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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
ALUNO PROBLEMA OU SITUAÇÃO PROBLEMA? - O PAPEL DO
PPP NA DISCUSSÃO SOBRE INDISCIPLINA ESCOLAR
Por: Amanda Guerra de Lemos
Orientadora
Profª: Geni Lima
Rio de Janeiro
2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
ALUNO PROBLEMA OU SITUAÇÃO PROBLEMA? - O PAPEL DO
PPP NA DISCUSSÃO SOBRE INDISCIPLINA ESCOLAR
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Orientação
Educacional e Pedagógica
Por: Amanda Guerra de Lemos
3
AGRADECIMENTOS
“O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no
meio da travessia” Guimarães Rosa
Mãe, pai e irmã por escolherem caminhar comigo nessa estrada chamada vida.
Ao Zé que mesmo de longe, admira.
Aos amigos que por um ano ouviram mais nãos do que sim.
Aos professores da pós que transformaram tardes de sábado em espaço de
reflexão e aprendizado.
As companheiras do curso, que juntas nos apoiamos umas nas outras e nos
identificamos em laços sinceros de solidariedade.
As professoras do EPA! que me proporcionaram a primeira oportunidade de
orientar.
As professoras e coordenadoras das Escolas do Amanhã, que enfrentam hoje
e sempre a difícil e maravilhosa tarefa de educar e principalmente à Marta,
Mônica e Lilian.
A Mercês pela crença inabalável na construção coletiva de uma escola
verdadeiramente democrática.
E em especial a professora Geni que com sua presença firme me arrebatou
desde o primeiro dia de aula.
4
DEDICATÓRIA
“Minha mãe me deu ao mundo
De maneira singular
Me dizendo uma sentença:
Pra eu sempre pedir licença.
Mas nunca deixar de entrar”
Caetano Veloso
A todos os alunos que, assim como Caetano,
pedem licença, mas compreendem que a
função da juventude, é “nunca deixar de
entrar”, abrindo assim, novas portas, janelas e
possibilidades.
5
RESUMO
Com o intuito de analisar o processo de construção do Projeto Político
Pedagógico em relação à discussão do problema da indisciplina, a presente
monografia problematiza a participação coletiva dos diferentes segmentos da
comunidade escolar tendo por princípio a superação do binômio “aluno-
problema” em busca da discussão acerca das relações existentes no interior
das escolas. Organizada em quatro capítulos que abordarão o tema proposto
da seguinte forma:
No primeiro capítulo será abordada a questão da indisciplina escolar
através da discussão em relação às situações de conflito que evidenciam
as relações estabelecidas. Nessa abordagem discutiremos a superação da
ideia de aluno problema, propondo a análise a partir da situação problema.
A discussão em torno do PPP será tema do segundo capítulo, nele
abordaremos diferentes autores no que tange a importância, estrutura,
elaboração e participação da comunidade escolar, no Projeto Político
Pedagógico.
No terceiro capítulo, analisaremos uma experiência onde a democracia é
exercida em seus princípios mais profundos. A partir da análise da
elaboração do Regimento Escolar Básico das escolas municipais do Rio de
Janeiro pesquisaremos, no último capítulo, as estratégias encontradas para
a discussão sobre disciplina nesta rede de ensino.
Palavras- chave: disciplina, projeto político pedagógico, autonomia escolar
6
METODOLOGIA
A presente monografia baseia-se sua pesquisa na bibliografia acerca do
tema disciplina tendo por princípio a superação do binômio “aluno-problema” e
a discussão sobre a sua importância e possibilidades de implementação do
Projeto Político Pedagógico e seus desdobramentos na identidade das escolas.
Apesar do enfoque do presente trabalho ser eminentemente prático, é
importante destacar que a pesquisa bibliográfica é de fundamental importância
para o embasamento teórico da linha de pesquisa e do desenvolvimento das
hipóteses defendidas.
Nosso estudo da abordagem dada por Foulcault, no tocante às relações
de poder, foi fundamental no momento de relacionar tais conceitos à realidade
da pesquisa sobre a prática pedagógica. Já com relação à questão da
disciplina e suas ramificações, centramo-nos no tratamento que Celso
Vasconcellos e Julio Emilio Groppa oferecem para o tema, mas precisamente
nas obras (In) disciplina – construção da disciplina consciente e interativa em
sala de aula e na escola e Indisciplina na escola, respectivamente. No tocante
as discussões acerca da importância e construção do PPP, buscamos em
Danilo Gandin, Moacir Gadotti e Celso Vasconcellos as referências para a
reflexão, prioritariamente, a partir das seguintes obras: A prática do
Planejamento Participativo, Autonomia da escola – princípios e propostas.
Planejamento – Projeto de Ensino-Aprendizagem e Projeto Político-
Pedagógico; respectivamente.
As bases legais para a construção do PPP foram referendadas pela
LDBEN 9.392/96, onde também fundamentamos a discussão com relação à
autonomia e democracia escolar.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I 12
A INDISCIPLINA ESCOLAR: ALUNO PROBLEMA X SITUAÇÃO PROBLEMA
CAPÍTULO II 23
A FORMAÇÃO DO PPP NAS ESCOLAS – A PARTICIPAÇÃO QUE APROXIMA OLHARES
CAPÍTULO III 32
E QUANDO SÃO OS ALUNOS QUE DECIDEM? – A EXPERIÊNCIA DA ESCOLA DA PONTE
CAPÍTULO IV 40
UMA POSSIBILIDADE VIÁVEL? OS DESAFIOS NA DISCUSSÃO DA INDISCIPLINA
ESCOLAR
CONCLUSÃO 47
ANEXOS 51
BIBLIOGRAFIA 63
ÍNDICE 66
8
INTRODUÇÃO
A escola na atualidade sofre com uma crise de paradigmas: Que
sociedade queremos? Qual o papel da escola nesta sociedade? Que escola
queremos? Que sujeito ajudamos a formar? Estas são perguntas pertinentes
ao processo educativo e que carrega em si um projeto maior de cidadão, de
sociedade, de mundo. Tendo que responder a essas perguntas para construir
um projeto em comum, os diferentes setores da comunidade escolar devem
refletir sobre as relações inter-pessoais e seus desdobramentos no cotidiano
da escola e lançar luz sobre as dificuldades encontradas na própria sociedade
para estabelecer conceitos e valores condizentes com aqueles que esperamos
estabelecer no interior das instituições escolares.
Ao refletirmos sobre essas questões, o tema indisciplina escolar aparece
como fundamental para a construção de um projeto educacional eficiente já
que “alunos-problema” são frequentemente relatados como um dos fatores que
afetam diretamente as relações estabelecidas no contexto escolar. Mas, o que
determina as relações consideradas problema no interior das salas de aula? De
que maneira é possível discuti-las e traçar caminhos para sua superá-las?
Acreditamos que a superação de qualquer questão no interior da escola
depende do envolvimento consciente dos seus participantes, em busca de
conceitos, ideias e ideais em comum.
O documento oficial onde devem estar explicitadas as intenções e
conceitos de cada Unidade Escolar é o Projeto Político Pedagógico.
O Projeto Político Pedagógico deve abordar diferentes aspectos de uma
escola, em linhas gerais, seus três pontos principais podem ser resumidos da
seguinte forma: o ideal, a realidade, e o que fazer para transformar essa
realidade no nosso ideal. A possibilidade de debater questões tão profundas
transforma a escola em um espaço único de disputa de ideias, modelos e
concepções sobre o mundo que temos e o que queremos e qual escola servirá
a esse mundo.
9
O objetivo da pesquisa aqui apresentada é analisar como o processo de
construção do Projeto Político Pedagógico nas escolas pode auxiliar na
discussão do problema da indisciplina no ambiente escolar.
Acreditamos que a construção do PPP, por ser um momento privilegiado
de debates de ideias, pode auxiliar na reflexão sobre a indisciplina, na medida
em que aproxima a visão dos diferentes grupos da comunidade escolar e faz
com que todos, além de conhecer seus ideais e desejos, sintam-se co-
responsáveis pela implementação dos objetivos e metas traçados em conjunto.
O PPP é compreendido como o documento referência de toda Unidade
Escolar, devendo compreender não só os aspectos teóricos e metodológicos,
mas também servir de instrumento prático para a ação educativa que se
pretende realizar, transformando a realidade observada em busca da realidade
almejada.
É indicada, para a sua elaboração, a participação ampla dos diversos
grupos que compõem a comunidade escolar e, devido a esse caráter
participativo, transforma-se em um compromisso de todos os setores do grupo,
já que passam a comungar de um mesmo referencial teórico.
Todo o processo de construção e a reelaboração periódica do PPP
colabora para a conquista da autonomia da escola e a formação teórica de
todos os participantes do grupo, já que encerra uma face reflexiva sobre a
prática no cotidiano escolar.
O tema indisciplina não precisa, necessariamente, fazer parte do PPP,
no entanto, as relações interpessoais estabelecidas na escola, precisam ser
tema de discussão durante o processo de elaboração do mesmo e neste
momento devem surgir as diferentes falas sobre disciplina, indisciplina, regras,
respeito e estabelecimento de condutas relacionadas ao projeto que está
sendo elaborado e nesse debate o tema emerge do conflito de diferentes
olhares.
Um dos aspectos que podem surgir dessa discussão é a relação
professor-aluno, que ao longo do tempo sofreu mudanças significativas.
Algumas dessas mudanças são encaradas por alguns, de forma positiva, pois
10
evidenciariam uma maior interação entre o processo ensino-aprendizagem e o
educando, então compreendido como sujeito desse processo, e também, como
um maior compromisso com a responsabilidade do cotidiano escolar e a
aprendizagem. No entanto, muitos educadores também identificam um
comportamento negativo, de confronto direto, de falta de respeito às regras
estabelecidas, de negação de limites, muitas vezes, de falta de limites,
questionando quais seriam os valores compartilhados por esses alunos.
A indisciplina escolar tema amplamente debatido na atualidade e
apontado como um dos grandes entraves para o pleno desenvolvimento do
educando, apresenta múltiplas interpretações que perpassam os diferentes
atores que compõem o corpus desta discussão: responsáveis, alunos,
professores, orientadores e gestores costumam ter diferentes olhares em
relação ao tema, mas em poucos momentos debatem essas diferenças em prol
de um ponto em comum.
O Projeto Político Pedagógico configura-se como um documento de
identidade da escola, incluindo seus desejos (marco doutrinal), realidade
(marco situacional), e as ações implementadas para aproximar o desejo da
realidade (marco operacional). Sendo o PPP uma identidade da escola, nosso
intuito nesse trabalho é discutir como sua construção poderia auxiliar numa
convergência desses olhares, muitas vezes contraditórios, e apontar para
algumas soluções, superando a ideia muitas vezes generalizada de “aluno-
problema”.
Objetivando a análise do tema, pretendemos ao longo dos capítulos
definir indisciplina escolar na atualidade, a luz do conceito de situação-
problema; analisar o processo participativo de formação do PPP; dialogar com
diferentes autores sobre o caráter dialógico na construção de um projeto de
escola; analisar a discussão sobre indisciplina atualmente realizada nas
escolas da rede municipal do Rio de Janeiro e apresentar uma proposta
construída coletivamente que engloba a autonomia estudantil.
Para isso a pesquisa será realizada a partir da bibliografia sobre o tema
disciplina/indisciplina escolar, tendo por princípio a superação do binômio
11
“aluno-problema” e a discussão acerca da importância do Projeto Político
Pedagógico e seus desdobramentos na identidade das escolas que participam
de sua construção e implementação, analisando como diferentes autores se
posicionam sobre o debate coletivo na construção do PPP e sua importância
para a escola na atualidade. Tentaremos exemplificar a análise a partir da
observação deste processo na rede municipal de educação da cidade do Rio
de Janeiro, através da análise de alguns pontos do Regimento Escolar Básico;
além de direcionar o olhar para uma escola, que apesar de não fazer parte da
rede educacional brasileira, pode ser encarada como um exemplo de
autonomia na discussão da indisciplina, a Escola da Ponte, em Portugal.
Esperamos que ao final desta análise, possamos apontar alguns
caminhos para a discussão da indisciplina escolar dentro dos limites da
elaboração do PPP, superando a ideia de aluno-problema e ampliando o olhar
para os diferentes conceitos e ideias que habitam as concepções de mundo e
escola dos envolvidos no debate e pertencentes à comunidade escolar.
12
CAPÍTULO I
A INDISCIPLINA ESCOLAR: ALUNO PROBLEMA X SITUAÇÃO
PROBLEMA
A educação é um ato de amor, por isso, um ato de
coragem. Não pode temer o debate. A análise da
realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena
de ser uma farsa.
Educação como prática da Liberdade - Paulo Freire
A educação escolar brasileira tem seus pressupostos expressados na
Lei de Diretrizes e Bases 9394/96, e é “inspirada nos princípios de liberdade e
nos ideais de solidariedade humana” (Art.2º, 1996). Muitas vezes discurso e
prática nos parecem irreconciliáveis. Não é incomum notícias em jornais de
ampla circulação (ver exemplo no anexo 1) divulgarem casos de violência
dentro e fora dos muros escolares envolvendo alunos, alunos e professores;
também não é incomum vermos associada à essa violência, casos de extrema
indisciplina, falta de controle por parte do professor, alunos sem limites.
Acreditamos que cair na armadilha da culpabilização de professores,
família ou alunos encobre a verdadeira complexidade do tema que perpassa
pela discussão do papel da escola na atualidade, na identidade que cada
escola constroi, seus objetivos e valores.
A educação escolar como um processo de organização humana
intencional com o objetivo de socializar os saberes já sistematizados, ao
mesmo tempo em que transmite os valores socialmente legitimados
(MICHELS, 2006) carrega em si uma contradição: da mesma forma que insere
as futuras gerações na sociedade da qual faz parte, traz também o papel de
transformá-la, torná-la mais justa, enfim, contestá-la ideologicamente. Dentro
deste espaço de autonomia relativa é importante levantar a questão sobre qual
sociedade a escola atual está ajudando a construir.
13
Dentro deste contexto a ideia de “aluno problema” nos remete a
necessidade de debater as relações existentes no interior da escola que se
estabelecem entre aluno/professor, aluno/aluno, professor/professor,
gestores/professores, orientadores/alunos. Sendo a sala de aula o palco
privilegiado onde os conflitos se apresentam, a relação professor/aluno ganha
considerável importância para a discussão do tema.
1.1 - A construção da disciplina na escola atual
A disciplina escolar deve ser entendida dentro de um âmbito mais amplo
que engloba além das relações vividas na própria escola, uma discussão maior
sobre seu sentido, seus objetivos.
Inserida em uma sociedade excludente, individualista, a escola traz em
si a dicotomia e contradição de, ao mesmo tempo que legitima a sociedade em
que faz parte, carrega a tarefa de transformá-la a partir da compreensão crítica
desta mesma sociedade.
Há necessidade de darmos sentido novo ao conhecimento: conhecer não simplesmente para “ser alguém na vida”, mas para ajudar a necessária transformação estrutural da sociedade (...) A nosso ver, este sentido se encontra na tríplice articulação entre compreender o mundo em que vivemos, usufruir do patrimônio acumulado pela humanidade e, sobretudo, transformar este mundo, qual seja, colocar este conhecimento a serviço da construção de um mundo melhor, mais solidário e justo. (VASCONCELLOS, 2009b, p.72)
Neste espaço de disputa ideológica, organizado e legitimado
socialmente, em que a escola se transforma, a disciplina se faz presente, pois
é parte integrante de qualquer organização. Para configurar-se como uma
ordem consentida, é preciso que contemplem todos os atores do processo
educativo escolar – professores, alunos, familiares, gestores, coordenadores,
para que supere a postura autoritária.
14
No entanto, historicamente, a disciplina é compreendida em nossa
sociedade individualista, como uma forma de garantir a subordinação e a
submissão, sendo um instrumento do autoritarismo e não de emancipação.
Tradicionalmente, quando falamos em disciplina, uma gama de outras palavras
nos vem em mente: subordinação, submissão, ordem. A disciplina geralmente
é associada a práticas de subordinação que se expressa em diferentes
aspectos do cotidiano e nas relações de poder que se constroem no interior
das instituições analisadas.
A própria organização espacial da instituição, determina e é
determinante da disciplina que se pretende impor e é um reflexo das relações
que se constroem em seu interior.
A ordenação por fileiras, no século XVIII, (...) começa a definir a grande forma de repartição dos indivíduos da ordem escolar: filas de alunos na sala, nos corredores, nos pátios; colocação atribuída a cada um em relação a cada tarefa e cada prova; colocação que ele obtém de semana em semana, de mês em mês, de ano em ano, alinhamento das classes de idade umas depois das outras; sucessão dos assuntos ensinados, das questões tratadas segundo uma ordem de dificuldade crescente. (FOUCAULT, 1997, p. 141)
Foucault analisa o começo de uma ordem que, em muitas instituições,
perpetua-se até os dias de hoje, romper com essa ordem e buscar uma
disciplina que a estabeleça é uma tarefa que leva em conta discussões mais
amplas sobre o papel da escola e de cada um que a compõem.
Passar a fazer parte consciente de todo o processo que constitui a
disciplina dentro do ambiente escolar é um instrumento de busca de autonomia
que deve ser exercido por todos que nela atuam (escola), e que dela
(disciplina) se beneficiarão.
15
Até a própria disciplina deve ser ativa. Não é disciplinado um indivíduo que alguém torna artificialmente silencioso e imóvel como um paralítico. É um indivíduo aniquilado e não disciplinado.
Consideramos disciplinado um indivíduo que é senhor de si e que pode, por conseguinte, dispor de si próprio ou seguir uma regra de vida. (MONTESSORI, in FOULQUIÉ, 1971, p.122)
Vejamos como exemplo o silêncio, que para muitos professores é um
dos principais indicadores de uma turma disciplinada, não necessariamente
indica atenção. Pode tanto estar em silêncio aquele que pensa em outras
coisas como aquele que presta atenção, aquele que reflete sobre o que está
sendo falado como aquele que não compreende nada do que é dito. De uma
forma geral, o silêncio pode ser um indicativo de desatenção tão evidente como
a conversa paralela.
Celso Antunes (2002) propõe a utilização da conversa de uma maneira
pedagógica, dentro de uma proposta de debates e troca onde o professor deve
trabalhar como um instigador de perguntas, expositor de desafios.
Quando o silêncio sugere atenção e envolvimento, quando é
acompanhado de observações , indagações e posicionamento, ele é fruto
interno de uma necessidade de organização inspirada na auto-disciplina e
compromisso.
A disciplina não é efeito de certas medidas “disciplinares”, mas sim de todo o sistema de educação, de todas as circunstâncias da vida, de todas as influências a que as crianças estão sujeitas. Neste sentido, a disciplina não é a causa, não é o método, não é o meio de uma boa educação, mas o seu resultado. (MAKARENKO in FOULQUIÉ, 1971, p. 122)
Durante muito tempo a escola era vista como a única forma de ascender
socialmente, seu valor e sua autonomia não eram questionados. Quando a
escola deixa de ser o caminho inquestionável de ascensão social, o prestígio
que antes era transferido automaticamente para o professor fazendo com que
sua autoridade estivesse acima de qualquer dúvida, mudou, a escola também
mudou. Uma escola que não se pretende mais ser mera transmissora de
16
conhecimentos e coloca o aluno no centro do processo ensino-aprendizagem
deve redimensionar os conceitos de disciplina e autoridade. A primeira deve
ser construída e a segunda conquistada.
O que as formas autoritárias de educação proporcionam é a
heteronomia, ou seja, submissão a ordem ou governo de outrem. Esperar que
o outro dite as regras pressupõe uma atitude passiva, pouco criativa que ao
mesmo tempo pode resultar em uma total falta de compromisso com a eficácia,
já que não fez parte da elaboração das mesmas. No entanto, quando “cada um
faz o que bem entende”, o resultado desta ação também não se configura
como autonomia, pois assim não há governo e sim ação por impulsos. A
educação libertadora será aquela capaz de construir coletivamente parâmetros
de disciplina autônoma, onde mecanismos de funcionamento do grupo são
eleitos, revistos, avaliados e colocados em prática pelo próprio grupo. Isso não
significa que todo o processo de construção da autonomia seja simples, muito
pelo contrário, como todo processo de envolvimento ativo de diferentes atores
sociais gera conflitos e negociações complexos e muitas vezes difíceis de
serem administrados.
Uma dimensão dramática do autoritarismo é que, se, por um lado, ele reprime a manifestação do ser, impedindo a autonomia, por outro, dá uma sensação de segurança muito grande, pois as decisões já vem tomadas, cabendo às pessoas apenas executá-las; evita-se com isto toda a crise, o doloroso processo de decisão, que implica sempre em optar por algo em detrimento de outras possibilidades, correr riscos, etc. (IBID, p58)
A disciplina conseguida na base da heteronomia (baseada, geralmente
no princípio da punição para tornar-se viável, mas também podendo basear-se
no prêmio ou elogio, pois fazem parte da mesma gama de possibilidades para
garantir uma disciplina heterônoma) é pontual, como não passou por nenhuma
tomada de consciência, elaboração de planos de ação, decisão coletiva, ela
pode ser frágil e vulnerável, muitas vezes basta a saída do professor da sala
para toda a disciplina conseguida, deixar e existir.
17
Redimensionar o papel da escola hoje e de todos os que nela atuam
como protagonistas de um processo de mudança e transformação, perpassa
pela reavaliação dos processos tradicionalmente engendrados no interior das
mesmas com relação à autonomia dos alunos seu do papel na construção
coletiva do cotidiano escolar e das relações nele estabelecidas. Lançar luz
sobre essas relações é o primeiro passo para superá-las.
1.2 - Em busca do problema
A disciplina, compreendida como um “conjunto de regras ou ordens que
regem o comportamento de uma pessoa ou coletividade” (INFOPEDIA- verbete
disciplina) não é tão frequente nas discussões entre os educadores em geral
como a sua negação o é.
Quando observamos algumas práticas escolares e suas ações em torno
do tema, verificamos que o comportamento esperado, a disciplina almejada
para chegar a um objetivo, é muito pouco explicitada. A maneira como não
devemos nos relacionar no ambiente escolar é mais clara do que a forma como
devemos.
Em uma perspectiva histórica, a profusão de “nãos” que povoam o
imaginário escolar pode ser teorizada a partir de uma mudança na forma de
coerção social onde o “vigiar demonstra-se mais eficaz que o punir”
(FOUCAULT, 1997), dessa forma diferentes mecanismos são construídos
dentro das instituições sociais (incluindo a escola) para que o tempo, o espaço
e os movimentos passem a corresponder ao desejado, uniformizado,
esquadrinhado e domesticado:
A modalidade, enfim: implica numa coerção ininterrupta, constante, que vela sobre os processos da atividade mais que sobre seu resultado e se exerce de acordo com uma codificação que esquadrinha ao máximo o tempo, o espaço, os movimentos. Esses métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que realizam a sujeição constante de forças e lhes impõe uma relação de docilidade-utilidade, são o que podemos chamar as “disciplinas”. (IBID, p133)
18
Embora pouco discutido o conceito de disciplina escolar sobre o ponto
de vista de qual disciplina queremos e como podemos alcançá-la, a indisciplina
é tema recorrente nas discussões escolares, seja por uma necessidade de
extravasar angústias (e aí a figura do “aluno-problema” aparece como indicador
do quadro atual da Educação Brasileira), ou da necessidade de buscar um
“culpado” para a situação, sem contestá-la em suas raízes.
A escolha que aqui fazemos de discutir a disciplina/indisciplina se dá por
uma terceira motivação: contestar os padrões e conceitos sobre o tema e
buscar soluções, já que compreendemos o papel do Educador como
privilegiado para o debate e mudança de atitude.
Em busca do problema, podemos seguir a partir da discussão acerca
das hipóteses explicativas mais comumente encontradas para dar conta do que
muitos consideram o grande problema nas escolas: o aluno problema. Julio
Emilio Groppa (1998) argumenta que não apenas o senso comum, mas até
mesmo os educadores mais envolvidos com ao cotidiano de suas escolas
apontam no mesmo sentido quando buscam discutir sobre o tema, encontrando
três hipóteses explicativas: “O aluno desrespeitador”, “O aluno sem limites” e
“O aluno desinteressado”.
Encontrar uma saída que supere a ideia de aluno problema e lance um
olhar sobre as relações que se estabelecem na escola é um dos grandes
desafios da atualidade. Groppa propõe uma mudança de análise ao sugerir que
a indisciplina é um indicador das circunstâncias existentes em sala de aula e as
relações estabelecidas nesses espaços; situações essas que devem ser
observadas, contextualizadas, analisadas, debatidas para a superação e
mudança (1998).
As críticas a essa hipótese explicativa (aluno-problema), giram em torno
das ideias e concepções que os educadores têm da própria escola, seu papel e
seus limites de atuação. Ao mudarmos o foco do tema indisciplina, retiramos do
campo da inadequação a padrões de comportamento e colocamos sob a ótica
pedagógica. Desta forma a indisciplina passa a ser um “termômetro” que
19
indica, indiretamente, problemas intrínsecos ao funcionamento escolar, nas
suas relações e papel exercido. Com isso rechaçamos as afirmações mais
comuns para a explicação do fenômeno da indisciplina e propomos um novo
olhar para ele.
Substituir a ideia de “aluno-problema”, como aquele que deve ser
indicado, observado, rechaçado e combatido, pela ideia de “situação-problema”
já que a indisciplina é um indicador das circunstâncias existentes em sala de
aula e as relações estabelecidas nesses espaços; situações essas que devem
ser observadas, contextualizadas, analisadas, debatidas para a superação e
mudança. No centro dessa discussão está a concepção do aluno como co-
responsável pelo trabalho e sucesso escolar. O aluno não é apenas uma parte
do trabalho, mas sim elemento imprescindível para a realização do mesmo,
parte integrante e indissociável da tarefa do professor. Começar por uma
reflexão sobre a prática, não aceitando a realidade como um dado imutável,
mas sim, contextualizando a escola hoje, nunca perdendo de vista o caráter
sócio-histórico desta instituição é o caminho para superar o problema.
A recente democratização do nosso país e as recentes conquistas em
relação aos direitos das crianças e adolescente, a escolaridade mínima
obrigatória e a ampliação do acesso à escola, devem ser elementos para esse
debate.
(...) com a crescente democratização política do país e, em tese, a desmilitarização das relações sociais, uma nova geração se criou. Temos diante de nós um novo aluno, um novo sujeito histórico, mas, em certa medida, guardamos como padrão pedagógico a imagem daquele aluno submisso e temeroso. (GROPPA, 1996, p43)
A indisciplina escolar não pode ser descontextualizada, a escola não
existe em algum lugar exterior a realidade, se percebemos que a sociedade
mudou, as instituições que a compõem também mudaram, pois, protagonistas
das transformações históricas, não podem ser compreendidas fora da
sociedade na qual estão inseridas.
20
No cotidiano escolar, muitos professores podem achar que a questão da
disciplina não é algo que lhe compete, que ao chegar em sala, a turma deve
estar preparada para a aula. Isso é ingenuidade, é levar em conta apenas uma
das muitas tarefas do professor. Além de ministrar as aulas, é de sua
competência: mobilizar para o conhecimento, dinamizar o relacionamento
interpessoal, organizar a coletividade de sala de aula, coordenar o processo de
ensino-aprendizagem (VASCONCELLOS, 2009).
Para definir uma classe indisciplina, Celso Antunes (2010) lança mão de
uma análise que se fundamenta no princípio da possibilidade de
desenvolvimento do educando, onde quietude e silêncio não precisam (e não
devem) fazer parte do “contrato”, pois a interação fazendo-se necessária para a
construção do conhecimento impõe um sujeito ativo e protagonista do processo
de ensino aprendizagem. Destacamos alguns pontos na sua conceitualização
sobre uma classe indisciplinada:
Uma classe indisciplinada, (...), é toda aquela que: não permita aos professores oportunidade plenas para o desenvolvimento de seu processo de ajuda na construção do conhecimento do aluno; não ofereça condições para que os professores possam “acordar” em seus alunos sua potencialidade como elemento de autorrealização (...); não permita um consciente trabalho de estímulo (...) ao desenvolvimento de uma aprendizagem significativa e vivências geradoras da formação de atitudes socialmente aceitas em seus alunos. (ANTUNES, 2010, p10)
A disciplina em sala de aula só pode ser compreendida a partir da
análise reflexiva sobre a forma como a própria aula é construída. A disciplina
deve servir para possibilitar a construção de conhecimentos, despertar
potencialidades, firmar habilidades, estruturar significações (ANTUNES, IBID)
de outro modo, é vazia de significado.
Ao analisarmos a relação professor-aluno podemos observar duas
concepções opostas, mas não necessariamente que se contrapõem: a postura
autoritária, onde é privilegiado o silêncio, a rigidez no trato professor-aluno, a
disciplina heterônoma, e a postura de permissividade em oposição a prática
21
repressora. No entanto a postura que contrapõe como uma alternativa
contestadora ao autoritarismo, não é aquela onde há total permissividade, a
disciplina é necessária para que o coletivo da turma alcance os objetivos
traçados, e para isso trabalhar juntos em prol de objetivos em comum é
primordial. Não podemos esquecer que a tarefa de dirigir o coletivo da classe é
do professor e não deve ser deixada de lado e nem ser usada como uma arma
da autoridade.
A postura libertadora é diferente de postura liberal. A primeira trabalha
com a autonomia do educando, constrói regras coletivas de sentido para a
organização do grupo, constrói, no coletivo, vínculos de responsabilidade. Na
segunda, cada um age como quer, é a individualidade que determina as ações,
seguem-se os impulsos e a ação não é baseada no bem comum, mas
determinada por uma vontade individual. Romper com essa postura é
compreender a necessidade de uma participação consciente e interativa em
contraposição de uma postura alienada e passiva.
Ao pensarmos sobre uma disciplina que sirva para o desenvolvimento
das potencialidades, construção de conhecimentos e formação do caráter e
cidadania, pensamos em uma disciplina interativa e consciente, baseada na
participação, respeito e responsabilidade (VASCONCELLOS, 2009).
A disciplina que começamos a delinear aqui pressupõe a busca de
finalidades e objetivos em comum onde suas normas devam ser definidas em
conjunto e devam ser claras sem que com isso permanecerem imutáveis:
rever, reavaliar, rediscutir e redefinir, devem ser momentos de reflexão tão
importantes quanto a construção das mesmas, superando a postura
individualista e apostando no diálogo.
A disciplina no ato de ler, de escrever, de escrever e de ler, no de ensinar e aprender, no processo prazeroso mas difícil de conhecer; a disciplina no respeito e no trato da coisa pública; no respeito mútuo. (FREIRE, 1997, p117)
22
Compreendendo que a discussão sobre indisciplina deve começar com
uma crítica as relações existentes e um redimensionamento de nossa prática
pedagógica que debata sobre que sociedade, que professor e que alunos
queremos, lançando luz sobre a própria identidade da escola, faz-se
necessário questionar sobre a construção desta identidade: a formação do
Projeto Político Pedagógico das Unidades Escolares
23
CAPÍTULO II
A FORMAÇÃO DO PPP NAS ESCOLAS – A PARTICIPAÇÃO QUE
APROXIMA OLHARES
Como educadoras e educadores somos políticos,
fazemos política ao fazer educação. E se sonharmos com
a democracia, que lutemos, dia e noite, por uma escola
em que falemos aos e com os educandos para que,
ouvindo-os possamos ser por eles ouvidos também.
Professora sim, tia não – cartas a quem ousa ensinar –
Sétima Carta - Paulo Freire
O Projeto Político Pedagógico configura-se como uma identidade da
Unidade Escolar que o construiu. A visão de mundo, de cidadania, de
sociedade que acredita e que almeja construir e principalmente que papel a
escola tem nesta construção. A tarefa é pedagógica, mas, sobretudo
política, pois não há neutralidade na ação pedagógica, na escolha do
currículo, nas relações que se estabelecem. Toda escolha é baseada em
uma ideologia, que mesmo não explícita, permeia e baseia todo fazer
escolar. Fazê-la vir à tona, a partir do confronto, diálogo e mediação
intensos e francos é a tarefa que a escola na atualidade precisa assumir
para cumprir com a necessária tarefa de definir o seu papel.
Embora essa tarefa esteja dada no presente, para a construção de
um novo futuro, é preciso olhar para o passado e refletirmos sobre o papel
que a escola historicamente assumiu em nossa sociedade, em especial a
escola pública, objeto deste presente estudo:
A instituição escola tem sido controlada pelos poderosos e não pelo povo. E são principalmente as pessoas do povo
24
que buscam, através do estudo, condições para ganhar mais, produzir e ascender socialmente. Mas a escola não propicia essa oportunidade a todos os indivíduos. (...) Essa questão da seletividade precisa ficar bem clara: a escola manipula através do saber a política social dos que por ela passam.
Por meio da escola poder-se-ia mudar a sociedade. (...) Se a nossa sociedade estivesse interessada em melhorar a vida de seus membros, nossa escola seria muito diferente. (CAGLIARI, 2008, p11)
A escola, tal como está organizada, e sua própria existência, é fruto
de uma sociedade, em um determinado momento histórico com o objetivo
de formar o tipo de homem necessário para a manutenção de uma
determinada estrutura social, na qual um determinado grupo detém o poder
(AZEVEDO, 2002). Buscar dentro dessa lógica, formas de contestar, refletir
e ir além é a tarefa que se faz urgente e na qual se faz necessário a
construção de um Projeto de ação política que seja, verdadeiramente, a
expressão dos desejos da escola.
2.1. – Projeto Político Pedagógico - PPP – o que, como e por
quê?
Para compreender o significado e refletir sobre a importância do PPP,
busquemos o conceito para „projeto‟:
Projeto: (do lat. projectu, „lançado‟ para adiante). S.m. 1. Ideia que se forma de executar ou realizar algo, no futuro; plano, intento, designo. 2. Empreendimento a ser realizado dentro de determinado esquema. (AURÈLIO, APUD, VASCONCELLOS, 2009c, p.62)
Todo projeto precisa partir da observação da realidade para, a partir
dela, traçar um plano de ação que tenha compromisso com a realização:
25
Com efeito, enquanto antecipação ideal de um resultado real que se pretende alcançar, o objetivo é também expressão de uma necessidade humana que só se satisfaz atingindo-se o resultado que aquele prefigura ou antecipa. Por isso, não se trata apenas da antecipação ideal do que está por vir, mas sim de algo que além disso, queremos que venha. (VÁSQUEZ, IDEM, p86)
Toda prática educativa, em sua essência, pressupõe um projeto, porém
a forma e a importância que o PPP adquiriu para as Unidades Escolares é algo
novo em nossa política educacional.
Ao iniciar uma análise em torno do projeto político pedagógico faz-se
necessário analisar seu surgimento, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDBEN) 9394/96 e as possibilidades abertas desde então,
para sua elaboração.
A atual LDBEN é resultante de um embate de forças e interesses
conflitantes. Promulgada enquanto o debate ainda estava aberto, fruto de um
processo de construção complexo e polêmico, que durou oito anos, a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), lei nº 9.394/96, foi
sancionada em 20/12/1996 e publicada no Diário Oficial em 23/12/1996.
Esta LDB traz expressa uma importante formulação para o
gerenciamento da política educacional para a sociedade brasileira. Contempla
a gestão democrática, enfocando a autonomia dos entes federados, a
formação dos profissionais e propõe a gestão democrática, que se consolida na
autonomia financeira, pedagógica e administrativa da escola, cabendo a cada
estabelecimento de ensino a elaboração e execução da sua proposta
pedagógica (artigos 12, 13, 14 e 15 da referida lei). Desta maneira, buscamos a
definição de Vasconcellos para compreendermos a dimensão e importância do
PPP:
O Projeto Politico-Pedagógico é o plano global da instituição. Pode ser entendido como a sistematização, nunca definitiva, de um processo de planejamento participativo, que se aperfeiçoa e se objetiva na caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar, a partir de um
26
posicionamento quanto à sua intencionalidade e de uma leitura da realidade. É um instrumento teórico metodológico para a transformação da realidade. (VASCONCELLOS, 2009a, p17-18)
Destacamos essa definição para reafirmar o caráter político do PPP: a
intenção da ação precisa estar relacionada com uma leitura da realidade, uma
leitura que não se configura meramente expositiva e passiva, pois pressupõe
um posicionamento frente a ela e uma atitude transformadora. Estabelecer a
função da escola é imprescindível para que possamos buscar seu sentido,
direcionando suas ações, significando seu trabalho.
Segundo o Regimento Escolar Básico do Ensino Fundamental da Rede
Pública do Município do Rio de Janeiro em vigência a partir da resolução da
Secretaria Municipal de Educação nº 1074, de 14 de abril de 2010, as
Unidades Escolares devem construir o PPP de acordo com as necessidades e
anseios da comunidade escolar, onde “Todas as diretrizes, ações, filosofia e
objetivos da Unidade Escolar devem estar delineados” (Art.9º) e onde deverão
constar: “o diagnóstico da comunidade escolar atendida pela Unidade Escolar,
as condições físicas, os recursos humanos e materiais disponíveis, as metas,
objetivos pretendidos e as estratégias de ação e de avaliação do processo”
(Parágrafo Único).
O Regimento Escolar do Município de Duque de Caxias em atual
vigência (2010) menciona a necessidade da construção do PPP também
ressalta sua importância ao fato deste conferir, às Unidades Escolares,
autonomia e identidade própria:
Art. 70 – O Projeto Político-Pedagógico constitui-se na organização do trabalho escolar como um todo, conferindo à Unidade Escolar identidade e autonomia no desenvolvimento de sua ação educativa.
Art. 71 – O Projeto Político-Pedagógico de cada Unidade Escolar do Sistema Municipal de Ensino deve estar em consonância com os princípios norteadores da Educação Pública Municipal.
27
Art. 72 – O Projeto Político-Pedagógico será elaborado coletivamente com a participação de todos os segmentos da Comunidade Escolar, inclusive do Conselho Escolar.
Parágrafo Único - No Projeto Político-Pedagógico deverão constar as Finalidades e Objetivos da Unidade Escolar, Diagnóstico, Princípios e Diretrizes Pedagógicas, Objetivos, Organização Curricular, Procedimentos Metodológicos, Princípios de Avaliação, Recursos Humanos e Materiais.
Art. 73 – A Avaliação do Projeto Político-Pedagógico será realizada em períodos determinados pela Comunidade Escolar, em conformidade com os prazos estabelecidos para realização de metas que compõem a ação educativa da Unidade Escolar.
(CAP.2 Regimento Escolar Das Unidades Escolares do Município de Duque de Caxias)
Apesar de não termos um modelo fechado para a sua construção, para o
presente estudo, em linhas gerais, buscamos com Vasconcellos (2009c) e
Gandin (1983), uma proposta de construção do PPP que se baseia em três
partes: Marco referencial; diagnóstico e programação.
O Marco Referencial é a tomada de posição da instituição que planeja em relação à sua identidade, visão de mundo, utopia, valores, objetivos, compromissos. Expressa o „rumo‟, o horizonte, a direção que a instituição escolheu, fundamentado em elementos teóricos da filosofia, das ciências, da fé. Implica, portanto, opção e fundamentação. (VASCONCELLOS, 2009c, p.182)
Ainda segundo Vasconcellos, o Marco Referencial concretiza-se como
de médio prazo, precisando ser revisto em três ou quatro anos, de acordo com
mudanças conjunturais e do próprio grupo, é subdividido em três grandes
partes:
.Marco situacional (onde estamos, como vemos a realidade),
.Marco Filosófico ou Doutrinal (para onde queremos ir),
.Marco Operativo (que horizonte queremos para nossa ação). (IBID, p.182)
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Com o Diagnóstico temos a localização das necessidades da instituição
a partir da análise da realidade:
O Diagnóstico é o resultado da comparação entre o que se traçou como ponto de chegada (Marco Referencial) e a descrição da realidade da instituição como ela se apresenta. (GANDIN, 1983, p29)
É na última parte do PPP, Programação, onde a ação para diminuir a
distância entre a realidade que temos e a realidade que almejamos, se fará
presente. A sua revisão, assim como a do Diagnóstico, deve ser anual:
A Programação é o conjunto de ações concretas assumido pela instituição, naquele espaço de tempo previsto no plano, que tem por objetivo superar as necessidades identificadas. (VASCONCELLOS, 2009, p. 194)
Ao compreendermos que a busca de uma identidade e de um sentido
nos auxilia a própria inter-relação, pois denota um objetivo em comum, a
prática participativa de construção do PPP também se caracteriza por ser uma
prática que auxilia a escola a superar o seu isolamento, individualismo, a
fragmentação do trabalho.
2.2 – A importância da participação efetiva da comunidade
escolar
Apesar de concretizar-se a partir da LDBEN 9394/96 como uma das
responsabilidades dos estabelecimentos de ensino e configurar como exigência
para o funcionamento das unidades de ensino, é preciso ter a consciência que,
toda a importância relacionada ao PPP se perde, quando a participação em
sua elaboração não for concreta, quando o projeto não se configurar como um
projeto de pessoas reais, baseada em uma realidade observada e
problematizada, com objetivos claros e planos possíveis.
Danilo Gandin (2009) traz a discussão sobre a participação da
comunidade escolar no processo de elaboração do projeto. Muitas vezes o
29
modelo de participação que emerge do anseio de professores e gestores nos
remete a uma grande participação com acalorados debates em amplos
plenários decisórios; no entanto esse desejo pode não corresponder a
realidade e não atender as necessidades e objetivos do grupo. Visando a real
participação de todos no processo decisório com a construção de um amplo
diálogo, o autor propõe uma organização que possibilite essa construção:
O ponto essencial (...) é organizar sempre o processo de modo que estejam presentes e interligados em três momentos: o individual; o de subgrupos; o de plenário. (...) Não pode haver planejamento participativo sem momentos em que cada pessoa possa pronunciar-se por si mesma, sem a tomada de posição pessoal antecedendo à reunião do grupo; O lugar de decisão é no pequeno grupo, onde todos podem pronunciar-se. (GANDIN, 2009, p.122-123)
A construção de espaços de diálogo, debate e decisão no interior da
escola e no seu cotidiano, não apenas para a construção do PPP, mas em
diferentes momentos onde se faz necessário uma participação efetiva da
comunidade escolar, é tarefa para ser compartilhada com todos: gestores,
orientadores, professores, funcionários, alunos, responsáveis. Não é possível
concebermos a participação de todos apenas quando na elaboração de planos
e projetos, quando, no entanto, no cotidiano escolar nos afastamos do debate
franco e da divisão de responsabilidades.
Colocar em curso a Programação decidida coletivamente, compreendida
como um conjunto de ações necessário e possível de ser colocado em prática
é tarefa também para o coletivo da escola e seus reflexos serão sentidos em
todas as relações no interior da Unidade Escolar e, por consequência, na
relação desta com a comunidade em que está inserida.
As relações determinadas em sala de aula podem configurar-se como
uma primeira experiência concreta desta responsabilidade coletiva e
consciente.
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Outros educadores esforçam-se por desenvolver uma vida em grupo dentro da sala de aula. Seu objetivo é fazer com que a classe se transforme num grupo solidário e consciente. Para isso favorecem a constituição de diferentes grupos de trabalho, responsáveis coletivamente pela realização das tarefas escolares. (HARPER, 2006:113)
A postura ativa, de construção de um coletivo consciente em sala de
aula e a organização do mesmo é tarefa que cabe ao professor que
compreende o papel significativo deste coletivo para o desenvolvimento do
PPP na Unidade Escolar.
Ao professor cabe, pois, dirigir o processo de construção da coletividade em sala de aula. E esta direção não pode ser guiada pelos parâmetros da contradição liberdade/repressão, mas sim pelos da consciência/alienação. O professor como coordenador do processo não pode ser omisso, mas profundamente interativo. (...) A situação em sala de aula é intrincada, pois ali se encontram vários seres imersos em processos de alienação. Cabe ao educador, como ser mais experiente e maduro, tomar a iniciativa de buscar romper o círculo da alienação. (VASCONCELLOS, 2009b, p54)
A tarefa não é simples, romper com “o círculo da alienação”, assim como
discutir a disciplina escolar é tarefa árdua. Muitas vezes não chegamos
facilmente a um ponto em comum sobre o que é disciplina/indisciplina, quais os
limites, regras e sanções cabíveis e qual deve ser a função de cada um nas
discussões sobre as mesmas, mas é certo que ao abrirmos espaços para
essas problematizações estamos dando mais um passo para a investigação
das situações, um olhar sobre a própria escola e seus integrantes, as relações
constituídas e, portanto do papel da escola na atualidade. Sendo o PPP uma
“identidade” da escola, ele poderia auxiliar numa convergência desses olhares,
muitas vezes contraditórios, e apontar para algumas soluções; sendo
necessário neste sentido, construir um plano que tenha os desejos, quereres e
o fazer de todos os envolvidos.
31
Mudar os paradigmas que atravessam a escola atual é tarefa, pois que
se faz urgente. Para finalizar o capítulo refletiremos com Freire:
Ditamos ideias. Não trocamos ideias. Discursamos aulas. Não debatemos ou discutimos temas. Trabalhamos sobre o educando. Não trabalhamos com ele. Impomos-lhe uma ordem a que ele não adere, mas se acomoda. Não lhe propiciamos meios para o pensar autêntico, porque recebemos as fórmulas que lhe damos, simplesmente as guarda. Não as incorpora porque a incorporação é o resultado de busca de algo que exige, de quem o tenta, esforço de recriação e de procura. Exige reinvenção. (FREIRE, 1999, p.104-105)
32
CAPÍTULO III
E QUANDO SÃO OS ALUNOS QUE DECIDEM? – A
EXPERIÊNCIA DA ESCOLA DA PONTE
O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um
imperativo ético e não um favor que podemos ou não
conceder uns aos outros.
Pedagogia da Autonomia - Paulo Freire
Trabalhar com o coletivo, objetivando uma disciplina autônoma onde
todos os integrantes da comunidade escolar sejam co-responsáveis pelo
sucesso do processo ensino-aprendizagem, pode nos parecer uma construção
utópica, inacessível, irreal.
No entanto, a utopia (compreendida como ideal, mas não inalcançável)
não se faz em realidade a não ser pela possibilidade do alcance e no trabalho
da construção. Há uma utopia em curso no âmbito educacional. Há 34 anos,
onde o coletivo é realmente responsável pelo processo, onde as discussões e
determinações são debatidas em diálogo franco. A Escola Básica Integrada de
Aves/ São Tomé de Negrelos (Escola da Ponte), em Portugal, é reconhecida
mundialmente como o lugar onde essa utopia se fez (e se faz, pois processo)
verdade.
Longe de querer enaltecer as qualidades já tão divulgadas desta
experiência educacional, iremos aqui trazer algumas reflexões sobre práticas
possíveis onde a disciplina autônoma se faz presente.
A Escola da Ponte é uma escola pública estatal que desde 1976 constroi
uma estrutura diferenciada de gestão, organização curricular e autonomia. O
projeto Educativo “Fazer a Ponte”, teve seu início a partir da análise reflexiva
da realidade concreta da escola.
33
Em 1976, a Escola da Ponte defrontava-se com um complexo conjunto de problemas: o isolamento face à comunidade de contexto, o isolamento dos professores, a exclusão escolar e muitos alunos, a indisciplina generalizada e agressões a professores, a ausência de um verdadeiro projeto e de uma reflexão crítica das práticas. (PACHECO, 2008, p12)
A principal crítica, a gênese das transformações que modificaram tempo,
espaços e paradigmas escolares na Escola da Ponte, foi uma profunda
reflexão sobre os saberes ali transmitidos, os conteúdos trabalhados e,
principalmente, a forma como eram compreendidos. A dura crítica em relação
ao isolamento que cada professor se encontrava com sua turma e a
impossibilidade de estabelecer um diálogo franco e consistente nessas
condições foi o ponto de partida para mudanças estruturais. Antes de lançar luz
sobre as possibilidades de mudança, os profissionais da Escola da Ponte
assumiram o compromisso sério e extremamente difícil, de apontar suas
próprias falhas, aceitar seus erros e usar essa reflexão para uma mudança
verdadeira.
“O trabalho escolar era exclusivamente centrado no professor, enformado por manuais iguais para todos, repetição de lições, passividade. Entregues a si próprios, encerrados no refúgio da sua sala, a sós com seus alunos, seu método, seus manuais, sua falsa competência multidisciplinar, em horários diferentes dos de outros professores, como poderiam partilhar, comunicar, desenvolver um projeto comum?” (PACHECO in ALVES, 2001, p98)
Partindo de uma realidade de isolamento frente à comunidade e
passividade dos alunos frente aos conteúdos trabalhados, os profissionais da
Escola da Ponte buscaram a construção de um projeto político onde houvesse
a reelaboração de ideias, crenças, valores. Fazem parte dos princípios
fundadores do projeto Fazer a Ponte:
A intencionalidade educativa que serve de referencial ao projecto Fazer a Ponte orienta-se no sentido da formação de pessoas e cidadãos cada vez mais cultos, autônomos, responsáveis e solidários e democraticamnete comprometidos na construção de um destino colectivo e de um projecto de sociedade que potenciem a afirmação das mais nobres e
34
elevadas qualidades de cada ser humano. (Projeto Educativo Fazer a Ponte, 2003)
Compreender os problemas dos alunos como também um problema dos
professores foi passo importante para analisá-los sobre uma nova ótica, a
busca por culpados cessa e inicia-se a busca por novas expectativas:
Apercebemo-nos que um dos maiores óbices ao desenvolvimento de projectos educativos consistia na prática de uma monodocência redutora que remetia os professores para o isolamento de espaços e tempos justapostos, entregues a si próprios e à crença numa especialização generalista. Percebemos que se há alunos com dificuldades de aprendizagem, também os professores têm dificuldades de ensino. (WWW.escoladaponte.com)
Nesta auto-avaliação a Escola da Ponte conseguiu encontrar parâmetros
para romper com uma educação que não servia aos propósitos de cidadania e
autonomia que começavam a ser delineados. Romper com a “educação
bancária”, reconhecer em cada aluno um indivíduo único, principal ator do seu
processo de aprendizagem e co-responsável em todas as esferas organizativas
da Unidade Escolar, foi o grande passo para que a utopia fosse possível de ser
realizada. Temos com Freire, ao analisar a educação tradicional, a
conceitualização de educação bancária:
Falar da realidade como algo parado, estático, compartimentado e bem-comportado, quando não falar ou dissertar sobre algo completamente alheio à experiência existencial dos educandos vem sendo, realmente, a suprema inquietação desta educação. (...) Nela, o educador aparece como seu indiscutível agente, como seu real sujeito, cuja tarefa indeclinável é “encher” retalhos da realidade desconectados da totalidade . (...) a palavra, nestas dissertações, se esvazia da dimensão concreta que deve ter ou se transforma em palavra oca, em verbosidade alienada e alienante. (FREIRE, 1998, p.57)
Em sua busca pela autonomia a Escola da Ponte rompe com conceitos
historicamente instituídos como inerente as estruturas escolares, a própria
divisão por disciplinas, os espaços determinados, os tempos escolares
estigmatizados pelo alarme sonoro, a individualidade onde cada aluno
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encontra-se imerso mesmo fazendo parte de um grupo. Essa estrutura era
baseada e ao mesmo tempo arcabouço de um referencial teórico que era
preciso ser redimensionado.
Determinando lugares individuais tornou possível o controle de cada um e o trabalho simultâneo de todos. Organizou uma nova economia do tempo de aprendizagem. Fez funcionar o espaço escolar como uma máquina de ensinar, mas também de vigiar, de hierarquizar de recompensar (...) onde a distribuição espacial pudesse realizar ao mesmo tempo uma série de distinções: segundo o nível de avanço dos alunos, segundo o valor de cada um, segundo seu temperamento, melhor ou pior, segundo sua maior ou menor aplicação, segundo sua limpeza. (FOULCAULT, 1997, p.142)
Essa forma de enxergar a organização escolar, analisada por Foucault
referindo-se ao seu início no século XVII pode ser verificada ainda hoje. Contra
esta forma de organizar, hierarquizar e valorizar o indivíduo é que se constrói a
o projeto “Fazer a Ponte”, rompendo radicalmente com o modelo escolar
vigente até então. Na Escola da Ponte não há turmas, nem classes, não há o
individualismo expressado pelo trabalho isolado e pelas fileiras e filas de
alunos, não há a divisão realizada externamente sobre o olhar e ponto de vista
do professor. São os próprios alunos que se organizam de acordo com seus
interesses.
Uma das principais mudanças, mais profundas e mais sérias pode ser
vista na forma como se estabeleceram as relações entre os alunos, alunos e
professores e destes com os conteúdos programáticos e daqueles com a
responsabilidade do processo de aprendizado, novamente com Freire temos
uma reflexão a respeito das relações necessárias a uma autonomia verdadeira:
Saber que devo respeito à autonomia, à dignidade e à identidade do educando e, na prática, procurar a coerência com este saber, me leva inapelavalmente à criação de algumas virtudes ou qualidades sem as quais aquele saber vira inautêntico, palavreado vazio e inoperante. De nada serve, a não ser para irritar o educando e desmoralizar o discurso hipócrita do educador, falar em democracia e liberdade mas
36
impor ao educando a vontade arrogante do mestre. (FREIRE, 1997, p, 69)
A mudança nas relações indica uma mudança na estrutura de poder
dentro do ambiente escolar. Compreendendo poder no aspecto relacional que
permeia todas as relações sociais.
O que significa dizer que o poder é algo que se exerce, que se efetua, que funciona. (...) Não é um objeto, uma coisa, mas uma relação. E esse caráter relacional do poder implica que as próprias lutas contra seu exercício não possam ser feitas de fora. (...) Qualquer luta é sempre resistência dentro da própria rede do poder. (MACHADO in FOUCAULT,1996: XIV
A divisão desse poder na estrutura da nova escola, através de aspectos
decisórios, assembléias, debates, conselhos e reuniões, se dá entre todos os
elementos que nela atuam, incluindo alunos e responsáveis.
Contra a concepção bancária de educação o projeto Fazer a Ponte
reestrutura sua forma de organização: nela não há mais a fragmentação de
turmas, os alunos se organizam a partir de três núcleos diferenciados,
Iniciação, Consolidação e Aprofundamento, sempre centrados no educando, na
sua curiosidade, desejo e principalmente, na sua especificidade enquanto
indivíduo “único e irrepetível”. A própria ideia, tradicionalmente construída do
docente, como o detentor do saber específico que será trabalhado, é
gradativamente substituído pelo Orientador Educativo (ver perfil do Orientador
Educativo no anexo 2), que entre outras determinações, deverá acompanhar o
desenvolvimento do educando e orientá-lo no seu programa de aprendizado.
25- Urge clarificar o papel do profissional de educação na Escola, quer enquanto orientador educativo, quer enquanto promotor e recurso de aprendizagem; na base desta clarificação, supõe-se a necessidade de abandonar criticamente conceitos que o pensamento pedagógico e a práxis da escola tornaram obsoletos, de que é exemplo o conceito de docência(...) 27- O orientador educativo não pode ser mais entendido como um prático da docência, ou seja, um profissional enredado numa lógica instrutiva centrada em práticas tradicionais de ensino, que dirige o
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conhecimento dos alunos a um conhecimento codificado e predeterminado. (Projeto Educativo – Fazer a Ponte)
Aqui cabe ressaltar a importância que o trabalho centrado na disciplina
autônoma ganha neste projeto, ao acreditar no educando e valorizar o seu
processo de aprendizado, seus conhecimentos prévios, suas escolhas e
decisões; mais do que instituir uma forma diferente de trabalhar tempos e
espaços escolares, a Escola da Ponte visa o trabalho para a cidadania,
compreendendo que esta se faz todo o tempo, em todas as escolhas
responsáveis e decididas no coletivo.
Trabalhar objetivando a cidadania só faz sentido se no interior da escola
o processo democrático é vivenciado e refletido. Ao intencionar a formação de
cidadãos faz-se necessário proporcionar uma experiência participativa e
democrática nas decisões do cotidiano, na gestão da Unidade Escolar. Esse
exercício de cidadania não é um objetivo para se alcançar ao final de um
processo, mas antes, o próprio processo.
A escola deve formar para a cidadania e, para isso, ela deve dar o exemplo. A gestão democrática da escola é um passo importante no aprendizado da democracia. A escola não tem um fim em si mesma. Ela está a serviço da comunidade. Nisso, a gestão democrática da escola está prestando um serviço à comunidade que a mantém. (GADOTTI, 2004, p.35)
Na Escola da Ponte a direção, gestão e administração se dão a partir de
cinco conselhos, são eles: Pais/Encarregados de Educação, Direção, Gestão,
Projeto e Administrativo (Regulamento interno – Capítulo III in Projeto Fazer a
Ponte), onde todos os elementos da comunidade escolar estão representados
em paridade de direitos, dividindo um ideal e objetivos em comum:
A ponte é, desde logo, uma comunidade profundamente democrática e auto-regulada. Democrática, no sentido de que todos os seus membros concorrem genuinamente para a formação de uma vontade e de um saber coletivos – e de que não há, dentro dela, territórios estanques, fechados ou hierarquicamente justapostos. Auto-regulada, no sentido de que as normas e as regras que orientam as relações societárias não são injunções impostas ou importadas simplesmente do exterior, mas normas e regras próprias que
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decorrem da necessidade sentida por todos de agir e interagir de uma certa maneira, de acordo com uma ideia coletivamente apropriada e partilhada do que deve ser o viver e o conviver numa escola que se pretenda constituir como um ambiente amigável e solidário de aprendizagem.
Mais do que um projeto de educação para a cidadania, o que verdadeiramente distingue a Escola da Ponte é uma práxis de educação na cidadania. (SANTOS, in ALVES, 2001, p.15)
Em relação ao que aqui é o tema mais específico do nosso estudo, a
discussão sobre a disciplina escolar, devemos destacar a solução encontrada
pela Escola da Ponte para que, baseando-se na liberdade, autonomia e
democracia, essa discussão fosse feita, o mais franca e verdadeira possível.
De acordo com José Pacheco (in Alves, 2006), na Escola da Ponte, são os
próprios alunos que decidem em assembleia (que acontece semanalmente)
sobre seus direitos, deveres e sanções. Todos os dias, durante meia hora, os
alunos discutem o dia de trabalho e se preparam para a Assembleia. Há ainda
mais uma possibilidade de investigar os possíveis problemas, a caixa de
segredos, onde aparecem diferentes questões sobre os alunos e ainda o
“computador bom” e o “computador mal”, onde registram as suas observações.
Desta maneira os alunos tomam parte da vida e do funcionamento da escola
de forma viva e ativa. Rubem Alves, em sua obra de título sugestivo e
inspirador “A Escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir” nos
diz que: “No que concerne a disciplina autônoma, é na organização dos alunos
que há a maior diferença”.
Na Ponte, cada criança age como participante solidário de um projeto de preparação para a cidadania no exercício da cidadania. Foi por isso que se constituiu, há cerca de 20 anos, a Assembleia. É por aí que passa a participação das crianças na organização interna da sua escola. (...) As crianças dão lições de autodisciplina. Não entendem a indisciplina do gritar mais alto que o próximo, nas assembléias de adultos, porque, na sua assembleia semanal, erguem o braço quando pretendem intervir. Sei de crianças de seis, sete anos, que sabem falar e calar, propor e acatar decisões. São crianças
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capazes de expor conflitos e de, serenamente, encontrar soluções. (PACHECO, 2009, p142-143)
Que esta passagem pela Ponte tenha servido para que possamos
enxergar o difícil como possível e necessário e assim buscarmos bases sólidas
para a construção de muitas outras pontes que nos levem a um debate franco
e democrático no interior das nossas escolas que convirja os diferentes olhares
para os mesmos objetivos. “É urgente interferir humanamente no íntimo das
comunidades humanas, questionar convicções e, fraternalmente, incomodar os
acomodados” (IDEM, p142).
40
CAPÍTULO IV
UMA POSSIBILIDADE VIÁVEL? OS DESAFIOS NA DISCUSSÃO DA INDISCIPLINA ESCOLAR
Só educadoras e educadores autoritários negam a
solidariedade entre o ato de educar e o ato de serem
educados pelos educandos; só eles separam o ato de
ensinar do de aprender, de tal modo que ensina quem se
supõe sabendo e aprende quem é tido como quem nada
sabe.
A importância do ato de ler – Paulo Freire
A importância da construção coletiva do Projeto Político Pedagógico
para a identidade das unidades escolares tem suas bases legais estabelecidas
pela LDBEN 9394/96 (artigo 14, parágrafo I), no entanto, não é sempre que
este é compreendido em sua importância, sendo visto como um documento
meramente burocrático onde, muitas vezes, prescinde da verdadeira
participação coletiva para sua elaboração. Também é possível verificar que,
muitas vezes, a vontade de construir espaços para a participação de todos,
esbarra na dificuldade real de encontrar momentos para essa elaboração.
Para compreender melhor os elementos acima elencados, analisaremos
a constituição da rede pública do Município do Rio de Janeiro, sua estrutura, os
tempos e espaços destinados para planejamento e a elaboração do Regimento
Escolar Básico das Unidades Escolares.
4.1. – A rede municipal do Rio de Janeiro e o Regimento
Escolar Básico
A rede municipal de ensino do Rio de Janeiro possui, atualmente, 1.063
escolas, 255 Creches Públicas Municipais em horário integral, 177 creches
conveniadas e 10 espaços de Desenvolvimento Infantil; distribuídas em dez
41
coordenadorias regionais de educação (CREs) sendo o maior sistema de
ensino público da América Latina, atendendo a 678.691 alunos matriculados na
Educação Básica, abrangendo a Educação Infantil, e os nove anos de
escolaridade obrigatória, do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental. Esta rede
atende também aos alunos das denominadas classes especiais e aos jovens e
adultos, que não iniciaram ou completaram o ensino fundamental, através do
PEJA (Programa de Educação de Jovens e Adultos)1.
Os números apresentados aqui servem para ilustrar a amplitude do
sistema educacional da cidade do Rio de Janeiro, inserido em um contexto de
ampla adversidade social, onde, muitas escolas atendem um público inserido
(e muitas vezes elas mesmas estão inseridas) em comunidades que sofrem
violência urbana com a presença do tráfico ou do poder de milícias armadas e
carência de infra-estrutura básica.
Um dos sintomas deste contexto diz respeito aos altos índices de
violência evidenciados rotineiramente pela grande mídia brasileira e mundial,
sendo este um dos principais motivos de preocupação da população da cidade
do Rio de Janeiro.
Como resposta aos muitos casos de violência e indisciplina (ver anexo
3) dentro das escolas, a prefeitura do Rio de Janeiro, em 14 de abril de 2010,
através da resolução nº 1074, dispõe sobre o Regimento Escolar Básico do
Ensino Fundamental da Rede Pública do Município do Rio de Janeiro. Entre
outras determinações, o presente documento determina a proibição de
determinados adereços (artigo 22) e uma série de medidas punitivas (artigo 24)
caso os alunos não cumpram com os deveres estabelecidos pelo regimento.
Este regimento, da forma como se constitui, não leva em conta as
especificidades de cada Unidade Escolar, nem abre espaço para uma
discussão verdadeira sobre regras e sanções. Cada escola, sendo única, tem
um caminho único para sua organização:
Cada escola tem uma identidade própria constituída por uma trama de circunstâncias em que se cruzam diferentes fatores.
1 Números disponíveis através do site oficial da prefeitura do Rio de Janeiro: www.rio.rj.gov.br/web/sme/ - Educação em Números, acessado em 20 de setembro de 2010
42
Cada escola possui uma cultura própria permeada por valores, expectativas, costumes, tradições e condições, historicamente construídos, a partir de contribuições individuais e coletivas. Realidades econômicas e sociais e características culturais estão presentes no interior de cada escola e lhe conferem uma identidade absolutamente peculiar. (ALMEIDA, 2009, p140)
Já vimos, no capítulo I da presente monografia, que uma disciplina
heterônoma não contribui para uma mudança verdadeira de atitude, ao buscar
um Regimento único para todas as 1.063 escolas, sem a participação na sua
elaboração dos professores e alunos; não se investe na busca da autonomia,
no debate propriamente dito, tão importante na busca da autonomia.
Segundo Celso Antunes, o estabelecimento das regras é uma tarefa do
professor e sua turma:
Estabelecer, se possível em consenso com a própria classe, os limites desejáveis das condutas e cobrá-los sempre de maneira imediata e coerente. (...) Cobrar, com firmeza, mas se possível bom humor, a colaboração de todos e ser um árbitro sereno no cumprimento das regras de conduto consensualizadas com a classe. (ANTUNES, 2010, p55)
Quando essa disciplina é exigida por um documento externo a escola,
que não passou por sua discussão, onde não há identidade dos que devem
segui-lo, a própria autoridade do professor é colocada em jogo. Atacar a
consequência, sem discutir a causa não educa para a autonomia.
Instaurar um processo disciplinar, suspender ou expulsar um aluno é fácil e é a regra. Mas, quando punem um aluno, os professores agem sobre as consequências, não sobre suas causas. A solução administrativa dos problemas disciplinares é deseducativa, porque não resolve o problema e porque impede a aprendizagem. Não é entendida por mentes revoltadas, nem previne situações de conflito futuras. Muitos professores vacilam entre a permissividade humilhante e um autoritarismo medroso. Parecem estar receosos de exercer autoridade. Poucos a exercem com maturidade, serenidade, bondade. (PACHECO, 2009, p132)
43
As unidades escolares necessitam de espaços de discussão e
construção coletiva de sua identidade, prioridades, currículo e também de
regras, que deveriam configurar no Projeto Político Pedagógico de cada escola
e ser a base para a construção de qualquer Regimento Escolar. O documento,
construído pelo nível central de educação do município em questão, sem a
participação de professores e alunos, não pode contribuir para a discussão
necessária.
4. 2. – A construção da identidade da escola e a indisciplina no ambiente escolar – a discussão que se faz necessária
O Regimento escolar acima citado em seu artigo 7º determina a
elaboração do PPP como prerrogativa de cada unidade escolar; em seu artigo
8º ressalta que o mesmo, deverá ser elaborado e consolidado com a ação
conjunta da comunidade escolar através da participação de seus organismos
de representação, o Conselho Escola Comunidade e o Grêmio Estudantil. No
artigo 47º institui o Conselho de Classe como o órgão ao qual caberá a revisão
do PPP, dentre outras determinações tais como:
I – realizar a autoavaliação da unidade escolar, enquanto instituição social, possibilitando a revisão de seu Projeto Político-Pedagógico; II – realizar análise diagnóstica da turma; III – discutir o processo pedagógico desenvolvido com as turmas, visando o seu aperfeiçoamento; IV – analisar o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos; V – acompanhar o desenvolvimento das atividades pedagógicas propostas para potencializar o aproveitamento dos alunos; VI – verificar a situação de frequência dos alunos, procurando-se estratégias para evitar a evasão e reprovação por esse motivo. (idem)
Vemos que os Conselhos de Classe (quatro ao longo do ano no Ensino
Fundamental regular e três no Programa de Jovens e Adultos) passaram a ser
o único momento no calendário escolar, determinado para a discussão do PPP,
no entanto, neste ano letivo (2010), os Conselhos de Classe sofreram uma
44
mudança, podendo ser realizados por segmento ou ano de escolaridade; ou
seja, nas escolas que optaram por essa estrutura, para melhor organização do
seu cotidiano; não há praticamente um espaço, dentro do Calendário Escolar,
onde todos os professores possam estar juntos, com outros elementos da
comunidade e discutir o seu projeto.
O calendário letivo da secretaria municipal de educação do Rio de
Janeiro é dividido em quatro estruturas: Pré- escola e Ensino Fundamental,
Espaço de Educação Infantil, Creche e Educação de Jovens e Adultos. Estes
calendários são fornecidos todos os anos aos professores deste sistema de
ensino (disponível no portal da prefeitura do Rio de Janeiro) e apresentam em
seu texto - além de outras informações - o quantitativo de dias letivos a serem
ministrados, assim como as datas referentes ao planejamento, aos Centros de
Estudos, parciais e integrais, conselhos de classe e a semana de capacitação.
Como exemplo, utilizaremos aqui os números referentes ao calendário
da Pré- Escola e Ensino Fundamental, ano letivo 2010 (ver anexo 4).
Além dos Conselhos de Classe, o Centro de Estudos se caracteriza
como outro espaço específico para que os professores se reúnam no intuito de
discutirem assuntos referentes à dinâmica da escola e corrijam avaliações,
sendo também momentos voltados para a formação docente. No calendário do
ano letivo de 2010 são sinalizados dois centros de estudos integrais
(correspondentes ao período de trabalho do professor onde todos os de uma
unidade escolar se reúnem durante o dia especificado) e onze centros de
estudos parciais (com duração de 2h e 15min) que são exclusivos do professor
de primeiro segmento (correspondente às séries iniciais do Ensino fundamental
e Educação Infantil). Os professores de segundo segmento possuem Centro
de Estudos parcial todas as semanas em horários individualizados.
Ao observarmos atentamente os dados acima, podemos constatar como
são poucos os momentos proporcionados para que estes professores possam
reunir-se para realizar projetos, planejamentos, avaliações do seu trabalho e
reflexões referentes às suas unidades escolares.
45
Essa realidade se agrava quando observamos outro fator, a nítida
separação entre professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental
(Professor II) e os dos anos finais (Professor I) do ensino fundamental, que
possuem seus horários destinados aos centros de estudos, estipulados de
formas diferentes, separando tais professores, que em muitos casos trabalham
em uma mesma escola. Além de existir pouco tempo para a realização destas
atividades, os professores são claramente conduzidos a não atuarem em
conjunto.
Sendo assim, cada Unidade Escolar necessita estabelecer estratégias
próprias para que essa discussão seja realmente realizada e que o fruto dela
configura-se como a real expressão dos desejos e anseios desta comunidade.
Trazemos aqui, um breve comentário sobre uma experiência realizada
pelas equipes das Escolas Municipais Orsina da Fonseca e Prudente de
Moraes, ambas da 2ª Coordenadoria Regional de Educação, onde em 1997, ao
construir os seus PPPs, utilizaram fichas elaboradas inicialmente para o
diagnóstico sócio ambiental em um curso oferecido pela Prefeitura Municipal do
Rio de Janeiro.
A partir dessas fichas, onde cada aluno e responsável respondiam a
questões sobre o mundo, o país, o local onde moram e a escola; da forma que
está, como gostaria que fosse e o que a escola poderia fazer para alcançar
este desejo; eram traçados alguns pontos importantes do Projeto. Desta
maneira, apesar do pouco tempo disponível para reuniões e encontros, todos
puderam, com a orientação da equipe e do corpo docente, ajudar a construir os
pontos principais do PPP (ver quadro completo no anexo 5) .
Discutíamos (...) a importância do PPP se estruturar a partir do estudo da realidade de vida dos alunos. E a partir daí introduzíamos a proposta metodológica de planejamento participativo construída por Danilo Gandin (...) Então apresentávamos a sugestão de que a ficha que utilizamos nesta pesquisa fosse aproveitada como instrumento para a construção do diagnóstico sobre a realidade e a visão da comunidade escolar. A nossa proposta era a de que esse
46
diagnóstico fornecesse a base para a construção do PPP. (NAVARRO, 2008, p4)
A necessidade de construção do PPP nas escolas que ainda não o
possuem, se faz urgente. Discutir em conjunto com os alunos as regras de
convivência imprescindíveis para uma educação democrática superando uma
disciplina externa a própria escola; fazendo-se necessário superar a ideia de
condição determinada externamente, em direção a ideia de necessidade da
própria comunidade para o funcionamento efetivo da Unidade Escolar; temos
com Almeida uma reflexão para a análise:
Projeto político pedagógico (PPP), entendendo-o como um meio de engajamento coletivo que busca integrar ações, na perspectiva de criar uma unidade de trabalho que defina a identidade da escola, através de princípios e eixos que iluminem a ação coletiva. (ALMEIDA, 2009, p.135)
47
CONCLUSÃO
Ao pensar a questão disciplinar como de cunho essencialmente
pedagógico, não podemos deixar de refletir sobre a importância do Projeto
Político Pedagógico (PPP) e por consequência o lugar da Orientação
Educacional e Pedagógica para a realização do mesmo. Sendo o PPP a
expressão da identidade da instituição escolar e portando dos seus ideários,
teorias e estratégias de atuação; carrega em si a ideia de educação que
desejamos, de relações que se pretende construir, de objetivos que almeja
alcançar.
No entanto há outros fatores que interferem diretamente na possibilidade
do professor de analisar com total clareza e problematizar pedagogicamente a
questão da disciplina. É fato que não podemos negar que a carga de trabalho
sobre os ombros dos professores muitas vezes desloca seu olhar, o mesmo
professor enxerga de maneira diferenciada a atitude contestadora de um aluno
no 1º, 2º ou 3º turno de trabalho. É comum ouvirmos que ao longo do dia-aula
“a paciência vai se esgotando”, que no segundo ou até terceiro turno “a aula
não é a mesma”. Os baixos salários, que empurram o professor para múltiplas
jornadas, as más condições de trabalho (salas super-lotadas, materiais
didáticos inadequados, condições de acústica e ventilação insuficientes), o
escasso tempo de diálogo, discussão e planejamento, coloca o professor na
posição defensiva de enxergar o seu trabalho como um problema e o aluno
como parte integrante desse problema.
Não queremos, desta maneira, colocar nas mãos do professor a
responsabilidade da indisciplina e muito menos retirar das suas mãos a tarefa
de discuti-la, mas sim reafirmar que é papel docente refletir e contestar as
relações e práticas que ajuda a construir dentro do espaço escolar, indagar
quais são as desejadas, privilegiadas e possíveis de serem realizadas.
Desta maneira, a Orientação Educacional e Pedagógica deve assumir o
papel de criar espaços de enfrentamento dialógico para que, apesar das
adversidades, e muito por causa delas, possamos debater as questões acima
48
relatadas, reacender as discussões quanto ao papel e o valor do professor e da
escola na atualidade, traçar estratégias que conduzam a uma aproximação dos
ideais expressos no Projeto Político Pedagógico.
Com a tarefa de construir e fazer vivo o PPP estaremos também
questionando pontos sobre o senso comum em relação à indisciplina: “A escola
de ontem (e suas relações de poder) é a mesma de hoje? Que escola
queremos construir? A do medo, permissividade ou a do diálogo franco? O
que estamos fazendo para pôr em prática a ideia que temos? Até que ponto
estamos dispostos a sermos questionados, e confrontados?”
São as necessárias condições para o trabalho coletivo que devem dar a
dinâmica da construção da disciplina e não o desejo dos professores
(autoritarismo) oi o dos alunos (espontaneísmo).
Compreender as relações que se estabelecem no interior das escolas é
fundamental para a caracterização de indisciplina, o mesmo professor que não
aceita um questionamento pode ser aquele que não acataria uma ordem sem
prévia discussão ou que reivindica maior representação nas decisões do
cotidiano escolar, mas dentro de sua sala de aula não dá o mesmo espaço
para seus alunos. Quando entendemos que todos: alunos, professores,
gestores, funcionários em geral e responsáveis somos parte de uma
comunidade que deve mobilizar esforços para alcançarmos objetivos em
comum; compreendemos que a voz e ação é direito e dever de todos.
O sujeito que queremos está explicitado no PPP que por ser um trabalho
coletivo congrega as diferentes visões. Para que o PPP possa servir a esse
propósito é imprescindível que o processo de construção seja realmente
coletivo, que haja um esforço por envolver, ouvir e estabelecer mecanismos
onde as diferentes posições sejam realmente debatidas e analisadas, se o
mundo que queremos, escola e ser humano puder expressar a vontade do
coletivo, a disciplina também estará a seu favor.
E será desta discussão coletiva que as visões de escola, sala de aula,
conceitos sobre metodologias, proposta curricular, serão construídas e
confrontadas. Práticas a muito arraigadas nas diferentes formas do trabalho
49
escolar, expressam ideias baseadas na concepção “bancária” de ensino, onde
o professor, sendo o único detentor do saber, vê o aluno como depositário dos
conteúdos daqueles. Quando organizamos discussões em torno das diferentes
visões de escola, mundo e sociedade, damos a oportunidade para que esses
paradigmas sejam discutidos de maneira reflexiva e assim, com possibilidades
reais de superações.
Sigamos com o exemplo do tema deste trabalho: a disciplina/indisciplina
depende de como cada professore trabalha em sua sala de aula. Em uma aula
simplesmente expositiva, o silêncio é a disciplina desejada (apesar de que
temos que ter a consciência que o mesmo na garante a atenção, há distratores
internos que podem fazer com que os alunos estejam em silêncio, mas sem
atenção alguma com o que esteja acontecendo ao seu redor), em contra
partida, uma aula expositiva – dialogada, trabalhos em grupo, apresentações
de trabalhos, jogos e brincadeiras educativos, atividades desenvolvidas em
duplas com a intervenção do professor, debates de ideias, fazem necessário
uma outra disciplina. O que queremos dizer aqui é que há a necessidade de
uma mudança global para que a mudança disciplinar seja alcançada, incluir o
aluno nas decisões sobre disciplina é incluí-lo também no processo ensino-
aprendizagem de maneira ativa. A mudança da disciplina/indisciplina é também
uma mudança na postura do professor perante o aluno, a escola, os
conteúdos, os objetivos que determinam sua prática.
Ter um PPP que traz em seus objetivos formar cidadãos críticos e
participativos e não criar formas para que esses alunos exerçam a cidadania
nas mais variadas esferas do ambiente escolar, é realizar uma prática
pedagógica incoerente, é fazer um PPP sem o compromisso de colocá-lo em
prática. Enquanto as relações dentro da escola e principalmente aquelas
vividas na sala de aula entre aluno e professor forem determinadas de maneira
unilateral e baseadas no autoritarismo, a indisciplina se fará presente como
forma de resistência. Superar esse círculo é tarefa para a escola atual que é
baseada, entre outros princípios, no respeito a liberdade e apreço a tolerância
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Cabe ao conjunto dos professores questionar a quem serve a disciplina
até então engendrada, não tomar como algo dado e sim problematizá-la só
assim é possível superar um a disciplina baseada na coerção, no autoritarismo
e na heteronomia para uma disciplina que realmente esteja a serviço do
consciente trabalho coletivo, podendo lançar luz inclusive a hierarquização dos
conteúdos escolares, do próprio currículo.
O Projeto Político Pedagógico configura-se como um documento de
identidade da escola, incluindo seus desejos (marco doutrinal), realidade
(marco situacional), e as ações implementadas para aproximar o desejo da
realidade (marco operacional). Através da pesquisa aqui apresentada, nos foi
possível concluir que a construção do PPP, por constituir-se como um espaço
privilegiado de debates de ideias; auxilia na diminuição da indisciplina escolar,
na medida em que aproxima a visão dos diferentes grupos da comunidade
escolar e faz com que todos, além de conhecer seus ideais e desejos, sintam-
se co-responsáveis pela implementação dos mesmos.
Procurar saídas que sejam verdadeiras, pois são o fruto das discussões,
avaliações e produções coletivas, é essa a tarefa que está posta na discussão
e construção do Projeto Político Pedagógico das Unidades Escolares.
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ANEXOS
Índice de anexos
ANEXO 1
Reportagem O Dia online Rio de Janeiro.
ANEXO 2
Perfil do orientador educativo da Escola da Ponte
ANEXO 3
Reportagem Jornal Extra.
ANEXO 4
Calendário Letivo ano 2010 – Pré-Escola e Ensino Fundamental Prefeitura do
Rio de Janeiro – disponível em www.rio.rj.gov.br/web/sme/
ANEXO 5
Quadro para a construção do PPP
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ANEXO 1
http://odia.terra.com.br/portal/rio/html/2010/8/menina_e_agredida_na_sala_de_aula_104479.html 23/9/2010
Menina é agredida na sala de aula Estudante de 11 anos teve ferimentos no rosto, pescoço e braços depois de ser atacada por mãe de colega dentro de escola municipal em Santa Cruz enquanto professora estava ausente. Agressora é procurada pela polícia POR MARCO ANTONIO CANOSA
Rio - Uma menina de 11 anos, aluna do 6º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Aldebarã, em Santa Cruz, na Zona Oeste, foi agredida ontem dentro da sala de aula pela mãe de uma colega. A agressora, Vanessa da Silva, fugiu. Com ferimentos no rosto, pescoço e braços, a menina foi socorrida no Hospital Estadual Pedro II e depois levada à 36ª DP (Santa Cruz).
Quando tentou reagir às agressões, menina levou tapas no rosto | Foto: André Luiz Mello / Agência O Dia
53
A Secretaria Municipal de Educação informou que a direção da escola vai convocar os pais e professores para reunião. Além disso, vai aplicar ao caso as punições previstas no Regimento Escolar Básico do Ensino Fundamental, que, em situações de agressão, prevê de advertência até transferência do aluno para outra escola. A vítima contou que quarta-feira discutiu com a filha da agressora. No bate-boca, a estudante teria dito que levaria a mãe à escola para resolver a questão. Ontem, por volta das 15h30, enquanto a professora estava na direção, Vanessa entrou na sala. “Ela disse: „Bate na minha filha agora!‟. Enquanto ela me segurava, a filha batia. Quando reagi, levei tapas no rosto”, contou a menina. De acordo com a vítima, quando a professora voltou, Vanessa deixou a sala e ainda prometeu denunciar a escola. A diretora e duas professoras foram à delegacia. A mãe da menina ferida, a doméstica Valdirene Garcia, 32, reagiu com indignação. “É um absurdo isso acontecer na sala de aula. A gente manda a criança para a escola pensando que está segura e vem um adulto e a agride!”, protestou. Valdirene espera uma solução para o caso sem a transferência da filha, que já veio de outra escola este ano. “Não quero tirá-la daqui. Crio dois filhos sozinha e não posso arcar com mais uma transferência de escola”, argumentou. A estudante agredida vai hoje ao Instituto Médico-Legal (IML) para fazer exame de corpo de delito. Até o início da noite, Vanessa não havia sido localizada pelos agentes da Polícia Civil para prestar depoimento na delegacia. Pena de dois a oito anos de detenção Agentes da 36ª DP (Santa Cruz) vão hoje à Escola Municipal Aldebarã. O objetivo é solicitar à direção da unidade o endereço de Vanessa da Silva, que agrediu a estudante, para intimar a mulher a prestar depoimento na delegacia. A polícia estuda ainda a transferência do caso para a Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (Dcav). Segundo os investigadores, Vanessa pode ser indiciada por lesão corporal. Se for considerada de natureza grave, a pena varia de dois a oito anos de prisão.
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ANEXO 2
www.escoladaponte.com.pt/documen/concursos/projecto.pdf acesso em 15 de setembro de 2010
ANEXO 1 - PROJETO FAZER A PONTE
PERFIL DO ORIENTADOR EDUCATIVO DA ESCOLA DA PONTE
1- RELATIVAMENTE À ESCOLA E AO PROJECTO
a) Cumpre com pontualidade as suas tarefas, não fazendo esperar os outros
b) É assíduo e, sempre que obrigado a faltar, procura alertar previamente a
Escola para a sua ausência
c) Revela permanentemente uma grande motivação e disponibilidade para
trabalhar na Escola
d) Contribui activa e construtivamente para a resolução de conflitos
e) Contribui activa e construtivamente para a tomada de decisões
f) Toma iniciativas adequadas às situações
g) Alia, no desempenho das suas tarefas, a criatividade à complexidade,
originalidade e coerência
h) Apresenta propostas, busca consensos, critica construtivamente
i) Revela equilíbrio emocional, mesmo nas situações mais difíceis
j) Produz ou propõe inovações com elevada frequência
k) Procura sempre sobrepor os interesses da Escola e do Projecto aos seus
interesses individuais e egoístas
l) Age de uma forma autónoma, responsável e solidária
m) Procura sempre fundar no Projecto os juízos e opiniões que emite
n) Domina os princípios e utiliza correctamente a metodologia de Trabalho de
Projecto
o) Assume honestamente as suas falhas, evitando imputar aos outros ou ao
colectivo as suas próprias incapacidades
p) Procura sempre dar o exemplo de uma correcta e ponderada utilização dos
recursos disponíveis
2- RELATIVAMENTE AOS COLEGAS
a) Presta ajuda espontaneamente e é aceite pelos outros
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b) Pede ajuda aos colegas quando tem dúvidas sobre como agir
c) Permite que os colegas o(a) ajudem quando precisa
d) Mantém com os colegas uma relação atenciosa, crítica e fraterna
e) Reconhece e aceita criticamente diferentes pontos de vista, tendo sempre o
Projecto como referência inspiradora
f) Procura sempre articular a sua acção com os colegas mais próximos
g) Apoia activamente os colegas na resolução de conflitos
3- RELATIVAMENTE AOS ALUNOS
a) Mantém com os alunos uma relação carinhosa
b) Procura ajudar os alunos a conhecer e a cumprir as regras da Escola
c) Procura ser firme com os alunos, sem cair no autoritarismo
d) Procura tomar atitudes em sintonia com o colectivo
e) Procura acompanhar de muito perto e orientar o percurso educativo dos
seus tutorados
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ANEXO 3
http://extra.globo.com/geral/casosdecidade/posts/2010/04/16/anunciadas-novas-medidas-contra-agressao-nas-escolas-municipais-do-rio-284158.asp
em 26 de setembro de 2010
VIOLÊNCIA
Anunciadas novas medidas contra agressão nas escolas municipais do Rio Para evitar a ocorrência de novos casos de agressão, a Secretaria municipal de Educação do Rio divulgou ontem novas medidas que serão adotadas nas escolas. Uma delas é a contratação de 300 agentes educadores (inspetores) para as unidades de 6° a 9° ano. Esses profissionais chegarão às escolas no momento em que foram definidas as regras de comportamento para os alunos. Foi publicado, ontem, no Diário Oficial, o Regimento Escolar, que traz o que é permitido e o que não pode ser feito na escola. Entre as proibições estão o uso de boné e das “pulseirinhas do sexo”. De acordo com a secretária municipal de Educação, Claudia Costin, os inspetores que fizeram o concurso de 2006 já estão fazendo exame médico. Eles serão encaminhados para as escolas que têm grande número de estudantes nas últimas séries do ensino fundamental. Esses profissionais serão responsáveis pelo cumprimento das novas regras de conduta na escola. Em especial, existe a preocupação com agressões verbais, físicas e até eletrônicas de alunos a professores, funcionários e colegas de classe. Clique aqui para ver as novas regras. — Achamos importante ter essas regras claras para as escolas, o que permite que elas atuem para manter a disciplina. Era uma própria demanda das diretoras e dos professores, a criação de um regimento. Para isso, recebemos cerca de 300 sugestões de escolas que já tinham suas regras — afirmou a secretária Claudia Costin. Debate sobre regras Para a mestre em Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF) Leila Nívea Bruzzi, não basta fixar por decreto as regras de comportamento que devem ser adotadas na escola, é necessário que esses valores sejam discutidos amplamente entre pais, alunos e professores.
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— Não basta baixar normas e punir. Essas questões devem ser trabalhadas entre a família, professores e estudantes. A escola pode debater estudos de caso ou explorar os temas de forma lúdica com os alunos — sugere. http://extra.globo.com/pais/plantao/2010/05/03/escolas-publicas-municipais-do-rio-de-janeiro-sofrem-com-problemas-de-violencia-916482218.asp
Publicada em 03/05/2010 às 10:38
Escolas públicas municipais do Rio de Janeiro sofrem
com problemas de violência
Agência Brasil RIO - A maior rede de escolas públicas de ensino fundamental da América Latina, com 1.062 unidades, enfrenta também o maior problema de gestão para conter a violência que se dissemina dentro dos colégios nos horários de aulas. Com a crescente divulgação na mídia de casos de violência em escolas, a secretária de Educação do município do Rio, Cláudia Costin, criou no último dia 15 de abril o Regimento Escolar Básico do Ensino Fundamental, estabelecendo normas de conduta para os alunos da rede e prevendo punição para os estudantes que danificarem a escola ou agredirem de forma física, verbal ou eletrônica seus próprios colegas, professores ou funcionários. O documento, no entanto, não foi discutido com os diretores das escolas, conforme disseram muitos deles, sem querer se identificar, temendo represálias. A diretora de uma escola em Campo Grande, na zona oeste da cidade, afirmou que somente na próxima quarta-feira (5), durante o centro de estudos, é que o regimento será discutido com os professores, para então fazer as adaptações à realidade da escola. Em outra unidade, na zona sul, a diretora informou que soube do documento pela imprensa e que ainda não teve tempo de ler as novas determinações. Na Tijuca, zona norte da cidade, diretoras de três escolas avaliaram o documento como positivo, mas admitiram que terão dificuldades para implantá-lo.
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Para elas, a secretária Cláudia Costin deveria ter promovido encontros com as diretoras de escolas e com as coordenadorias regionais de Educação (CREs) para discutir o regimento antes de ele ser fechado e publicado no Diário Oficial do município. A assessoria de imprensa da Secretaria de Educação do Rio não respondeu às solicitações de entrevista com Cláudia Costin feitas por e-mail e por telefone. Para o Sindicato Estadual dos Profissionais de Ensino (Sepe), a atitude do órgão demonstra descaso com o problema cada vez maior da violência nas escolas. A coordenadora da entidade, Edna Félix, enfatiza que há relatos de diretores de escolas que dizem ser ameaçados com a exoneração do cargo caso divulguem ou deem sequência à apuração de denúncias feitas por professores que sofrem agressões de alunos. - As CREs ameaçam os diretores, inclusive com a abertura de inquérito administrativo contra eles. Mas nossa orientação é para que os diretores não se sintam acuados e denunciem todas as situações de violência. Só assim poderemos dar sequência a um planejamento para o enfrentamento do problema - destacou Edna Félix. A coordenadora do Sepe acredita, porém, que a onda de violência nas escolas é fruto da falta de investimentos na área educacional. - O esvaziamento de profissionais qualificados nas escolas acirra o conflito, a revolta dos alunos e dos professores. Isso porque o número de adolescentes nas escolas é cada vez maior e não há adultos para orientá-los - disse a coordenadora. Ela lembrou as salas dos extintos serviços de Orientação Educacional (SOEs) e de Orientação Pedagógica (SOP), cujos profissionais atendiam aos alunos com problemas emocionais e/ou familiares que prejudicavam o desempenho escolar e o relacionamento com os colegas e professores. - Chegamos ao ponto de ter escolas com apenas um inspetor e nenhum orientador educacional. Precisamos reativar os serviços de atendimento psicológico aos alunos e não responder às agressões deles também de forma violenta, chamando a guarda municipal e a polícia - considerou. Edna Félix lembrou que na última semana a Secretaria de Educação chamou 300 agentes educadores (antigos inspetores) concursados, mas disse que esse número é irrisório para repor o quadro nas 1.062 escolas da rede.
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ANEXO 5
Exemplo de ficha para utilização em escolas para levantamento de percepções do coletivo como instrumento de participação na construção do PPP
I MARCO SITUACIONAL MARCO REFERENCIAL MARCO OPERATÓRIO
Como é hoje?
Por que é assim?
Como vocês gostariam que fosse?
O que precisamos FAZER para
ajudar a mudar esta realidade?
O que precisamos SABER para
ajudar a realizar estas
ações? O planeta Terra (ambiente: físico e social)
O Brasil (ambiente: físico e social)
O lugar onde fica a escola (ambiente: físico e social)
A escola (ambiente: físico e social)
A sala de aula (ambiente: físico, social e a dinâmica do trabalho )
“O efeito do trabalho combinado não poderia ser produzido pelo trabalho individual, e só o seria em um tempo muito mais longo ou numa escala muito reduzida. Não se trata aqui da elevação da força individual através da cooperação, mas da criação de uma força produtiva nova, a saber, a força coletiva”. (MARX, 2006, p.379) (grifo nosso)
“Todo trabalho diretamente social ou coletivo, executado em grande escala, exige, com maior ou menor intensidade, uma direção que harmonize as atividades individuais e preencha as funções gerais ligadas ao movimento de todo o organismo produtivo, que difere do movimento de seus órgãos isoladamente considerados. Um violinista isolado comanda a si mesmo; uma orquestra exige um maestro. Essa função de dirigir, superintender e mediar, assume-a o capital logo que o trabalho a ele subordinado se torna cooperativo. Enquanto função específica do capital adquire a função de dirigir caracteres especiais”. (MARX, 2006, p384)
“É necessário que o plano se construa com o saber, com o querer e com o fazer de todos” (Danilo Gandin)
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“Se na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha não apenas para falar de minha utopia, mas para participar de práticas com ela coerentes.”.Paulo Freire
Propomos esta ficha como instrumento para o levantamento de concepções e propostas
que fornecerão dados para a construção de projetos colaborativos
O modelo inicial dessa ficha foi construído em 1997 no contexto de trabalhos colaborativos
entre professores da Rede Pública Municipal de Ensino do Rio de Janeiro. Desde essa época
adaptações desse instrumento têm contribuído para agilizar o processo de construção
participativa de projeto coletivos de trabalho. A correspondência entre as perguntas da ficha e
os itens do projeto foi elaborada tendo como referencia a proposta de planejamento
participativo apresentada pelo professor Danilo Gandin no livro “A prática do planejamento
participativo”(Editora Vozes, 1994).
Considerações sobre a utilidade da ficha:
1)Ela facilita o levantamento de dados sobre os problemas socioambientais locais e a relação
desses com os globais. Isso favorece uma visão mais ampla e integrada do mundo ajudando a
construir projetos mais significativos no que diz respeito à transformação da realidade;
2)Desta forma a ficha contribui para a construção de um sentido coletivo socialmente relevante
e portanto motivador para o trabalho do grupo;
3)Esse instrumento favorece a agilidade no processo de construção de levantamento de
concepções, idéias, propostas...do coletivo;
4)Uma maior agilidade nesse processo favorece a ampliação do nível de participação na
construção do projeto coletivo;
5) A maior participação do coletivo no planejamento do trabalho promove a sua motivação e
envolvimento na implantação do projeto favorecendo assim a eficácia e eficiência desse;
6) O processo de participação contribui para o desenvolvimento da formação cidadã desse
coletivo;
7) Tomar como ponto de partida do trabalho educativo a discussão sobre as causas,
conseqüências e possíveis soluções dos problemas identificados pela comunidade escolar
favorece uma maior efetividade no processo de apropriação de conhecimentos;
8) O planejamento participativo ajuda a evitar a fragmentação do trabalho no momento da
divisão de tarefas entre os componentes do grupo;
9) O fato do trabalho se constituir a partir de um projeto coletivo favorece o processo de
avaliação, inovação e ajustes necessários ao aperfeiçoamento desse;
62
10)Amplia as possibilidades de superação dos processos de alienação no desenvolvimento do
trabalho educacional;
11)Finalmente essa ficha contribui para que o coletivo construa uma visão mais ampla sobre a
realidade e o posicionamento do grupo em relação a esta.
63
BIBLIOGRAFIA
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Jovens e Adultos: identidade do trabalho nas escolas ou instrumento
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www.rio.rj.gov.br/web/sme/ acesso em 20 de setembro de 2010.
66
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I 12
A INDISCIPLINA ESCOLAR: ALUNOS PROBLEMA X SITUAÇÃO
PROBLEMA
1.1 - A construção da disciplina na escola atual 13
1.2 – Em busca do problema 17
CAPÍTULO II 23
A FORMAÇÃO DO PPP NAS ESCOLAS – A PARTICIPAÇÃO QUE
APROXIMA OLHARES
2.1. – Projeto Político Pedagógico – o que, como e por quê? 24
2.2 – A importância da participação efetiva da comunidade escolar 28
CAPÍTULO III 32
E QUANDO SÃO OS ALUNOS QUE DECIDEM? – A EXPERIÊNCIA DA
ESCOLA DA PONTE
CAPÍTULO IV 40
67
UMA POSSIBILIDADE VIÁVEL? OS DESAFIOS NA DISCUSSÃO DA
INDISCIPLINA ESCOLAR
4.1. – A rede municipal do Rio de Janeiro e o Regimento Escolar Básico 40
4. 2. – A construção da identidade da escola e a indisciplina no ambiente
escolar – a discussão que se faz necessária 43
CONCLUSÃO 47
ANEXOS 51
BIBLIOGRAFIA 63
ÍNDICE 66