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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA PSICANÁLISE E MEDIAÇÃO DE CONFLITOS: POSSIBILIDADES OU IMPASSES? Por: Adriana de Campos Orientador Profa. Naura Americano Rio de Janeiro 2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · forma, do que parece se combater e se contradizer, momentos mutuamente necessários.1 Assim, se a interpretação comum

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo

AVM FACULDADE INTEGRADA

PSICANAacuteLISE E MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

POSSIBILIDADES OU IMPASSES

Por Adriana de Campos

Orientador

Profa Naura Americano

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo

AVM FACULDADE INTEGRADA

PSICANAacuteLISE E MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

POSSIBILIDADES OU IMPASSES

Apresentaccedilatildeo de monografia agrave AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenccedilatildeo do

grau de especialista em Mediaccedilatildeo de Conflitos com

ecircnfase em famiacutelia

Por Adriana de Campos

3

AGRADECIMENTOS

aos amigos antigos e recentes aos

parentes aos queridos mestres em

especial a querida professora e

orientadora Naura Americano pela sua

extrema convicccedilatildeo e perseveranccedila nos

princiacutepios da Mediaccedilatildeo de Conflitos

que nos ensinou em fim a todos

aqueles que presenciaram os esforccedilos

para se chegar a esse final e que

dispuseram de paciecircncia e boa vontade

para compreender a importacircncia desta

realizaccedilatildeo

4

DEDICATOacuteRIA

a todos aqueles que em algum dia

pude oferecer meus conhecimentos

profissionais e acadecircmicos e minha

escuta apurada sobre seus dramas

pessoais acompanhando-os nas alegrias

e nas tristezas nos seus progressos

pessoais quando contando com a minha

atenccedilatildeo conseguiram trazer acreacutescimos

agraves suas vidas

5

RESUMO

Esta monografia tem como objetivo aprofundar conhecimentos com

respeito agrave praacutetica com Mediaccedilatildeo de conflitos especificamente os de ordem

familiar tanto no acircmbito juriacutedico como no acircmbito privado sendo esta uacuteltima

realizada no espaccedilo cliacutenico de um consultoacuterio de psicologia e psicanaacutelise

Pretende analisar a possibilidade da integraccedilatildeo das teacutecnicas de mediaccedilatildeo de

conflitos em momentos especiacuteficos ao tratamento psicanaliacutetico quando da

constataccedilatildeo da sua necessidade para o desmantelamento de uma situaccedilatildeo

conflitante de difiacutecil elaboraccedilatildeo psiacutequica pelo paciente necessitando a

intervenccedilatildeo objetiva

Procura-se analisar os embasamentos teoacutericos da teacutecnica da

mediaccedilatildeo as influecircncias epistemoloacutegicas que ajudaram a construir o

arcabouccedilo de conhecimentos que fez dela uma teacutecnica alternativa na resoluccedilatildeo

de controveacutersias em vaacuterios acircmbitos comercial juriacutedico familiar empresarial

comunitaacuteria entre outras Diferenciando-se da Negociaccedilatildeo e da Conciliaccedilatildeo a

mediaccedilatildeo firma-se como meacutetodo de intervenccedilatildeo paciacutefica espontacircnea

voluntaacuteria visando ganhos muacutetuos para todas as partes que se vejam

envolvidas em conflitos de difiacutecil soluccedilatildeo

Quanto agrave Psicanaacutelise o embasamento teoacuterico de conceitos

fundamentais foi primordial uma vez que numa anaacutelise progressiva chegou-se

agrave obra freudiana lsquoO Mal-Estar na Civilizaccedilatildeorsquo que nos demonstra a situaccedilatildeo

que o indiviacuteduo se encontra enquanto ser psiacutequico social poliacutetico e cultural

Neste contexto situa-se o homem conflituado entre as exigecircncias internas de

seu psiquismo e as leis da sociedade Mostra-se que o conflito psiacutequico

extravasa para o social fornecendo-lhe caracteriacutesticas fenomenoloacutegicas que

vatildeo se manifestar em todos os acircmbitos nos quais o sujeito faz laccedilos com o

outro semelhante Estabelece-se com este vaacuterios tipos de viacutenculos incluindo

os amorosos e os agressivos destrutivos ao ponto de chegarem a estabelecer

situaccedilotildees de completa rivalidade entre os indiviacuteduos

Esclareceu-se a noccedilatildeo portanto de que os conflitos nem sempre

possuem a vertente destrutiva mas de outra forma podem significar condiccedilotildees

de mudanccedilas positivas a partir da possibilidade de transformaccedilatildeo de uma

6

situaccedilatildeo que tornou-se inadequada para outra onde a resignificaccedilatildeo desta

proporciona o restabelecimento da comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo

acirramento das emoccedilotildees que alimentam o conflito

7

METODOLOGIA

O presente trabalho foi desenvolvido atraveacutes da utilizaccedilatildeo de

bibliografia especiacutefica agrave aacuterea da mediaccedilatildeo de conflitos tanto no acircmbito do

Direito como nas aacutereas do social e da psicologia bem como agrave Psicanaacutelise

Utilizou-se de pesquisas por meio eletrocircnico ndashinternet- e das anotaccedilotildees das

aulas do Curso de Mediaccedilatildeo da AVM

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SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO09

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

Liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49 WEBGRAFIA51 IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

9

INTRODUCcedilAtildeO

A presente monografia teve como intenccedilatildeo discutir a relaccedilatildeo entre

praacuteticas que colocam o ser humano em dois niacuteveis de conhecimento de um

lado enquanto ser social lidando conscientemente com seus avatares

conhecedor do mundo que o cerca e certo de suas interpretaccedilotildees da realidade

objetiva de outro enquanto ser inconsciente mestre de seus desiacutegnios poreacutem

sem mesmo o saber Como articular esta dualidade humana enquanto ser da

consciecircncia e ser portador de um inconsciente dinacircmico

O ser humano envolve-se no seu dia-a-dia com as mais diversas

tarefas inserido no meio social onde convive com seus semelhantes ora de

forma paciacutefica ora atormentado por conflitos provenientes destas relaccedilotildees

Resultando das vicissitudes agraves quais o indiviacuteduo se sujeita ao conviver

socialmente o encontramos agraves vezes em embates que o transtornam havendo

daiacute uma seacuterie de consequumlecircncias seja de ordem social ou emocional

No campo da cliacutenica psicanaliacutetica muitas vezes recebemos sujeitos

no consultoacuterio nos trazendo queixas de muita anguacutestia mal-estar emocional

depressatildeo profunda Ao o escutar o psicanalista natildeo deixa de perceber o

contexto social que estaacute inserido e detecta indiscutivelmente que muitas delas

foram ou satildeo produzidas por conflitos gerados a partir de desentendimentos

familiares profissionais fraternais A teacutecnica psicanaliacutetica baseada nos

ensinamentos de Freud natildeo trataraacute das relaccedilotildees sociais nas quais o indiviacuteduo

estaacute inserido apesar de natildeo desconhecer a influecircncia que causam em sua

patologia No entanto natildeo deixa-se de perceber o quanto muitas vezes no

acirramento do conflito desses laccedilos afetivos trazem a piora dos sintomas do

indiviacuteduo e o jogam num buraco cada vez maior de anguacutestia Infelizmente a

psicanaacutelise nem sempre possui o tempo necessaacuterio para intervir sobre o

acirramento dos sintomas chegando o paciente a necessitar do uso de

medicamentos antidepressivos ansioliacuteticos controladores do humor

antipsicotizantes para minimizar seu mal-estar psiacutequico Como praacutetica

terapecircutica nem sempre a psicanaacutelise consegue dar conta do grande volume

de questotildees relacionadas agrave problemaacutetica das relaccedilotildees entre pessoas e desta

forma pergunta-se a partir do conhecimento obtido atraveacutes do ensinamento

10

sobre a Mediaccedilatildeo de Conflitos se seria possiacutevel num determinado momento

de um tratamento psicanaliacutetico lanccedilar matildeo das teacutecnicas da mediaccedilatildeo

objetivando a dissoluccedilatildeo do mal-estar relacional aiacute intricado

Pensar nesta possibilidade foi o mote desta pesquisa e para

responder agrave pergunta ldquoa teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos pode ser aplicada

como parte integrante do tratamento psicanaliacuteticordquo foram necessaacuterias muitas

horas de leitura e de elaboraccedilatildeo de conclusotildees

A tarefa do psicanalista assim como a do mediador natildeo eacute nem um

pouco suave Lidando com conflitos incessantemente em todos os dias de sua

praacutetica profissional depara-se com situaccedilotildees que lhe exigem muita experiecircncia

e sabedoria necessitando de muita criatividade para dar continuidade aos

processos que ambos iniciaram cada um em seu campo

Em psicanaacutelise discutimos incessantemente a posiccedilatildeo do analista

num contexto eacutetico em relaccedilatildeo agrave sua praacutetica e em relaccedilatildeo ao seu ser Ao

psicanalista corresponde o lugar da escuta do inconsciente intervindo com seu

ato analiacutetico sobre o significante que desponta do inconsciente do paciente

fazendo-o ressignificar sua posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao desejo A escuta em

atenccedilatildeo flutuante permite que o paciente desenrole sua histoacuteria a partir de seu

ponto de vista ou melhor a partir de sua realidade psiacutequica traccedilando

livremente o seu caminho para chegar agraves suas proacuteprias conclusotildees poreacutem

natildeo sem o ato analiacutetico que pontua o que o inconsciente insistentemente daacute

provas de sua existecircncia ndash atos falhos sonhos lembranccedilas etc

Em mediaccedilatildeo o mediador seraacute orientado tambeacutem por uma eacutetica

que o coloca como terceiro imparcial mas com escuta atenta e isenta de juiacutezo

de valor possibilitando que as partes envolvidas no conflito possam chegar por

si mesmas a uma soluccedilatildeo O mediador de certa forma e sem saber se torna

muitas vezes testemunha do afloramento inconsciente daqueles que medeia

Assim nesta correlaccedilatildeo de posiccedilotildees eacuteticas de um e de outro haveraacute

alguma forma de um se beneficiar do campo de conhecimento do outro Esta

pergunta seraacute esclarecida ao longo das proacuteximas paacuteginas chegando adiante a

alguma conclusatildeo ainda aqui sem certezas Portanto vamos ao trabalho

11

CAPIacuteTULO I

TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA

O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)

As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves

relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees

atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na

essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual

quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas

entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das

emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No

embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais

profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre

subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como

superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois

natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na

sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da

contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como

um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e

que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade

entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No

entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar

a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo

que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se

faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social

Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a

12

diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1

Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto

negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de

aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra

briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de

Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo

poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente

positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral

inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se

portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz

entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho

aproximaccedilatildeo(idem)

Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual

as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a

accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem

contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre

se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno

surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate

Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais

do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da

uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo

interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto

de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual

1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG

13

de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos

processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou

construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro

dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a

atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se

expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute

atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o

conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de

valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes

estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda

De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos

autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito

promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes

interrompidos pelo conflito

Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)

14

CAPIacuteTULO II

A MEDIACcedilAtildeO

21- Definiccedilatildeo

Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico

informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial

Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute

mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em

princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise

A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2

No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a

soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica

adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de

resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da

comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do

endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se

ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a

possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das

contraposiccedilotildees entre as partes

As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)

encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de

2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo

15

forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive

financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as

partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e

mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento

das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor

f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees

etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses

divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a

reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e

proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se

mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e

consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem

tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como

sobre si proacuteprio

22- Origens

A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute

reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada

nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma

La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3

Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se

encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas

Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior

baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista

3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId

16

Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de

forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e

ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como

sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades

natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o

mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte

de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional

com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer

existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo

acompanhados de novas exigecircncias

Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de

Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental

desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua

que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees

entre os indiviacuteduos

Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade

moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as

controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e

posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os

mesmos

Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de

intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus

propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir

a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis

e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos

(Egger 2006 p 42)

Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)

()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos

Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar

na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no

acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar

17

trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o

compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um

ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses

se torna tambeacutem um mediador

() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)

A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo

que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger

2006 p 47)

Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento

entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um

processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas

diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo

presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando

diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao

contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante

No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob

alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das

ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de

intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em

conta a subjetividade inerente aos mesmos

O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento

das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso

comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises

rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores

naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu

grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais

fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de

18

campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do

juriacutedico do psicoloacutegico do social etc

Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na

sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a

quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns

naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo

novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os

entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas

eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais

americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente

como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que

somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as

partes

No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem

recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da

deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu

texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo

()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)

Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser

utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em

diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e

eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de

consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf

19

situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias

com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua

aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir

sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do

senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais

educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que

qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse

processo

A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se

chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas

segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o

que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais

brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes

envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o

processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da

chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de

processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua

resoluccedilatildeo final

O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo

bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado

o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu

criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar

20

bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre

as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da

mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa

convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O

mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-

se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos

Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum

deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela

ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo

bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo

Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em

momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees

bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a

conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do

desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador

bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador

deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve

garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo

destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A

confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de

ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos

Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de

mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo

Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e

o modelo de Warat

241- Modelo Tradicional de Harvard

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

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CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

AZEVEDO Andreacute Gomma de BARBOSA Ivan Machado (orgs) Estudos em

Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

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CEZAR-FERREIRA Verocircnica A da M Famiacutelia separaccedilatildeo e mediaccedilatildeo uma

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In Programa Reconhecer 2006 Resignificando o ensino de Direito e

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KAUFMANN P Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Psicanaacutelise Rio de Janeiro

Jorge Zahar Editor 1996

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Paulo Martins Fontes Editora Ltda 1967

OS PENSADORES Hegel Satildeo Paulo Nova Cultural Ltda1996

ROUDINESCO Elizabeth e PLON Michel Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

1998

50

WARAT Luiz Alberto (Org) Ecologia Psicanaacutelise e Mediaccedilatildeo Em nome do

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WEBGRAFIA

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FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da

superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista

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Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008

LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para

a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

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transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=

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2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo

AVM FACULDADE INTEGRADA

PSICANAacuteLISE E MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

POSSIBILIDADES OU IMPASSES

Apresentaccedilatildeo de monografia agrave AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenccedilatildeo do

grau de especialista em Mediaccedilatildeo de Conflitos com

ecircnfase em famiacutelia

Por Adriana de Campos

3

AGRADECIMENTOS

aos amigos antigos e recentes aos

parentes aos queridos mestres em

especial a querida professora e

orientadora Naura Americano pela sua

extrema convicccedilatildeo e perseveranccedila nos

princiacutepios da Mediaccedilatildeo de Conflitos

que nos ensinou em fim a todos

aqueles que presenciaram os esforccedilos

para se chegar a esse final e que

dispuseram de paciecircncia e boa vontade

para compreender a importacircncia desta

realizaccedilatildeo

4

DEDICATOacuteRIA

a todos aqueles que em algum dia

pude oferecer meus conhecimentos

profissionais e acadecircmicos e minha

escuta apurada sobre seus dramas

pessoais acompanhando-os nas alegrias

e nas tristezas nos seus progressos

pessoais quando contando com a minha

atenccedilatildeo conseguiram trazer acreacutescimos

agraves suas vidas

5

RESUMO

Esta monografia tem como objetivo aprofundar conhecimentos com

respeito agrave praacutetica com Mediaccedilatildeo de conflitos especificamente os de ordem

familiar tanto no acircmbito juriacutedico como no acircmbito privado sendo esta uacuteltima

realizada no espaccedilo cliacutenico de um consultoacuterio de psicologia e psicanaacutelise

Pretende analisar a possibilidade da integraccedilatildeo das teacutecnicas de mediaccedilatildeo de

conflitos em momentos especiacuteficos ao tratamento psicanaliacutetico quando da

constataccedilatildeo da sua necessidade para o desmantelamento de uma situaccedilatildeo

conflitante de difiacutecil elaboraccedilatildeo psiacutequica pelo paciente necessitando a

intervenccedilatildeo objetiva

Procura-se analisar os embasamentos teoacutericos da teacutecnica da

mediaccedilatildeo as influecircncias epistemoloacutegicas que ajudaram a construir o

arcabouccedilo de conhecimentos que fez dela uma teacutecnica alternativa na resoluccedilatildeo

de controveacutersias em vaacuterios acircmbitos comercial juriacutedico familiar empresarial

comunitaacuteria entre outras Diferenciando-se da Negociaccedilatildeo e da Conciliaccedilatildeo a

mediaccedilatildeo firma-se como meacutetodo de intervenccedilatildeo paciacutefica espontacircnea

voluntaacuteria visando ganhos muacutetuos para todas as partes que se vejam

envolvidas em conflitos de difiacutecil soluccedilatildeo

Quanto agrave Psicanaacutelise o embasamento teoacuterico de conceitos

fundamentais foi primordial uma vez que numa anaacutelise progressiva chegou-se

agrave obra freudiana lsquoO Mal-Estar na Civilizaccedilatildeorsquo que nos demonstra a situaccedilatildeo

que o indiviacuteduo se encontra enquanto ser psiacutequico social poliacutetico e cultural

Neste contexto situa-se o homem conflituado entre as exigecircncias internas de

seu psiquismo e as leis da sociedade Mostra-se que o conflito psiacutequico

extravasa para o social fornecendo-lhe caracteriacutesticas fenomenoloacutegicas que

vatildeo se manifestar em todos os acircmbitos nos quais o sujeito faz laccedilos com o

outro semelhante Estabelece-se com este vaacuterios tipos de viacutenculos incluindo

os amorosos e os agressivos destrutivos ao ponto de chegarem a estabelecer

situaccedilotildees de completa rivalidade entre os indiviacuteduos

Esclareceu-se a noccedilatildeo portanto de que os conflitos nem sempre

possuem a vertente destrutiva mas de outra forma podem significar condiccedilotildees

de mudanccedilas positivas a partir da possibilidade de transformaccedilatildeo de uma

6

situaccedilatildeo que tornou-se inadequada para outra onde a resignificaccedilatildeo desta

proporciona o restabelecimento da comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo

acirramento das emoccedilotildees que alimentam o conflito

7

METODOLOGIA

O presente trabalho foi desenvolvido atraveacutes da utilizaccedilatildeo de

bibliografia especiacutefica agrave aacuterea da mediaccedilatildeo de conflitos tanto no acircmbito do

Direito como nas aacutereas do social e da psicologia bem como agrave Psicanaacutelise

Utilizou-se de pesquisas por meio eletrocircnico ndashinternet- e das anotaccedilotildees das

aulas do Curso de Mediaccedilatildeo da AVM

8

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO09

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

Liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49 WEBGRAFIA51 IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

9

INTRODUCcedilAtildeO

A presente monografia teve como intenccedilatildeo discutir a relaccedilatildeo entre

praacuteticas que colocam o ser humano em dois niacuteveis de conhecimento de um

lado enquanto ser social lidando conscientemente com seus avatares

conhecedor do mundo que o cerca e certo de suas interpretaccedilotildees da realidade

objetiva de outro enquanto ser inconsciente mestre de seus desiacutegnios poreacutem

sem mesmo o saber Como articular esta dualidade humana enquanto ser da

consciecircncia e ser portador de um inconsciente dinacircmico

O ser humano envolve-se no seu dia-a-dia com as mais diversas

tarefas inserido no meio social onde convive com seus semelhantes ora de

forma paciacutefica ora atormentado por conflitos provenientes destas relaccedilotildees

Resultando das vicissitudes agraves quais o indiviacuteduo se sujeita ao conviver

socialmente o encontramos agraves vezes em embates que o transtornam havendo

daiacute uma seacuterie de consequumlecircncias seja de ordem social ou emocional

No campo da cliacutenica psicanaliacutetica muitas vezes recebemos sujeitos

no consultoacuterio nos trazendo queixas de muita anguacutestia mal-estar emocional

depressatildeo profunda Ao o escutar o psicanalista natildeo deixa de perceber o

contexto social que estaacute inserido e detecta indiscutivelmente que muitas delas

foram ou satildeo produzidas por conflitos gerados a partir de desentendimentos

familiares profissionais fraternais A teacutecnica psicanaliacutetica baseada nos

ensinamentos de Freud natildeo trataraacute das relaccedilotildees sociais nas quais o indiviacuteduo

estaacute inserido apesar de natildeo desconhecer a influecircncia que causam em sua

patologia No entanto natildeo deixa-se de perceber o quanto muitas vezes no

acirramento do conflito desses laccedilos afetivos trazem a piora dos sintomas do

indiviacuteduo e o jogam num buraco cada vez maior de anguacutestia Infelizmente a

psicanaacutelise nem sempre possui o tempo necessaacuterio para intervir sobre o

acirramento dos sintomas chegando o paciente a necessitar do uso de

medicamentos antidepressivos ansioliacuteticos controladores do humor

antipsicotizantes para minimizar seu mal-estar psiacutequico Como praacutetica

terapecircutica nem sempre a psicanaacutelise consegue dar conta do grande volume

de questotildees relacionadas agrave problemaacutetica das relaccedilotildees entre pessoas e desta

forma pergunta-se a partir do conhecimento obtido atraveacutes do ensinamento

10

sobre a Mediaccedilatildeo de Conflitos se seria possiacutevel num determinado momento

de um tratamento psicanaliacutetico lanccedilar matildeo das teacutecnicas da mediaccedilatildeo

objetivando a dissoluccedilatildeo do mal-estar relacional aiacute intricado

Pensar nesta possibilidade foi o mote desta pesquisa e para

responder agrave pergunta ldquoa teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos pode ser aplicada

como parte integrante do tratamento psicanaliacuteticordquo foram necessaacuterias muitas

horas de leitura e de elaboraccedilatildeo de conclusotildees

A tarefa do psicanalista assim como a do mediador natildeo eacute nem um

pouco suave Lidando com conflitos incessantemente em todos os dias de sua

praacutetica profissional depara-se com situaccedilotildees que lhe exigem muita experiecircncia

e sabedoria necessitando de muita criatividade para dar continuidade aos

processos que ambos iniciaram cada um em seu campo

Em psicanaacutelise discutimos incessantemente a posiccedilatildeo do analista

num contexto eacutetico em relaccedilatildeo agrave sua praacutetica e em relaccedilatildeo ao seu ser Ao

psicanalista corresponde o lugar da escuta do inconsciente intervindo com seu

ato analiacutetico sobre o significante que desponta do inconsciente do paciente

fazendo-o ressignificar sua posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao desejo A escuta em

atenccedilatildeo flutuante permite que o paciente desenrole sua histoacuteria a partir de seu

ponto de vista ou melhor a partir de sua realidade psiacutequica traccedilando

livremente o seu caminho para chegar agraves suas proacuteprias conclusotildees poreacutem

natildeo sem o ato analiacutetico que pontua o que o inconsciente insistentemente daacute

provas de sua existecircncia ndash atos falhos sonhos lembranccedilas etc

Em mediaccedilatildeo o mediador seraacute orientado tambeacutem por uma eacutetica

que o coloca como terceiro imparcial mas com escuta atenta e isenta de juiacutezo

de valor possibilitando que as partes envolvidas no conflito possam chegar por

si mesmas a uma soluccedilatildeo O mediador de certa forma e sem saber se torna

muitas vezes testemunha do afloramento inconsciente daqueles que medeia

Assim nesta correlaccedilatildeo de posiccedilotildees eacuteticas de um e de outro haveraacute

alguma forma de um se beneficiar do campo de conhecimento do outro Esta

pergunta seraacute esclarecida ao longo das proacuteximas paacuteginas chegando adiante a

alguma conclusatildeo ainda aqui sem certezas Portanto vamos ao trabalho

11

CAPIacuteTULO I

TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA

O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)

As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves

relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees

atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na

essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual

quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas

entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das

emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No

embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais

profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre

subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como

superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois

natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na

sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da

contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como

um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e

que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade

entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No

entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar

a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo

que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se

faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social

Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a

12

diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1

Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto

negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de

aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra

briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de

Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo

poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente

positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral

inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se

portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz

entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho

aproximaccedilatildeo(idem)

Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual

as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a

accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem

contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre

se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno

surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate

Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais

do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da

uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo

interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto

de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual

1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG

13

de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos

processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou

construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro

dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a

atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se

expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute

atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o

conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de

valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes

estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda

De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos

autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito

promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes

interrompidos pelo conflito

Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)

14

CAPIacuteTULO II

A MEDIACcedilAtildeO

21- Definiccedilatildeo

Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico

informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial

Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute

mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em

princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise

A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2

No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a

soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica

adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de

resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da

comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do

endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se

ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a

possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das

contraposiccedilotildees entre as partes

As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)

encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de

2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo

15

forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive

financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as

partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e

mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento

das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor

f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees

etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses

divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a

reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e

proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se

mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e

consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem

tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como

sobre si proacuteprio

22- Origens

A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute

reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada

nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma

La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3

Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se

encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas

Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior

baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista

3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId

16

Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de

forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e

ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como

sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades

natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o

mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte

de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional

com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer

existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo

acompanhados de novas exigecircncias

Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de

Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental

desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua

que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees

entre os indiviacuteduos

Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade

moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as

controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e

posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os

mesmos

Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de

intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus

propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir

a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis

e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos

(Egger 2006 p 42)

Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)

()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos

Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar

na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no

acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar

17

trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o

compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um

ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses

se torna tambeacutem um mediador

() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)

A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo

que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger

2006 p 47)

Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento

entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um

processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas

diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo

presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando

diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao

contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante

No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob

alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das

ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de

intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em

conta a subjetividade inerente aos mesmos

O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento

das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso

comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises

rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores

naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu

grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais

fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de

18

campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do

juriacutedico do psicoloacutegico do social etc

Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na

sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a

quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns

naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo

novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os

entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas

eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais

americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente

como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que

somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as

partes

No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem

recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da

deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu

texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo

()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)

Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser

utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em

diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e

eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de

consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf

19

situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias

com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua

aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir

sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do

senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais

educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que

qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse

processo

A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se

chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas

segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o

que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais

brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes

envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o

processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da

chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de

processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua

resoluccedilatildeo final

O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo

bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado

o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu

criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar

20

bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre

as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da

mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa

convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O

mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-

se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos

Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum

deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela

ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo

bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo

Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em

momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees

bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a

conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do

desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador

bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador

deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve

garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo

destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A

confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de

ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos

Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de

mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo

Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e

o modelo de Warat

241- Modelo Tradicional de Harvard

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

3

AGRADECIMENTOS

aos amigos antigos e recentes aos

parentes aos queridos mestres em

especial a querida professora e

orientadora Naura Americano pela sua

extrema convicccedilatildeo e perseveranccedila nos

princiacutepios da Mediaccedilatildeo de Conflitos

que nos ensinou em fim a todos

aqueles que presenciaram os esforccedilos

para se chegar a esse final e que

dispuseram de paciecircncia e boa vontade

para compreender a importacircncia desta

realizaccedilatildeo

4

DEDICATOacuteRIA

a todos aqueles que em algum dia

pude oferecer meus conhecimentos

profissionais e acadecircmicos e minha

escuta apurada sobre seus dramas

pessoais acompanhando-os nas alegrias

e nas tristezas nos seus progressos

pessoais quando contando com a minha

atenccedilatildeo conseguiram trazer acreacutescimos

agraves suas vidas

5

RESUMO

Esta monografia tem como objetivo aprofundar conhecimentos com

respeito agrave praacutetica com Mediaccedilatildeo de conflitos especificamente os de ordem

familiar tanto no acircmbito juriacutedico como no acircmbito privado sendo esta uacuteltima

realizada no espaccedilo cliacutenico de um consultoacuterio de psicologia e psicanaacutelise

Pretende analisar a possibilidade da integraccedilatildeo das teacutecnicas de mediaccedilatildeo de

conflitos em momentos especiacuteficos ao tratamento psicanaliacutetico quando da

constataccedilatildeo da sua necessidade para o desmantelamento de uma situaccedilatildeo

conflitante de difiacutecil elaboraccedilatildeo psiacutequica pelo paciente necessitando a

intervenccedilatildeo objetiva

Procura-se analisar os embasamentos teoacutericos da teacutecnica da

mediaccedilatildeo as influecircncias epistemoloacutegicas que ajudaram a construir o

arcabouccedilo de conhecimentos que fez dela uma teacutecnica alternativa na resoluccedilatildeo

de controveacutersias em vaacuterios acircmbitos comercial juriacutedico familiar empresarial

comunitaacuteria entre outras Diferenciando-se da Negociaccedilatildeo e da Conciliaccedilatildeo a

mediaccedilatildeo firma-se como meacutetodo de intervenccedilatildeo paciacutefica espontacircnea

voluntaacuteria visando ganhos muacutetuos para todas as partes que se vejam

envolvidas em conflitos de difiacutecil soluccedilatildeo

Quanto agrave Psicanaacutelise o embasamento teoacuterico de conceitos

fundamentais foi primordial uma vez que numa anaacutelise progressiva chegou-se

agrave obra freudiana lsquoO Mal-Estar na Civilizaccedilatildeorsquo que nos demonstra a situaccedilatildeo

que o indiviacuteduo se encontra enquanto ser psiacutequico social poliacutetico e cultural

Neste contexto situa-se o homem conflituado entre as exigecircncias internas de

seu psiquismo e as leis da sociedade Mostra-se que o conflito psiacutequico

extravasa para o social fornecendo-lhe caracteriacutesticas fenomenoloacutegicas que

vatildeo se manifestar em todos os acircmbitos nos quais o sujeito faz laccedilos com o

outro semelhante Estabelece-se com este vaacuterios tipos de viacutenculos incluindo

os amorosos e os agressivos destrutivos ao ponto de chegarem a estabelecer

situaccedilotildees de completa rivalidade entre os indiviacuteduos

Esclareceu-se a noccedilatildeo portanto de que os conflitos nem sempre

possuem a vertente destrutiva mas de outra forma podem significar condiccedilotildees

de mudanccedilas positivas a partir da possibilidade de transformaccedilatildeo de uma

6

situaccedilatildeo que tornou-se inadequada para outra onde a resignificaccedilatildeo desta

proporciona o restabelecimento da comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo

acirramento das emoccedilotildees que alimentam o conflito

7

METODOLOGIA

O presente trabalho foi desenvolvido atraveacutes da utilizaccedilatildeo de

bibliografia especiacutefica agrave aacuterea da mediaccedilatildeo de conflitos tanto no acircmbito do

Direito como nas aacutereas do social e da psicologia bem como agrave Psicanaacutelise

Utilizou-se de pesquisas por meio eletrocircnico ndashinternet- e das anotaccedilotildees das

aulas do Curso de Mediaccedilatildeo da AVM

8

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO09

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

Liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49 WEBGRAFIA51 IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

9

INTRODUCcedilAtildeO

A presente monografia teve como intenccedilatildeo discutir a relaccedilatildeo entre

praacuteticas que colocam o ser humano em dois niacuteveis de conhecimento de um

lado enquanto ser social lidando conscientemente com seus avatares

conhecedor do mundo que o cerca e certo de suas interpretaccedilotildees da realidade

objetiva de outro enquanto ser inconsciente mestre de seus desiacutegnios poreacutem

sem mesmo o saber Como articular esta dualidade humana enquanto ser da

consciecircncia e ser portador de um inconsciente dinacircmico

O ser humano envolve-se no seu dia-a-dia com as mais diversas

tarefas inserido no meio social onde convive com seus semelhantes ora de

forma paciacutefica ora atormentado por conflitos provenientes destas relaccedilotildees

Resultando das vicissitudes agraves quais o indiviacuteduo se sujeita ao conviver

socialmente o encontramos agraves vezes em embates que o transtornam havendo

daiacute uma seacuterie de consequumlecircncias seja de ordem social ou emocional

No campo da cliacutenica psicanaliacutetica muitas vezes recebemos sujeitos

no consultoacuterio nos trazendo queixas de muita anguacutestia mal-estar emocional

depressatildeo profunda Ao o escutar o psicanalista natildeo deixa de perceber o

contexto social que estaacute inserido e detecta indiscutivelmente que muitas delas

foram ou satildeo produzidas por conflitos gerados a partir de desentendimentos

familiares profissionais fraternais A teacutecnica psicanaliacutetica baseada nos

ensinamentos de Freud natildeo trataraacute das relaccedilotildees sociais nas quais o indiviacuteduo

estaacute inserido apesar de natildeo desconhecer a influecircncia que causam em sua

patologia No entanto natildeo deixa-se de perceber o quanto muitas vezes no

acirramento do conflito desses laccedilos afetivos trazem a piora dos sintomas do

indiviacuteduo e o jogam num buraco cada vez maior de anguacutestia Infelizmente a

psicanaacutelise nem sempre possui o tempo necessaacuterio para intervir sobre o

acirramento dos sintomas chegando o paciente a necessitar do uso de

medicamentos antidepressivos ansioliacuteticos controladores do humor

antipsicotizantes para minimizar seu mal-estar psiacutequico Como praacutetica

terapecircutica nem sempre a psicanaacutelise consegue dar conta do grande volume

de questotildees relacionadas agrave problemaacutetica das relaccedilotildees entre pessoas e desta

forma pergunta-se a partir do conhecimento obtido atraveacutes do ensinamento

10

sobre a Mediaccedilatildeo de Conflitos se seria possiacutevel num determinado momento

de um tratamento psicanaliacutetico lanccedilar matildeo das teacutecnicas da mediaccedilatildeo

objetivando a dissoluccedilatildeo do mal-estar relacional aiacute intricado

Pensar nesta possibilidade foi o mote desta pesquisa e para

responder agrave pergunta ldquoa teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos pode ser aplicada

como parte integrante do tratamento psicanaliacuteticordquo foram necessaacuterias muitas

horas de leitura e de elaboraccedilatildeo de conclusotildees

A tarefa do psicanalista assim como a do mediador natildeo eacute nem um

pouco suave Lidando com conflitos incessantemente em todos os dias de sua

praacutetica profissional depara-se com situaccedilotildees que lhe exigem muita experiecircncia

e sabedoria necessitando de muita criatividade para dar continuidade aos

processos que ambos iniciaram cada um em seu campo

Em psicanaacutelise discutimos incessantemente a posiccedilatildeo do analista

num contexto eacutetico em relaccedilatildeo agrave sua praacutetica e em relaccedilatildeo ao seu ser Ao

psicanalista corresponde o lugar da escuta do inconsciente intervindo com seu

ato analiacutetico sobre o significante que desponta do inconsciente do paciente

fazendo-o ressignificar sua posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao desejo A escuta em

atenccedilatildeo flutuante permite que o paciente desenrole sua histoacuteria a partir de seu

ponto de vista ou melhor a partir de sua realidade psiacutequica traccedilando

livremente o seu caminho para chegar agraves suas proacuteprias conclusotildees poreacutem

natildeo sem o ato analiacutetico que pontua o que o inconsciente insistentemente daacute

provas de sua existecircncia ndash atos falhos sonhos lembranccedilas etc

Em mediaccedilatildeo o mediador seraacute orientado tambeacutem por uma eacutetica

que o coloca como terceiro imparcial mas com escuta atenta e isenta de juiacutezo

de valor possibilitando que as partes envolvidas no conflito possam chegar por

si mesmas a uma soluccedilatildeo O mediador de certa forma e sem saber se torna

muitas vezes testemunha do afloramento inconsciente daqueles que medeia

Assim nesta correlaccedilatildeo de posiccedilotildees eacuteticas de um e de outro haveraacute

alguma forma de um se beneficiar do campo de conhecimento do outro Esta

pergunta seraacute esclarecida ao longo das proacuteximas paacuteginas chegando adiante a

alguma conclusatildeo ainda aqui sem certezas Portanto vamos ao trabalho

11

CAPIacuteTULO I

TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA

O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)

As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves

relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees

atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na

essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual

quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas

entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das

emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No

embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais

profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre

subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como

superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois

natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na

sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da

contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como

um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e

que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade

entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No

entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar

a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo

que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se

faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social

Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a

12

diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1

Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto

negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de

aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra

briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de

Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo

poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente

positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral

inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se

portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz

entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho

aproximaccedilatildeo(idem)

Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual

as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a

accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem

contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre

se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno

surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate

Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais

do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da

uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo

interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto

de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual

1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG

13

de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos

processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou

construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro

dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a

atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se

expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute

atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o

conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de

valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes

estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda

De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos

autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito

promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes

interrompidos pelo conflito

Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)

14

CAPIacuteTULO II

A MEDIACcedilAtildeO

21- Definiccedilatildeo

Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico

informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial

Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute

mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em

princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise

A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2

No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a

soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica

adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de

resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da

comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do

endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se

ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a

possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das

contraposiccedilotildees entre as partes

As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)

encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de

2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo

15

forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive

financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as

partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e

mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento

das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor

f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees

etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses

divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a

reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e

proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se

mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e

consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem

tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como

sobre si proacuteprio

22- Origens

A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute

reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada

nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma

La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3

Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se

encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas

Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior

baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista

3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId

16

Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de

forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e

ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como

sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades

natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o

mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte

de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional

com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer

existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo

acompanhados de novas exigecircncias

Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de

Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental

desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua

que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees

entre os indiviacuteduos

Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade

moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as

controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e

posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os

mesmos

Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de

intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus

propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir

a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis

e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos

(Egger 2006 p 42)

Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)

()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos

Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar

na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no

acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar

17

trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o

compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um

ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses

se torna tambeacutem um mediador

() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)

A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo

que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger

2006 p 47)

Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento

entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um

processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas

diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo

presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando

diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao

contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante

No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob

alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das

ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de

intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em

conta a subjetividade inerente aos mesmos

O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento

das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso

comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises

rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores

naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu

grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais

fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de

18

campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do

juriacutedico do psicoloacutegico do social etc

Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na

sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a

quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns

naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo

novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os

entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas

eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais

americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente

como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que

somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as

partes

No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem

recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da

deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu

texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo

()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)

Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser

utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em

diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e

eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de

consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf

19

situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias

com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua

aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir

sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do

senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais

educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que

qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse

processo

A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se

chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas

segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o

que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais

brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes

envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o

processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da

chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de

processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua

resoluccedilatildeo final

O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo

bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado

o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu

criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar

20

bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre

as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da

mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa

convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O

mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-

se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos

Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum

deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela

ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo

bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo

Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em

momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees

bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a

conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do

desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador

bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador

deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve

garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo

destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A

confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de

ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos

Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de

mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo

Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e

o modelo de Warat

241- Modelo Tradicional de Harvard

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

4

DEDICATOacuteRIA

a todos aqueles que em algum dia

pude oferecer meus conhecimentos

profissionais e acadecircmicos e minha

escuta apurada sobre seus dramas

pessoais acompanhando-os nas alegrias

e nas tristezas nos seus progressos

pessoais quando contando com a minha

atenccedilatildeo conseguiram trazer acreacutescimos

agraves suas vidas

5

RESUMO

Esta monografia tem como objetivo aprofundar conhecimentos com

respeito agrave praacutetica com Mediaccedilatildeo de conflitos especificamente os de ordem

familiar tanto no acircmbito juriacutedico como no acircmbito privado sendo esta uacuteltima

realizada no espaccedilo cliacutenico de um consultoacuterio de psicologia e psicanaacutelise

Pretende analisar a possibilidade da integraccedilatildeo das teacutecnicas de mediaccedilatildeo de

conflitos em momentos especiacuteficos ao tratamento psicanaliacutetico quando da

constataccedilatildeo da sua necessidade para o desmantelamento de uma situaccedilatildeo

conflitante de difiacutecil elaboraccedilatildeo psiacutequica pelo paciente necessitando a

intervenccedilatildeo objetiva

Procura-se analisar os embasamentos teoacutericos da teacutecnica da

mediaccedilatildeo as influecircncias epistemoloacutegicas que ajudaram a construir o

arcabouccedilo de conhecimentos que fez dela uma teacutecnica alternativa na resoluccedilatildeo

de controveacutersias em vaacuterios acircmbitos comercial juriacutedico familiar empresarial

comunitaacuteria entre outras Diferenciando-se da Negociaccedilatildeo e da Conciliaccedilatildeo a

mediaccedilatildeo firma-se como meacutetodo de intervenccedilatildeo paciacutefica espontacircnea

voluntaacuteria visando ganhos muacutetuos para todas as partes que se vejam

envolvidas em conflitos de difiacutecil soluccedilatildeo

Quanto agrave Psicanaacutelise o embasamento teoacuterico de conceitos

fundamentais foi primordial uma vez que numa anaacutelise progressiva chegou-se

agrave obra freudiana lsquoO Mal-Estar na Civilizaccedilatildeorsquo que nos demonstra a situaccedilatildeo

que o indiviacuteduo se encontra enquanto ser psiacutequico social poliacutetico e cultural

Neste contexto situa-se o homem conflituado entre as exigecircncias internas de

seu psiquismo e as leis da sociedade Mostra-se que o conflito psiacutequico

extravasa para o social fornecendo-lhe caracteriacutesticas fenomenoloacutegicas que

vatildeo se manifestar em todos os acircmbitos nos quais o sujeito faz laccedilos com o

outro semelhante Estabelece-se com este vaacuterios tipos de viacutenculos incluindo

os amorosos e os agressivos destrutivos ao ponto de chegarem a estabelecer

situaccedilotildees de completa rivalidade entre os indiviacuteduos

Esclareceu-se a noccedilatildeo portanto de que os conflitos nem sempre

possuem a vertente destrutiva mas de outra forma podem significar condiccedilotildees

de mudanccedilas positivas a partir da possibilidade de transformaccedilatildeo de uma

6

situaccedilatildeo que tornou-se inadequada para outra onde a resignificaccedilatildeo desta

proporciona o restabelecimento da comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo

acirramento das emoccedilotildees que alimentam o conflito

7

METODOLOGIA

O presente trabalho foi desenvolvido atraveacutes da utilizaccedilatildeo de

bibliografia especiacutefica agrave aacuterea da mediaccedilatildeo de conflitos tanto no acircmbito do

Direito como nas aacutereas do social e da psicologia bem como agrave Psicanaacutelise

Utilizou-se de pesquisas por meio eletrocircnico ndashinternet- e das anotaccedilotildees das

aulas do Curso de Mediaccedilatildeo da AVM

8

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO09

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

Liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49 WEBGRAFIA51 IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

9

INTRODUCcedilAtildeO

A presente monografia teve como intenccedilatildeo discutir a relaccedilatildeo entre

praacuteticas que colocam o ser humano em dois niacuteveis de conhecimento de um

lado enquanto ser social lidando conscientemente com seus avatares

conhecedor do mundo que o cerca e certo de suas interpretaccedilotildees da realidade

objetiva de outro enquanto ser inconsciente mestre de seus desiacutegnios poreacutem

sem mesmo o saber Como articular esta dualidade humana enquanto ser da

consciecircncia e ser portador de um inconsciente dinacircmico

O ser humano envolve-se no seu dia-a-dia com as mais diversas

tarefas inserido no meio social onde convive com seus semelhantes ora de

forma paciacutefica ora atormentado por conflitos provenientes destas relaccedilotildees

Resultando das vicissitudes agraves quais o indiviacuteduo se sujeita ao conviver

socialmente o encontramos agraves vezes em embates que o transtornam havendo

daiacute uma seacuterie de consequumlecircncias seja de ordem social ou emocional

No campo da cliacutenica psicanaliacutetica muitas vezes recebemos sujeitos

no consultoacuterio nos trazendo queixas de muita anguacutestia mal-estar emocional

depressatildeo profunda Ao o escutar o psicanalista natildeo deixa de perceber o

contexto social que estaacute inserido e detecta indiscutivelmente que muitas delas

foram ou satildeo produzidas por conflitos gerados a partir de desentendimentos

familiares profissionais fraternais A teacutecnica psicanaliacutetica baseada nos

ensinamentos de Freud natildeo trataraacute das relaccedilotildees sociais nas quais o indiviacuteduo

estaacute inserido apesar de natildeo desconhecer a influecircncia que causam em sua

patologia No entanto natildeo deixa-se de perceber o quanto muitas vezes no

acirramento do conflito desses laccedilos afetivos trazem a piora dos sintomas do

indiviacuteduo e o jogam num buraco cada vez maior de anguacutestia Infelizmente a

psicanaacutelise nem sempre possui o tempo necessaacuterio para intervir sobre o

acirramento dos sintomas chegando o paciente a necessitar do uso de

medicamentos antidepressivos ansioliacuteticos controladores do humor

antipsicotizantes para minimizar seu mal-estar psiacutequico Como praacutetica

terapecircutica nem sempre a psicanaacutelise consegue dar conta do grande volume

de questotildees relacionadas agrave problemaacutetica das relaccedilotildees entre pessoas e desta

forma pergunta-se a partir do conhecimento obtido atraveacutes do ensinamento

10

sobre a Mediaccedilatildeo de Conflitos se seria possiacutevel num determinado momento

de um tratamento psicanaliacutetico lanccedilar matildeo das teacutecnicas da mediaccedilatildeo

objetivando a dissoluccedilatildeo do mal-estar relacional aiacute intricado

Pensar nesta possibilidade foi o mote desta pesquisa e para

responder agrave pergunta ldquoa teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos pode ser aplicada

como parte integrante do tratamento psicanaliacuteticordquo foram necessaacuterias muitas

horas de leitura e de elaboraccedilatildeo de conclusotildees

A tarefa do psicanalista assim como a do mediador natildeo eacute nem um

pouco suave Lidando com conflitos incessantemente em todos os dias de sua

praacutetica profissional depara-se com situaccedilotildees que lhe exigem muita experiecircncia

e sabedoria necessitando de muita criatividade para dar continuidade aos

processos que ambos iniciaram cada um em seu campo

Em psicanaacutelise discutimos incessantemente a posiccedilatildeo do analista

num contexto eacutetico em relaccedilatildeo agrave sua praacutetica e em relaccedilatildeo ao seu ser Ao

psicanalista corresponde o lugar da escuta do inconsciente intervindo com seu

ato analiacutetico sobre o significante que desponta do inconsciente do paciente

fazendo-o ressignificar sua posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao desejo A escuta em

atenccedilatildeo flutuante permite que o paciente desenrole sua histoacuteria a partir de seu

ponto de vista ou melhor a partir de sua realidade psiacutequica traccedilando

livremente o seu caminho para chegar agraves suas proacuteprias conclusotildees poreacutem

natildeo sem o ato analiacutetico que pontua o que o inconsciente insistentemente daacute

provas de sua existecircncia ndash atos falhos sonhos lembranccedilas etc

Em mediaccedilatildeo o mediador seraacute orientado tambeacutem por uma eacutetica

que o coloca como terceiro imparcial mas com escuta atenta e isenta de juiacutezo

de valor possibilitando que as partes envolvidas no conflito possam chegar por

si mesmas a uma soluccedilatildeo O mediador de certa forma e sem saber se torna

muitas vezes testemunha do afloramento inconsciente daqueles que medeia

Assim nesta correlaccedilatildeo de posiccedilotildees eacuteticas de um e de outro haveraacute

alguma forma de um se beneficiar do campo de conhecimento do outro Esta

pergunta seraacute esclarecida ao longo das proacuteximas paacuteginas chegando adiante a

alguma conclusatildeo ainda aqui sem certezas Portanto vamos ao trabalho

11

CAPIacuteTULO I

TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA

O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)

As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves

relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees

atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na

essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual

quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas

entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das

emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No

embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais

profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre

subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como

superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois

natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na

sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da

contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como

um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e

que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade

entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No

entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar

a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo

que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se

faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social

Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a

12

diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1

Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto

negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de

aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra

briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de

Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo

poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente

positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral

inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se

portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz

entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho

aproximaccedilatildeo(idem)

Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual

as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a

accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem

contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre

se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno

surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate

Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais

do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da

uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo

interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto

de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual

1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG

13

de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos

processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou

construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro

dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a

atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se

expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute

atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o

conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de

valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes

estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda

De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos

autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito

promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes

interrompidos pelo conflito

Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)

14

CAPIacuteTULO II

A MEDIACcedilAtildeO

21- Definiccedilatildeo

Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico

informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial

Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute

mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em

princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise

A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2

No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a

soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica

adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de

resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da

comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do

endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se

ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a

possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das

contraposiccedilotildees entre as partes

As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)

encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de

2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo

15

forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive

financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as

partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e

mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento

das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor

f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees

etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses

divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a

reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e

proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se

mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e

consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem

tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como

sobre si proacuteprio

22- Origens

A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute

reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada

nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma

La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3

Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se

encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas

Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior

baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista

3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId

16

Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de

forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e

ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como

sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades

natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o

mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte

de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional

com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer

existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo

acompanhados de novas exigecircncias

Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de

Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental

desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua

que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees

entre os indiviacuteduos

Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade

moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as

controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e

posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os

mesmos

Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de

intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus

propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir

a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis

e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos

(Egger 2006 p 42)

Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)

()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos

Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar

na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no

acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar

17

trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o

compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um

ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses

se torna tambeacutem um mediador

() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)

A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo

que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger

2006 p 47)

Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento

entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um

processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas

diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo

presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando

diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao

contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante

No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob

alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das

ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de

intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em

conta a subjetividade inerente aos mesmos

O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento

das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso

comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises

rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores

naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu

grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais

fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de

18

campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do

juriacutedico do psicoloacutegico do social etc

Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na

sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a

quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns

naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo

novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os

entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas

eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais

americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente

como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que

somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as

partes

No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem

recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da

deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu

texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo

()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)

Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser

utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em

diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e

eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de

consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf

19

situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias

com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua

aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir

sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do

senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais

educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que

qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse

processo

A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se

chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas

segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o

que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais

brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes

envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o

processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da

chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de

processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua

resoluccedilatildeo final

O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo

bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado

o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu

criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar

20

bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre

as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da

mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa

convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O

mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-

se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos

Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum

deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela

ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo

bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo

Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em

momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees

bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a

conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do

desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador

bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador

deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve

garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo

destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A

confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de

ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos

Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de

mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo

Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e

o modelo de Warat

241- Modelo Tradicional de Harvard

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

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Jorge Zahar Editor 1996

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ROUDINESCO Elizabeth e PLON Michel Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

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50

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LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para

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2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=

231518ampseo=1gt Visitado em 02062011

53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

5

RESUMO

Esta monografia tem como objetivo aprofundar conhecimentos com

respeito agrave praacutetica com Mediaccedilatildeo de conflitos especificamente os de ordem

familiar tanto no acircmbito juriacutedico como no acircmbito privado sendo esta uacuteltima

realizada no espaccedilo cliacutenico de um consultoacuterio de psicologia e psicanaacutelise

Pretende analisar a possibilidade da integraccedilatildeo das teacutecnicas de mediaccedilatildeo de

conflitos em momentos especiacuteficos ao tratamento psicanaliacutetico quando da

constataccedilatildeo da sua necessidade para o desmantelamento de uma situaccedilatildeo

conflitante de difiacutecil elaboraccedilatildeo psiacutequica pelo paciente necessitando a

intervenccedilatildeo objetiva

Procura-se analisar os embasamentos teoacutericos da teacutecnica da

mediaccedilatildeo as influecircncias epistemoloacutegicas que ajudaram a construir o

arcabouccedilo de conhecimentos que fez dela uma teacutecnica alternativa na resoluccedilatildeo

de controveacutersias em vaacuterios acircmbitos comercial juriacutedico familiar empresarial

comunitaacuteria entre outras Diferenciando-se da Negociaccedilatildeo e da Conciliaccedilatildeo a

mediaccedilatildeo firma-se como meacutetodo de intervenccedilatildeo paciacutefica espontacircnea

voluntaacuteria visando ganhos muacutetuos para todas as partes que se vejam

envolvidas em conflitos de difiacutecil soluccedilatildeo

Quanto agrave Psicanaacutelise o embasamento teoacuterico de conceitos

fundamentais foi primordial uma vez que numa anaacutelise progressiva chegou-se

agrave obra freudiana lsquoO Mal-Estar na Civilizaccedilatildeorsquo que nos demonstra a situaccedilatildeo

que o indiviacuteduo se encontra enquanto ser psiacutequico social poliacutetico e cultural

Neste contexto situa-se o homem conflituado entre as exigecircncias internas de

seu psiquismo e as leis da sociedade Mostra-se que o conflito psiacutequico

extravasa para o social fornecendo-lhe caracteriacutesticas fenomenoloacutegicas que

vatildeo se manifestar em todos os acircmbitos nos quais o sujeito faz laccedilos com o

outro semelhante Estabelece-se com este vaacuterios tipos de viacutenculos incluindo

os amorosos e os agressivos destrutivos ao ponto de chegarem a estabelecer

situaccedilotildees de completa rivalidade entre os indiviacuteduos

Esclareceu-se a noccedilatildeo portanto de que os conflitos nem sempre

possuem a vertente destrutiva mas de outra forma podem significar condiccedilotildees

de mudanccedilas positivas a partir da possibilidade de transformaccedilatildeo de uma

6

situaccedilatildeo que tornou-se inadequada para outra onde a resignificaccedilatildeo desta

proporciona o restabelecimento da comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo

acirramento das emoccedilotildees que alimentam o conflito

7

METODOLOGIA

O presente trabalho foi desenvolvido atraveacutes da utilizaccedilatildeo de

bibliografia especiacutefica agrave aacuterea da mediaccedilatildeo de conflitos tanto no acircmbito do

Direito como nas aacutereas do social e da psicologia bem como agrave Psicanaacutelise

Utilizou-se de pesquisas por meio eletrocircnico ndashinternet- e das anotaccedilotildees das

aulas do Curso de Mediaccedilatildeo da AVM

8

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO09

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

Liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49 WEBGRAFIA51 IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

9

INTRODUCcedilAtildeO

A presente monografia teve como intenccedilatildeo discutir a relaccedilatildeo entre

praacuteticas que colocam o ser humano em dois niacuteveis de conhecimento de um

lado enquanto ser social lidando conscientemente com seus avatares

conhecedor do mundo que o cerca e certo de suas interpretaccedilotildees da realidade

objetiva de outro enquanto ser inconsciente mestre de seus desiacutegnios poreacutem

sem mesmo o saber Como articular esta dualidade humana enquanto ser da

consciecircncia e ser portador de um inconsciente dinacircmico

O ser humano envolve-se no seu dia-a-dia com as mais diversas

tarefas inserido no meio social onde convive com seus semelhantes ora de

forma paciacutefica ora atormentado por conflitos provenientes destas relaccedilotildees

Resultando das vicissitudes agraves quais o indiviacuteduo se sujeita ao conviver

socialmente o encontramos agraves vezes em embates que o transtornam havendo

daiacute uma seacuterie de consequumlecircncias seja de ordem social ou emocional

No campo da cliacutenica psicanaliacutetica muitas vezes recebemos sujeitos

no consultoacuterio nos trazendo queixas de muita anguacutestia mal-estar emocional

depressatildeo profunda Ao o escutar o psicanalista natildeo deixa de perceber o

contexto social que estaacute inserido e detecta indiscutivelmente que muitas delas

foram ou satildeo produzidas por conflitos gerados a partir de desentendimentos

familiares profissionais fraternais A teacutecnica psicanaliacutetica baseada nos

ensinamentos de Freud natildeo trataraacute das relaccedilotildees sociais nas quais o indiviacuteduo

estaacute inserido apesar de natildeo desconhecer a influecircncia que causam em sua

patologia No entanto natildeo deixa-se de perceber o quanto muitas vezes no

acirramento do conflito desses laccedilos afetivos trazem a piora dos sintomas do

indiviacuteduo e o jogam num buraco cada vez maior de anguacutestia Infelizmente a

psicanaacutelise nem sempre possui o tempo necessaacuterio para intervir sobre o

acirramento dos sintomas chegando o paciente a necessitar do uso de

medicamentos antidepressivos ansioliacuteticos controladores do humor

antipsicotizantes para minimizar seu mal-estar psiacutequico Como praacutetica

terapecircutica nem sempre a psicanaacutelise consegue dar conta do grande volume

de questotildees relacionadas agrave problemaacutetica das relaccedilotildees entre pessoas e desta

forma pergunta-se a partir do conhecimento obtido atraveacutes do ensinamento

10

sobre a Mediaccedilatildeo de Conflitos se seria possiacutevel num determinado momento

de um tratamento psicanaliacutetico lanccedilar matildeo das teacutecnicas da mediaccedilatildeo

objetivando a dissoluccedilatildeo do mal-estar relacional aiacute intricado

Pensar nesta possibilidade foi o mote desta pesquisa e para

responder agrave pergunta ldquoa teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos pode ser aplicada

como parte integrante do tratamento psicanaliacuteticordquo foram necessaacuterias muitas

horas de leitura e de elaboraccedilatildeo de conclusotildees

A tarefa do psicanalista assim como a do mediador natildeo eacute nem um

pouco suave Lidando com conflitos incessantemente em todos os dias de sua

praacutetica profissional depara-se com situaccedilotildees que lhe exigem muita experiecircncia

e sabedoria necessitando de muita criatividade para dar continuidade aos

processos que ambos iniciaram cada um em seu campo

Em psicanaacutelise discutimos incessantemente a posiccedilatildeo do analista

num contexto eacutetico em relaccedilatildeo agrave sua praacutetica e em relaccedilatildeo ao seu ser Ao

psicanalista corresponde o lugar da escuta do inconsciente intervindo com seu

ato analiacutetico sobre o significante que desponta do inconsciente do paciente

fazendo-o ressignificar sua posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao desejo A escuta em

atenccedilatildeo flutuante permite que o paciente desenrole sua histoacuteria a partir de seu

ponto de vista ou melhor a partir de sua realidade psiacutequica traccedilando

livremente o seu caminho para chegar agraves suas proacuteprias conclusotildees poreacutem

natildeo sem o ato analiacutetico que pontua o que o inconsciente insistentemente daacute

provas de sua existecircncia ndash atos falhos sonhos lembranccedilas etc

Em mediaccedilatildeo o mediador seraacute orientado tambeacutem por uma eacutetica

que o coloca como terceiro imparcial mas com escuta atenta e isenta de juiacutezo

de valor possibilitando que as partes envolvidas no conflito possam chegar por

si mesmas a uma soluccedilatildeo O mediador de certa forma e sem saber se torna

muitas vezes testemunha do afloramento inconsciente daqueles que medeia

Assim nesta correlaccedilatildeo de posiccedilotildees eacuteticas de um e de outro haveraacute

alguma forma de um se beneficiar do campo de conhecimento do outro Esta

pergunta seraacute esclarecida ao longo das proacuteximas paacuteginas chegando adiante a

alguma conclusatildeo ainda aqui sem certezas Portanto vamos ao trabalho

11

CAPIacuteTULO I

TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA

O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)

As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves

relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees

atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na

essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual

quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas

entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das

emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No

embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais

profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre

subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como

superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois

natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na

sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da

contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como

um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e

que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade

entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No

entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar

a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo

que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se

faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social

Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a

12

diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1

Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto

negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de

aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra

briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de

Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo

poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente

positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral

inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se

portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz

entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho

aproximaccedilatildeo(idem)

Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual

as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a

accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem

contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre

se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno

surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate

Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais

do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da

uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo

interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto

de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual

1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG

13

de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos

processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou

construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro

dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a

atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se

expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute

atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o

conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de

valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes

estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda

De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos

autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito

promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes

interrompidos pelo conflito

Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)

14

CAPIacuteTULO II

A MEDIACcedilAtildeO

21- Definiccedilatildeo

Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico

informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial

Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute

mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em

princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise

A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2

No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a

soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica

adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de

resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da

comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do

endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se

ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a

possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das

contraposiccedilotildees entre as partes

As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)

encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de

2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo

15

forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive

financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as

partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e

mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento

das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor

f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees

etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses

divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a

reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e

proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se

mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e

consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem

tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como

sobre si proacuteprio

22- Origens

A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute

reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada

nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma

La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3

Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se

encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas

Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior

baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista

3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId

16

Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de

forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e

ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como

sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades

natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o

mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte

de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional

com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer

existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo

acompanhados de novas exigecircncias

Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de

Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental

desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua

que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees

entre os indiviacuteduos

Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade

moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as

controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e

posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os

mesmos

Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de

intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus

propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir

a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis

e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos

(Egger 2006 p 42)

Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)

()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos

Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar

na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no

acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar

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trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o

compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um

ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses

se torna tambeacutem um mediador

() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)

A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo

que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger

2006 p 47)

Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento

entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um

processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas

diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo

presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando

diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao

contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante

No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob

alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das

ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de

intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em

conta a subjetividade inerente aos mesmos

O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento

das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso

comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises

rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores

naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu

grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais

fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de

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campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do

juriacutedico do psicoloacutegico do social etc

Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na

sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a

quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns

naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo

novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os

entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas

eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais

americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente

como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que

somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as

partes

No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem

recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da

deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu

texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo

()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)

Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser

utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em

diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e

eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de

consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf

19

situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias

com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua

aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir

sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do

senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais

educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que

qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse

processo

A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se

chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas

segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o

que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais

brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes

envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o

processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da

chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de

processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua

resoluccedilatildeo final

O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo

bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado

o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu

criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar

20

bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre

as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da

mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa

convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O

mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-

se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos

Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum

deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela

ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo

bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo

Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em

momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees

bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a

conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do

desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador

bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador

deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve

garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo

destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A

confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de

ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos

Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de

mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo

Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e

o modelo de Warat

241- Modelo Tradicional de Harvard

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

6

situaccedilatildeo que tornou-se inadequada para outra onde a resignificaccedilatildeo desta

proporciona o restabelecimento da comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo

acirramento das emoccedilotildees que alimentam o conflito

7

METODOLOGIA

O presente trabalho foi desenvolvido atraveacutes da utilizaccedilatildeo de

bibliografia especiacutefica agrave aacuterea da mediaccedilatildeo de conflitos tanto no acircmbito do

Direito como nas aacutereas do social e da psicologia bem como agrave Psicanaacutelise

Utilizou-se de pesquisas por meio eletrocircnico ndashinternet- e das anotaccedilotildees das

aulas do Curso de Mediaccedilatildeo da AVM

8

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO09

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

Liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49 WEBGRAFIA51 IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

9

INTRODUCcedilAtildeO

A presente monografia teve como intenccedilatildeo discutir a relaccedilatildeo entre

praacuteticas que colocam o ser humano em dois niacuteveis de conhecimento de um

lado enquanto ser social lidando conscientemente com seus avatares

conhecedor do mundo que o cerca e certo de suas interpretaccedilotildees da realidade

objetiva de outro enquanto ser inconsciente mestre de seus desiacutegnios poreacutem

sem mesmo o saber Como articular esta dualidade humana enquanto ser da

consciecircncia e ser portador de um inconsciente dinacircmico

O ser humano envolve-se no seu dia-a-dia com as mais diversas

tarefas inserido no meio social onde convive com seus semelhantes ora de

forma paciacutefica ora atormentado por conflitos provenientes destas relaccedilotildees

Resultando das vicissitudes agraves quais o indiviacuteduo se sujeita ao conviver

socialmente o encontramos agraves vezes em embates que o transtornam havendo

daiacute uma seacuterie de consequumlecircncias seja de ordem social ou emocional

No campo da cliacutenica psicanaliacutetica muitas vezes recebemos sujeitos

no consultoacuterio nos trazendo queixas de muita anguacutestia mal-estar emocional

depressatildeo profunda Ao o escutar o psicanalista natildeo deixa de perceber o

contexto social que estaacute inserido e detecta indiscutivelmente que muitas delas

foram ou satildeo produzidas por conflitos gerados a partir de desentendimentos

familiares profissionais fraternais A teacutecnica psicanaliacutetica baseada nos

ensinamentos de Freud natildeo trataraacute das relaccedilotildees sociais nas quais o indiviacuteduo

estaacute inserido apesar de natildeo desconhecer a influecircncia que causam em sua

patologia No entanto natildeo deixa-se de perceber o quanto muitas vezes no

acirramento do conflito desses laccedilos afetivos trazem a piora dos sintomas do

indiviacuteduo e o jogam num buraco cada vez maior de anguacutestia Infelizmente a

psicanaacutelise nem sempre possui o tempo necessaacuterio para intervir sobre o

acirramento dos sintomas chegando o paciente a necessitar do uso de

medicamentos antidepressivos ansioliacuteticos controladores do humor

antipsicotizantes para minimizar seu mal-estar psiacutequico Como praacutetica

terapecircutica nem sempre a psicanaacutelise consegue dar conta do grande volume

de questotildees relacionadas agrave problemaacutetica das relaccedilotildees entre pessoas e desta

forma pergunta-se a partir do conhecimento obtido atraveacutes do ensinamento

10

sobre a Mediaccedilatildeo de Conflitos se seria possiacutevel num determinado momento

de um tratamento psicanaliacutetico lanccedilar matildeo das teacutecnicas da mediaccedilatildeo

objetivando a dissoluccedilatildeo do mal-estar relacional aiacute intricado

Pensar nesta possibilidade foi o mote desta pesquisa e para

responder agrave pergunta ldquoa teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos pode ser aplicada

como parte integrante do tratamento psicanaliacuteticordquo foram necessaacuterias muitas

horas de leitura e de elaboraccedilatildeo de conclusotildees

A tarefa do psicanalista assim como a do mediador natildeo eacute nem um

pouco suave Lidando com conflitos incessantemente em todos os dias de sua

praacutetica profissional depara-se com situaccedilotildees que lhe exigem muita experiecircncia

e sabedoria necessitando de muita criatividade para dar continuidade aos

processos que ambos iniciaram cada um em seu campo

Em psicanaacutelise discutimos incessantemente a posiccedilatildeo do analista

num contexto eacutetico em relaccedilatildeo agrave sua praacutetica e em relaccedilatildeo ao seu ser Ao

psicanalista corresponde o lugar da escuta do inconsciente intervindo com seu

ato analiacutetico sobre o significante que desponta do inconsciente do paciente

fazendo-o ressignificar sua posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao desejo A escuta em

atenccedilatildeo flutuante permite que o paciente desenrole sua histoacuteria a partir de seu

ponto de vista ou melhor a partir de sua realidade psiacutequica traccedilando

livremente o seu caminho para chegar agraves suas proacuteprias conclusotildees poreacutem

natildeo sem o ato analiacutetico que pontua o que o inconsciente insistentemente daacute

provas de sua existecircncia ndash atos falhos sonhos lembranccedilas etc

Em mediaccedilatildeo o mediador seraacute orientado tambeacutem por uma eacutetica

que o coloca como terceiro imparcial mas com escuta atenta e isenta de juiacutezo

de valor possibilitando que as partes envolvidas no conflito possam chegar por

si mesmas a uma soluccedilatildeo O mediador de certa forma e sem saber se torna

muitas vezes testemunha do afloramento inconsciente daqueles que medeia

Assim nesta correlaccedilatildeo de posiccedilotildees eacuteticas de um e de outro haveraacute

alguma forma de um se beneficiar do campo de conhecimento do outro Esta

pergunta seraacute esclarecida ao longo das proacuteximas paacuteginas chegando adiante a

alguma conclusatildeo ainda aqui sem certezas Portanto vamos ao trabalho

11

CAPIacuteTULO I

TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA

O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)

As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves

relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees

atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na

essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual

quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas

entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das

emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No

embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais

profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre

subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como

superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois

natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na

sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da

contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como

um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e

que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade

entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No

entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar

a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo

que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se

faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social

Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a

12

diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1

Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto

negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de

aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra

briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de

Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo

poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente

positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral

inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se

portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz

entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho

aproximaccedilatildeo(idem)

Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual

as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a

accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem

contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre

se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno

surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate

Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais

do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da

uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo

interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto

de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual

1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG

13

de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos

processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou

construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro

dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a

atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se

expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute

atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o

conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de

valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes

estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda

De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos

autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito

promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes

interrompidos pelo conflito

Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)

14

CAPIacuteTULO II

A MEDIACcedilAtildeO

21- Definiccedilatildeo

Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico

informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial

Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute

mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em

princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise

A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2

No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a

soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica

adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de

resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da

comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do

endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se

ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a

possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das

contraposiccedilotildees entre as partes

As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)

encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de

2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo

15

forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive

financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as

partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e

mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento

das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor

f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees

etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses

divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a

reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e

proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se

mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e

consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem

tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como

sobre si proacuteprio

22- Origens

A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute

reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada

nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma

La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3

Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se

encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas

Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior

baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista

3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId

16

Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de

forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e

ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como

sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades

natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o

mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte

de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional

com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer

existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo

acompanhados de novas exigecircncias

Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de

Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental

desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua

que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees

entre os indiviacuteduos

Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade

moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as

controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e

posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os

mesmos

Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de

intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus

propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir

a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis

e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos

(Egger 2006 p 42)

Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)

()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos

Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar

na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no

acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar

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trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o

compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um

ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses

se torna tambeacutem um mediador

() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)

A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo

que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger

2006 p 47)

Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento

entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um

processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas

diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo

presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando

diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao

contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante

No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob

alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das

ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de

intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em

conta a subjetividade inerente aos mesmos

O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento

das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso

comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises

rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores

naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu

grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais

fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de

18

campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do

juriacutedico do psicoloacutegico do social etc

Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na

sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a

quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns

naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo

novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os

entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas

eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais

americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente

como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que

somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as

partes

No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem

recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da

deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu

texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo

()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)

Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser

utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em

diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e

eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de

consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf

19

situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias

com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua

aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir

sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do

senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais

educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que

qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse

processo

A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se

chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas

segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o

que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais

brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes

envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o

processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da

chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de

processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua

resoluccedilatildeo final

O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo

bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado

o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu

criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar

20

bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre

as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da

mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa

convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O

mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-

se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos

Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum

deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela

ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo

bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo

Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em

momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees

bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a

conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do

desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador

bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador

deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve

garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo

destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A

confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de

ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos

Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de

mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo

Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e

o modelo de Warat

241- Modelo Tradicional de Harvard

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

7

METODOLOGIA

O presente trabalho foi desenvolvido atraveacutes da utilizaccedilatildeo de

bibliografia especiacutefica agrave aacuterea da mediaccedilatildeo de conflitos tanto no acircmbito do

Direito como nas aacutereas do social e da psicologia bem como agrave Psicanaacutelise

Utilizou-se de pesquisas por meio eletrocircnico ndashinternet- e das anotaccedilotildees das

aulas do Curso de Mediaccedilatildeo da AVM

8

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO09

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

Liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49 WEBGRAFIA51 IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

9

INTRODUCcedilAtildeO

A presente monografia teve como intenccedilatildeo discutir a relaccedilatildeo entre

praacuteticas que colocam o ser humano em dois niacuteveis de conhecimento de um

lado enquanto ser social lidando conscientemente com seus avatares

conhecedor do mundo que o cerca e certo de suas interpretaccedilotildees da realidade

objetiva de outro enquanto ser inconsciente mestre de seus desiacutegnios poreacutem

sem mesmo o saber Como articular esta dualidade humana enquanto ser da

consciecircncia e ser portador de um inconsciente dinacircmico

O ser humano envolve-se no seu dia-a-dia com as mais diversas

tarefas inserido no meio social onde convive com seus semelhantes ora de

forma paciacutefica ora atormentado por conflitos provenientes destas relaccedilotildees

Resultando das vicissitudes agraves quais o indiviacuteduo se sujeita ao conviver

socialmente o encontramos agraves vezes em embates que o transtornam havendo

daiacute uma seacuterie de consequumlecircncias seja de ordem social ou emocional

No campo da cliacutenica psicanaliacutetica muitas vezes recebemos sujeitos

no consultoacuterio nos trazendo queixas de muita anguacutestia mal-estar emocional

depressatildeo profunda Ao o escutar o psicanalista natildeo deixa de perceber o

contexto social que estaacute inserido e detecta indiscutivelmente que muitas delas

foram ou satildeo produzidas por conflitos gerados a partir de desentendimentos

familiares profissionais fraternais A teacutecnica psicanaliacutetica baseada nos

ensinamentos de Freud natildeo trataraacute das relaccedilotildees sociais nas quais o indiviacuteduo

estaacute inserido apesar de natildeo desconhecer a influecircncia que causam em sua

patologia No entanto natildeo deixa-se de perceber o quanto muitas vezes no

acirramento do conflito desses laccedilos afetivos trazem a piora dos sintomas do

indiviacuteduo e o jogam num buraco cada vez maior de anguacutestia Infelizmente a

psicanaacutelise nem sempre possui o tempo necessaacuterio para intervir sobre o

acirramento dos sintomas chegando o paciente a necessitar do uso de

medicamentos antidepressivos ansioliacuteticos controladores do humor

antipsicotizantes para minimizar seu mal-estar psiacutequico Como praacutetica

terapecircutica nem sempre a psicanaacutelise consegue dar conta do grande volume

de questotildees relacionadas agrave problemaacutetica das relaccedilotildees entre pessoas e desta

forma pergunta-se a partir do conhecimento obtido atraveacutes do ensinamento

10

sobre a Mediaccedilatildeo de Conflitos se seria possiacutevel num determinado momento

de um tratamento psicanaliacutetico lanccedilar matildeo das teacutecnicas da mediaccedilatildeo

objetivando a dissoluccedilatildeo do mal-estar relacional aiacute intricado

Pensar nesta possibilidade foi o mote desta pesquisa e para

responder agrave pergunta ldquoa teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos pode ser aplicada

como parte integrante do tratamento psicanaliacuteticordquo foram necessaacuterias muitas

horas de leitura e de elaboraccedilatildeo de conclusotildees

A tarefa do psicanalista assim como a do mediador natildeo eacute nem um

pouco suave Lidando com conflitos incessantemente em todos os dias de sua

praacutetica profissional depara-se com situaccedilotildees que lhe exigem muita experiecircncia

e sabedoria necessitando de muita criatividade para dar continuidade aos

processos que ambos iniciaram cada um em seu campo

Em psicanaacutelise discutimos incessantemente a posiccedilatildeo do analista

num contexto eacutetico em relaccedilatildeo agrave sua praacutetica e em relaccedilatildeo ao seu ser Ao

psicanalista corresponde o lugar da escuta do inconsciente intervindo com seu

ato analiacutetico sobre o significante que desponta do inconsciente do paciente

fazendo-o ressignificar sua posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao desejo A escuta em

atenccedilatildeo flutuante permite que o paciente desenrole sua histoacuteria a partir de seu

ponto de vista ou melhor a partir de sua realidade psiacutequica traccedilando

livremente o seu caminho para chegar agraves suas proacuteprias conclusotildees poreacutem

natildeo sem o ato analiacutetico que pontua o que o inconsciente insistentemente daacute

provas de sua existecircncia ndash atos falhos sonhos lembranccedilas etc

Em mediaccedilatildeo o mediador seraacute orientado tambeacutem por uma eacutetica

que o coloca como terceiro imparcial mas com escuta atenta e isenta de juiacutezo

de valor possibilitando que as partes envolvidas no conflito possam chegar por

si mesmas a uma soluccedilatildeo O mediador de certa forma e sem saber se torna

muitas vezes testemunha do afloramento inconsciente daqueles que medeia

Assim nesta correlaccedilatildeo de posiccedilotildees eacuteticas de um e de outro haveraacute

alguma forma de um se beneficiar do campo de conhecimento do outro Esta

pergunta seraacute esclarecida ao longo das proacuteximas paacuteginas chegando adiante a

alguma conclusatildeo ainda aqui sem certezas Portanto vamos ao trabalho

11

CAPIacuteTULO I

TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA

O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)

As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves

relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees

atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na

essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual

quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas

entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das

emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No

embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais

profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre

subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como

superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois

natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na

sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da

contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como

um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e

que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade

entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No

entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar

a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo

que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se

faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social

Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a

12

diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1

Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto

negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de

aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra

briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de

Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo

poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente

positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral

inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se

portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz

entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho

aproximaccedilatildeo(idem)

Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual

as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a

accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem

contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre

se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno

surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate

Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais

do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da

uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo

interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto

de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual

1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG

13

de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos

processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou

construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro

dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a

atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se

expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute

atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o

conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de

valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes

estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda

De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos

autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito

promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes

interrompidos pelo conflito

Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)

14

CAPIacuteTULO II

A MEDIACcedilAtildeO

21- Definiccedilatildeo

Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico

informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial

Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute

mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em

princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise

A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2

No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a

soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica

adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de

resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da

comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do

endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se

ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a

possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das

contraposiccedilotildees entre as partes

As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)

encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de

2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo

15

forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive

financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as

partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e

mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento

das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor

f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees

etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses

divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a

reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e

proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se

mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e

consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem

tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como

sobre si proacuteprio

22- Origens

A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute

reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada

nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma

La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3

Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se

encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas

Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior

baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista

3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId

16

Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de

forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e

ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como

sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades

natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o

mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte

de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional

com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer

existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo

acompanhados de novas exigecircncias

Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de

Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental

desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua

que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees

entre os indiviacuteduos

Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade

moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as

controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e

posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os

mesmos

Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de

intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus

propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir

a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis

e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos

(Egger 2006 p 42)

Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)

()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos

Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar

na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no

acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar

17

trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o

compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um

ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses

se torna tambeacutem um mediador

() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)

A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo

que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger

2006 p 47)

Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento

entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um

processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas

diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo

presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando

diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao

contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante

No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob

alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das

ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de

intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em

conta a subjetividade inerente aos mesmos

O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento

das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso

comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises

rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores

naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu

grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais

fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de

18

campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do

juriacutedico do psicoloacutegico do social etc

Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na

sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a

quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns

naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo

novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os

entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas

eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais

americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente

como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que

somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as

partes

No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem

recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da

deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu

texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo

()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)

Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser

utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em

diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e

eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de

consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf

19

situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias

com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua

aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir

sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do

senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais

educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que

qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse

processo

A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se

chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas

segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o

que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais

brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes

envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o

processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da

chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de

processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua

resoluccedilatildeo final

O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo

bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado

o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu

criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar

20

bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre

as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da

mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa

convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O

mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-

se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos

Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum

deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela

ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo

bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo

Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em

momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees

bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a

conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do

desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador

bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador

deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve

garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo

destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A

confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de

ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos

Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de

mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo

Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e

o modelo de Warat

241- Modelo Tradicional de Harvard

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

8

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO09

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

Liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49 WEBGRAFIA51 IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

9

INTRODUCcedilAtildeO

A presente monografia teve como intenccedilatildeo discutir a relaccedilatildeo entre

praacuteticas que colocam o ser humano em dois niacuteveis de conhecimento de um

lado enquanto ser social lidando conscientemente com seus avatares

conhecedor do mundo que o cerca e certo de suas interpretaccedilotildees da realidade

objetiva de outro enquanto ser inconsciente mestre de seus desiacutegnios poreacutem

sem mesmo o saber Como articular esta dualidade humana enquanto ser da

consciecircncia e ser portador de um inconsciente dinacircmico

O ser humano envolve-se no seu dia-a-dia com as mais diversas

tarefas inserido no meio social onde convive com seus semelhantes ora de

forma paciacutefica ora atormentado por conflitos provenientes destas relaccedilotildees

Resultando das vicissitudes agraves quais o indiviacuteduo se sujeita ao conviver

socialmente o encontramos agraves vezes em embates que o transtornam havendo

daiacute uma seacuterie de consequumlecircncias seja de ordem social ou emocional

No campo da cliacutenica psicanaliacutetica muitas vezes recebemos sujeitos

no consultoacuterio nos trazendo queixas de muita anguacutestia mal-estar emocional

depressatildeo profunda Ao o escutar o psicanalista natildeo deixa de perceber o

contexto social que estaacute inserido e detecta indiscutivelmente que muitas delas

foram ou satildeo produzidas por conflitos gerados a partir de desentendimentos

familiares profissionais fraternais A teacutecnica psicanaliacutetica baseada nos

ensinamentos de Freud natildeo trataraacute das relaccedilotildees sociais nas quais o indiviacuteduo

estaacute inserido apesar de natildeo desconhecer a influecircncia que causam em sua

patologia No entanto natildeo deixa-se de perceber o quanto muitas vezes no

acirramento do conflito desses laccedilos afetivos trazem a piora dos sintomas do

indiviacuteduo e o jogam num buraco cada vez maior de anguacutestia Infelizmente a

psicanaacutelise nem sempre possui o tempo necessaacuterio para intervir sobre o

acirramento dos sintomas chegando o paciente a necessitar do uso de

medicamentos antidepressivos ansioliacuteticos controladores do humor

antipsicotizantes para minimizar seu mal-estar psiacutequico Como praacutetica

terapecircutica nem sempre a psicanaacutelise consegue dar conta do grande volume

de questotildees relacionadas agrave problemaacutetica das relaccedilotildees entre pessoas e desta

forma pergunta-se a partir do conhecimento obtido atraveacutes do ensinamento

10

sobre a Mediaccedilatildeo de Conflitos se seria possiacutevel num determinado momento

de um tratamento psicanaliacutetico lanccedilar matildeo das teacutecnicas da mediaccedilatildeo

objetivando a dissoluccedilatildeo do mal-estar relacional aiacute intricado

Pensar nesta possibilidade foi o mote desta pesquisa e para

responder agrave pergunta ldquoa teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos pode ser aplicada

como parte integrante do tratamento psicanaliacuteticordquo foram necessaacuterias muitas

horas de leitura e de elaboraccedilatildeo de conclusotildees

A tarefa do psicanalista assim como a do mediador natildeo eacute nem um

pouco suave Lidando com conflitos incessantemente em todos os dias de sua

praacutetica profissional depara-se com situaccedilotildees que lhe exigem muita experiecircncia

e sabedoria necessitando de muita criatividade para dar continuidade aos

processos que ambos iniciaram cada um em seu campo

Em psicanaacutelise discutimos incessantemente a posiccedilatildeo do analista

num contexto eacutetico em relaccedilatildeo agrave sua praacutetica e em relaccedilatildeo ao seu ser Ao

psicanalista corresponde o lugar da escuta do inconsciente intervindo com seu

ato analiacutetico sobre o significante que desponta do inconsciente do paciente

fazendo-o ressignificar sua posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao desejo A escuta em

atenccedilatildeo flutuante permite que o paciente desenrole sua histoacuteria a partir de seu

ponto de vista ou melhor a partir de sua realidade psiacutequica traccedilando

livremente o seu caminho para chegar agraves suas proacuteprias conclusotildees poreacutem

natildeo sem o ato analiacutetico que pontua o que o inconsciente insistentemente daacute

provas de sua existecircncia ndash atos falhos sonhos lembranccedilas etc

Em mediaccedilatildeo o mediador seraacute orientado tambeacutem por uma eacutetica

que o coloca como terceiro imparcial mas com escuta atenta e isenta de juiacutezo

de valor possibilitando que as partes envolvidas no conflito possam chegar por

si mesmas a uma soluccedilatildeo O mediador de certa forma e sem saber se torna

muitas vezes testemunha do afloramento inconsciente daqueles que medeia

Assim nesta correlaccedilatildeo de posiccedilotildees eacuteticas de um e de outro haveraacute

alguma forma de um se beneficiar do campo de conhecimento do outro Esta

pergunta seraacute esclarecida ao longo das proacuteximas paacuteginas chegando adiante a

alguma conclusatildeo ainda aqui sem certezas Portanto vamos ao trabalho

11

CAPIacuteTULO I

TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA

O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)

As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves

relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees

atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na

essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual

quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas

entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das

emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No

embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais

profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre

subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como

superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois

natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na

sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da

contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como

um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e

que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade

entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No

entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar

a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo

que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se

faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social

Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a

12

diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1

Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto

negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de

aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra

briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de

Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo

poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente

positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral

inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se

portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz

entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho

aproximaccedilatildeo(idem)

Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual

as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a

accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem

contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre

se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno

surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate

Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais

do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da

uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo

interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto

de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual

1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG

13

de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos

processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou

construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro

dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a

atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se

expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute

atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o

conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de

valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes

estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda

De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos

autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito

promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes

interrompidos pelo conflito

Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)

14

CAPIacuteTULO II

A MEDIACcedilAtildeO

21- Definiccedilatildeo

Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico

informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial

Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute

mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em

princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise

A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2

No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a

soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica

adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de

resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da

comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do

endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se

ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a

possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das

contraposiccedilotildees entre as partes

As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)

encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de

2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo

15

forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive

financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as

partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e

mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento

das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor

f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees

etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses

divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a

reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e

proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se

mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e

consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem

tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como

sobre si proacuteprio

22- Origens

A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute

reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada

nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma

La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3

Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se

encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas

Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior

baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista

3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId

16

Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de

forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e

ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como

sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades

natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o

mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte

de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional

com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer

existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo

acompanhados de novas exigecircncias

Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de

Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental

desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua

que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees

entre os indiviacuteduos

Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade

moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as

controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e

posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os

mesmos

Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de

intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus

propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir

a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis

e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos

(Egger 2006 p 42)

Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)

()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos

Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar

na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no

acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar

17

trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o

compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um

ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses

se torna tambeacutem um mediador

() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)

A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo

que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger

2006 p 47)

Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento

entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um

processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas

diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo

presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando

diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao

contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante

No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob

alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das

ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de

intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em

conta a subjetividade inerente aos mesmos

O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento

das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso

comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises

rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores

naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu

grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais

fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de

18

campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do

juriacutedico do psicoloacutegico do social etc

Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na

sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a

quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns

naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo

novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os

entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas

eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais

americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente

como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que

somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as

partes

No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem

recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da

deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu

texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo

()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)

Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser

utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em

diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e

eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de

consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf

19

situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias

com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua

aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir

sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do

senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais

educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que

qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse

processo

A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se

chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas

segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o

que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais

brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes

envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o

processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da

chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de

processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua

resoluccedilatildeo final

O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo

bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado

o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu

criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar

20

bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre

as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da

mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa

convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O

mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-

se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos

Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum

deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela

ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo

bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo

Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em

momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees

bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a

conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do

desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador

bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador

deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve

garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo

destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A

confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de

ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos

Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de

mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo

Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e

o modelo de Warat

241- Modelo Tradicional de Harvard

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

9

INTRODUCcedilAtildeO

A presente monografia teve como intenccedilatildeo discutir a relaccedilatildeo entre

praacuteticas que colocam o ser humano em dois niacuteveis de conhecimento de um

lado enquanto ser social lidando conscientemente com seus avatares

conhecedor do mundo que o cerca e certo de suas interpretaccedilotildees da realidade

objetiva de outro enquanto ser inconsciente mestre de seus desiacutegnios poreacutem

sem mesmo o saber Como articular esta dualidade humana enquanto ser da

consciecircncia e ser portador de um inconsciente dinacircmico

O ser humano envolve-se no seu dia-a-dia com as mais diversas

tarefas inserido no meio social onde convive com seus semelhantes ora de

forma paciacutefica ora atormentado por conflitos provenientes destas relaccedilotildees

Resultando das vicissitudes agraves quais o indiviacuteduo se sujeita ao conviver

socialmente o encontramos agraves vezes em embates que o transtornam havendo

daiacute uma seacuterie de consequumlecircncias seja de ordem social ou emocional

No campo da cliacutenica psicanaliacutetica muitas vezes recebemos sujeitos

no consultoacuterio nos trazendo queixas de muita anguacutestia mal-estar emocional

depressatildeo profunda Ao o escutar o psicanalista natildeo deixa de perceber o

contexto social que estaacute inserido e detecta indiscutivelmente que muitas delas

foram ou satildeo produzidas por conflitos gerados a partir de desentendimentos

familiares profissionais fraternais A teacutecnica psicanaliacutetica baseada nos

ensinamentos de Freud natildeo trataraacute das relaccedilotildees sociais nas quais o indiviacuteduo

estaacute inserido apesar de natildeo desconhecer a influecircncia que causam em sua

patologia No entanto natildeo deixa-se de perceber o quanto muitas vezes no

acirramento do conflito desses laccedilos afetivos trazem a piora dos sintomas do

indiviacuteduo e o jogam num buraco cada vez maior de anguacutestia Infelizmente a

psicanaacutelise nem sempre possui o tempo necessaacuterio para intervir sobre o

acirramento dos sintomas chegando o paciente a necessitar do uso de

medicamentos antidepressivos ansioliacuteticos controladores do humor

antipsicotizantes para minimizar seu mal-estar psiacutequico Como praacutetica

terapecircutica nem sempre a psicanaacutelise consegue dar conta do grande volume

de questotildees relacionadas agrave problemaacutetica das relaccedilotildees entre pessoas e desta

forma pergunta-se a partir do conhecimento obtido atraveacutes do ensinamento

10

sobre a Mediaccedilatildeo de Conflitos se seria possiacutevel num determinado momento

de um tratamento psicanaliacutetico lanccedilar matildeo das teacutecnicas da mediaccedilatildeo

objetivando a dissoluccedilatildeo do mal-estar relacional aiacute intricado

Pensar nesta possibilidade foi o mote desta pesquisa e para

responder agrave pergunta ldquoa teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos pode ser aplicada

como parte integrante do tratamento psicanaliacuteticordquo foram necessaacuterias muitas

horas de leitura e de elaboraccedilatildeo de conclusotildees

A tarefa do psicanalista assim como a do mediador natildeo eacute nem um

pouco suave Lidando com conflitos incessantemente em todos os dias de sua

praacutetica profissional depara-se com situaccedilotildees que lhe exigem muita experiecircncia

e sabedoria necessitando de muita criatividade para dar continuidade aos

processos que ambos iniciaram cada um em seu campo

Em psicanaacutelise discutimos incessantemente a posiccedilatildeo do analista

num contexto eacutetico em relaccedilatildeo agrave sua praacutetica e em relaccedilatildeo ao seu ser Ao

psicanalista corresponde o lugar da escuta do inconsciente intervindo com seu

ato analiacutetico sobre o significante que desponta do inconsciente do paciente

fazendo-o ressignificar sua posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao desejo A escuta em

atenccedilatildeo flutuante permite que o paciente desenrole sua histoacuteria a partir de seu

ponto de vista ou melhor a partir de sua realidade psiacutequica traccedilando

livremente o seu caminho para chegar agraves suas proacuteprias conclusotildees poreacutem

natildeo sem o ato analiacutetico que pontua o que o inconsciente insistentemente daacute

provas de sua existecircncia ndash atos falhos sonhos lembranccedilas etc

Em mediaccedilatildeo o mediador seraacute orientado tambeacutem por uma eacutetica

que o coloca como terceiro imparcial mas com escuta atenta e isenta de juiacutezo

de valor possibilitando que as partes envolvidas no conflito possam chegar por

si mesmas a uma soluccedilatildeo O mediador de certa forma e sem saber se torna

muitas vezes testemunha do afloramento inconsciente daqueles que medeia

Assim nesta correlaccedilatildeo de posiccedilotildees eacuteticas de um e de outro haveraacute

alguma forma de um se beneficiar do campo de conhecimento do outro Esta

pergunta seraacute esclarecida ao longo das proacuteximas paacuteginas chegando adiante a

alguma conclusatildeo ainda aqui sem certezas Portanto vamos ao trabalho

11

CAPIacuteTULO I

TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA

O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)

As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves

relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees

atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na

essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual

quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas

entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das

emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No

embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais

profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre

subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como

superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois

natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na

sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da

contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como

um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e

que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade

entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No

entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar

a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo

que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se

faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social

Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a

12

diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1

Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto

negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de

aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra

briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de

Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo

poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente

positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral

inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se

portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz

entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho

aproximaccedilatildeo(idem)

Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual

as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a

accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem

contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre

se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno

surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate

Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais

do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da

uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo

interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto

de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual

1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG

13

de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos

processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou

construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro

dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a

atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se

expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute

atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o

conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de

valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes

estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda

De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos

autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito

promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes

interrompidos pelo conflito

Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)

14

CAPIacuteTULO II

A MEDIACcedilAtildeO

21- Definiccedilatildeo

Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico

informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial

Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute

mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em

princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise

A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2

No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a

soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica

adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de

resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da

comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do

endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se

ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a

possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das

contraposiccedilotildees entre as partes

As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)

encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de

2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo

15

forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive

financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as

partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e

mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento

das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor

f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees

etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses

divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a

reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e

proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se

mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e

consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem

tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como

sobre si proacuteprio

22- Origens

A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute

reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada

nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma

La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3

Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se

encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas

Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior

baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista

3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId

16

Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de

forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e

ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como

sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades

natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o

mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte

de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional

com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer

existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo

acompanhados de novas exigecircncias

Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de

Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental

desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua

que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees

entre os indiviacuteduos

Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade

moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as

controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e

posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os

mesmos

Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de

intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus

propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir

a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis

e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos

(Egger 2006 p 42)

Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)

()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos

Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar

na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no

acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar

17

trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o

compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um

ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses

se torna tambeacutem um mediador

() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)

A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo

que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger

2006 p 47)

Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento

entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um

processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas

diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo

presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando

diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao

contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante

No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob

alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das

ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de

intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em

conta a subjetividade inerente aos mesmos

O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento

das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso

comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises

rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores

naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu

grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais

fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de

18

campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do

juriacutedico do psicoloacutegico do social etc

Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na

sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a

quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns

naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo

novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os

entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas

eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais

americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente

como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que

somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as

partes

No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem

recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da

deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu

texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo

()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)

Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser

utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em

diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e

eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de

consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf

19

situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias

com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua

aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir

sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do

senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais

educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que

qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse

processo

A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se

chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas

segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o

que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais

brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes

envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o

processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da

chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de

processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua

resoluccedilatildeo final

O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo

bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado

o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu

criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar

20

bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre

as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da

mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa

convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O

mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-

se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos

Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum

deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela

ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo

bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo

Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em

momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees

bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a

conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do

desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador

bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador

deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve

garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo

destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A

confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de

ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos

Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de

mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo

Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e

o modelo de Warat

241- Modelo Tradicional de Harvard

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

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CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

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Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

10

sobre a Mediaccedilatildeo de Conflitos se seria possiacutevel num determinado momento

de um tratamento psicanaliacutetico lanccedilar matildeo das teacutecnicas da mediaccedilatildeo

objetivando a dissoluccedilatildeo do mal-estar relacional aiacute intricado

Pensar nesta possibilidade foi o mote desta pesquisa e para

responder agrave pergunta ldquoa teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos pode ser aplicada

como parte integrante do tratamento psicanaliacuteticordquo foram necessaacuterias muitas

horas de leitura e de elaboraccedilatildeo de conclusotildees

A tarefa do psicanalista assim como a do mediador natildeo eacute nem um

pouco suave Lidando com conflitos incessantemente em todos os dias de sua

praacutetica profissional depara-se com situaccedilotildees que lhe exigem muita experiecircncia

e sabedoria necessitando de muita criatividade para dar continuidade aos

processos que ambos iniciaram cada um em seu campo

Em psicanaacutelise discutimos incessantemente a posiccedilatildeo do analista

num contexto eacutetico em relaccedilatildeo agrave sua praacutetica e em relaccedilatildeo ao seu ser Ao

psicanalista corresponde o lugar da escuta do inconsciente intervindo com seu

ato analiacutetico sobre o significante que desponta do inconsciente do paciente

fazendo-o ressignificar sua posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao desejo A escuta em

atenccedilatildeo flutuante permite que o paciente desenrole sua histoacuteria a partir de seu

ponto de vista ou melhor a partir de sua realidade psiacutequica traccedilando

livremente o seu caminho para chegar agraves suas proacuteprias conclusotildees poreacutem

natildeo sem o ato analiacutetico que pontua o que o inconsciente insistentemente daacute

provas de sua existecircncia ndash atos falhos sonhos lembranccedilas etc

Em mediaccedilatildeo o mediador seraacute orientado tambeacutem por uma eacutetica

que o coloca como terceiro imparcial mas com escuta atenta e isenta de juiacutezo

de valor possibilitando que as partes envolvidas no conflito possam chegar por

si mesmas a uma soluccedilatildeo O mediador de certa forma e sem saber se torna

muitas vezes testemunha do afloramento inconsciente daqueles que medeia

Assim nesta correlaccedilatildeo de posiccedilotildees eacuteticas de um e de outro haveraacute

alguma forma de um se beneficiar do campo de conhecimento do outro Esta

pergunta seraacute esclarecida ao longo das proacuteximas paacuteginas chegando adiante a

alguma conclusatildeo ainda aqui sem certezas Portanto vamos ao trabalho

11

CAPIacuteTULO I

TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA

O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)

As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves

relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees

atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na

essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual

quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas

entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das

emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No

embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais

profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre

subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como

superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois

natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na

sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da

contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como

um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e

que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade

entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No

entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar

a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo

que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se

faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social

Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a

12

diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1

Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto

negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de

aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra

briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de

Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo

poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente

positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral

inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se

portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz

entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho

aproximaccedilatildeo(idem)

Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual

as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a

accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem

contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre

se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno

surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate

Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais

do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da

uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo

interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto

de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual

1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG

13

de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos

processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou

construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro

dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a

atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se

expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute

atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o

conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de

valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes

estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda

De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos

autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito

promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes

interrompidos pelo conflito

Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)

14

CAPIacuteTULO II

A MEDIACcedilAtildeO

21- Definiccedilatildeo

Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico

informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial

Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute

mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em

princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise

A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2

No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a

soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica

adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de

resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da

comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do

endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se

ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a

possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das

contraposiccedilotildees entre as partes

As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)

encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de

2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo

15

forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive

financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as

partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e

mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento

das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor

f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees

etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses

divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a

reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e

proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se

mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e

consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem

tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como

sobre si proacuteprio

22- Origens

A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute

reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada

nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma

La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3

Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se

encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas

Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior

baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista

3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId

16

Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de

forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e

ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como

sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades

natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o

mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte

de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional

com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer

existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo

acompanhados de novas exigecircncias

Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de

Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental

desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua

que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees

entre os indiviacuteduos

Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade

moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as

controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e

posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os

mesmos

Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de

intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus

propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir

a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis

e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos

(Egger 2006 p 42)

Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)

()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos

Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar

na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no

acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar

17

trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o

compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um

ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses

se torna tambeacutem um mediador

() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)

A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo

que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger

2006 p 47)

Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento

entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um

processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas

diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo

presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando

diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao

contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante

No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob

alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das

ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de

intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em

conta a subjetividade inerente aos mesmos

O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento

das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso

comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises

rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores

naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu

grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais

fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de

18

campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do

juriacutedico do psicoloacutegico do social etc

Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na

sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a

quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns

naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo

novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os

entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas

eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais

americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente

como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que

somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as

partes

No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem

recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da

deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu

texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo

()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)

Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser

utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em

diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e

eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de

consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf

19

situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias

com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua

aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir

sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do

senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais

educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que

qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse

processo

A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se

chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas

segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o

que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais

brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes

envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o

processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da

chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de

processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua

resoluccedilatildeo final

O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo

bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado

o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu

criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar

20

bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre

as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da

mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa

convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O

mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-

se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos

Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum

deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela

ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo

bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo

Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em

momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees

bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a

conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do

desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador

bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador

deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve

garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo

destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A

confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de

ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos

Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de

mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo

Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e

o modelo de Warat

241- Modelo Tradicional de Harvard

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

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CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

11

CAPIacuteTULO I

TEORIA DO CONFLITO VISAtildeO SOCIOLOacuteGICA

O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razatildeo de metas interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatiacuteveis (Yarn1999 p133 in Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p25)

As anaacutelises socioloacutegicas o definem como uma produccedilatildeo inerente agraves

relaccedilotildees humanas no momento em que haja discordacircncias de opiniotildees

atitudes interesses objetivos entre no miacutenimo duas pessoas ou mais Eacute na

essencia social que vemos as variadas formas de manifestaccedilatildeo conflitual

quando nos deparamos com confrontos interpessoais nos quais as diferenccedilas

entre as partes se tornam geradoras de discordacircncias de acirramento das

emoccedilotildees podendo resultar em agressividade e rompimento de relaccedilotildees No

embate entre as mesmas observamos uma luta que se trava num campo mais

profundo do que o do fenocircmeno Ou seja haacute uma luta de poder entre

subjetividades que defendem seus interesses de ser reconhecidos como

superiores ao outro A fixaccedilatildeo nesta posiccedilatildeo eacute fomentadora do conflito pois

natildeo haacute chance de dirimir nenhuma das partes desse objetivo Em Hegel na

sua obra Fenomenologia do Espiacuterito (1996 Os pensadores) fala-se da

contraposiccedilatildeo de valores e pensamentos avaliados pelo senso comum como

um confronto de diferenccedilas atraveacutes da dualidade entre o verdadeiro e o falso e

que por assim ser natildeo podem se misturar A essecircncia da incompatibilidade

entre fatos geradora do conflito eacute vista como excludente uma pela outra No

entanto Hegel nos faz concluir que a diferenccedila eacute necessaacuteria para se suplantar

a estagnaccedilatildeo do pensamento ou dos atos na unilateralidade A contradiccedilatildeo

que em princiacutepio pode ser tomada como forma de exclusatildeo de outro modo se

faz necessaacuteria ao intercacircmbio permanente na vida social

Para o senso comum a oposiccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso eacute algo de fixo habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosoacutefico existente e numa explicaccedilatildeo sobre tal sistema ele soacute admite uma ou outra dessas atitudes Natildeo concebe a

12

diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1

Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto

negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de

aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra

briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de

Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo

poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente

positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral

inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se

portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz

entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho

aproximaccedilatildeo(idem)

Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual

as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a

accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem

contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre

se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno

surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate

Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais

do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da

uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo

interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto

de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual

1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG

13

de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos

processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou

construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro

dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a

atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se

expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute

atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o

conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de

valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes

estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda

De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos

autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito

promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes

interrompidos pelo conflito

Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)

14

CAPIacuteTULO II

A MEDIACcedilAtildeO

21- Definiccedilatildeo

Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico

informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial

Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute

mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em

princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise

A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2

No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a

soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica

adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de

resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da

comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do

endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se

ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a

possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das

contraposiccedilotildees entre as partes

As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)

encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de

2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo

15

forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive

financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as

partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e

mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento

das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor

f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees

etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses

divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a

reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e

proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se

mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e

consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem

tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como

sobre si proacuteprio

22- Origens

A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute

reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada

nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma

La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3

Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se

encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas

Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior

baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista

3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId

16

Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de

forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e

ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como

sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades

natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o

mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte

de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional

com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer

existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo

acompanhados de novas exigecircncias

Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de

Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental

desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua

que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees

entre os indiviacuteduos

Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade

moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as

controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e

posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os

mesmos

Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de

intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus

propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir

a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis

e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos

(Egger 2006 p 42)

Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)

()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos

Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar

na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no

acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar

17

trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o

compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um

ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses

se torna tambeacutem um mediador

() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)

A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo

que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger

2006 p 47)

Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento

entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um

processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas

diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo

presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando

diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao

contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante

No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob

alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das

ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de

intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em

conta a subjetividade inerente aos mesmos

O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento

das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso

comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises

rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores

naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu

grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais

fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de

18

campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do

juriacutedico do psicoloacutegico do social etc

Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na

sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a

quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns

naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo

novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os

entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas

eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais

americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente

como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que

somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as

partes

No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem

recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da

deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu

texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo

()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)

Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser

utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em

diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e

eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de

consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf

19

situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias

com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua

aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir

sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do

senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais

educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que

qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse

processo

A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se

chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas

segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o

que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais

brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes

envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o

processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da

chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de

processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua

resoluccedilatildeo final

O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo

bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado

o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu

criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar

20

bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre

as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da

mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa

convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O

mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-

se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos

Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum

deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela

ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo

bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo

Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em

momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees

bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a

conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do

desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador

bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador

deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve

garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo

destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A

confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de

ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos

Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de

mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo

Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e

o modelo de Warat

241- Modelo Tradicional de Harvard

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

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CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

12

diferenccedila entre os sistemas filosoacuteficos como o desenvolvimento progressivo da verdade para ele diversidade significa unicamente contradiccedilatildeo () Essas formas natildeo soacute se distinguem mas se suplantam como incompatiacuteveis No entanto sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgacircnica em que natildeo soacute natildeo estatildeo em conflito mas onde tanto um como outro eacute necessaacuterio e essa igual necessidade faz a vida do conjunto Mas comumente natildeo eacute assim que se compreende a contradiccedilatildeo () o espiacuteriito que apreende a contradiccedilatildeo habitualmente natildeo sabe liberaacute-la ou conservaacute-la livre de sua unilateralidade e reconhecer na forma do que parece se combater e se contradizer momentos mutuamente necessaacuterios1

Assim se a interpretaccedilatildeo comum do conflito se fixar no aspecto

negativo enquanto fomentador de perdas veremos uma reaccedilatildeo progressiva de

aumento do mal estar Desta forma conflito se associaraacute agraves ideacuteias de guerra

briga disputa agressatildeo tristeza violecircncia raiva perda processo (Manual de

Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p27) No entanto diante da visatildeo

poacutes-moderna jaacute sinalizada acima por Hegel onde o conflito pode ter a vertente

positiva significa aceitaacute-lo como fenocircmeno natural das relaccedilotildees em geral

inclusive das humanas Agrave concepccedilatildeo negativa do conflito contrapotildeem-se

portanto a positiva e a ela estaratildeo associadas as noccedilotildees de paz

entendimento soluccedilatildeo compreensatildeo felicidade afeto crescimento ganho

aproximaccedilatildeo(idem)

Segundo os autores Rubin e Kriesberg citados pelo mesmo Manual

as relaccedilotildees conflituosas compotildeem-se de fenocircmenos interligados que satildeo a

accedilatildeo e a reaccedilatildeo numa escala progressiva de efeitos danosos se natildeo forem

contidos Impotildee-se que a cada accedilatildeo corresponda uma reaccedilatildeo e esta sempre

se daraacute de forma mais severa do que a accedilatildeo que a precedeu O fenocircmeno

surgido nesta cadeia significa mais um ponto nodal acirrado no embate

Denomina-se este fenocircmeno de lsquoespirais de conflitorsquo onde as causas originais

do mesmo se tornam secundaacuterias sendo priorizado o resultado proveniente da

uacuteltima reaccedilatildeo dada As espirais de conflito satildeo fenocircmenos que se natildeo

interrompidos vatildeo configurar negativamente a relaccedilatildeo ressaltando o aspecto

de destrutividade De forma bastante concisa Morton Deutsch (1973 in Manual

1 HTTPwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1UHPBHBVG

13

de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos

processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou

construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro

dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a

atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se

expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute

atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o

conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de

valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes

estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda

De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos

autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito

promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes

interrompidos pelo conflito

Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)

14

CAPIacuteTULO II

A MEDIACcedilAtildeO

21- Definiccedilatildeo

Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico

informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial

Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute

mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em

princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise

A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2

No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a

soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica

adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de

resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da

comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do

endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se

ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a

possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das

contraposiccedilotildees entre as partes

As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)

encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de

2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo

15

forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive

financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as

partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e

mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento

das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor

f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees

etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses

divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a

reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e

proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se

mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e

consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem

tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como

sobre si proacuteprio

22- Origens

A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute

reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada

nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma

La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3

Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se

encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas

Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior

baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista

3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId

16

Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de

forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e

ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como

sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades

natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o

mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte

de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional

com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer

existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo

acompanhados de novas exigecircncias

Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de

Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental

desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua

que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees

entre os indiviacuteduos

Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade

moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as

controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e

posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os

mesmos

Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de

intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus

propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir

a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis

e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos

(Egger 2006 p 42)

Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)

()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos

Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar

na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no

acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar

17

trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o

compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um

ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses

se torna tambeacutem um mediador

() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)

A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo

que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger

2006 p 47)

Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento

entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um

processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas

diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo

presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando

diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao

contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante

No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob

alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das

ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de

intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em

conta a subjetividade inerente aos mesmos

O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento

das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso

comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises

rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores

naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu

grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais

fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de

18

campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do

juriacutedico do psicoloacutegico do social etc

Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na

sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a

quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns

naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo

novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os

entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas

eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais

americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente

como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que

somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as

partes

No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem

recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da

deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu

texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo

()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)

Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser

utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em

diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e

eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de

consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf

19

situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias

com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua

aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir

sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do

senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais

educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que

qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse

processo

A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se

chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas

segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o

que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais

brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes

envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o

processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da

chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de

processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua

resoluccedilatildeo final

O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo

bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado

o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu

criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar

20

bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre

as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da

mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa

convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O

mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-

se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos

Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum

deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela

ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo

bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo

Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em

momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees

bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a

conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do

desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador

bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador

deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve

garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo

destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A

confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de

ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos

Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de

mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo

Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e

o modelo de Warat

241- Modelo Tradicional de Harvard

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

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CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

13

de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p33) nos mostra que nos

processos de resoluccedilatildeo de disputa esses podem ser destrutivos ou

construtivos Ou seja tal processo pode configurar-se de um modo ou outro

dependendo da forma como seraacute conduzido o que implica diretamente a

atuaccedilatildeo do mediador A forma destrutiva se configuraraacute se o conflito se

expandir e desconfigurar-se o motivo original que o ocasionou Observar-se-aacute

atitudes de acirramento de disputas inviabilizando a percepccedilatildeo de que o

conflito poderia vir a ser um momento de crescimento de agregaccedilatildeo de

valores invalidando seu aspecto positivo A comunicaccedilatildeo entre os litigantes

estaria fadada ao rompimento com seacuterias dificuldades de ser reconstruiacuteda

De outra forma os processos construtivos segundo os mesmos

autores seriam aqueles onde se chegaria agrave minimizaccedilatildeo do conflito

promovendo o aumento dos niacuteveis comunicacionais entre as partes ora dantes

interrompidos pelo conflito

Nesse espiacuterito se conduzido construtivamente o conflito pode proporcionar crescimento pessoal profissional e organizacional A abordagem do conflito ndash no sentido de que este podese conduzido com teacutecnica adequada ser um importante meio de conhecimento amadurecimento e aproximaccedilatildeo de seres humanos ndash impulsiona tambeacutem relevantes alteraccedilotildees quanto agrave responsabilidade e agrave eacutetica profissional (Manual de Mediaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila 2009 p 35)

14

CAPIacuteTULO II

A MEDIACcedilAtildeO

21- Definiccedilatildeo

Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico

informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial

Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute

mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em

princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise

A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2

No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a

soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica

adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de

resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da

comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do

endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se

ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a

possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das

contraposiccedilotildees entre as partes

As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)

encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de

2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo

15

forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive

financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as

partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e

mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento

das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor

f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees

etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses

divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a

reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e

proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se

mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e

consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem

tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como

sobre si proacuteprio

22- Origens

A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute

reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada

nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma

La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3

Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se

encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas

Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior

baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista

3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId

16

Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de

forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e

ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como

sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades

natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o

mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte

de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional

com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer

existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo

acompanhados de novas exigecircncias

Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de

Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental

desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua

que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees

entre os indiviacuteduos

Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade

moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as

controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e

posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os

mesmos

Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de

intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus

propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir

a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis

e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos

(Egger 2006 p 42)

Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)

()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos

Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar

na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no

acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar

17

trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o

compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um

ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses

se torna tambeacutem um mediador

() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)

A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo

que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger

2006 p 47)

Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento

entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um

processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas

diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo

presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando

diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao

contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante

No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob

alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das

ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de

intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em

conta a subjetividade inerente aos mesmos

O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento

das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso

comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises

rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores

naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu

grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais

fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de

18

campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do

juriacutedico do psicoloacutegico do social etc

Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na

sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a

quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns

naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo

novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os

entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas

eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais

americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente

como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que

somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as

partes

No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem

recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da

deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu

texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo

()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)

Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser

utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em

diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e

eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de

consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf

19

situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias

com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua

aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir

sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do

senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais

educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que

qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse

processo

A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se

chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas

segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o

que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais

brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes

envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o

processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da

chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de

processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua

resoluccedilatildeo final

O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo

bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado

o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu

criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar

20

bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre

as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da

mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa

convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O

mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-

se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos

Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum

deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela

ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo

bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo

Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em

momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees

bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a

conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do

desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador

bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador

deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve

garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo

destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A

confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de

ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos

Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de

mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo

Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e

o modelo de Warat

241- Modelo Tradicional de Harvard

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

14

CAPIacuteTULO II

A MEDIACcedilAtildeO

21- Definiccedilatildeo

Trata-se de um processo autocompositivo natildeo adversarial paciacutefico

informal voluntaacuterio confidencial assistido por um mediador neutro e imparcial

Portanto de composiccedilatildeo triangular no qual as partes em conflito por si soacute

mesmo na presenccedila deste terceiro se implicam em sua soluccedilatildeo Eacute baseado em

princiacutepios da Teoria Geral dos Sistemas e tambeacutem na Psicanaacutelise

A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital A partir da teoria sistecircmica o indiviacuteduo passa a ser visto como formando parte de um complexo em que cada membro influi e eacute influenciado por outro em um interjogo relacional donde as accedilotildees serem complementares no sentido de provocar eou resistir agraves mudanccedilas que surgem em cada etapa do ciclo vital (Renata Fonkert 1998)2

No acircmbito do Direito a mediaccedilatildeo eacute um recurso extrajudicial para a

soluccedilatildeo de litiacutegios Trata de transformar uma cultura baseada na loacutegica

adversarial numa outra onde haja a humanizaccedilatildeo nos procedimentos de

resoluccedilatildeo das controveacutersias O ressurgimento do diaacutelogo reflete a retomada da

comunicaccedilatildeo antes interrompida pelo acirramento das diferenccedilas do

endurecimento das relaccedilotildees Soacute atraveacutes da infiltraccedilatildeo desta barreira que se

ergue impedindo a troca ponderada pelo diaacutelogo eacute que se poderaacute vislumbrar a

possibilidade de chegar agrave soluccedilatildeo dos impasses surgidos pela cristalizaccedilatildeo das

contraposiccedilotildees entre as partes

As vantagens de um processo de mediaccedilatildeo estatildeo relacionadas a a)

encontro de uma soluccedilatildeo para uma controveacutersia entre partes litigantes de

2 wwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alternativo

15

forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive

financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as

partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e

mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento

das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor

f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees

etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses

divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a

reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e

proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se

mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e

consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem

tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como

sobre si proacuteprio

22- Origens

A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute

reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada

nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma

La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3

Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se

encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas

Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior

baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista

3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId

16

Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de

forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e

ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como

sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades

natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o

mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte

de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional

com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer

existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo

acompanhados de novas exigecircncias

Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de

Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental

desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua

que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees

entre os indiviacuteduos

Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade

moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as

controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e

posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os

mesmos

Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de

intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus

propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir

a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis

e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos

(Egger 2006 p 42)

Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)

()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos

Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar

na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no

acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar

17

trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o

compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um

ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses

se torna tambeacutem um mediador

() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)

A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo

que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger

2006 p 47)

Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento

entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um

processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas

diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo

presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando

diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao

contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante

No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob

alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das

ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de

intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em

conta a subjetividade inerente aos mesmos

O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento

das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso

comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises

rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores

naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu

grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais

fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de

18

campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do

juriacutedico do psicoloacutegico do social etc

Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na

sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a

quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns

naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo

novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os

entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas

eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais

americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente

como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que

somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as

partes

No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem

recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da

deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu

texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo

()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)

Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser

utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em

diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e

eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de

consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf

19

situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias

com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua

aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir

sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do

senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais

educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que

qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse

processo

A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se

chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas

segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o

que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais

brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes

envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o

processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da

chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de

processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua

resoluccedilatildeo final

O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo

bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado

o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu

criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar

20

bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre

as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da

mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa

convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O

mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-

se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos

Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum

deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela

ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo

bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo

Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em

momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees

bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a

conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do

desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador

bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador

deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve

garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo

destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A

confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de

ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos

Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de

mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo

Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e

o modelo de Warat

241- Modelo Tradicional de Harvard

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

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OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011

ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos

conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid

visitado em 10042011

VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da

psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar

2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=

231518ampseo=1gt Visitado em 02062011

53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

15

forma mais equilibrada com menos tensatildeo e prejuiacutezos emocional e inclusive

financeiro b) aumento da capacidade de escuta e de compreensatildeo entre as

partes c) possibilidade de tornar posiccedilotildees e interesses mais compreensiacuteveis e

mais claros d) ampliaccedilatildeo do nuacutemero de soluccedilotildees possiacuteveis e) direcionamento

das perspectivas para um presente com accedilotildees efetivas e de um futuro melhor

f) estimulaccedilatildeo da motivaccedilatildeo g) redirecionamento dos sentimentos e emoccedilotildees

etc Eacute um processo no qual se expotildeem interesses comuns interesses

divergentes e ateacute os que se complementam Desta forma objetiva-se a

reflexatildeo e a chegada ao consenso de uma decisatildeo de forma equilibrada e

proveitosa para ambos Eacute importante que neste ambiente e fora dele se

mantenha o bom relacionamento com respeito cortesia atenccedilatildeo e

consideraccedilatildeo Apesar de natildeo se tratar de uma psicoterapia a vantagem

tambeacutem pode ser a modificaccedilatildeo da opiniatildeo a respeito do outro bem como

sobre si proacuteprio

22- Origens

A mediaccedilatildeo se encontra presente em relatos desde o seacutec XIII Eacute

reeditada nos tempos atuais com os ares da modernidade quando baseada

nas teorias sistecircmicas obteacutem o status de ser fruto desse novo paradigma

La mediacioacuten recibe aportaciones de la Psicologiacutea de la Intervencioacuten Social de la Pedagogiacutea de la Psicologiacutea de la Gestalt por resaltar la empatiacutea la capacidad de ponernos en el lugar del otro De este modo podremos escuchar y comprender queacute es lo que me dice el otro cambiar nuestra actitud de cara al conflicto y conseguir una mayor amplitud de alternativas de solucioacuten del mismo 3

Foi influenciada pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS) na qual se

encontra a visatildeo holiacutestica e ecoloacutegica sobre as relaccedilotildees de todos os sistemas

Essa nova visatildeo eacute um paradigma em relaccedilatildeo ao pensamento anterior

baseado no meacutetodo cartesianonewtoniano definido como linear e mecanicista

3 wwwespaciologopedicocomarticulosarticulos2phpId

16

Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de

forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e

ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como

sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades

natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o

mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte

de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional

com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer

existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo

acompanhados de novas exigecircncias

Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de

Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental

desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua

que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees

entre os indiviacuteduos

Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade

moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as

controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e

posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os

mesmos

Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de

intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus

propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir

a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis

e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos

(Egger 2006 p 42)

Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)

()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos

Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar

na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no

acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar

17

trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o

compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um

ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses

se torna tambeacutem um mediador

() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)

A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo

que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger

2006 p 47)

Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento

entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um

processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas

diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo

presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando

diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao

contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante

No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob

alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das

ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de

intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em

conta a subjetividade inerente aos mesmos

O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento

das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso

comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises

rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores

naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu

grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais

fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de

18

campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do

juriacutedico do psicoloacutegico do social etc

Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na

sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a

quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns

naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo

novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os

entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas

eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais

americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente

como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que

somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as

partes

No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem

recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da

deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu

texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo

()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)

Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser

utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em

diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e

eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de

consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf

19

situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias

com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua

aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir

sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do

senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais

educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que

qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse

processo

A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se

chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas

segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o

que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais

brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes

envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o

processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da

chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de

processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua

resoluccedilatildeo final

O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo

bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado

o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu

criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar

20

bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre

as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da

mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa

convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O

mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-

se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos

Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum

deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela

ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo

bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo

Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em

momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees

bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a

conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do

desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador

bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador

deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve

garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo

destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A

confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de

ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos

Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de

mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo

Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e

o modelo de Warat

241- Modelo Tradicional de Harvard

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

16

Com o novo modo de pensar as relaccedilotildees o mundo passa a ser interpretado de

forma integrada no qual fenocircmenos de ordem bioloacutegica psicoloacutegica social e

ambiental satildeo interdependentes e por conseguinte se constituem como

sistemas Estes se definem como totalidades interligadas cujas propriedades

natildeo podem ser reproduzidas a unidades menores A concepccedilatildeo sistecircmica vecirc o

mundo em termos de relaccedilotildees e de integraccedilatildeo O indiviacuteduo eacute visto como parte

de um complexo maior onde entre cada membro existe um interjogo relacional

com accedilotildees que cada um se complementa com o do outro no sentido de fazer

existir oue resistir agraves possiacuteveis mudanccedilas dos ciclos de vida que sempre satildeo

acompanhados de novas exigecircncias

Absorvendo os conceitos da TSG das teorias da comunicaccedilatildeo de

Bateson entre outros a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos eacute ponto fundamental

desta praacutetica O construcionismo social tambeacutem a embasa enquanto conceitua

que a realidade eacute construiacuteda socialmente por meio da interaccedilatildeo das relaccedilotildees

entre os indiviacuteduos

Sob esta nova forma de pensar surge a mediaccedilatildeo na sociedade

moderna e se consolida como instrumento de intervenccedilatildeo sobre as

controveacutersias advindas do acirramento das diferenccedilas de opiniatildeo interesses e

posiccedilotildees dos indiviacuteduos afetando a capacidade de comunicaccedilatildeo entre os

mesmos

Sua accedilatildeo se encontra presente nas mais diversas formas de

intervenccedilatildeo no acircmbito das relaccedilotildees humanas podendo ser descritos seus

propoacutesitos no campo epistemoloacutegico antropoloacutegico e poliacutetico Podemos definir

a mediaccedilatildeo como um conceito que nos leva a empregaacute-lo sobre diversos niacuteveis

e direccedilotildees diferentes destinataacuterios e campos temaacuteticos e de perfis incertos

(Egger 2006 p 42)

Segundo Velho e Kuschnir (2001 p9-10 in Egger 2006 p 48)

()a mediaccedilatildeo se caracteriza por uma accedilatildeo social permanente nem sempre oacutebvia que estaacute presente nos mais variados niacuteveis e processos interativos

Como efeito soacutecio-cultural ou como poliacutetica cultural podemos pensar

na diversidade de accedilotildees que se datildeo no campo das relaccedilotildees humanas no

acircmbito poliacutetico e antropoloacutegico sendo que o mais simples ato de conversar

17

trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o

compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um

ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses

se torna tambeacutem um mediador

() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)

A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo

que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger

2006 p 47)

Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento

entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um

processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas

diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo

presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando

diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao

contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante

No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob

alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das

ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de

intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em

conta a subjetividade inerente aos mesmos

O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento

das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso

comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises

rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores

naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu

grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais

fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de

18

campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do

juriacutedico do psicoloacutegico do social etc

Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na

sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a

quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns

naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo

novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os

entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas

eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais

americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente

como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que

somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as

partes

No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem

recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da

deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu

texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo

()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)

Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser

utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em

diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e

eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de

consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf

19

situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias

com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua

aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir

sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do

senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais

educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que

qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse

processo

A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se

chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas

segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o

que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais

brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes

envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o

processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da

chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de

processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua

resoluccedilatildeo final

O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo

bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado

o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu

criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar

20

bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre

as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da

mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa

convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O

mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-

se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos

Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum

deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela

ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo

bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo

Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em

momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees

bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a

conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do

desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador

bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador

deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve

garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo

destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A

confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de

ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos

Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de

mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo

Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e

o modelo de Warat

241- Modelo Tradicional de Harvard

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

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CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

17

trocar informaccedilotildees jaacute subentende-se um efeito mediador enquanto produz o

compartilhamento de diferentes experiecircncias pessoais que se estende de um

ser a outro ser de um grupo a outro de uma cultura a outra Cada um desses

se torna tambeacutem um mediador

() tambeacutem eacute possiacutevel falar da mediaccedilatildeo como poliacutetica cultural ou fenocircmeno soacutecio-culturalque faz referecircncia agraves pessoas que levam elementos culturais de um grupo a outro por exemplo a cozinheira nordestina que introduz a comida baiana em uma famiacutelia gauacutecha eacute uma mediadora cultural assim como quando uma gauacutecha introduz o chimarratildeo numa famiacutelia baiana (idem p344)

A mediaccedilatildeo para esses autores seria realizada por ldquotodo indiviacuteduo

que funciona como mensageiro de uma cultura em referecircncia a outrardquo (Egger

2006 p 47)

Assim fica claro que a interaccedilatildeo humana ocorre a todo momento

entre categorias sociais e niacuteveis culturais distintos caracterizando-se como um

processo universal baseado na comunicaccedilatildeo sujeito a trocas semelhanccedilas

diferenccedilas e distorccedilotildees Consequumlentemente as relaccedilotildees de poder estatildeo

presentes nas interaccedilotildees humanas revelando semelhanccedilas e suscitando

diferenccedilas nem sempre constituindo-se de forma harmocircnica e paciacutefica Ao

contraacuterio em determinados momentos apresenta-se contraditoacuteria e conflitante

No campo do Direito vemos a mediaccedilatildeo atuar preacute-judicialmente sob

alguns modelos teoacutericos e praacuteticos de resoluccedilatildeo dos conflitos No campo das

ciecircncias humanas e filosoacuteficas podemos pensaacute-la tambeacutem como teacutecnica de

intervenccedilatildeo sob as bases das teorias sociais e psicoloacutegicas levando-se em

conta a subjetividade inerente aos mesmos

O cotidiano nos mostra a existecircncia de formas de gerenciamento

das relaccedilotildees pela sociedade atraveacutes de praacuteticas de convivecircncia do senso

comum numa poliacutetica natural entre os indiviacuteduos interagindo sobre crises

rompimentos alianccedilas conflitos de modo geral a partir de mediadores

naturais ou seja aqueles da proacutepria convivecircncia do indiviacuteduo (sua famiacutelia seu

grupo de amigos) atuando de forma a solucionaacute-los O acirramento de tais

fenocircmenos ndash conflitos ndash muitas vezes requer a intervenccedilatildeo de terceiros de

18

campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do

juriacutedico do psicoloacutegico do social etc

Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na

sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a

quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns

naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo

novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os

entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas

eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais

americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente

como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que

somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as

partes

No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem

recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da

deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu

texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo

()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)

Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser

utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em

diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e

eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de

consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf

19

situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias

com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua

aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir

sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do

senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais

educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que

qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse

processo

A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se

chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas

segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o

que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais

brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes

envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o

processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da

chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de

processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua

resoluccedilatildeo final

O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo

bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado

o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu

criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar

20

bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre

as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da

mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa

convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O

mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-

se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos

Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum

deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela

ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo

bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo

Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em

momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees

bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a

conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do

desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador

bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador

deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve

garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo

destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A

confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de

ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos

Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de

mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo

Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e

o modelo de Warat

241- Modelo Tradicional de Harvard

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

18

campos especiacuteficos dependendo da sua especificidade como por exemplo do

juriacutedico do psicoloacutegico do social etc

Assim surge o papel e a importacircncia do mediador atuante na

sociedade Na contemporaneidade a mediaccedilatildeo se fortalece nos EUA a

quarenta anos atraacutes objetivando acelerar as accedilotildees judiciais muito comuns

naquele paiacutes Ela eacute introduzida no campo das teacutecnicas resolutivas trazendo

novas possibilidades de escuta e de intervenccedilatildeo com o fim de minimizar os

entraves ocasionados pelas dificuldades em se chegar a soluccedilotildees definitivas

eficazes diminuindo a quantidade de processos judiciais nos tribunais

americanos No Estado da Califoacuternia vem sendo adotada obrigatoriamente

como preacutevia agraves resoluccedilotildees judiciais exceto no acircmbito penal sendo que

somente chegam agraves instacircncias judiciais caso natildeo haja o acordo final entre as

partes

No Brasil vem sendo tema de debates contiacutenuos mas bem

recentemente Encontra-se no Congresso Nacional o Projeto de Lei da

deputada Zulaiecirc Cobra (Egger 2006) 4 que apoacutes sofrer alteraccedilotildees em seu

texto original ainda encontra-se agrave espera de apreciaccedilatildeo

()nos caminhos da trans-modernidade juriacutedica a resolu-ccedilatildeo dos conflitos comeccedila a tornar-se conveniente quando oferece uma variada gama de procedimentos e estrateacute-gias que possibilitam a resoluccedilatildeo com os menores riscos desgastes emocionais perda de tempo custos econocircmi-cos elevados e a eliminaccedilatildeo das imprevisibilidades nos resultados (natildeo se estaacute referindo ao que pode ser ines-perado na alteridade) Novas possibilidades de resoluccedilatildeo de conflitos baseadas nas necessidades desejos e interesses das partes sob formas de negociaccedilatildeo e natildeo de enfrentamento reciprocamente destrutivo do outro A mediaccedilatildeo em termos abstratos seria uma dessas alter-nativas mais proveitosas na resoluccedilatildeo dos conflitos-(Egger 2006 p44)

Aleacutem do campo juriacutedico a praacutetica da mediaccedilatildeo tambeacutem pode ser

utilizada em empresas em escolas em comunidades sendo aplicada em

diversas situaccedilotildees como em impasses poliacuteticos nacionais e internacionais e

eacutetnicos ambiental penal civil patrimonial familiar empresarial relaccedilotildees de

consumo trabalhista previdenciaacuteria sindical escolar raciais e outras 4 Ver PL 942002 (PL48271998)in Net HTTPwwwcamaragovbrsilegintegras409931pdf

19

situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias

com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua

aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir

sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do

senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais

educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que

qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse

processo

A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se

chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas

segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o

que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais

brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes

envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o

processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da

chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de

processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua

resoluccedilatildeo final

O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo

bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado

o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu

criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar

20

bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre

as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da

mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa

convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O

mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-

se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos

Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum

deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela

ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo

bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo

Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em

momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees

bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a

conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do

desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador

bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador

deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve

garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo

destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A

confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de

ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos

Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de

mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo

Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e

o modelo de Warat

241- Modelo Tradicional de Harvard

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

19

situaccedilotildees discriminatoacuterias sauacutede forense praacuteticas cidadatildes e comunitaacuterias

com crianccedilas e adolescentes em situaccedilatildeo de risco etc Ou seja sua

aplicabilidade se daacute em todas as aacutereas onde haja a necessidade de intervir

sobre controveacutersias em princiacutepio insoluacuteveis e de difiacutecil manejo atraveacutes do

senso comum se dando atraveacutes de instacircncias judiciais empresariais

educadoras comunitaacuterias ou terapecircuticas Aleacutem disso ressalta-se que

qualquer situaccedilatildeo ou pessoa em particular pode beneficiar-se com esse

processo

A praacutetica da mediaccedilatildeo eacute defendida como uma nova estrateacutegia de se

chegar a soluccedilotildees positivas de forma paciacutefica para todas as partes envolvidas

segundo o criteacuterio de todos se beneficiarem no seu desfecho caracterizando o

que se chamou de ganhos muacutetuos Diferente do habitual nos tribunais

brasileiros quando o juiz decide sobre o destino de cada uma das partes

envolvidas em processos judiciais - resultando daiacute ganhador e perdedor - o

processo de mediaccedilatildeo visa se possiacutevel a soluccedilatildeo do conflito antes da

chegada ao juiz o que para o sistema judiciaacuterio significa o desafogamento de

processos que se acumulam devido a brigas sem fim que emperram a sua

resoluccedilatildeo final

O movimento eacute parte de um contexto cientiacutefico-cultural emergente que procura articular a complexidade questionando e reelaborando o paradigma das loacutegicas binaacuterias lsquovencedor- perdedorrsquo A mediaccedilatildeo pode ser entendida como um modelo poacutes-moderno que acredita na interconexatildeo de diferentes linguagens provenientes de diferentes opiniotildees e investe na criatividade para trabalhar as diferenccedilas e construir soluccedilotildees ineacuteditas (Cezar-Ferreira 2007 p159)

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo

bull Autonomia das partes ou princiacutepio de voluntaridade quando lhes eacute dado

o poder de decisatildeo sobre o processo de mediaccedilatildeo ficando ao seu

criteacuterio a decisatildeo sobre o desejo de a iniciarem e qual o tema a abordar

20

bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre

as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da

mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa

convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O

mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-

se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos

Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum

deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela

ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo

bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo

Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em

momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees

bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a

conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do

desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador

bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador

deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve

garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo

destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A

confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de

ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos

Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de

mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo

Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e

o modelo de Warat

241- Modelo Tradicional de Harvard

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

20

bull Imparcialidade do mediador ou seja quando este em nada decide sobre

as questotildees trazidas pelas partes apenas administra o andamento da

mediaccedilatildeo de forma que ela ocorra sob princiacutepios eacuteticos de boa

convivecircncia em relaccedilatildeo agrave conduta de comportamentos e de educaccedilatildeo O

mediador natildeo deveraacute tomar partido de ningueacutem natildeo deveraacute comportar-

se como juiz atraveacutes de julgamentos sobre os conteuacutedos expostos

Deveraacute ser evitado qualquer conhecimento preacutevio do mesmo por algum

deles A importacircncia da imparcialidade do mediador recai no fato dela

ser fundamental para a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio do processo

bull A credibilidade do mediador eacute correlativo agrave credibilidade da mediaccedilatildeo

Sua atuaccedilatildeo deveraacute ser pautada na eacutetica desses princiacutepios em

momento algum cedendo a estrateacutegias escusas agraves suas atribuiccedilotildees

bull A competecircncia do mediador seraacute refletida na seguranccedila sobre a

conduccedilatildeo do processo resultado de sua qualificaccedilatildeo e do

desenvolvimento de suas habilidades enquanto mediador

bull A confidencialidade ou sigilo eacute outro ponto fundamental pois o mediador

deve garantir agraves partes a natildeo evasatildeo de conteuacutedos ali expostos Deve

garantir-lhes que qualquer anotaccedilatildeo realizada durante as sessotildees seratildeo

destruiacutedas apoacutes seu teacutermino garantindo-lhes seguranccedila e confianccedila A

confidencialidade somente seraacute quebrada quando houver denuacutencia de

ordem judicial o que acarretaraacute a interrupccedilatildeo da mediaccedilatildeo

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos

Atualmente existem trecircs abordagens claacutessicas sobre o trabalho de

mediaccedilatildeo o modelo de Harvard chamado de Tradicional-Linear o modelo

Transformativo de Bush e Folger o modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb e

o modelo de Warat

241- Modelo Tradicional de Harvard

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

21

O modelo harvardiano classificado como lsquonegociaccedilatildeo colaborativarsquo

(ISOLDI Ana Luiza Godoy wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisforta-

leza3265pdf) eacute centrado no acordo e tem como princiacutepios baacutesicos ldquoseparar

as pessoas dos problemas focar nos interesses e natildeo nas posiccedilotildees criar

opccedilotildees de ganhos muacutetuos e utilizar criteacuterios objetivosrdquo (idem autora) Seu

objetivo eacute o conflito a meta eacute o acordo entre as partes litigantes Volta-se para

soluccedilotildees futuras A racionalidade das accedilotildees deixa de lado as emoccedilotildees pois

deve-se enxergar o problema com clareza e objetividade visando a igualdade

de ganhos

Sua accedilatildeo se daacute atraveacutes da utilizaccedilatildeo de uma metodologia verbal

linear A causa do conflito possui uma especificidade e o seu contexto natildeo eacute

tatildeo considerado O mediador procura delimitaacute-lo o maacuteximo possiacutevel

objetivando atingir uma causalidade uacutenica para o desacordo em questatildeo No

contato com as partes o relato das opiniotildees posiccedilotildees e interesses de cada um

eacute feito da forma espontacircnea sendo o mediador ativo em suas perguntas

objetivamente respeitando-se as regras de educaccedilatildeo da boa convivecircncia o

que permite que elas falem o maacuteximo que puderem quase que de forma

cataacutertica de forma a esvaziar as emoccedilotildees para que minimamente interfiram

no processo de mediaccedilatildeo Presume-se que o conflito seja fruto da dificuldade

de comunicaccedilatildeo entre as partes litigantes cabendo ao mediador o papel de

recuperaacute-la e possibilitar atraveacutes da conversaccedilatildeo a chegada a um consenso

na resoluccedilatildeo do conflito apresentado Desta forma o modelo de Harvard

instituiu alguns pontos baacutesicos que caracterizam o meacutetodo

bull 1) Anaacutelise fase diagnoacutestica quando observam-se e identificam-se

as emoccedilotildees as dificuldades de comunicaccedilatildeo as posiccedilotildees os interesses de

ambas as partes e se houve opccedilotildees para a resoluccedilatildeo do conflito Eacute importante

que haja a separaccedilatildeo das partes litigantes do problema que apresentam

justificando que eacute a forma de evitar o contaacutegio pelas emoccedilotildees presentes no

conflito pois estas impedem a objetividade resolutiva das questotildees o foco eacute o

problema e natildeo as pessoas Visa-se os interesses e natildeo as posiccedilotildees

individuais pois estas uacuteltimas onde se refletem as emoccedilotildees impediriam a real

visatildeo dos primeiros Portanto natildeo levaria ao objetivo de se chegar a uma

soluccedilatildeo positiva para as partes

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

22

bull 2) Planejamento caracteriza-se pela geraccedilatildeo de ideacuteias e tomada

de decisatildeo sobre os caminhos a seguir na mediaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

controveacutersias em foco aos interesses mais importantes aos objetivos realistas

O planejamento visa a criaccedilatildeo de um leque de opccedilotildees de soluccedilotildees antes de se

chegar agrave soluccedilatildeo definitiva Assemelha-se assim agrave teacutecnica de brainstorming

Devido agrave caracteriacutestica litigante do conflito que gerou a necessidade da

intervenccedilatildeo atraveacutes da mediaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo desta teacutecnica facilita conciliar os

acircnimos acirrados pela disputa

bull 3) Discussatildeo eacute o momento de comunicaccedilatildeo entre as partes

envolvidas a fim de tentarem construir um acordo As percepccedilotildees diferentes

os sentimentos mais difiacuteceis e a vivecircncia da dificuldade de comunicaccedilatildeo

devem ser ressaltadas para facilitar a compreensatildeo dos interesses muacutetuos

pelos proacuteprios participantes Finalmente ambos podem gerar novas opccedilotildees

com vantagens bilaterais e buscar concordar com padrotildees objetivos que

permitam conciliar interesses opostos Eacute necessaacuterio que se estabeleccedila algum

criteacuterio objetivo para que se possa controlar a rigidez das posiccedilotildees devido agraves

dificuldades pessoais tais como inflexibilidade de negociaccedilatildeo ou mesmo

desconhecimento do assunto abordado O esclarecimento sobre os criteacuterios

que deveratildeo ser obedecidos para se alcanccedilar satisfaccedilatildeo dos interesses eacute

fundamental para o processo

O modelo harvardiano prevecirc algumas etapas a serem seguidas pelo

mediador e as partes para que as 3 metas descritas se decircem

bull declaraccedilatildeo de abertura

bull exposiccedilatildeo de razotildees pelas partes

bull identificaccedilatildeo de questotildees interesses e sentimentos

bull esclarecimento acerca de questotildees interesses e

sentimentos

bull resoluccedilatildeo de questotildees

Assim o modelo de Harvard para a mediaccedilatildeo de conflitos

demonstra-se como normativo uma vez que caracteriza-se pelo seguimento de

etapas normatizantes previstas e expostas logo no iniacutecio do contrato

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

23

242- Modelo Circular-Narrativo

O modelo Circular-narrativo teve seu iniacutecio formulado com Sara

Cobb e estaacute baseado nas teorias da comunicaccedilatildeo da ciberneacutetica e da teoria

geral dos sistemas (TGS) Cobb (1997) nos diz que a mediaccedilatildeo necessita de

uma teoria que ajude na descriccedilatildeo dos relatos de forma a aprofundar as

histoacuterias trazidas agrave mediaccedilatildeo possibilitando intervenccedilotildees e pesquisas Sob

este ponto de vista o conflito eacute visto tambeacutem como uma estrutura discursiva

narrativa (Ivan dias da Motta apud Isoldi Op Cit p 113)

Para a autora conflito eacute uma interpretaccedilatildeo particular da realidade

num determinado contexto Cada indiviacuteduo portanto possui uma forma proacutepria

de comunicar sobre uma adversidade e escutando ambas as partes envolvidas

num impasse o mediador tem a oportunidade de conduzi-las a uma nova

interpretaccedilatildeo de suas realidades podendo desta forma dar um novo rumo aos

impasses agraves diferenccedilas e agraves semelhanccedilas de suas posiccedilotildees e seus interesses

Este modelo implica natildeo necessariamente a chegada a um acordo

em primeiro lugar mas a possibilidade de atraveacutes da experiecircncia de cada

envolvido ouvir a interpretaccedilatildeo do outro sobre as questotildees em jogo Assim

traz para a cena da mediaccedilatildeo a chance da compreensatildeo dos pontos de vista

que todos possam ter da realidade contingente ao conflito possibilitando a

construccedilatildeo de outra na qual haja muito mais coesatildeo e menos divergecircncias em

relaccedilatildeo agraves questatildeo futuras que possam advir a partir do incentivo agrave reflexatildeo

Helena Nadal Sanchez5 nos diz que Cobb (1997)

() propone una teoriacutea de la responsabilidad basada en la definicioacuten del conflicto como una ruptura de la coherencia internarrativa de los hablantes propone una interaccioacuten en la que los relatos se desarrollan modifican y cuestionan entre los disputantes a medida que cada uno de ellos elabora su propia historia del conflicto y de la que presenta el otro Solucionar el conflicto es crear una coherencia de narraciones construida conjuntamente

5 Revista Eletrocircnica de Direito Processual Volume V

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

24

Seraacute tarefa portanto do mediador centrar-se nos universos

simboacutelicos dos participantes de modo que atraveacutes de suas intervenccedilotildees

possam dar outros significados agrave realidade transformando ateacute mesmo os

viacutenculos subjetivos que os ligam ao seu meio social As intervenccedilotildees visam em

princiacutepio a desestabilizaccedilatildeo daquele sistema cristalizado configurado como

conflitante As diferenccedilas satildeo expostas agrave medida que se expressam O objetivo

eacute a flexibilizaccedilatildeo do sistema no sentido de produzir as mudanccedilas e estas serem

aceitas para que novos significados e consequentemente novos contextos

possam existir

Tal modelo de mediaccedilatildeo fundamentada nos princiacutepios da coerecircncia

do fechamento e da interdependecircncia visa a transformaccedilatildeo do conflito numa

histoacuteria colaborativa A intervenccedilatildeo baseada no conceito sistecircmico da

circularidade implica que os efeitos produzidos por uma accedilatildeo se

retroalimentem de modo circular Assim sendo o conflito um processo

antagocircnico de interaccedilatildeo entre partes a sua co-construccedilatildeo na mediaccedilatildeo

promove que os envolvidos participem conjuntamente desta accedilatildeo interagindo

com a finalidade da resoluccedilatildeo A accedilatildeo produz por circularidade efeitos

resolutivos tanto para o conflito como para os proacuteprios participantes

O modelo circular-narrativo estabelecido por Sara Cobb coincide

com o transformativo de Folger enquanto concebem o processo de mediaccedilatildeo

de conflitos sobre a base da comunicaccedilatildeo atraveacutes da forma verbal e natildeo

verbal que ela se daacute e no intercacircmbio de mensagens Desta forma

caracterizam-se pela circularidade ndash conceito sistecircmico ndash e por uma funccedilatildeo

educativa Natildeo se pode no entanto invalidar certo efeito terapecircutico que

ambos os modelos possuem uma vez que podem propiciar mudanccedilas

subjetivas nas pessoas que interagem no processo

243- Modelo Transformativo

Criado por Bush e Folger este modelo foi baseado na teoria

sistecircmica e na teoria das comunicaccedilotildees Busca algum tipo de interaccedilatildeo entre

as partes litigantes em conflito pois parte do pressuposto que o conflito pode

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

25

natildeo ser o pior que existe Ao contraacuterio tendo como princiacutepio o fato de que o ser

humano eacute social e interativo afirma que por conta de sua capacidade de

negociaccedilatildeo eacute capaz de reverter conflitos negativizados em conflitos que

possam gerar crescimento pessoal

O conflito conteacutem valiosas oportunidades em ambas as dimensotildees do crescimento moral talvez em grau mais alto que na maioria das outras experiecircncias humanas (Bush e Folger 1996)

Assim acreditando que o ser humano possui a capacidade de

transformar as relaccedilotildees entre as pessoas a aplicaccedilatildeo deste conceito na

mediaccedilatildeo transformativa se daacute no sentido de acreditar na capacidade de que

cada uma das partes possui para descobrir suas potencialidades de

desenvolver a percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ou seja as partes passam a

poder perceber objetivamente como o conflito afeta uma e outra e tambeacutem

suas consequumlecircncias para ambos os lados O acordo natildeo eacute o foco principal

sendo a transformaccedilatildeo relacional e seus possiacuteveis ganhos o mais importante

para este modelo Em se tratando da mediaccedilatildeo familiar seraacute portanto a

teacutecnica capaz de potencializar a capacidade de cada um de reverter o que

houver de negativo destrutivo alienante em dados positivos de forma a

possibilitar que o que eacute encarado como motivador de conflito seja tratado de

forma a adquirir um caraacuteter positivo a fim de possibilitar a reconstruccedilatildeo das

relaccedilotildees em benefiacutecio do crescimento e fortalecimento de todos e da relaccedilatildeo

A mediaccedilatildeo transformativa caracteriza-se como um processo no

qual visa-se a revalorizaccedilatildeo de si mesmo e o reconhecimento do outro

independente ou natildeo do fato de se chegar a algum acordo seja pelo empenho

do mediador em relaccedilatildeo agraves partes atraveacutes da motivaccedilatildeo da positivaccedilatildeo seja

espontaneamente assumido pelas mesmas

A proposta de uma perspectiva transformadora6 para a mediaccedilatildeo eacute a de se evitar que a busca por um acordo

6 Este autor refere-se a perspectiva lsquotransformadorarsquo em seu texto No entanto para efeitos de melhor compreensatildeo no contexto desta monografia solicita-se que em seu lugar leia-se lsquoTRANSFORMATIVArsquo bem como nas linhas a seguir desta citaccedilatildeo adequando-se assim ao item abordado

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

26

ofusque ou deixe para segundo plano uma intenccedilatildeo ainda anterior a essa a transformaccedilatildeo do conflito de uma espiral negativa em um processo cooperativo de empoderamento (empowerment) e reconhecimento muacutetuo (recognition) Dessa forma a mediaccedilatildeo transformadora natildeo tem por escopo direto ajudar as partes a chegarem a uma soluccedilatildeo consensual ao seu conflito mas antes busca trabalhar com as partes para que estas mudem a qualidade do conflito (Andreacute Gomma de Azevedo e Ivan Machado Barbosa 2007 vol 4 p 190)

O conceito de circularidade fundamenta este meacutetodo Advindo das

teorias da comunicaccedilatildeo entende-se que a comunicaccedilatildeo humana constitui-se

de elementos verbais e natildeo-verbais ou paacutera-verbais (gestos olhares

expressotildees corporais) definindo assim que haacute uma interaccedilatildeo completa entre

todos esses Portanto eacute impossiacutevel natildeo se comunicar Assim estendido agrave

dinacircmica das relaccedilotildees humanas um fato natildeo possui necessariamente uma

causalidade uacutenica mas circular Ou seja um fato podendo ser ele da ordem

de um conflito estaacute ancorado numa circularidade de razotildees que seratildeo

abordadas atraveacutes da mesma teacutecnica de circularidade

Utilizado frequentemente nas psicoterapias um dos objetivos eacute

promover a compreensatildeo pelo terapeuta da problemaacutetica trazida por seu (s)

paciente (s) orientando-o neste sentido Esta accedilatildeo realizada atraveacutes de

perguntas e afirmaccedilotildees propiciaraacute intervenccedilotildees no sentido de agir sobre as

percepccedilotildees crenccedilas e fantasias do paciente promovendo o seu

questionamento Como resultado espera-se capacitar aquele indiviacuteduo a

mudar o ponto de vista e consequentemente o comportamento que gerou sua

problemaacutetica O terapeuta formula perguntas com objetivos terapecircuticos ou

seja para deflagrar mudanccedilas no mesmo A caracteriacutestica da circularidade no

intercacircmbio entre perguntas e respostas estaacute no aspecto exploratoacuterio

pesquisador das mesmas As suposiccedilotildees que as orientam satildeo interacionais e

sistecircmicas observando que haacute conexotildees em tudo o que se fala que se relata

As perguntas satildeo formuladas para levantar os lsquopadrotildees que conectamrsquo pessoas objetivos accedilotildees percepccedilotildees ideacuteias sentimentos eventos crenccedilas contextos etc em circuitos ciberneacuteticos que se repetem (TOMM 1988)

As perguntas circulares caracterizam-se pela curiosidade geral sobre

a possibilidade de conexatildeo entre eventos que tem a ver com a questatildeo do

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

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acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

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configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

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adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

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de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

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CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

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formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

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brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

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naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

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CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

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o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

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que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

27

problema em foco em vez de uma necessidade de conhecer as origens do

problema

O modelo Transformativo de mediaccedilatildeo utiliza-se desta teacutecnica com

objetivos que se diferenciam das praacuteticas psicoterapecircuticas apesar de guardar

semelhanccedilas para com elas quando o cerne de sua accedilatildeo estaacute no fato de

conduzir partes litigantes a mudanccedilas de posiccedilotildees quanto a revalorizaccedilatildeo de

si mesmo e o reconhecimento do outro

Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pauta-se na

Transformaccedilatildeo centrada nas relaccedilotildees humanas com base na revalorizaccedilatildeo das pessoas (fortalecimento e autodeterminaccedilatildeo) e no reconhecimento do outro como co-protagonista do conflito (alteridade) Seu objeto eacute a relaccedilatildeo o objetivo eacute a transformaccedilatildeo e considera a importacircncia do passado e seu reflexo no presente O conflito eacute a oportunidade de crescimento e mudanccedila Presume que as partes tecircm condiccedilotildees de construir com o mediador uma direccedilatildeo a seguir que compreendem com o coraccedilatildeo trabalhando as emoccedilotildees mesmo quando natildeo enxergam o problema com clareza e objetividade (ISOLDI Ana Luiza Godoy Op Cit p 113)

244- Modelo Transformador

Construiacuteda por Luis Alberto Warat argentino jurista filoacutesofo e

professor falecido em 16 de Dezembro de 2010 doutor em Direito pela

Universidade de Buenos Aires e poacutes-doutor pela Universidade de Brasiacutelia

Tambeacutem foi professor do Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade de

Brasiacutelia entre tantas outras atribuiccedilotildees

O modelo idealizado por Warat natildeo se baseia em acordos entre as

partes necessariamente como os anteriores Warat possui uma leitura

diferenciada do que ocorre num processo de mediaccedilatildeo Preocupado com o

processo psiacutequico de elaboraccedilatildeo simboacutelica do mal estar gerado por situaccedilotildees

conflituosas produzindo conflitos desgastantes para os envolvidos Warat

propotildee uma alternativa agrave mediaccedilatildeo pautada nas teorias sistecircmicas atraveacutes da

interlocuccedilatildeo com as praacuteticas pedagoacutegicas e psicanaliacuteticas Mesmo assim em

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

28

acordo com as demais em princiacutepio uma das caracteriacutesticas que ressalta eacute a

autonomia das partes conflitantes sobre as decisotildees tomadas para se chegar a

uma saiacuteda para os impasses com o miacutenimo de intervenccedilatildeo possiacutevel pelo

mediador

Tal autonomia seraacute alcanccedilada verdadeiramente a partir de um

processo de reconstruccedilatildeo simboacutelica realizado por cada uma das partes sendo

necessaacuterio no entanto que o mediador esteja preparado para trabalhar no

campo psiacutequico levando-as atraveacutes da escuta atenta a interpretaccedilotildees sobre a

origem e as razotildees do surgimento do conflito assim como suas

consequumlecircncias Soacute assim segundo Warat seraacute possiacutevel uma verdadeira

transformaccedilatildeo das posiccedilotildees nas quais se colocaram as partes litigantes

levando a uma soluccedilatildeo duradoura e talvez permanente No discurso que

versam sobre as diferenccedilas que se acirraram e as levaram a contraporem-se

satildeo ouvidos mutuamente e ouvem-se a si proacuteprios o que lhes permite uma

resignificaccedilatildeo de suas posturas arcaicas e inflexibilizadas pelo acirramento das

emoccedilotildees

Neste modelo tambeacutem a questatildeo do reconhecimento por cada

sujeito da histoacuteria que o outro tem a respeito do fato e de si mesmo eacute

fundamental para a transformaccedilatildeo do conflito pois pressupotildee que o

reconhecimento eacute de fato reconhecimento do outro eacute atribuiccedilatildeo de valor de

verdade sobre as histoacuterias que pertencem a cada um e os motivaram a

tomarem suas posiccedilotildees ateacute entatildeo Eacute a possibilidade de serem reconhecidos

como sujeitos e valorizados como tal No modelo de Warat descola-se da

questatildeo da resoluccedilatildeo do conflito como causalidade final no processo para

viabilizar a construccedilatildeo de identidades autocircnomas que ao se reconhecerem

como sujeitos simboacutelicos e de direito podem entatildeo considerar verdadeiramente

e assim respeitar a diferenccedila que adveacutem do outro

()mediaccedilatildeo eacute uma forma ecoloacutegica de resoluccedilatildeo dos conflitos sociais e juriacutedicos uma forma na qual o intuito de satisfaccedilatildeo do desejo substitui a aplicaccedilatildeo coercitiva e terceirizada de uma sanccedilatildeo legal (Warat 1999 p 5)

Estaria assim encutido uma aprendizagem fundamental neste

processo que seria em relaccedilatildeo agrave questatildeo trazida para a mediaccedilatildeo e aos

sujeitos ali presentes a partir da reconstruccedilatildeo simboacutelica da divergecircncia que se

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

29

configura Compreender o que se passa bem como compreender o outro

mutuamente seria ao final a melhor forma de aprender como lidar com

conflitos produzindo assim atitudes verdadeiras e duradouras

O diferencial que o modelo transformador nos traz ainda diz respeito

agrave consideraccedilatildeo da existecircncia de algo anterior ao conflito o que nem sempre eacute

visto pelos demais modelos ou na melhor das hipoacuteteses ateacute sabe-se de um

passado interveniente no presente poreacutem natildeo haacute a intenccedilatildeo de tomaacute-lo como

parte da sua resoluccedilatildeo Valoriza-se em Warat o que haacute aleacutem dos enunciados

apresentados pelas partes uma vez que acredita-se que estes natildeo expressam

exatamente o que estaacute no cerne do pensamento Haacute sempre algo de natildeo dito

de um segredo velado que alimenta a desconfianccedila o mal-estar a anguacutestia

gerando a insolubilidade de um impasse No que se considera os desejos e as

necessidades dos interessados buscando-se o diaacutelogo baseado na construccedilatildeo

e natildeo na destrutividade o conflito aqui tambeacutem natildeo eacute visto como problema

como desajuste Ele eacute visto justamente como possibilidade de inovaccedilatildeo de

descoberta de acreacutescimo a partir da constataccedilatildeo da diferenccedilas subjetivas dos

envolvidos Estaacute em jogo mais do que nunca a relaccedilatildeo do sujeito com outro

sujeito relaccedilatildeo entre subjetividades entre singularidades onde a diferenccedila natildeo

exclui ao contraacuterio pode construir-se algo a partir dela Eacute um modelo pautado

na alteridade pois na articulaccedilatildeo de desejos eacute valorizada e reconhecida a

singularidade de todos e por isso possui potencial transformador

Utilizando-se portanto do saber das aacutereas da psicologia da

pedagogia e da comunicaccedilatildeo vemos Warat valorizar a transformaccedilatildeo subjetiva

de cada parte que chegou litigando atraveacutes do aprendizado que constroem

sobre as questotildees internas que os motivaram na produccedilatildeo e na manutenccedilatildeo

do conflito Faz-se necessaacuterio para a conduccedilatildeo deste modelo de mediaccedilatildeo o

conhecimento aprofundado de conceitos pertencentes ao campo da psicanaacutelise

tais como desejo pulsotildees de vida e de morte inconsciente transferecircncia

contratransferecircncia enunciado e enunciaccedilatildeo recalque divisatildeo subjetiva

conflito resistecircncia recordaccedilatildeo elaboraccedilatildeo repeticcedilatildeo lugar do analista o

outro alteridade etc

A mediaccedilatildeo transformadora pretende outra forma de encarar e levar

soluccedilotildees aos impasses que chegam ao sistema juriacutedico Pretende ultrapassar a

visatildeo reducionista sobre o conflito que o trata negativamente e de forma

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

30

adversarial Diferencia-se assim das praacuteticas da negociaccedilatildeo e da conciliaccedilatildeo

Faz parte da visatildeo emancipatoacuteria do Direito Sem aprofundamento desta

questatildeo segundo Rosamaria Giatti Carneiro ldquoo direito emancipatoacuterio

necessita da emoccedilatildeo precisa ser por ela perpassado transversalmente seguir

contra a mareacute do direito moderno espaccedilo em que pouco se considerou a

emoccedilatildeordquo7

245- O papel do mediador

Como jaacute foi falado em algumas passagens anteriores formularemos

de forma sinteacutetica as questotildees que cercam o mediador e o papel fundamental

que a ele concerne Em princiacutepio diria que o mediador eacute o ponto central deste

processo autocompositivo que eacute a mediaccedilatildeo

O mediador por sua neutralidade deve ser um interventor imparcial

possuidor de escuta atenta e concentrada pautado no que as partes

apresentam como posiccedilotildees e interesses a respeito de uma questatildeo

controversa entre elas Sua accedilatildeo corresponde a transformar um contexto de

confronto em outro no qual haja a colaboraccedilatildeo dos envolvidos para chegar a

uma soluccedilatildeo satisfatoacuteria para ambos O mediador tem como funccedilatildeo buscar a

melhoria do relacionamento entre as partes fomentando a retomada do diaacutelogo

construtivo recriando a possibilidade de encontrar novas alternativas para as

controveacutersias surgidas pelo desacordo entre as partes Para chegar a isto eacute

necessaacuterio que os motivos que as levaram ao conflito fiquem claros a fim de

que haja a co-responsabilidade pela conclusatildeo do processo sem a imposiccedilatildeo

de qualquer decisatildeo por parte do mediador

Existem preceitos baacutesicos para ser um mediador Em primeiro lugar

qualquer pessoa pode ser um mediador natildeo importando a sua formaccedilatildeo

acadecircmica mas importando que ele seja instruiacutedo neste ofiacutecio Suas

caracteriacutesticas satildeo a neutralidade a imparcialidade natildeo ser julgador nem

negociador O mediador deve conduzir mas natildeo decidir pelas partes deve

motivaacute-las a buscar melhores soluccedilotildees para atender suas necessidades e as

do outro O mediador deve portanto auxiliar no esclarecimento dos interesses 7 wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria20Giatti20Carneiropdf

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

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CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

31

de cada um para enfim chegar-se a um acordo final O mediador deve

incentivar o restabelecimento da comunicaccedilatildeo atuando sobre o processo e

natildeo sobre os fatos Para tanto ele utilizaraacute o tempo que dispotildee para

investigar diagnosticar e escolher qual a melhor estrateacutegia a seguir de acordo

com a situaccedilatildeo demonstrada O mediador deveraacute saber separar as posiccedilotildees a

que cada parte se ateacutem cristalizada dos interesses que estatildeo ali em jogo

Deve ter a percepccedilatildeo do que de fato eacute real da histoacuteria trazida e o que eacute irreal

fantasias identificar os fatores encobertos ou latentes uma vez que a

expressatildeo do conflito se externaliza atraveacutes de posiccedilotildees divergentes agraves vezes

de forma agressiva ansiosa depressiva submissa etc

A competecircncia do mediador perante os fatos dependeraacute de sua

formaccedilatildeo de sua sensibilidade na escuta e na conduccedilatildeo do processo de

forma a minimizar o acirramento das controveacutersias da agressividade das

distorccedilotildees da realidade produzidas por fortes emoccedilotildees possibilitando a

retomada do diaacutelogo e se possiacutevel a reconstruccedilatildeo dos viacutenculos As

intervenccedilotildees sejam atraveacutes de perguntas de pontuaccedilotildees de teacutecnicas de

positivaccedilatildeo deveratildeo favorecer a evoluccedilatildeo do processo

Assim o mediador eacute aquele que vai facilitar o processo de discussatildeo

e resoluccedilatildeo do conflito buscando criar contextos alternativos a partir da

transformaccedilatildeo que se daraacute pelo proacuteprio fato dele estar mediando A sua

subjetividade estaacute em jogo natildeo no sentido de colocar-se como ator no conflito

mas ao saber conduzir de forma neutra e imparcial possibilitando que as

partes se tornem autocircnomas e se sintam libertas para a escolha de soluccedilotildees

Ele deveraacute ressaltar a importacircncia deste processo no sentido de que aleacutem da

mediaccedilatildeo ser uma teacutecnica de resoluccedilatildeo de conflitos ela tambeacutem guarda certo

aspecto terapecircutico enquanto contribui amplamente para a reorganizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre os sujeitos posicionando-os frente agrave vida sob nova visatildeo

32

CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

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CAPIacuteTULO III

CONFLITO VISAtildeO PSICANALIacuteTICA

A noccedilatildeo de conflito na psicanaacutelise ocupa lugar central na teoria das

neuroses Estaacute presente nas estruturas subjetivas da histeria e da neurose

obsessiva de forma particular em cada uma delas gerando o modo singular do

sujeito lidar com as experiecircncias de seu dia-a-dia Freud nos definiu o conflito

no niacutevel psiacutequico o qual nos eacute apresentado como um estado psiacutequico no qual

se contrapotildeem exigecircncias internas Pode manifestar-se ou permanecer latente

produzindo sintomas diversos tanto no niacutevel emocional como no fiacutesico O

conflito segundo a psicanaacutelise eacute constitutivo do ser pois pode se dar em

diversas instacircncias como por exemplo entre as exigecircncias pulsionais e as

defesas egoacuteicas entre o ego e o superego entre os desejos e as defesas ou

seja atraveacutes da operaccedilatildeo onde estatildeo em jogo uma intenccedilatildeo e sua interdiccedilatildeo

O conflito psiacutequico eacute um fator estrutural da subjetividade do ser e como tal a

sua elaboraccedilatildeo pelo sujeito nortearaacute as suas accedilotildees e reaccedilotildees ao longo de sua

vida

Podemos dizer que todos os seres humanos estatildeo inscritos

emocionalmente num determinado tipo de estrutura psiacutequica que lhes confere

uma subjetividade particular e diferenciada fazendo com que natildeo haja um

sujeito igual ao outro mesmo que aparentemente perceba-se formas comuns

de se lidar com o que eacute vivido Poreacutem o que eacute comum natildeo significa que haja

igualdade Podemos ateacute pensar em comportamentos semelhantes pois eacute claro

que na maioria das vezes encontramos reaccedilotildees previsiacuteveis a certas accedilotildees

Isto a psicologia experimental pode explicar Poreacutem em psicanaacutelise o que

observa-se eacute que mesmo que elas sejam concebidas aparentemente como

iguais para cada sujeito uma accedilatildeo e uma reaccedilatildeo lhe traratildeo diferentes

consequumlecircncias emocionais seja na forma quantitativa como na qualitativa uma

vez que eacute no inconsciente que encontramos as razotildees mais profundas para as

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formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

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brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

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naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

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CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

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o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

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comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

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que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

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esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

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CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

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Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

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desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

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contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

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lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

33

formas como as accedilotildees e suas consequumlentes reaccedilotildees se manifestam Ou seja

o tipo de accedilatildeo eou reaccedilatildeo de um sujeito frente a um conflito nos indicaraacute a

quantidade de energia psiacutequica que ele investiu no seu ato bem como as

elaborou qualitativamente e isso difere para cada um

Ao analisarmos o conflito de forma ontoloacutegica ou seja em relaccedilatildeo

ao pensamento hegeliano sobre o embate entre o senhor e o escravo (1806-7)

Nele duas consciecircncias de si se contrapotildeem ndash senhor e escravo - nas suas

necessidades de reconhecimento supondo-se que diante do desejo de ser

reconhecido em sua autoridade e autonomia impotildee-se a outro que este assim

o reconheccedila Ou seja que este outro se submeta ao primeiro No entanto isto

natildeo eacute unilateral uma vez que este outro ao qual se deseja que se submeta por

sua vez tambeacutem deseja ser reconhecido em seu desejo e para isso eacute

necessaacuterio que aquele se submeta a reconhececirc-lo por sua vez Pois bem a

dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel versa sobre essas duas posiccedilotildees

subjetivas que podem ser ocupadas dialeticamente a todo instante pelo ser

Satildeo as razotildees de suas autoridades que se contrapotildeem gerando um embate

interminaacutevel para que cada um seja reconhecido pelo outro em seu desejo

Buscar a morte do outro implica a proacutepria vida Por conseguinte a luta entre duas consciecircncias de si eacute determinada do seguinte modo elas se experimentam a elas proacuteprias e entre si por meio de uma luta de morte Natildeo podem evitar essa lutam pois satildeo forccediladas a elevar ao niacutevel da verdade sua certeza de si sua certeza de existir para si cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra Soacute arriscando a proacutepria vida eacute que se conquista a liberdade Soacute assim que se assegura de que a natureza da consciecircncia de si natildeo eacute o ser puro natildeo eacute a forma imediata de sua manifestaccedilatildeo natildeo eacute sua imersatildeo no oceano da vida (Hegel 1806-7)

Mediante um conflito esperamos encontrar determinadas emoccedilotildees

como raiva anguacutestia ansiedade medo pacircnico Seria essa a fenomenologia do

conflito apresentado pelo sujeito no seu comportamento Estaacute em questatildeo uma

disputa seja no niacutevel psiacutequico ou no acircmbito soacutecio-cultural Ao niacutevel psiacutequico

haacute uma disputa entre forccedilas internas inconscientes ndash desejos inconscientes e

sua interdiccedilatildeo - no acircmbito soacutecio-cultural uma disputa entre partes conflitantes

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

34

brigando pela prevalecircncia de suas posiccedilotildees ndash uma tentando interditar a outra

com a prevalecircncia de uma delas

Portanto ao pensarmos a organizaccedilatildeo emocional partindo de uma

preacute-histoacuteria infantil quando o primitivo do ser passa a ser introduzido na cultura

atraveacutes dos limites outorgados agrave sua satisfaccedilatildeo pulsional capacitando-o ao

conviacutevio social natildeo se tornam neutralizadas contudo as moccedilotildees pulsionais

que buscam satisfaccedilatildeo a qualquer custo O psiacutequico eacute regido pelo princiacutepio do

prazer e pelo princiacutepio de realidade pulsatildeo de vida e pulsatildeo de morte e com o

objetivo constante de satisfazer-se pulsionalmente mas contido pelos limites

que a realidade impotildee O ser se expande em busca de objetos deslocados e

substitutos de seus primitivos objetos de prazer O percurso que o sujeito faz

do nascimento ateacute sua morte obedece a este propoacutesito baacutesico o reecontro com

o objeto primitivo de satisfaccedilatildeo perdido O sujeito se transveste de ser social

cultural emocional para dar conta portanto do desejo infantil que se reveste

atraveacutes de objetos de sua realidade impondo-se-lhe como necessidade E

como tal passa a ocupar um lugar de destaque no desejo de muitos Assim

inserido na cultura e no social o sujeito se relaciona com o outro em harmonia

ou natildeo e eacute sobretudo neste uacuteltimo caso o que nos interessa nessa pesquisa

o momento que se configura como dasarmocircnico na relaccedilatildeo do sujeito com o

semelhante As duas consciecircncias-em-si (idem Hegel) estariam assim no

embate por reconhecimento de sua prevalecircncia sobre o outro

() essa tendecircncia agrave agressatildeo que podemos perceber em noacutes mesmos e cuja existecircncia supomos tambeacutem nos outros constitui o fator principal da perturbaccedilatildeo em nossas relaccedilotildees com o proacuteximo eacute ela que impotildee tantos esforccedilos agrave civilizaccedilatildeo (Freud 1971 p65)

Freud nos fala que a verdadeira natureza do homem eacute ser

ambivalente nem bom nem mal mas nele coabitando amor e oacutedio o altruiacutesmo

e o egoiacutesmo E para o homem civilizado tal ambivalecircncia o faz na busca por

sua felicidade um ser dependente e sempre agraves voltas com as ameaccedilas que o

circundam no que diz respeito agraves suas relaccedilotildees com o semelhante Portanto a

relaccedilatildeo entre os homens sempre tem a marca do conflito uma vez que agrave sua

sorte de ser psiacutequico agrave mercecirc de seus impulsos ele dispotildee de dispositivos

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

35

naturais pouco eficientes que regulam a sua relaccedilatildeo com o outro A felicidade a

que aspiram sempre encontraraacute barreiras para sua efetivaccedilatildeo permanente

No entanto a proacutepria cultura na qual o homem se insere o capacita a

criar os dispositivos que mediam esta relaccedilatildeo tornando sua existecircncia

possiacutevel Para compensar o desamparo ao qual eacute lanccedilado enquanto sujeito

ambivalente nas relaccedilotildees com o semelhante ele formula leis de regulaccedilatildeo do

gozo atraveacutes do trabalho da religiatildeo da arte do conhecimento cientiacutefico Eacute a

partir dessas construccedilotildees que o homem eacute mediado nas relaccedilotildees com a

sociedade e com a cultura constituindo-o como ser soacutecio-cultural Eacute a partir da

construccedilatildeo de leis que o homem tentaraacute abolir a sua realidade inconsciente

destrutiva (pulsatildeo de morte) de modo que consiga viver em paz com o mundo

como se fosse simples a obediecircncia agraves mesmas de forma a anular o

surgimento do conflito

Que poderoso obstaacuteculo agrave civilizaccedilatildeo a agressividade deve ser se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a proacutepria agressividade(Freud 1930 p 168)

Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio das relaccedilotildees humanas em virtude da universalidade da hostilidade dos homens uns em relaccedilatildeo aos outros e da crueldade inerente ao ser humano (Caterina Koltai in Satildeo Paulo perspectiva vol13no3 Satildeo Paulo JulySept 1999 http dx doiorg10 1590S0102-88391999000300010

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CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

36

CAPIacuteTULO IV

PSICANAacuteLISE E SOCIOLOGIA

Ao longo da histoacuteria da humanidade encontramos relatos infindaacuteveis

dos mais diversos tipos de conflitos que acabaram em assassinatos em

intrigas em dissoluccedilotildees de impeacuterios em rompimentos entre governos em

matanccedila generalizada em guerras mundiais A disputa por valores crenccedilas

religiotildees tendecircncias sistemas de pensamento tradiccedilotildees entre tantas outras

nos mostra como a rivalidade entre uns e outros faz do ser humano um ser

controvertido pois como diz o senso comum - o homem eacute o uacutenico animal que

mata seu semelhante a troco de nada muitas vezes - ao contraacuterio do animal

natural que mata para defender-se ou defender sua prole Nessa analogia ao

pensarmos o homem como ser natildeo-natural esse dito popular natildeo nos serve

tanto mais na atualidade O homem tambeacutem mata em defesa proacutepria em

defesa de valores egoiacutestas de posiccedilotildees individualistas por diferenccedilas de

opiniotildees por interesses que dizem respeito agraves suas intenccedilotildees de sobrepujar

sua proacutepria megalomania contradizendo o dito acima Nessa luta de poder em

todos os acircmbitos relacionais que vai das micro agraves macro-relaccedilotildees das famiacutelias

aos governos agraves naccedilotildees vemos o ser humano em constantes embates

Na interlocuccedilatildeo com a sociologia e com a antropologia a psicanaacutelise

demonstra que aos viacutenculos sociais estatildeo associados os afetos e que para

compreender a relaccedilatildeo do homem com seus semelhantes natildeo se pode

desconsiderar as contribuiccedilotildees de Freud ao falar das razotildees inconscientes

presentes na formaccedilatildeo e na existecircncia dos grupos Trata-se de conectar o

social com o que eacute subjetivo singular a cada um enquanto pertencente ao

grupo soacutecio-cultural A sociologia e a psicanaacutelise se encontram no campo onde

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

37

o que diz respeito ao ideoloacutegico com seus efeitos no soacutecius encontra seus

reflexos na interferecircncia que tem sobre a subjetividade humana e vice-versa

fazendo com que a psicanaacutelise se atenha ao tratamento desses efeitos ndash

sintomas- cujo objetivo eacute o de levar o sujeito psiacutequico ao restabelecimento de

um domiacutenio sobre si proacuteprio quando as adversidades de sua convivecircncia em

grupo o prejudicaram (Kaufmann 1996 p 729)

Citando Freud Kaufmann (supracitado) nos diz que ldquo a sociologia

natildeo podia ser outra coisa senatildeo a psicologia aplicadardquo

A psicanaacutelise surgiu com Freud e revolucionou a visatildeo sobre o

indiviacuteduo desde entatildeo sendo a descoberta do inconsciente o novo paradigma

concernente ao humano e agraves relaccedilotildees estabelecidas por ele com seu

semelhante com o social A partir dos estudos de seus vaacuterios seguidores

construtores da psicanaacutelise que temos nos nossos dias nada mais passa

despercebido aos olhos a escuta e a compreensatildeo psicanaliacutetica A psicologia

absorveu seus conceitos e integrou-os aos dela e nem sempre preservou sua

originalidade o que levou agraves distorccedilotildees dos mesmos

A psicanaacutelise diferente das teorias psicoloacutegicas eacute firme ao

demonstrar que o homem deixa de ser um ser da natureza para constituir-se

como sujeito desejante a partir do advento da cultura e do social onde estaacute

inserido O inconsciente daacute provas disso enquanto fundamenta na alteridade

toda a evoluccedilatildeo do dinamismo psiacutequico pois eacute a partir do sujeito em relaccedilatildeo

com seu semelhante que ele se torna sujeito desejante

Assim o homem soacutecio-cultural ser psiacutequico comandado pelo desejo

inconsciente e submetido agraves leis da civilizaccedilatildeo constitui-se inicialmente a partir

da imagem do outro e daiacute retira a exata dimensatildeo do Eu (Lacan 1949) Este

numa relaccedilatildeo especular ao outro enaltece tal envolvimento com a imagem e

vai carregar ao longo de sua vida todas as consequumlecircncias resultantes desse

encontro Assim as relaccedilotildees infantis com os genitores e outros vatildeo aos poucos

constituindo esse novo ser solidificando valores tendecircncias intenccedilotildees

desejos A ele satildeo impostas condiccedilotildees e escolhas definitivas para sua

estruturaccedilatildeo psiacutequica que o tornaraacute singular e pertencente ao soacutecius

Poreacutem natildeo se trata de um caminho natural onde o sujeito eacute

reduzido ao bioloacutegico Sob tal visatildeo eacute interpretado como um ser previsiacutevel

uma vez que o coacutedigo geneacutetico seria a condiccedilatildeo uacutenica em relaccedilatildeo ao seu

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

38

comportamento social e psiacutequico As teorias comportamentais e adaptativas

tentam proliferar essas ideacuteias negando a fundamental importacircncia dos fatores

inconscientes como tambeacutem regentes da vida dos indiviacuteduos

Enquanto a biologia justifica o comportamento humano atraveacutes dos

instintos em psicanaacutelise falamos de pulsotildees Expliquemos o que cabe aos

instintos para poder diferenciar desses as pulsotildees termo psicanaliacutetico

freudiano Instinto diz respeito ao que eacute bioloacutegico eacute a forccedila da carga hereditaacuteria

que o organismo carrega Se trata de mensagens inscritas num coacutedigo

geneacutetico que determinam como o organismo se comportaraacute biologicamente de

forma previsiacutevel ao longo de sua vida Podemos pensaacute-lo em relaccedilatildeo aos seres

na natureza tais como as abelhas os lobos as aves e ateacute as amebas A eles

satildeo determinados pela condiccedilatildeo geneacutetica todos os desiacutegnios de sua

passagem pelo mundo em que noacutes humanos seres tambeacutem bioloacutegicos

vivemos de forma bastante diversa apesar da ciecircncia insistir a nos igualar

Pulsatildeo termo alematildeo ndash Trieb- foi designado por Freud para

diferenciar-se radicalmente de instinto Eacute um conceito limite entre o psiacutequico e

o somaacutetico e significa resumindo a energia vital que nos impulsiona na vida

sujeita agraves vicissitudes para que possa obter satisfaccedilatildeo Uma das concepccedilotildees

sobre pulsatildeo refere-se agrave ldquopressatildeo ou forccedila concebida como um fator

quantitativo econocircmicordquo (Laplanche-Pontallis 1967 p 508) se trata de uma

ldquoexigecircncia de trabalho imposta ao aparelho psiacutequicordquo (Freud vol XIV p 122

apud autores supracitados p 508) aleacutem de seus outros elementos como fonte

objeto e alvo A meta pulsional eacute a satisfaccedilatildeo Poreacutem natildeo adentraremos

nestes conceitos por hora importando de fato compreendermos a diferenccedila

do psiacutequico e do orgacircnico e que se trata de energia impulso vital Diferente de

ser instintivo limitado ao bioloacutegico o sujeito ao se inscrever na ordem

simboacutelica que o torna falante sujeito da linguagem constitui-se enquanto ser

emocional psiacutequico pulsional

O que nos importa no presente momento eacute ressaltar o aspecto do

dualismo pulsional Ou seja Freud nos fala da convivecircncia entre tipos opostos

e complementares de pulsotildees e vai contrapor finalmente no artigo Mais-Aleacutem

do Princiacutepio do Prazer (1920) a dualidade que opotildee amor e oacutedio Eros e morte

Fica claro portanto que o dualismo que Freud insiste em ressaltar

implica a presenccedila prevalente do conflito Nesta construccedilatildeo ele nos mostra

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

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2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=

231518ampseo=1gt Visitado em 02062011

53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

39

que as pulsotildees como representantes psiacutequicos da forccedila interna que busca um

objeto atraveacutes do qual possa descarregar sua energia excitada e satisfazer-se

podem encontrar barreiras a esse intento (de satisfaccedilatildeo) na ordem do recalque

- interdiccedilatildeo inconsciente - surgindo daiacute o que chamamos de conflito

intrapsiacutequico

O eixo central portanto do exame que Freud faz sobre a

constituiccedilatildeo do ser recai sobre a dimensatildeo da agressividade da hostilidade e

da crueldade inerente ao humano e que vai refletir sobre a integraccedilatildeo do

sujeito com o social e o cultural

O conflito pode ser manisfesto (entre um desejo e uma exigecircncia moral por exemplo ou entre dois sentimentos contraditoacuterios) ou latente podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se designadamente pela formaccedilatildeo de sintomas desordens do comportamento perturbaccedilotildees do caraacuteter etc A psicanaacutelise considera o conflito como constitutivo do ser humano e isto em diversas perspectivas conflito entre o desejo e a defesa () entre as pulsotildees e por fim o conflito edipiano onde natildeo apenas se defrontam desejos contraacuterios mas onde estes enfrentam a interdiccedilatildeo (idem autores supracitados p 131)

E inerente ao conflito estaacute o sofrimento a anguacutestia sentimentos

que se apresentam em vaacuterias intensidades para cada sujeito Assim surgem as

neuroses pois as interdiccedilotildees ao prazer que as pulsotildees estatildeo sujeitas tem

relaccedilatildeo direta com o meio social com a relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com o

outro pois eacute este que vai inseri-lo na ordem da lei de regulaccedilatildeo de seu desejo

Citando Kaufmann (1996 p 730) ldquoAgrave medida que progride o recalcamento das

pulsotildees primitivas amplia-se o campo da consciecircncia (cf Freud 1909) mas

trata-se do campo de uma consciecircncia infelizrdquo Assim o caraacuteter insatisfatoacuterio

das relaccedilotildees humanas tem sua base nos conflitos intrapsiacutequicos que se

refletem no social A civilizaccedilatildeo impotildee ao homem que o seu conviacutevio com a

cultura e com o lsquosociusrsquo seja regulado por leis E o homem apesar de precisar

delas para sobreviver pois constitui-se como ser social a elas se contrapotildee

constantemente

() o homem natildeo pode viver plenamente feliz nela (na cultura) mas natildeo consegue sobreviver sem ela O homem e a mulher estatildeo presos num antagonismo precisam dos outros mas sonham viver afastados dessa sociedade que lhes limita as pulsotildees sexuais Para tentar aplacar os sofrimentos de que

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

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O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

AZEVEDO Andreacute Gomma de BARBOSA Ivan Machado (orgs) Estudos em

Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

FACULDADE DE DIREITO 2007

AZEVEDO A Gomma (org) Manual de Mediaccedilatildeo Judicial BrasiacuteliaDF

Ministeacuterio da Justiccedila e Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento ndash

PNUD 2009

CEZAR-FERREIRA Verocircnica A da M Famiacutelia separaccedilatildeo e mediaccedilatildeo uma

visatildeo psicojuriacutedica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Meacutetodo 2007

EGGER Ildemar Cultura da paz e mediaccedilatildeo uma experiecircncia c adolescentes

In Programa Reconhecer 2006 Resignificando o ensino de Direito e

construindo praacuteticas emancipatoacuterias Florianoacutepolis Editora Fundaccedilatildeo Boiteux

2008

FREUD S Ediccedilatildeo Standard Brasileira das Obras Completas Rio de Janeiro

Imago Editora Ltda 1972

KAUFMANN P Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Psicanaacutelise Rio de Janeiro

Jorge Zahar Editor 1996

LAPLANCHE J e PONTALIS JB Vocabulaacuterio da Psicanaacutelise 6ordf ediccedilatildeo Satildeo

Paulo Martins Fontes Editora Ltda 1967

OS PENSADORES Hegel Satildeo Paulo Nova Cultural Ltda1996

ROUDINESCO Elizabeth e PLON Michel Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

1998

50

WARAT Luiz Alberto (Org) Ecologia Psicanaacutelise e Mediaccedilatildeo Em nome do

acordo 2ordf ediccedilatildeo Argentina Almed 1999

51

WEBGRAFIA

BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de

conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf

CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a

psicanaacutelise In wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria 20Giatti

20Carneiropdf Visitado em 04082011

FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da

superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista

eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011

FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-

tivo 1998 Visitado em 16082011

HEGEL In httpwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1uhpbhbvg

visitado em 10072011

ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo

urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008

LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para

a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

visitado em 04072011

LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo

transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=

revis ta _artigos_leituraampartigo_id=8622 Visitado em 08072011

52

OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011

ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos

conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid

visitado em 10042011

VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da

psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar

2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=

231518ampseo=1gt Visitado em 02062011

53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

40

esse antagonismo eacute fonte a cultura se esforccedila por criar viacutenculos substitutos laccedilos amorosos laccedilos libidinais desviados de seus objetivos sexuais (ROUDINESCO e PLON 1998 p 491)

A civilizaccedilatildeo e a cultura criam instituiccedilotildees para regular o conviacutevio

social como o Estado a famiacutelia e a Igreja As instituiccedilotildees agem na sociedade

no sentido de remediar o sofrimento presente nas relaccedilotildees humanas no

entanto natildeo deixam de ser coercitivos agrave busca do prazer gerando novamente

fonte de sofrimento

O desenvolvimento da civilizaccedilatildeo implica que leis sejam

estabelecidas regulando a convivecircncia do homem no social na tentativa de

domesticaccedilatildeo de seus impulsos da insatisfaccedilatildeo do descontrole da

agressividade Se tal domesticaccedilatildeo tem seu correlativo no psiquismo na forma

de recalque estabelece-se uma relaccedilatildeo entre o funcionamento social e a

formaccedilatildeo dos sintomas Freud nos leva a associar o surgimento das neuroses

agraves influecircncias sociais dizendo que o seu caraacuteter associal (das neuroses) levam

o indiviacuteduo a retirar-se da sociedade trocando a sua liberdade pelo isolamento

da doenccedila (Freud 1913)

Conectam-se por esta via por fim o social e o subjetivo

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

AZEVEDO Andreacute Gomma de BARBOSA Ivan Machado (orgs) Estudos em

Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

FACULDADE DE DIREITO 2007

AZEVEDO A Gomma (org) Manual de Mediaccedilatildeo Judicial BrasiacuteliaDF

Ministeacuterio da Justiccedila e Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento ndash

PNUD 2009

CEZAR-FERREIRA Verocircnica A da M Famiacutelia separaccedilatildeo e mediaccedilatildeo uma

visatildeo psicojuriacutedica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Meacutetodo 2007

EGGER Ildemar Cultura da paz e mediaccedilatildeo uma experiecircncia c adolescentes

In Programa Reconhecer 2006 Resignificando o ensino de Direito e

construindo praacuteticas emancipatoacuterias Florianoacutepolis Editora Fundaccedilatildeo Boiteux

2008

FREUD S Ediccedilatildeo Standard Brasileira das Obras Completas Rio de Janeiro

Imago Editora Ltda 1972

KAUFMANN P Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Psicanaacutelise Rio de Janeiro

Jorge Zahar Editor 1996

LAPLANCHE J e PONTALIS JB Vocabulaacuterio da Psicanaacutelise 6ordf ediccedilatildeo Satildeo

Paulo Martins Fontes Editora Ltda 1967

OS PENSADORES Hegel Satildeo Paulo Nova Cultural Ltda1996

ROUDINESCO Elizabeth e PLON Michel Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

1998

50

WARAT Luiz Alberto (Org) Ecologia Psicanaacutelise e Mediaccedilatildeo Em nome do

acordo 2ordf ediccedilatildeo Argentina Almed 1999

51

WEBGRAFIA

BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de

conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf

CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a

psicanaacutelise In wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria 20Giatti

20Carneiropdf Visitado em 04082011

FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da

superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista

eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011

FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-

tivo 1998 Visitado em 16082011

HEGEL In httpwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1uhpbhbvg

visitado em 10072011

ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo

urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008

LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para

a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

visitado em 04072011

LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo

transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=

revis ta _artigos_leituraampartigo_id=8622 Visitado em 08072011

52

OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011

ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos

conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid

visitado em 10042011

VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da

psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar

2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=

231518ampseo=1gt Visitado em 02062011

53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

41

CAPIacuteTULO V

A TEacuteCNICA DA MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS E O

TRATAMENTO PSICANALIacuteTICO

A maior dificuldade na soluccedilatildeo das causas de famiacutelia estaacute

em que os conflitos emocionaisrelacionais entre os

litigantes frequentemente datildeo substrato agrave disputa Os

conflitos natildeo elaborados da dupla parental tendem a

comandar a accedilatildeo (CEZER-FERREIRA 2007 p 118)

Partindo do casal parental podemos expandir a anaacutelise para os

demais relacionamentos entre os sujeitos Das relaccedilotildees parentais agraves natildeo

parentais dos viacutenculos familiares aos fraternos falamos natildeo soacute de espaccedilo

social ocupado mas de espaccedilo emocional que cada um possui em relaccedilatildeo

agravequele com quem convive proximamente ou nem tanto Nas caracteriacutesticas

proacuteprias de cada relaccedilatildeo de convivecircncia que se estabelece seja entre duas ou

mais pessoas estaacute intriacutenseco que as diferentes maneiras como cada um se

constituiu como sujeito daraacute a cor daquela relaccedilatildeo especificamente uma vez

que como sujeito ele estaraacute sempre submetido agrave neurose de sua escolha

inconsciente e por assim ser estaraacute em relaccedilatildeo ao outro de forma especular

tentando lsquoencaixarrsquo a sua neurose particular agrave do seu par de forma a

constituiacuterem-se na fantasia imaginaacuteria de cada um seja como casal sexual ou

mantenedor de relaccedilotildees fraternas ou de amizade Entretanto todas as relaccedilotildees

estatildeo fadadas a infortuacutenios seja de ordem objetiva quando pessoas

interrompem o contato devido a uma necessidade fiacutesica de espaccedilo de tempo

ou outras situaccedilotildees seja quando satildeo interrompidas por conflitos que abalam a

convivecircncia e provocam o afastamento das pessoas Natildeo haacute como negar que

um dos fatores que mais ficam prejudicados devido a conflitos diversos eacute a

relaccedilatildeo comunicacional que se rompe entre aqueles que estatildeo sofrendo pelo

mal-estar de uma discoacuterdia

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

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ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos

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visitado em 10042011

VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da

psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar

2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=

231518ampseo=1gt Visitado em 02062011

53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

42

Digladiando-se na arena em dolorosas e insistentes disputas os sofredores sujeitos desse nefasto evento que para muitos pode evoluir e converter-se em sangrento festim de muacutetua destruiccedilatildeo com riscos de atingir por seus deleteacuterios efeitos pessoas outras ainda que inocentes situadas nas proximidades do ciacuterculo familiar em chamas

Satildeo as viacutetimas do jogo insensato ou do macabro circo de miseacuteria humana mal resolvida homens e mulheres em explosotildees de oacutedio e interminaacuteveis disputas por patrimocircnio ou guarda de filhos ou em gritos lancinantes de ajuda e meios de seu proacuteprio sustento e alcance de uma vida digna (OLIVEIRA Euclides Benedito de 2003)8

Ao consultoacuterio de um psicoacutelogopsicanalista soacute chegam conflitos

Desde a queixa da mulher com baixa auto-estima que acusa os pais de natildeo

terem lhe dado atenccedilatildeo na infacircncia a crianccedila que sofre bulling na escola o

profissional que natildeo suporta as relaccedilotildees de poder na empresa as brigas entre

irmatildeos o desamparo do idoso os atritos conjugais as traiccedilotildees entre parentes

enfim as decepccedilotildees e frustaccedilotildees advindas das mais diversas queixas que

sempre configuram conflitos interminaacuteveis Em alguns casos jaacute chegam com

pendecircncias judiciais e ateacute por isso buscam tratamento psicanaliacutetico seja na

forma individual ou familiar por um adulto ou por uma crianccedila levada por um

adulto

Em psicanaacutelise baseada nos preceitos de Freud e Lacan trabalha-

se com o desejo que na sua origem inconsciente manifesta-se nos atos nas

atitudes no pensamento do sujeito enfim na linguagem que se expressa por

essas vias O comportamento diaacuterio do indiviacuteduo sua forma de se posicionar

diante da vida suas ideologias suas lutas expectativas perspectivas satildeo

representaccedilotildees do que haacute de mais iacutentimo inconsciente que o sujeito possui

intermediado pelo social atraveacutes de seus viacutenculos afetivo sexual profissional

cultural poliacutetico etc Este mundo particular e tambeacutem singular eacute levado agrave

presenccedila de um analista de quem se espera que faccedila uma escuta especial de

outro lugar que natildeo o do social Dar iniacutecio a uma anaacutelise significa de certa

forma que o sujeito natildeo estaacute mais encontrando neste meio a mediaccedilatildeo

suficiente entre ele e os conflitos surgidos As instituiccedilotildees sociais atraveacutes das

quais o sujeito faz laccedilos e que por isso lhe serve para fazer circular o seu

8 httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

AZEVEDO Andreacute Gomma de BARBOSA Ivan Machado (orgs) Estudos em

Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

FACULDADE DE DIREITO 2007

AZEVEDO A Gomma (org) Manual de Mediaccedilatildeo Judicial BrasiacuteliaDF

Ministeacuterio da Justiccedila e Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento ndash

PNUD 2009

CEZAR-FERREIRA Verocircnica A da M Famiacutelia separaccedilatildeo e mediaccedilatildeo uma

visatildeo psicojuriacutedica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Meacutetodo 2007

EGGER Ildemar Cultura da paz e mediaccedilatildeo uma experiecircncia c adolescentes

In Programa Reconhecer 2006 Resignificando o ensino de Direito e

construindo praacuteticas emancipatoacuterias Florianoacutepolis Editora Fundaccedilatildeo Boiteux

2008

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KAUFMANN P Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Psicanaacutelise Rio de Janeiro

Jorge Zahar Editor 1996

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OS PENSADORES Hegel Satildeo Paulo Nova Cultural Ltda1996

ROUDINESCO Elizabeth e PLON Michel Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

1998

50

WARAT Luiz Alberto (Org) Ecologia Psicanaacutelise e Mediaccedilatildeo Em nome do

acordo 2ordf ediccedilatildeo Argentina Almed 1999

51

WEBGRAFIA

BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de

conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf

CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a

psicanaacutelise In wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria 20Giatti

20Carneiropdf Visitado em 04082011

FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da

superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista

eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011

FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-

tivo 1998 Visitado em 16082011

HEGEL In httpwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1uhpbhbvg

visitado em 10072011

ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo

urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008

LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para

a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

visitado em 04072011

LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo

transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=

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52

OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011

ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos

conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid

visitado em 10042011

VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da

psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar

2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=

231518ampseo=1gt Visitado em 02062011

53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

43

desejo inconsciente satisfazendo-o passam a natildeo ser mais suficientes para

tanto Essa mediaccedilatildeo passa a natildeo ser mais eficaz restando duacutevidas anguacutestia

mal-estar resultando sintomas modernos como depressatildeo fobias

compulsotildees etc

Entatildeo ao chegar a uma anaacutelise de certa forma o sujeito vai buscar

formas de solucionar seu (s) conflito atraveacutes do analista a quem dirige a

demanda de mediar seu descompasso diante de algo que retirou-lhe as

certezas tatildeo previamente construiacutedas O analista uma forma especial de

mediador se define atraveacutes de princiacutepios baacutesicos que norteiam sua praacutetica

bem como se utiliza de construtos teoacutericos e teacutecnicos absorvidos de seus

estudos de sua experiecircncia em campo e de sua anaacutelise pessoal

Conta com os conceitos desenvolvidos por Freud como desejo

pulsotildees de vida e de morte transferecircncia recalque retorno do recalcado

obsessotildees acting-out atos falhos chistes lembranccedilas encobridoras fantasias

luto melancolia interpretaccedilatildeo enunciado e enunciaccedilatildeo entre tantos outros

Eacute no trabalho do luto do recordar do repetir e do elaborar que o

conflito psiacutequico tem chance de se diluir dando espaccedilo a ressignificaccedilotildees

importantes para o sujeito

O modelo de mediaccedilatildeo transformadora de Warat eacute o que mais se

aproxima da psicanaacutelise Sua preocupaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave escuta natildeo soacute do

enunciado mas da enunciaccedilatildeo do que pode estar nas entrelinhas do discurso

que as partes em conflito apresentam das revelaccedilotildees de segredos das

emoccedilotildees do amor e do oacutedio mostra o quanto eacute importante para se obter

resultados duradouros numa mediaccedilatildeo essa postura do mediador Certamente

conhecedor dos princiacutepios psicanaliacuteticos tambeacutem leva em conta que o

processo de mediaccedilatildeo sofre as influecircncias da transferecircncia e das resistecircncias

No seu ensino utilizou-se de Paulo Freire para ressaltar o aspecto pedagoacutegico

da mediaccedilatildeo e a importacircncia do outro estabelecendo na alteridade a condiccedilatildeo

de se restabelecer o bom conviacutevio e a comunicaccedilatildeo Em psicanaacutelise natildeo eacute uma

pedagogia que se busca pois Freud (Conferecircncia XXXIV 1933) alertava sobre

as questotildees que envolviam o fator educacional sobre as motivaccedilotildees

inconscientes ressaltando que por se tratar de uma operaccedilatildeo proacutepria ao Eu o

aprendizado poderia incorrer num aumento da neurose Ou seja uma vez que

a disposiccedilatildeo a aprender depende do recalque da pulsatildeo sexual esta

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

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Ministeacuterio da Justiccedila e Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento ndash

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visatildeo psicojuriacutedica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Meacutetodo 2007

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Jorge Zahar Editor 1996

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ROUDINESCO Elizabeth e PLON Michel Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

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urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008

LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para

a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

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LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo

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ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos

conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid

visitado em 10042011

VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da

psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar

2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=

231518ampseo=1gt Visitado em 02062011

53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

44

contenccedilatildeo correria o risco de fomentar o conflito entre a busca pela satisfaccedilatildeo

pulsional e o seu impedimento Assim a psicanaacutelise natildeo vai em busca de

ensinar nada para o paciente muito pelo contraacuterio Se posiciona contra o ato

de pedagogizar os conteuacutedos inconscientes uma vez que o Eu eacute a instacircncia

psiacutequica que estaacute sempre em alerta para impedir que o recalcado venha agrave

tona absorvendo as regras e assim levando a um aprendizado social Numa

anaacutelise no entanto eacute quebrando as resistecircncias do Eu sua certezas

arraigadas que se tem possibilidade de ascender ao inconsciente na

contramatildeo de uma pedagogia Talvez mais proacutexima desta atuaccedilatildeo terapecircutica

estejam as terapias comportamentais estas sim preocupadas em ensinar ao

Eu como se adaptar agraves exigecircncias do mundo driblando conflitos pela via

consciente

Portanto ao pensar na possibilidade da utilizaccedilatildeo do instrumento da

mediaccedilatildeo num tratamento psicanaliacutetico seratildeo necessaacuterias algumas

observaccedilotildees A mediaccedilatildeo se define como uma forma de intervenccedilatildeo sobre

conflitos deflagrados entre partes que passam a litigar inflexibilizadas em suas

posiccedilotildees digladiando de forma clara ou velada em torno de certezas

deturpadas por emoccedilotildees Sua aplicabilidade durante uma psicanaacutelise poderaacute

redundar no esclarecimento objetivo do conflito trabalhado na presenccedila das

partes em questatildeo e liberando o sujeito para o investimento em sua

subjetividade O conflitos se tornam minimizados e mais esclarecidos a partir

da mediaccedilatildeo A utilizaccedilatildeo deste instrumento poderaacute se dar naqueles casos em

que se confirme a existecircncia real de um conflito que lhe traga um mal-estar

avassalador gerador de muitas anguacutestias concretas com sintomas diversos

inclusive corporais O psicanalista que empreender esse trabalho deveraacute estar

certo de sua opccedilatildeo e levar em conta todos os mecanismos presentes numa

anaacutelise individual agora transportados para o grupo Por se tratar de um

processo que requer objetividade apesar da escuta analiacutetica que decompotildee o

dito e o subentendido o psicanalista tambeacutem se ateraacute aos princiacutepios lsquorecordar

repetir e elaborarrsquo aplicados agora na interrelaccedilatildeo das partes

O conflito afinal tomado sob todos os acircngulos ateacute agora expostos

na verdade pode ser visto como incitador de mudanccedilas tanto na ordem social

como na subjetiva A contradiccedilatildeo a contraposiccedilatildeo a ambivalecircncia se tornam

elementos que em vez de paralizar o sujeito psico-soacutecio-cultural poderatildeo levaacute-

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

AZEVEDO Andreacute Gomma de BARBOSA Ivan Machado (orgs) Estudos em

Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

FACULDADE DE DIREITO 2007

AZEVEDO A Gomma (org) Manual de Mediaccedilatildeo Judicial BrasiacuteliaDF

Ministeacuterio da Justiccedila e Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento ndash

PNUD 2009

CEZAR-FERREIRA Verocircnica A da M Famiacutelia separaccedilatildeo e mediaccedilatildeo uma

visatildeo psicojuriacutedica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Meacutetodo 2007

EGGER Ildemar Cultura da paz e mediaccedilatildeo uma experiecircncia c adolescentes

In Programa Reconhecer 2006 Resignificando o ensino de Direito e

construindo praacuteticas emancipatoacuterias Florianoacutepolis Editora Fundaccedilatildeo Boiteux

2008

FREUD S Ediccedilatildeo Standard Brasileira das Obras Completas Rio de Janeiro

Imago Editora Ltda 1972

KAUFMANN P Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Psicanaacutelise Rio de Janeiro

Jorge Zahar Editor 1996

LAPLANCHE J e PONTALIS JB Vocabulaacuterio da Psicanaacutelise 6ordf ediccedilatildeo Satildeo

Paulo Martins Fontes Editora Ltda 1967

OS PENSADORES Hegel Satildeo Paulo Nova Cultural Ltda1996

ROUDINESCO Elizabeth e PLON Michel Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

1998

50

WARAT Luiz Alberto (Org) Ecologia Psicanaacutelise e Mediaccedilatildeo Em nome do

acordo 2ordf ediccedilatildeo Argentina Almed 1999

51

WEBGRAFIA

BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de

conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf

CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a

psicanaacutelise In wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria 20Giatti

20Carneiropdf Visitado em 04082011

FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da

superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista

eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011

FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-

tivo 1998 Visitado em 16082011

HEGEL In httpwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1uhpbhbvg

visitado em 10072011

ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo

urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008

LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para

a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

visitado em 04072011

LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo

transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=

revis ta _artigos_leituraampartigo_id=8622 Visitado em 08072011

52

OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011

ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos

conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid

visitado em 10042011

VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da

psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar

2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=

231518ampseo=1gt Visitado em 02062011

53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

45

lo a construir outra realidade mesmo que lhe seja cara pois abrir matildeo de uma

forma jaacute conhecida de gozar a vida mesmo sendo inadequada pode custar-lhe

muito sofrimento A possibilidade que se cria eacute a de reinventar um outro modo

de gozaacute-la repensando ressignificando e construindo novos valores e relaccedilotildees

renovadas dando-lhes o destino de serem menos nocivos agrave subjetividade e ao

conviacutevio social Desta forma a relaccedilatildeo com o socius se transforma

consequentemente advindo um novo mundo que o sujeito se olha modificado

transformado

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

AZEVEDO Andreacute Gomma de BARBOSA Ivan Machado (orgs) Estudos em

Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

FACULDADE DE DIREITO 2007

AZEVEDO A Gomma (org) Manual de Mediaccedilatildeo Judicial BrasiacuteliaDF

Ministeacuterio da Justiccedila e Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento ndash

PNUD 2009

CEZAR-FERREIRA Verocircnica A da M Famiacutelia separaccedilatildeo e mediaccedilatildeo uma

visatildeo psicojuriacutedica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Meacutetodo 2007

EGGER Ildemar Cultura da paz e mediaccedilatildeo uma experiecircncia c adolescentes

In Programa Reconhecer 2006 Resignificando o ensino de Direito e

construindo praacuteticas emancipatoacuterias Florianoacutepolis Editora Fundaccedilatildeo Boiteux

2008

FREUD S Ediccedilatildeo Standard Brasileira das Obras Completas Rio de Janeiro

Imago Editora Ltda 1972

KAUFMANN P Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Psicanaacutelise Rio de Janeiro

Jorge Zahar Editor 1996

LAPLANCHE J e PONTALIS JB Vocabulaacuterio da Psicanaacutelise 6ordf ediccedilatildeo Satildeo

Paulo Martins Fontes Editora Ltda 1967

OS PENSADORES Hegel Satildeo Paulo Nova Cultural Ltda1996

ROUDINESCO Elizabeth e PLON Michel Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

1998

50

WARAT Luiz Alberto (Org) Ecologia Psicanaacutelise e Mediaccedilatildeo Em nome do

acordo 2ordf ediccedilatildeo Argentina Almed 1999

51

WEBGRAFIA

BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de

conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf

CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a

psicanaacutelise In wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria 20Giatti

20Carneiropdf Visitado em 04082011

FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da

superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista

eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011

FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-

tivo 1998 Visitado em 16082011

HEGEL In httpwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1uhpbhbvg

visitado em 10072011

ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo

urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008

LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para

a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

visitado em 04072011

LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo

transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=

revis ta _artigos_leituraampartigo_id=8622 Visitado em 08072011

52

OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011

ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos

conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid

visitado em 10042011

VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da

psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar

2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=

231518ampseo=1gt Visitado em 02062011

53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

46

CONCLUSAtildeO

A proposta de trazer para discussatildeo teoacuterica a possibilidade de incluir

teacutecnicas do processo de mediaccedilatildeo de conflitos baseados em teorias

sistecircmicas como as de Harvard Bush e Folger e Sara Cobb e outra de cunho

mais subjetivo e psicoloacutegico como a de Warat como auxiliar de um tratamento

psicanaliacutetico foi de extrema importacircncia para pensar os rumos e os limites tanto

de uma praacutetica como de outra no acircmbito dos conflitos humanos chegados aos

tribunais ou aos consultoacuterios particulares

A partir da delimitaccedilatildeo especiacutefica de cada um desses campos foi

possiacutevel ter uma visatildeo clara de seus construtos epistemoloacutegicos e a partir de

entatildeo poder correlacionaacute-los em pontos semelhantes como diferi-los naqueles

onde devido agraves especificidades de ambos distanciam-se e ateacute mesmo se

contrapotildeem

A psicanaacutelise a qual nos baseamos - Freud e Lacan - discute

amplamente em seu campo a posiccedilatildeo do analista em relaccedilatildeo aos limites eacuteticos

sobre seu trabalho no atendimento de sujeitos que passam por conflitos de

ordem emocional Um tratamento psicanaliacutetico eacute norteado por princiacutepios

fundamentais que auxiliam o analista na sua conduccedilatildeo como por exemplo os

efeitos transferenciais positivos e negativos e as resistecircncias Ressaltando

esses dois paracircmetros os quais todo psicanalista deve saber da sua

importacircncia no processo de cura analiacutetica conclui-se que cada momento ao

qual este evolui sempre significa a possibilidade de seguir em frente ou

paralisar-se demonstrando o grande poder que a transferecircncia tem tanto

como favorecedor mas tambeacutem como fonte de resistecircncia ao tratamento

podendo significar inclusive a interrupccedilatildeo do processo

A utilizaccedilatildeo da teacutecnica de Mediaccedilatildeo de Conflitos no contexto de um

tratamento psicanaliacutetico portanto possui limites agrave sua aplicabilidade pois natildeo

poderaacute ser realizada por um psicanalista inexperiente sem formaccedilatildeo soacutelida

com respeito aos princiacutepios fundamentais psicanaliacuteticos O psicanalista deveraacute

considerar todos os aspectos envolvidos ao cogitar a utilizaccedilatildeo de uma teacutecnica

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

AZEVEDO Andreacute Gomma de BARBOSA Ivan Machado (orgs) Estudos em

Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

FACULDADE DE DIREITO 2007

AZEVEDO A Gomma (org) Manual de Mediaccedilatildeo Judicial BrasiacuteliaDF

Ministeacuterio da Justiccedila e Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento ndash

PNUD 2009

CEZAR-FERREIRA Verocircnica A da M Famiacutelia separaccedilatildeo e mediaccedilatildeo uma

visatildeo psicojuriacutedica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Meacutetodo 2007

EGGER Ildemar Cultura da paz e mediaccedilatildeo uma experiecircncia c adolescentes

In Programa Reconhecer 2006 Resignificando o ensino de Direito e

construindo praacuteticas emancipatoacuterias Florianoacutepolis Editora Fundaccedilatildeo Boiteux

2008

FREUD S Ediccedilatildeo Standard Brasileira das Obras Completas Rio de Janeiro

Imago Editora Ltda 1972

KAUFMANN P Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Psicanaacutelise Rio de Janeiro

Jorge Zahar Editor 1996

LAPLANCHE J e PONTALIS JB Vocabulaacuterio da Psicanaacutelise 6ordf ediccedilatildeo Satildeo

Paulo Martins Fontes Editora Ltda 1967

OS PENSADORES Hegel Satildeo Paulo Nova Cultural Ltda1996

ROUDINESCO Elizabeth e PLON Michel Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

1998

50

WARAT Luiz Alberto (Org) Ecologia Psicanaacutelise e Mediaccedilatildeo Em nome do

acordo 2ordf ediccedilatildeo Argentina Almed 1999

51

WEBGRAFIA

BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de

conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf

CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a

psicanaacutelise In wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria 20Giatti

20Carneiropdf Visitado em 04082011

FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da

superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista

eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011

FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-

tivo 1998 Visitado em 16082011

HEGEL In httpwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1uhpbhbvg

visitado em 10072011

ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo

urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008

LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para

a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

visitado em 04072011

LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo

transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=

revis ta _artigos_leituraampartigo_id=8622 Visitado em 08072011

52

OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011

ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos

conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid

visitado em 10042011

VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da

psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar

2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=

231518ampseo=1gt Visitado em 02062011

53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

47

diversa agrave da psicanaacutelise e ter bastante seguranccedila ao decidir pela mesma

sabendo dos riscos que poderaacute correr inclusive o de desviar-se de seu

propoacutesito qual seja o de fazer ascender o recalcado que lsquojazrsquo dinamicamente

produzindo sintomas Entretanto natildeo eacute somente quanto agrave experiecircncia

profissional que se tem ressalvas Outros aspectos que devem ser levados em

conta satildeo os campos nos quais as intervenccedilotildees satildeo feitas No tratamento

psicanaliacutetico estamos no acircmbito da realidade psiacutequica o qual organiza-se a

partir da fantasia fundamental que constitui o inconsciente e somente

mantendo certos paracircmetros teacutecnicos consegue-se ter acesso agraves mesmas

Estamos no niacutevel inconsciente A entrada de qualquer teacutecnica objetiva de

intervenccedilatildeo terapecircutica age no niacutevel da consciecircncia do Eu que implica as

relaccedilotildees objetais as quais o sujeito estabelece com o outro e transfere ao meio

social No entanto incuindo-as visa-se ateacute certo ponto minimizar os efeitos

devastadores que um conflito em princiacutepio indissoluacutevel traz para o sujeito

exilando-o no sofrimento psiacutequico no sintoma de uma depressatildeo de uma

siacutendrome do pacircnico de uma compulsatildeo ou de um surto esquizofrecircnico

Em relaccedilatildeo agrave Mediaccedilatildeo concluiacutemos que utilizando-se de diversos

modelos para sua conduccedilatildeo importa-lhe fundamentalmente a recuperaccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo entre as pessoas que a ela recorrem como meio de resoluccedilatildeo de

impasses em relaccedilatildeo ao seu semelhante no contexto social Constata-se

portanto que no conviacutevio social eacute muito importante que os desejos as

intenccedilotildees os princiacutepios individuais e em grupo sejam comunicados ditos

elaborados criando possibilidades de dissoluccedilatildeo de conflitos e evitando o seu

acirramento devido agraves maacutes interpretaccedilotildees aos mal-entendidos e agrave interrupccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo ndash o silecircncio que leva agraves atuaccedilotildees disfarccediladas das

insatisfaccedilotildees atraveacutes de condutas provocativas sobre a outra parte conflitante

Poreacutem no caso de se chegar agrave necessidade de haver uma

mediaccedilatildeo o mediador poderaacute ter a liberdade de optar pelo uso de um ou de

outro modelo podendo mesclaacute-los de acordo com o caso Mas isso natildeo se

torna uma panaceacuteia de teacutecnicas pois cada mediador teraacute sua convicccedilatildeo

proacutepria sobre a melhor forma de conduccedilatildeo de seu trabalho isto se natildeo estiver

submetido agrave alguma instituiccedilatildeo que lhe exija a utilizaccedilatildeo de um modelo

determinado

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

AZEVEDO Andreacute Gomma de BARBOSA Ivan Machado (orgs) Estudos em

Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

FACULDADE DE DIREITO 2007

AZEVEDO A Gomma (org) Manual de Mediaccedilatildeo Judicial BrasiacuteliaDF

Ministeacuterio da Justiccedila e Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento ndash

PNUD 2009

CEZAR-FERREIRA Verocircnica A da M Famiacutelia separaccedilatildeo e mediaccedilatildeo uma

visatildeo psicojuriacutedica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Meacutetodo 2007

EGGER Ildemar Cultura da paz e mediaccedilatildeo uma experiecircncia c adolescentes

In Programa Reconhecer 2006 Resignificando o ensino de Direito e

construindo praacuteticas emancipatoacuterias Florianoacutepolis Editora Fundaccedilatildeo Boiteux

2008

FREUD S Ediccedilatildeo Standard Brasileira das Obras Completas Rio de Janeiro

Imago Editora Ltda 1972

KAUFMANN P Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Psicanaacutelise Rio de Janeiro

Jorge Zahar Editor 1996

LAPLANCHE J e PONTALIS JB Vocabulaacuterio da Psicanaacutelise 6ordf ediccedilatildeo Satildeo

Paulo Martins Fontes Editora Ltda 1967

OS PENSADORES Hegel Satildeo Paulo Nova Cultural Ltda1996

ROUDINESCO Elizabeth e PLON Michel Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

1998

50

WARAT Luiz Alberto (Org) Ecologia Psicanaacutelise e Mediaccedilatildeo Em nome do

acordo 2ordf ediccedilatildeo Argentina Almed 1999

51

WEBGRAFIA

BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de

conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf

CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a

psicanaacutelise In wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria 20Giatti

20Carneiropdf Visitado em 04082011

FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da

superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista

eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011

FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-

tivo 1998 Visitado em 16082011

HEGEL In httpwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1uhpbhbvg

visitado em 10072011

ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo

urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008

LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para

a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

visitado em 04072011

LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo

transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=

revis ta _artigos_leituraampartigo_id=8622 Visitado em 08072011

52

OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011

ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos

conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid

visitado em 10042011

VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da

psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar

2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=

231518ampseo=1gt Visitado em 02062011

53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

48

O processo de mediaccedilatildeo de conflitos sempre deixaraacute marcas

subjetivas naquele que dele participa Longe de ser uma psicoterapia eacute

inegaacutevel que efeitos terapecircuticos surjam podendo ateacute resolver um conflito

interno do sujeito como auxiliaacute-lo na procura de um psicoacutelogo ou psicanalista

para dar continuidade agraves descobertas subjetivas que foram possiacuteveis a partir

da mediaccedilatildeo

Assim conclui-se satisfatoriamente este trabalho de pesquisa o qual

possivelmente traraacute frutos profissionais e acadecircmicos no sentido de

futuramente poder desenvolver ainda mais as exploraccedilotildees tanto teoacutericas como

praacuteticas tanto da Mediaccedilatildeo como da Psicanaacutelise bem como a interlocuccedilatildeo

entre elas

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

AZEVEDO Andreacute Gomma de BARBOSA Ivan Machado (orgs) Estudos em

Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

FACULDADE DE DIREITO 2007

AZEVEDO A Gomma (org) Manual de Mediaccedilatildeo Judicial BrasiacuteliaDF

Ministeacuterio da Justiccedila e Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento ndash

PNUD 2009

CEZAR-FERREIRA Verocircnica A da M Famiacutelia separaccedilatildeo e mediaccedilatildeo uma

visatildeo psicojuriacutedica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Meacutetodo 2007

EGGER Ildemar Cultura da paz e mediaccedilatildeo uma experiecircncia c adolescentes

In Programa Reconhecer 2006 Resignificando o ensino de Direito e

construindo praacuteticas emancipatoacuterias Florianoacutepolis Editora Fundaccedilatildeo Boiteux

2008

FREUD S Ediccedilatildeo Standard Brasileira das Obras Completas Rio de Janeiro

Imago Editora Ltda 1972

KAUFMANN P Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Psicanaacutelise Rio de Janeiro

Jorge Zahar Editor 1996

LAPLANCHE J e PONTALIS JB Vocabulaacuterio da Psicanaacutelise 6ordf ediccedilatildeo Satildeo

Paulo Martins Fontes Editora Ltda 1967

OS PENSADORES Hegel Satildeo Paulo Nova Cultural Ltda1996

ROUDINESCO Elizabeth e PLON Michel Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

1998

50

WARAT Luiz Alberto (Org) Ecologia Psicanaacutelise e Mediaccedilatildeo Em nome do

acordo 2ordf ediccedilatildeo Argentina Almed 1999

51

WEBGRAFIA

BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de

conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf

CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a

psicanaacutelise In wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria 20Giatti

20Carneiropdf Visitado em 04082011

FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da

superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista

eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011

FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-

tivo 1998 Visitado em 16082011

HEGEL In httpwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1uhpbhbvg

visitado em 10072011

ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo

urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008

LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para

a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

visitado em 04072011

LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo

transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=

revis ta _artigos_leituraampartigo_id=8622 Visitado em 08072011

52

OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011

ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos

conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid

visitado em 10042011

VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da

psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar

2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=

231518ampseo=1gt Visitado em 02062011

53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

AZEVEDO Andreacute Gomma de BARBOSA Ivan Machado (orgs) Estudos em

Arbitragem Mediaccedilatildeo e Negociaccedilatildeo Vol 4 UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

FACULDADE DE DIREITO 2007

AZEVEDO A Gomma (org) Manual de Mediaccedilatildeo Judicial BrasiacuteliaDF

Ministeacuterio da Justiccedila e Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento ndash

PNUD 2009

CEZAR-FERREIRA Verocircnica A da M Famiacutelia separaccedilatildeo e mediaccedilatildeo uma

visatildeo psicojuriacutedica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Meacutetodo 2007

EGGER Ildemar Cultura da paz e mediaccedilatildeo uma experiecircncia c adolescentes

In Programa Reconhecer 2006 Resignificando o ensino de Direito e

construindo praacuteticas emancipatoacuterias Florianoacutepolis Editora Fundaccedilatildeo Boiteux

2008

FREUD S Ediccedilatildeo Standard Brasileira das Obras Completas Rio de Janeiro

Imago Editora Ltda 1972

KAUFMANN P Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Psicanaacutelise Rio de Janeiro

Jorge Zahar Editor 1996

LAPLANCHE J e PONTALIS JB Vocabulaacuterio da Psicanaacutelise 6ordf ediccedilatildeo Satildeo

Paulo Martins Fontes Editora Ltda 1967

OS PENSADORES Hegel Satildeo Paulo Nova Cultural Ltda1996

ROUDINESCO Elizabeth e PLON Michel Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

1998

50

WARAT Luiz Alberto (Org) Ecologia Psicanaacutelise e Mediaccedilatildeo Em nome do

acordo 2ordf ediccedilatildeo Argentina Almed 1999

51

WEBGRAFIA

BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de

conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf

CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a

psicanaacutelise In wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria 20Giatti

20Carneiropdf Visitado em 04082011

FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da

superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista

eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011

FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-

tivo 1998 Visitado em 16082011

HEGEL In httpwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1uhpbhbvg

visitado em 10072011

ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo

urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008

LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para

a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

visitado em 04072011

LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo

transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=

revis ta _artigos_leituraampartigo_id=8622 Visitado em 08072011

52

OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011

ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos

conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid

visitado em 10042011

VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da

psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar

2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=

231518ampseo=1gt Visitado em 02062011

53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

50

WARAT Luiz Alberto (Org) Ecologia Psicanaacutelise e Mediaccedilatildeo Em nome do

acordo 2ordf ediccedilatildeo Argentina Almed 1999

51

WEBGRAFIA

BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de

conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf

CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a

psicanaacutelise In wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria 20Giatti

20Carneiropdf Visitado em 04082011

FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da

superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista

eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011

FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-

tivo 1998 Visitado em 16082011

HEGEL In httpwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1uhpbhbvg

visitado em 10072011

ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo

urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008

LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para

a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

visitado em 04072011

LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo

transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=

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52

OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011

ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos

conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid

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VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da

psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar

2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=

231518ampseo=1gt Visitado em 02062011

53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

51

WEBGRAFIA

BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de

conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf

CARNEIRO Rosamaria Giatti Entre idas e vindas a mediaccedilatildeo o conflito e a

psicanaacutelise In wwwconpediorgbrmanausanaisRosamaria 20Giatti

20Carneiropdf Visitado em 04082011

FIRMEZA Vera Miranda O efeito transformador da mediaccedilatildeo em busca da

superaccedilatildeo da cultura do litiacutegio em direccedilatildeo a uma cultura de paz In Revista

eletrocircnica diacuteke δίκη vol 1 nordm 1 (janjul 2011) visitado em 03052011

FONKERT Renata Inwwwegovufscbrmediaccedilatildeo-familiar-recurso-alterna-

tivo 1998 Visitado em 16082011

HEGEL In httpwwwmundo dos filoacutesofoscombrhegel3htmixzz1uhpbhbvg

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ISOLDI Ana Luiza Godoy A mediaccedilatildeo como mecanismo de pacificaccedilatildeo

urbana In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

Dissertaccedilatildeo apresentada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008

LAGO A C Moraes Pereira e MOTTA I D Mediaccedilatildeo escolar educando para

a paz In wwwconpediorgbrmanausarquivosanaisfortaleza3265pdf

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LIMA Fernanda M D de Arauacutejo A mediaccedilatildeo harvardiana e a mediaccedilatildeo

transformativaIn httpwwwambito-juridicocombrsiteindexphpn_link=

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psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar

2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=

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FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

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FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

52

OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoescombrp=731 2003 Visitado em 14082011

ROSA Conrado Paulino Mediaccedilatildeo uma nova alternativa no tratamento dos

conflitos familiares In wwwambito-juridicocombrsiteindexphpnid

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VIEGAS Claacuteudia Mara de Almeida Rabelo O papel da mediaccedilatildeo e da

psicanaacutelise para o Direito de Famiacutelia Conteudo Juridico Brasilia-DF 16 mar

2011 Disponivel em lthttpwwwconteudojuridicocombrartigosampver=

231518ampseo=1gt Visitado em 02062011

53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

53

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATOacuteRIA4

RESUMO5

METODOLOGIA7

SUMAacuteRIO8

INTRODUCcedilAtildeO9

CAPIacuteTULO I Teoria do conflito visatildeo socioloacutegica11

CAPIacuteTULO II Mediaccedilatildeo14

21- Definiccedilatildeo14

22- Origens15

23- Princiacutepios baacutesicos empregados em Mediaccedilatildeo19

24- Modelos de abordagens em Mediaccedilatildeo de Conflitos20

241- Modelo Tradicional de Harvard20

242- Modelo Circular-Narrativo 22

243- Modelo Transformativo24

244- Modelo Transformador 27

245 O papel do Mediador30

CAPIacuteTULO III Conflito visatildeo psicanaliacutetica32

CAPIacuteTULO IV Psicanaacutelise e sociologia36

CAPIacuteTULO V A teacutecnica da mediaccedilatildeo de conflitos e o tratamento psicana-

liacutetico41

CONCLUSAtildeO46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

WEBGRAFIA51

IacuteNDICE53

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO54

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
      • AGRADECIMENTO3
      • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49

54

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da Entrega

Avaliado por Conceito

  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA49
    • Assim resumindo e concluindo pautada na obra de Bush e Folger (1994) como nos diz Isoldi (2008) o modelo transformativo pa
    • Eacute ainda nesta obra que Freud aprofunda uma das trecircs fontes do sofrimento humano aquela que nasce do caraacuteter insatisfatoacuterio da
    • BAIXAULI Elena La Mediacioacuten Familiar un camino hacia la solucioacuten de conflictos In wwwadimerorgdocuslamf pdf
    • OLIVEIRA Euclides Benedito de Os operadores do direito frente agraves questotildees da parentalidade In httpwwwfamiliaesucessoes
      • FOLHA DE ROSTO2
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