorrente dos erros e acertos nas suas decisões e ações globais (Chiavenato, 2004, pp.70-71).
O que pereniza a estratégia organizacional é o engajamento, a
participação, a pro - atividade das pessoas que compõem a organização. Se a
compreensão da estratégia se der unicamente entre a alta cúpula, dificilmente
será mantida pelos outros membros.
É vital que haja clareza da estratégia para que todos sejam
mobilizados, motivados, para validar e alimentar a estratégia organizacional.
Como vemos, a estratégia é alinhada ou conectada com a gestão de pessoas.
Reforçando, é a práxis das teorias sistêmicas e holísticas absorvidas pelo valor
conectividade dentro de uma nova era organizacional, desde o líder/alta
cúpula, perpassando para todos componentes da organização.
Exemplificando a visão estratégica no conceito de conectividade
está a “estratégia do golfinho”, que será mais adiante descrita, assim como as
organizações metanóicas e as organizações holísticas representam
igualmente a essência das organizações em conectividade.
55
Organizações Metanóicas
Segundo Charles Kiefer e Peter Senge, as organizações metanóicas
não só tomaram consciência que os recursos do planeta são limitados e por
esse motivo já estão experimentando sistemas alternativos de gestão
econômica como, através de uma visão comum, estão conectadas entre si por
um princípio unificador – que indivíduos alinhados com uma visão apropriada
podem ter uma profunda influência no mundo.
Esses autores defendem uma filosofia organizacional coerente
através de quatro dimensões primárias: - uma visão compartilhada do futuro e
de seu significado; o alinhamento de todos os participantes em torno desta
visão; uma focalização da organização como sendo de ordem sistêmica, e
portanto, de grande complexidade; o equilíbrio entre a tendência racional de
acreditar em um modelo tradicional e a flexibilidade de espírito para admitir a
interação da organização com seu meio ambiente.
Analisando empresas que através desse enfoque específico
melhoraram a qualidade de seus produtos e aumentaram seus lucros, Kiefer e
Senge partiram da premissa que as pessoas são fundamentalmente honestas,
boas e confiáveis. E propuseram alguns conceitos e princípios básicos comuns
encontrados nestas organizações. As pessoas, através do trabalho procuram
atualizar seu pleno potencial, valorizando aquisições não apenas materiais,
mas também estéticas, éticas e espirituais, como liberdade, igualdade,
fraternidade, justiça, altruísmo etc.; cada pessoa tem um talento próprio, uma
contribuição única a dar, e a empresa pode estimular e ajudar a encontrar o
sentido de sua contribuição; problemas complexos exigem soluções locais,
havendo portanto necessidade de descentralizar as decisões e incentivar a
criatividade autônoma, para que nem todas as decisões precisem ser tomadas
pelo topo da organização; liderança participativa, compartilhada e consciente
dos objetivos da empresa; o espírito da cooperação substituindo o da
competição, ajudando a somar esforços em torno dos objetivos; compreensão
conjunta da necessidade de uma sociedade sustentável, na qual os interesses
56
da empresa, devem ser compatíveis com os do meio ambiente e o bem estar
de todos.
Kiefer e Senge puderam comprovar que as empresas que têm
seguindo essas normas, têm demonstrado que honestidade, responsabilidade
e liberdade geram bons negócios. A responsabilidade social e o
desenvolvimento de normas comerciais éticas e sadias fomentam o bem estar
não só dessas empresas e de todos os seus componentes, como também das
comunidades a elas ligadas.
Organizações Holísticas
Têm como um de seus objetivos principais dar um enfoque mais
ético à prática empresarial; uma maneira de humanizar e harmonizar a vida de
negócios e criar novos valores que tornam as empresas capazes de responder
ao desafio da sobrevivência, tanto a nível individual, quanto coletivo. Nesse
atual clima social e econômico em plena mudança, cada vez mais um
crescente número de pessoas e organizações começam a questionar os velhos
valores do complexo mundo de negócios e jogo de interesses, procurando
perspectivas mais saudáveis e mais compatíveis com valores mais elevados.
Nesse sentido, existem projetos de vários grupos e empresas que procuram
nortear seus empreendimentos dentro de conceitos mais conectados com o
bem comum, no qual tanto a organização/seus integrantes, quanto o meio
ambiente/sociedade são engrandecidos.
Para Weill
a iniciativa financeira, que está envolvida com investimentos éticos; novas iniciativas, que estimulam relações comunitárias cooperativas de negócios, bem como iniciativas pessoais; grupo que desenvolvem roteiros para viver em harmonia ecológica (Weill, p. 61).
Weill cita um dos organismos mais antigos que consiste em uma
“rede de negócios”, um verdadeiro forum para ajudar os múltiplos propósitos de
uma progressista visão empresarial. Refere-se a “The Business Network” e
57
seus postulados: - providenciar uma abordagem integrada ao mundo dos
negócios que seja consciente das necessidades do indivíduo, do negócio, da
comunidade e da base ecológica, e que dá valor igual a cada um destes
pontos; colocar à disposição um fórum para intercâmbio e o desenvolvimento
de idéias e projetos, e o apoio necessário a fim de transformar a visão em
ação; criar uma rede que encoraje pessoas a encontrar as necessárias
mudanças pessoais e organizacionais geradas por um mundo em fluxo
constante; estabelecer laços e parcerias com grupos complementares e facilitar
o fluxo de idéias e práticas entre o mundo tradicional dos negócios e a empresa
progressista.
Weill, no entanto, ressalta que convém insistir sobre algo
fundamental, que a abordagem holística em administração, como aliás em
todos os domínios da vida, é muito mais a resultante de uma atitude profunda e
comportamento sincero e efetivo do que um simples modelo teórico.
Na concepção holística sobre o mundo empresarial e organizacional,
há uma completa conectividade e valorização entre o todo – o mundo em que
vivemos, o meio ambiente que dá suporte à vida – e as partes, desde os
funcionários aos empresários, desde as pequenas firmas às empresas e
organizações de todos os portes. Há firmas que mudam completamente de
orientação de vida, entrando numa orientação holística. Na orientação holística,
não é focalizado somente o presente, mas também o futuro do planeta, a
preservação da natureza, do meio ambiente e da própria espécie humana.
Existem empresas que compartilham essa filosofia holística, e são vinculadas a
ecologia; a preservação das matas e florestas; a empreendimentos culturais,
artísticos, esportivos e humanitários; a pesquisas científicas. Está crescendo o
consenso entre os empresários de dar prioridade a indústrias que usam
material reciclado.
A visão holística igualmente focaliza a capacitação do ser humano,
seu crescimento interior, aprimoramento profissional, e desenvolvimento de
seus dotes intrínsecos, sua integração e participação na empresa. O
58
empresário, por sua vez é reconhecido como um líder do mundo
contemporâneo, tendo a responsabilidade de incentivar o progresso social e as
comunicações e intercâmbio no mundo de negócios.
A própria pressão da sociedade impulsiona grande parte dessa
mudança, para uma visão mais participativa, na qual o bem estar geral está
conectado com o bem estar individual, assim como o bem estar individual está
vinculado como bem estar geral. No âmbito empresarial há uma conjugação
dos dois eixos: o interesse da organização no sentido de produção otimal, e o
interesse das pessoas no sentido da plena realização de suas motivações.
Um novo fator vem tendo uma atuação bastante significativa, tanto
na vida sociocultural, quanto na vida empresarial e organizacional. Nos
referimos as modificações e reestruturações devidas ao impacto da visão
holística, que transcendem o objetivo material do momento, unicamente o lucro
imediato e a colocação no mercado, para alcançar uma compreensão mais
ampla, quase uma questão de sobrevivência a longo prazo, proporcionando o
florescimento de uma sociedade participativa, coerente, integrada, e uma real
compreensão que qualquer parte da sociedade não conectada com o bem
estar geral, ou seja, suas minorias, especialmente as oprimidas, mais cedo ou
mais tarde, tendem a exigir sua integração, nem sempre de forma pacífica,
como tem sido visto na história da humanidade.
A estratégia do golfinho inserida em conectividade
Dudley Lynch e Paul L. Kordis em “A Estratégia do Golfinho”,1988
afirmam que as pessoas, famílias, organizações, tanto comerciais, quanto
sociais, durante muito tempo tem lidado com o mundo através de duas
estratégias básicas: a do tubarão: voraz e prepotente por índole; predador por
conduta; parte para a luta e busca a conquista do ganho pessoal e a vitória,
mesmo a custa de outros seres, sem se importar com a ética e as
conseqüências, pois para ele, o fim justifica os meios. É intolerante, impiedoso,
de escassa flexibilidade, desconhece a cortesia a não ser que ela lhe traga
59
vantagens. Prefere impor-se aos outros provocando-lhes medo. O tubarão
acredita que tem de haver um perdedor, e nesse caso não pode ser ele.
Começa “devorando” as carpas e depois outros tubarões menores em sua
conquista de poder e riquezas. Quando enfrenta outro tubarão maior que não
pode vencer, procura aliar-se a ele. A outra estratégia é a da carpa: medrosa e
acomodada por natureza, prefere fugir ou imobilizar-se em uma medíocre
segurança. Pouco aberta a novas idéias, limita-se ao já conhecido, já vivido,
com isso evitando fazer novas escolhas, assumir maiores responsabilidades,
correr riscos ou perigo de perdas mesmo que com essa atitude, também se
prive de maiores ganhos. Temerosa dos tubarões, prefere refugiar-se nas
águas com outras carpas; procura tornar-se útil para ter o reconhecimento
delas, embora esse reconhecimento seja ilusório ou efêmero.
Comparando os seres humanos com essas espécies, Lynch e Kords
mostram que esse tem sido o panorama, a co-existência e a estratégia no
mundo dos negócios, bem como nos relacionamentos entre pessoas, famílias,
comunidades, países, dentro do mundo caótico em que vivemos, simbolizando
por ele como “o tanque”. No entanto eles oferecem outra estratégia mais
engenhosa, uma opção mais inteligente, a do golfinho, através de um processo
de pensamento e conduta radicalmente novo de lidar com as questões (em
nosso caso, as humanas) e suplantar comportamentos empresariais obsoletos.
Os golfinhos, como os homens, têm cérebro privilegiado e altamente
desenvolvido, uma grande capacidade de adaptar-se às circunstâncias, tomar
rápidas decisões e seguir novos rumos se as circunstâncias assim o
necessitarem. Flexíveis, generosos e corteses, preferem as soluções
elegantes, a astúcia em vez da prepotência.
Comparando o homem com o golfinho, Lynch e Kordis escreveram:
Com uma torção o calendoscópio mental e emocional, o golfinho (da variedade humana) modifica a natureza, as regras e, talvez, o local onde está se desenrolando o jogo e, até mesmo, os próprios jogadores. Os golfinhos apreciam utilizam, exploram e experimentam ao máximo a capacidade de um cérebro humano plenamente desenvolvido, integrado e altamente social (interiormente) de ajudar a si mesmo e a outros cérebros a fazerem uma avaliação crítica de
60
suas decisões. O resultado é, com freqüência, um oceano de idéias, um turbilhão de possibilidades, um despertar do nosso potencial. (D. Lynch e P.Kordis,1988, p. 16)
Do ponto de vista da conectividade podemos observar que todas
essas possibilidades apontadas acima, serão geometricamente aumentadas e
se tornam ilimitadas, quando um grupo, ou seja, uma rede de conexão, troca
entre si seus talentos e experiências, analisa conjuntamente seus êxitos e
fracassos; completando-se num consenso inclusivo e intrínseco, dentro de um
leque infindável de variantes, como setas dirigidas par um mesmo alvo.
Como os golfinhos, os seres humanos têm a capacidade de integrar-
se no meio dos “tubarões” e das “carpas”, pela sua flexibilidade, inteligência e
astúcia, equilibrando com elegância o cérebro e o coração, a razão e o
sentimento, para como descreveu Lynch no sub-título de seu livro “A conquista
de vitórias num mundo caótico”.
No entanto, a conquista das vitórias, Lynch e Kordis acreditam que
se dará a partir do final da década de 80, na maioria das organizações bem-
sucedidas, pela capacidade de resolver seus desafios e problemas
fundamentais com elegância, e através das informações que deve ter e da
ação com conhecimento de causa.
A conectividade, bem como a estratégia do golfinho, significa
também adaptabilidade, flexibilidade. Adaptabilidade entre os elementos da
rede de conexão; adaptabilidade ao espaço/meio social/mercado de
trabalho/empresa; adaptabilidade às mudanças vertiginosas das novas
tecnologias; adaptabilidade à rapidez do mundo moderno e da necessidade de
muitas vezes serem tomadas decisões rápidas e certas. A adaptabilidade, no
entanto, não prescinde da criatividade individual e trabalho de equipe, que
estimula o crescimento e a troca de talentos e valores entre os diversos
membros de uma empresa, de um empreendimento, de uma organização, de
uma família, tão pouco, a capacidade humana de competir, de se modificar, de
vencer desafios, e mesmo quando necessário, enfrentar e “conquistar vitórias”.
61
A respeito da falta de adaptabilidade B. Fuller afirma:
Os avanços da ciência permitiram agora descobrir que todos os casos conhecidos de extinção biológica foram causados por uma especialização excessiva, cuja concentração exclusiva de genes selecionados prejudica a adaptabilidade em geral. Desse modo, o rápido sumário do especialista, que tem em vista a brevidade, é duvidoso. Enquanto isto, a humanidade tem se privado de um entendimento abrangente. A especialização gerou sentimentos de isolamento, de futilidade e de confusão entre as pessoas. Ela também fez com que os indivíduos transferissem para os outros a responsabilidade pelo pensamento e pela ação social. A especialização gera preconceitos que acabam se agregando na forma de conflitos internacionais e ideológicos, que, por sua vez, têm como resultado a guerra (Lynch, 1988, p. 16).
O conceito da adaptabilidade, entre outras implicações, está
diretamente ligado à sobrevivência. E segundo Lynch, os golfinhos são
sobreviventes. E explica que os golfinhos não medem esforços para avaliar, de
momento a momento, de mês a mês, em que parte da onda (tipo de vida) eles
estão, como estão interagindo com a onda e o que podem esperar da onda
para o futuro. Eles manifestam a capacidade fundamental de buscar novos
caminhos, e o destemor de avançar nesses caminhos.
E acrescentam que “A sincronização é tudo”. Que termos de onda, a
vida, qualquer tipo de vida, está basicamente dividida em três seções: a vida de
um projeto; a vida de um indivíduo; e a vida de um negócio, de um produto, de
uma sociedade. Que os golfinhos/homens sobrevivem em grande parte, porque
sabem aproveitar a onda com um mínimo de tensão (estresse) não produtiva
ou com uma tensão produtiva (eustresse) voltada para um objetivo estratégico.
Que possuem as três características essenciais dos sobreviventes: uma idéia
clara daquilo que pretendem alcançar em seu trabalho ou sua carreira; a
capacidade de receberem surpresas com desafios e revezes como valiosas
experiências de aprendizado, recusando-se a ficar imobilizados pela mudança;
e um sólido senso de que, na maior parte do tempo, eles estão controlando
suas ações e seus significados, em vez de estarem submetidos ao controle
desses acontecimentos.
62
Nós acrescentamos que conectividade também é sincronicidade.
Sincronicidade de propósito e de ação. Sincronização entre o todo e seus
elementos. A pessoa certa, no local certo, no momento certo. O projeto certo,
apresentado da maneira certa, com a linguagem certa, para o público certo. E a
capacidade de reverter esse quadro a ocasião assim o exigir, e mais ainda, a
capacidade de fazer com que os elementos de sua rede de conecção, ou de
sua equipe, acompanhem a adaptação no ritmo certo, em perfeita
sincronicidade.
Citnado Ervin Laszlo:
Não podemos e, talvez, não devemos interferir com o curso da evolução nos domínios da natureza. Quando se trata da evolução nos domínios da história, porém, o caso é diferente. Aqui nós somos os atores e é o nosso futuro que está em jogo (Apud Lynch, Kordis, 1988, p. 81).
No enfoque psicológico e prático da sobrevivência através de
escolhas diferentes para a solução de dilemas que se apresentam no cenário
da vida, tanto pessoal, como nas famílias, empreendimentos, carreiras.
Watzawich escreve:
A incontestada ilusão de temos de fazer uma escolha entre há e não-há é que não existe nenhuma outra saída para o dilema – é justamente o que perpetua o dilema e nos impede de enxergar sua solução que sempre esteve disponível mas que contradiz o senso comum (Apud Lynch, Kordis, 1988, p. 98).
Bem, estar em conectividade pressupõe uma atitude despida de
preconceitos, o que nos conduz ao novo, ao até então improvável, até então
irrealizável. Assim abrimos espaço para a criatividade. A criatividade manifesta-
se em processos, sistemas, atitudes e pessoas, independentemente do grau de
instrução acadêmica destas. Maslow descreve “a criatividade da auto-
realização (AR)” que alguns indivíduos em especial possuem. Estes indivíduos
expressam sua criatividade acentuada mesmo em ações cotidianas, o que as
redimensiona. Segundo o autor são pessoas mais espontâneas, expressivas e
63
naturais, com capacidade tanto para o “concreto, o ideológico, como também
podem ver o genérico, o abstrato, o rubricado, o categorizado e o classificado”.
São indivíduos menos bloqueados e inibidos, expressando suas idéias sem
dificuldade, sem medo do novo, do desconhecido. Combinam a inocência
infantil das crianças seguras e felizes com mentes altamente sofisticadas. Para
Carl Rogers são “indivíduos com plenas funções”.
Certamente alguns profissionais como músicos, escritores,
profissionais cujo trabalho é ligado às artes em geral, exercitam mais seu
potencial criativo, entretanto todo ser humano possui em maior ou menor grau,
um potencial criativo. Às vezes, precisamos vivenciar uma situação de risco
para sairmos da zona do conforto onde estamos instalados, e são nestes
momentos em que nosso potencial criativo aflora. As crises são propícias para
que possamos pensar, repensar, criar, recriar, em outras palavras, estes
momentos aparentemente problemáticos são como um empurrão para que nos
movamos em rumo a novas possibilidades de criação e expansão. Isto propicia
um ritmo dinâmico, pulsante, evolutivo, vivo!
Maslow assim descreve:
A criatividade essencial se origina do verdadeiro Eu (do inconsciente ou do id). Ela repousa em processos primários no sentido psicanalítico. Assemelha-se à fantasia e à poesia, bem como às outras forças criativas normalmente visualizadas nos sonhos. Por outro lado, o inconsciente é essencialmente um ajustamento à realidade. A aprendizagem e ao ajustamento à realidade. A aprendizagem mecânica e o ajustamento são baseados na aceitação da realidade como ela é... Penso na criatividade, primariamente, como um epifenômino da saúde, de um Eu revelado, e uma expressão dele, podendo ainda ser ensinada e encorajada em ocasiões específicas...... qualquer técnica para descobrir qualquer aspecto ... Qualquer processo de enfrentamento do inconsciente... da auto-afrontação... ...... O estudo do processo e pessoas criativas com suas respectivas características e formas. O aperfeiçoamento de condições e externas de todo gênero (educacional, familiar, econômica, política, religiosa, filosófica, cultural, infantil...) (Stephens, 2003, pp. 214-215).
Em correlação com nosso amplo conceito de conectividade,
destacamos agora na Estratégia do Golfinho, um item de extrema importância
para o bom relacionamento das partes conectadas. Diz respeito à
64
responsabilidade pessoal pelos sentimentos e acontecimentos de nossas
próprias vidas, de nossas ações dentro da família ou da empresa, pois o culpar
à outrem, o jogo de empurra-empurra, pode não só desviar a atenção do
problema em si, como dificultar a re-avaliação da situação a ser modificada, e
consequentemente compromete sua solução.
Lynch e Kordis discorrem sobre esse assunto:
As carpas e os tubarões tendem a se entregar aos seus medos e a externalizar a responsabilidade por eles, ele (ou você ou as circunstâncias ou os acontecimentos) estão fazendo que eu me sinta mal, dirão essas pessoas.Os golfinhos encaram isso de forma distinta, não desperdiçam muito tempo tentando atribuir a responsabilidade de seus sentimentos a algum outro fator;não tentam negar seus sentimentos, pois sabem que esses sentimentos reprimidos podem prejudicar a sua vida, mantendo-os em constante reação; não ignoram o fato que estão optando por sentir o que estão sentindo – e que tem a capacidade de sentir de forma diferente se resolverem fazê-lo.
Os autores continuam dizendo que os golfinhos reconhecem e
analisam seus sentimentos; permitem que eles cresçam, atinjam seu auge e se
extingam, pois sabem quando os sentimentos não são administrativos com
responsabilidade, ocorrem acontecimentos dramáticos, conflitos e acrimônias.
Em conectividade a questão da inteligência emocional deve ser
trabalhada, daí a importância de acrescentarmos aos sentimentos acima
citados, a necessidade de encararmos de frente essas energias, apreendendo
com elas, e contribuindo para sua transformação ou solução adequada. Onde
há uma ruptura na rede de conexão, a rede toda se enfraquece, e é da
conveniência da rede que seja restabelecido o necessário reparo. Dentro da
conectividade, portanto, os elos da rede se mobilizam, e o sistema sai
fortificado.
Como o “golfinho” de Lynch e Kordis dizemos:
Queremos que todos ganhemos de forma simples, precisa, retumbante, não importa quais sejam as nossas chances, as
65
dificuldades que temos pela frente ou o tempo que vai levar (Lynch e Kordis, 1988, p. 64).
Nesta citação são enfatizados aspectos como pró-atividade,
sentimento de equipe, portanto unidade e integração, demandando equilíbrio e
inteligência emocional, características de uma postura de conectividade. Esta
por seu turno inclui igualmente a capacidade de integração, de
pessoas/personalidades, de ações coordenadas, de um profundo sentimento
de unidade com o todo.
Ao longo deste trabalho, seja falando sobre organizações, gestões
de pessoas, de ARH, estratégias, teorias, serviço social, mantemos sempre o
foco para o conceito proposto, o de conectividade, que por si só é integrado e
integrador; abrange razão e sentimento, aprendizagem o cognição, inteligência
emocional/relacionamento intra-pessoal e inter-pessoal, valorização do ser
humano, sincronicidade, comunicação, criatividade, valores espirituais, éticos e
elegância.
Vamos atentar sobre o conceito de “elegância”. Lynch e Kordis
esclarecem p. 22:
No Webster’s Third New International Dictionary descobrimos o significado que procuramos na definição : Caracterizado pela precisão [científica], pela correlação e pela simplicidade.As soluções elegantes realmente não aparecem com a freqüência necessária no mundo atual dos negócios devido à invariabilidade, à inflexibilidade e à insensibilidade do pensamento da carpa e do tubarão.
Nessa concepção, a mais elegante maneira de conduzir a vida, a
profissão, a empresa, as circunstâncias desafiadoras, os limites a serem
ultrapassados, os novos paradigmas a serem ancorados, é resumida como
atraente para os golfinhos. Acrescentamos, também para os homens
esclarecidos, para as organizações sociais, para as empresas de visão, para
as comunidades florescentes.
Lynch e Kordis descrevem sua concepção de elegante, p. 21:
66
Parece-nos, portanto, que quando nos concentramos em coisas que fazem sentido de forma elegante estamos definindo algo que é fundamental para os golfinhos de uma organização. Quando descobrimos pensamentos, sentimentos, ações e intuições que reúnem pessoas de maneira elegante estamos encontrado circunstâncias e situações que são atraentes para os golfinhos. Para compreender o valor e poder do desenvolvimento de nossas habilidades como golfinhos, façamos como eles e vejamos quais as nossas opções que fazem sentido de forma elegante num mundo em rápido processo de transformação.
Esta concepção de elegância está afinada com os valores de
Conectividade, com os novos paradigmas, com o resgate dos valores éticos e
das relações sociais. Seu reflexo nos relacionamentos inter-pessoais
igualmente expressa o conceito de conectividade. Uma vida organizacional
harmônica, resulta.numa organização de sucesso, com diferencial
mercadológico. Isso é a práxis da conectividade.
67
CONCLUSÃO
A escolha do tema conectividade para esta monografia se
desenvolveu à medida do aprofundamento nos diversos estudos e teorias
abordados ao longo dessa pesquisa, como um elo comum, uma peça central
em que todos se encaixam, interagem, tendo conectividade como o fator
unificador e estimulador.
Conforme a teoria sistêmica e visão holística tudo no universo se
conecta – astros, seres, espécies, formas animadas e inanimadas, princípios,
filosofias, ciências, religiões, culturas, artes, economia, política, sociedades,
famílias, pessoas, organizações.
Conectividade é interação, é viva, é inclusiva, é fluida. O que não se
conecta torna-se amorfo, isolado, sem vida.
Nas organizações, conectividade é impulso criador, compartilhado,
multiplicador. Conectividade é a diversidade comunicante, agregada na
unidade de propósito e de ação, e consequentemente de diálogo, produtividade
e sucesso, fundamentais para a gestão de pessoas e perenização das
instituições.
O conceito de conectividade estimula o auto-conhecimento, auto-
aprimoramento, o intercâmbio e a cooperação.
Compreendemos que, como o homem é um ser social, ao ser
estimulada sua conectividade com o meio ambiente, seja na família, trabalho
ou em sociedade, ele crescerá como ser humano. O auto-aprimoramento
estimulado pela conectividade desencadeará sua criatividade inata e
potencialidades, projetando-se na sua vida pessoal, no contexto social em que
está inserido, ampliando-se em seu trabalho e profissão.
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Para viver e conviver num mundo em transformação, com a
aceleração imposta pela tecnologia, com um mercado de trabalho competitivo,
é necessário a compreensão da concepção sistêmica de mundo, e da visão
holística. Os valores de conectividade, contribuem para gerar uma nova ética,
uma totalizante vivência de mundo, um estímulo à parceria e ao trabalho em
rede.
Essa é a visão de conectividade que pretendemos transmitir.
69
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1997.
71
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTOS 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
INTRODUÇÃO 07
CAPÍTULO IConectividade 09
CAPÍTULO IIServiço social em conectividade 33
CAPÍTULO IIIGestão de pessoas em conectividade 37
CAPÍTULO IVOrganizações em conectividade 45
CONCLUSÃO 67
BIBLIOGRAFIA 69
ANEXOS 72
FOLHA DE AVALIAÇÃO 73
72
ANEXOS
73
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
Pós-Graduação “Latu Sensu”
GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS
Título da Monografia
ORGANIZAÇÕES E CONECTIVIDADE
Data da Entrega: ___________________________
Avaliado por: ______________________________Grau: ________________
Rio de Janeiro, ______ de ______________________ de ________
_______________________________________________________________
Coordenação do Curso