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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A QUALIDADE DE VIDA NAS ORGANIZAÇÕES Por: André Butzke de Almeida Orientador Prof. Fabiane Muniz Rio de Janeiro 2012

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · 2012. 4. 2. · A QUALIDADE DE VIDA NAS ORGANIZAÇÕES Por: André Butzke de Almeida Orientador Prof. Fabiane Muniz

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A QUALIDADE DE VIDA NAS ORGANIZAÇÕES

Por: André Butzke de Almeida

Orientador

Prof. Fabiane Muniz

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A QUALIDADE DE VIDA NAS ORGANIZAÇÕES

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Gestão de RH.

Por: André Butzke de Almeida

3

AGRADECIMENTOS

A Deus, acima de tudo, por me ter

capacitado para tal estudo, e ao meu

irmão Guilherme Ferreira, por toda a

paciência, compreensão e ajuda

precisa.

4

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Mario José e Mary Lia (in

memoriam), a minha família e amigos,

entre eles o casal Eurico e Eliane Cristina

Girão, e, de forma especial, ao meu

afilhado João Alves Girão, minha grande

inspiração a prosseguir.

5

RESUMO

Falar de Qualidade de Vida nas Organizações é falar de um aspecto

fundamental da vida do ser humano: o trabalho.

Buscaremos uma definição do que é qualidade de vida no trabalho,

abordaremos um pouco do seu histórico, dos seus aspectos e da sua

influência nas organizações, e estudaremos dois casos diversos de duas

empresas de setores diferentes da economia.

Não temos aqui a pretensão de elaborarmos uma tese sobre

Antropologia Laboral, mas apenas o objetivo final de respondermos à pergunta

que motivou o presente estudo: é possível humanizar o ambiente de trabalho?

6

METODOLOGIA

Os métodos que levaram ao problema proposto foram baseados, além

de observação empírica do objeto de estudo, em leitura de livros, sites e

buscas em geral sobre o assunto em bibliotecas e na internet. Foram objeto de

observação e estudo alguns sites, como o RH.com.br, o do Banco do Brasil, o

da Natura, entre outros.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A Qualidade de Vida nas Organizações 10

CAPÍTULO II - Práticas de Qualidade de Vida 20

CAPÍTULO III - A Humanização do Ambiente Corporativo 30

CONCLUSÃO 40

BIBLIOGRAFIA 42

ANEXOS 44

ÍNDICE 52

FOLHA DE AVALIAÇÃO 53

8

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo estudar as ações e programas de

qualidade de vida no trabalho. O trabalho é o que há de mais humano, mas

tem sido o grande inimigo do homem, pois este tem se visto escravizado por

modelos de gestão e administração que volvem ao tempo da escravidão.

Punições, metas desumanas, falta de tempo para si, para o lazer, para

os amigos e para a família tem feito com que a humanidade se torne cada dia

menos humana, mais robotizada. A robotização adoece o homem e aumenta o

número do absenteísmo e dos problemas de saúde. Depressão, síndrome do

pânico, síndrome de burnout: frutos da rudeza e da frieza dos ambientes de

trabalho.

Pensar em qualidade de vida nas organizações é pensar grande. É

pensar que o ser humano precisa se sentir bem no trabalho assim como em

casa. O ambiente de trabalho é uma extensão da casa do colaborador, pois ali

ele passa a maior parte do seu dia. Não é gasto, custo, prejuízo, mas

investimento. Um colaborador feliz e motivado rende mais e melhor, produz

mais e alcança metas muito mais altas do que um colaborador que vive sob

pressão, sob o medo de ser punido.

Antes de ser colaborador, o empregado de qualquer empresa, ocupe a

posição que ocupar, é humano, e o ambiente de trabalho deve ser o mais

humanizado possível. Esse tema tem sido abordado em muitos estudos e

muitas empresas já estão se voltando para ele.

Para tal, estudaremos no primeiro capítulo sobre o que é qualidade de

vida no trabalho e seu histórico. Estudaremos autores como Rodrigues,

9

Limongi-França, Handy, Veiga e Chiavenato. Buscaremos uma definição para

o termo e situar a qualidade de vida na história da humanidade.

O segundo capítulo será dedicado ao estudo de casos de qualidade de

vida no trabalho, onde poderemos comparar duas empresas e duas situações

distintas em termos de qualidade de vida. Abordaremos antes dos casos,

porém, sobre cultura organizacional e suas influências na existência ou não

dos programas de qualidade de vida.

O terceiro e último capítulo será dedicado aos aspectos mais

importantes dos programas e ações de qualidade de vida nas organizações e

também à resposta da pergunta que motivou essa pesquisa: “É possível

humanizar o ambiente de trabalho?”

Esse estudo pretende ser um aprofundamento na antropologia humana

no seu aspecto laboral. A qualidade de vida como humanização do ambiente

de trabalho.

10

CAPÍTULO I

A Qualidade de Vida nas Organizações

Um dos temas mais em voga na atualidade dentro das empresas, no

que tange a gestão de RH, é a qualidade de vida nas organizações. Muito se

fala, muito se tenta fazer, pouco se faz realmente. Especialmente no Brasil, o

tema ainda é motivo apenas de cursos, seminários e reuniões, sendo que

muito pouco é feito nessa área.

1.1 – Breve Histórico da Qualidade de Vida nas Organizações

Segundo RODRIGUES (1999), com outros títulos e em outros

contextos, mas sempre voltada para facilitar ou trazer satisfação e bem-estar

ao trabalhador na execução de suas tarefas, “a qualidade de vida no trabalho

sempre foi objeto de preocupação da humanidade. Os ensinamentos de

Euclides de Alexandria (300 a.C.) sobre os princípios da geometria serviram de

inspiração para a melhoria do método de trabalho dos agricultores à margem

do Nilo, assim como a Lei das Alavancas, de Arquimedes, formulada em 287

a.C., veio a diminuir o esforço físico de muitos trabalhadores”.

Já no século XX, muitos se dedicaram ao estudo da qualidade de vida

no trabalho. Podemos destacar, entre eles, Helton Mayo, cujas pesquisas são

sumariamente relevantes para o estudo do comportamento humano, da

motivação dos indivíduos para o atingimento das metas organizacionais e da

qualidade de vida do trabalhador, de acordo com FERREIRA, REIS e

PEREIRA (1999) e RODRIGUES (1999). Suas pesquisas e estudos, de forma

especial os realizados na Western Eletric Company (Chicago), no início dos

anos 20, tiveram seu ápice na Escola de Relações Humanas, o embrião de

todo o estudo sobre qualidade de vida no trabalho.

11

Ainda de acordo com FERREIRA, REIS E PEREIRA (1999) e

RODRIGUES (1999), as pesquisas de Abrahan H. Maslow merecem igual

crédito, pois ele concebeu o que hoje conhecemos por “Pirâmide de Maslow”,

ou seja, a hierarquia das necessidades humanas fundamentais, a saber:

fisiológicas, segurança, amor, estima e autorrealização. Outros estudiosos,

como Frederick Herzberg, concluíram que os colaboradores associavam a

insatisfação com o trabalho ao ambiente laboral e a satisfação com o trabalho

ao conteúdo do mesmo. Dessa forma, a política e a administração da empresa,

as relações interpessoais com os superiores, as condições de trabalho,

salários, status e segurança no trabalho constituiriam o que Herzberg chama

de fatores higiênicos; e a realização, reconhecimento, o próprio trabalho,

responsabilidades e desenvolvimento constituiriam os fatores motivadores

(RODRIGUES, 1999 e FERREIRA, REIS e PEREIRA, 1999).

Tornar a qualidade de vida no trabalho uma ferramenta gerencial

efetiva, e não apenas mais um modismo temporário, como tantos outros, é o

grande desafio das empresas na atualidade. Transformar uma rotina

desumana e desgastante, onde o progresso e o lucro são os únicos objetivos,

é o que podemos chamar de o maior desafio das empresas contemporâneas.

A visão de que o trabalho tem seu fim em si mesmo deve ser transformada.

“Atualmente, as pessoas tem trabalhado cada vez mais e, por extensão, tem

tido menos tempo para si mesmas” (VEIGA, 2000), o que reflete diretamente

no adoecimento e na desmotivação.

“O problema começou quando transformamos o tempo em uma

mercadoria, quando compramos o tempo das pessoas em nossas empresas

em vez de comprar a produção. Quanto mais tempo você vende, nessas

condições, mais dinheiro fará. Então, há uma troca inevitável entre o tempo e o

dinheiro. As empresas, por sua vez, tornam-se exigentes. Querem menos

tempo das pessoas que eles pagam por hora, porém mais tempo das pessoas

que pagam por ano, porque, no último caso, cada hora extra durante o ano é

gratuita.” (HANDY, 1995, p. 25).

12

NADLER e LAWLER, de acordo com RODRIGUES (1999) e

FERNANDES (1996), nos apresentam uma muito interessante e abrangente

visão da evolução da qualidade de vida no trabalho, conforme segue:

De 1959 a 1972, a qualidade de vida no trabalho foi vista como uma

variável, como a reação do indivíduo ao trabalho. Investigava-se como

melhorar a qualidade de vida no trabalho para o indivíduo.

De 1969 a 1974, numa clara transposição e simultaneidade com a

visão anterior, a qualidade de vida no trabalho foi vista como uma abordagem,

onde o foco era o indivíduo antes do resultado organizacional e, ao mesmo

tempo, buscava-se trazer melhorias tanto ao empregado quanto à direção.

De 1972 a 1975, ainda com o fator novidade e simultaneidade bem

presentes, a qualidade de vida no trabalho é tida como um método, um

conjunto de abordagens, métodos ou técnicas para melhorar o ambiente de

trabalho e tornar o trabalho mais produtivo e mais satisfatório. A qualidade de

vida no trabalho era vista como sinônimo de grupos autônomos de trabalho,

enriquecimento de cargo ou desenho de novas plantas com integração social e

técnica.

De 1975 a 1980, a qualidade de vida no trabalho foi vista como um

movimento, uma declaração ideológica sobre a natureza do trabalho e as

relações dos trabalhadores com a organização. Os termos “administração

participativa” e “democracia industrial” eram frequentemente ditos como ideais

do movimento de qualidade de vida no trabalho.

De 1979 a 1982, a qualidade de vida no trabalho era tida como tudo,

como panacéia, ou seja, como medida pretensamente eficaz para solucionar

todos os problemas contra a competição estrangeira, os problemas de

qualidade, baixas taxas de produtividade, problemas de queixas e outros

13

problemas organizacionais. Essa visão perdura até os dias de hoje na maioria

das empresas.

Futuro: a qualidade de vida no trabalho vista como nada. No caso de

alguns projetos de qualidade de vida no trabalho fracassarem, não passará de

um “modismo” passageiro.

Apesar de termos visto que desde 1959 havia uma preocupação com a

qualidade de vida no trabalho, esse termo só foi aplicado pela primeira vez

pelo presidente dos Estados Unidos da América, Lyndon Johnson, em 1964,

quando declarou que os objetivos não podem ser medidos através do balanço

dos bancos. Eles só podem ser medidos através da qualidade de vida que as

empresas proporcionam às pessoas.

Aqui no Brasil, segundo CHIAVENATO (1996), a qualidade de vida no

trabalho só começou a ser pensada, e de forma muito tímida, na década de

1990.

1.2 – Definição de Qualidade de Vida

Definir qualidade de vida no trabalho não é tão simples quanto parece,

uma vez que os autores, apesar de seguirem a mesma lógica, usam termos e

expressões diversas, abrindo margem para um debate amplo e produtivo.

Partiremos da definição do que é qualidade, segundo o Dicionário Aurélio da

Língua Portuguesa:

“Qualidade é propriedade, atributo ou condição das coisas ou das

pessoas que as distingue das outras e lhes determina a natureza.”

A partir desse ponto, muitos estudos buscam como aplicar esse

conceito de qualidade ao conceito de qualidade de vida no ambiente

corporativo. Contudo, não são coisas simples, pois englobam uma série de

14

variáveis com enfoques no grau de satisfação da pessoa com a empresa, nas

condições ambientais gerais e na promoção da saúde do colaborador. Quanto

mais os programas de qualidade de vida forem adotados nas organizações,

mais produtivo e saudável será o ambiente de trabalho.

CHIAVENATO (1996) define que a qualidade de vida no trabalho

“representa o grau em que os membros da organização são capazes de

satisfazer as suas necessidades pessoais através de suas experiências na

organização”. Ressalta, ainda, que “as organizações são inventadas pelo

homem para se adaptarem a circunstâncias ambientais, a fim de alcançarem

objetivos. Se essa adaptação é conseguida e os objetivos são alcançados,

então a organização será considerada eficaz”.

Contudo, o autor questiona sobre quais seriam os métodos

necessários para alcançar a qualidade de vida no trabalho, uma vez que as

organizações querem ser vistas como o melhor lugar para se trabalhar. Para

que isso ocorra, é imprescindível a existência de qualidade de vida, que o

próprio autor definirá como “criar, manter e melhorar o ambiente de trabalho,

seja em suas condições físicas, seja em suas condições psicológicas e

sociais”. (CHIAVENATO, 1996)

Um ambiente agradável para se trabalhar dentro de uma empresa faz-

se da junção de todos esses fatores, porque melhora de forma substancial e

clara a qualidade de vida das pessoas nas organizações e, consequentemente,

fora das organizações.

Existe ainda muitas outras interpretações sobre a qualidade de vida no

trabalho, que varia desde o foco clínico da ausência de doenças até as

exigências de recursos, objetos e procedimentos de natureza gerencial e

estratégica no nível das organizações.

15

Segundo LIMONGI-FRANÇA (1996), “qualidade de vida no trabalho é

o conjunto de ações de uma empresa no sentido de implantar melhorias e

inovações gerenciais, tecnológicas e estruturais no ambiente de trabalho.”

Relativos às demandas de qualidade de vida, dentro e fora das

organizações, observamos que muitos novos paradigmas de modos de vida

estão se estruturando em diversos segmentos da sociedade e da ciência, entre

os quais, segundo LIMONGI-FRANÇA e ARELLANO (2002), destacam-se:

Saúde: visa preservar a integridade física, psicológica e social do ser

humano em vez de apenas atuar sobre o controle de doenças e propiciar maior

expectativa de vida e reintegração profissional da pessoa que adoece;

Ecologia: ciência em que o homem é parte integrante e responsável

pela preservação do ecossistema e dos insumos da natureza, bem como ator

do desenvolvimento sustentável;

Ergonomia: estuda as condições de trabalho ligadas à pessoa e

fundamenta-se na medicina, na psicologia, na motricidade e na tecnologia

industrial, visando ao conforto e ao desempenho nas diversas posições de

trabalho.

Psicologia: demonstra a influência das atitudes internas e as

perspectivas de vida da pessoa e a importância do significado intrínseco das

necessidades individuais para o seu envolvimento com o trabalho em conjunto

com a filosofia.

Sociologia: atua sobre a dimensão simbólica do que é compartilhado

e construído socialmente, demonstrando as implicações de quem influencia e é

influenciado nos diversos contextos culturais e antropológicos da empresa.

16

Economia: enfatiza a consciência de que os bens são finitos e de que

a distribuição de bens, recursos e serviços deve envolver de forma equitativa a

responsabilidade e os direitos da sociedade.

Administração: procura aumentar a capacidade de mobilizar recursos

para atingir resultados em ambiente cada vez mais complexo, mutável e

competitivo.

Engenharia: elabora formas de produção voltadas para a flexibilização

da manufatura, armazenamento de materiais, uso da tecnologia, organização

do trabalho e controle de processos.

Oportunidade de progresso e segurança no emprego: manifestam-

se no desenvolvimento pessoal, no desenvolvimento da carreira, na

possibilidade de aplicação de novas habilidades, na sensação de segurança

no emprego e na remuneração.

Integração social na organização: um ambiente favorável nas

relações pessoais é atingido com democracia social, ascensão na carreira,

companheirismo, união, comunicação aberta e ausência de preconceitos.

Leis e normas sociais: o grau de integração social na organização

está relacionado com o direito à privacidade e à liberdade de expressão de

ideias, com tratamento equitativo e normas claras.

Trabalho e vida privada: as condições de crescimento na carreira não

devem interferir no descanso nem na vida familiar do empregado.

Significado social da atividade do empregado: a atuação social da

organização tem significado importante para os empregados tanto em sua

percepção da empresa quanto em sua auto-estima.

17

É fato que todos esses fatores não encerram o tema qualidade de vida

no trabalho, pois, por mais que englobem praticamente todos os aspectos da

vida humana, eles se desdobram em inúmeros outros fatores, gerando sempre

um novo campo a ser estudado, definido, aplicado. O que vemos hoje nas

organizações que tem projetos e trabalhos de qualidade de vida é uma

redução a apenas dois elementos: a preocupação com o impacto do trabalho

sobre as pessoas e sobre a afetividade organizacional e a ideia de participação

na tomada de decisões e na solução de problemas (LIMONGI-FRANÇA e

ARELLANO, 2002).

A qualidade de vida no trabalho deve ser, no seu âmago, a aplicação

concreta de uma filosofia onde o humano seja o centro através de métodos

participativos, a fim de criar uma situação favorável aos colaboradores e, dessa

forma, à produtividade. Deve ser baseada numa gestão dinâmica e

contingencial de fatores físicos, tecnológicos e sociopsicológicos que afetam a

cultura e renovam o clima organizacional, refletindo-se no bem-estar do

trabalhador e na produtividade das empresas, como vimos nos segmentos

destacados por LIMONGI-FRANÇA e ARELLANO (2002).

As organizações e as pessoas mudam constante e continuamente. Os

fatores físicos, sociológicos e psicológicos interferem diretamente nessa

mudança e igualmente na satisfação dos indivíduos em situação de trabalho,

sem deixar de considerar os aspectos tecnológicos da organização do próprio

trabalho. Tudo isso junto afeta a cultura e interfere no clima organizacional com

reflexos na produtividade e na satisfação dos colaboradores.

A qualidade de vida no trabalho é algo que ocorre dentro das pessoas

e entre as pessoas, num processo de relacionamento baseado no respeito

mútuo entre todos os membros do grupo de trabalho. Este é um processo

participativo na solução de problemas para o qual a empresa e trabalhadores

não só produzirão melhores soluções e discussões, mas também um clima de

18

maior satisfação com as pessoas no trabalho. A participação dos empregados

nas decisões que afetam o desempenho de suas funções, a reestruturação de

tarefas, estruturas e sistemas para que ofereçam maior liberdade e satisfação

no trabalho, sistemas de compensação que valorizem o trabalho de modo justo

e de acordo com o desempenho, adequação do ambiente de trabalho às

necessidades individuais do trabalhador, a satisfação com o trabalho são

conceitos básicos de qualidade de vida no trabalho (PILATTI e BEJARANO,

2005).

Todas as iniciativas e projetos de qualidade de vida no trabalho tem

dois objetivos: aumentar a produtividade e o desempenho e melhorar a

qualidade de vida do trabalhador e a satisfação deste com o seu trabalho.

Muitos autores, conforme vimos, supõem que os dois objetivos estão ligados,

ou seja, a melhor maneira de melhorar a produtividade seria melhorar as

condições de satisfação com o trabalho. Contudo, a satisfação do trabalhador

e a sua produtividade não seguem obrigatoriamente caminhos paralelos. Isto

não significa que os dois objetivos sejam incompatíveis, nem que sejam

totalmente independentes um do outro. Sob determinadas circunstâncias,

melhorias nas condições de trabalho contribuirão para a produtividade.

Diante de tudo isso, dentre todos os elementos que definem a

qualidade de vida no trabalho, é o controle o seu aspecto principal, pois

compreende a autonomia e o controle total dos trabalhadores sobre os

processos de trabalho. Esse aspecto engloba todas as questões referentes à

saúde, à segurança e à organização do trabalho e do meio ambiente, como um

fator determinante na configuração da qualidade de vida dos colaboradores

(LIMONGI-FRANÇA e ARELLANO, 2002).

O ser humano é um ser integral, todas as suas dimensões se ligam,

como numa rede neural. Tentar isolá-las, assumindo valores éticos

artificialmente criados apenas para trazer proveito, no final, só traz infelicidade

19

e decepção. Não se pode pensar em qualidade de vida no trabalho sem levar

em conta a integralidade do homem, nem se pode construí-la isoladamente.

“Qualidade de vida tem a ver com a busca contínua da realização

integral do ser humano através de estímulos adequados à plena utilização de

sua capacidade mental, física e psíquica. Tem tudo a ver com equilíbrio e com

a experimentação intensa de todas as dimensões de sua realização pessoal”

(PEIXOTO, 1997).

20

CAPÍTULO II

Práticas de Qualidade de Vida

Mostrando que é possível aliar qualidade de vida e produtividade,

algumas empresas brasileiras podem ser tidas como exemplo de organizações

que não apenas se preocupam com o lucro e a produtividade, mas que

valorizam seus colaboradores e buscam fornecer meios e condições de que

tenham qualidade de vida, tanto no ambiente corporativo quanto na vida

pessoal.

Estudaremos dois casos bem diferentes no que diz respeito à

qualidade de vida no trabalho. O primeiro numa agência do Banco do Brasil

S.A., na Bahia; o segundo, na Empresa Natura Cosméticos S.A..

2.1 – Cultura Organizacional

Antes de estudarmos os casos acima mencionados, faz-se mister nos

debruçarmos e compreender a cultura organizacional, pois é um elemento

fundamental na formação de qualquer organização com a construção de

valores, crenças e práticas do seu quotidiano. Conhecer a cultura de uma

organização não é uma tarefa simples, pois exige do pesquisador, ao mesmo

tempo, um envolvimento para conhecê-la e um distanciamento para não se

contaminar e perder sua visão crítica.

A cultura organizacional está presente em todo o lugar da organização,

desde o pensar, o sentir, até o agir dos colaboradores do grupo. Ela não nasce

de decretos ou palavras, mas dos objetivos, missão e valores da empresa. Sua

mudança, da mesma forma, não se dá por imposição, mas por mudanças reais

nas crenças e valores de, pelo menos, a maioria das pessoas que colaboram

na organização.

21

FREITAS (1991) afirma que cultura é um termo bastante profundo e

abrangente, empregado em diversas situações sociais, com base conceitual

especialmente da Antropologia Cultural, onde encontram-se diversas correntes

teóricas. Partindo da contribuição dessa ciência, foram surgindo pesquisas e

vários autores em busca de um conceito. SCHEIN (1976) nos traz uma visão

conceitual e metodológica e se torna um referencial obrigatório em muitas

pesquisas.

“A Cultura Organizacional é formada pelo conjunto de pressupostos

básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como

lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna, e que

funcionaram bem o suficiente para serem considerados válidos e ensinados a

novos membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir em relação

esses problemas” (SCHEIN, 1976).

Sua preocupação vai além dos comportamentos e dos valores, dando

ênfase à força dos pressupostos, os quais determinam como os membros da

organização percebem, pensam e sentem. “As próprias respostas aprendidas,

originadas em valores esposados são os pressupostos para entender que um

grupo é composto e que seus valores são definidos. E, como um valor leva a

um comportamento, e como tal comportamento começa a resolver os

problemas, esse valor é gradualmente transformado num pressuposto

subjacente sobre como as coisas realmente são. À medida que o pressuposto

é crescentemente internalizado como verdade, ele sai do nível da consciência

e passa a ser uma verdade inquestionável” (SCHEIN, 1976).

Pressupostos básicos quando se tornam verdades inquestionáveis são

menos debatidos e confrontados, porquanto, são valores cristalizados.

Entretanto, nem todos os valores sofrem tais transformações, mas somente

aqueles que continuam a funcionar no sentido de resolver os problemas do

grupo.

22

Baseados nos estudos de Schein, podemos entender e conceber a

cultura organizacional como um modelo dinâmico, que é aprendida,

compartilhada, transmitida e mudada, mas com muito trabalho. É adquirida em

situações de aprendizagem nas resoluções de problemas, com o objetivo de

integrar seus membros. É o resultado dos aspectos relacionados com crenças

e valores dos membros fundadores.

FREITAS (1991) afirma que a cultura organizacional é constituída por

diversos elementos que fornecem uma interpretação para os membros da

organização cujo significado passa a ser aceito e, através da linguagem,

transmite as mensagens e os comportamentos convenientes, sendo

aplaudidos e aceitos com naturalidade e espontaneidade por todos. Dentre os

elementos, destacam-se os valores, as crenças e pressupostos, os ritos, rituais

e cerimônias, histórias e mitos, tabus, heróis, normas e a comunicação.

Podemos concluir que a cultura organizacional é o conhecimento essencial que

a organização deve possuir para realizar da melhor maneira a sua adaptação

no contexto interno e externo.

2.2 – Estudo de Caso na Agência BB de Tanhaçu (BA) 1

A agência de Tanhaçu/BA do Banco do Brasil foi criada em 1980 e

destina-se, na forma da lei, impulsionar a economia local, financiando, dentre

outros setores produtivos, a agricultura familiar, o agronegócio e as micro e

pequenas empresas, atender às expectativas de clientes e acionistas,

fortalecer o compromisso entre os funcionários e a empresa e contribuir para o

desenvolvimento do país. O estudo foi baseado no modelo de Walton (1973)

apud RODRIGUES (2002, p. 98) e apresenta 8 aspectos:

A Compensação Justa e Adequada: esse aspecto apresenta uma

das principais razões da baixa qualidade de vida entre os funcionários. A

quase totalidade está insatisfeita com a remuneração recebida face às

23

responsabilidades e cobranças que decorrem do seu trabalho. Contudo, os

benefícios equilibram as contas, pois os dois somados são suficientes para

satisfazer suas necessidades pessoais e sócio-econômicas. É senso comum

que tanto a remuneração quanto os benefícios recebidos afetam diretamente a

qualidade de vida pessoal, e uma vida pessoal estável e agradável está

diretamente ligada a uma vida profissional harmoniosa. A jornada de trabalho

também é um dado relevante aqui, pois necessitam-se de condições

ergonômicas melhores para dirimir os efeitos do estresse quotidiano. A

unanimidade dos funcionários dessa agência está insatisfeita com a

remuneração recebida, mas acredita que os benefícios, de certa forma,

completam de forma suficiente o baixo salário. A maioria concorda que a

jornada de trabalho é cansativa e sobrecarrega os colaboradores.

As Condições no Ambiente de Trabalho: dados como a iluminação,

ventilação e organização são quesitos básicos para um bom ambiente de

trabalho. Não se consegue ter qualidade de vida num local escuro, abafado e

bagunçado. Um ambiente agressivo torna o quotidiano mais pesado e

estressante, diminuindo a satisfação do colaborador e reduzindo sua

produtividade. As práticas de atividades relacionadas à saúde ocupacional são

outro fator de suma importância. A promoção de atividades como a ginástica

laboral e massagens, por exemplo, ajuda a diminuir a tensão e a pressão do

trabalho e o colaborador pode se dedicar mais e melhor a sua função. Gastos

com a manutenção da saúde do colaborador não é desperdício, é

investimento. Ainda na área da saúde, o exame periódico ajuda a construção

de um mapa que permite monitorar as condições de saúde dos funcionários,

bem como investir em programas antitabagistas e de emagrecimento. Nesse

ponto, a agência está dividida, pois metade acha que as condições são boas e

metade, que são ruins.

O Uso e Desenvolvimento de Capacidades: uma empresa com

administração moderna e que se importa com a qualidade de vida dos seus

1 Dados obtidos no site da UNIBB (www.bb.com.br)

24

colaboradores se baseia no CHA: Competências, Habilidades e Atitudes. O

Banco do Brasil oferece todo o treinamento necessário para que as tarefas

sejam cumpridas e os funcionários se sentem seguros para a realização de

suas funções. Há também cursos de reciclagem e de atualizações. O indicador

autonomia também se encontra nesse aspecto, onde os colaboradores

precisam de liberdade para tomar decisões e usar novos métodos. A

unanimidade dos funcionários concorda que tem treinamento suficiente para

exercer sua função e se acha importante para a dependência, porém, no que

diz respeito à autonomia, a maioria se acha livre para tomar decisões. Há uma

minoria que ainda se sente reprimida e sem liberdade para tal ação.

As Oportunidades de Crescimento: o Banco do Brasil oferece

chances iguais de crescimento na empresa, seja na própria agência quanto em

outras dependências da empresa. A estabilidade no emprego também é outro

fator que garante uma certa qualidade de vida aos colaboradores, por não

viverem o estresse de serem desligados a qualquer instante. A unanimidade

dos colaboradores dessa agência concorda com a política de ascensão da

empresa e que a estabilidade traz uma tranquilidade maior para exercer suas

funções, assim como todos os processos de educação continuada e formação

integral dos funcionários é bom.

A Integração Social na Empresa: ser tratado com igualdade pelos

superiores e um bom relacionamento com os colegas de trabalho são aspectos

fundamentais para que o clima de trabalho seja bom e a qualidade de vida ali

também o seja. Todos os funcionários dessa agência se consideram bem

tratados por seus superiores e por seus colegas, além de observarem que há

um clima de união no grupo, facilitando, dessa forma, que todo o processo

laboral seja executado da melhor forma possível.

O Constitucionalismo: aqui, o debate gira em torno do cumprimento,

por parte da corporação, no caso o Banco do Brasil através de sua agência

Tanhaçu, dos direitos assegurados por lei aos trabalhadores. Aqui, também,

25

deve ser observado se há a liberdade de expressão de ideias e sugestões,

concordâncias e discordâncias. Todos os funcionários, mais uma vez,

concordam que nesse aspecto eles são respeitados tanto na sua

individualidade quanto na sua privacidade.

O Trabalho e o Espaço Total de Vida: este é o único fator

apresentado por Walton (1973) que busca verificar o equilíbrio existente entre

o trabalho e as demais atividades existentes na vida dos trabalhadores. Nessa

agência, a maioria dos funcionários não percebe influência ou prejuízo

causado pelo trabalho em sua vida familiar, o que é bem positivo. Afirmam ter

tempo para o lazer e as atividades sociais. No aspecto orgulho e satisfação

pessoal, todos os colaboradores se disseram orgulhosos e satisfeitos de

trabalhar no Banco do Brasil, apesar das falhas graves no que diz respeito à

qualidade de vida no trabalho.

A Relevância Social do Trabalho na Vida: encontramos aqui

questionamentos sobre a preocupação em servir a comunidade local e prestar

serviços de qualidade. Houve uma homogeneidade entre os funcionários sobre

esse tema, e muitos pensam que a imagem da agência, que a imagem do

Banco do Brasil junto à comunidade é bem forte. Mais uma vez, os

colaboradores se mostraram orgulhosos de trabalharem nessa dependência do

Banco.

Podemos concluir que, apesar dos funcionários dessa agência do

Banco do Brasil se dizerem orgulhosos e felizes de trabalharem ali, falta muita

coisa para que a qualidade de vida deles seja, no mínimo, aceitável. Nos

parece haver um senso comum de gratidão ao Banco do Brasil mais pelo

poder da sua imagem do que pelas condições oferecidas pela empresa aos

trabalhadores. Um Programa de qualidade de vida no trabalho deve ser total,

como vimos no primeiro capítulo. Não basta apenas isso ou aquilo, mas é

necessário um conjunto de esforços para que o colaborador não apenas se

26

sinta orgulhoso por trabalhar na empresa, mas se sinta orgulhoso, saudável e

produza da forma esperada.

Percebemos, ainda, uma mentalidade reativa nos funcionários,

quando, na realidade, para haver uma qualidade de vida total é necessária

uma mentalidade proativa, onde não se espera acontecerem os problemas

para se fazer alguma coisa, mas se previnem problemas e se investe em

saúde e bem-estar ocupacional.

2.3 – Estudo de Caso na Natura Cosméticos S.A.2

A Natura Cosméticos S.A. é uma empresa de capital nacional, fundada

em 1969, que atua no ramo de cosméticos. Trata-se de uma marca brasileira

que emprega diretamente mais de 300 mil pessoas, entre funcionários e

consultores de venda.

É fácil notar a importância da cultura organizacional no programa de

qualidade de vida da Natura, que desde a sua criação vem sendo liderada por

brasileiros que buscam maior integração entre as suas crenças pessoais e as

suas iniciativas empresariais. Seu fundador tinha o objetivo de oferecer aos

seus clientes, junto com os produtos, o bem-estar, tornando-as, assim, mais

felizes consigo mesmas, nos seus relacionamentos e em harmonia com o meio

ambiente. Surge, então, a razão de ser que é a criação e comercialização de

produtos e serviços que contemplem e promovam o binômio “bem-estar/estar

bem” (catálogo informativo da empresa). Essa visão de mundo do fundador

tornou-se parte intrínseca da cultura organizacional, está sempre presente nas

criações da empresa e justifica que o bem-estar é a relação harmoniosa,

agradável do indivíduo consigo próprio, com seu corpo, e o estar bem é a

relação empática, bem-sucedida, prazerosa do indivíduo com o outro, com o

mundo.

27

O programa de qualidade de vida no trabalho da Natura é de meados

da década de 1990 e foi feito sob a coordenação da área de Recursos

Humanos. Num primeiro momento, foram feitas uma série de atividades

dirigidas ao aprimoramento da Política de Remuneração e da Política de

Benefícios. Com o passar do tempo, as atividades passaram a ser dirigidas

para a melhoria da qualidade de vida dos colaboradores, complementando a

Política de Benefícios existente. Através de ações desenvolvidas na segurança

do trabalho, na ergonomia, sentiu-se a necessidade de implementar um

programa de qualidade de vida mais abrangente.

O propósito inicial era englobar todas as ações que já estavam em

andamento e incorporá-las à Política da Qualidade da empresa, obtendo assim

resultados mais eficazes e efetivos. Assim, despertaram as gerências para a

necessidade de gerenciar sua saúde, partindo do conhecimento dos riscos e

da aprendizagem sobre os cuidados necessários: autoconhecimento,

desenvolvimento da consciência para adotar atitudes e hábitos saudáveis.

O apoio institucional e o comprometimento foram elementos essenciais

para implementar esse programa, bem como para o desenvolvimento e o

sucesso. Portanto, teve de ser reconhecido e aprovado pela alta administração

e pelos colaboradores de todos os níveis hierárquicos, que passaram a

participar no desenvolvimento das atividades do programa. Como vimos no

primeiro capítulo, a qualidade de vida no trabalho não deve nem pode ser algo

imposto, de cima para baixo, mas deve ser coletivo, com a participação de

todos, afinal, atingirá a todos os níveis da organização. O colaborador que

participa se sente valorizado e, se sentindo valorizado, quer participar mais.

Esse ciclo faz com que ele ajude a melhorar seu ambiente de trabalho e, dessa

forma, aumente sua qualidade de vida organizacional.

O processo de qualidade de vida no trabalho, a partir desse momento,

ganhou um grande impulso e foi desenvolvido um programa institucional

2 Dados obtidos no site da Natura (www.natura.net)

28

dividido em etapas específicas, como a conscientização, o conhecimento de

como mudar, a mudança de atitude, a mudança de comportamento e a

redução de risco. O programa contou com duas grandes etapas: primeiro, a

etapa educativa; segundo, a montagem de grupos temáticos sobre

determinados temas, por exemplo: tabagismo e hipertensão.

O slogan adotado foi “Bem-Estar e Estar Bem”, trazendo a questão das

relações do ser humano consigo mesmo, com outros seres e com o meio

ambiente. É no que a Natura acredita e faz disso a sua razão de ser. Eis a

explicação institucional do slogan:

“Bem-estar é da pessoa, e da pessoa estar bem consigo mesma. Já o

estar bem seria ela, estando bem com o ambiente de trabalho, estar bem com

os outros. Em primeiro lugar, você deve estar bem consigo mesmo, você tem

que estar em paz. Depois, você tem condições de estar bem no trabalho, na

comunidade e no meio ambiente.” (www.natura.net)

Ao analisar o programa de qualidade de vida no trabalho da Natura

detectamos na cultura organizacional traços paternalistas que vem suprir a

falta efetiva das Políticas Sociais do Governo. Com isso, a empresa se propõe

a manter e assegurar o crescimento, já que o programa surgiu como um

conjunto de atividades para aprimorar as Políticas de Remuneração e,

principalmente, as Políticas de Benefícios. Através do programa, a empresa

melhora as condições de trabalho, fazendo com que os trabalhadores sintam-

se valorizados e reconhecidos, retribuindo com o aumento da produtividade.

O programa de qualidade de vida no trabalho da Natura foi implantado

com a preocupação de que as pessoas passassem a gerenciar o seu estilo de

vida, tanto os colaboradores quanto suas famílias, e, ainda, sua comunidade. É

um programa total, que marca não apenas os que estão dentro, os que

participam de forma primária, mas todos os que de uma forma ou de outra

participam da vida desses colaboradores e dessa empresa.

29

2.4 – Comparativo Entre os Casos Estudados

A diferença é bem grande entre os dois casos.

No primeiro, podemos observar que praticamente não há um programa

de qualidade de vida no trabalho, resumindo-se tudo em alguns dias de

ginástica laboral e massagens terapêuticas contra o estresse. Ficou claro que

o grande investimento do Banco do Brasil é na sua imagem junto à

comunidade e na capacitação dos seus funcionários, sem muita preocupação

com a saúde dos seus colaboradores. Falta colocar na sua cultura a qualidade

de vida como fundamento.

No segundo, percebemos claramente um programa de qualidade de

vida no trabalho bem avançado, com raízes sólidas e bem fundadas na cultura

da empresa. A Natura não quer apenas vender seus produtos, mas quer que

seus colaboradores se sintam bem, estejam bem. Como no seu slogam “bem-

estar/estar bem”, tanto seus funcionários quantos seus clientes precisam viver

isso de forma plena. Ficou claro que ainda faltam muitas etapas até se

conseguir uma qualidade de vida plena, mas o processo está num ritmo bom e

apropriado.

30

CAPÍTULO III

A Humanização do Ambiente Corporativo

Iniciamos esse capítulo definindo, segundo o Dicionário Aurélio da

Língua Portuguesa, o que é humanização: “Humanização é o ato ou efeito de

humanizar”. E humanizar significa, pelo mesmo dicionário: “tornar humano,

tornar benévolo, tornar afável, dar a condição de homem, civilizar”.

Numa rápida definição, poderíamos dizer que humanizar o ambiente

de trabalho seria o mesmo que tornar esse ambiente mais benévolo, afável,

civilizado, humano. A qualidade de vida no trabalho passa necessariamente

pela humanização do ambiente.

3.1 – Homem Lobo do Homem?

O trabalho transformou-se numa fonte de supressão da liberdade. Aos

que não se enquadram, as consequências são amplamente conhecidas.

Trabalhar deixou de ser uma fonte de prazer e realização. Não representa

mais um instrumento de crescimento e satisfação pessoal e profissional. Os

ativos humanos mais valorizados são admitidos na organização por meio de

programas de aquisições de ações ou ganhos variáveis atrelados à

performance.

OLIVEIRA (1998) diz que as empresas exigem que os seus

empregados lhes confiem todo o seu capital intelectual e que se comprometam

com o seu trabalho. Contudo, elas não se comprometem com seus

empregados. Aliás, elas recomendam que os seus empregados cultivem sua

empregabilidade se quiserem continuar ocupando seus postos de trabalho.

Consequentemente, o colaborador hoje deve apresentar um conjunto

de habilidades e capacidades cada vez maior, ou seja, os requisitos explícitos.

31

Sem eles não há grandes possibilidades de uma vida digna. As organizações

tem sido implacáveis na exigência desses requisitos explícitos. A lista cresce

cada dia mais. Mas há também outras exigências: os requisitos implícitos, que

são caracterizados pelas horas extras dedicadas ao empregador e ao trabalho.

São medidas pelas jornadas noturnas extras e viagens constantes, que

fatalmente acabam por distanciar o colaborador, cada vez mais, física e

mentalmente, do lar, da família, dos amigos. E as consequências disso já se

fazem sentir.

Infelizmente, os que tem, por força do cargo e do poder de que estão

investidos, condições de mudar, ou de pelo menos admitir novas formas de

comportamento no trabalho e novos modelos mentais, propositadamente não o

fazem. Esse é o caso dos profissionais que colocam os negócios sempre antes

de considerações pessoais ou de carreira. Não julgam seus subordinados

apenas pelos resultados por estes alcançados. Para eles, todos os

subordinados devem viver os valores da empresa, ou, melhor dizendo, os

valores deles próprios. Defendem abertamente a necessidade de demitir os

executivos que não vivem os valores da organização, mesmo se eles

produzem resultados. (COLVIN, 2000)

Esses dirigentes são movidos por uma estranha obsessão. O convívio

familiar, o desenvolvimento de nossas potencialidades, o relaxamento físico e

mental, o envolvimento com os problemas dos filhos, o tempo para reflexão, o

bem-estar no sentido mais amplo, enfim, não fazem parte de seus universos.

Eles vivem para trabalhar. Seus padrões mentais estão bem cristalizados. E o

pior de tudo: eles ainda são grandes geradores de estresse no trabalho,

exatamente por sua conduta doentia. Quando os programas de qualidade de

vida no trabalho não decolam de maneira satisfatória na organização, a causa

principal são os dirigentes das empresas que não cumprem com sua

responsabilidade social.

32

Quando DE MASI (2000) indaga por que o atual desenvolvimento

técnico não é acompanhado de um avanço semelhante na convivência civil e

na felicidade humana; como e por que milhões de trabalhadores, embora

libertados do embrutecimento físico, dotados de máquinas portentosas,

encarregados de deveres intelectuais por vezes até agradáveis e bem pagos,

vivem numa condição estressante e insuportável; como e por que a conquista

da precisão transformou-se em ideia fixa de pontualidade, da produtividade a

todo custo, da competitividade, dos prazos, dos controles, das avaliações, dos

confrontos; e, como e porque o progresso material não se traduziu em melhor

qualidade de vida; enfim, a resposta está na mentalidade de dirigentes

interessados apenas nas glórias passageiras.

Eles desumanizam as organizações que dirigem. Eles não são

efetivamente agentes do progresso humano; estão muito longe disso. Sua

conduta autocrática e tacanha não permite vislumbrar as finalidades nobres do

trabalho. E cedo ou tarde eles são tragados pelo próprio monstro que geraram.

Como disse HOBBES (1651): o homem é o lobo do homem. Mas será que

precisa ser assim?

3.2 – Aspectos Práticos da Qualidade de Vida no Trabalho

Seja por modismo ou por necessidade, os programas de qualidade de

vida no trabalho já ganharam as empresas e são cada dia mais presentes, seja

de forma prática e produtiva, seja de forma teórica e estéril. Segundo

CHIAVENATO (1996), a qualidade de vida no trabalho abrange hoje, dentre

outros pontos, a satisfação com o trabalho executado, a possibilidade de

futuro, o reconhecimento pelos resultados alcançados, o salário percebido, os

benefícios auferidos, o relacionamento humano dentro do grupo e da

organização, o ambiente psicológico e físico de trabalho, a liberdade de decidir,

a possibilidade de participar e coisas assim. Envolve tanto os aspectos

intrínsecos do cargo, como os aspectos extrínsecos e contextuais, afetando

33

atitudes pessoais e comportamentos importantes para a produtividade, como:

motivação para o trabalho, adaptabilidade e flexibilidade para as mudanças no

ambiente, criatividade e um ambiente propício à inovação.

Cabe aqui ressaltarmos que o relacionamento humano dentro do grupo

é um dos aspectos mais fundamentais para se ter uma verdadeira qualidade

de vida, pois o relacionamento interpessoal faz o clima organizacional. E esse

relacionamento é de 360°, pois todos devem respeitar a todos e, como um

corpo, trabalharem juntos para gerarem um bom clima de trabalho e a

produtividade esperada.

Segundo LIMONGI-FRANÇA (1996), “o gerenciamento do estresse é

percebido como um nível de tensão moderado, mais acentuado no nível das

gerências, que não é administrado adequadamente pelas empresas; ao

mesmo tempo, todos os segmentos consideram muito importante programas

de qualidade de vida para a obtenção de resultados empresariais.

“A maioria das empresas não possui diretoria de gestão de qualidade

de vida. Quando há uma diretoria responsável, ela está ligada a recursos

humanos e qualidade.

“Existe poder decisório para a qualidade de vida no trabalho na maioria

das empresas, com ênfase no nível de direção, sugerindo ações mais

estratégicas do que gerenciais.

“As áreas específicas envolvidas em qualidade de vida no trabalho

estão concentradas em recursos humanos e saúde. Na área de qualidade,

algumas empresas associam o programa de qualidade de vida no trabalho ao

programa 5S, que é uma metodologia que possibilita desenvolver um

planejamento sistemático de classificação, ordem e limpeza, permitindo assim

de imediato maior produtividade, segurança, clima organizacional e motivação

34

dos funcionários, com consequente melhoria da competitividade

organizacional.

“A maioria das empresas tem funcionários especialmente envolvidos

com atividades de qualidade de vida no trabalho, em geral equipes formadas

por uma a cinco pessoas. Outras empresas menores chegam a ter equipes

com mais de dez funcionários, o que indica boa mobilização organizacional

para ações e programas de qualidade de vida no trabalho.

“Quanto aos métodos para levantar necessidades de qualidade de vida

no trabalho, estabelece-se procedimentos por meio de frequência de acidentes

de trabalho, movimento no ambulatório, diagnóstico de clima e auditoria

interna.

“Na maioria das empresas, os programas de qualidade de vida no

trabalho variam de um a três anos, o que significa uma posição consolidada

modesta desses programas. Quando os programas existem há mais de cinco

anos, caracterizam solidez e visibilidade dessas ações na empresa.

“A maioria das atividades de qualidade de vida no trabalho não tem

duração prevista. Podem variar de duas horas e três anos. Percebe-se,

portanto, escopo muito abrangente, caracterizando a ausência de um modelo

homogêneo e referencial de gestão da qualidade de vida no trabalho.

“Normalmente, não há orçamento para os programas de qualidade de

vida nas organizações. Quando existe, faz parte do programa de saúde

ocupacional, o que demonstra frágil estrutura.

“Apenas um terço das empresas possui atividades formais

denominadas de qualidade de vida no trabalho, entre elas, as mais citadas são

as campanhas e palestras. Melhorias no posto de trabalho e mudanças

administrativas também são percebidas, embora com menor incidência.

35

“A maioria das empresas não controla os resultados associados à

qualidade de vida no trabalho. As que o fazem, os controles referem-se à

saúde e à doença, com dados obtidos por meio de questionários e controles

numéricos. Apesar disso, consideram os programas e ações de qualidade de

vida no trabalho importantes na certificação ISO 9000. Os motivos giram em

torno de questões de qualidade, atendimento às necessidades pessoais e até

ao negócio da empresa.

“Os programas e as ações de qualidade de vida no trabalho tem valor

para a política de negócios da empresa, para a imagem institucional.”

3.3 – Qualidade de Vida no Trabalho – É Possível Chegar Lá3

Muitos autores, como vimos até aqui, já falaram sobre qualidade de

vida no trabalho, apresentando as vantagens e as dificuldades na elaboração e

aplicação das ações de qualidade de vida. O trabalho é uma das

características mais marcantes do homem e é, ou deveria ser, onde ele se

realiza de forma plena, porém não única.

“Para Ingrid Cañete, consultora e sócia-fundadora da ISMA/BR

(International Stress Management Association) o investimento em qualidade de

vida no trabalho tem ocorrido por razões específicas. A primeira delas está

ligada ao modismo que se instalou nas empresas e a segunda, porque o

mercado segue uma tendência mundial por estar sentindo, no bolso, o peso

financeiro dos problemas de saúde que afetam os profissionais, principalmente

aqueles relacionados ao estresse. Por fim, vem o fato das organizações

estarem agindo dessa forma em virtude de uma crescente conscientização

pressionada pela sociedade e pelos próprios trabalhadores, via sindicatos e

legislação.” (BISPO in RH.com.br)

36

O que podemos observar é que a cada dia mais as empresas tem

buscado alguma forma de implantar uma ou outra ação que diga respeito à

qualidade de vida, contudo sempre de modo frio, distante e pouco ou nada

eficaz. “Apesar dos constantes investimentos em qualidade de vida, nem

sempre as organizações conseguem obter resultados satisfatórios, o que

resulta, em alguns casos, em climas internos carregados de tensão. ‘Em

muitos casos, o clima interno permanece pesado porque a cultura das

empresas está baseada, ainda, no mecanicismo, na visão parcial e

reducionista sobre quem são os seres humanos e, conseqüentemente, sobre a

realidade. Assim, os valores predominantes são os ligados ao lucro como único

fim e à máxima: os fins justificam os meios’, afirma Cañete” (BISPO in

RH.com.br).

Mesmo as empresas que não conseguem tirar sua visão limitada do

lucro podem e devem entender que investir em programas de qualidade de

vida não é gasto, mas economia. Funcionário feliz e satisfeito adoece menos,

falta menos, produz mais. Quanto mais realizado, feliz e satisfeito o

colaborador estiver, maior será sua dedicação e produção, e menor ou nulo

será seu afastamento por motivos de saúde. Investir em saúde e qualidade de

vida é investir em ações que garantam um retorno positivo à organização, sem

chance alguma de perda de capital.

Cañete ainda nos diz que “é fundamental resgatar os valores humanos

como a sensibilidade, a afetividade, a bondade, a solidariedade, a cooperação

e a compaixão para se alcançar saúde, equilíbrio e bem-estar" (BISPO in

RH.com.br).

Nada é instantâneo, imediato. Não se constrói uma grande empresa

em um curto espaço de tempo, não se consegue emagrecer da noite pro dia,

assim como não se consegue obter um qualidade de vida nas organizações de

uma hora para outra, como um estalo; mas é um processo lento e constante.

3 Título do artigo de Patrícia Bispo para o RH.com.br

37

PEIXOTO (1997) nos diz que “o processo de melhoria da qualidade de vida é

homeopático. Pequenas descobertas, pequenos avanços, pequenos sinais da

sua grandeza interior que transformarão seu mundo, revestindo-o com os mais

preciosos sinais de luz”. A sabedoria popular já nos diz que devagar se chega

longe. Mas devagar não significa parado, esperando que algo apareça pronto

ou caia do céu. É necessário sair do lugar comum, fazer alguma coisa,

elaborar planos e ações que realmente satisfaçam as necessidades dos

colaboradores e da organização.

A área de Recursos Humanos deve estar atenta às necessidades da

organização como um todo, desde as estratégias até as operacionalizações,

perpassando tudo isso com uma visão crítica da qualidade de vida que a

empresa precisa ter para ser saudável e produtiva. O sucesso dos programas

de qualidade de vida não dependem do RH, mas devem ser gerenciados e

implantados por ele, de forma a se adaptar às estratégias e metas da

organização e às necessidades e desejos dos colaboradores.

Cañete nos diz que “o RH precisa desenvolver constantemente sua

competência e habilidades humanas para poder perceber, interpretar e sugerir

ações e medidas adequadas. Pode sugerir ações, dependendo de cada caso,

como realizar com mais freqüência reuniões não apenas técnicas, mas

também voltadas para estimular troca de informações, conhecimento mútuo

entre equipe e liderança, para esclarecer dúvidas sobre regras, dar e receber

feedback, estimular a confiança entre todos, esclarecer mal-entendidos, além

de minimizar, prevenir e gerenciar conflitos” (BISPO in RH.com.br).

UM RH respeitado e admirado pelas lideranças da organização, e que

consiga sensibilizar através de dados coletados do quotidiano, tem todas as

chances de contribuir e realizar um bom programa de qualidade de vida no

trabalho, afinal, o acesso a todas as áreas da empresa, o conhecimento das

necessidades dos colaboradores e o respeito da administração da empresa,

38

somados à competência e dedicação dos funcionários do RH são os

ingredientes básicos para a elaboração de ações de qualidade de vida.

Alguns exemplos podem ser seguidos, após serem adaptados à

realidade da organização, como as empresas que produzem jogos para

computadores ou as que produzem softwares, onde os funcionários mais

parece que estão em casa do que no trabalho. A Google é um exemplo desse

tipo de empresa. 4

“A realidade moderna é esta: as empresas trazem o lazer para dentro

do trabalho e fazem os colaboradores sentirem-se em casa, com prazer

imenso de estar no local de labuta. Cada vez mais, as empresas querem que

eles tragam seus familiares e amigos, pois isso firma ainda mais o

relacionamento dele e das pessoas próximas, sendo que este apoio é

fundamental para qualquer ser humano. Logo, o lazer no trabalho tornou-se

fulcral e questão de tempo, afinal já dizia o famoso Jack Welch: "mude ou

morra". Portanto, ou a organização traz este lazer ao ambiente corporativo ou

logo perderá os profissionais, pois as outras empresas irão se tornar cada vez

melhores de se trabalhar.

“Um ponto importante, após despertar para esta realidade é que tipo

de lazer trazer e promover. Hoje, apenas deixar o colaborador assistir um

pouco de TV ou oferecer café é pouco. O normal são refeições ou petiscos

para matar a fome, proporcionar um lounge para descanso, não controlar

horários de descanso e acesso às redes sociais, é ser flexível em horários etc.

Portanto, o ideal é buscar sempre diferenciais. E dessa forma o que marcará?

Experiências de vida.

“O futuro estará em proporcionar momentos inesquecíveis, premiando,

por exemplo, com um passeio de balão, andar numa Ferrari, saltar de

4 Dados coletados em 18/03/2012 no site http://www.google.com.br/intl/pt-BR/about/corporate/company/index.html

39

paraquedas, jantar multissensorial, um dia no spa etc. É fazer uma reunião em

que o setor jogará boliche e aproveitará uma deliciosa degustação de vinho.

Tudo é válido para fugir do convencional e levar estes sonhos para os

colaboradores. Esse é o passo para chegar ao coração profissional e pessoal

que está saturado com bens tangíveis e o convencional.

“As organizações estão apenas acordando para esta nova realidade do

universo capitalista, mas ele está chegando. E, nesse cenário, quem chegar

primeiro estará em vantagem!” (NAHAS in RH.com.br)

40

CONCLUSÃO

A qualidade de vida no trabalho é um dos temas mais em voga na

atualidade dentro das empresas, no que tange a Gestão de RH. Muito se fala,

muito se tenta fazer, pouco se faz realmente. Especialmente no Brasil, o tema

ainda é motivo apenas de cursos, seminários e reuniões, sendo que muito

pouco é feito nessa área.

Chiavenato nos diz que “a qualidade de vida no trabalho representa o

grau em que os membros da organização são capazes de satisfazer as suas

necessidades pessoais através de suas experiências na organização”.

Ressalta, ainda, que “as organizações são inventadas pelo homem para se

adaptarem a circunstâncias ambientais, a fim de alcançarem objetivos. Se

essa adaptação é conseguida e os objetivos são alcançados, então a

organização será considerada eficaz”.

Tornar a qualidade de vida no trabalho uma ferramenta gerencial

efetiva e não apenas mais um modismo temporário, como tantos outros, é o

grande desafio das empresas na atualidade. “Atualmente, as pessoas tem

trabalhado cada vez mais e, por extensão, tem tido menos tempo para si

mesmas” (Veiga), o que reflete diretamente no adoecimento e desmotivação.

Um ambiente agradável para se trabalhar dentro de uma empresa faz-

se da junção de todos esses fatores, porque melhora de forma substancial e

clara a qualidade de vida das pessoas nas organizações e, consequentemente,

fora das organizações.

“Qualidade de vida no trabalho é o conjunto de ações de uma empresa

no sentido de implantar melhorias e inovações gerenciais, tecnológicas e

estruturais no ambiente de trabalho.” (Limongi-França)

41

O ser humano é um ser integral, todas as suas dimensões se ligam,

como numa rede neural. Tentar isolá-las, assumindo valores éticos

artificialmente criados apenas para trazer proveito, no final, só traz infelicidade

e decepção. Não se pode pensar em qualidade de vida no trabalho sem levar

em conta a integralidade do humano. Não se pode construir qualidade de vida

no trabalho isoladamente. É um todo.

O que podemos observar é que a cada dia mais as empresas tem

buscado alguma forma de implantar uma ou outra ação que diga respeito à

qualidade de vida, contudo sempre de modo frio, distante e pouco ou nada

eficaz. Apesar dos constantes investimentos em qualidade de vida, nem

sempre as organizações conseguem obter resultados satisfatórios, o que

resulta, em alguns casos, em climas internos carregados de tensão. “Em

muitos casos, o clima interno permanece pesado porque a cultura das

empresas está baseada, ainda, no mecanicismo, na visão parcial e

reducionista sobre quem são os seres humanos e, conseqüentemente, sobre a

realidade. Assim, os valores predominantes são os ligados ao lucro como único

fim e à máxima: os fins justificam os meios”, afirma Cañete.

Respondendo à pergunta que nos motivou essa pesquisa: sim, é

absolutamente possível humanizar o ambiente de trabalho através de ações e

programas de qualidade de vida no trabalho. Basta querer. Basta tirar o foco

apenas do lucro e da produção e olhar um pouco para o bem mais valioso de

uma organização: os seus colaboradores.

“As organizações estão apenas acordando para esta nova realidade do

universo capitalista, mas ele está chegando. E, nesse cenário, quem chegar

primeiro estará em vantagem!” (Nahas).

42

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44

ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1- Artigo da Internet: Qualidade de vida: é possível chegar lá

Anexo 2- Artigo da Internet: Futuro corporativo: o melhor lazer fará a diferença

45

ANEXO 1

Qualidade de vida: é possível chegar lá

Por Patrícia Bispo para o RH.com.br

Várias organizações investem na melhoria da qualidade de vida dos

seus colaboradores, muitas vezes, destinando verbas bem significativas. Mas,

por que será que as empresas estão apostando tanto nessa área? Para a

Ingrid Cañete, consultora e sócia-fundadora da ISMA/BR (International Stress

Management Association) esse investimento tem ocorrido por razões

específicas. A primeira delas está ligada ao modismo que se instalou nas

empresas e em segundo, porque o mercado segue uma tendência mundial por

estar sentindo, no bolso, o peso financeiro dos problemas de saúde que

afetam os profissionais, principalmente aqueles relacionados ao estresse. Por

fim, vem o fato das organizações estarem agindo dessa forma em virtude de

uma crescente conscientização pressionada pela sociedade e pelos próprios

trabalhadores, via sindicatos e legislação.

Apesar dos constantes investimentos em qualidade de vida, nem

sempre as organizações conseguem obter resultados satisfatórios, o que

resulta, em alguns casos, em climas internos carregados de tensão. "Em

muitos casos, o clima interno permanece pesado porque a cultura das

empresas está baseada, ainda, no mecanicismo, na visão parcial e

reducionista sobre quem são os seres humanos e, conseqüentemente, sobre a

realidade. Assim, os valores predominantes são os ligados ao lucro como único

fim e a máxima: os fins justificam os meios", afirma Cañete.

Segundo ela, o clima é um importante indicador da QVT (Qualidade de

Vida no Trabalho), porém não é o único. Falta às empresas tomar consciência

de que existem metodologias adequadas que são capazes de identificar as

necessidades e as expectativas quanto à qualidade de vida. Para manter o

46

equilíbrio organizacional também é fundamental elaborar um plano estratégico

de QVT aliado e em sintonia com o plano estratégico corporativo.

A QVT está ainda ligada ao comportamento das pessoas e nesse

momento, surge um problema que atinge várias empresas: a dificuldade que

as pessoas sentem em lidar com os relacionamentos interpessoais. Isso,

explica a consultora, ocorre porque as empresas não estimulam e nem

preparam os colaboradores para se desenvolverem como seres humanos."É

fundamental resgatar os valores humanos como a sensibilidade, a afetividade,

a bondade, a solidariedade, a cooperação e a compaixão para se alcançar

saúde, equilíbrio e bem-estar", complementa.

No dia-a-dia, os relacionamentos interpessoais podem ser trabalhados

de várias formas. O primeiro passo pode ser dado através dos líderes, visto

que podem ser considerados exemplos para os membros de suas equipes. A

segunda alternativa seria investir na constante capacitação e desenvolvimento

de habilidades interpessoais, pois existem várias técnicas avançadas que

auxiliam as pessoas a conviver com seus colegas de trabalho.

No que se refere ao estímulo da competição interna, esse pode

prejudicar o ambiente interno basicamente porque o clima é um resultado das

relações interpessoais e da comunicação humana. De acordo com a

consultora, a competição acirrada e crescente, por exemplo, causa o estresse

e é uma das responsáveis por levar o clima a níveis insuportáveis. Já o

incentivo à gentileza e à educação com o colega de trabalho pode fazer o

efeito inverso, uma vez que esses podem ser considerados ingredientes

básicos para se iniciar uma transformação no ambiente de trabalho.

Outro fato que Ingrid Cañete chama a atenção, na melhoria da QVT, é

a questão das condições ambientais. Higiene, ergonomia, cuidados

relacionados à qualidade do ar, iluminação, presença de plantas, espaço

adequado e bem distribuído, respeito às normas de saúde e segurança,

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valores éticos e morais claros, estímulo à criatividade, ênfase nos êxitos ao

invés dos fracassos, integridade, entre outros, fazem parte do rol de fatores

que podem contribuir e manter o clima interno em níveis saudáveis e

agradáveis para todos.

Estresse - Quando questionada se é possível encontrar um ambiente

corporativo sem estresse, a consultora afirma que isso é uma utopia. "O

estresse em níveis ditos normais é necessário e até fundamental para que as

pessoas se levantem pela manhã e vivam suas vidas, transformem seu

potencial energético e criativo em ações. O problema é quando o estresse é

levado a níveis exagerados e anormais, tirando os indivíduos da sua condição

normal de homeostase ou de equilíbrio, rebaixando suas defesas

imunológicas", argumenta, ao acrescentar que quando isso ocorre, o indivíduo

fica propenso a contrair doenças físicas e mentais.

Sobre as melhores alternativas para se combater o estresse elevado

nas organizações, Ingrid Cañete ressalta que o primeiro passo é tomar

conhecimento de quem e de como são as pessoas que fazem parte da

empresa, dedicar-se a conhecê-las em essência e natureza, para então aplicar

políticas e ações estratégicas. Com isso, será possível gerenciar os

colaboradores no sentido de resgatar, tratar e prevenir problemas de saúde,

conforme seja o caso e a necessidade de cada um.

Quanto à área de RH, a mesma pode contribuir para a melhoria da

QVT alertando, sensibilizando as lideranças mediante dados levantados no

dia-a-dia. Para isso, o profissional de RH precisa desenvolver uma relação de

confiança e de respeito com os líderes, porém necessita ter a maturidade

exigida para que aja com segurança e coragem em todas as situações. "O RH

precisa desenvolver constantemente sua competência e habilidades humanas

para poder perceber, interpretar e sugerir ações e medidas adequadas. Pode

sugerir ações, dependendo de cada caso, como realizar com mais freqüência

reuniões não apenas técnicas, mas também voltadas para estimular troca de

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informações, conhecimento mútuo entre equipe e liderança, para esclarecer

dúvidas sobre regras, dar e receber feedback, estimular a confiança entre

todos, esclarecer mal-entendidos, além de minimizar, prevenir e gerenciar

conflitos", conclui Cañete.

http://rh.com.br/Portal/Qualidade_de_Vida/Materia/4137/qualidade-de-vida-e-

possivel-chegar-la.html (Acesso em 17/03/2012)

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ANEXO 2

Futuro corporativo: o melhor lazer fará a diferença

Por Jorge Nahas para o RH.com.br

Falar que o mundo muda tanto e tão rapidamente é ridículo, pois acho

que todas as palestras que vamos, artigos que lemos, e tudo mais só se fala

sobre isso. Então, para não perder tempo, não há necessidade alguma em

começar falando desta questão, mas sim, diretamente da sua mudança,

principalmente sobre a relação do lazer invadindo o ambiente trabalho.

Foi-se o tempo em que a pessoa chegava à empresa exatamente na

hora marcada, tinha contados os minutos para tomar o cafezinho e para cada

processo havia várias regras e registros. Os assuntos eram restritos ao

trabalho, tinha apenas o salário e o colaborador virava-se com tudo. Ou seja, a

saúde e a vida pessoal deste funcionário de nada tinham a ver com a empresa,

apenas seus resultados e o cumprimento de horário era o que importava, entre

outras regras absurdamente ridículas.

Aposto que tem gente que ficou de cabelo em pé, e sentiu aquele

arrepio na espinha - Nossa, que horror, parece um filme de terror! Pois sim, há

um tempo já foi assim, inclusive, em algumas empresas ainda existem

vestígios destas atitudes da idade da industrialização.

O que aconteceu?

O óbvio! As empresas começaram a se dar conta, ou pelo algumas

inteligentes, e com certeza por pensar assim, de sucesso, iniciaram a atuação

com o lazer do colaborador de forma diferenciada. Observe o mercado hoje,

quais são as empresas mais mencionadas, com maior sucesso e rentabilidade,

as marcas mais valiosas? Google, Facebook, Twitter, Apple, IBM, 3M etc.,

todas têm esta visão moderna da qualidade de vida do colaborador. Não foi a

50

América que elas descobriram, é um conhecimento tão simples, mas ao

mesmo tempo tão complexo para ser aceito pelas organizações: quanto mais o

colaborador se sente bem, maior é sua produtividade. Alguém dúvida? Então,

volte aos exemplos citados acima.

A realidade moderna é esta, as empresas trazem o lazer para dentro

do trabalho e fazem os colaboradores sentirem-se em casa, com prazer

imenso de estar no local de labuta. Cada vez mais, as empresas querem que

eles tragam seus familiares e amigos, pois isso firma ainda mais o

relacionamento dele e das pessoas próximas, sendo que este apoio é

fundamental para qualquer ser humano. Logo, o lazer no trabalho tornou-se

fulcral e questão de tempo, afinal já dizia o famoso Jack Welch: "mude ou

morra". Portanto, ou a organização traz este lazer ao ambiente corporativo ou

logo perderá os profissionais, pois as outras empresas irão se tornar cada vez

melhores de se trabalhar.

Um ponto importante, após despertar para esta realidade é que tipo de

lazer trazer e promover. Hoje apenas deixar o colaborador assistir um pouco

de TV ou oferecer café é pouco. O normal são refeições ou petiscos para

matar a fome, proporcionar um lounge para descanso, não controlar horários

de descanso e acesso às redes sociais, é ser flexível em horários etc.

Portanto, o ideal é buscar sempre diferenciais. E dessa forma o que marcará?

Experiências de vida.

O futuro estará em proporcionar momentos inesquecíveis, premiando,

por exemplo, com um passeio de balão, andar numa Ferrari, saltar de

paraquedas, jantar multissensorial, um dia no spa etc. É fazer uma reunião em

que o setor jogará boliche e aproveitará uma deliciosa degustação de vinho.

Tudo é válido para fugir do convencional e levar estes sonhos para os

colaboradores. Esse é o passo para chegar ao coração profissional e pessoal

que está saturado com bens tangíveis e o convencional.

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As organizações estão apenas acordando para esta nova realidade do

universo capitalista, mas ele está chegando. E, nesse cenário, quem chegar

primeiro estará em vantagem!

http://rh.com.br/Portal/Qualidade_de_Vida/Artigo/7628/futuro-corporativo-o-

melhor-lazer-fara-a-diferenca.html (Acesso em 17/03/2012)

52

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

A Qualidade de Vida nas Organizações 10

1.1 - Breve Histórico da Qualidade de Vida nas Organizações 10

1.2 - Definição de Qualidade de Vida 13

CAPÍTULO II

Práticas de Qualidade de Vida 20

2.1 - Cultura Organizacional 20

2.2 - Estudo de Caso na Agência BB de Tanhaçu (BA) 22

2.3 - Estudo de Caso na Natura Cosméticos S.A. 26

2.4 - Comparativo Entre os Casos Estudados 29

CAPÍTULO III

A Humanização do Ambiente Corporativo 30

3.1 - Homem Lobo do Homem? 30

3.2 - Aspectos Práticos da Qualidade de Vida no Trabalho 32

3.3 - Qualidade de Vida no Trabalho – É Possível Chegar Lá 35

CONCLUSÃO 40

BIBLIOGRAFIA 42

ANEXOS 44

ÍNDICE 52

FOLHA DE AVALIAÇÃO 53

53

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes - AVM Faculdade

Integrada

Título da Monografia: A Qualidade de Vida nas Organizações

Autor: André Butzke de Almeida

Data da entrega: 24/03/2012

Avaliado por: Prof. Fabiane Muniz Conceito: