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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
O BRINCAR E SUA IMPORTÂNCIA
NA VIDA DA CRIANÇA
Por: Márcia de Santana Moura
Professor Orientador: Luiz Claúdio Lopes Alves
Rio de Janeiro
Junho / 2003
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS - GRADUAÇÃO “ LATO SENSU “
PROJETO VEZ DO MESTRE
PSICOPEDAGOGIA TURMA 482
O BRINCAR E SUA IMPORTÂNCIA
NA VIDA DA CRIANÇA
Objetivos:
A criança e o seu brincar fazem parte desse estudo.
Através de uma abordagem multidisciplinar
estaremos objetivando estabelecer uma relação entre
as brincadeiras e o cotidiano infantil.
3
AGRADECIMENTOS
Aos professores e alunos que muito contribuíram para
a realização desse trabalho , especialmente todos
aqueles que acreditam que brincadeira é coisa séria.
4
DEDICATÓRIA
À todas as crianças da sala de Ludoterapia
da Associação Fluminense de Reabilitação e aos
alunos da Escola Municipal Francisco M. Brandão.
5
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 6
CAPÍTULO I 8
BRINCADEIRA E COISA SÉRIA (O BRINCAR NO CONTEXTO ESCOLAR). 8
CAPÍTULO II 15
O JOGO E SUA IMPORTÂNCIA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA. 15
CAPÍTULO III 26
BRINCADEIRAS POPULARES 26
CAPÍTULO IV 36
O BRINCAR E A TERAPIA 36
CONCLUSÃO 49
BIBLIOGRAFIA 51
ANEXOS 53
ÍNDICE 56
6
INTRODUÇÃO
Este trabalho surgiu da certeza de que no mundo da criança o espaço para o
brincar é indispensável. A brincadeira é uma parcela importante na vida da criança,
ela adquire experiência brincando. As experiências tanto interna quanto externa
podem ser férteis para o adulto mas para a criança essa riqueza encontra-se
principalmente na brincadeira e na fantasia.
Os adultos contribuem , neste ponto , pelo reconhecimento do grande lugar
que cabe à brincadeira e pelo ensino de brincadeiras tradicionais , mas sem obstruir
nem adulterar a iniciativa própria da criança.
O fundamento básico desse trabalho é acreditar que o brincar é requisito
indispensável para o crescimento e desenvolvimento de nossas crianças. Preservando
o elemento lúdico , tão importante para alimentar a sensibilidade da criança e
condição primordial do desenvolvimento humano, buscamos proporcionar vivências
em que jogos, brincadeiras desempenham função social.
No primeiro capítulo vamos verificar que brincadeira para criança é coisa
séria. E onde a criança passa boa parte do seu tempo ? na escola, logo a escola tem
que se transformar num ambiente onde ela possa se sentir feliz , onde ela possa
aprender brincando e gostar de brincar de aprender.
A escola não pode se transformar num local onde ela vai por obrigação.
Acreditamos que a obrigatoriedade dificulta sua aprendizagem . Ela tem que gostar
de aprender coisas novas , e essa aprendizagem tem que ser algo natural, como então
articular o currículo escolar com o cotidiano das crianças ?
No segundo capítulo vamos passear por Piaget e Vygotsky e o que eles têm a
nos dizer a respeito dos jogos. Como o brinquedo se caracteriza em cada fase do
desenvolvimento ? Os jogos simbólicos podem ajudar as crianças a elaborar seus
conflitos cotidianos ? Permitem que elas realizem seus desejos ? Como esses autores
entendem a brincadeira ?
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No terceiro capítulo vamos trazer de volta as brincadeiras populares e sua
importância na vida da criança . A parlenda , os jogos de adivinhação , as
brincadeiras de roda, é possível através dessas e de tantas outras brincadeiras
desenvolver o pensamento e o comportamento criativo ? E desenvolver a criatividade
da criança deve ser sempre a nossa grande preocupação enquanto educadores ?
Finalmente o quarto capítulo onde apresentamos o brincar como forma de
terapia e como uma oportunidade dada a criança de se libertar de sentimentos e
problemas. O que é ludoterapia ? Quais as contribuições da Psicanálise ?
Portanto, a criança e o seu brincar fazem parte desse estudo . Através de uma
abordagem multidisciplinar , estaremos objetivando estabelecer uma relação entre as
brincadeiras e o cotidiano.
9
O brinquedo é uma atividade que pode determinar o desenvolvimento infantil.
As experiências vividas pelas crianças nos jogos não desaparecem com o tempo,
evoluem. É muito comum que as crianças inventem personagens durante as suas
brincadeiras solitárias e coletivas.
A maioria das pessoas diria que as crianças brincam porque gostam de o
fazer, e isso é um fato indiscutível. As crianças tem prazer em todas as experiências
de brincadeira física e emocional. Podemos ampliar o âmbito de suas experiências
fornecendo materiais e idéias , mas as próprias crianças são capazes de encontrar
objetos e inventar brincadeiras com muita facilidade , e isso dá-lhes prazer.
Normalmente , é na escola que a criança passa boa parte do seu tempo , logo ,
a escola tem que se transformar num ambiente agradável , num ambiente onde a
criança se sinta feliz.
Porém , a escola coloca o ensino , ou melhor , os conteúdos programados de
forma tão cansativa , com certa obrigatoriedade , a criança tem que aprender por
obrigação , com isso negligencia o poder de aprender de uma outra forma , mais
natural .
Aprender através de outros meios, que não sejam os tradicionais como , por
exemplo , através de uma linguagem gestual , das imagens , da música , nos jogos ,
no brincar , assim , ler e escrever podem ser uma gostosa brincadeira desde que seja
apresentada de forma divertida , prazerosa .
Se uma criança dramatiza , desenha , modela , dança , canta ela vai ler e
escrever melhor. Essas atividades transportam alegria para a escola . Expõem e
apuram a sensibilidade existente em cada um , provocam a descontração , estimulam
a interação entre criança , jovens e adultos e valorizam diferentes processos culturais.
Não há , portanto , como negar a brincadeira papel significativo no projeto
educacional. Uma das maneiras de articular o currículo escolar como o cotidiano das
10
crianças é trabalhar exatamente , como já foi dito , com jogos e brincadeiras que
fazem parte de sua vida fora da escola .
O professor deve observar do que elas brincam na hora do recreio e
transformar suas atividades em assuntos de estudo. Sem tirar o seu caráter lúdico , é
evidente . Mas fazendo exatamente o contrário , que é tornar o ensino prazeroso.
O brinquedo é parte integrante da vida da criança . Ao brincar ela organiza
seu pensamento , faz uso da linguagem e da sua criatividade.
Através da brincadeira , ela se apropria de conhecimentos que possibilitarão
sua ação sobre o meio em que se encontra. É através da brincadeira que as crianças
manifestam a sua subjetividade.
A maioria das pessoas já devem ter reparado que em determinado momento
de sua vida as crianças são muito fantasiosas. Contam histórias fantásticas como se
fossem reais. Não estamos sugerindo aqui que a escola ensine a mentir, mas que
brinque com a imaginação, essa será uma valiosa experiência para a criança.
A visão da criança como ser integral é contraditória à visão
compartimentalizada do conhecimento , proposta pela escola , na sua prática . A
escola propõe horas determinadas para que sejam realizadas atividades de
coordenação motora , outras para trabalhar a expressão plástica , outras para brincar
sob a orientação do professor e outras sem a orientação do professor.
Essa segmentação do conhecimento não favorece a formação integral da
personalidade da criança nem das suas necessidades, os meios físico e social
contribuem de maneira determinante para o desenvolvimento (Maranhão, 2002,
p.54).
A brincadeira , o uso de formas e artes e a prática religiosa tendem , por
diversos mas aliados métodos , para uma unificação e integração geral da
personalidade. As brincadeiras servem de elo entre , por um lado , a relação do
11
indivíduo com a realidade interior , e , por outro lado , a relação do indivíduo com a
realidade externa ou compartilhada.
Cientes de que precisamos buscar meios para tornar eficiente e atraente a
relação ensino-aprendizagem , precisamos fazer com que os conteúdos
programáticos tenham aplicabilidade prática.
Temos de relacionar alguns conteúdos com vivências , de forma que as
crianças possam desenvolver algumas potencialidades , descobrindo aplicações para
o que precisam aprender ( Maranhão , 2002 , p.46 )
De modo geral , é preciso recuperar o verdadeiro sentido da palavra escola :
lugar de alegria, prazer intelectual, satisfação . É preciso também repensar a
formação do professor para que reflitam cada vez mais sobre a sua função e
adquiram cada vez mais competência , não só em busca do conhecimento teórico ,
mas numa prática que se alimentará do desejo de aprender cada vez mais para poder
transformar.
Com a sua atuação , professor , junto às crianças , assumindo na sua prática
o papel de dinamizador de situações em que o conhecimento circule e possa ser
socialmente construído , o que buscamos é formar crianças que não percam-nos
percalços do caminho a sua própria voz .
O jogo é , pois um quebra-cabeça... Não é , como se pensava , simplesmente
um método para aliviar tensões. Também não é uma atividade que prepara a criança
para o mundo , mas é uma atividade real para aquele que brinca. Verdadeiramente ,
brincamos , envolvemo-nos com paixão no jogo , sem precisarmos , em absoluto ,
saber o que ele significa ( Friedmann , 1998 , p.20 ) .
A tarefa é difícil , mas possível . A realidade pode e deve tornar-se a base e a
própria fonte do prazer ao mostrar a contradição entre o dever , a alegria presente e a
aspiração de buscar e aprender sempre.
12
Nada será feito em favor do aluno se os professores não se interessarem
diretamente por sua própria formação e se não levarem em conta suas próprias
aptidões e suas capacidades , se não se tornarem livres e criativos para buscar seu
crescimento pessoal .
1.1 – O Brincar como recurso pedagógico
Segundo Rizzi , sempre foi desejo dos professores poder criar na sala de aula
uma atmosfera de motivação que permitisse aos alunos participar ativamente do
processo ensino-aprendizagem.
O brincar é uma atividade normal do ser humano , ainda de acordo com Rizzi,
ao brincar a criança fica tão envolvida com o que está fazendo , que coloca na ação
seus sentimentos e emoções.
O ato de brincar é tão antigo quanto o próprio homem , pois este sempre
manifestou uma tendência lúdica, isto é , um impulso para o jogo . Alguns autores
vão além , afirmando que o brincar não se limita apenas ao próprio homem , pois já
era praticado por alguns animais.
Para Piaget (1971) , a atividade lúdica dos animais é de origem reflexa ou
instintiva (lutas , perseguições , etc.). Nas espécies superiores , como o chimpanzé ,
que se diverte a fazer a água correr , a juntar objetos ou a destruí-los , a dar
cambalhotas e a imitar os movimentos de marcha etc. , e na criança , a atividade
lúdica supera amplamente os esquemas reflexos e prolonga quase todas as ações , o
brincar ultrapassa a esfera da vida humana ( Piaget , 1971 , p.146) .
Sendo parte integrante da vida em geral , o brincar tem uma função vital para
o indivíduo, não só para distensão e descarga de energia , mas principalmente como
forma de assimilação da realidade .
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O espaço reservado ao brincar , seja qual for a forma que assuma , é como se
fosse um mundo temporário e fantástico , dedicado à prática de uma atividade
especial , dentro do mundo habitual e rotineiro do cotidiano .
Segundo Rizzi , o jogo é uma atividade que tem um valor educacional
intrínseco , o jogo corresponde a um impulso natural da criança , e neste sentido ,
satisfaz uma necessidade interior , pois o ser humano apresenta uma tendência
lúdica.
Jogar educa , assim como viver educa: sempre sobra alguma coisa , mas além
desse valor educacional , que lhe é inerente , o jogo tem sido utilizado como recesso
pedagógico ( Leif , 1978 , p. 11) .
A situação de jogo mobiliza os esquemas mentais : sendo uma atividade física
e mental , o jogo aciona e ativa as funções psiconeurológicas e as operações mentais,
estimulando o pensamento.
Segundo Rizzi , brincando e jogando ela aplica seus esquemas mentais à
realidade que a cerca , apreendendo-a e assimilando-a . Brincando a criança reproduz
as suas vivências , transformando o real de acordo com seus desejos e interesses,
através do brinquedo ela expressa , assimila e constrói a sua realidade.
Como vemos , alguns dos grandes educadores do passado já reconheciam o
valor pedagógico do jogo e das brincadeiras , e tentavam aproveitá-lo como agente
educativo , diz Rizzo .
Segundo Jacquim o jogo é para a criança a coisa mais importante da vida . o
jogo , as brincadeiras no geral , é para o educador , um excelente meio de formar a
criança. Por essas razões , todo o educador , pai ou mãe , professor , dirigente de
movimento educativo , deve não só fazer jogar como utilizar a força educativa do
jogo ( Jacquim ,1963,p.7).
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O êxito do processo ensino-aprendizagem depende , em grande parte , da
interação professor-aluno , sendo que neste relacionamento , a atividade do professor
é fundamental. Ele deve ser , antes de tudo , um facilitador da aprendizagem, criando
condições para que a criança explore seus movimentos , manipule materiais, interaja
com seus companheiros e resolva situações-problema , finaliza Rizzi.
O homem necessita ser essencialmente livre para fazer escolhas .E será
através do desenvolvimento da própria pessoa , e somente assim é que poderá
alcançar a auto-realização . É aperfeiçoando a personalidade que o indivíduo atinge a
plenitude da vida.
No mundo de hoje , de experiências constantes e renovadas , para que o aluno
possa tornar-se pessoa , segundo Rogers , é preciso que o processo educativo perceba
e esteja voltado para o fato de ser o homem fonte de todos os atos. Baseado neste
quadro o processo de aprendizagem deverá necessariamente estar centralizado no
aluno.
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O jogo e a sua dinâmica são processos importantes para serem utilizados em
qualquer fase da vida da criança . As atividades lúdicas irão favorecer o
desenvolvimento de várias habilidades : motoras , intelectuais , atitudes morais, além
de dar oportunidade e a abrir espaço para o desenvolvimento da criatividade , a
expressão e a integração social .
Com Piaget , podemos pensar sobre os diferentes processos que estão em jogo
na aquisição do conhecimento social. Ele oferece também uma outra lição:
elaborações cognitivas ocorrem em um contexto de relações simétricas , onde o
pensamento não está limitado pelo poder hegemônico.
Na vida da criança , é exatamente na sua relação com outras crianças que está
condição é mais freqüentemente encontrada , de forma que elaborações cognitivas
construtivas no desenvolvimento das representações sociais vão ocorrer mais
claramente na análise da interação da criança com os seus iguais, em situações em
que elas estão livres para inventar , para criar , brincar.
Conforme Vigotsky , a teoria do desenvolvimento está mais afinada com
preocupações psicossociais. Para os desenvolvimentistas , Vigotsky é considerado
como alguém que forneceu uma teoria social da cognição , que pode superar as
presumíveis deficiências sociais de outras formas de teorização sobre cognição.
Não há espaço nesse ensaio para desenvolver uma apreciação sistemática da
relevância do trabalho de Piaget e Vigotsky para uma psicologia do
desenvolvimento, vamos apenas fazer um esboço sobre o trabalho desses dois
teóricos , mas precisamente sobre o que cada um pensa a respeito da importância dos
jogos na vida das crianças e no processo ensino-aprendizagem.
2.1 – Piaget e seus estágios de desenvolvimento
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Podemos conceituar o desenvolvimento , conforme Piaget , como um
processo de equilibração progressiva que tende para uma forma final , qual seja a
conquista das operações formais .
O equilíbrio se refere à forma pela qual o indivíduo lida com a realidade na
tentativa de compreendê-la , como organiza seus conhecimentos ( ou esquemas ) em
sistemas integrados de ações ou crenças , com a finalidade de adaptação.
Ao longo de sua vida Piaget observou que existem formas diferentes de
interagir com o ambiente , nas diversas faixas etárias . A estas maneiras típicas de
agir e pensar , ele denominou estágio ou período.
Assim sendo , podemos dizer , que a determinados tipos de aquisições
mentais e de organização destas aquisições que condicionam atuação da criança em
seu ambiente. A criança irá , pois , à medida que amadurece física e
psicologicamente , que é estimulada pelo ambiente físico e social , construindo sua
inteligência
O crescimento orgânico , a maturidade neurológica e fisiológica geral seja um
dos determinantes fundamentais do desenvolvimento psicológico , mas este não será
dado à criança. Ela é quem irá construir seu crescimento mental.
A criança é vista como agente de seu próprio desenvolvimento. Ela irá
construí-lo a partir dos quatro determinantes básicos: maturação , estimulação do
ambiente físico , aprendizagem social e tendência ao equilíbrio , e este processo é
observado em todas as crianças.
Segundo Piaget , o desenvolvimento da inteligência está voltado para o
equilíbrio , a inteligência é adaptação ao ambiente. Dessa forma podemos entender a
importância do brincar para o desenvolvimento da criança.
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Piaget faz referência ao brinquedo em termos de evolução social e da
inteligência , mostrando como ele se caracteriza , basicamente , em cada período do
desenvolvimento.
No período sensório-motor , onde a interação social da criança é bastante
limitada , predomina o brinquedo isolado , mais de caráter exploratório , onde a
criança parece explorar as potencialidades dos objetos , sem necessidade de se
acomodar a eles. Nessa fase, a criança desenvolve seus sentidos , seus movimentos ,
seus músculos , sua percepção e seu cérebro.
Olhando , pegando , ouvindo , apalpando , mexendo em tudo que encontra a
seu redor , ela se diverte e conquista novas realidades. Em sua origem sensório-
motora , o jogo para ela é pura assimilação do real ao eu e caracteriza as
manifestações de seu desenvolvimento.
Os esquemas que não são utilizados com finalidade adaptativa ( mas que
permanecem no repertório comportamental do sujeito ) podem ser repetidas pelo
simples prazer que provocam no sujeito , prazer este provocado , talvez , por um
sentimento de eficiência ou poder ( no sentido de dominar um determinado objeto ) .
Dessa forma , já podemos perceber um caráter lúdico no segundo subestádio
do período sensório-motor ( entre um e quatro meses de idade ) , quando o bebê
executa as reações circulares primárias , que vão incluir um elemento adaptativo , no
sentido que dão ao bebê uma forma de explorar a si próprio e ao ambiente
circundante , mas que incluem também um elemento lúdico , quando repetidas
muitas vezes , o que se manifesta pelo sorriso ou até mesmo pelo riso , no caso do
bebê mais desenvolvido.
É por volta dos dois anos , fase simbólica , que a criança passa a se definir e a
se estruturar como o diferenciador dos animaizinhos. Os animais mais desenvolvidos
do mundo não ultrapassam essa fase. É uma das mais importantes para a vida da
criança em todos os aspectos.
19
Além dos movimentos físicos , ela passa a exercitar intencionalmente
movimentos motores mais específicos , utilizando para isso as mãos. Adora rasgar ,
pegar o lápis , mexer com as coisas , encaixar objetos nos lugares , montar e
desmontar coisas , dando aos exercícios uma intenção inteligente e uma evolução
natural de sua coordenação.
Os exercícios motores dos músculos amplos e finos passam a ser dirigidos e
aplicados segundo uma ordem intencional , provocando-lhe manifestações
psicomotoras. Essas manifestações são expressões de puro simbolismo, representado
na mente.
Ela brinca de casinha , motorista , cavalo de pau , dança, tudo isso como
forma de expressão do mundo que vive , que viu e interiorizou.
O jogo simbólico , do qual a brincadeira de boneca é um exemplo típico ,
oferece à criança não só a oportunidade de atualizar seus instintos maternais ou de
aprender normas culturais de desempenho de papéis femininos , mas também , e
principalmente , oferece a oportunidade de elaborar os conflitos cotidianos por ela
vivenciados ou de realizar seus desejos insatisfeitos.
À medida que desempenha o papel de mãe , poderá trabalhar mentalmente as
angústias , alegrias , enfim , tudo que faz parte de sua experiência no contato com sua
mãe real.
Admite-se que o brinquedo represente certas realidades . Uma representação é
algo presente no lugar de algo . Representar é corresponder a alguma coisa e permitir
sua evocação , mesmo em sua ausência.
O brinquedo coloca a criança na presença de reproduções : tudo que existe no
cotidiano , a natureza e as construções humanas . Pode-se dizer que um dos objetivos
do brinquedo é dar à criança um substituto dos objetos reais, para que possa
manipulá – los ( Kishimoto , 1999 , p.18 ).
20
Precisamos entender a forma de pensamento da criança para podermos
proporcionar a ela os momentos lúdicos necessários , as brincadeiras que ajudarão a
crescer e nos auxiliarão a compreendê-las melhor.
Segundo Piaget , por volta dos quatro anos , aproximadamente , a criança
entra na fase intuitiva , nesse período ela transforma o real em função das múltiplas
necessidades do eu. Os jogos passam a Ter uma seriedade absoluta na vida das
crianças e um sentido funcional e utilitário.
Os jogos de que elas mais gostam são aqueles em que seu corpo está em
movimento. Elas ficam contentes quando podem movimentar-se , e é essa
movimentação do corpo que torna seu crescimento físico natural e saudável .
Da mesma forma que correr, pular , nadar , arremessar são exercícios que
estimulam o desenvolvimento dos músculos amplos , atitudes como pegar , rasgar,
rabiscar , desenhar, pintar, costurar, modelar, amassar desenvolvem e estimulam os
movimentos finos necessários e obrigatórios para o processo de alfabetização que irá
ocorrer.
Segundo Piaget ( 1971 ), quando brinca , a criança assimila o mundo à sua
maneira , sem compromisso com a realidade , pois sua interação com o objeto não
depende da natureza do objeto , mas da função que a criança lhe atribui
(Kishimoto,1999,p.59 ) .
Na fase da operação concreta , ( 6-8 a 11-12 anos aproximadamente ) , a
criança incorpora os conhecimentos sistematizados , toma consciência de seus atos e
desperta para um mundo em cooperação com seus semelhantes.
Observa-se um marcante declínio do egocentrismo intelectual e um crescente
incremento do pensamento lógico. Isto é , em função da capacidade , agora
adquirida, de formação de esquemas conceituais , de esquemas mentais verdadeiros,
a realidade passará a ser estruturada pela razão e não mais pela assimilação
egocêntrica , como ocorria na fase anterior.
21
É interessante observar os pontos mais significativos de seu
desenvolvimento. Os exercícios físicos funcionais ao desenvolvimento transformam-
se , aos poucos , em práticas esportivas pois passam a compreender finalidades , por
meio de esforços conjuntos.
Nessa fase os jogos transformam-se em construções adaptadas , exigindo
sempre mais o trabalho efetivo e participativo no processo de aprendizagem , que
começa a sistematizar o conhecimento existente. Nessa idade a criança começa a
pensar inteligentemente , com certa lógica . Começa a entender o mundo mais
objetivamente e a Ter consciência de suas ações , discernindo o certo do errado .
Com a capacidade de lidar com operações como a conservação , a
classificação e a seriação , a criança no estágio operacional concreto finalmente
desenvolveu um sistema completo e muito lógico de pensamento . Esse sistema , no
entanto , ainda está ligado a realidade física . A lógica basea-se em situações
concretas que podem ser organizadas , classificadas ou manipuladas ( Woolfolk,
2000 , p.45 ) .
Na fase operacional –formal , ( 11 anos em diante ) , os jogos tornam-se ainda
mais atraentes aos jovens. Os jogos caracterizam-se como atividades adaptativas ao
equilíbrio físico pois realizam o aperfeiçoamento dos músculos tão comuns e
apreciados e engendram princípios de descobertas , de julgamento , de criatividade
possibilitando o surgimento de relações sociais.
Se no período das operações concretas , a inteligência da criança manifesta
progressos notáveis , apresenta por um lado , ainda algumas limitações. Talvez a
principal delas , que está implícita no próprio nome , relaciona-se ao fato de que
tanto os esquemas conceituais como as operações mentais realizadas se referem a
objetos ou situações que existem concretamente na realidade.
Na adolescência , esta limitação deixa de existir , e o sujeito será então capaz
de formar esquemas conceituais abstratos ( conceituar termos como amor , fantasia ,
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justiça , esquema , democracia , e realizar com eles operações mentais que seguem os
princípios da lógica formal , o que lhe dará , sem dúvida , uma riqueza imensa em
termos de conteúdo e de flexibilidade de pensamento .
Com isso adquire capacidade para criticar os sistemas sociais e propor novos
códigos de conduta , discute os valores morais de seus pais e constrói os seus
próprios(adquirindo , portanto , autonomia) , torna-se capaz de aceitar suposições
pelo gosto da discussão , faz sucessão de hipóteses que expressa em proposições para
depois testá-las.
Torna-se consciente de seu próprio pensamento , refletindo sobre ele a fim de
oferecer justificações lógicas para os julgamentos que faz , lida com relações entre
relações etc.
Do ponto de vista piagetiano , pode-se dizer que , ao adquirir as capacidades
acima mencionadas , o indivíduo atingiu sua forma final de equilíbrio , e é ,
justamente em função destas possibilidades mentais que Piaget chegou a conceber
uma teoria tão complexa .
A teoria de Piaget é particularmente interessante para saber dar a devida
importância ao estudo do jogo e à relação deste estudo com a aprendizagem . O jogo
é um fenômeno mental , e , como tal , expressa ou gera habilidades cognitivas .
Parece pertinente lembrar que , para chegar a estas descrições , Piaget ( e
também seus colaboradores) registrou os jogos espontâneos de seus filhos , como
também aqueles praticados por crianças nas escolas maternais e nas ruas , totalizando
perto de mil observações . Daí a importância de novos estudos sobre a importância
do brincar não só na aprendizagem mas também no cotidiano das crianças.
Portanto , segundo Piaget , o jogo tende , por vezes , à repetição de estados de
consciência penosos , não é para conservá-los na qualidade de dolorosos , mas sim
para torná-los suportáveis e mesmo quase agradáveis , assimilando – os à atividade
de conjunto do eu.
23
Em suma , pode-se reduzir o jogo a uma busca de prazer , mas com a
condição de conceber essa busca como subordinada , ela mesma , à assimilação do
real ao eu: o prazer lúdico seria assim a expressão afetiva dessa assimilação.
2.2 – Vygotsky: E a questão social
Vygotsky entende a brincadeira como uma atividade social da criança . Situa
o início do processo imaginativo dela em torno dos três anos de idade. Ela satisfaz
algumas de suas necessidades usando o brinquedo.
Através do brinquedo , a criança estabelece suas relações com a vida real. Ela
vai experimentar sensações que já conhece e vai desenvolvendo regras de
comportamento que imagina serem concretas.
Na perspectiva Vygotksiana o desenvolvimento das funções intelectuais
especialmente humanas é medido socialmente pelos signos e pelo outro. Ao
internalizar as experiências fornecidas pela cultura , ela constrói e reconstrói
individualmente os modos de ação realizados externamente e aprende a organizar os
próprios processos mentais.
O indivíduo deixa , portanto , de se basear em signos externos e começa a se
apoiar em recursos internalizados ( imagens , representações mentais , conceitos etc.)
(Rego,1995,p. 62) .
De acordo com Vygotsky , precisamos Ter certeza de que o desenvolvimento
da criança não precisa ou não tem de coincidir com a sua própria aprendizagem ou
com o seu potencial de aprender.
Segundo Vygotsky , não existe brinquedo sem regras . A situação imaginária
de qualquer forma de brinquedo já contém regras de comportamento , embora possa
não ser um jogo com regras formais estabelecidas a prioridade.
24
A criança imagina-se como mãe e a boneca como criança , e , dessa forma ,
deve obedecer as regras de comportamento no brinquedo. Pelo uso do brinquedo , ela
aprende a agir de forma cognitiva. É com a brincadeira que a criança reproduz a
realidade, ao brincar ela imita seu cotidiano.
A aprendizagem e o desenvolvimento estão inter-relacionados desde o
primeiro dia de vida da criança ( Vygotsky , l991 , p. 95) . O brinquedo é uma
atividade que determina o desenvolvimento infantil. Ele cria uma zona de
desenvolvimento proximal da criança . E o que significa isto ? No brinquedo ela
sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade , além de seu
comportamento diário.
É por isso que , o professor das classes iniciais não pode desprezar este
valioso recurso. Quando dramatizam uma ida ao supermercado , por exemplo , elas
assumem papéis que não são os seus cotidianamente : arrumam mercadorias ,
escolhem o que vão comprar , recebem dinheiro e dão troco , discutem o valor dos
produtos.
Se vão representar um enredo sobre animais , o jogo exige que se comportem
como os personagens . É este ir além do seu patamar real que fornece a estrutura
básica para os avanços no seu desenvolvimento.
Como a natureza da criança tende à ação a instrução deveria levar em conta
seus interesses e suas atividades espontâneas . Por isso , considerava que o trabalho
manual , os jogos , os brinquedos , tinham uma função educativa básica. É através
dos jogos e brinquedos que a criança adquire a primeira representação do mundo , e ,
é por meio deles , também , que penetram no mundo das relações sociais , criando
um senso de iniciativas e auxílio mútuo ( Rizzi e Haydt , 1998 , p. 14).
Segundo a pedagogia da ação , a criança para se desenvolver deveria agir e
produzir sempre . Ela precisa se movimentar o tempo inteiro. Essa necessidade de
25
criar , de movimentar , de jogo produtivo deveria encontrar seu canal de expansão
através da educação.
Não podemos considerar Vygotsky um estudioso do desenvolvimento
infantil, ele estudou as etapas do crescimento da criança porque seria o meio teórico
necessário para entender os processos humanos superiores. Ele entendia que o
pesquisador precisava observar a criança brincando , aprendendo . Uma teoria
abstrata não seria satisfatória para captar os momentos de transformação . Sua
preocupação maior está no fato de que a atividade humana pode transformar a
natureza e a sociedade ( Maranhão,2001 ,p.31).
Na base do processo misterioso da vida , está a dimensão lúdica , o jogo.
Segundo alguns estudiosos o que define o jogo é o seu caráter profundamente
estético , a criatividade nasce do ato lúdico e vive no domínio da imaginação.
Brincar mostra-se ,assim , um caminho que pode contribuir ,e muito , no
desenvolvimento das crianças porque está em sua raiz. É no brincar , portanto , que
se encontra a fonte e o fortalecimento da sua capacidade de criação , bem como o
prazer e a alegria de viver..
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“Um ,dois, feijão com arroz
três quatro , feijão no prato
cinco seis , no fim do mês
sete oito , comer biscoito
nove dez , comer pastéis.”
Quantos não serão as pessoas a sentirem uma saudade gostosa ao ler esses
versos? Muitas , certamente . E que , talvez , fiquem tentados a interromper esta
leitura para recordar . Recordar-se de quantas vezes tiraram o pique , recitando :
“Uni duni tê
salamê minguê
um sorvete colorê
o escolhido foi você”
Será que estamos preocupados aqui em reviver o passado ? Em ressuscitar o
que estava adormecido na memória ? Não se trata disso ou apenas disso . O que
estamos pretendendo mesmo é falar de cultura.
Numa concepção atual , não podemos mais pensar em cultura no singular .
São tantas as culturas quantos são os povos , as etnias e os aglomerados humanos .
São tantas as culturas quantas são as formas de expressão , os valores e os costumes
produzidos pelos diversos grupos sociais.
Se bem que nem sempre seja concedido às diferentes culturais o mesmo valor
social. A escola é , por excelência , um local de tensões. Ali se encontram e se
misturam representantes de culturas e gerações distintas : os professores e os alunos.
E nem sempre os saberes trazidos por estes andam de mãos dadas com o ensino
oferecido.
Acontece que a sabedoria popular não encontra nem vez nem voz nos
programas curriculares , quando aparecem (geralmente em festas e comemorações) ,
28
as manifestações vindas do povo são tratados de maneira estereotipada , como algo
exótico e extravagante , até mesmo caricato .
O papel da escola , enquanto instância socializadora , é o de criar as melhores
condições para que a cultura floresça em seu interior , sob a ótica da pluralidade. É
fazer com que diferentes tradições sociais encontrem espaço próprio para serem
exercidas sem supremacias ou discriminações de qualquer espécie.
É possibilitar ao aluno manifestar-se de acordo com a sua herança cultural ,
ao mesmo tempo em que se apodera das experiências de outros grupos humanos.
Acreditamos que a mediação do professor representa para muitos de seus alunos a
única possibilidade de ultrapassar as fronteiras de seu universo de conhecimentos .
Através das brincadeiras , por exemplo.
Será que as crianças ainda brincam de roda ? Ainda se pula amarelinha ? O
pião continua entre os brinquedos preferidos pelos meninos? É verdade que muita
coisa mudou ao longo do tempo . As diversões infantis são hoje influenciadas ,
significativamente , pelos recursos da multimídia e as crianças também não dispõem
mais da rua como espaço privilegiado para desenvolver suas brincadeiras.
Contudo , a magia dos jogos herdados das gerações mais velhas não
desaparecem e nas praças e pátio das escolas , em qualquer lugar onde se reunam ,
crianças e jovens brincam como seus pais e seus avós brincavam.
As tradições populares brasileiras têm origem antiga e trazem influência dos
povos formadores da nossa cultura . Elas viajaram , através dos tempos e dos
espaços, carregando os costumes e a linguagem dos nossos antepassados. Ouvidas,
contadas e cantadas , essas tradições nos chegaram e se incorporaram ao nosso
cotidiano.
Qual será o futuro das brincadeiras e da cultura popular ? desaparecer
engolida pela tecnologia moderna ou ser preservada no seio da população como parte
do nosso patrimônio folclórico ? Acreditamos que a escola pode ser uma das
29
instituições voltadas para resgatar e valorizar as manifestações que , de boca em
boca, vão constituindo a sabedoria cultural dos brasileiros.
Para tanto, os professores necessitam , antes de tudo , conhecer ( conhecer
para reconhecer) a memória de seu povo . Existem obras publicadas que apresentam
pesquisas ricas e bem completas sobre o assunto . Existe a comunidade , onde a
cultura está viva . E estão aí as crianças que brincam , basta olhar.
3.1 – Parlenda
A parlenda é uma manifestação que faz parte do folclore de vários países .
Trata-se de um conjunto de palavras recitadas ritmicamente que acompanham um
jogo , brincadeira ou movimento corporal.
A parlenda passa de boca em boca e sua origem se perdeu no tempo. É de
domínio do povo. Algumas são usadas pelos adultos para brincar com crianças
pequenas :
“Serra , serra , serrador
quantas tábuas já serrou?
Vinte e cinco , sim senhor.”
Outras alimentam crendices populares como , por exemplo , cantar enquanto
mexe na panela ,para arrebentar pipoca :
“Rebenta pipoca
Rebenta pipoca
Rebenta bem
Rebenta que chegue
Prá mim também
Se sobrar piruá
Que me importa me lá”
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Mesmo com o advento da tecnologia e de outros tipos de jogos , a parlenda
continua agradando às crianças . E se a família não dedica mais tanto tempo à sua
transmissão , por que a escola não pode assumir este papel?
3.2 – Trava-línguas
O trava-línguas é um tipo de brincadeira oral composta de palavras cujos sons
se repetem ou são de difícil pronúncia . O jogo é falar os trava-línguas bem depressa,
sem errar:
“Olha o sapo dentro do saco
O saco com o sapo dentro,
O sapo batendo papo
E o papo soltando vento”
3.3 – Jogos de adivinhação
Neste tipo de atividade as crianças estarão trabalhando a linguagem oral ,
estimulando a percepção , o senso de observação , a integração do grupo.
Temos então variações de jogos como:
-Adivinhe o que mudou de lugar?
-Adivinhe o que tem na caixa?
-Adivinhe no que estou pensando ?
E tantas outras que poderão ser criadas.
3.4 – Brincadeiras de roda
“ciranda , cirandinha
vamos todos cirandar!
Vamos dar a meia volta,
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Volta e meia vamos dar”
A brincadeira de roda leva as crianças a mexerem com o corpo , a
apresentarem as situações sugeridas pela letra. Podemos desenvolver as áreas
afetivas, social, e a cognitiva , principalmente no que diz respeito à linguagem
escrita, a linguagem oral , aspectos gramaticais , como: aumentativo, diminutivo ,
grau normal , adjetivos (Maranhão,2001,p.111).
3.5 – Bola na rede
O futebol ainda é um dos esportes mais populares no Brasil. É um tema que
está diariamente nos meios de comunicação social (rádio, jornal , televisão e revista)
e que anima as conversas nas praças , bares e esquinas .
Torcedores vibram e sofrem com paixão nas campanhas de seus clubes e as
galeras agitam as partidas com charangas , cornetas e bandeiras . Os craques tornam-
se ídolos consagrados e são adorados pelos fãs.
Merece destaque o fato de que existe uma linguagem futebolística que se
expandiu para vários momentos da comunicação social. Expressões como driblar,
comprar o passe , tirar de letra, bola pra frente , tirar o time de campo , para citar
apenas algumas , fazem parte do vocabulário até mesmo daqueles que dizem nada
entender de futebol.
É por tudo isso que o futebol pode tornar-se um assunto interessante para
aqueles que aprendem a ler e a escrever
Uma das tarefas fundamentais da escola é ampliar o universo cultural dos
alunos. Este papel adquire ainda mais relevância quando se trata de um projeto
voltado para as classes populares que , pelas suas condições sócio-econômicas , têm
pouca ou nenhuma chance de viajar , visitar museus , conhecer obras de arte ,
consultar livros e freqüentar galerias e exposições
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Além do futebol , é claro que as crianças conhecem muitos outros jogos :
aprendem na comunidade , os que são praticados na escola , os que conhecem através
de reportagens e notícias.
Encontramos as manifestações populares de todos os povos através dos
tempos. Seja na pintura , nos símbolos desenhados , nos corpos dos indígenas, no
som da flauta mágica , nas diabruras do menino Maluquinho , num programa de
televisão. E o que tem isso tudo a ver com as crianças e a sala de aula ?
Será que se espera que os professores acumulem ainda mais preocupações
além de ensinar a leitura , escrita e a fazer contas ? Mas serão mesmo apenas
encargos a mais ? Não. Se trata de ampliar para os alunos as possibilidades de
compreender e atuar sobre a realidade , expressando –se por meio de diferentes
linguagens.
3.6 – Feijão Queimou
Esta brincadeira deve ser feita em lugar aberto , longe de qualquer coisa que
as crianças possam bater . Se possível , em lugar que eles não se machuquem ao cair.
As crianças fazem um circule de mãos dadas , mas sem fechar . A primeira
criança que tem uma das mãos livres será o cabeça e irá conduzir a fila . Para
começar ,ela irá dizer:
Cabeça: - feijão queimou !
Todos: - quem queimou ?
Cabeça :- foi a vovó!
Todos: - dá uma volta ?
Cabeça :- eu dou !
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O cabeça do grupo puxa a fileira e passam todos por baixo das mãos da
primeira dupla do outro lado da fila . Quando passarem todos , a segunda criança vai
ficar de costas com os braços cruzados sobre o peito . Nenhuma criança poderá soltar
os braços , para não arrebentar a corrente.
Começa tudo de novo repetindo o refrão e o cabeça puxa a fila para passar
entre a Segunda e a terceira criança . Depois entra a terceira e a Quarta . Assim ,
segue até que todos passem e fiquem na mesma posição: de costas com os braços
cruzados sobre o peito.
Enfim , é uma brincadeira que vai desenvolver habilidades básicas como :
orientação espaço-temporal , o próprio corpo , coordenação motora , valores e
convivências.
3.7 – Garçom equilibrista e corrida
Com objetos variados , são chamados de estafeta , ou seja , a criança sai
correndo alcança o objetivo e volta para que o segundo da fila possa sair e dar
continuidade à brincadeira. A princípio , procure não colocar objetos que caiam da
bandeja com tanta facilidades , para que elas entendam bem como é o jogo .
Faça uma fila só e ensine os procedimentos . Depois divida o grupo em dois ,
para fazer uma competição entre as duas fileiras . A fila que chegar antes , será a
vencedora.
Essas brincadeiras são de domínio popular . Foram passadas de gerações para
gerações e podem ser ainda muito úteis no dia a dia da criança . Brincando ela
cresce, se desenvolve , adquire valores morais , aprende a trabalhar em grupo , a lidar
com a perda , a se socializar.
Os professores podem usar todas essas brincadeiras na escola , cada atividade
deve ser adaptada conforme o nível e grupo que ele tem.
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A infância é , portanto , a aprendizagem necessária à idade adulta. Estudar na
infância somente o crescimento , o desenvolvimento das funções , sem considerar o
brinquedo , seria negligenciar esse impulso irresistível pelo qual a criança modela
sua própria estátua . Não se pode dizer de uma criança que ela cresça apenas , seria
preciso dizer que ela se torna grande pelo jogo. Pelo jogo ela desenvolve as
possibilidades que emergem de sua estrutura particular , concretiza as
potencialidades virtuais que afloram sucessivamente à superfície de seu ser, assimila-
se e as desenvolve , une-as e as combina , coordena seu ser e lhe dá vigor (Chateau ,
1908 , p. 14 ).
Segundo Winnicott (1941) , o brincar possui tudo em si . A criança traz para
dentro dessa área da brincadeira objetos ou fenômenos oriundos da realidade externa,
usando – os a serviço de alguma amostra derivada da realidade interna ou pessoal.
Sem alucinar , a criança põe para fora uma amostra do potencial onírico e vive com
essa amostra num ambiente escolhido de fragmentos oriundos da realidade externa.
O brincar é inerentemente excitante e precário . Essa característica não
provém do despertar instintual , mas da precariedade próprio ao interjogo na mente
da criança do que é subjetivo, quase alucinação , e do que é objetivamente percebido,
realidade concreta ou compartilhado ( Winnicott , 1971 , p.77) .
Sem dúvida o brincar da criança é um exercício . Mas no espírito da criança
que brinca , é antes de mais nada uma prova de sua personalidade e uma afinação de
si. O jogo é antes de tudo um teste de personalidade , ele pode às vezes parecer
válvula de escape , dando vazão a tendências represadas .
Segundo Chateau , o jogo para criança é , em primeiro lugar , brincadeira , é
também uma atividade séria em que o faz-de-conta , as estruturas ilusórias, o
geometrismo infantil , a euforia têm importância considerável .
O brincar representa o trabalho da criança . Como o adulto se sente forte por
suas obras , a criança sente-se crescer com suas proezas lúdicas. Uma criança que
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não quer brincar é uma criança cuja personalidade não se afirma , que se contenta
com ser pequena e fraca, um ser sem determinação, sem futuro (Chateau, l908, p.29).
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A terapia é uma oportunidade que se oferece à criança de poder crescer sob
melhores condições . Sendo o brinquedo seu meio natural de auto-expressão , lhe é
dada a oportunidade de, brincando, expandir seus sentimentos de tensão, frustração,
medo, espanto, confusão, insegurança, agressividade .
Através das brincadeiras espontâneas e das dirigidas , brincando e jogando,
elas apreendem e aprendem o mundo que as cerca , incorporando as competências
necessárias para o seu desenvolvimento .
Brincando a criança estabelece suas relações com a vida real. Ela experimenta
sensações que já conhece e vai desenvolvendo regras de comportamento que imagina
serem corretas.
4.1 – Ludoterapia
Segundo Axline ( 1941) , a ludoterapia é baseada no fato de que o jogo é o
meio natural de auto- expressão da criança . É uma oportunidade dada a criança de se
libertar de seus sentimentos e problemas através do brinquedo , da mesma maneira
que , em certas formas de terapia para adultos , o indivíduo resolve suas dificuldades
falando .
A ludoterapia , quanto à forma , pode ser diretiva , isto é , o terapeuta pode
assumir a responsabilidade de orientação e de interpretação , ou não-diretiva :a
responsabilidade e a direção são deixadas às crianças .
A terapia não-diretiva é baseada no pressuposto de que o indivíduo tem
dentro de si mesmo não só a capacidade de resolver problemas satisfatoriamente ,
mas também esse impulso de crescimento que faz o comportamento maduro mais
satisfatório do que o comportamento imaturo.
Estamos colocando a terapia não diretiva em destaque pois é está que nos
interessa. Ela permite ao indivíduo ser ele mesmo , aceitar-se completamente , sem
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avaliação ou pressão para mudança: reconhecer e esclarecer as atitudes emocionais
expressas pela reflexão do que o paciente expressou.
Segundo Axline, é por esse processo de terapia que se oferece ao indivíduo a
oportunidade de ser ele mesmo, de aprender a se conhecer , de traçar seu próprio
curso abertamente e às claras , de rodar o calidoscópio por assim dizer , de maneira
que ele forma um desenho mais satisfatório para sua vida .
Quando a criança atinge uma certa estabilidade emocional percebe sua
capacidade emocional , percebe sua capacidade para se realizar como um indivíduo,
pensar por si mesma , tomar suas próprias decisões , torna-se psicologicamente mais
madura e assim sendo tornar-se pessoa.
Tornar-se pessoa significa libertar-se das teias internas, tornar-se capaz de um
contato verdadeiro com o outro , não fazer jogos , não usar máscaras , não se
satisfazer com o simples ajustamento , mas tender a criar novas idéias e coisas , ser
cooperativo , receptivo e amoroso.
A ludoterapia é uma experiência única para a criança , descobrir de repente
que as sugestões , as ordens , recriminações , restrições, críticas , desaprovações,
ajudas dos adultos desapareceram. Tudo isso é substituído pela aceitação completa e
pela situação permissiva que lhe possibilita ser ela mesma.
O brinquedo auxilia o processo porque é o meio natural de auto-expressão da
criança. É o material geralmente concedido à criança como propriedade sua . Brincar
livremente é uma expressão do que ela quer fazer , assim ela pode orientar seu
mundo.
O terapeuta não deve dirigir o brinquedo de forma alguma , ele coloca nas
mãos da criança o que lhe pertence , nesse caso o brinquedo e o seu uso não diretivo .
Quando ela brinca livremente e sem ser dirigida está expressando sua personalidade.
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De acordo com Axline , o terapeuta deve desenvolver um amistoso e cálido
relacionamento com a criança de modo que logo se estabeleça o rapport (bom
entendimento entre paciente e terapeuta).
O terapeuta está sempre alerta para identificar os sentimentos que a criança
está expressando e para refletí-los para ela , de tal forma que adquira conhecimento
sobre seu comportamento. A responsabilidade de escolher e de fazer mudanças é
deixada à criança.
O terapeuta estabelece somente as limitações necessárias para fundamentar a
terapia no mundo da realidade e fazer a criança consciente de sua responsabilidade
no relacionamento. A hora da terapia é a hora da criança. A sala de ludoterapia pode
ser bem equipada mas também pode ser um cantinho do colégio mostrando que esta
técnica pode ser utilizada com pequeno orçamento e espaço. A sala de ludoterapia é
um lugar de crescimento.
A psicoterapia se efetua na sobreposição de duas áreas do brincar, do paciente
e a do terapeuta. A psicoterapia trata de duas pessoas que brincam juntas. Em
conseqüência , onde o brincar não é possível , o trabalho efetuado pelo terapeuta é
dirigido então no sentido de trazer o paciente de um estado em que não é capaz de
brincar para um estado em que o é (Winnicott ,1975 , p. 59).
A brincadeira é extremamente excitante. Compreenda-se que é excitante não
primariamente porque os instintos se acham envolvidos , isso está implícito. A
importância do brincar é sempre a precariedade do interjogo entre a realidade
psíquica pessoal e a experiência de controle de objetos reais (Winnicott, 1975, p. 71)
.
Cada relação terapeuta-cliente é um encontro único e irrepetível e, portanto ,
impensável como sujeito a um método ou sistema qualquer.
Do ponto de vista formal , observa-se que a conduta da criança é dirigida por
um sistema motivacional inerente e por um sistema de regulação que atribui valores
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positivos ou negativos às experiências , e que através do seu feedback mantém o
organismo na direção certa para satisfação de suas necessidades.
Do ponto de vista psicológico , a realidade é basicamente o mundo privado
das percepções da criança. Só existe o que faz parte dela , o que é , criado por ela . A
criança percebe a sua experiência como realidade.
A realidade é para ela o que faz parte do seu campo perceptual. A criança
mais do que ninguém está potencialmente mais capacitada a conscientizar-se do que
a realidade representa para ela , já que assume completamente seu esquema o
referencial interno
Tem uma tendência ou impulso básico a atualizar o seu organismo. Interage
com a realidade seguindo a sua tendência básica de atualização. A conduta é
basicamente o esforço intencional do organismo por satisfazer suas necessidades de
atualização.
A realidade é para o indivíduo a sua percepção da mesma , sem entrar no
problema do que constitui realmente a realidade , a menos que se preocupe com
questões filosóficas. A criança pode ser levada ao colo por uma pessoa amiga,
afetuosa . Se perceber esta experiência como estranha , ameaçadora , a sua conduta
será determinada por sua percepção e não pela realidade ou estímulo externo .
Certamente , a relação com o meio ambiente é uma relação transacional , se a
continuidade desta experiência contradiz a percepção inicial , ocorrerá a tempo uma
mudança na percepção.
A experiência criativa pode e deve ocorrer sem expectativas , planejamentos ,
previsões, objetivos ou metas . Quando a criança farta-se de alguma experiência ,
tornando-se entediada , está pronta a voltar-se para alguma outra , provavelmente
forte de maior prazer.
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As etapas e escolhas expressam-se espontaneamente de dentro para fora. A
pura existência de um bebê ou uma criança saudável , implica num interesse , numa
curiosidade casual e espontânea , numa atividade exploratória , especulativa.
Mesmo quando não se considera a criança motivada, expressiva , espontânea,
competitiva , por uma deficiência de qualquer espécie , o que se observa é que ela
tende a submeter-se à prova suas potencialidades ,realizá-las: encontra-se também
absorvida, fascinada e interessada , experimentando , especulando e manipulando o
mundo.
E é por isso que ressaltamos mais uma vez que os bons pais , professores,
terapeutas deveriam agir na prática compreendendo que a tolerância , a amabilidade,
o respeito pelo medo , a compreensão das forças regressivas e defensivas são
necessárias para que o desenvolvimento não se transforme numa ameaça esmagadora
em lugar de uma perspectiva agradável.
A criança saudável , no seu modo espontâneo de ser , de dentro para fora,
vivendo em função de seu potencial interno , é capaz de explorar o mundo com
interesse e curiosidade , podendo assim expressar as suas potencialidades.
O trabalho de virgínia Axline com crianças é muito rico e podemos aprender
muito com ele. Aqui fizemos apenas um esboço de suas idéias sobre a técnica de
ludoterapia usada em tratamento de crianças com distúrbios emocionais.
4.2 – A Psicanálise
Desde sua descoberta por Sigmund Freud , a psicanálise tem tido larga
influência sobre a psicologia, a educação , a medicina e a psiquiatria.
É uma corrente que se fundamenta sobre a teoria do recalcamento (repressão
de necessidades) , significando , também , método de exploração do psiquismo
humano e terapêutico para certas neuroses.
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Freud inaugurou um tempo de maior respeito pelo ser humano e sua
liberdade. Com o caminho aberto por ele , começou a derrubada de velhos mitos: a
vida da criança não é um paraíso , a mãe nem sempre sabe lidar com o filho , nem
todo adulto é maduro emocionalmente , o homem não é dono absoluto do seu
destino, pois as forças inconscientes que nos movem fogem do nosso próprio
controle.
Mas Freud não só derrubou mitos , como ainda abriu perspectivas , pois suas
conclusões mostram que todos podemos ser muito mais alegres , sadios e criativos.
Para a psicanálise , tanto o que é incompreensível quanto o que é bem
compreendido à luz da vida cotidiana merecem igualmente que se interprete. O
método psicanalítico não se vale da lógica cotidiana , da proporção entre motivo e
ação.
A interpretação psicanalítica visa demonstrar o processo que torna possível
uma idéias ou ação , a lógica da concepção. Não a lógica superficial do que já foi
concebido. Lógica da concepção , lógica das emoções , lógica inconsciente são
nomes da mesma coisa: mostram o como , não se detêm no porquê.
Além disso , a interpretação parte da noção de que há sempre inúmeros
sentidos , e não um só sentido verdadeiro. A noção-chave do vasto edifício
conceitual que é a psicanálise é , seguramente , a de insconsciente.
Através dos sonhos , dos atos falhos , da transferência , dos sintomas , Freud
procurou mostrar que vivemos entre o que conscientemente pensamos e sentimos e o
que inconscientemente desejamos. Daí termos muitos conflitos , muitas situações
internas contraditórias.
Com os adultos podemos trabalhar essas questões através da fala , o terapeuta
vai pontuando o discurso do paciente , mas como esse trabalho é possível com
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crianças ? A criança vai apresentando o seu cotidiano, as suas dúvidas, incertezas,
medos , angústias , inseguranças através do brincar.
É possível criar um espaço onde brincando ela vai recriando o seu mundo e
nos mostrando o caminho para compreendê-la e respeitá-la.
Na psicanálise de crianças muito pequenas , esse desejo de comunicar-se
através das brincadeiras é empregado em lugar da fala dos adultos . A criança de três
anos de idade tem uma grande crença , segundo alguns autores , na nossa capacidade
de compreensão , de modo que o psicanalista conhece enormes dificuldades para
corresponder ao que ela dele espera.
Não poderia haver maior estímulo para o analista em busca de uma
compreensão mais profunda do que a aflição da criança perante o nosso fracasso em
entendermos o que ela ( confiante de início) comunica através de suas brincadeiras.
Uma criança brincando pode querer mostrar pelo menos , uma parte tanto do
seu interior como do exterior a pessoas escolhidas por ela no seu meio ambiente. A
brincadeira pode ser uma prova de fraqueza e probidade sobre a própria pessoa.
Isso pode-se converter , nos primeiros anos , no caso oposto , visto que o
brincar , como o falar , foi-nos concedido , como é costume dizer para ocultar os
nossos pensamentos , se é os pensamentos mais profundos que nos referimos.
O inconsciente reprimido deve-se manter oculto , mas o resto do inconsciente
é algo com que cada indivíduo quer travar conhecimento e as brincadeiras , tal como
os sonhos , servem à função de auto-revelação e de comunicação com o nível
profundo.
Brincando as crianças vão expressando seus sentimentos , pensamentos,
sonhos e esperanças , novos horizontes abrirão-se em cada um desses pequeninos.
Alguns superarão seus pavores e ansiedades lutando contra o mundo , que por muitas
vezes lhes é insuportável.
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Se , de fato , queremos aproximar-nos da verdade , cabe-nos olhar
profundamente cada ser humano para compreender as razões do seu comportamento.
Freud faz uma relação entre o brincar e a pulsão de domínio. Ele descreve o
brincar de uma criança de dezoito meses . Segundo Freud , quando a mãe se afasta
por algumas horas , a criança , mesmo estando em companhia de outros adultos,
elege o brincar sozinha.
O jogo consiste em jogar e, às vezes, trazer de volta, um carretel, por
exemplo, amarrado num cordão, através da grade de sua cama. Quando faz
desaparecer o carretel, pronuncia um (o-o-o-), e quando puxando o cordão o faz
aparecer, pronuncia um(dá). Estas palavras seriam equivalentes a “fora”, “se foi” (o-
o-o-) e “tá aqui, a “tenho” (dá) (Fernández , 2001, p.128) .
A tensão dolorosa , gerada pela experiência inevitável da presença e ausência
do objeto amado , por um jogo no qual ele mesmo maneja a ausência e a presença
como tais , e deleita-se , além disso , em governá-las ( Fernández, 20001,p.128).
Segundo Fernández , o jogo de arremessar e recolher , fazer desaparecer e
fazer aparecer , esteve precedido por outras situações , nas quais a criança
arremessava objetos pequenos e parecia sentir grande prazer em jogá-los.
Conforme Winnicott , está modalidade lúdica pode ser observada com
frequência nas crianças pequenas saudáveis : usar , primeiro a agressividade para
expulsar , para derrubar. Como vimos , o brincar é uma forma de comunicação na
psicoterapia.
O natural é o brincar . O brincar é extremamente excitante . É possível , de
acordo com Winnicott , descrever uma seqüência de relacionamentos sobre o
processo de desenvolvimento , examiná-los , e ver a que lugar pertence o brincar.
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No estado de confiança que se desenvolve quando a mãe pode desempenhar-
se bem dessa difícil tarefa (não se for incapaz de fazê-la) , o bebê começa a fruir de
experiências baseadas num casamento da onipotência dos processos intrapsíquicos
com o controle que tem do real.
A confiança na mãe cria aqui um playground intermediário , onde a idéia da
magia se origina , visto que o bebê , até certo ponto , experimenta onipotência.
Winnicott chama isso de playground porque a brincadeira começa aqui.
O playground é um espaço potencial entre a mãe e o bebê , ou que une mãe e
bebê. O estádio seguinte é ficar sozinho na presença de alguém . A criança está agora
brincando com base na suposição de que , a pessoa a quem ama e que , portanto , é
digna de confiança , e lhe dá segurança , está disponível e permanece disponível
quando é lembrada, após Ter sido esquecida. Essa pessoa é sentida como se
refletisse de volta o que acontece no brincar ( Winnicott , 1975 , p.71) .
No estádio seguinte é a mãe que passa a brincar com o bebê. Mais cedo ou
mais tarde, entretanto ela introduz seu próprio brincar e descobre como varia a
capacidade dos bebês de aceitar ou não a introdução de idéias que não lhes são
próprias. Dessa maneira , está preparado o caminho para um brincar conjunto num
relacionamento .
De acordo com Winnicott , é fácil perceber que as crianças brincam por
prazer, é muito mais difícil para as pessoas verem que as crianças brincam para
dominar angústias , controlar idéias ou impulsos que conduzem à angústia se não
forem dominados.
A angústia é sempre um fator na brincadeira infantil e , freqüentemente, um
fator dominante . A ameaça de um excesso de angústia conduz à brincadeira
compulsiva , ou à brincadeira repetida , ou a uma busca exagerada dos prazeres que
pertencem à brincadeira , e se a angústia for muito grande , a brincadeira redunda em
pura exploração de gratificação sensual ( Winnicott , l975,p.162) .
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Não é este o lugar adequado para demonstrar a tese de que a angústia está
subjacente na brincadeira infantil. Contudo , o resultado prático é importante , dado
que, enquanto as crianças brincam por prazer , pode-se lhes pedir que parem de
brincar , ao passo que a brincadeira lida com esses sentimentos de angústia ou de
ansiedade , não podendo desviar dela as crianças sem lhes causarmos aflição,
angústia real ou novas defesas contra a mesma.
Melanie Klein ( 1932) , também apresenta estudos sobre o brincar , porém, na
medida em que estudava a brincadeira , mantinha seu interesse centrado quase que
inteiramente no uso desta .
O terapeuta busca a comunicação da criança e sabe que geralmente ela não
possui um domínio da linguagem capaz de transmitir as infinitas sutilezas que podem
ser encontradas na brincadeira por aqueles que as procuram .
Contudo , Klein (1932) , está mais preocupada com a utilização do conteúdo
da brincadeira do que em olhar a criança que brinca e escrever sobre o brincar como
uma coisa em si .
O professor visa ao enriquecimento. O terapeuta interessa-se especificamente
pelos próprios processos de crescimento da criança e pela remoção dos bloqueios ao
desenvolvimento que podem Ter-se tornado evidentes .
É bom recordar que o brincar é por si mesmo uma terapia . Conseguir que as
crianças possam brincar e em si mesmo uma psicoterapia que possui aplicações
imediata e universal , e inclui o estabelecimento de uma atitude social positiva com
respeito ao brincar.
Essa atitude deve incluir o reconhecimento de que o brincar é sempre possível
de tornar-se assustador . Os jogos e sua organização devem ser encarados como parte
de uma tentativa de prevenir o aspecto assustador do brincar.
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É no brincar , e talvez apenas no brincar , que a criança ou o adulto fruem
sua liberdade de criação . Esse brincar tem que ser espontâneo , e não submisso ou
aquiescente, se é que se quer fazer psicoterapia .
O brincar é inerentemente excitante e precário . Essa característica não
provém do despertar instintual , mas da precariedade própria ao interjogo na mente
da criança do que é subjetivo (quase alucinação ) e do que é objetivamente percebido
(realidade concreta ou realidade compartilhada ) , (Winnicott , l975, p.77) .
Neste capítulo tentamos fazer um estudo sobre a técnica de ludoterapia,
fundamentada na psicologia humanista-existencial , e um pequeno esboço sobre o
vasto campo da psicanálise. Apenas tentamos. O campo da psicanálise é muito rico e
complexo.
Minha experiência com ludoterapia tem mostrado que ela é um bom caminho
pois permite a criança se libertar de sentimentos que a tornam prisioneira de si
mesmo. A criança precisa ter a oportunidade de libertar-se da escuridão e descobrir
por si que poderá enfrentar as sombras e a luz do sol em sua vida.
Somos personalidades que crescemos e nos desenvolvemos como resultado
de todas as nossas experiências , relacionamentos , pensamentos e emoções. Somos
uma totalidade que , fazendo-se faz a própria vida .
Numa era como a nossa , tão conturbada , o homem deve estar equipado com
a capacidade de descobrir significados , descobrir por conta própria o que representa
para ele cada situação em particular , tudo isto somando-se para formar um cordão
único chamado vida humana.
Não é dever ou tarefa única da educação satisfazer-se e transmitir tradições,
valores e conhecimentos. É seu dever também dar relevância especial ao
desenvolvimento e refinamento daquela capacidade de descobrir , farejar o
significado implícito de uma situação em particular .
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A educação deve aguçar e estimular a capacidade do homem ouvir a voz de
sua consciência. Somente quando o homem adquire esta capacidade está apto a
enfrentar todos os problemas de sua vida.
Uma pessoa segura do ponto de vista emocional enfrentará todos os riscos da
vida , de natureza social , ética , espiritual, biológica , com um firme senso da própria
realidade e identidade , assim como a dos outros .
A criança que brinca adquire confiança em si mesma , em sua capacidade de
crescimento , em seu potencial criativo . Brincando ela está trocando experiências
com o mundo que a cerca e nessa troca ela vai se desenvolvendo e se sentindo mais
feliz . Vivendo de uma forma harmoniosa ela vai adquirindo segurança na sua
capacidade de enfrentar seus medos , seus problemas , ela vai simplesmente se
conhecendo e conhecendo os outros .
Talvez haja mais compreensão e beleza na vida quando os raios ofuscantes do
sol foram suavizados pelos contornos da sombra. Talvez haja raízes mais profundas
numa amizade que sofreu tempestades e as venceu.
A experiência que nunca desaponta ou entristece , que nunca toca nos
sentimentos é uma vivência neutra com pequenos desafios e variações de cor.
Quando sentimos confiança e muita fé e acima de tudo esperança de que podemos
concretizar nossos objetivos , isto constrói dentro de nós um manancial de força,
coragem e segurança (Axline ,1964,p.283).
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CONCLUSÃO
Concluímos que é possível fazer uma relação entre as brincadeiras e o
cotidiano das crianças. Após essa explanação verificamos que o brincar é muito
importante na vida delas. Seja na escola , seja na terapia , seja no seu dia-a-dia,
brincando ela vai vivenciando experiências , aprendendo com elas , vai crescendo,
amadurecendo.
Os jogos simbólicos podem ajudá-las a elaborar seus conflitos cotidianos.
Permitem que elas realizem seus desejos , é uma oportunidade dada a criança de se
libertar de seus sentimentos, medos, problemas, inseguranças.
Brincando elas liberam suas emoções , seus receios , suas angústias , e cabe
as pessoas que convivem com crianças observá-las , assim poderá conhecê-las
melhor , o que a fala numa terapia desvenda sobre a personalidade do adulto
analisado , o brincar tem o mesmo papel na vida das crianças.
O brincar é uma experimentação da vida . Através do brincar podemos
trabalhar também as frustrações ( a criança tem que aprender a lidar com perdas),
brincando ela pode falar de frustração , sucesso , e todos os sentimentos que ela não
pode expressar através da fala .
Portanto , conhecendo melhor nossas crianças poderemos colaborar para que
se transformem em adultos mais alegres, mais criativos , mais felizes enfim , pois
somos personalidades que crescemos e nos desenvolvemos como resultado de todas
as nossas experiências .
Crescemos sempre através dos nossos relacionamentos, pensamentos e
emoções, somos uma totalidade que, fazendo-se, como já foi dito várias vezes, faz a
própria vida.
O crescimento é, portanto, uma série de escolhas livres que o indivíduo faz
entre segurança e desenvolvimento. O meio pode atuar gratificando ou não as
50
necessidades básicas de segurança e ajudar ao indivíduo a perceber a opção para o
crescimento de forma mais atraente.
O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo sobre a importância do
brincar na vida da criança em diferentes contextos. Mostramos que o brincar está
presente e faz parte do cotidiano da criança. Daí a importância de observá-la em
diferentes formas de brincar , pois ,apenas observando-as , poderemos descobrir
muitas coisas sobre o seu universo interior .
.
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BIBLIOGRAFIA
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Médicas, 1992.
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52
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WOOLFOLK, Anita E. – Psicologia da Educação. Porto Alegre: Artes Médicas Sul,
2000.
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO 6
CAPÍTULO I 8
BRINCADEIRA É COISA SÉRIA ( O BRINCAR NO CONTEXTO ESCOLAR ) 8
1.1. O brincar como recurso pedagógico 12
CAPÍTULO II 15
O JOGO E SUA IMPORTÂNCIA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA 15
2.1. Piaget e seus estágios de desenvolvimento 16
2.2. Vygotsky e a questão social 23
CAPÍTULO III 26
BRINCADEIRAS POPULARES 26
3.1.Parlenda 29
3.2.Trava-línguas 30
3.3.Jogos de adivinhações 30
3.4.Brincadeiras de roda 30
3.5.Bola na rede 31
3.6.Feijão queimou 32
3.7.Garçom equilibrista e corrida 33
CAPÍTULO IV 36
O BRINCAR E A TERAPIA 36
4.1. A Ludoterapia 37
4.2. A Psicanálise 41
CONCLUSÃO 49
BIBLIOGRAFIA 51
ANEXOS 53
1. Folha de estágio 54
2. Eventos culturais 55
ÍNDICE 56
57
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Pós- Graduação “ Lato Sensu “
Título do trabalho : O Brincar e sua importância na vida da criança
Data da Entrega: ____/______________ de 2003.
Auto Avaliação:
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Observações finais:
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Avaliado por :________________________________________Grau____________
_____________________, __________de _______________de __________