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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo
AVM FACULDADE INTEGRADA
PSICANAacuteLISE E MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS
POSSIBILIDADES OU IMPASSES
Por Adriana de Campos
Orientador
Profa Naura Americano
Rio de Janeiro
2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo
AVM FACULDADE INTEGRADA
PSICANAacuteLISE E MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS
POSSIBILIDADES OU IMPASSES
Apresentaccedilatildeo de monografia agrave AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenccedilatildeo do
grau de especialista em Mediaccedilatildeo de Conflitos com
ecircnfase em famiacutelia
Por Adriana de Campos
3
AGRADECIMENTOS
aos amigos antigos e recentes aos
parentes aos queridos mestres em
especial a querida professora e
orientadora Naura Americano pela sua
extrema convicccedilatildeo e perseveranccedila nos
princiacutepios da Mediaccedilatildeo de Conflitos
que nos ensinou em fim a todos
aqueles que presenciaram os esforccedilos
para se chegar a esse final e que
dispuseram de paciecircncia e boa vontade
para compreender a importacircncia desta
realizaccedilatildeo
4
DEDICATOacuteRIA
a todos aqueles que em algum dia
pude oferecer meus conhecimentos
profissionais e acadecircmicos e minha
escuta apurada sobre seus dramas
pessoais acompanhando-os nas alegrias
e nas tristezas nos seus progressos
pessoais quando contando com a minha
atenccedilatildeo conseguiram trazer acreacutescimos
agraves suas vidas
5
RESUMO
Esta monografia tem como objetivo aprofundar conhecimentos com
respeito agrave praacutetica com Mediaccedilatildeo de conflitos especificamente os de ordem
familiar tanto no acircmbito juriacutedico como no acircmbito privado sendo esta uacuteltima
realizada no espaccedilo cliacutenico de um consultoacuterio de psicologia e psicanaacutelise
Pretende analisar a possibilidade da integraccedilatildeo das teacutecnicas de mediaccedilatildeo de
conflitos em momentos especiacuteficos ao tratamento psicanaliacutetico quando da
constataccedilatildeo da sua necessidade para o desmantelamento de uma situaccedilatildeo
conflitante de difiacutecil elaboraccedilatildeo psiacutequica pelo paciente necessitando a
intervenccedilatildeo objetiva
Procura-se analisar os embasamentos teoacutericos da teacutecnica da
mediaccedilatildeo as influecircncias epistemoloacutegicas que ajudaram a construir o
arcabouccedilo de conhecimentos que fez dela uma teacutecnica alternativa na resoluccedilatildeo
de controveacutersias em vaacuterios acircmbitos comercial juriacutedico familiar empresarial
comunitaacuteria entre outras Diferenciando-se da Negociaccedilatildeo e da Conciliaccedilatildeo a
mediaccedilatildeo firma-se como meacutetodo de intervenccedilatildeo paciacutefica espontacircnea
voluntaacuteria visando ganhos muacutetuos para todas as partes que se vejam
envolvidas em conflitos de difiacutecil soluccedilatildeo
Quanto agrave Psicanaacutelise o embasamento teoacuterico de conceitos
fundamentais foi primordial uma vez que numa anaacutelise progressiva chegou-se
agrave obra freudiana lsquoO Mal-Estar na Civilizaccedilatildeorsquo que nos demonstra a situaccedilatildeo
que o indiviacuteduo se encontra enquanto ser psiacutequico social poliacutetico e cultural
Neste contexto situa-se o homem conflituado entre as exigecircncias internas de
seu psiquismo e as leis da sociedade Mostra-se que o conflito psiacutequico
extravasa para o social fornecendo-lhe caracteriacutesticas fenomenoloacutegicas que
vatildeo se manifestar em todos os acircmbitos nos quais o sujeito faz laccedilos com o
outro semelhante Estabelece-se com este vaacuterios tipos de viacutenculos incluindo
os amorosos e os agressivos destrutivos ao ponto de chegarem a estabelecer
situaccedilotildees de completa rivalidade entre os indiviacuteduos
Esclareceu-se a noccedilatildeo portanto de que os conflitos nem sempre
possuem a vertente destrutiva mas de outra forma podem significar condiccedilotildees
de mudanccedilas positivas a partir da possibilidade de transformaccedilatildeo de uma
6
situaccedilatildeo que tornou-se inadequada para outra onde a resignificaccedilatildeo desta
proporciona o restabelecimento da comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo
acirramento das emoccedilotildees que alimentam o conflito
7
METODOLOGIA
O presente trabalho foi desenvolvido atraveacutes da utilizaccedilatildeo de
bibliografia especiacutefica agrave aacuterea da mediaccedilatildeo de conflitos tanto no acircmbito do
Direito como nas aacutereas do social e da psicologia bem como agrave Psicanaacutelise
Utilizou-se de pesquisas por meio eletrocircnico ndashinternet- e das anotaccedilotildees das
aulas do Curso de Mediaccedilatildeo da AVM
8
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO09
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
Liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49 WEBGRAFIA51 IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
9
INTRODUCcedilAtildeO
A presente monografia teve como intenccedilatildeo discutir a relaccedilatildeo entre
praacuteticas que colocam o ser humano em dois niacuteveis de conhecimento de um
lado enquanto ser social lidando conscientemente com seus avatares
conhecedor do mundo que o cerca e certo de suas interpretaccedilotildees da realidade
objetiva de outro enquanto ser inconsciente mestre de seus desiacutegnios poreacutem
sem mesmo o saber Como articular esta dualidade humana enquanto ser da
consciecircncia e ser portador de um inconsciente dinacircmico
O ser humano envolve-se no seu dia-a-dia com as mais diversas
tarefas inserido no meio social onde convive com seus semelhantes ora de
forma paciacutefica ora atormentado por conflitos provenientes destas relaccedilotildees
Resultando das vicissitudes agraves quais o indiviacuteduo se sujeita ao conviver
socialmente o encontramos agraves vezes em embates que o transtornam havendo
daiacute uma seacuterie de consequumlecircncias seja de ordem social ou emocional
No campo da cliacutenica psicanaliacutetica muitas vezes recebemos sujeitos
no consultoacuterio nos trazendo queixas de muita anguacutestia mal-estar emocional
depressatildeo profunda Ao o escutar o psicanalista natildeo deixa de perceber o
contexto social que estaacute inserido e detecta indiscutivelmente que muitas delas
foram ou satildeo produzidas por conflitos gerados a partir de desentendimentos
familiares profissionais fraternais A teacutecnica psicanaliacutetica baseada nos
ensinamentos de Freud natildeo trataraacute das relaccedilotildees sociais nas quais o indiviacuteduo
estaacute inserido apesar de natildeo desconhecer a influecircncia que causam em sua
patologia No entanto natildeo deixa-se de perceber o quanto muitas vezes no
acirramento do conflito desses laccedilos afetivos trazem a piora dos sintomas do
indiviacuteduo e o jogam num buraco cada vez maior de anguacutestia Infelizmente a
psicanaacutelise nem sempre possui o tempo necessaacuterio para intervir sobre o
acirramento dos sintomas chegando o paciente a necessitar do uso de
medicamentos antidepressivos ansioliacuteticos controladores do humor
antipsicotizantes para minimizar seu mal-estar psiacutequico Como praacutetica
terapecircutica nem sempre a psicanaacutelise consegue dar conta do grande volume
de questotildees relacionadas agrave problemaacutetica das relaccedilotildees entre pessoas e desta
forma pergunta-se a partir do conhecimento obtido atraveacutes do ensinamento
10
sobre a Mediaccedilatildeo de Conflitos se seria possiacutevel num determinado momento
de um tratamento psicanaliacutetico lanccedilar matildeo das teacutecnicas da mediaccedilatildeo
objetivando a dissoluccedilatildeo do mal-estar relacional aiacute intricado
Pensar nesta possibilidade foi o mote desta pesquisa e para
responder agrave pergunta ldquoa teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos pode ser aplicada
como parte integrante do tratamento psicanaliacuteticordquo foram necessaacuterias muitas
horas de leitura e de elaboraccedilatildeo de conclusotildees
A tarefa do psicanalista assim como a do mediador natildeo eacute nem um
pouco suave Lidando com conflitos incessantemente em todos os dias de sua
praacutetica profissional depara-se com situaccedilotildees que lhe exigem muita experiecircncia
e sabedoria necessitando de muita criatividade para dar continuidade aos
processos que ambos iniciaram cada um em seu campo
Em psicanaacutelise discutimos incessantemente a posiccedilatildeo do analista
num contexto eacutetico em relaccedilatildeo agrave sua praacutetica e em relaccedilatildeo ao seu ser Ao
psicanalista corresponde o lugar da escuta do inconsciente intervindo com seu
ato analiacutetico sobre o significante que desponta do inconsciente do paciente
fazendo-o ressignificar sua posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao desejo A escuta em
atenccedilatildeo flutuante permite que o paciente desenrole sua histoacuteria a partir de seu
ponto de vista ou melhor a partir de sua realidade psiacutequica traccedilando
livremente o seu caminho para chegar agraves suas proacuteprias conclusotildees poreacutem
natildeo sem o ato analiacutetico que pontua o que o inconsciente insistentemente daacute
provas de sua existecircncia ndash atos falhos sonhos lembranccedilas etc
Em mediaccedilatildeo o mediador seraacute orientado tambeacutem por uma eacutetica
que o coloca como terceiro imparcial mas com escuta atenta e isenta de juiacutezo
de valor possibilitando que as partes envolvidas no conflito possam chegar por
si mesmas a uma soluccedilatildeo O mediador de certa forma e sem saber se torna
muitas vezes testemunha do afloramento inconsciente daqueles que medeia
Assim nesta correlaccedilatildeo de posiccedilotildees eacuteticas de um e de outro haveraacute
alguma forma de um se beneficiar do campo de conhecimento do outro Esta
pergunta seraacute esclarecida ao longo das proacuteximas paacuteginas chegando adiante a
alguma conclusatildeo ainda aqui sem certezas Portanto vamos ao trabalho
11
CAPIacuteTULO I
TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA
O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)
As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves
relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees
atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na
essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual
quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas
entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das
emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No
embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais
profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre
subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como
superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois
natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na
sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da
contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como
um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e
que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade
entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No
entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar
a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo
que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se
faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social
Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a
12
diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1
Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto
negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de
aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra
briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de
Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo
poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente
positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral
inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se
portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz
entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho
aproximaccedilatildeo(idem)
Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual
as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a
accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem
contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre
se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno
surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate
Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais
do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da
uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo
interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto
de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual
1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG
13
de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos
processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou
construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro
dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a
atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se
expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute
atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o
conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de
valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes
estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda
De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos
autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito
promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes
interrompidos pelo conflito
Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)
14
CAPIacuteTULO II
A MEDIACcedilAtildeO
21- Definiccedilatildeo
Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico
informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial
Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute
mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em
princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise
A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2
No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a
soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica
adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de
resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da
comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do
endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se
ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a
possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das
contraposiccedilotildees entre as partes
As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)
encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de
2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo
15
forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive
financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as
partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e
mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento
das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor
f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees
etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses
divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a
reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e
proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se
mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e
consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem
tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como
sobre si proacuteprio
22- Origens
A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute
reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada
nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma
La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3
Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se
encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas
Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior
baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista
3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId
16
Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de
forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e
ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como
sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades
natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o
mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte
de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional
com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer
existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo
acompanhados de novas exigecircncias
Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de
Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental
desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua
que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos
Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade
moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as
controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e
posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os
mesmos
Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de
intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus
propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir
a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis
e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos
(Egger 2006 p 42)
Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)
()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos
Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar
na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no
acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar
17
trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o
compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um
ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses
se torna tambeacutem um mediador
() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)
A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo
que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger
2006 p 47)
Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento
entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um
processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas
diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo
presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando
diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao
contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante
No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob
alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das
ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de
intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em
conta a subjetividade inerente aos mesmos
O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento
das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso
comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises
rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores
naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu
grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais
fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de
18
campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do
juriacutedico do psicoloacutegico do social etc
Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na
sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a
quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns
naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo
novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os
entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas
eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais
americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente
como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que
somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as
partes
No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem
recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da
deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu
texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo
()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)
Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser
utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em
diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e
eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de
consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf
19
situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias
com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua
aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir
sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do
senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais
educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que
qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse
processo
A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se
chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas
segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o
que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais
brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes
envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o
processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da
chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de
processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua
resoluccedilatildeo final
O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo
bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado
o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu
criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar
20
bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre
as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da
mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa
convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O
mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-
se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos
Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum
deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela
ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo
bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo
Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em
momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees
bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a
conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do
desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador
bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador
deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve
garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo
destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A
confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de
ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos
Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de
mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo
Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e
o modelo de Warat
241- Modelo Tradicional de Harvard
21
O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
22
bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
24
Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
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brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
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o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
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que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
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CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
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Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
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desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
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contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
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lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo
AVM FACULDADE INTEGRADA
PSICANAacuteLISE E MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS
POSSIBILIDADES OU IMPASSES
Apresentaccedilatildeo de monografia agrave AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenccedilatildeo do
grau de especialista em Mediaccedilatildeo de Conflitos com
ecircnfase em famiacutelia
Por Adriana de Campos
3
AGRADECIMENTOS
aos amigos antigos e recentes aos
parentes aos queridos mestres em
especial a querida professora e
orientadora Naura Americano pela sua
extrema convicccedilatildeo e perseveranccedila nos
princiacutepios da Mediaccedilatildeo de Conflitos
que nos ensinou em fim a todos
aqueles que presenciaram os esforccedilos
para se chegar a esse final e que
dispuseram de paciecircncia e boa vontade
para compreender a importacircncia desta
realizaccedilatildeo
4
DEDICATOacuteRIA
a todos aqueles que em algum dia
pude oferecer meus conhecimentos
profissionais e acadecircmicos e minha
escuta apurada sobre seus dramas
pessoais acompanhando-os nas alegrias
e nas tristezas nos seus progressos
pessoais quando contando com a minha
atenccedilatildeo conseguiram trazer acreacutescimos
agraves suas vidas
5
RESUMO
Esta monografia tem como objetivo aprofundar conhecimentos com
respeito agrave praacutetica com Mediaccedilatildeo de conflitos especificamente os de ordem
familiar tanto no acircmbito juriacutedico como no acircmbito privado sendo esta uacuteltima
realizada no espaccedilo cliacutenico de um consultoacuterio de psicologia e psicanaacutelise
Pretende analisar a possibilidade da integraccedilatildeo das teacutecnicas de mediaccedilatildeo de
conflitos em momentos especiacuteficos ao tratamento psicanaliacutetico quando da
constataccedilatildeo da sua necessidade para o desmantelamento de uma situaccedilatildeo
conflitante de difiacutecil elaboraccedilatildeo psiacutequica pelo paciente necessitando a
intervenccedilatildeo objetiva
Procura-se analisar os embasamentos teoacutericos da teacutecnica da
mediaccedilatildeo as influecircncias epistemoloacutegicas que ajudaram a construir o
arcabouccedilo de conhecimentos que fez dela uma teacutecnica alternativa na resoluccedilatildeo
de controveacutersias em vaacuterios acircmbitos comercial juriacutedico familiar empresarial
comunitaacuteria entre outras Diferenciando-se da Negociaccedilatildeo e da Conciliaccedilatildeo a
mediaccedilatildeo firma-se como meacutetodo de intervenccedilatildeo paciacutefica espontacircnea
voluntaacuteria visando ganhos muacutetuos para todas as partes que se vejam
envolvidas em conflitos de difiacutecil soluccedilatildeo
Quanto agrave Psicanaacutelise o embasamento teoacuterico de conceitos
fundamentais foi primordial uma vez que numa anaacutelise progressiva chegou-se
agrave obra freudiana lsquoO Mal-Estar na Civilizaccedilatildeorsquo que nos demonstra a situaccedilatildeo
que o indiviacuteduo se encontra enquanto ser psiacutequico social poliacutetico e cultural
Neste contexto situa-se o homem conflituado entre as exigecircncias internas de
seu psiquismo e as leis da sociedade Mostra-se que o conflito psiacutequico
extravasa para o social fornecendo-lhe caracteriacutesticas fenomenoloacutegicas que
vatildeo se manifestar em todos os acircmbitos nos quais o sujeito faz laccedilos com o
outro semelhante Estabelece-se com este vaacuterios tipos de viacutenculos incluindo
os amorosos e os agressivos destrutivos ao ponto de chegarem a estabelecer
situaccedilotildees de completa rivalidade entre os indiviacuteduos
Esclareceu-se a noccedilatildeo portanto de que os conflitos nem sempre
possuem a vertente destrutiva mas de outra forma podem significar condiccedilotildees
de mudanccedilas positivas a partir da possibilidade de transformaccedilatildeo de uma
6
situaccedilatildeo que tornou-se inadequada para outra onde a resignificaccedilatildeo desta
proporciona o restabelecimento da comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo
acirramento das emoccedilotildees que alimentam o conflito
7
METODOLOGIA
O presente trabalho foi desenvolvido atraveacutes da utilizaccedilatildeo de
bibliografia especiacutefica agrave aacuterea da mediaccedilatildeo de conflitos tanto no acircmbito do
Direito como nas aacutereas do social e da psicologia bem como agrave Psicanaacutelise
Utilizou-se de pesquisas por meio eletrocircnico ndashinternet- e das anotaccedilotildees das
aulas do Curso de Mediaccedilatildeo da AVM
8
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO09
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
Liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49 WEBGRAFIA51 IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
9
INTRODUCcedilAtildeO
A presente monografia teve como intenccedilatildeo discutir a relaccedilatildeo entre
praacuteticas que colocam o ser humano em dois niacuteveis de conhecimento de um
lado enquanto ser social lidando conscientemente com seus avatares
conhecedor do mundo que o cerca e certo de suas interpretaccedilotildees da realidade
objetiva de outro enquanto ser inconsciente mestre de seus desiacutegnios poreacutem
sem mesmo o saber Como articular esta dualidade humana enquanto ser da
consciecircncia e ser portador de um inconsciente dinacircmico
O ser humano envolve-se no seu dia-a-dia com as mais diversas
tarefas inserido no meio social onde convive com seus semelhantes ora de
forma paciacutefica ora atormentado por conflitos provenientes destas relaccedilotildees
Resultando das vicissitudes agraves quais o indiviacuteduo se sujeita ao conviver
socialmente o encontramos agraves vezes em embates que o transtornam havendo
daiacute uma seacuterie de consequumlecircncias seja de ordem social ou emocional
No campo da cliacutenica psicanaliacutetica muitas vezes recebemos sujeitos
no consultoacuterio nos trazendo queixas de muita anguacutestia mal-estar emocional
depressatildeo profunda Ao o escutar o psicanalista natildeo deixa de perceber o
contexto social que estaacute inserido e detecta indiscutivelmente que muitas delas
foram ou satildeo produzidas por conflitos gerados a partir de desentendimentos
familiares profissionais fraternais A teacutecnica psicanaliacutetica baseada nos
ensinamentos de Freud natildeo trataraacute das relaccedilotildees sociais nas quais o indiviacuteduo
estaacute inserido apesar de natildeo desconhecer a influecircncia que causam em sua
patologia No entanto natildeo deixa-se de perceber o quanto muitas vezes no
acirramento do conflito desses laccedilos afetivos trazem a piora dos sintomas do
indiviacuteduo e o jogam num buraco cada vez maior de anguacutestia Infelizmente a
psicanaacutelise nem sempre possui o tempo necessaacuterio para intervir sobre o
acirramento dos sintomas chegando o paciente a necessitar do uso de
medicamentos antidepressivos ansioliacuteticos controladores do humor
antipsicotizantes para minimizar seu mal-estar psiacutequico Como praacutetica
terapecircutica nem sempre a psicanaacutelise consegue dar conta do grande volume
de questotildees relacionadas agrave problemaacutetica das relaccedilotildees entre pessoas e desta
forma pergunta-se a partir do conhecimento obtido atraveacutes do ensinamento
10
sobre a Mediaccedilatildeo de Conflitos se seria possiacutevel num determinado momento
de um tratamento psicanaliacutetico lanccedilar matildeo das teacutecnicas da mediaccedilatildeo
objetivando a dissoluccedilatildeo do mal-estar relacional aiacute intricado
Pensar nesta possibilidade foi o mote desta pesquisa e para
responder agrave pergunta ldquoa teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos pode ser aplicada
como parte integrante do tratamento psicanaliacuteticordquo foram necessaacuterias muitas
horas de leitura e de elaboraccedilatildeo de conclusotildees
A tarefa do psicanalista assim como a do mediador natildeo eacute nem um
pouco suave Lidando com conflitos incessantemente em todos os dias de sua
praacutetica profissional depara-se com situaccedilotildees que lhe exigem muita experiecircncia
e sabedoria necessitando de muita criatividade para dar continuidade aos
processos que ambos iniciaram cada um em seu campo
Em psicanaacutelise discutimos incessantemente a posiccedilatildeo do analista
num contexto eacutetico em relaccedilatildeo agrave sua praacutetica e em relaccedilatildeo ao seu ser Ao
psicanalista corresponde o lugar da escuta do inconsciente intervindo com seu
ato analiacutetico sobre o significante que desponta do inconsciente do paciente
fazendo-o ressignificar sua posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao desejo A escuta em
atenccedilatildeo flutuante permite que o paciente desenrole sua histoacuteria a partir de seu
ponto de vista ou melhor a partir de sua realidade psiacutequica traccedilando
livremente o seu caminho para chegar agraves suas proacuteprias conclusotildees poreacutem
natildeo sem o ato analiacutetico que pontua o que o inconsciente insistentemente daacute
provas de sua existecircncia ndash atos falhos sonhos lembranccedilas etc
Em mediaccedilatildeo o mediador seraacute orientado tambeacutem por uma eacutetica
que o coloca como terceiro imparcial mas com escuta atenta e isenta de juiacutezo
de valor possibilitando que as partes envolvidas no conflito possam chegar por
si mesmas a uma soluccedilatildeo O mediador de certa forma e sem saber se torna
muitas vezes testemunha do afloramento inconsciente daqueles que medeia
Assim nesta correlaccedilatildeo de posiccedilotildees eacuteticas de um e de outro haveraacute
alguma forma de um se beneficiar do campo de conhecimento do outro Esta
pergunta seraacute esclarecida ao longo das proacuteximas paacuteginas chegando adiante a
alguma conclusatildeo ainda aqui sem certezas Portanto vamos ao trabalho
11
CAPIacuteTULO I
TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA
O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)
As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves
relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees
atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na
essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual
quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas
entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das
emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No
embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais
profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre
subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como
superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois
natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na
sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da
contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como
um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e
que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade
entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No
entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar
a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo
que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se
faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social
Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a
12
diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1
Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto
negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de
aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra
briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de
Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo
poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente
positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral
inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se
portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz
entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho
aproximaccedilatildeo(idem)
Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual
as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a
accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem
contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre
se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno
surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate
Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais
do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da
uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo
interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto
de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual
1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG
13
de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos
processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou
construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro
dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a
atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se
expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute
atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o
conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de
valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes
estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda
De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos
autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito
promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes
interrompidos pelo conflito
Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)
14
CAPIacuteTULO II
A MEDIACcedilAtildeO
21- Definiccedilatildeo
Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico
informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial
Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute
mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em
princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise
A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2
No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a
soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica
adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de
resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da
comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do
endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se
ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a
possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das
contraposiccedilotildees entre as partes
As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)
encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de
2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo
15
forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive
financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as
partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e
mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento
das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor
f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees
etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses
divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a
reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e
proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se
mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e
consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem
tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como
sobre si proacuteprio
22- Origens
A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute
reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada
nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma
La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3
Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se
encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas
Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior
baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista
3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId
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Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de
forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e
ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como
sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades
natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o
mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte
de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional
com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer
existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo
acompanhados de novas exigecircncias
Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de
Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental
desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua
que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos
Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade
moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as
controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e
posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os
mesmos
Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de
intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus
propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir
a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis
e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos
(Egger 2006 p 42)
Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)
()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos
Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar
na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no
acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar
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trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o
compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um
ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses
se torna tambeacutem um mediador
() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)
A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo
que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger
2006 p 47)
Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento
entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um
processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas
diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo
presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando
diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao
contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante
No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob
alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das
ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de
intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em
conta a subjetividade inerente aos mesmos
O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento
das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso
comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises
rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores
naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu
grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais
fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de
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campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do
juriacutedico do psicoloacutegico do social etc
Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na
sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a
quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns
naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo
novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os
entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas
eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais
americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente
como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que
somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as
partes
No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem
recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da
deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu
texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo
()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)
Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser
utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em
diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e
eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de
consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf
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situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias
com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua
aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir
sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do
senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais
educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que
qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse
processo
A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se
chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas
segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o
que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais
brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes
envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o
processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da
chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de
processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua
resoluccedilatildeo final
O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo
bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado
o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu
criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar
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bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre
as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da
mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa
convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O
mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-
se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos
Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum
deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela
ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo
bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo
Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em
momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees
bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a
conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do
desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador
bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador
deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve
garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo
destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A
confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de
ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos
Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de
mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo
Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e
o modelo de Warat
241- Modelo Tradicional de Harvard
21
O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
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bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
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Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
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natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
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problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
3
AGRADECIMENTOS
aos amigos antigos e recentes aos
parentes aos queridos mestres em
especial a querida professora e
orientadora Naura Americano pela sua
extrema convicccedilatildeo e perseveranccedila nos
princiacutepios da Mediaccedilatildeo de Conflitos
que nos ensinou em fim a todos
aqueles que presenciaram os esforccedilos
para se chegar a esse final e que
dispuseram de paciecircncia e boa vontade
para compreender a importacircncia desta
realizaccedilatildeo
4
DEDICATOacuteRIA
a todos aqueles que em algum dia
pude oferecer meus conhecimentos
profissionais e acadecircmicos e minha
escuta apurada sobre seus dramas
pessoais acompanhando-os nas alegrias
e nas tristezas nos seus progressos
pessoais quando contando com a minha
atenccedilatildeo conseguiram trazer acreacutescimos
agraves suas vidas
5
RESUMO
Esta monografia tem como objetivo aprofundar conhecimentos com
respeito agrave praacutetica com Mediaccedilatildeo de conflitos especificamente os de ordem
familiar tanto no acircmbito juriacutedico como no acircmbito privado sendo esta uacuteltima
realizada no espaccedilo cliacutenico de um consultoacuterio de psicologia e psicanaacutelise
Pretende analisar a possibilidade da integraccedilatildeo das teacutecnicas de mediaccedilatildeo de
conflitos em momentos especiacuteficos ao tratamento psicanaliacutetico quando da
constataccedilatildeo da sua necessidade para o desmantelamento de uma situaccedilatildeo
conflitante de difiacutecil elaboraccedilatildeo psiacutequica pelo paciente necessitando a
intervenccedilatildeo objetiva
Procura-se analisar os embasamentos teoacutericos da teacutecnica da
mediaccedilatildeo as influecircncias epistemoloacutegicas que ajudaram a construir o
arcabouccedilo de conhecimentos que fez dela uma teacutecnica alternativa na resoluccedilatildeo
de controveacutersias em vaacuterios acircmbitos comercial juriacutedico familiar empresarial
comunitaacuteria entre outras Diferenciando-se da Negociaccedilatildeo e da Conciliaccedilatildeo a
mediaccedilatildeo firma-se como meacutetodo de intervenccedilatildeo paciacutefica espontacircnea
voluntaacuteria visando ganhos muacutetuos para todas as partes que se vejam
envolvidas em conflitos de difiacutecil soluccedilatildeo
Quanto agrave Psicanaacutelise o embasamento teoacuterico de conceitos
fundamentais foi primordial uma vez que numa anaacutelise progressiva chegou-se
agrave obra freudiana lsquoO Mal-Estar na Civilizaccedilatildeorsquo que nos demonstra a situaccedilatildeo
que o indiviacuteduo se encontra enquanto ser psiacutequico social poliacutetico e cultural
Neste contexto situa-se o homem conflituado entre as exigecircncias internas de
seu psiquismo e as leis da sociedade Mostra-se que o conflito psiacutequico
extravasa para o social fornecendo-lhe caracteriacutesticas fenomenoloacutegicas que
vatildeo se manifestar em todos os acircmbitos nos quais o sujeito faz laccedilos com o
outro semelhante Estabelece-se com este vaacuterios tipos de viacutenculos incluindo
os amorosos e os agressivos destrutivos ao ponto de chegarem a estabelecer
situaccedilotildees de completa rivalidade entre os indiviacuteduos
Esclareceu-se a noccedilatildeo portanto de que os conflitos nem sempre
possuem a vertente destrutiva mas de outra forma podem significar condiccedilotildees
de mudanccedilas positivas a partir da possibilidade de transformaccedilatildeo de uma
6
situaccedilatildeo que tornou-se inadequada para outra onde a resignificaccedilatildeo desta
proporciona o restabelecimento da comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo
acirramento das emoccedilotildees que alimentam o conflito
7
METODOLOGIA
O presente trabalho foi desenvolvido atraveacutes da utilizaccedilatildeo de
bibliografia especiacutefica agrave aacuterea da mediaccedilatildeo de conflitos tanto no acircmbito do
Direito como nas aacutereas do social e da psicologia bem como agrave Psicanaacutelise
Utilizou-se de pesquisas por meio eletrocircnico ndashinternet- e das anotaccedilotildees das
aulas do Curso de Mediaccedilatildeo da AVM
8
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO09
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
Liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49 WEBGRAFIA51 IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
9
INTRODUCcedilAtildeO
A presente monografia teve como intenccedilatildeo discutir a relaccedilatildeo entre
praacuteticas que colocam o ser humano em dois niacuteveis de conhecimento de um
lado enquanto ser social lidando conscientemente com seus avatares
conhecedor do mundo que o cerca e certo de suas interpretaccedilotildees da realidade
objetiva de outro enquanto ser inconsciente mestre de seus desiacutegnios poreacutem
sem mesmo o saber Como articular esta dualidade humana enquanto ser da
consciecircncia e ser portador de um inconsciente dinacircmico
O ser humano envolve-se no seu dia-a-dia com as mais diversas
tarefas inserido no meio social onde convive com seus semelhantes ora de
forma paciacutefica ora atormentado por conflitos provenientes destas relaccedilotildees
Resultando das vicissitudes agraves quais o indiviacuteduo se sujeita ao conviver
socialmente o encontramos agraves vezes em embates que o transtornam havendo
daiacute uma seacuterie de consequumlecircncias seja de ordem social ou emocional
No campo da cliacutenica psicanaliacutetica muitas vezes recebemos sujeitos
no consultoacuterio nos trazendo queixas de muita anguacutestia mal-estar emocional
depressatildeo profunda Ao o escutar o psicanalista natildeo deixa de perceber o
contexto social que estaacute inserido e detecta indiscutivelmente que muitas delas
foram ou satildeo produzidas por conflitos gerados a partir de desentendimentos
familiares profissionais fraternais A teacutecnica psicanaliacutetica baseada nos
ensinamentos de Freud natildeo trataraacute das relaccedilotildees sociais nas quais o indiviacuteduo
estaacute inserido apesar de natildeo desconhecer a influecircncia que causam em sua
patologia No entanto natildeo deixa-se de perceber o quanto muitas vezes no
acirramento do conflito desses laccedilos afetivos trazem a piora dos sintomas do
indiviacuteduo e o jogam num buraco cada vez maior de anguacutestia Infelizmente a
psicanaacutelise nem sempre possui o tempo necessaacuterio para intervir sobre o
acirramento dos sintomas chegando o paciente a necessitar do uso de
medicamentos antidepressivos ansioliacuteticos controladores do humor
antipsicotizantes para minimizar seu mal-estar psiacutequico Como praacutetica
terapecircutica nem sempre a psicanaacutelise consegue dar conta do grande volume
de questotildees relacionadas agrave problemaacutetica das relaccedilotildees entre pessoas e desta
forma pergunta-se a partir do conhecimento obtido atraveacutes do ensinamento
10
sobre a Mediaccedilatildeo de Conflitos se seria possiacutevel num determinado momento
de um tratamento psicanaliacutetico lanccedilar matildeo das teacutecnicas da mediaccedilatildeo
objetivando a dissoluccedilatildeo do mal-estar relacional aiacute intricado
Pensar nesta possibilidade foi o mote desta pesquisa e para
responder agrave pergunta ldquoa teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos pode ser aplicada
como parte integrante do tratamento psicanaliacuteticordquo foram necessaacuterias muitas
horas de leitura e de elaboraccedilatildeo de conclusotildees
A tarefa do psicanalista assim como a do mediador natildeo eacute nem um
pouco suave Lidando com conflitos incessantemente em todos os dias de sua
praacutetica profissional depara-se com situaccedilotildees que lhe exigem muita experiecircncia
e sabedoria necessitando de muita criatividade para dar continuidade aos
processos que ambos iniciaram cada um em seu campo
Em psicanaacutelise discutimos incessantemente a posiccedilatildeo do analista
num contexto eacutetico em relaccedilatildeo agrave sua praacutetica e em relaccedilatildeo ao seu ser Ao
psicanalista corresponde o lugar da escuta do inconsciente intervindo com seu
ato analiacutetico sobre o significante que desponta do inconsciente do paciente
fazendo-o ressignificar sua posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao desejo A escuta em
atenccedilatildeo flutuante permite que o paciente desenrole sua histoacuteria a partir de seu
ponto de vista ou melhor a partir de sua realidade psiacutequica traccedilando
livremente o seu caminho para chegar agraves suas proacuteprias conclusotildees poreacutem
natildeo sem o ato analiacutetico que pontua o que o inconsciente insistentemente daacute
provas de sua existecircncia ndash atos falhos sonhos lembranccedilas etc
Em mediaccedilatildeo o mediador seraacute orientado tambeacutem por uma eacutetica
que o coloca como terceiro imparcial mas com escuta atenta e isenta de juiacutezo
de valor possibilitando que as partes envolvidas no conflito possam chegar por
si mesmas a uma soluccedilatildeo O mediador de certa forma e sem saber se torna
muitas vezes testemunha do afloramento inconsciente daqueles que medeia
Assim nesta correlaccedilatildeo de posiccedilotildees eacuteticas de um e de outro haveraacute
alguma forma de um se beneficiar do campo de conhecimento do outro Esta
pergunta seraacute esclarecida ao longo das proacuteximas paacuteginas chegando adiante a
alguma conclusatildeo ainda aqui sem certezas Portanto vamos ao trabalho
11
CAPIacuteTULO I
TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA
O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)
As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves
relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees
atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na
essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual
quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas
entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das
emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No
embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais
profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre
subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como
superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois
natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na
sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da
contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como
um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e
que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade
entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No
entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar
a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo
que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se
faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social
Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a
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diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1
Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto
negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de
aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra
briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de
Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo
poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente
positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral
inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se
portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz
entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho
aproximaccedilatildeo(idem)
Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual
as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a
accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem
contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre
se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno
surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate
Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais
do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da
uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo
interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto
de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual
1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG
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de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos
processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou
construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro
dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a
atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se
expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute
atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o
conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de
valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes
estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda
De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos
autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito
promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes
interrompidos pelo conflito
Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)
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CAPIacuteTULO II
A MEDIACcedilAtildeO
21- Definiccedilatildeo
Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico
informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial
Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute
mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em
princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise
A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2
No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a
soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica
adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de
resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da
comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do
endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se
ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a
possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das
contraposiccedilotildees entre as partes
As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)
encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de
2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo
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forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive
financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as
partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e
mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento
das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor
f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees
etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses
divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a
reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e
proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se
mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e
consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem
tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como
sobre si proacuteprio
22- Origens
A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute
reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada
nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma
La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3
Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se
encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas
Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior
baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista
3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId
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Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de
forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e
ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como
sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades
natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o
mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte
de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional
com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer
existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo
acompanhados de novas exigecircncias
Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de
Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental
desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua
que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos
Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade
moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as
controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e
posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os
mesmos
Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de
intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus
propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir
a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis
e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos
(Egger 2006 p 42)
Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)
()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos
Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar
na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no
acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar
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trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o
compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um
ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses
se torna tambeacutem um mediador
() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)
A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo
que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger
2006 p 47)
Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento
entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um
processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas
diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo
presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando
diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao
contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante
No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob
alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das
ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de
intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em
conta a subjetividade inerente aos mesmos
O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento
das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso
comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises
rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores
naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu
grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais
fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de
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campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do
juriacutedico do psicoloacutegico do social etc
Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na
sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a
quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns
naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo
novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os
entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas
eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais
americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente
como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que
somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as
partes
No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem
recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da
deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu
texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo
()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)
Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser
utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em
diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e
eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de
consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf
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situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias
com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua
aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir
sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do
senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais
educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que
qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse
processo
A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se
chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas
segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o
que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais
brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes
envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o
processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da
chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de
processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua
resoluccedilatildeo final
O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo
bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado
o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu
criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar
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bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre
as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da
mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa
convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O
mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-
se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos
Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum
deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela
ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo
bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo
Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em
momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees
bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a
conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do
desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador
bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador
deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve
garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo
destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A
confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de
ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos
Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de
mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo
Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e
o modelo de Warat
241- Modelo Tradicional de Harvard
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O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
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bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
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242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
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Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
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problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
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adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
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de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
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CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
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brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
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naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
4
DEDICATOacuteRIA
a todos aqueles que em algum dia
pude oferecer meus conhecimentos
profissionais e acadecircmicos e minha
escuta apurada sobre seus dramas
pessoais acompanhando-os nas alegrias
e nas tristezas nos seus progressos
pessoais quando contando com a minha
atenccedilatildeo conseguiram trazer acreacutescimos
agraves suas vidas
5
RESUMO
Esta monografia tem como objetivo aprofundar conhecimentos com
respeito agrave praacutetica com Mediaccedilatildeo de conflitos especificamente os de ordem
familiar tanto no acircmbito juriacutedico como no acircmbito privado sendo esta uacuteltima
realizada no espaccedilo cliacutenico de um consultoacuterio de psicologia e psicanaacutelise
Pretende analisar a possibilidade da integraccedilatildeo das teacutecnicas de mediaccedilatildeo de
conflitos em momentos especiacuteficos ao tratamento psicanaliacutetico quando da
constataccedilatildeo da sua necessidade para o desmantelamento de uma situaccedilatildeo
conflitante de difiacutecil elaboraccedilatildeo psiacutequica pelo paciente necessitando a
intervenccedilatildeo objetiva
Procura-se analisar os embasamentos teoacutericos da teacutecnica da
mediaccedilatildeo as influecircncias epistemoloacutegicas que ajudaram a construir o
arcabouccedilo de conhecimentos que fez dela uma teacutecnica alternativa na resoluccedilatildeo
de controveacutersias em vaacuterios acircmbitos comercial juriacutedico familiar empresarial
comunitaacuteria entre outras Diferenciando-se da Negociaccedilatildeo e da Conciliaccedilatildeo a
mediaccedilatildeo firma-se como meacutetodo de intervenccedilatildeo paciacutefica espontacircnea
voluntaacuteria visando ganhos muacutetuos para todas as partes que se vejam
envolvidas em conflitos de difiacutecil soluccedilatildeo
Quanto agrave Psicanaacutelise o embasamento teoacuterico de conceitos
fundamentais foi primordial uma vez que numa anaacutelise progressiva chegou-se
agrave obra freudiana lsquoO Mal-Estar na Civilizaccedilatildeorsquo que nos demonstra a situaccedilatildeo
que o indiviacuteduo se encontra enquanto ser psiacutequico social poliacutetico e cultural
Neste contexto situa-se o homem conflituado entre as exigecircncias internas de
seu psiquismo e as leis da sociedade Mostra-se que o conflito psiacutequico
extravasa para o social fornecendo-lhe caracteriacutesticas fenomenoloacutegicas que
vatildeo se manifestar em todos os acircmbitos nos quais o sujeito faz laccedilos com o
outro semelhante Estabelece-se com este vaacuterios tipos de viacutenculos incluindo
os amorosos e os agressivos destrutivos ao ponto de chegarem a estabelecer
situaccedilotildees de completa rivalidade entre os indiviacuteduos
Esclareceu-se a noccedilatildeo portanto de que os conflitos nem sempre
possuem a vertente destrutiva mas de outra forma podem significar condiccedilotildees
de mudanccedilas positivas a partir da possibilidade de transformaccedilatildeo de uma
6
situaccedilatildeo que tornou-se inadequada para outra onde a resignificaccedilatildeo desta
proporciona o restabelecimento da comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo
acirramento das emoccedilotildees que alimentam o conflito
7
METODOLOGIA
O presente trabalho foi desenvolvido atraveacutes da utilizaccedilatildeo de
bibliografia especiacutefica agrave aacuterea da mediaccedilatildeo de conflitos tanto no acircmbito do
Direito como nas aacutereas do social e da psicologia bem como agrave Psicanaacutelise
Utilizou-se de pesquisas por meio eletrocircnico ndashinternet- e das anotaccedilotildees das
aulas do Curso de Mediaccedilatildeo da AVM
8
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO09
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
Liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49 WEBGRAFIA51 IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
9
INTRODUCcedilAtildeO
A presente monografia teve como intenccedilatildeo discutir a relaccedilatildeo entre
praacuteticas que colocam o ser humano em dois niacuteveis de conhecimento de um
lado enquanto ser social lidando conscientemente com seus avatares
conhecedor do mundo que o cerca e certo de suas interpretaccedilotildees da realidade
objetiva de outro enquanto ser inconsciente mestre de seus desiacutegnios poreacutem
sem mesmo o saber Como articular esta dualidade humana enquanto ser da
consciecircncia e ser portador de um inconsciente dinacircmico
O ser humano envolve-se no seu dia-a-dia com as mais diversas
tarefas inserido no meio social onde convive com seus semelhantes ora de
forma paciacutefica ora atormentado por conflitos provenientes destas relaccedilotildees
Resultando das vicissitudes agraves quais o indiviacuteduo se sujeita ao conviver
socialmente o encontramos agraves vezes em embates que o transtornam havendo
daiacute uma seacuterie de consequumlecircncias seja de ordem social ou emocional
No campo da cliacutenica psicanaliacutetica muitas vezes recebemos sujeitos
no consultoacuterio nos trazendo queixas de muita anguacutestia mal-estar emocional
depressatildeo profunda Ao o escutar o psicanalista natildeo deixa de perceber o
contexto social que estaacute inserido e detecta indiscutivelmente que muitas delas
foram ou satildeo produzidas por conflitos gerados a partir de desentendimentos
familiares profissionais fraternais A teacutecnica psicanaliacutetica baseada nos
ensinamentos de Freud natildeo trataraacute das relaccedilotildees sociais nas quais o indiviacuteduo
estaacute inserido apesar de natildeo desconhecer a influecircncia que causam em sua
patologia No entanto natildeo deixa-se de perceber o quanto muitas vezes no
acirramento do conflito desses laccedilos afetivos trazem a piora dos sintomas do
indiviacuteduo e o jogam num buraco cada vez maior de anguacutestia Infelizmente a
psicanaacutelise nem sempre possui o tempo necessaacuterio para intervir sobre o
acirramento dos sintomas chegando o paciente a necessitar do uso de
medicamentos antidepressivos ansioliacuteticos controladores do humor
antipsicotizantes para minimizar seu mal-estar psiacutequico Como praacutetica
terapecircutica nem sempre a psicanaacutelise consegue dar conta do grande volume
de questotildees relacionadas agrave problemaacutetica das relaccedilotildees entre pessoas e desta
forma pergunta-se a partir do conhecimento obtido atraveacutes do ensinamento
10
sobre a Mediaccedilatildeo de Conflitos se seria possiacutevel num determinado momento
de um tratamento psicanaliacutetico lanccedilar matildeo das teacutecnicas da mediaccedilatildeo
objetivando a dissoluccedilatildeo do mal-estar relacional aiacute intricado
Pensar nesta possibilidade foi o mote desta pesquisa e para
responder agrave pergunta ldquoa teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos pode ser aplicada
como parte integrante do tratamento psicanaliacuteticordquo foram necessaacuterias muitas
horas de leitura e de elaboraccedilatildeo de conclusotildees
A tarefa do psicanalista assim como a do mediador natildeo eacute nem um
pouco suave Lidando com conflitos incessantemente em todos os dias de sua
praacutetica profissional depara-se com situaccedilotildees que lhe exigem muita experiecircncia
e sabedoria necessitando de muita criatividade para dar continuidade aos
processos que ambos iniciaram cada um em seu campo
Em psicanaacutelise discutimos incessantemente a posiccedilatildeo do analista
num contexto eacutetico em relaccedilatildeo agrave sua praacutetica e em relaccedilatildeo ao seu ser Ao
psicanalista corresponde o lugar da escuta do inconsciente intervindo com seu
ato analiacutetico sobre o significante que desponta do inconsciente do paciente
fazendo-o ressignificar sua posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao desejo A escuta em
atenccedilatildeo flutuante permite que o paciente desenrole sua histoacuteria a partir de seu
ponto de vista ou melhor a partir de sua realidade psiacutequica traccedilando
livremente o seu caminho para chegar agraves suas proacuteprias conclusotildees poreacutem
natildeo sem o ato analiacutetico que pontua o que o inconsciente insistentemente daacute
provas de sua existecircncia ndash atos falhos sonhos lembranccedilas etc
Em mediaccedilatildeo o mediador seraacute orientado tambeacutem por uma eacutetica
que o coloca como terceiro imparcial mas com escuta atenta e isenta de juiacutezo
de valor possibilitando que as partes envolvidas no conflito possam chegar por
si mesmas a uma soluccedilatildeo O mediador de certa forma e sem saber se torna
muitas vezes testemunha do afloramento inconsciente daqueles que medeia
Assim nesta correlaccedilatildeo de posiccedilotildees eacuteticas de um e de outro haveraacute
alguma forma de um se beneficiar do campo de conhecimento do outro Esta
pergunta seraacute esclarecida ao longo das proacuteximas paacuteginas chegando adiante a
alguma conclusatildeo ainda aqui sem certezas Portanto vamos ao trabalho
11
CAPIacuteTULO I
TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA
O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)
As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves
relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees
atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na
essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual
quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas
entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das
emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No
embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais
profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre
subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como
superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois
natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na
sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da
contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como
um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e
que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade
entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No
entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar
a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo
que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se
faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social
Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a
12
diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1
Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto
negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de
aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra
briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de
Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo
poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente
positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral
inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se
portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz
entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho
aproximaccedilatildeo(idem)
Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual
as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a
accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem
contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre
se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno
surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate
Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais
do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da
uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo
interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto
de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual
1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG
13
de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos
processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou
construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro
dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a
atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se
expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute
atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o
conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de
valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes
estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda
De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos
autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito
promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes
interrompidos pelo conflito
Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)
14
CAPIacuteTULO II
A MEDIACcedilAtildeO
21- Definiccedilatildeo
Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico
informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial
Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute
mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em
princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise
A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2
No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a
soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica
adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de
resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da
comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do
endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se
ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a
possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das
contraposiccedilotildees entre as partes
As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)
encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de
2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo
15
forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive
financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as
partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e
mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento
das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor
f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees
etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses
divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a
reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e
proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se
mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e
consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem
tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como
sobre si proacuteprio
22- Origens
A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute
reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada
nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma
La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3
Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se
encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas
Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior
baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista
3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId
16
Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de
forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e
ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como
sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades
natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o
mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte
de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional
com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer
existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo
acompanhados de novas exigecircncias
Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de
Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental
desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua
que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos
Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade
moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as
controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e
posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os
mesmos
Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de
intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus
propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir
a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis
e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos
(Egger 2006 p 42)
Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)
()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos
Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar
na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no
acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar
17
trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o
compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um
ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses
se torna tambeacutem um mediador
() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)
A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo
que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger
2006 p 47)
Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento
entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um
processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas
diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo
presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando
diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao
contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante
No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob
alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das
ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de
intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em
conta a subjetividade inerente aos mesmos
O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento
das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso
comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises
rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores
naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu
grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais
fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de
18
campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do
juriacutedico do psicoloacutegico do social etc
Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na
sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a
quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns
naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo
novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os
entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas
eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais
americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente
como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que
somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as
partes
No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem
recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da
deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu
texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo
()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)
Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser
utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em
diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e
eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de
consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf
19
situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias
com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua
aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir
sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do
senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais
educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que
qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse
processo
A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se
chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas
segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o
que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais
brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes
envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o
processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da
chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de
processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua
resoluccedilatildeo final
O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo
bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado
o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu
criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar
20
bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre
as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da
mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa
convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O
mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-
se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos
Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum
deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela
ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo
bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo
Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em
momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees
bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a
conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do
desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador
bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador
deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve
garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo
destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A
confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de
ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos
Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de
mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo
Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e
o modelo de Warat
241- Modelo Tradicional de Harvard
21
O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
22
bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
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Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
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de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
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que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
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CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
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Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
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desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
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contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
5
RESUMO
Esta monografia tem como objetivo aprofundar conhecimentos com
respeito agrave praacutetica com Mediaccedilatildeo de conflitos especificamente os de ordem
familiar tanto no acircmbito juriacutedico como no acircmbito privado sendo esta uacuteltima
realizada no espaccedilo cliacutenico de um consultoacuterio de psicologia e psicanaacutelise
Pretende analisar a possibilidade da integraccedilatildeo das teacutecnicas de mediaccedilatildeo de
conflitos em momentos especiacuteficos ao tratamento psicanaliacutetico quando da
constataccedilatildeo da sua necessidade para o desmantelamento de uma situaccedilatildeo
conflitante de difiacutecil elaboraccedilatildeo psiacutequica pelo paciente necessitando a
intervenccedilatildeo objetiva
Procura-se analisar os embasamentos teoacutericos da teacutecnica da
mediaccedilatildeo as influecircncias epistemoloacutegicas que ajudaram a construir o
arcabouccedilo de conhecimentos que fez dela uma teacutecnica alternativa na resoluccedilatildeo
de controveacutersias em vaacuterios acircmbitos comercial juriacutedico familiar empresarial
comunitaacuteria entre outras Diferenciando-se da Negociaccedilatildeo e da Conciliaccedilatildeo a
mediaccedilatildeo firma-se como meacutetodo de intervenccedilatildeo paciacutefica espontacircnea
voluntaacuteria visando ganhos muacutetuos para todas as partes que se vejam
envolvidas em conflitos de difiacutecil soluccedilatildeo
Quanto agrave Psicanaacutelise o embasamento teoacuterico de conceitos
fundamentais foi primordial uma vez que numa anaacutelise progressiva chegou-se
agrave obra freudiana lsquoO Mal-Estar na Civilizaccedilatildeorsquo que nos demonstra a situaccedilatildeo
que o indiviacuteduo se encontra enquanto ser psiacutequico social poliacutetico e cultural
Neste contexto situa-se o homem conflituado entre as exigecircncias internas de
seu psiquismo e as leis da sociedade Mostra-se que o conflito psiacutequico
extravasa para o social fornecendo-lhe caracteriacutesticas fenomenoloacutegicas que
vatildeo se manifestar em todos os acircmbitos nos quais o sujeito faz laccedilos com o
outro semelhante Estabelece-se com este vaacuterios tipos de viacutenculos incluindo
os amorosos e os agressivos destrutivos ao ponto de chegarem a estabelecer
situaccedilotildees de completa rivalidade entre os indiviacuteduos
Esclareceu-se a noccedilatildeo portanto de que os conflitos nem sempre
possuem a vertente destrutiva mas de outra forma podem significar condiccedilotildees
de mudanccedilas positivas a partir da possibilidade de transformaccedilatildeo de uma
6
situaccedilatildeo que tornou-se inadequada para outra onde a resignificaccedilatildeo desta
proporciona o restabelecimento da comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo
acirramento das emoccedilotildees que alimentam o conflito
7
METODOLOGIA
O presente trabalho foi desenvolvido atraveacutes da utilizaccedilatildeo de
bibliografia especiacutefica agrave aacuterea da mediaccedilatildeo de conflitos tanto no acircmbito do
Direito como nas aacutereas do social e da psicologia bem como agrave Psicanaacutelise
Utilizou-se de pesquisas por meio eletrocircnico ndashinternet- e das anotaccedilotildees das
aulas do Curso de Mediaccedilatildeo da AVM
8
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO09
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
Liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49 WEBGRAFIA51 IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
9
INTRODUCcedilAtildeO
A presente monografia teve como intenccedilatildeo discutir a relaccedilatildeo entre
praacuteticas que colocam o ser humano em dois niacuteveis de conhecimento de um
lado enquanto ser social lidando conscientemente com seus avatares
conhecedor do mundo que o cerca e certo de suas interpretaccedilotildees da realidade
objetiva de outro enquanto ser inconsciente mestre de seus desiacutegnios poreacutem
sem mesmo o saber Como articular esta dualidade humana enquanto ser da
consciecircncia e ser portador de um inconsciente dinacircmico
O ser humano envolve-se no seu dia-a-dia com as mais diversas
tarefas inserido no meio social onde convive com seus semelhantes ora de
forma paciacutefica ora atormentado por conflitos provenientes destas relaccedilotildees
Resultando das vicissitudes agraves quais o indiviacuteduo se sujeita ao conviver
socialmente o encontramos agraves vezes em embates que o transtornam havendo
daiacute uma seacuterie de consequumlecircncias seja de ordem social ou emocional
No campo da cliacutenica psicanaliacutetica muitas vezes recebemos sujeitos
no consultoacuterio nos trazendo queixas de muita anguacutestia mal-estar emocional
depressatildeo profunda Ao o escutar o psicanalista natildeo deixa de perceber o
contexto social que estaacute inserido e detecta indiscutivelmente que muitas delas
foram ou satildeo produzidas por conflitos gerados a partir de desentendimentos
familiares profissionais fraternais A teacutecnica psicanaliacutetica baseada nos
ensinamentos de Freud natildeo trataraacute das relaccedilotildees sociais nas quais o indiviacuteduo
estaacute inserido apesar de natildeo desconhecer a influecircncia que causam em sua
patologia No entanto natildeo deixa-se de perceber o quanto muitas vezes no
acirramento do conflito desses laccedilos afetivos trazem a piora dos sintomas do
indiviacuteduo e o jogam num buraco cada vez maior de anguacutestia Infelizmente a
psicanaacutelise nem sempre possui o tempo necessaacuterio para intervir sobre o
acirramento dos sintomas chegando o paciente a necessitar do uso de
medicamentos antidepressivos ansioliacuteticos controladores do humor
antipsicotizantes para minimizar seu mal-estar psiacutequico Como praacutetica
terapecircutica nem sempre a psicanaacutelise consegue dar conta do grande volume
de questotildees relacionadas agrave problemaacutetica das relaccedilotildees entre pessoas e desta
forma pergunta-se a partir do conhecimento obtido atraveacutes do ensinamento
10
sobre a Mediaccedilatildeo de Conflitos se seria possiacutevel num determinado momento
de um tratamento psicanaliacutetico lanccedilar matildeo das teacutecnicas da mediaccedilatildeo
objetivando a dissoluccedilatildeo do mal-estar relacional aiacute intricado
Pensar nesta possibilidade foi o mote desta pesquisa e para
responder agrave pergunta ldquoa teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos pode ser aplicada
como parte integrante do tratamento psicanaliacuteticordquo foram necessaacuterias muitas
horas de leitura e de elaboraccedilatildeo de conclusotildees
A tarefa do psicanalista assim como a do mediador natildeo eacute nem um
pouco suave Lidando com conflitos incessantemente em todos os dias de sua
praacutetica profissional depara-se com situaccedilotildees que lhe exigem muita experiecircncia
e sabedoria necessitando de muita criatividade para dar continuidade aos
processos que ambos iniciaram cada um em seu campo
Em psicanaacutelise discutimos incessantemente a posiccedilatildeo do analista
num contexto eacutetico em relaccedilatildeo agrave sua praacutetica e em relaccedilatildeo ao seu ser Ao
psicanalista corresponde o lugar da escuta do inconsciente intervindo com seu
ato analiacutetico sobre o significante que desponta do inconsciente do paciente
fazendo-o ressignificar sua posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao desejo A escuta em
atenccedilatildeo flutuante permite que o paciente desenrole sua histoacuteria a partir de seu
ponto de vista ou melhor a partir de sua realidade psiacutequica traccedilando
livremente o seu caminho para chegar agraves suas proacuteprias conclusotildees poreacutem
natildeo sem o ato analiacutetico que pontua o que o inconsciente insistentemente daacute
provas de sua existecircncia ndash atos falhos sonhos lembranccedilas etc
Em mediaccedilatildeo o mediador seraacute orientado tambeacutem por uma eacutetica
que o coloca como terceiro imparcial mas com escuta atenta e isenta de juiacutezo
de valor possibilitando que as partes envolvidas no conflito possam chegar por
si mesmas a uma soluccedilatildeo O mediador de certa forma e sem saber se torna
muitas vezes testemunha do afloramento inconsciente daqueles que medeia
Assim nesta correlaccedilatildeo de posiccedilotildees eacuteticas de um e de outro haveraacute
alguma forma de um se beneficiar do campo de conhecimento do outro Esta
pergunta seraacute esclarecida ao longo das proacuteximas paacuteginas chegando adiante a
alguma conclusatildeo ainda aqui sem certezas Portanto vamos ao trabalho
11
CAPIacuteTULO I
TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA
O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)
As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves
relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees
atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na
essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual
quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas
entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das
emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No
embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais
profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre
subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como
superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois
natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na
sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da
contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como
um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e
que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade
entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No
entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar
a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo
que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se
faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social
Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a
12
diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1
Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto
negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de
aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra
briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de
Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo
poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente
positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral
inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se
portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz
entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho
aproximaccedilatildeo(idem)
Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual
as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a
accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem
contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre
se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno
surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate
Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais
do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da
uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo
interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto
de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual
1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG
13
de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos
processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou
construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro
dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a
atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se
expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute
atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o
conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de
valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes
estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda
De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos
autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito
promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes
interrompidos pelo conflito
Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)
14
CAPIacuteTULO II
A MEDIACcedilAtildeO
21- Definiccedilatildeo
Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico
informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial
Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute
mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em
princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise
A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2
No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a
soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica
adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de
resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da
comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do
endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se
ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a
possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das
contraposiccedilotildees entre as partes
As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)
encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de
2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo
15
forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive
financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as
partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e
mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento
das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor
f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees
etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses
divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a
reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e
proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se
mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e
consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem
tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como
sobre si proacuteprio
22- Origens
A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute
reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada
nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma
La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3
Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se
encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas
Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior
baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista
3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId
16
Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de
forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e
ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como
sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades
natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o
mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte
de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional
com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer
existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo
acompanhados de novas exigecircncias
Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de
Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental
desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua
que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos
Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade
moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as
controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e
posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os
mesmos
Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de
intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus
propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir
a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis
e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos
(Egger 2006 p 42)
Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)
()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos
Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar
na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no
acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar
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trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o
compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um
ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses
se torna tambeacutem um mediador
() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)
A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo
que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger
2006 p 47)
Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento
entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um
processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas
diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo
presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando
diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao
contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante
No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob
alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das
ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de
intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em
conta a subjetividade inerente aos mesmos
O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento
das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso
comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises
rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores
naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu
grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais
fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de
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campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do
juriacutedico do psicoloacutegico do social etc
Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na
sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a
quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns
naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo
novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os
entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas
eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais
americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente
como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que
somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as
partes
No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem
recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da
deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu
texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo
()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)
Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser
utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em
diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e
eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de
consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf
19
situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias
com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua
aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir
sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do
senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais
educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que
qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse
processo
A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se
chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas
segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o
que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais
brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes
envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o
processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da
chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de
processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua
resoluccedilatildeo final
O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo
bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado
o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu
criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar
20
bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre
as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da
mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa
convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O
mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-
se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos
Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum
deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela
ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo
bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo
Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em
momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees
bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a
conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do
desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador
bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador
deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve
garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo
destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A
confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de
ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos
Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de
mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo
Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e
o modelo de Warat
241- Modelo Tradicional de Harvard
21
O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
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bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
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Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
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problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
36
CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
6
situaccedilatildeo que tornou-se inadequada para outra onde a resignificaccedilatildeo desta
proporciona o restabelecimento da comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo
acirramento das emoccedilotildees que alimentam o conflito
7
METODOLOGIA
O presente trabalho foi desenvolvido atraveacutes da utilizaccedilatildeo de
bibliografia especiacutefica agrave aacuterea da mediaccedilatildeo de conflitos tanto no acircmbito do
Direito como nas aacutereas do social e da psicologia bem como agrave Psicanaacutelise
Utilizou-se de pesquisas por meio eletrocircnico ndashinternet- e das anotaccedilotildees das
aulas do Curso de Mediaccedilatildeo da AVM
8
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO09
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
Liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49 WEBGRAFIA51 IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
9
INTRODUCcedilAtildeO
A presente monografia teve como intenccedilatildeo discutir a relaccedilatildeo entre
praacuteticas que colocam o ser humano em dois niacuteveis de conhecimento de um
lado enquanto ser social lidando conscientemente com seus avatares
conhecedor do mundo que o cerca e certo de suas interpretaccedilotildees da realidade
objetiva de outro enquanto ser inconsciente mestre de seus desiacutegnios poreacutem
sem mesmo o saber Como articular esta dualidade humana enquanto ser da
consciecircncia e ser portador de um inconsciente dinacircmico
O ser humano envolve-se no seu dia-a-dia com as mais diversas
tarefas inserido no meio social onde convive com seus semelhantes ora de
forma paciacutefica ora atormentado por conflitos provenientes destas relaccedilotildees
Resultando das vicissitudes agraves quais o indiviacuteduo se sujeita ao conviver
socialmente o encontramos agraves vezes em embates que o transtornam havendo
daiacute uma seacuterie de consequumlecircncias seja de ordem social ou emocional
No campo da cliacutenica psicanaliacutetica muitas vezes recebemos sujeitos
no consultoacuterio nos trazendo queixas de muita anguacutestia mal-estar emocional
depressatildeo profunda Ao o escutar o psicanalista natildeo deixa de perceber o
contexto social que estaacute inserido e detecta indiscutivelmente que muitas delas
foram ou satildeo produzidas por conflitos gerados a partir de desentendimentos
familiares profissionais fraternais A teacutecnica psicanaliacutetica baseada nos
ensinamentos de Freud natildeo trataraacute das relaccedilotildees sociais nas quais o indiviacuteduo
estaacute inserido apesar de natildeo desconhecer a influecircncia que causam em sua
patologia No entanto natildeo deixa-se de perceber o quanto muitas vezes no
acirramento do conflito desses laccedilos afetivos trazem a piora dos sintomas do
indiviacuteduo e o jogam num buraco cada vez maior de anguacutestia Infelizmente a
psicanaacutelise nem sempre possui o tempo necessaacuterio para intervir sobre o
acirramento dos sintomas chegando o paciente a necessitar do uso de
medicamentos antidepressivos ansioliacuteticos controladores do humor
antipsicotizantes para minimizar seu mal-estar psiacutequico Como praacutetica
terapecircutica nem sempre a psicanaacutelise consegue dar conta do grande volume
de questotildees relacionadas agrave problemaacutetica das relaccedilotildees entre pessoas e desta
forma pergunta-se a partir do conhecimento obtido atraveacutes do ensinamento
10
sobre a Mediaccedilatildeo de Conflitos se seria possiacutevel num determinado momento
de um tratamento psicanaliacutetico lanccedilar matildeo das teacutecnicas da mediaccedilatildeo
objetivando a dissoluccedilatildeo do mal-estar relacional aiacute intricado
Pensar nesta possibilidade foi o mote desta pesquisa e para
responder agrave pergunta ldquoa teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos pode ser aplicada
como parte integrante do tratamento psicanaliacuteticordquo foram necessaacuterias muitas
horas de leitura e de elaboraccedilatildeo de conclusotildees
A tarefa do psicanalista assim como a do mediador natildeo eacute nem um
pouco suave Lidando com conflitos incessantemente em todos os dias de sua
praacutetica profissional depara-se com situaccedilotildees que lhe exigem muita experiecircncia
e sabedoria necessitando de muita criatividade para dar continuidade aos
processos que ambos iniciaram cada um em seu campo
Em psicanaacutelise discutimos incessantemente a posiccedilatildeo do analista
num contexto eacutetico em relaccedilatildeo agrave sua praacutetica e em relaccedilatildeo ao seu ser Ao
psicanalista corresponde o lugar da escuta do inconsciente intervindo com seu
ato analiacutetico sobre o significante que desponta do inconsciente do paciente
fazendo-o ressignificar sua posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao desejo A escuta em
atenccedilatildeo flutuante permite que o paciente desenrole sua histoacuteria a partir de seu
ponto de vista ou melhor a partir de sua realidade psiacutequica traccedilando
livremente o seu caminho para chegar agraves suas proacuteprias conclusotildees poreacutem
natildeo sem o ato analiacutetico que pontua o que o inconsciente insistentemente daacute
provas de sua existecircncia ndash atos falhos sonhos lembranccedilas etc
Em mediaccedilatildeo o mediador seraacute orientado tambeacutem por uma eacutetica
que o coloca como terceiro imparcial mas com escuta atenta e isenta de juiacutezo
de valor possibilitando que as partes envolvidas no conflito possam chegar por
si mesmas a uma soluccedilatildeo O mediador de certa forma e sem saber se torna
muitas vezes testemunha do afloramento inconsciente daqueles que medeia
Assim nesta correlaccedilatildeo de posiccedilotildees eacuteticas de um e de outro haveraacute
alguma forma de um se beneficiar do campo de conhecimento do outro Esta
pergunta seraacute esclarecida ao longo das proacuteximas paacuteginas chegando adiante a
alguma conclusatildeo ainda aqui sem certezas Portanto vamos ao trabalho
11
CAPIacuteTULO I
TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA
O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)
As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves
relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees
atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na
essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual
quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas
entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das
emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No
embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais
profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre
subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como
superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois
natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na
sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da
contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como
um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e
que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade
entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No
entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar
a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo
que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se
faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social
Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a
12
diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1
Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto
negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de
aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra
briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de
Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo
poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente
positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral
inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se
portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz
entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho
aproximaccedilatildeo(idem)
Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual
as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a
accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem
contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre
se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno
surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate
Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais
do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da
uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo
interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto
de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual
1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG
13
de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos
processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou
construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro
dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a
atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se
expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute
atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o
conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de
valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes
estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda
De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos
autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito
promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes
interrompidos pelo conflito
Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)
14
CAPIacuteTULO II
A MEDIACcedilAtildeO
21- Definiccedilatildeo
Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico
informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial
Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute
mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em
princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise
A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2
No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a
soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica
adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de
resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da
comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do
endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se
ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a
possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das
contraposiccedilotildees entre as partes
As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)
encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de
2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo
15
forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive
financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as
partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e
mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento
das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor
f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees
etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses
divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a
reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e
proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se
mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e
consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem
tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como
sobre si proacuteprio
22- Origens
A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute
reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada
nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma
La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3
Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se
encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas
Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior
baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista
3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId
16
Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de
forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e
ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como
sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades
natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o
mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte
de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional
com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer
existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo
acompanhados de novas exigecircncias
Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de
Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental
desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua
que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos
Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade
moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as
controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e
posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os
mesmos
Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de
intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus
propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir
a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis
e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos
(Egger 2006 p 42)
Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)
()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos
Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar
na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no
acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar
17
trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o
compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um
ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses
se torna tambeacutem um mediador
() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)
A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo
que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger
2006 p 47)
Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento
entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um
processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas
diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo
presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando
diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao
contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante
No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob
alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das
ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de
intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em
conta a subjetividade inerente aos mesmos
O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento
das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso
comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises
rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores
naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu
grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais
fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de
18
campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do
juriacutedico do psicoloacutegico do social etc
Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na
sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a
quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns
naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo
novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os
entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas
eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais
americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente
como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que
somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as
partes
No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem
recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da
deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu
texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo
()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)
Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser
utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em
diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e
eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de
consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf
19
situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias
com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua
aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir
sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do
senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais
educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que
qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse
processo
A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se
chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas
segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o
que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais
brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes
envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o
processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da
chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de
processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua
resoluccedilatildeo final
O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo
bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado
o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu
criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar
20
bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre
as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da
mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa
convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O
mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-
se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos
Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum
deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela
ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo
bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo
Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em
momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees
bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a
conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do
desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador
bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador
deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve
garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo
destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A
confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de
ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos
Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de
mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo
Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e
o modelo de Warat
241- Modelo Tradicional de Harvard
21
O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
22
bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
24
Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
7
METODOLOGIA
O presente trabalho foi desenvolvido atraveacutes da utilizaccedilatildeo de
bibliografia especiacutefica agrave aacuterea da mediaccedilatildeo de conflitos tanto no acircmbito do
Direito como nas aacutereas do social e da psicologia bem como agrave Psicanaacutelise
Utilizou-se de pesquisas por meio eletrocircnico ndashinternet- e das anotaccedilotildees das
aulas do Curso de Mediaccedilatildeo da AVM
8
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO09
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
Liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49 WEBGRAFIA51 IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
9
INTRODUCcedilAtildeO
A presente monografia teve como intenccedilatildeo discutir a relaccedilatildeo entre
praacuteticas que colocam o ser humano em dois niacuteveis de conhecimento de um
lado enquanto ser social lidando conscientemente com seus avatares
conhecedor do mundo que o cerca e certo de suas interpretaccedilotildees da realidade
objetiva de outro enquanto ser inconsciente mestre de seus desiacutegnios poreacutem
sem mesmo o saber Como articular esta dualidade humana enquanto ser da
consciecircncia e ser portador de um inconsciente dinacircmico
O ser humano envolve-se no seu dia-a-dia com as mais diversas
tarefas inserido no meio social onde convive com seus semelhantes ora de
forma paciacutefica ora atormentado por conflitos provenientes destas relaccedilotildees
Resultando das vicissitudes agraves quais o indiviacuteduo se sujeita ao conviver
socialmente o encontramos agraves vezes em embates que o transtornam havendo
daiacute uma seacuterie de consequumlecircncias seja de ordem social ou emocional
No campo da cliacutenica psicanaliacutetica muitas vezes recebemos sujeitos
no consultoacuterio nos trazendo queixas de muita anguacutestia mal-estar emocional
depressatildeo profunda Ao o escutar o psicanalista natildeo deixa de perceber o
contexto social que estaacute inserido e detecta indiscutivelmente que muitas delas
foram ou satildeo produzidas por conflitos gerados a partir de desentendimentos
familiares profissionais fraternais A teacutecnica psicanaliacutetica baseada nos
ensinamentos de Freud natildeo trataraacute das relaccedilotildees sociais nas quais o indiviacuteduo
estaacute inserido apesar de natildeo desconhecer a influecircncia que causam em sua
patologia No entanto natildeo deixa-se de perceber o quanto muitas vezes no
acirramento do conflito desses laccedilos afetivos trazem a piora dos sintomas do
indiviacuteduo e o jogam num buraco cada vez maior de anguacutestia Infelizmente a
psicanaacutelise nem sempre possui o tempo necessaacuterio para intervir sobre o
acirramento dos sintomas chegando o paciente a necessitar do uso de
medicamentos antidepressivos ansioliacuteticos controladores do humor
antipsicotizantes para minimizar seu mal-estar psiacutequico Como praacutetica
terapecircutica nem sempre a psicanaacutelise consegue dar conta do grande volume
de questotildees relacionadas agrave problemaacutetica das relaccedilotildees entre pessoas e desta
forma pergunta-se a partir do conhecimento obtido atraveacutes do ensinamento
10
sobre a Mediaccedilatildeo de Conflitos se seria possiacutevel num determinado momento
de um tratamento psicanaliacutetico lanccedilar matildeo das teacutecnicas da mediaccedilatildeo
objetivando a dissoluccedilatildeo do mal-estar relacional aiacute intricado
Pensar nesta possibilidade foi o mote desta pesquisa e para
responder agrave pergunta ldquoa teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos pode ser aplicada
como parte integrante do tratamento psicanaliacuteticordquo foram necessaacuterias muitas
horas de leitura e de elaboraccedilatildeo de conclusotildees
A tarefa do psicanalista assim como a do mediador natildeo eacute nem um
pouco suave Lidando com conflitos incessantemente em todos os dias de sua
praacutetica profissional depara-se com situaccedilotildees que lhe exigem muita experiecircncia
e sabedoria necessitando de muita criatividade para dar continuidade aos
processos que ambos iniciaram cada um em seu campo
Em psicanaacutelise discutimos incessantemente a posiccedilatildeo do analista
num contexto eacutetico em relaccedilatildeo agrave sua praacutetica e em relaccedilatildeo ao seu ser Ao
psicanalista corresponde o lugar da escuta do inconsciente intervindo com seu
ato analiacutetico sobre o significante que desponta do inconsciente do paciente
fazendo-o ressignificar sua posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao desejo A escuta em
atenccedilatildeo flutuante permite que o paciente desenrole sua histoacuteria a partir de seu
ponto de vista ou melhor a partir de sua realidade psiacutequica traccedilando
livremente o seu caminho para chegar agraves suas proacuteprias conclusotildees poreacutem
natildeo sem o ato analiacutetico que pontua o que o inconsciente insistentemente daacute
provas de sua existecircncia ndash atos falhos sonhos lembranccedilas etc
Em mediaccedilatildeo o mediador seraacute orientado tambeacutem por uma eacutetica
que o coloca como terceiro imparcial mas com escuta atenta e isenta de juiacutezo
de valor possibilitando que as partes envolvidas no conflito possam chegar por
si mesmas a uma soluccedilatildeo O mediador de certa forma e sem saber se torna
muitas vezes testemunha do afloramento inconsciente daqueles que medeia
Assim nesta correlaccedilatildeo de posiccedilotildees eacuteticas de um e de outro haveraacute
alguma forma de um se beneficiar do campo de conhecimento do outro Esta
pergunta seraacute esclarecida ao longo das proacuteximas paacuteginas chegando adiante a
alguma conclusatildeo ainda aqui sem certezas Portanto vamos ao trabalho
11
CAPIacuteTULO I
TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA
O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)
As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves
relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees
atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na
essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual
quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas
entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das
emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No
embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais
profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre
subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como
superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois
natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na
sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da
contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como
um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e
que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade
entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No
entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar
a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo
que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se
faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social
Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a
12
diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1
Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto
negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de
aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra
briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de
Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo
poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente
positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral
inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se
portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz
entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho
aproximaccedilatildeo(idem)
Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual
as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a
accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem
contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre
se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno
surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate
Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais
do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da
uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo
interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto
de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual
1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG
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de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos
processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou
construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro
dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a
atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se
expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute
atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o
conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de
valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes
estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda
De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos
autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito
promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes
interrompidos pelo conflito
Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)
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CAPIacuteTULO II
A MEDIACcedilAtildeO
21- Definiccedilatildeo
Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico
informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial
Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute
mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em
princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise
A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2
No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a
soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica
adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de
resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da
comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do
endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se
ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a
possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das
contraposiccedilotildees entre as partes
As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)
encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de
2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo
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forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive
financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as
partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e
mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento
das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor
f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees
etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses
divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a
reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e
proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se
mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e
consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem
tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como
sobre si proacuteprio
22- Origens
A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute
reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada
nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma
La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3
Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se
encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas
Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior
baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista
3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId
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Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de
forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e
ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como
sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades
natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o
mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte
de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional
com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer
existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo
acompanhados de novas exigecircncias
Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de
Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental
desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua
que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos
Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade
moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as
controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e
posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os
mesmos
Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de
intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus
propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir
a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis
e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos
(Egger 2006 p 42)
Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)
()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos
Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar
na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no
acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar
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trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o
compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um
ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses
se torna tambeacutem um mediador
() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)
A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo
que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger
2006 p 47)
Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento
entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um
processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas
diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo
presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando
diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao
contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante
No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob
alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das
ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de
intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em
conta a subjetividade inerente aos mesmos
O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento
das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso
comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises
rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores
naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu
grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais
fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de
18
campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do
juriacutedico do psicoloacutegico do social etc
Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na
sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a
quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns
naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo
novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os
entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas
eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais
americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente
como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que
somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as
partes
No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem
recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da
deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu
texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo
()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)
Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser
utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em
diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e
eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de
consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf
19
situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias
com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua
aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir
sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do
senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais
educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que
qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse
processo
A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se
chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas
segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o
que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais
brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes
envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o
processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da
chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de
processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua
resoluccedilatildeo final
O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo
bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado
o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu
criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar
20
bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre
as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da
mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa
convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O
mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-
se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos
Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum
deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela
ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo
bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo
Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em
momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees
bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a
conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do
desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador
bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador
deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve
garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo
destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A
confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de
ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos
Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de
mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo
Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e
o modelo de Warat
241- Modelo Tradicional de Harvard
21
O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
22
bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
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Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
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natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
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problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
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configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
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adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
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de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
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CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
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formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
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brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
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naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
8
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO09
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
Liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49 WEBGRAFIA51 IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
9
INTRODUCcedilAtildeO
A presente monografia teve como intenccedilatildeo discutir a relaccedilatildeo entre
praacuteticas que colocam o ser humano em dois niacuteveis de conhecimento de um
lado enquanto ser social lidando conscientemente com seus avatares
conhecedor do mundo que o cerca e certo de suas interpretaccedilotildees da realidade
objetiva de outro enquanto ser inconsciente mestre de seus desiacutegnios poreacutem
sem mesmo o saber Como articular esta dualidade humana enquanto ser da
consciecircncia e ser portador de um inconsciente dinacircmico
O ser humano envolve-se no seu dia-a-dia com as mais diversas
tarefas inserido no meio social onde convive com seus semelhantes ora de
forma paciacutefica ora atormentado por conflitos provenientes destas relaccedilotildees
Resultando das vicissitudes agraves quais o indiviacuteduo se sujeita ao conviver
socialmente o encontramos agraves vezes em embates que o transtornam havendo
daiacute uma seacuterie de consequumlecircncias seja de ordem social ou emocional
No campo da cliacutenica psicanaliacutetica muitas vezes recebemos sujeitos
no consultoacuterio nos trazendo queixas de muita anguacutestia mal-estar emocional
depressatildeo profunda Ao o escutar o psicanalista natildeo deixa de perceber o
contexto social que estaacute inserido e detecta indiscutivelmente que muitas delas
foram ou satildeo produzidas por conflitos gerados a partir de desentendimentos
familiares profissionais fraternais A teacutecnica psicanaliacutetica baseada nos
ensinamentos de Freud natildeo trataraacute das relaccedilotildees sociais nas quais o indiviacuteduo
estaacute inserido apesar de natildeo desconhecer a influecircncia que causam em sua
patologia No entanto natildeo deixa-se de perceber o quanto muitas vezes no
acirramento do conflito desses laccedilos afetivos trazem a piora dos sintomas do
indiviacuteduo e o jogam num buraco cada vez maior de anguacutestia Infelizmente a
psicanaacutelise nem sempre possui o tempo necessaacuterio para intervir sobre o
acirramento dos sintomas chegando o paciente a necessitar do uso de
medicamentos antidepressivos ansioliacuteticos controladores do humor
antipsicotizantes para minimizar seu mal-estar psiacutequico Como praacutetica
terapecircutica nem sempre a psicanaacutelise consegue dar conta do grande volume
de questotildees relacionadas agrave problemaacutetica das relaccedilotildees entre pessoas e desta
forma pergunta-se a partir do conhecimento obtido atraveacutes do ensinamento
10
sobre a Mediaccedilatildeo de Conflitos se seria possiacutevel num determinado momento
de um tratamento psicanaliacutetico lanccedilar matildeo das teacutecnicas da mediaccedilatildeo
objetivando a dissoluccedilatildeo do mal-estar relacional aiacute intricado
Pensar nesta possibilidade foi o mote desta pesquisa e para
responder agrave pergunta ldquoa teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos pode ser aplicada
como parte integrante do tratamento psicanaliacuteticordquo foram necessaacuterias muitas
horas de leitura e de elaboraccedilatildeo de conclusotildees
A tarefa do psicanalista assim como a do mediador natildeo eacute nem um
pouco suave Lidando com conflitos incessantemente em todos os dias de sua
praacutetica profissional depara-se com situaccedilotildees que lhe exigem muita experiecircncia
e sabedoria necessitando de muita criatividade para dar continuidade aos
processos que ambos iniciaram cada um em seu campo
Em psicanaacutelise discutimos incessantemente a posiccedilatildeo do analista
num contexto eacutetico em relaccedilatildeo agrave sua praacutetica e em relaccedilatildeo ao seu ser Ao
psicanalista corresponde o lugar da escuta do inconsciente intervindo com seu
ato analiacutetico sobre o significante que desponta do inconsciente do paciente
fazendo-o ressignificar sua posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao desejo A escuta em
atenccedilatildeo flutuante permite que o paciente desenrole sua histoacuteria a partir de seu
ponto de vista ou melhor a partir de sua realidade psiacutequica traccedilando
livremente o seu caminho para chegar agraves suas proacuteprias conclusotildees poreacutem
natildeo sem o ato analiacutetico que pontua o que o inconsciente insistentemente daacute
provas de sua existecircncia ndash atos falhos sonhos lembranccedilas etc
Em mediaccedilatildeo o mediador seraacute orientado tambeacutem por uma eacutetica
que o coloca como terceiro imparcial mas com escuta atenta e isenta de juiacutezo
de valor possibilitando que as partes envolvidas no conflito possam chegar por
si mesmas a uma soluccedilatildeo O mediador de certa forma e sem saber se torna
muitas vezes testemunha do afloramento inconsciente daqueles que medeia
Assim nesta correlaccedilatildeo de posiccedilotildees eacuteticas de um e de outro haveraacute
alguma forma de um se beneficiar do campo de conhecimento do outro Esta
pergunta seraacute esclarecida ao longo das proacuteximas paacuteginas chegando adiante a
alguma conclusatildeo ainda aqui sem certezas Portanto vamos ao trabalho
11
CAPIacuteTULO I
TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA
O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)
As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves
relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees
atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na
essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual
quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas
entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das
emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No
embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais
profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre
subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como
superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois
natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na
sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da
contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como
um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e
que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade
entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No
entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar
a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo
que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se
faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social
Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a
12
diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1
Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto
negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de
aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra
briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de
Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo
poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente
positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral
inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se
portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz
entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho
aproximaccedilatildeo(idem)
Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual
as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a
accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem
contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre
se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno
surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate
Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais
do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da
uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo
interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto
de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual
1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG
13
de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos
processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou
construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro
dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a
atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se
expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute
atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o
conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de
valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes
estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda
De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos
autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito
promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes
interrompidos pelo conflito
Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)
14
CAPIacuteTULO II
A MEDIACcedilAtildeO
21- Definiccedilatildeo
Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico
informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial
Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute
mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em
princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise
A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2
No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a
soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica
adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de
resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da
comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do
endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se
ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a
possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das
contraposiccedilotildees entre as partes
As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)
encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de
2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo
15
forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive
financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as
partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e
mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento
das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor
f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees
etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses
divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a
reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e
proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se
mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e
consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem
tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como
sobre si proacuteprio
22- Origens
A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute
reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada
nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma
La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3
Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se
encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas
Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior
baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista
3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId
16
Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de
forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e
ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como
sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades
natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o
mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte
de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional
com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer
existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo
acompanhados de novas exigecircncias
Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de
Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental
desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua
que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos
Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade
moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as
controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e
posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os
mesmos
Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de
intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus
propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir
a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis
e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos
(Egger 2006 p 42)
Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)
()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos
Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar
na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no
acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar
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trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o
compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um
ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses
se torna tambeacutem um mediador
() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)
A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo
que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger
2006 p 47)
Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento
entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um
processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas
diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo
presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando
diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao
contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante
No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob
alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das
ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de
intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em
conta a subjetividade inerente aos mesmos
O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento
das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso
comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises
rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores
naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu
grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais
fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de
18
campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do
juriacutedico do psicoloacutegico do social etc
Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na
sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a
quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns
naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo
novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os
entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas
eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais
americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente
como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que
somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as
partes
No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem
recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da
deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu
texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo
()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)
Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser
utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em
diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e
eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de
consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf
19
situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias
com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua
aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir
sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do
senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais
educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que
qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse
processo
A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se
chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas
segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o
que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais
brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes
envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o
processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da
chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de
processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua
resoluccedilatildeo final
O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo
bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado
o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu
criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar
20
bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre
as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da
mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa
convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O
mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-
se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos
Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum
deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela
ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo
bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo
Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em
momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees
bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a
conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do
desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador
bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador
deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve
garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo
destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A
confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de
ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos
Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de
mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo
Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e
o modelo de Warat
241- Modelo Tradicional de Harvard
21
O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
22
bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
24
Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
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que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
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contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
9
INTRODUCcedilAtildeO
A presente monografia teve como intenccedilatildeo discutir a relaccedilatildeo entre
praacuteticas que colocam o ser humano em dois niacuteveis de conhecimento de um
lado enquanto ser social lidando conscientemente com seus avatares
conhecedor do mundo que o cerca e certo de suas interpretaccedilotildees da realidade
objetiva de outro enquanto ser inconsciente mestre de seus desiacutegnios poreacutem
sem mesmo o saber Como articular esta dualidade humana enquanto ser da
consciecircncia e ser portador de um inconsciente dinacircmico
O ser humano envolve-se no seu dia-a-dia com as mais diversas
tarefas inserido no meio social onde convive com seus semelhantes ora de
forma paciacutefica ora atormentado por conflitos provenientes destas relaccedilotildees
Resultando das vicissitudes agraves quais o indiviacuteduo se sujeita ao conviver
socialmente o encontramos agraves vezes em embates que o transtornam havendo
daiacute uma seacuterie de consequumlecircncias seja de ordem social ou emocional
No campo da cliacutenica psicanaliacutetica muitas vezes recebemos sujeitos
no consultoacuterio nos trazendo queixas de muita anguacutestia mal-estar emocional
depressatildeo profunda Ao o escutar o psicanalista natildeo deixa de perceber o
contexto social que estaacute inserido e detecta indiscutivelmente que muitas delas
foram ou satildeo produzidas por conflitos gerados a partir de desentendimentos
familiares profissionais fraternais A teacutecnica psicanaliacutetica baseada nos
ensinamentos de Freud natildeo trataraacute das relaccedilotildees sociais nas quais o indiviacuteduo
estaacute inserido apesar de natildeo desconhecer a influecircncia que causam em sua
patologia No entanto natildeo deixa-se de perceber o quanto muitas vezes no
acirramento do conflito desses laccedilos afetivos trazem a piora dos sintomas do
indiviacuteduo e o jogam num buraco cada vez maior de anguacutestia Infelizmente a
psicanaacutelise nem sempre possui o tempo necessaacuterio para intervir sobre o
acirramento dos sintomas chegando o paciente a necessitar do uso de
medicamentos antidepressivos ansioliacuteticos controladores do humor
antipsicotizantes para minimizar seu mal-estar psiacutequico Como praacutetica
terapecircutica nem sempre a psicanaacutelise consegue dar conta do grande volume
de questotildees relacionadas agrave problemaacutetica das relaccedilotildees entre pessoas e desta
forma pergunta-se a partir do conhecimento obtido atraveacutes do ensinamento
10
sobre a Mediaccedilatildeo de Conflitos se seria possiacutevel num determinado momento
de um tratamento psicanaliacutetico lanccedilar matildeo das teacutecnicas da mediaccedilatildeo
objetivando a dissoluccedilatildeo do mal-estar relacional aiacute intricado
Pensar nesta possibilidade foi o mote desta pesquisa e para
responder agrave pergunta ldquoa teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos pode ser aplicada
como parte integrante do tratamento psicanaliacuteticordquo foram necessaacuterias muitas
horas de leitura e de elaboraccedilatildeo de conclusotildees
A tarefa do psicanalista assim como a do mediador natildeo eacute nem um
pouco suave Lidando com conflitos incessantemente em todos os dias de sua
praacutetica profissional depara-se com situaccedilotildees que lhe exigem muita experiecircncia
e sabedoria necessitando de muita criatividade para dar continuidade aos
processos que ambos iniciaram cada um em seu campo
Em psicanaacutelise discutimos incessantemente a posiccedilatildeo do analista
num contexto eacutetico em relaccedilatildeo agrave sua praacutetica e em relaccedilatildeo ao seu ser Ao
psicanalista corresponde o lugar da escuta do inconsciente intervindo com seu
ato analiacutetico sobre o significante que desponta do inconsciente do paciente
fazendo-o ressignificar sua posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao desejo A escuta em
atenccedilatildeo flutuante permite que o paciente desenrole sua histoacuteria a partir de seu
ponto de vista ou melhor a partir de sua realidade psiacutequica traccedilando
livremente o seu caminho para chegar agraves suas proacuteprias conclusotildees poreacutem
natildeo sem o ato analiacutetico que pontua o que o inconsciente insistentemente daacute
provas de sua existecircncia ndash atos falhos sonhos lembranccedilas etc
Em mediaccedilatildeo o mediador seraacute orientado tambeacutem por uma eacutetica
que o coloca como terceiro imparcial mas com escuta atenta e isenta de juiacutezo
de valor possibilitando que as partes envolvidas no conflito possam chegar por
si mesmas a uma soluccedilatildeo O mediador de certa forma e sem saber se torna
muitas vezes testemunha do afloramento inconsciente daqueles que medeia
Assim nesta correlaccedilatildeo de posiccedilotildees eacuteticas de um e de outro haveraacute
alguma forma de um se beneficiar do campo de conhecimento do outro Esta
pergunta seraacute esclarecida ao longo das proacuteximas paacuteginas chegando adiante a
alguma conclusatildeo ainda aqui sem certezas Portanto vamos ao trabalho
11
CAPIacuteTULO I
TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA
O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)
As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves
relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees
atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na
essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual
quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas
entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das
emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No
embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais
profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre
subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como
superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois
natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na
sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da
contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como
um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e
que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade
entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No
entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar
a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo
que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se
faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social
Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a
12
diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1
Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto
negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de
aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra
briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de
Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo
poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente
positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral
inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se
portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz
entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho
aproximaccedilatildeo(idem)
Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual
as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a
accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem
contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre
se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno
surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate
Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais
do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da
uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo
interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto
de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual
1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG
13
de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos
processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou
construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro
dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a
atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se
expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute
atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o
conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de
valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes
estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda
De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos
autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito
promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes
interrompidos pelo conflito
Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)
14
CAPIacuteTULO II
A MEDIACcedilAtildeO
21- Definiccedilatildeo
Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico
informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial
Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute
mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em
princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise
A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2
No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a
soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica
adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de
resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da
comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do
endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se
ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a
possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das
contraposiccedilotildees entre as partes
As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)
encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de
2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo
15
forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive
financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as
partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e
mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento
das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor
f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees
etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses
divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a
reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e
proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se
mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e
consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem
tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como
sobre si proacuteprio
22- Origens
A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute
reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada
nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma
La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3
Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se
encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas
Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior
baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista
3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId
16
Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de
forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e
ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como
sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades
natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o
mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte
de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional
com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer
existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo
acompanhados de novas exigecircncias
Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de
Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental
desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua
que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos
Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade
moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as
controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e
posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os
mesmos
Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de
intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus
propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir
a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis
e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos
(Egger 2006 p 42)
Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)
()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos
Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar
na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no
acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar
17
trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o
compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um
ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses
se torna tambeacutem um mediador
() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)
A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo
que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger
2006 p 47)
Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento
entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um
processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas
diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo
presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando
diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao
contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante
No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob
alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das
ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de
intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em
conta a subjetividade inerente aos mesmos
O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento
das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso
comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises
rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores
naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu
grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais
fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de
18
campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do
juriacutedico do psicoloacutegico do social etc
Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na
sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a
quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns
naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo
novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os
entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas
eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais
americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente
como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que
somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as
partes
No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem
recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da
deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu
texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo
()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)
Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser
utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em
diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e
eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de
consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf
19
situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias
com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua
aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir
sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do
senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais
educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que
qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse
processo
A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se
chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas
segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o
que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais
brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes
envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o
processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da
chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de
processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua
resoluccedilatildeo final
O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo
bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado
o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu
criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar
20
bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre
as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da
mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa
convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O
mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-
se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos
Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum
deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela
ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo
bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo
Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em
momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees
bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a
conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do
desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador
bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador
deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve
garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo
destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A
confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de
ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos
Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de
mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo
Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e
o modelo de Warat
241- Modelo Tradicional de Harvard
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O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
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bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
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242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
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Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
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natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
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ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
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problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
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acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
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configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
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adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
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de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
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CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
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formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
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que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
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CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
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Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
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desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
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contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
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lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
10
sobre a Mediaccedilatildeo de Conflitos se seria possiacutevel num determinado momento
de um tratamento psicanaliacutetico lanccedilar matildeo das teacutecnicas da mediaccedilatildeo
objetivando a dissoluccedilatildeo do mal-estar relacional aiacute intricado
Pensar nesta possibilidade foi o mote desta pesquisa e para
responder agrave pergunta ldquoa teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos pode ser aplicada
como parte integrante do tratamento psicanaliacuteticordquo foram necessaacuterias muitas
horas de leitura e de elaboraccedilatildeo de conclusotildees
A tarefa do psicanalista assim como a do mediador natildeo eacute nem um
pouco suave Lidando com conflitos incessantemente em todos os dias de sua
praacutetica profissional depara-se com situaccedilotildees que lhe exigem muita experiecircncia
e sabedoria necessitando de muita criatividade para dar continuidade aos
processos que ambos iniciaram cada um em seu campo
Em psicanaacutelise discutimos incessantemente a posiccedilatildeo do analista
num contexto eacutetico em relaccedilatildeo agrave sua praacutetica e em relaccedilatildeo ao seu ser Ao
psicanalista corresponde o lugar da escuta do inconsciente intervindo com seu
ato analiacutetico sobre o significante que desponta do inconsciente do paciente
fazendo-o ressignificar sua posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao desejo A escuta em
atenccedilatildeo flutuante permite que o paciente desenrole sua histoacuteria a partir de seu
ponto de vista ou melhor a partir de sua realidade psiacutequica traccedilando
livremente o seu caminho para chegar agraves suas proacuteprias conclusotildees poreacutem
natildeo sem o ato analiacutetico que pontua o que o inconsciente insistentemente daacute
provas de sua existecircncia ndash atos falhos sonhos lembranccedilas etc
Em mediaccedilatildeo o mediador seraacute orientado tambeacutem por uma eacutetica
que o coloca como terceiro imparcial mas com escuta atenta e isenta de juiacutezo
de valor possibilitando que as partes envolvidas no conflito possam chegar por
si mesmas a uma soluccedilatildeo O mediador de certa forma e sem saber se torna
muitas vezes testemunha do afloramento inconsciente daqueles que medeia
Assim nesta correlaccedilatildeo de posiccedilotildees eacuteticas de um e de outro haveraacute
alguma forma de um se beneficiar do campo de conhecimento do outro Esta
pergunta seraacute esclarecida ao longo das proacuteximas paacuteginas chegando adiante a
alguma conclusatildeo ainda aqui sem certezas Portanto vamos ao trabalho
11
CAPIacuteTULO I
TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA
O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)
As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves
relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees
atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na
essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual
quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas
entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das
emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No
embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais
profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre
subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como
superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois
natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na
sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da
contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como
um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e
que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade
entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No
entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar
a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo
que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se
faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social
Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a
12
diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1
Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto
negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de
aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra
briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de
Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo
poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente
positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral
inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se
portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz
entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho
aproximaccedilatildeo(idem)
Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual
as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a
accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem
contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre
se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno
surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate
Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais
do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da
uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo
interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto
de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual
1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG
13
de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos
processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou
construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro
dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a
atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se
expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute
atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o
conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de
valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes
estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda
De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos
autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito
promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes
interrompidos pelo conflito
Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)
14
CAPIacuteTULO II
A MEDIACcedilAtildeO
21- Definiccedilatildeo
Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico
informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial
Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute
mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em
princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise
A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2
No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a
soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica
adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de
resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da
comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do
endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se
ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a
possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das
contraposiccedilotildees entre as partes
As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)
encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de
2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo
15
forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive
financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as
partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e
mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento
das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor
f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees
etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses
divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a
reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e
proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se
mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e
consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem
tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como
sobre si proacuteprio
22- Origens
A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute
reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada
nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma
La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3
Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se
encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas
Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior
baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista
3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId
16
Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de
forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e
ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como
sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades
natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o
mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte
de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional
com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer
existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo
acompanhados de novas exigecircncias
Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de
Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental
desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua
que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos
Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade
moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as
controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e
posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os
mesmos
Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de
intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus
propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir
a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis
e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos
(Egger 2006 p 42)
Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)
()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos
Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar
na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no
acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar
17
trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o
compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um
ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses
se torna tambeacutem um mediador
() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)
A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo
que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger
2006 p 47)
Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento
entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um
processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas
diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo
presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando
diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao
contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante
No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob
alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das
ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de
intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em
conta a subjetividade inerente aos mesmos
O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento
das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso
comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises
rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores
naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu
grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais
fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de
18
campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do
juriacutedico do psicoloacutegico do social etc
Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na
sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a
quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns
naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo
novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os
entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas
eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais
americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente
como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que
somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as
partes
No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem
recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da
deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu
texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo
()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)
Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser
utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em
diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e
eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de
consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf
19
situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias
com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua
aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir
sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do
senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais
educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que
qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse
processo
A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se
chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas
segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o
que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais
brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes
envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o
processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da
chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de
processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua
resoluccedilatildeo final
O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo
bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado
o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu
criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar
20
bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre
as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da
mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa
convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O
mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-
se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos
Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum
deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela
ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo
bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo
Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em
momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees
bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a
conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do
desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador
bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador
deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve
garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo
destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A
confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de
ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos
Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de
mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo
Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e
o modelo de Warat
241- Modelo Tradicional de Harvard
21
O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
22
bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
24
Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
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brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
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o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
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que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
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CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
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Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
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desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
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contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
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lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
11
CAPIacuteTULO I
TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA
O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)
As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves
relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees
atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na
essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual
quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas
entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das
emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No
embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais
profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre
subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como
superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois
natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na
sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da
contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como
um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e
que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade
entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No
entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar
a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo
que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se
faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social
Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a
12
diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1
Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto
negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de
aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra
briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de
Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo
poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente
positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral
inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se
portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz
entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho
aproximaccedilatildeo(idem)
Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual
as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a
accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem
contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre
se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno
surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate
Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais
do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da
uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo
interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto
de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual
1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG
13
de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos
processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou
construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro
dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a
atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se
expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute
atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o
conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de
valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes
estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda
De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos
autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito
promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes
interrompidos pelo conflito
Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)
14
CAPIacuteTULO II
A MEDIACcedilAtildeO
21- Definiccedilatildeo
Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico
informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial
Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute
mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em
princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise
A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2
No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a
soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica
adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de
resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da
comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do
endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se
ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a
possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das
contraposiccedilotildees entre as partes
As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)
encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de
2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo
15
forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive
financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as
partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e
mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento
das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor
f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees
etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses
divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a
reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e
proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se
mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e
consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem
tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como
sobre si proacuteprio
22- Origens
A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute
reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada
nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma
La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3
Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se
encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas
Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior
baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista
3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId
16
Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de
forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e
ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como
sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades
natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o
mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte
de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional
com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer
existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo
acompanhados de novas exigecircncias
Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de
Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental
desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua
que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos
Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade
moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as
controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e
posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os
mesmos
Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de
intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus
propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir
a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis
e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos
(Egger 2006 p 42)
Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)
()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos
Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar
na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no
acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar
17
trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o
compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um
ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses
se torna tambeacutem um mediador
() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)
A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo
que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger
2006 p 47)
Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento
entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um
processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas
diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo
presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando
diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao
contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante
No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob
alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das
ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de
intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em
conta a subjetividade inerente aos mesmos
O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento
das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso
comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises
rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores
naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu
grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais
fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de
18
campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do
juriacutedico do psicoloacutegico do social etc
Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na
sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a
quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns
naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo
novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os
entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas
eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais
americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente
como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que
somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as
partes
No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem
recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da
deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu
texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo
()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)
Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser
utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em
diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e
eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de
consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf
19
situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias
com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua
aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir
sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do
senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais
educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que
qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse
processo
A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se
chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas
segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o
que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais
brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes
envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o
processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da
chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de
processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua
resoluccedilatildeo final
O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo
bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado
o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu
criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar
20
bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre
as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da
mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa
convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O
mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-
se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos
Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum
deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela
ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo
bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo
Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em
momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees
bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a
conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do
desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador
bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador
deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve
garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo
destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A
confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de
ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos
Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de
mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo
Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e
o modelo de Warat
241- Modelo Tradicional de Harvard
21
O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
22
bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
24
Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
36
CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
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contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
12
diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1
Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto
negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de
aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra
briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de
Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo
poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente
positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral
inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se
portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz
entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho
aproximaccedilatildeo(idem)
Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual
as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a
accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem
contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre
se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno
surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate
Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais
do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da
uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo
interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto
de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual
1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG
13
de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos
processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou
construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro
dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a
atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se
expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute
atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o
conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de
valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes
estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda
De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos
autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito
promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes
interrompidos pelo conflito
Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)
14
CAPIacuteTULO II
A MEDIACcedilAtildeO
21- Definiccedilatildeo
Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico
informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial
Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute
mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em
princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise
A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2
No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a
soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica
adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de
resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da
comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do
endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se
ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a
possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das
contraposiccedilotildees entre as partes
As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)
encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de
2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo
15
forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive
financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as
partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e
mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento
das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor
f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees
etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses
divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a
reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e
proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se
mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e
consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem
tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como
sobre si proacuteprio
22- Origens
A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute
reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada
nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma
La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3
Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se
encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas
Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior
baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista
3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId
16
Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de
forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e
ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como
sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades
natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o
mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte
de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional
com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer
existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo
acompanhados de novas exigecircncias
Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de
Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental
desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua
que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos
Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade
moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as
controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e
posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os
mesmos
Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de
intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus
propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir
a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis
e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos
(Egger 2006 p 42)
Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)
()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos
Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar
na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no
acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar
17
trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o
compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um
ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses
se torna tambeacutem um mediador
() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)
A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo
que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger
2006 p 47)
Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento
entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um
processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas
diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo
presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando
diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao
contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante
No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob
alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das
ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de
intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em
conta a subjetividade inerente aos mesmos
O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento
das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso
comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises
rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores
naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu
grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais
fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de
18
campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do
juriacutedico do psicoloacutegico do social etc
Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na
sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a
quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns
naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo
novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os
entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas
eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais
americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente
como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que
somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as
partes
No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem
recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da
deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu
texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo
()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)
Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser
utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em
diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e
eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de
consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf
19
situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias
com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua
aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir
sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do
senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais
educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que
qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse
processo
A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se
chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas
segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o
que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais
brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes
envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o
processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da
chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de
processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua
resoluccedilatildeo final
O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo
bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado
o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu
criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar
20
bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre
as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da
mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa
convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O
mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-
se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos
Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum
deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela
ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo
bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo
Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em
momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees
bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a
conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do
desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador
bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador
deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve
garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo
destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A
confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de
ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos
Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de
mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo
Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e
o modelo de Warat
241- Modelo Tradicional de Harvard
21
O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
22
bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
24
Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
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de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
36
CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
13
de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos
processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou
construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro
dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a
atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se
expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute
atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o
conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de
valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes
estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda
De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos
autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito
promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes
interrompidos pelo conflito
Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)
14
CAPIacuteTULO II
A MEDIACcedilAtildeO
21- Definiccedilatildeo
Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico
informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial
Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute
mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em
princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise
A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2
No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a
soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica
adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de
resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da
comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do
endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se
ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a
possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das
contraposiccedilotildees entre as partes
As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)
encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de
2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo
15
forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive
financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as
partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e
mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento
das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor
f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees
etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses
divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a
reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e
proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se
mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e
consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem
tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como
sobre si proacuteprio
22- Origens
A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute
reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada
nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma
La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3
Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se
encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas
Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior
baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista
3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId
16
Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de
forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e
ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como
sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades
natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o
mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte
de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional
com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer
existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo
acompanhados de novas exigecircncias
Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de
Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental
desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua
que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos
Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade
moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as
controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e
posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os
mesmos
Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de
intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus
propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir
a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis
e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos
(Egger 2006 p 42)
Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)
()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos
Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar
na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no
acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar
17
trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o
compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um
ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses
se torna tambeacutem um mediador
() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)
A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo
que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger
2006 p 47)
Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento
entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um
processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas
diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo
presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando
diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao
contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante
No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob
alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das
ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de
intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em
conta a subjetividade inerente aos mesmos
O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento
das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso
comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises
rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores
naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu
grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais
fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de
18
campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do
juriacutedico do psicoloacutegico do social etc
Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na
sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a
quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns
naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo
novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os
entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas
eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais
americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente
como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que
somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as
partes
No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem
recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da
deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu
texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo
()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)
Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser
utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em
diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e
eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de
consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf
19
situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias
com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua
aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir
sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do
senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais
educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que
qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse
processo
A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se
chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas
segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o
que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais
brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes
envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o
processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da
chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de
processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua
resoluccedilatildeo final
O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo
bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado
o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu
criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar
20
bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre
as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da
mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa
convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O
mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-
se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos
Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum
deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela
ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo
bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo
Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em
momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees
bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a
conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do
desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador
bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador
deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve
garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo
destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A
confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de
ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos
Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de
mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo
Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e
o modelo de Warat
241- Modelo Tradicional de Harvard
21
O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
22
bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
24
Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
36
CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
14
CAPIacuteTULO II
A MEDIACcedilAtildeO
21- Definiccedilatildeo
Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico
informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial
Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute
mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em
princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise
A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2
No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a
soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica
adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de
resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da
comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do
endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se
ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a
possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das
contraposiccedilotildees entre as partes
As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)
encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de
2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo
15
forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive
financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as
partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e
mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento
das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor
f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees
etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses
divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a
reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e
proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se
mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e
consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem
tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como
sobre si proacuteprio
22- Origens
A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute
reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada
nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma
La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3
Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se
encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas
Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior
baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista
3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId
16
Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de
forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e
ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como
sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades
natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o
mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte
de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional
com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer
existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo
acompanhados de novas exigecircncias
Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de
Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental
desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua
que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos
Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade
moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as
controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e
posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os
mesmos
Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de
intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus
propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir
a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis
e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos
(Egger 2006 p 42)
Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)
()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos
Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar
na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no
acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar
17
trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o
compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um
ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses
se torna tambeacutem um mediador
() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)
A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo
que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger
2006 p 47)
Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento
entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um
processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas
diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo
presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando
diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao
contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante
No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob
alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das
ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de
intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em
conta a subjetividade inerente aos mesmos
O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento
das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso
comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises
rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores
naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu
grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais
fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de
18
campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do
juriacutedico do psicoloacutegico do social etc
Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na
sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a
quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns
naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo
novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os
entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas
eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais
americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente
como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que
somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as
partes
No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem
recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da
deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu
texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo
()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)
Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser
utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em
diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e
eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de
consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf
19
situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias
com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua
aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir
sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do
senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais
educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que
qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse
processo
A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se
chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas
segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o
que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais
brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes
envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o
processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da
chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de
processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua
resoluccedilatildeo final
O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo
bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado
o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu
criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar
20
bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre
as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da
mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa
convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O
mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-
se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos
Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum
deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela
ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo
bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo
Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em
momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees
bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a
conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do
desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador
bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador
deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve
garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo
destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A
confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de
ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos
Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de
mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo
Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e
o modelo de Warat
241- Modelo Tradicional de Harvard
21
O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
22
bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
24
Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
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problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
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configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
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adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
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de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
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CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
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formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
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brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
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naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
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o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
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que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
15
forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive
financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as
partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e
mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento
das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor
f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees
etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses
divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a
reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e
proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se
mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e
consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem
tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como
sobre si proacuteprio
22- Origens
A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute
reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada
nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma
La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3
Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se
encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas
Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior
baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista
3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId
16
Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de
forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e
ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como
sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades
natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o
mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte
de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional
com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer
existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo
acompanhados de novas exigecircncias
Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de
Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental
desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua
que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos
Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade
moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as
controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e
posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os
mesmos
Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de
intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus
propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir
a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis
e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos
(Egger 2006 p 42)
Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)
()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos
Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar
na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no
acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar
17
trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o
compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um
ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses
se torna tambeacutem um mediador
() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)
A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo
que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger
2006 p 47)
Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento
entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um
processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas
diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo
presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando
diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao
contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante
No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob
alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das
ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de
intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em
conta a subjetividade inerente aos mesmos
O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento
das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso
comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises
rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores
naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu
grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais
fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de
18
campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do
juriacutedico do psicoloacutegico do social etc
Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na
sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a
quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns
naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo
novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os
entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas
eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais
americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente
como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que
somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as
partes
No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem
recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da
deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu
texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo
()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)
Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser
utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em
diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e
eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de
consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf
19
situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias
com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua
aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir
sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do
senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais
educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que
qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse
processo
A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se
chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas
segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o
que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais
brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes
envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o
processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da
chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de
processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua
resoluccedilatildeo final
O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo
bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado
o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu
criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar
20
bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre
as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da
mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa
convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O
mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-
se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos
Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum
deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela
ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo
bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo
Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em
momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees
bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a
conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do
desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador
bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador
deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve
garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo
destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A
confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de
ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos
Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de
mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo
Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e
o modelo de Warat
241- Modelo Tradicional de Harvard
21
O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
22
bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
24
Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
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CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
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Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
16
Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de
forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e
ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como
sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades
natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o
mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte
de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional
com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer
existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo
acompanhados de novas exigecircncias
Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de
Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental
desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua
que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos
Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade
moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as
controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e
posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os
mesmos
Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de
intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus
propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir
a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis
e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos
(Egger 2006 p 42)
Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)
()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos
Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar
na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no
acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar
17
trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o
compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um
ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses
se torna tambeacutem um mediador
() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)
A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo
que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger
2006 p 47)
Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento
entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um
processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas
diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo
presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando
diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao
contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante
No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob
alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das
ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de
intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em
conta a subjetividade inerente aos mesmos
O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento
das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso
comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises
rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores
naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu
grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais
fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de
18
campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do
juriacutedico do psicoloacutegico do social etc
Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na
sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a
quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns
naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo
novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os
entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas
eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais
americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente
como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que
somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as
partes
No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem
recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da
deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu
texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo
()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)
Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser
utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em
diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e
eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de
consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf
19
situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias
com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua
aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir
sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do
senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais
educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que
qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse
processo
A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se
chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas
segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o
que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais
brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes
envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o
processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da
chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de
processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua
resoluccedilatildeo final
O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo
bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado
o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu
criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar
20
bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre
as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da
mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa
convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O
mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-
se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos
Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum
deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela
ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo
bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo
Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em
momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees
bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a
conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do
desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador
bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador
deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve
garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo
destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A
confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de
ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos
Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de
mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo
Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e
o modelo de Warat
241- Modelo Tradicional de Harvard
21
O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
22
bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
24
Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
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o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
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que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
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CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
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contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
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49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
17
trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o
compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um
ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses
se torna tambeacutem um mediador
() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)
A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo
que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger
2006 p 47)
Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento
entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um
processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas
diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo
presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando
diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao
contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante
No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob
alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das
ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de
intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em
conta a subjetividade inerente aos mesmos
O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento
das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso
comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises
rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores
naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu
grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais
fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de
18
campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do
juriacutedico do psicoloacutegico do social etc
Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na
sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a
quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns
naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo
novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os
entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas
eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais
americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente
como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que
somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as
partes
No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem
recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da
deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu
texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo
()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)
Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser
utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em
diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e
eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de
consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf
19
situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias
com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua
aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir
sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do
senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais
educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que
qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse
processo
A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se
chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas
segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o
que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais
brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes
envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o
processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da
chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de
processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua
resoluccedilatildeo final
O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo
bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado
o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu
criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar
20
bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre
as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da
mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa
convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O
mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-
se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos
Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum
deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela
ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo
bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo
Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em
momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees
bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a
conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do
desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador
bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador
deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve
garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo
destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A
confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de
ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos
Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de
mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo
Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e
o modelo de Warat
241- Modelo Tradicional de Harvard
21
O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
22
bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
24
Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
18
campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do
juriacutedico do psicoloacutegico do social etc
Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na
sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a
quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns
naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo
novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os
entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas
eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais
americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente
como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que
somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as
partes
No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem
recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da
deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu
texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo
()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)
Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser
utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em
diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e
eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de
consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf
19
situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias
com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua
aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir
sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do
senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais
educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que
qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse
processo
A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se
chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas
segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o
que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais
brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes
envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o
processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da
chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de
processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua
resoluccedilatildeo final
O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo
bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado
o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu
criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar
20
bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre
as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da
mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa
convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O
mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-
se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos
Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum
deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela
ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo
bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo
Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em
momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees
bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a
conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do
desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador
bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador
deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve
garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo
destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A
confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de
ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos
Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de
mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo
Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e
o modelo de Warat
241- Modelo Tradicional de Harvard
21
O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
22
bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
24
Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
36
CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
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que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
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contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
19
situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias
com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua
aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir
sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do
senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais
educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que
qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse
processo
A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se
chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas
segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o
que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais
brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes
envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o
processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da
chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de
processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua
resoluccedilatildeo final
O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo
bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado
o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu
criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar
20
bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre
as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da
mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa
convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O
mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-
se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos
Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum
deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela
ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo
bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo
Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em
momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees
bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a
conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do
desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador
bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador
deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve
garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo
destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A
confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de
ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos
Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de
mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo
Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e
o modelo de Warat
241- Modelo Tradicional de Harvard
21
O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
22
bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
24
Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
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CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
20
bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre
as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da
mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa
convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O
mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-
se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos
Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum
deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela
ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo
bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo
Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em
momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees
bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a
conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do
desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador
bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador
deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve
garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo
destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A
confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de
ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos
Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de
mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo
Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e
o modelo de Warat
241- Modelo Tradicional de Harvard
21
O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
22
bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
24
Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
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de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
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brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
21
O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo
(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-
leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar
as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar
opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu
objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para
soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois
deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade
de ganhos
Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal
linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute
tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel
objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No
contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um
eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas
objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o
que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma
cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram
no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade
de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de
recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso
na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard
instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo
bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se
as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de
ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante
que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam
justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no
conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o
problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees
individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real
visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma
soluccedilatildeo positiva para as partes
22
bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
24
Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
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brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
36
CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
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49
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52
OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011
ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos
conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid
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VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da
psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar
2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=
231518ampseo=1gt Visitado em 02062011
53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
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bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada
de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves
controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas
O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se
chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming
Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da
intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os
acircnimos acirrados pela disputa
bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes
envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes
os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo
devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos
pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees
com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que
permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum
criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves
dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo
desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios
que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute
fundamental para o processo
O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo
mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem
bull declaraccedilatildeo de abertura
bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes
bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos
bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e
sentimentos
bull resoluccedilatildeo de questotildees
Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos
demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de
etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
24
Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
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que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
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CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
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Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
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desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
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contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
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lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
23
242- Modelo Circular-Narrativo
O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara
Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria
geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de
uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as
histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob
este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva
narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)
Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade
num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria
de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas
num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova
interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos
impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses
Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo
em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada
envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim
traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista
que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a
construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em
relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo
Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)
() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente
5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V
24
Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
36
CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
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contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
24
Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos
simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees
possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os
viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em
princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como
conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo
eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem
aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos
possam existir
Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia
do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa
histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da
circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se
retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo
antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo
promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo
com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos
resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes
O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide
com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo
de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo
verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma
caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo
educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que
ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas
subjetivas nas pessoas que interagem no processo
243- Modelo Transformativo
Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria
sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre
as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
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CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
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Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
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contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
25
natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser
humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de
negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que
possam gerar crescimento pessoal
O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)
Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de
transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na
mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que
cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de
desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a
poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem
suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal
sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante
para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a
teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que
houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a
possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de
forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das
relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo
A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no
qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro
independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho
do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja
espontaneamente assumido pelas mesmas
A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo
6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
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o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
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que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
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CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
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Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
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desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
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contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
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lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
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diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
26
ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)
O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das
teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se
de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares
expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre
todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave
dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma
causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem
de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo
abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade
Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute
promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)
paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de
perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as
percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu
questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a
mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua
problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou
seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no
intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio
pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e
sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata
As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)
As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre
a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
36
CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
27
problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do
problema
O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com
objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar
semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de
conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de
si mesmo e o reconhecimento do outro
Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na
Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)
244- Modelo Transformador
Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e
professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela
Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia
Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de
Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees
O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as
partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura
diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o
processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees
conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat
propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da
interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
36
CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
28
acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a
autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a
uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo
mediador
Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um
processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo
necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no
campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a
origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas
consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira
transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes
levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que
versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se
satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma
resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das
emoccedilotildees
Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada
sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute
fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o
reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de
verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a
tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos
como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da
questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para
viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem
como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente
e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro
()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)
Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste
processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos
sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
29
configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro
mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com
conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras
O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito
agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute
visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um
passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como
parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados
apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam
exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito
de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia
gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as
necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo
e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema
como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de
descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos
envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro
sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo
exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado
na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a
singularidade de todos e por isso possui potencial transformador
Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da
pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva
de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem
sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo
do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o
conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise
tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia
contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva
conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o
outro alteridade etc
A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar
soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a
visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
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que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
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CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
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Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
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contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
30
adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo
Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta
questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio
necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir
contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a
emoccedilatildeordquo7
245- O papel do mediador
Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos
de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental
que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste
processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo
O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial
possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes
apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo
controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de
confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a
uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a
melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo
construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as
controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute
necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de
que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo
de qualquer decisatildeo por parte do mediador
Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar
qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo
acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas
caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem
negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve
motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as
do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
36
CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
31
de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve
incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e
natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para
investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo
com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a
que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo
Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal
fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a
expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes
de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc
A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua
formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de
forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das
distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a
retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As
intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de
positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo
Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo
e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da
transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua
subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito
mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as
partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees
Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da
mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo
aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das
relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
36
CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
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CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
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contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
32
CAPIacuteTULO III
CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA
A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das
neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose
obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do
sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito
no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual
se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente
produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O
conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em
diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as
defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou
seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo
O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a
sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua
vida
Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos
emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere
uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um
sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns
de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja
igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro
que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees
Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que
observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como
iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes
consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma
vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
36
CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
33
formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja
o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a
quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as
elaborou qualitativamente e isso difere para cada um
Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo
ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)
Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas
necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser
reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim
o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto
natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por
sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute
necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a
dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees
subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser
Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate
interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo
Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)
Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees
como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do
conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma
disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico
haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e
sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes
34
brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
36
CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
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FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
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brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra
com a prevalecircncia de uma delas
Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma
preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura
atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao
conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais
que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do
prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o
objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites
que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e
substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz
do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com
o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social
cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste
atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E
como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim
inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia
ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa
o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o
semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no
embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro
() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)
Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser
ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo
e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por
sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o
circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a
relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua
sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos
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naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
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CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
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o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
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que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
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CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
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Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
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desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
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contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
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lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
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CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
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diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
35
naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a
que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente
No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a
criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia
possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito
ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do
gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a
partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a
sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da
construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente
destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo
como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o
surgimento do conflito
Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)
Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010
36
CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
36
CAPIacuteTULO IV
PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA
Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis
dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em
intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em
matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas
religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras
nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser
controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que
mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal
natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao
pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve
tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em
defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de
opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar
sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em
todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias
aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates
Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise
demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para
compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode
desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes
presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o
social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao
grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
37
o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus
reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa
fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash
sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de
um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em
grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)
Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia
natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo
A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o
indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma
concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu
semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores
construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa
despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia
absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua
originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos
A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao
demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se
como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute
inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade
toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo
com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante
Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo
inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir
da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este
numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e
vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse
encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos
constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees
desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua
estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius
Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute
reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel
uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
38
comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas
tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores
inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos
Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos
instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos
instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico
freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria
que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo
geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de
forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres
na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles
satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua
passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos
vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar
Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para
diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e
o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida
sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees
sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator
quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma
ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122
apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte
objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos
nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila
do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de
ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem
simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser
emocional psiacutequico pulsional
O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do
dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos
e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem
do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte
Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar
implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
39
que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um
objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se
podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque
- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito
intrapsiacutequico
O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a
constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e
da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do
sujeito com o social e o cultural
O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)
E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos
que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as
neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem
relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o
outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo
Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das
pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas
trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio
das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se
refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a
cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar
delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee
constantemente
() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
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231518ampseo=1gt Visitado em 02062011
53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
40
esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)
A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio
social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade
no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no
entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente
fonte de sofrimento
O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam
estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de
domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da
agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma
de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a
formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses
agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam
o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento
da doenccedila (Freud 1913)
Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
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diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
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O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
AZEVEDO Andreacute Gomma de BARBOSA Ivan Machado (orgs) Estudos em
Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
FACULDADE DE DIREITO 2007
AZEVEDO A Gomma (org) Manual de Mediaccedilatildeo Judicial BrasiacuteliaDF
Ministeacuterio da Justiccedila e Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento ndash
PNUD 2009
CEZAR-FERREIRA Verocircnica A da M Famiacutelia separaccedilatildeo e mediaccedilatildeo uma
visatildeo psicojuriacutedica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Meacutetodo 2007
EGGER Ildemar Cultura da paz e mediaccedilatildeo uma experiecircncia c adolescentes
In Programa Reconhecer 2006 Resignificando o ensino de Direito e
construindo praacuteticas emancipatoacuterias Florianoacutepolis Editora Fundaccedilatildeo Boiteux
2008
FREUD S Ediccedilatildeo Standard Brasileira das Obras Completas Rio de Janeiro
Imago Editora Ltda 1972
KAUFMANN P Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Psicanaacutelise Rio de Janeiro
Jorge Zahar Editor 1996
LAPLANCHE J e PONTALIS JB Vocabulaacuterio da Psicanaacutelise 6ordf ediccedilatildeo Satildeo
Paulo Martins Fontes Editora Ltda 1967
OS PENSADORES Hegel Satildeo Paulo Nova Cultural Ltda1996
ROUDINESCO Elizabeth e PLON Michel Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor
1998
50
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51
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CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a
psicanaacutelise In wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria 20Giatti
20Carneiropdf Visitado em 04082011
FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da
superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista
eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011
FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-
tivo 1998 Visitado em 16082011
HEGEL In httpwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1uhpbhbvg
visitado em 10072011
ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo
urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia
Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008
LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para
a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
visitado em 04072011
LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo
transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=
revis ta _artigos_leituraampartigo_id=8622 Visitado em 08072011
52
OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011
ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos
conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid
visitado em 10042011
VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da
psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar
2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=
231518ampseo=1gt Visitado em 02062011
53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
41
CAPIacuteTULO V
A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O
TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO
A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute
em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os
litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os
conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a
comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)
Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os
demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo
parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo
social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo
agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas
proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou
mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se
constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez
que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha
inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular
tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a
constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou
mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees
estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas
interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo
ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a
convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que
um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a
relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo
mal-estar de uma discoacuterdia
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
AZEVEDO Andreacute Gomma de BARBOSA Ivan Machado (orgs) Estudos em
Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
FACULDADE DE DIREITO 2007
AZEVEDO A Gomma (org) Manual de Mediaccedilatildeo Judicial BrasiacuteliaDF
Ministeacuterio da Justiccedila e Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento ndash
PNUD 2009
CEZAR-FERREIRA Verocircnica A da M Famiacutelia separaccedilatildeo e mediaccedilatildeo uma
visatildeo psicojuriacutedica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Meacutetodo 2007
EGGER Ildemar Cultura da paz e mediaccedilatildeo uma experiecircncia c adolescentes
In Programa Reconhecer 2006 Resignificando o ensino de Direito e
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FREUD S Ediccedilatildeo Standard Brasileira das Obras Completas Rio de Janeiro
Imago Editora Ltda 1972
KAUFMANN P Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Psicanaacutelise Rio de Janeiro
Jorge Zahar Editor 1996
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ROUDINESCO Elizabeth e PLON Michel Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor
1998
50
WARAT Luiz Alberto (Org) Ecologia Psicanaacutelise e Mediaccedilatildeo Em nome do
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51
WEBGRAFIA
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CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a
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20Carneiropdf Visitado em 04082011
FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da
superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista
eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011
FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-
tivo 1998 Visitado em 16082011
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ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo
urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia
Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008
LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para
a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
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LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo
transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=
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OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011
ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos
conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid
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VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da
psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar
2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=
231518ampseo=1gt Visitado em 02062011
53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
42
Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas
Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8
Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos
Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo
terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o
profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre
irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes
enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que
sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com
pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na
forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um
adulto
Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-
se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas
atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por
essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar
diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo
representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui
intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional
cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave
presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de
outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa
forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo
suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das
quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu
8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
43
desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para
tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia
mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias
compulsotildees etc
Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar
formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a
demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as
certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de
mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica
bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus
estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal
Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo
pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado
obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias
luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros
Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o
conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees
importantes para o sujeito
O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se
aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do
enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso
que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das
emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter
resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente
conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o
processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias
No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico
da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo
de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma
pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre
as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees
inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o
aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que
a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
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diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
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O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
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urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia
Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008
LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para
a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
visitado em 04072011
LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo
transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=
revis ta _artigos_leituraampartigo_id=8622 Visitado em 08072011
52
OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011
ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos
conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid
visitado em 10042011
VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da
psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar
2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=
231518ampseo=1gt Visitado em 02062011
53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
44
contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo
pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de
ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato
de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia
psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave
tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa
anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas
arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na
contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica
estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao
Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via
consciente
Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da
mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas
observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre
conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas
posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas
deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute
redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das
partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua
subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir
da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em
que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar
avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos
inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar
certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa
anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um
processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o
dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar
repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes
O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos
na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social
como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam
elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
AZEVEDO Andreacute Gomma de BARBOSA Ivan Machado (orgs) Estudos em
Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
FACULDADE DE DIREITO 2007
AZEVEDO A Gomma (org) Manual de Mediaccedilatildeo Judicial BrasiacuteliaDF
Ministeacuterio da Justiccedila e Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento ndash
PNUD 2009
CEZAR-FERREIRA Verocircnica A da M Famiacutelia separaccedilatildeo e mediaccedilatildeo uma
visatildeo psicojuriacutedica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Meacutetodo 2007
EGGER Ildemar Cultura da paz e mediaccedilatildeo uma experiecircncia c adolescentes
In Programa Reconhecer 2006 Resignificando o ensino de Direito e
construindo praacuteticas emancipatoacuterias Florianoacutepolis Editora Fundaccedilatildeo Boiteux
2008
FREUD S Ediccedilatildeo Standard Brasileira das Obras Completas Rio de Janeiro
Imago Editora Ltda 1972
KAUFMANN P Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Psicanaacutelise Rio de Janeiro
Jorge Zahar Editor 1996
LAPLANCHE J e PONTALIS JB Vocabulaacuterio da Psicanaacutelise 6ordf ediccedilatildeo Satildeo
Paulo Martins Fontes Editora Ltda 1967
OS PENSADORES Hegel Satildeo Paulo Nova Cultural Ltda1996
ROUDINESCO Elizabeth e PLON Michel Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor
1998
50
WARAT Luiz Alberto (Org) Ecologia Psicanaacutelise e Mediaccedilatildeo Em nome do
acordo 2ordf ediccedilatildeo Argentina Almed 1999
51
WEBGRAFIA
BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de
conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a
psicanaacutelise In wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria 20Giatti
20Carneiropdf Visitado em 04082011
FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da
superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista
eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011
FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-
tivo 1998 Visitado em 16082011
HEGEL In httpwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1uhpbhbvg
visitado em 10072011
ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo
urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia
Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008
LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para
a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
visitado em 04072011
LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo
transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=
revis ta _artigos_leituraampartigo_id=8622 Visitado em 08072011
52
OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011
ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos
conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid
visitado em 10042011
VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da
psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar
2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=
231518ampseo=1gt Visitado em 02062011
53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
45
lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma
forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe
muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo
de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees
renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao
conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma
consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado
transformado
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
AZEVEDO Andreacute Gomma de BARBOSA Ivan Machado (orgs) Estudos em
Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
FACULDADE DE DIREITO 2007
AZEVEDO A Gomma (org) Manual de Mediaccedilatildeo Judicial BrasiacuteliaDF
Ministeacuterio da Justiccedila e Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento ndash
PNUD 2009
CEZAR-FERREIRA Verocircnica A da M Famiacutelia separaccedilatildeo e mediaccedilatildeo uma
visatildeo psicojuriacutedica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Meacutetodo 2007
EGGER Ildemar Cultura da paz e mediaccedilatildeo uma experiecircncia c adolescentes
In Programa Reconhecer 2006 Resignificando o ensino de Direito e
construindo praacuteticas emancipatoacuterias Florianoacutepolis Editora Fundaccedilatildeo Boiteux
2008
FREUD S Ediccedilatildeo Standard Brasileira das Obras Completas Rio de Janeiro
Imago Editora Ltda 1972
KAUFMANN P Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Psicanaacutelise Rio de Janeiro
Jorge Zahar Editor 1996
LAPLANCHE J e PONTALIS JB Vocabulaacuterio da Psicanaacutelise 6ordf ediccedilatildeo Satildeo
Paulo Martins Fontes Editora Ltda 1967
OS PENSADORES Hegel Satildeo Paulo Nova Cultural Ltda1996
ROUDINESCO Elizabeth e PLON Michel Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor
1998
50
WARAT Luiz Alberto (Org) Ecologia Psicanaacutelise e Mediaccedilatildeo Em nome do
acordo 2ordf ediccedilatildeo Argentina Almed 1999
51
WEBGRAFIA
BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de
conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a
psicanaacutelise In wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria 20Giatti
20Carneiropdf Visitado em 04082011
FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da
superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista
eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011
FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-
tivo 1998 Visitado em 16082011
HEGEL In httpwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1uhpbhbvg
visitado em 10072011
ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo
urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia
Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008
LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para
a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
visitado em 04072011
LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo
transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=
revis ta _artigos_leituraampartigo_id=8622 Visitado em 08072011
52
OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011
ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos
conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid
visitado em 10042011
VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da
psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar
2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=
231518ampseo=1gt Visitado em 02062011
53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
46
CONCLUSAtildeO
A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir
teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias
sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho
mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento
psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto
de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos
tribunais ou aos consultoacuterios particulares
A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi
possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de
entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles
onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se
contrapotildeem
A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute
amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos
sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de
ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios
fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os
efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando
esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua
importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao
qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou
paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto
como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento
podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo
A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um
tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo
poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida
com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute
considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
AZEVEDO Andreacute Gomma de BARBOSA Ivan Machado (orgs) Estudos em
Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
FACULDADE DE DIREITO 2007
AZEVEDO A Gomma (org) Manual de Mediaccedilatildeo Judicial BrasiacuteliaDF
Ministeacuterio da Justiccedila e Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento ndash
PNUD 2009
CEZAR-FERREIRA Verocircnica A da M Famiacutelia separaccedilatildeo e mediaccedilatildeo uma
visatildeo psicojuriacutedica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Meacutetodo 2007
EGGER Ildemar Cultura da paz e mediaccedilatildeo uma experiecircncia c adolescentes
In Programa Reconhecer 2006 Resignificando o ensino de Direito e
construindo praacuteticas emancipatoacuterias Florianoacutepolis Editora Fundaccedilatildeo Boiteux
2008
FREUD S Ediccedilatildeo Standard Brasileira das Obras Completas Rio de Janeiro
Imago Editora Ltda 1972
KAUFMANN P Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Psicanaacutelise Rio de Janeiro
Jorge Zahar Editor 1996
LAPLANCHE J e PONTALIS JB Vocabulaacuterio da Psicanaacutelise 6ordf ediccedilatildeo Satildeo
Paulo Martins Fontes Editora Ltda 1967
OS PENSADORES Hegel Satildeo Paulo Nova Cultural Ltda1996
ROUDINESCO Elizabeth e PLON Michel Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor
1998
50
WARAT Luiz Alberto (Org) Ecologia Psicanaacutelise e Mediaccedilatildeo Em nome do
acordo 2ordf ediccedilatildeo Argentina Almed 1999
51
WEBGRAFIA
BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de
conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a
psicanaacutelise In wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria 20Giatti
20Carneiropdf Visitado em 04082011
FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da
superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista
eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011
FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-
tivo 1998 Visitado em 16082011
HEGEL In httpwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1uhpbhbvg
visitado em 10072011
ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo
urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia
Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008
LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para
a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
visitado em 04072011
LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo
transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=
revis ta _artigos_leituraampartigo_id=8622 Visitado em 08072011
52
OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011
ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos
conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid
visitado em 10042011
VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da
psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar
2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=
231518ampseo=1gt Visitado em 02062011
53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
47
diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma
sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu
propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente
produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia
profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em
conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento
psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a
partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente
mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas
Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de
intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as
relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio
social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos
devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito
exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma
siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico
Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos
modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da
comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de
impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se
portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as
intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos
elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu
acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das
insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante
Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma
mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de
outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se
torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo
proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver
submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo
determinado
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
AZEVEDO Andreacute Gomma de BARBOSA Ivan Machado (orgs) Estudos em
Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
FACULDADE DE DIREITO 2007
AZEVEDO A Gomma (org) Manual de Mediaccedilatildeo Judicial BrasiacuteliaDF
Ministeacuterio da Justiccedila e Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento ndash
PNUD 2009
CEZAR-FERREIRA Verocircnica A da M Famiacutelia separaccedilatildeo e mediaccedilatildeo uma
visatildeo psicojuriacutedica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Meacutetodo 2007
EGGER Ildemar Cultura da paz e mediaccedilatildeo uma experiecircncia c adolescentes
In Programa Reconhecer 2006 Resignificando o ensino de Direito e
construindo praacuteticas emancipatoacuterias Florianoacutepolis Editora Fundaccedilatildeo Boiteux
2008
FREUD S Ediccedilatildeo Standard Brasileira das Obras Completas Rio de Janeiro
Imago Editora Ltda 1972
KAUFMANN P Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Psicanaacutelise Rio de Janeiro
Jorge Zahar Editor 1996
LAPLANCHE J e PONTALIS JB Vocabulaacuterio da Psicanaacutelise 6ordf ediccedilatildeo Satildeo
Paulo Martins Fontes Editora Ltda 1967
OS PENSADORES Hegel Satildeo Paulo Nova Cultural Ltda1996
ROUDINESCO Elizabeth e PLON Michel Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor
1998
50
WARAT Luiz Alberto (Org) Ecologia Psicanaacutelise e Mediaccedilatildeo Em nome do
acordo 2ordf ediccedilatildeo Argentina Almed 1999
51
WEBGRAFIA
BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de
conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a
psicanaacutelise In wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria 20Giatti
20Carneiropdf Visitado em 04082011
FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da
superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista
eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011
FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-
tivo 1998 Visitado em 16082011
HEGEL In httpwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1uhpbhbvg
visitado em 10072011
ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo
urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia
Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008
LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para
a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
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LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo
transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=
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52
OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011
ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos
conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid
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VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da
psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar
2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
48
O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas
subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute
inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito
interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista
para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir
da mediaccedilatildeo
Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual
possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de
futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como
praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo
entre elas
49
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
AZEVEDO Andreacute Gomma de BARBOSA Ivan Machado (orgs) Estudos em
Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
FACULDADE DE DIREITO 2007
AZEVEDO A Gomma (org) Manual de Mediaccedilatildeo Judicial BrasiacuteliaDF
Ministeacuterio da Justiccedila e Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento ndash
PNUD 2009
CEZAR-FERREIRA Verocircnica A da M Famiacutelia separaccedilatildeo e mediaccedilatildeo uma
visatildeo psicojuriacutedica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Meacutetodo 2007
EGGER Ildemar Cultura da paz e mediaccedilatildeo uma experiecircncia c adolescentes
In Programa Reconhecer 2006 Resignificando o ensino de Direito e
construindo praacuteticas emancipatoacuterias Florianoacutepolis Editora Fundaccedilatildeo Boiteux
2008
FREUD S Ediccedilatildeo Standard Brasileira das Obras Completas Rio de Janeiro
Imago Editora Ltda 1972
KAUFMANN P Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Psicanaacutelise Rio de Janeiro
Jorge Zahar Editor 1996
LAPLANCHE J e PONTALIS JB Vocabulaacuterio da Psicanaacutelise 6ordf ediccedilatildeo Satildeo
Paulo Martins Fontes Editora Ltda 1967
OS PENSADORES Hegel Satildeo Paulo Nova Cultural Ltda1996
ROUDINESCO Elizabeth e PLON Michel Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor
1998
50
WARAT Luiz Alberto (Org) Ecologia Psicanaacutelise e Mediaccedilatildeo Em nome do
acordo 2ordf ediccedilatildeo Argentina Almed 1999
51
WEBGRAFIA
BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de
conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a
psicanaacutelise In wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria 20Giatti
20Carneiropdf Visitado em 04082011
FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da
superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista
eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011
FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-
tivo 1998 Visitado em 16082011
HEGEL In httpwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1uhpbhbvg
visitado em 10072011
ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo
urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia
Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008
LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para
a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
visitado em 04072011
LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo
transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=
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52
OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011
ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos
conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid
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VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da
psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar
2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
49
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
AZEVEDO Andreacute Gomma de BARBOSA Ivan Machado (orgs) Estudos em
Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
FACULDADE DE DIREITO 2007
AZEVEDO A Gomma (org) Manual de Mediaccedilatildeo Judicial BrasiacuteliaDF
Ministeacuterio da Justiccedila e Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento ndash
PNUD 2009
CEZAR-FERREIRA Verocircnica A da M Famiacutelia separaccedilatildeo e mediaccedilatildeo uma
visatildeo psicojuriacutedica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Meacutetodo 2007
EGGER Ildemar Cultura da paz e mediaccedilatildeo uma experiecircncia c adolescentes
In Programa Reconhecer 2006 Resignificando o ensino de Direito e
construindo praacuteticas emancipatoacuterias Florianoacutepolis Editora Fundaccedilatildeo Boiteux
2008
FREUD S Ediccedilatildeo Standard Brasileira das Obras Completas Rio de Janeiro
Imago Editora Ltda 1972
KAUFMANN P Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Psicanaacutelise Rio de Janeiro
Jorge Zahar Editor 1996
LAPLANCHE J e PONTALIS JB Vocabulaacuterio da Psicanaacutelise 6ordf ediccedilatildeo Satildeo
Paulo Martins Fontes Editora Ltda 1967
OS PENSADORES Hegel Satildeo Paulo Nova Cultural Ltda1996
ROUDINESCO Elizabeth e PLON Michel Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor
1998
50
WARAT Luiz Alberto (Org) Ecologia Psicanaacutelise e Mediaccedilatildeo Em nome do
acordo 2ordf ediccedilatildeo Argentina Almed 1999
51
WEBGRAFIA
BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de
conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a
psicanaacutelise In wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria 20Giatti
20Carneiropdf Visitado em 04082011
FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da
superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista
eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011
FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-
tivo 1998 Visitado em 16082011
HEGEL In httpwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1uhpbhbvg
visitado em 10072011
ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo
urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia
Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008
LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para
a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
visitado em 04072011
LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo
transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=
revis ta _artigos_leituraampartigo_id=8622 Visitado em 08072011
52
OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011
ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos
conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid
visitado em 10042011
VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da
psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar
2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=
231518ampseo=1gt Visitado em 02062011
53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
50
WARAT Luiz Alberto (Org) Ecologia Psicanaacutelise e Mediaccedilatildeo Em nome do
acordo 2ordf ediccedilatildeo Argentina Almed 1999
51
WEBGRAFIA
BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de
conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a
psicanaacutelise In wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria 20Giatti
20Carneiropdf Visitado em 04082011
FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da
superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista
eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011
FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-
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HEGEL In httpwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1uhpbhbvg
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ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo
urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia
Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008
LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para
a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
visitado em 04072011
LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo
transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=
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OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011
ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos
conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid
visitado em 10042011
VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da
psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar
2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=
231518ampseo=1gt Visitado em 02062011
53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
51
WEBGRAFIA
BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de
conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a
psicanaacutelise In wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria 20Giatti
20Carneiropdf Visitado em 04082011
FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da
superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista
eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011
FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-
tivo 1998 Visitado em 16082011
HEGEL In httpwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1uhpbhbvg
visitado em 10072011
ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo
urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia
Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008
LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para
a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf
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LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo
transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=
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52
OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011
ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos
conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid
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VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da
psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar
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53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
52
OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011
ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos
conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid
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VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da
psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar
2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=
231518ampseo=1gt Visitado em 02062011
53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
Avaliado por Conceito
53
IacuteNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATOacuteRIA4
RESUMO5
METODOLOGIA7
SUMAacuteRIO8
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11
CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14
21- Definiccedilatildeo14
22- Origens15
23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19
24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20
241- Modelo Tradicional de Harvard20
242- Modelo Circular-Narrativo 22
243- Modelo Transformativo24
244- Modelo Transformador 27
245 O papel do Mediador30
CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32
CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36
CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-
liacutetico41
CONCLUSAtildeO46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
WEBGRAFIA51
IacuteNDICE53
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54
54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
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54
FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Nome da Instituiccedilatildeo
Tiacutetulo da Monografia
Autor
Data da Entrega
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