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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO E SUA INFLUÊNCIA NA PRODUTIVIDADE DO MOTORISTA DE TRANSPORTE COLETIVO URBANO Por: Almir Lopes Pereira Orientador Prof. Jorge Tadeu Rio de Janeiro 2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Para Bom Sucesso (1999), o trabalho é a forma como o homem interage e transforma seu meio ambiente assegurando a sobrevivência

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO E SUA

INFLUÊNCIA NA PRODUTIVIDADE DO MOTORISTA DE

TRANSPORTE COLETIVO URBANO

Por: Almir Lopes Pereira

Orientador

Prof. Jorge Tadeu

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO E SUA

INFLUÊNCIA NA PRODUTIVIDADE DO MOTORISTA DE

TRANSPORTE COLETIVO URBANO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Logística.

Por: Almir Lopes Pereira

PROJETO A VEZ DO MESTRE

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RESUMO

O objetivo deste estudo é analisar a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) dos motoristas de transporte coletivo urbano. A importância da QVT está focada nas condições relacionadas às dimensões de bem-estar físico, mental, social e cultural do trabalhador. Sendo assim, a presente pesquisa está estruturada em três capítulos. O primeiro capítulo aborda a origem a cerca da QTV no trabalho. No segundo capítulo apresenta-se o estresse através de sua definição, causas, fases e estresse ocupacional. O último capítulo aborda a QVT do motorista de transporte coletivo urbano. Dessa forma, conclui-se que no tocante a saúde, esta se mostrou desfavorável, ficou caracterizado a não adoção de ações preventivas, conduta esta que poderia contribuir para redução ou eliminação de estresse em longo prazo. De fato, percebe-se há preocupação desses profissionais com relação a este aspecto, porém ficou evidenciado que na verdade, muitos não adotam práticas da prevenção de doenças e melhoras a saúde e a qualidade de vida. Isso mostra que ao afirmar que a saúde está associada especificamente à ausência da doença, e não ao equilíbrio do bem estar físico, mental ou social.

Palavras-chaves: QVT; estresse; motorista.

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METODOLOGIA

A pesquisa possui caráter documental, sendo descritiva e

bibliográfica. O método de abordagem foi o dedutivo, partindo-se da premissa

de que estratégias desenvolvidas pelas organizações, tais como, programas de

qualidade de vida no trabalho podem influenciar diretamente na produtividade

dos motoristas de transporte coletivo urbano.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 5

CAPÍTULO I

ORIGEM E EVOLUÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

7

CAPÍTULO II

ESTRESSE 19

CAPITULO III

QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO DO MOTORISTA DE TRANSPORTE

COLETIVO URBANO 35

CONSIDERAÇÕES FINAIS 51

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 53

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INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é demonstrar de que forma a qualidade de

vida no trabalho influencia na produtividade do motorista de transporte coletivo

urbano.

O objeto deste estudo foi somente os motoristas de ônibus urbanos

coletivos no rio de janeiro e as estratégias que poderão ser desenvolvidas para a

promoção de sua qualidade de vida no trabalho.

O tema escolhido se justificativa, uma vez que, mediante o advento

da globalização, as organizações se encontram em constante processo de

interação com seus ambientes externos e internos, e em permanente dinâmica

organizacional.

Dessa forma, as organizações necessitam assumir diferentes

posturas diante dessas mudanças, adaptando-se à elas, ou antecipando-se para

interagir com elas de forma a garantir sua competitividade.

Sendo assim, cada vez mais as organizações têm percebido a

necessidade de investir no bem-estar e saúde dos seus trabalhadores, pois,

assim, muitos males seriam evitados e mais benefícios adquiridos. Os principais

prejuízos para as organizações são a falta de motivação e os altos índices de

absenteísmo que acabam refletindo na produtividade e no lucro das

organizações.

Portanto, a grande maioria das organizações, que visam manter-se

competitivas, já observaram que a qualidade de vida no trabalho é uma questão

que interfere diretamente na produtividade dos trabalhadores.

Este estudo apresenta como problemática de pesquisa: “como

melhorar a produtividade dos motoristas de transporte coletivo urbano?”

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Acredita-se que a produtividade dos motoristas de transporte

coletivo urbano pode ser melhorada através da implementação de estratégias de

qualidade de vida no trabalho, uma vez que, estes profissionais terão mais

motivação e satisfação, menos fadiga, e maior disposição para realizar suas

tarefas laborais. Em contrapartida, as organizações terão redução do índice de

absenteísmo e das doenças ocupacionais e, por sua vez, a sociedade terá uma

melhor prestação de serviços, com mais qualidade. Portanto, pode-se dizer que

os motoristas de transporte coletivo urbano com qualidade de vida no trabalho

terão maior motivação pessoal e, conseqüentemente, acarretarão no aumento da

produtividade da organização.

Sendo assim, o presente estudo está estruturado em três capítulos.

O primeiro capítulo apresenta a origem e a evolução da qualidade de vida no

trabalho. O segundo capítulo demonstra como o estresse pode influenciar na

produtividade organizacional, uma vez que, o mesmo se caracteriza pela

ausência de qualidade de vida no trabalho. O terceiro capítulo aponta as

estratégias que podem ser desenvolvidas para promoção de qualidade de vida no

trabalho e, consequentemente maior produtividade do motorista de transporte

coletivo urbano.

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CAPÍTULO I

ORIGEM E EVOLUÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA NO

TRABALHO

1.1 – Origem do conceito de trabalho

Em sua etimologia, o termo trabalho tem origem no latim tripaliare

(martirizar com o tripaliu, instrumento antigo utilizado na prática de torturas). Tem

como significado ocupar-se em algum mister, esforçar-se em alcançar alguma

coisa ou fazer algo (SANTOS, 1999).

Para Sandroni (1999), o trabalho:

“É toda atividade humana voltada para a transformação da

natureza, com o objetivo de satisfazer uma necessidade. O

desenvolvimento dos instrumentos de trabalho (grau de

aperfeiçoamento das forças produtivas) e da divisão da

atividade produtiva entre os diversos membros de um

agrupamento social” (SANDRONI, 1999, p. 609).

Bom Sucesso (1999) considera o trabalho como sendo “qualquer

atividade humana exercida com certa regularidade e em troca de remuneração,

capaz de prover benefícios a pessoas e organizações”.

Robbins (1990, p. 24) define trabalho como “todo comportamento

adquirido por aprendizagem e tendo de se adaptar às exigências de uma tarefa”.

Para Moller (1999, p. 65) o objetivo do trabalho é “a máxima realização como ser

humano”.

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Para Bom Sucesso (1999), o trabalho é a forma como o homem

interage e transforma seu meio ambiente assegurando a sobrevivência e

estabelecendo relações interpessoais que teoricamente serviriam para reforçar

sua identidade e o senso de contribuição.

Pode-se entender trabalho humano como “uma atividade

originalmente social, fundada sobre a cooperação de indivíduos, a qual supõe

uma divisão técnica”, como afirma Minicucci (2000, p. 8).

1.2 – O trabalho e sua história

Tentando fazer uma retrospectiva histórica, podemos observar que

desde o início a civilização tem se estruturado, em grande parte, em função do

conceito de trabalho. Por exemplo, o Australopithecus se alimentava de carne o

que constituía num problema, pois havia a necessidade de esmagar ossos, cortar

pele e carne. Como não contavam com dentes e garras afiadas, precisavam de

alguma ajuda para solucionar esta dificuldade. Escavações arqueológicas

revelaram que os Australopithecus fabricavam ferramentas que os auxiliavam na

caça e alimentação (BOM SUCESSO, 2002).

Muitas fases se sucederam desde o caçador da pré-história ao

operário da linha de montagem deste século. O trabalho tem sido parte integrante

da existência diária do homem.

O sentido do trabalho, como forma de atividade humana, já sofreu

variações significativas no decorrer dos séculos. O valor atribuído pelo homem ao

trabalho varia de acordo com sua cultura, civilização e referências de cada

sociedade (MOLLER, 1999).

É importante ressaltar que por centenas de anos, até o advento da

revolução industrial, os que ocupavam o alto da pirâmide social, na verdade, não

trabalhavam. Não era do trabalho que obtinham as riquezas e o prestígio social,

mas do nome da família e das rendas.

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Podemos concluir que antigamente, quanto mais rica uma pessoa,

menos ela trabalhava.

Lá pelo final do século XVIII, chegou a indústria: muitos camponeses

abandonaram o campo para se transformarem em trabalhadores das indústrias.

Passaram a não depender mais da natureza, mas de regras empresariais e do

ritmo das máquinas.

No século XIX, os homens chegavam a trabalhar cerca de dezoito

horas diárias, o relacionamento entre patrões e empregados deixava transparecer

que o capital humano era deixado de lado, os operários eram considerados como

uma extensão da máquina. Com o advento da administração científica foi

introduzida a organização racional do trabalho.

Robbins (2000) sugeriu que o máximo de prosperidade só pode

existir com o máximo resultado de produção. Assim, se uma organização racional

do trabalho em que cada operação fosse analisada sob a ótica científica, a tarefa

seria realizada da melhor maneira com menor esforço do trabalhador. Disto

resultaria uma melhor produtividade dos elementos do sistema de produção.

Bom Sucesso (1999, p. 34) defendia que o “trabalho pode ser

executado melhor e mais economicamente através das subdivisões de funções”.

Assim, o taylorismo surge dentro das fábricas, pela observação empírica do

trabalho envolvendo um conjunto de fatores como o estudo dos tempos e

movimentos, seleção científica do trabalhador, aplicação do método planejado

racionalmente, estabelecimento de padrões de produção, supervisão cerrada,

incentivo monetário e adoção de uma estrutura organizacional rígida. Propiciou

resultados positivos em termos de aumento da produtividade, da eficiência e

ganhos reais tanto para as empresas como para o trabalhador.

O grande mérito de Taylor, segundo Friedman et al. (2000, p. 27)

está no fato de ter contribuído “para que se encare sistematicamente o estudo da

organização, o que não só revolucionou completamente a indústria, como

também teve grande impacto sobre a administração”. Analisados individualmente,

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os elementos que compõe sua teoria (princípio, método e técnicas) sofrem

restrições e contestações.

Taylor condiciona a baixa produtividade à vadiagem no trabalho

(entende-se por vadiagem trabalhar deliberadamente devagar), chegando a

apontar a supervisão cerrada como uma possível solução para o problema, uma

vez que a vadiagem constitui uma característica dos níveis hierárquicos mais

baixos, sendo denunciada como perda de tempo, de produção e de dinheiro.

A vadiagem no local de trabalho, conforme descreve Rodrigues

(1999, p. 33) “não eram tanto os momentos de repouso que se intercalavam no

trabalho, mas as fases durante as quais os operários trabalhavam num ritmo

menor do que aquele que poderiam ou deveriam adotar”, o que constitui, segundo

este autor, uma etapa do trabalho durante a qual agem operações de regulagem

do binômio homem-trabalho, destinadas a assegurar a continuidade da tarefa e a

proteção da saúde mental do trabalhador.

O conjunto de “tarefas científicas”, que Minicucci (2000) denomina

de modo operatório cientificamente estabelecido, é imposto aos operários. Nele, o

trabalho individual é totalmente substituído pelo coletivo, sendo o conhecimento

desse trabalho, em sua totalidade, desmembrado entre vários operários. Dá-se a

desapropriação do individual em prol do coletivo.

Assim, com a tarefa científica, Rodrigues (1999, p. 33), não somente

estabelece um método de trabalho mas retira “o conhecimento que

individualmente o trabalhador pudesse ter” e continua, dizendo que

“desapropriado” do “saber-fazer” o trabalhador pode ser desqualificado

transformando-se em executor de tarefas simples, facilmente treinável e

substituível. Nesse contexto, a identidade da tarefa é do coletivo, não do

indivíduo.

As diferenças cedem lugar ao anonimato. Sujeito às exigências do

tempo, aos ambientes de trabalho, controle, a repetitividade de gestos, à

monotonia, dentre outras exigências, o trabalhador participa de um sistema

uniformizado que como observa Bom Sucesso (1999), privilegia o que há de

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comum e de coletivo na vivência, ao invés de se ater ao que separa os indivíduos.

Como partícipe desse sistema, o trabalhador é individualizado somente frente ao

“sofrimento”.

O sistema taylorista gerou mais divisões entre os indivíduos do que

pontos-de-união. Mesmo partilhando da disciplina do barulho da fábrica, do ritmo

de trabalho, da vivência local de trabalho, os operários, pela própria estrutura de

organização são confrontados um por um, individualmente e na solidão, às

violências da produtividade (BOM SUCESSO, 2002).

É o isolamento do operário que, dentre todos os aspectos negativos

do sistema taylorista, parece ter efeito mais significativos. Dele resultam o

enfraquecimento do interesse do trabalhador pelo produto acabado, a perda de

orgulho do trabalhador pelo trabalho, o declínio da qualidade, altos níveis de

rotatividade, absenteísmo e alienação. O conflito surge à medida que os

trabalhadores se esforçam para melhorar as condições de trabalho, enquanto a

supervisão reage através de controles mais rígidos.

As mudanças sociais ocorridas paulatinamente contribuíram para

agravar cada vez mais o conflito empregado-empregador. Em decorrência, os

trabalhadores mais instruídos tendem a não aceitar pacificamente a autoridade, a

questionar cada vez mais suas condições de trabalho e a tentar satisfazer suas

aspirações e necessidades.

Adotando uma postura oposta, surge a Escola de Relações

Humanas, disposta a democratizar e humanizar a administração nas empresas.

Trata-se de uma abordagem mais democrática e liberalizante que, mesmo na

busca de maior produtividade, procura enfatizar as pessoas dentro das empresas,

deixando a tarefa e a estrutura para o segundo plano.

Constitui a fase em que o administrar é, sobretudo, lidar com

pessoas (FERNANDES, 1990). Suas principais contribuições se concentram na

importância dos fatores humanos e sociais, nos relacionamentos organizacionais,

bem como na evidência de que a motivação envolve mais fatores do que

unicamente a satisfação das necessidades econômicas.

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A segunda abordagem humanística surge com os cientistas do

comportamento. Pesquisadores foram treinados com mais rigor no campo das

ciências sociais (Psicologia, Sociologia e Antropologia) e, empregando métodos

de pesquisa mais sofisticados, deixam de lado aspectos estruturais da

organização para concentrar sua atenção nos aspectos comportamentais

(MINICUCCI, 2000).

As principais contribuições dessa abordagem estão no entendimento

da motivação individual, do comportamento de grupos, das relações interpessoais

no trabalho e da importância do trabalho para as pessoas.

Apesar de serem considerados abstratos, além das restrições pelo

uso de terminologia própria na divulgação de seus trabalhos, os cientistas sociais

continuam com idéias esclarecedoras em áreas tais como liderança, motivação,

solução de conflitos, obtenção e uso do poder, mudança organizacional e

comunicação. Surgiu a necessidade de reestruturar o trabalho, conferindo-lhe

novos atributos, bem como de reestruturar as organizações, tendo em vista

propiciar aos empregados um ambiente mais adequado, o que significa melhorar

a qualidade de vida no trabalho (QVT). Dentre os cientistas do comportamento,

maior ênfase é dada a Herzberg com sua teoria “Higiene-Motivação” e o

“Enriquecimento da Tarefa” (FERNANDES, 1990).

“Mas os responsáveis pela organização do trabalho,

levando em conta uma euforia comercial, optaram por

desfrutar das inovações tecnológicas para produzir mais

bens no mesmo tempo de trabalho, ao invés de produzir os

mesmos bens em menor tempo. Com isso, alimentaram o

progresso e também uma aspiral de consumo, destinada a

saturação do mercado. O problema da duração do trabalho

sempre foi difícil de equacionar, e mais ainda agora, quando

é impossível dar uma definição de quantas horas por dia

alguém deve trabalhar. Por exemplo, quanto tempo deve

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trabalhar um mineiro? E um professor? E um cirurgião

especializado em transplante?

Com base em várias pesquisas um ser humano de 20 anos

tem a expectativa de vida de 60 anos; ou seja, mais 525 mil

horas. Esta pessoa vai dispensar, aproximadamente, 10

horas diárias de sono, cuidados pessoais e afazeres

domésticos. Tudo isto vai perfazer um total de 219 mil

horas. E passará dos 20 aos 60 trabalhando duas mil horas

por ano, ou 80 mil horas, o que podemos dizer que o

trabalho representa a sétima parte da vida que lhe resta”

(FERNANDES, 1990, p. 18)

Esta pode ser uma das razões pelas quais as condições de vida e

do trabalho, ao longo do tempo, vêm sofrendo reivindicações por parte dos

trabalhadores. Desta forma, cresce a preocupação com as soluções para o

problema da produtividade e da competitividade, sem perda de qualidade de vida

do trabalhador.

Modernamente, os postos de trabalho com um maior grau de

complexidade, exigiu dos especialistas estudos para que as máquinas pudessem

ser operadas eficientemente, com um mínimo de riscos (SANTOS, 1999). Para

isto, foi necessário analisar as principais fontes de insatisfação dos trabalhadores

e atuar sobre as mesmas, até se poder conseguir a satisfação dos trabalhadores,

ou seja, a percepção de uma qualidade de vida no trabalho.

1.3 – Conceituando qualidade de vida

O conceito de qualidade de vida sofre algumas variações de acordo

com a abordagem dada por cada estudioso do assunto. Vieira (1996), fornece

uma definição de qualidade de vida, focalizando o impacto do trabalho sobre a

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vida das pessoas, a efetividade organizacional, bem como, a idéia de participação

segundo uma definição operacional que identifica quatro tipos de atividades

representativas do esforço de qualidade de vida no trabalho, tais como a

participação na resolução dos problemas, reestruturação do trabalho, inovação no

sistema de recompensas e aperfeiçoamento no ambiente de trabalho. Para

Fernandes (1990), QVT:

“Consiste na aplicação concreta de uma filosofia humanista,

pela introdução de métodos participativos, visando modificar

um ou vários aspectos do meio ambiente de trabalho, a fim

de criar uma nova situação, mais favorável à satisfação dos

empregados da empresa.” (FERNANDES, 1990, p. 47)

Rodrigues (1999, p. 90) diz que QVT engloba dois fatores: “a

preocupação com o bem-estar do trabalhador e com a eficácia organizacional; e a

participação dos trabalhadores nas decisões e problemas de trabalho.”

Bom Sucesso (1999), defende que a QVT, baseia-se em certos

fatores que promovem o bem-estar e a mobilização do pessoal, incluindo,

elementos organizacionais, ambientais e comportamentais. Em relação aos

fatores comportamentais, pode-se citar os ligados à autonomia, responsabilidade,

variedade, consideração, relacionamento e participação, sendo este último fator

considerado o de maior importância para que o indivíduo se sinta envolvido com a

instituição, refletindo isto no seu desempenho e na sua produtividade.

Para Vieira (1990), a QVT tem como objetivo central gerar uma

organização mais humanizada para, através dela, resultar uma relação entre

capital e trabalho não conflitante, mas sim cooperativa.

Friedman et al (2000), afirmam que:

“a ênfase da qualidade de vida no trabalho é na substituição

do sedentarismo e do stress por um maior equilíbrio entre o

trabalho e o lazer que resulte em melhor qualidade de vida.

Numa visão institucional, a QVT deve monitorar todas as

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variáveis que determinam o ambiente tecnológico, político e

econômico do trabalho” (FRIEDMAN, 2000, p. 37).

Rodrigues (1999) conceituam a QVT como melhorias nas condições

de trabalho, envolvendo as variáveis comportamentais, ambientais e

organizacionais, além das práticas de recursos humanos, de forma a humanizar o

trabalho, satisfazendo, assim, não só a organização, como também os

trabalhadores.

No que se refere às atividades de QVT, a participação na resolução

de problemas, reestruturação do trabalho, sistemas de compensação inovadores

e a melhoria no ambiente de trabalho, buscam criar um envolvimento ótimo entre

os empregados e a organização, o que se traduz em um nível maior de satisfação

e motivação, onde seja atingida a efetividade organizacional e preservada a

saúde do sistema (RODRIGUES, 1999).

Por qualidade de vida no trabalho queremos dizer os pontos

favoráveis e desfavoráveis de um ambiente de trabalho para as pessoas, a

proposta básica é desenvolver um ambiente de trabalho que seja bom para as

pessoas como para a saúde e economia da organização. Os elementos da QVT

incluem: “comunicações abertas, sistema de recompensa justo, preocupação com

a saúde e segurança do trabalhador, participação e planejamento de trabalho,

entre outros” (VIEIRA, 1996, p. 28).

1.3.1 - Evolução da qualidade de vida nas organizações

Foi a partir da década de 50 que a qualidade de vida começa a

aparecer na literatura como uma nova abordagem do mundo do trabalho. Nesse

período, o Travistock Institute em Londres desenvolveu uma série de estudos,

tendo por base a satisfação do trabalhador no seu ambiente de trabalho.

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Paralelamente, nos Estados Unidos realizavam-se pesquisas para modificar as

“linhas de montagens”, objetivando tornar o trabalho mais agradável e satisfatório.

Numa análise da evolução da QVT nos Estados Unidos, Friedman et

al. (2000) destacam duas fases: a primeira, considerada como a fase original que

vai de 1974 a 1979, foi marcada:

“por um grupo de pesquisadores que estudou os efeitos do

emprego sobre a saúde e o bem-estar do empregado e

sobre a satisfação com o emprego; pela investigação, sob o

patrocínio do governo americano, das questões “qualidade

do emprego” ou a “soma total dos efeitos da experiências

do emprego sobre o indivíduo”, que resultou na publicação

do livro “work in América”; pela formação da Comissão

Federal de Produtividade, que promoveu uma série de

experiências de administração do QWL – Quality of Work

Life, as quais foram juntamente aplicadas ao Programa de

Qualidade do Trabalho e do Centro Nacional de Qualidade

do Trabalho dos Estados Unidos da América.” (FRIEDMAN,

2000, p. 43)

A segunda fase que teve início em 1979:

“a) impulsionava através da competição internacional, com

o reconhecimento de outros Países, principalmente o

Japão, estivessem fazendo alguma coisa diferente:

tornamo-nos fascinados com a noção de estilo de

gerenciamento alternativos e a perspectiva de que outros

países têm desenvolvido para um nível mais elevado;

b) através dos resultados positivos do projeto de QVT,

implantados na primeira fase.” (FRIEDMAN, 2000, p. 43)

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Porém, foi na década de 60, que a conscientização dos

trabalhadores e o aumento das responsabilidades sociais contribuíram, de forma

decisiva, para que os cientistas e dirigentes organizacionais pesquisassem

melhores formas de realizar o trabalho, que os movimentos cujo objetivo era o de

melhorar a qualidade de vida, tomaram impulso, segundo Robbins (2000).

Apesar desses autores, juntamente com Friedman (2000),

estabelecerem a década de 70 como um marco do movimento de QVT, no início

desta década os estudos sobre a qualidade de vida no trabalho passaram por um

período de estagnação. Um dos principais fatores responsáveis por esta

estagnação foi a crise energética e a alta da inflação que assolou os Estados

Unidos e outros países do ocidente. A ascensão do Japão como potência,

também, fez com que as organizações ocidentais não focalizassem apenas as

técnicas de gestão, desviando suas atenções do estudo de qualidade de vida no

trabalho.

Em torno dos anos 80, a QVT adquire, segundo alguns autores

(RODRIGUES, 1995), conotação ideológica.

Para Bom sucesso (1997) “na década de 90 o termo qualidade de

vida invadiu todos os espaços, passou a integrar o discurso acadêmico, a

literatura relativa ao comportamento nas organizações, os programas de

qualidade total, as conversas informais e a mídia em geral”.

Atualmente, a qualidade de vida no trabalho vem sendo

extensivamente pesquisada em diversos países, como Inglaterra, Hungria,

Canadá, México e na Índia (RODRIGUES, 1999).

1.3.2 - Efeitos da QVT no ambiente de trabalho

O termo ambiente pode ser utilizado de forma a incluir

equipamentos, ferramentas, materiais, métodos de trabalho e a própria

organização do trabalho. É pois, o envolvimento do ambiente físico e dos

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aspectos organizacionais em todas as situações em que ocorre o relacionamento

entre o homem e seu ambiente de trabalho.

A QVT pode produzir um ambiente de trabalho mais humanizado.

Seu objetivo é servir tanto às aspirações mais altas dos trabalhadores quanto

mais suas necessidades mais básicas. Ela procura aproveitar as habilidades mais

refinadas dos trabalhadores e proporcionar um ambiente que os encorajem a

desenvolver suas atividades.

A idéia é que os trabalhadores são capital humano que tem de ser

desenvolvido e não simplesmente usado. Além disso, o trabalho não deve ter

condições excessivamente negativas, nem submeter o trabalhador a tensões

indevidas, tão pouco subjugar ou degradar sua humanidade e nem ser arriscado

ou indevidamente perigoso. O trabalho deve construir, ou pelo menos, não

prejudicar a capacidade dos trabalhadores de desempenharem outros papéis,

como o de cidadão, marido, esposa, pai, mãe, estudante, ou seja, é preciso que o

trabalho contribua para o desenvolvimento social do indivíduo.

Um local de trabalho, seja um escritório, uma oficina ou uma escola,

deve ser sadio e agradável. O homem precisa encontrar aí condições capazes de

lhe proporcionar um máximo de proteção e, ao mesmo tempo, satisfação no

trabalho. Mais ainda, o ambiente deve poder cumprir uma finalidade social de

educar, criando no homem hábitos de higiene e de ordem que venha a estender

ao seu lar. Um ambiente de trabalho é o resultado de um complexo de fatores,

materiais ou subjetivos, todos importante e que, tantas vezes, são mais fáceis de

serem atendidos. (VIEIRA, 1996, p. 49)

Pode-se distinguir, no ambiente de trabalho, vários fatores atuantes

na sua constituição. Estes fatores podem ser classificados como principais e

secundários.

Moller (1999, p.35), relaciona como fatores principais: temperatura,

ruídos, odores e cores. Os secundários encontram-se na arquitetura, relações

humanas, remuneração, estabilidade e apoio social.

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CAPÍTULO II

ESTRESSE

2.1 - Definição de estresse

O estresse pode ser resultado, em grande parte, pelo ritmo

acelerado da vida moderna e pelos desafios crescentes de um mundo cada vez

mais hostil e competitivo. À medida que o mundo se torna mais complexo e

sofisticado e as mudanças no dia-a-dia ocorrem com mais freqüência e

velocidade, maior é a pressão a que os homens são submetidos.

A principal ação do estresse é a quebra do equilíbrio interno que

ocorre devido à ação exarcebada do sistema nervoso simpático e a

desaceleração do sistema nervoso parassimpático, em momentos de tensão. O

problema ocorre quando a tensão muscular é excessiva, quando acontece em

situações, como uma reunião ou momentos de estresse interpessoal, quando não

haveria necessidade (LIPP; MALAGRIS, 1995).

Assim sendo, quando o organismo tenta manter o equilíbrio a fim de

preservar a sua existência, ocorre o que se denomina de homeostase (LIPP;

MALAGRIS 1995).

Para Lipp e Malagris (1995), o estresse é entendido como uma

reação do organismo, com componentes físicos e/ou psicológicos, causada pelas

alterações psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa confronta com

situações que a amedronte, excite ou confunda.

Em se tratando de mudanças de ambiente os autores Lazarus e

Folkman (1984) citam o estresse como uma relação particular entre a pessoa e o

ambiente em que se relaciona, sendo avaliado por ela como ameaçador ou que

excede seus recursos pessoais. O que define estresse é a percepção da pessoa

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sobre a situação, percepção que envolve o processo psicológico, bem como

medo, ameaças e desafios.

Para França e Rodrigues (2002), o estresse é definido como uma

mudança que uma estrutura sofre quando é submetida a um esforço. Estar

estressado, então, é um estado do organismo, após esforço de adaptação, que

pode produzir mudanças na capacidade de resposta. A resposta de estresse é

ativada pelo organismo, com o objetivo de mobilizar recursos que possibilitem às

pessoas o enfrentamento das situações que são percebidas como difíceis e que

exigem esforços.

Como descreve Ballone (2005), do ponto de vista pessoal, as

mudanças ocorrem continuamente e o indivíduo tem sempre que se adaptar a

elas. Nesses casos, o estresse funciona como um mecanismo de sobrevivência e

adaptação, necessário para estimular o organismo e melhorar sua atuação diante

de situações novas.

Dessa forma, os autores França e Rodrigues (2002) concordam e

descrevem que, a todo instante, o indivíduo esta fazendo movimentos de

adaptação, ou seja, tentativa de se ajustar às mais diferentes exigências, seja do

ambiente externo, seja do ambiente interno, por meio de idéias, sentimentos,

desejos, expectativas e imagens. O operário que trabalha em um ambiente

barulhento e perigoso para sua integridade, o executivo que luta para cumprir os

prazos, a mãe que se preocupa com seu filho, todos apresentam uma situação

comum, estão sob estresse, ou seja, aquele denominador comum de todas as

reações de adaptação de um organismo.

Para Molina (1996), o estresse é considerado uma tensão ou

pressão gerada por uma situação estressante ou por estressor ocasional ou do

cotidiano. O estressor significa um evento, agente ou situação que produz uma

resposta patofisiológica ou psicofisiológica (resposta interna gerada durante o

confronto com a situação estressante; liberação de adrenalina, cortisol, hormônio

adenocorticotrófico), retenção de líquidos e tensão muscular) no indivíduo. A

situação estressante é o conjunto de situações, como o ambiente, indivíduo ou

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fatores que induzem força, tensão ou pressão. Já a adaptação é o esforço do

organismo e do indivíduo para se acomodar a uma situação que gera frustração e

desconforto.

Molina (1996) ainda descreve que, além de um significado

proveniente da física, o estresse também pode ser empregado como um termo

que designa algum aborrecimento. Tanto o agente estressor, como seus efeitos

sobre o indivíduo podem ser descritos como situações desagradáveis que

provocam dor, sofrimento e desprazer.

De acordo com Inocente (2007), estresse pode ser entendido como

um estímulo, quando é capaz de provocar uma reação de estresse; como

resposta quando produz mudanças fisiológicas, e, emocionais e comportamentais

e como interação, que está entre características do estímulo e os recursos do

indivíduo.

Para Ballone (2005), o estresse é uma resposta fisiológica e

comportamental de um indivíduo que se esforça para adaptar-se e ajustar-se a

estímulos internos e externos. Como a energia para adaptação é limitada, se

houver persistência do estímulo estressor, o organismo entrará em uma fase de

esgotamento.

Uma dose baixa de estresse é normal, pois se trata de uma

ocorrência indispensável para a saúde e para a capacidade produtiva. As

características desse estresse positivo são: aumento da vitalidade, otimismo,

disposição física e interesse. Por outro lado, o estresse exagerado, considerado

patológico, pode ter conseqüências danosas, como cansaço, irritabilidade, falta de

concentração, depressão, pessimismo, queda da resistência imunológica e mau-

humor (BALLONE, 2005).

Molina (1996) concorda com Ballone (2005) quando descreve que o

estresse é uma maneira de desgastar o indivíduo e que se pode adaptar a essa

situação. Para ele, o estresse, quando relacionado ao desgaste que o organismo

sofre progressivamente, indica que parte do desgaste natural do organismo pode

estar associada tanto com o envelhecimento e atrofia celular natural, como a

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exposições de situações, momentos estressantes, aos quais o indivíduo necessita

adaptar-se.

A partir dos conceitos de estresse apresentados e de sua evolução

sob a perspectiva de vários autores, em sua maioria, estes concordam que o

estresse causa danos à saúde, danos esses caracterizados como físicos e

psicológicos.

2.2 – Causas do estresse

Lipp (2000) classifica os estressores em externos e internos. Os

estressores externos são eventos ou condições externas que afetam o organismo,

eles independem das características ou comportamento da pessoa, como, por

exemplo, a profissão, a falta de dinheiro, brigas, assalto; já os estressores

internos são determinados pelo próprio indivíduo, caracterizam-se pelo modo de

ser da pessoa, se ela é ansiosa, tímida ou depressiva, e está muito ligada às

crenças e valores de cada um.

De acordo com França e Rodrigues (2005), existem fatores tanto

pessoais como ambientais que levam uma pessoa ao estresse. Quanto aos

fatores pessoais ou individuais, geralmente, são divididos em compromissos e em

crenças.

O compromisso, segundo França e Rodrigues (2002), ocorre quando

acontece um fato que leva a pessoa a dar muita importância, ou seja, a pessoa

acha o compromisso algo extremamente importante e que nada pode interferir

para que ela não o cumpra. França e Rodrigues (2002) explicam que, quanto

maior for o comprometimento da pessoa com o que está acontecendo, maior

também será o seu compromisso e isso poderá influenciar no processo de

avaliação do estresse.

Como exemplo, tem-se o investimento da pessoa em uma

determinada tarefa, pois seu desempenho nessa situação pode ser importante

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para uma promoção e seu desenvolvimento na empresa ou na profissão. Isso

pode ter menor ou maior potencial de ameaça ou de desafio, dependendo do

compromisso que a pessoa estabelecer com ela.

Para França e Rodrigues (2002, p. 44) o que pode acontecer com

essa pessoa é que, quando a intensidade do compromisso é grande, a

vulnerabilidade da pessoa pode, por um lado, aumentar, e, por outro, servir de

impulso, ajudando-a a desenvolver recursos para fazer frente aos obstáculos. As

crenças são convicções; são premissas nas quais as pessoas devotam suas

vidas, nas mais diferentes circunstâncias da realidade.

Segundo os autores França e Rodrigues (2002), as crenças surgem,

ou estão presentes na vida de uma pessoa, em relação à determinada situação,

antes mesmo de essa situação acontecer, influenciando na percepção dessa

pessoa em relação à situação em que está vivendo. Porém, muitas vezes, as

pessoas nem mesmo se dão conta de que estão sendo influenciadas por crenças

e sempre discutem sobre algo, sem se dar conta da sua crença, do que elas

acreditam. Com isso, o estresse pode surgir, uma vez que as discussões entre

crenças distintas certamente geram impasses, ocasionando o estresse em ambas

as partes (FRANÇA; RODRIGUES, 2002).

Lipp (2000) acrescenta sobre as crenças que elas são um dos

fatores mais poderosos do ser humano, porque é aquilo que a pessoa acredita

ser: as crenças são como um princípio orientador, convicção ou fé, que dão

significado e direção em nossa vida. Para a autora existem dois tipos de crença:

as crenças racionais e as crenças irracionais.

As crenças racionais são fortalecedoras e dão, às pessoas,

condições de analisar realisticamente os problemas e encontrar soluções ou

adaptar-se e aceitar uma situação problemática. Essa crença proporciona

condições básicas para a pessoa enfrentar o estresse, resolver seus problemas e

tolerar frustrações.

As crenças irracionais são uma maneira distorcida de julgar as

situações e estão ligadas a uma tendência da pessoa de julgar negativamente a si

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mesma, o mundo e as pessoas. As crenças irracionais são limitadoras do

desenvolvimento humano, pois geram frustrações, ansiedade e estresse. O

ambiente pode ser um determinante, podendo favorecer a construção de uma

crença irracional que, somada ás experiências e ao conhecimento adquiridos,

estrutura o complexo comportamento humano.

Quanto aos fatores ambientais que influenciam e provocam o

estresse, França e Rodrigues (2002) citam Holmes e Rahe (1967), pesquisadores

tradicionais do problema do estresse, os quais também, ao longo de vários

estudos, desenvolveram uma escala de fatores ambientais que podem levar um

indivíduo ao estresse (FRANÇA; RODRIGUES, 2002).

Essa escala de Holmes e Rahe (1967) está organizada em quarenta

classes de problemas que o homem contemporâneo enfrenta entre os quais os

que apresentam maior grau de estresse são: a morte do cônjuge; o divórcio; a

separação conjugal; a pena de prisão; a morte de familiar próximo; a doença

pessoal ou acidente; o casamento; a demissão do emprego; a reconciliação

conjugal; a aposentadoria; o comprometimento de saúde em membro da família; a

gravidez; as dificuldades sexuais; o aumento da família; a mudança importante no

trabalho, a mudança na condição financeira; a morte de amigo íntimo, a mudança

de ritmo ou de área de trabalho, o aumento das discussões com o cônjuge, entre

outros (FRANÇA; RODRIGUES, 2002).

Embora as variações individuais sejam elementos importantes para

um acontecimento de estresse, o componente situacional, segundo França e

Rodrigues (2002), não deve ser totalmente ignorado. Nesse sentido, vale a pena

apresentar alguns aspectos do cotidiano que causam o estresse. Entre os

aspectos do cotidiano que causam o estresse estão: a novidade de situação, a

possibilidade de predizer o acontecimento, a incerteza do acontecimento, a

iminência do acontecimento, a duração do episódio estressante, a incerteza sobre

quando vai acontecer o evento e a ambigüidade.

Quanto à iminência do acontecimento, se refere ao tempo em que

este antecede, a algo que está preste a acontecer. Assim, geralmente, quanto

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mais perto está o tempo de ocorrer determinado evento, maior serão as chances

do impacto do estresse no processo de avaliação. Também acontece quando

uma decisão precisa ser rápida, e o indivíduo tem pouco tempo para avaliar as

condições da decisão, o que pode afetar as conseqüências dessa decisão

(FRANÇA; RODRIGUES, 2002).

Quando a duração do episódio estressante, segundo França e

Rodrigues (2002), é longa, as conseqüências ao organismo da pessoa também

podem ser mais intensas, podendo provocar ainda um desgaste progressivo do

organismo e, às vezes, um esgotamento, comprometendo, evidentemente, o

desempenho profissional da pessoa.

A incerteza sobre quando irá acontecer o evento estressante está

estreitamente relacionada com a idéia de desconhecimento e de iminência

temporal do acontecimento. A ambigüidade, por fim, se relaciona com todos os

acontecimentos da vida cotidiana, portanto, com as situações de que a pessoa

não dispõe de informações suficientes para tirar alguma conclusão adequada de

determinado acontecimento, surgindo dúvidas sobre como e quando atuar no

acontecimento em questão. Assim, de acordo com França e Rodrigues (2002),

quanto maior for a ambigüidade, maior também será a dificuldade em decidir,

tendo como base os aspectos da personalidade e não dos fatos exatos ou da

realidade da pessoa.

Cooper (1996) acrescenta que o estresse é causado por múltiplas

demandas. Pode ser por uma inadequação entre o que o ambiente exige e a

capacidade do indivíduo de realizar tal atividade ou por vários conflitos, como

dificuldades de relacionamento e doenças. O estresse pode causar mudanças no

comportamento, o indivíduo pode apresentar certa agressividade, ter

comportamentos anti-sociais, e até cometer suicídio. O estresse pode

desenvolver também reações fisiológicas, como tensão muscular, doenças

cardíacas ou estomacais. Já as mudanças psicológicas incluem a depressão,

apatia e alienação.

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Cooper (1996) ainda explica que o estresse não depende somente

das situações em que os indivíduos são expostos, mas de como ele lida com

essas situações. Para esse autor, são as percepções que determinam se algo é

estressante ou não.

Portanto, as causas mais comuns do estresse estão relacionadas a

fatores internos e externos de cada indivíduo. Dependendo de como a pessoa

reage, o estresse pode ser prejudicial à sua saúde.

2.3 – As fases do estresse

De acordo com Selye (1965) o estresse é composto por três fases

que são descritas a seguir:

Fase de alerta – quando uma pessoa se confronta com um

estressor, uma reação de alerta se instala e o organismo se prepara para a “luta

ou fuga”. Se for de duração curta, essa sensação de alerta termina algumas horas

após o fim da situação; assim, o organismo se restabelece e nenhum dano

ocorre.

Nesta fase a produtividade aumenta e, se o indivíduo souber usá-la

ao seu favor, esse estágio produzirá energia, entusiasmo e motivação para

enfrentar as situações. De acordo com França e Rodrigues (2002, p. 37) os

principais sintomas da fase de alerta são:

a) Principais Sintomas - Reação de Alerta

• Aumento da freqüência cardíaca;

• Aumento da pressão arterial;

• Aumento da concentração de glóbulos vermelhos;

• Aumento da concentração de açúcar no sangue;

• Redistribuição do sangue;

• Aumento da freqüência respiratória;

• Dilatação dos brônquios;

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• Dilatação da pupila;

• Aumento da concentração de glóbulos brancos;

• Ansiedade.

Fase de resistência – quando o estressor perdura ou é de uma

intensidade excessiva, o organismo tenta estabelecer o equilíbrio interno essa é a

fase de resistência. Nesta a pessoa utiliza toda energia adaptativa para se

reequilibrar.

Alguns sintomas aparecem despercebidos como a sensação de

desgaste generalizado sem causa aparente e dificuldades com a memória. O

organismo está enfraquecido e suscetível a doenças, mas se a pessoa usar

técnicas de controle o estresse é eliminado, e ela volta ao normal. Quando o

organismo está próximo do fim da fase de resistência várias doenças começam a

aparecer como: herpes simplex, picos de hipertensão, retração de gengivas,

gripes, sensação de estar levitando e redução da libido.

Witter (1997) acrescenta que a fase de resistência surge quando a

ação do estressor é prolongada exigindo a adaptação do organismo.

Diferentemente ao que acontece na reação de alarme, há uma rarefação de

sangue (diluição-sedimentação) e anabolismo com retorno para a glicemia

normal. Se o estresse persiste irão ocorrer outras reações no organismo. De

acordo com França e Rodrigues (2002, p. 38), os principais sintomas da fase de

resistência são:

b) Principais Sintomas - Reação de Resistência

• Aumento do córtex da supra-renal;

• Ulcerações no aparelho digestivo;

• Irritabilidade;

• Insônia;

• Mudanças no humor;

• Diminuição do desejo sexual;

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• Atrofia de algumas estruturas relacionadas à produção de células

do sangue.

Fase de exaustão – o processo de estresse evolui; há um aumento

das estruturas linfáticas, há exaustão psicológica em forma de depressão, as

doenças começam a aparecer e alguns casos até a morte. As doenças ocorrem

com muita freqüência, tanto na área psicológica, em forma de depressão, vontade

de fugir de tudo, irritabilidade; como na área física, na forma de hipertensão

arterial, úlceras gástricas, vitiligo e até diabetes. A doença que surge depende de

fatores como raça, idade, condição física e constituição genética.

O estágio de esgotamento desenvolve-se quando a ação do

estressor, ao qual o organismo se adaptou, permanece por um período longo,

esgotando a energia de adaptação (WITTER, 1997). De acordo com França e

Rodrigues (2002, p. 38), os principais sintomas da fase de exaustão são:

c) Principais Sintomas - Exaustão

• Retorno parcial e breve à Reação de Alarme;

• Falha dos mecanismos de adaptação;

• Esgotamento por sobrecarga fisiológica;

• Morte do organismo.

Dessa forma, foram descritas as fases do estresse e como o

organismo reage a cada uma delas. Entretanto, torna-se relevante para o objeto

deste estudo, a abordagem acerca do estresse ocupacional resultante de

dificuldades encontradas no exercício profissional.

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2.4 - Estresse ocupacional

O estresse influencia a vida do ser humano, principalmente daqueles

que vivem uma vida agitada e que não dão tempo necessário ao corpo para o

descanso e o bem-estar.

Para França e Rodrigues (2002), o estresse relacionado ao trabalho

é definido como situações, em que a pessoa percebe o ambiente de trabalho

como ameaçador às suas necessidades e às realizações, pessoal e profissional,

ou à sua saúde física e mental, prejudicando a interação dessa pessoa com o

trabalho e o ambiente de trabalho. À medida que esse ambiente contém

demandas excessivas a essa pessoa e esta não consegue obter recursos

adequados para enfrentar tais situações, ela acaba adquirindo estresse.

O estresse no trabalho para Inocente (2007) é definido como

reações físicas e emocionais que ocorrem quando as exigências excedem as

capacidades, os recursos e as necessidades do trabalhador.

Inocente (2007) enfatiza que o estresse ocupacional ocorre devido à

exposição a fatores de riscos de natureza psicossocial e à organização do

trabalho, associados a fatores do ambiente. Os fatores que desencadeiam o

estresse ocupacional podem ser: alta exigência no trabalho, pouco apoio social

dos gestores e colegas e pouco controle.

Para Nunes (2006), o estresse ocupacional é formado por

experiências individuais, extremamente desagradáveis, associadas a sentimentos

de hostilidade, tensão, ansiedade, frustração e depressão, que são

desencadeados por estressores, no ambiente de trabalho.

O tipo de desgaste em que as pessoas estão submetidas nos

ambientes e relações com o trabalho são fatores determinantes de doenças. Os

agentes estressores psicossociais são tão potentes quanto os micro-organismos

no desencadeamento de doenças. O desgaste emocional nas relações como o

trabalho é um fator significativo na determinação de transtornos relacionados ao

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estresse, como é o caso das depressões, ansiedade patológica, pânico, fobias e

doenças psicossomáticas. A pessoa com esse tipo de estresse ocupacional, não

responde à demanda do trabalho e geralmente se encontra irritável e deprimida

(BALLONE, 2005).

Segundo Inocente (2007), as mudanças rápidas que ocorrem,

devido à internacionalização do trabalho, afetam a promoção da saúde no campo

do trabalho. O estresse é um problema de saúde pública que provoca reações

perturbadoras do equilíbrio no organismo, colocando em risco a sobrevivência

biológica. Quando as reações persistem durante um longo prazo, o resultado é a

fadiga, prejudicando a saúde geral do indivíduo e, como conseqüência, a saúde

das organizações.

Na vida contemporânea, a ansiedade é, na maioria das vezes,

dirigida para o alvo errado; a raiva torna-se patológica. Repetidos ataques de

ansiedade indicam altos níveis de estresse. A preocupação constante, que causa

problemas gastrintestinais, é um exemplo de como a ansiedade e o estresse

exacerbam problemas clínicos. Os riscos para a saúde são maiores para aqueles

que trabalham sob intensa pressão: alta exigência de desempenho e pouca ou

nenhuma possibilidade de ter sob controle as tarefas exigidas (FRANÇA;

RODRIGUES, 2002).

Ballone (2005) complementa que há ambientes de trabalho onde o

futuro se mostra sombrio. Na presença de perspectivas pessimistas, a pessoa fica

à mercê dos efeitos ansiosos do cotidiano, sem esperanças e recompensas

agradáveis. O medo motiva para a ação durante um breve período de tempo, mas

logo surge o estado de esgotamento.

Sobre o funcionário, se a carga de trabalho excede à condição de

resistência do indivíduo, ela pode ser classificada em: quantitativa e qualitativa. A

quantitativa refere-se ao aumento excessivo na quantidade de trabalho e a

qualitativa refere-se a quando é exigida do empregado, maior qualidade em seu

trabalho. Uma carga de trabalho qualitativa grande quer dizer que o funcionário

não é capaz de desempenhar suas tarefas por elas serem muito difíceis. São

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constantes preocupações, angústias, por não conseguir controlar a situação. O

nível de tensão chega a extremos, provocando no funcionário um grande

descontrole emocional (FRANÇA; RODRIGUES, 2002).

Os fatores intrapsíquicos (interiores) relacionados ao serviço

contribuem para a pessoa manter-se estressada, como é o caso da sensação de

insegurança no trabalho, sensação de insuficiência profissional, pressão para

comprovação de eficiência ou a impressão continuada de cometer erros

profissionais (BALLONE, 2005).

Dessa forma, Nunes (2006) argumenta que os fatores contribuintes

para a manifestação do estresse ocupacional vão desde as características

individuais de cada trabalhador, envolvendo o estilo de relacionamento social no

ambiente de trabalho, o clima organizacional, até as condições gerais nas quais o

trabalho é exercido.

Um dos estudos atuais de França e Rodrigues (2002) sobre o

estresse adverte que os Estados Unidos e a Europa contêm o maior número de

pessoas estressadas devido ao trabalho, principalmente pelo motivo da

incapacitação para o mesmo. Esse comportamento, segundo os autores, leva o

indivíduo a pedir licença do trabalho e as doenças que mais são causadoras

desse fenômeno são as cardiovasculares, a hipertensão, a úlcera péptica, as

doenças inflamatórias intestinais e até mesmo os distúrbios osteomusculares.

Por essa razão, a avaliação da presença do estresse ocupacional é

algo complicado, uma vez que a complexidade desse conceito tem levado à

formulação de uma multiplicidade de conceitos e de modelos de análise

(FRANÇA; RODRIGUES, 2002).

Em se tratando de multiplicidade de conceitos, Cooper (1996) faz

sua contribuição e expõe que, quando uma força conduz os fatores emocionais e

físicos para além dos limites de estabilidade, o indivíduo sente-se tenso,

adquirindo, assim, o estresse. As principais categorias ambientais relacionadas ao

trabalho, para Cooper (1996) apud França e Rodrigues (2002, p.65), seriam:

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• Fatores intrínsecos ao trabalho – envolvem condições de

trabalho em turnos, jornadas extensas, viagens, atividades de

risco ou perigo, novas tecnologias, sobrecarga de trabalho ou

trabalhos monótonos;

• Papel na organização – ambigüidade e conflito de papéis na

organização e nível de responsabilidade em relação às pessoas

e tarefas;

• Relacionamentos no trabalho – investiga-se a falta de

consideração ou as pressões exercidas por superiores

hierárquicos, isolamento, rivalidade ,pressão política, conflitos e

recusa de cooperação dos subordinados;

• Desenvolvimento na carreira – propõe-se que examine a falta de

segurança no trabalho gerada por aposentadoria precoce,

frustrações referentes ao topo da carreira;

• Estrutura e clima organizacionais – investigação de aspectos

que ameacem a individualidade, liberdade, autonomia e

identidade.

Karasek (1979) desenvolveu um modelo de Demanda-Controle (DC)

bidimensional que contempla os fatores psicossociais do trabalho: demanda

psicológica e controle do trabalho. O modelo permite analisar os riscos de os

trabalhadores desenvolverem estresse e doenças ou distúrbios a eles

relacionados, além de motivação, satisfação no trabalho e o grau de ativação dos

trabalhadores (INOCENTE, 2007).

Para Inocente (2007), a demanda psicológica refere-se às

exigências psicológicas na execução de tarefas e inclui a pressão do tempo, nível

de concentração requerida, interrupção de tarefas, espera pelas atividades

realizadas por outros trabalhadores, conflitos pessoais e medo de perder o

emprego. O controle do trabalho engloba aspectos de operacionalização do

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trabalho referentes ao uso de habilidades, como: aprendizagem, repetição,

criatividade, tarefas variadas e desenvolvimento de habilidades; latitude de

decisão ou autoridade decisória, que inclui a possibilidade de tomar decisões

sobre o seu próprio trabalho e as influências do grupo de trabalho e da política

gerencial.

Segundo Inocente (2007), o Modelo Demanda-Controle enfatiza que,

da interação dessas duas variáveis, resultam quatro tipos básicos de situações

laboriais:

• Trabalho de baixo desgaste – situação de alto controle e baixa

demanda psicológica;

• Trabalho passivo – situação de baixo controle e baixa

demanda;

• Trabalho ativo – situação de alta demanda e alto controle;

• Trabalho alto desgaste – situação de baixo controle e alta

demanda.

A falta de controle do trabalhador sobre seu trabalho é vista como

uma restrição ambiental sobre a capacidade de resposta do indivíduo. Quando o

trabalhador possui controle sobre seu trabalho, os conflitos e outros estressores

não causam danos à saúde (KARASEK, 1979).

Para Inocente (2007), esse modelo enfatiza que os riscos para a

saúde física e psicológica estão atrelados ao trabalho de alto desgaste,

significando que ele é operado em condições de alta demanda psicológica e baixo

controle do trabalhador sobre seu trabalho.

O modelo Demanda-Controle, de acordo com Inocente (2007), fica

mais evidente em ocupação com baixa qualificação, relacionada com clientes

quando há falta de decisão e autonomia pessoal, e classifica as profissões em:

• Trabalhos ativos (alta exigência e alto controle) – advogados,

juízes, médicos, professores, engenheiros, executivos;

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• Passivos (baixo nível de exigência e de controle) –

trabalhadores administrativos e de nível operacional, como

porteiros e trabalhadores burocráticos;

• Trabalhos de muita tensão (alto nível de exigência e baixo

nível de controle) – operários de fábrica, camareiros,

telefonistas e cozinheiros;

• Trabalhos de pouca tensão (baixa exigência e alto controle) –

ritmo do próprio trabalhador, como vendedores, profissionais

autônomos.

Para medir as características do trabalho de acordo com Inocente

(2007), o Questionário sobre o Trabalho, de Karasek, envolve as seguintes

escalas:

• Margem de tomada de decisão – liberdade para usar a sua

capacidade no trabalho; autoridade para tomar decisões;

subutilização da capacidade; autoridade do grupo para tomar

decisões; autoridade formalmente conhecida; influência do

sindicato ou de representantes dos trabalhadores;

• Demandas psicológicas e carga mental do trabalho – demandas

psicológicas gerais, ambigüidade de papel; concentração e cisão

mental do trabalho;

• Apoio social – socioemocional (colegas, supervisores e chefes);

instrumental (colegas, supervisores e chefes); hostilidade

(colegas, supervisores e chefes);

• Demandas físicas – carga física geral, isométrica e aeróbica; e

• Insegurança no trabalho.

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CAPÍTULO III

QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO DO MOTORISTA

DE TRANSPORTE COLETIVO URBANO

3.1 - O Sistema de Transporte Coletivo

O Sistema de Transporte Coletivo (STC) é composto por todo e

qualquer modo de transporte, que permita o deslocamento coletivo de indivíduos,

a fim de permitir a realização das atividades diárias de cada indivíduo. Como

exemplos de sistemas de transporte coletivo de passageiros, pode-se citar o trem,

o metrô e o ônibus.

A estrutura do sistema de transporte coletivo compreende os tipos

de serviços prestados e linhas oferecidas, a política de cálculo e cobrança de

tarifas, as integrações entre os diversos modos, os equipamentos necessários e o

sistema de informações aos passageiros.

De uma forma geral, o poder público, através da administração

direta ou de empresas estatais, assume a responsabilidade de definir as linhas e

os itinerários do transporte coletivo urbano de passageiros de modo a cobrir toda

a região de abrangência do município e também determina a freqüência das

linhas de forma a atender a demanda diária de passageiros. Além disso, realiza a

concessão da operação das linhas para as empresas operadoras, fiscaliza e

gerencia os serviços prestados, administra as câmaras de compensação tarifária

e/ou outros mecanismos de gestão de receita quando esses existirem.

As empresas operadoras são os agentes do sistema de transporte

coletivo por ônibus responsáveis pela operação dos serviços, incluindo a alocação

dos veículos e das tripulações. Cabe às empresas operadoras a determinação do

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número de veículos e de tripulantes necessários para operar cada linha de ônibus

e a execução das viagens diárias conforme estabelecido pelo poder concedente.

As desigualdades econômicas e sociais, presentes em várias

cidades brasileiras, se expressam na ocupação e uso do solo, segregando, na

periferia e nas áreas mais distantes e carentes de infra-estrutura, a parcela mais

pobre da população.

Ao se concentrar a maior parte das oportunidades de trabalho na

região central das cidades, criou-se a necessidade de transportar, diariamente,

muitas pessoas para o local de realização de suas atividades diárias e, gerando

uma grande demanda pelo uso do sistema de transporte coletivo.

A priorização pelo transporte individual, nas últimas décadas

caracterizada pelos investimentos realizados no sistema viário visando reduzir os

congestionamentos, levou as grandes metrópoles a enfrentar uma crise de

mobilidade. A conseqüência desta preferência pelo transporte individual é que a

parcela das viagens motorizadas, realizadas por meio de transporte individual,

vem crescendo a cada ano (ATZINGEN, SILVA e SOUZA, 2006).

Devido à reduzida infraestrutura do transporte coletivo metro-

ferroviário brasileiro, os ônibus representam o principal meio de transporte, na

maioria das cidades brasileiras. A opção pela implantação de sistemas de

transporte coletivo sobre pneus decorre, além dos altos investimentos envolvidos

na instalação e/ou expansão da malha ferroviária, devido a sua grande

flexibilidade e o menor custo dos ônibus. O transporte coletivo por ônibus urbano

permite o atendimento de uma grande área urbana, sem a obrigatoriedade de

implantação de uma estrutura específica, possibilitando uma maior cobertura

espacial da sua rede.

A falta de vias com prioridade para a circulação de ônibus, os quais

dividem o mesmo espaço com os automóveis nos congestionamentos e

problemas relativos à organização e estrutura do sistema, reduzem a qualidade

do serviço prestado e elevam o custo operacional do sistema de transporte

coletivo.

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Investimentos escassos, descontínuos e lentos nos transportes

públicos, especialmente em relação ao metrô, corredores de ônibus e trens,

tornaram o sistema de transporte coletivo ineficaz, para atender às necessidades

dos usuários, muito dos quais, migraram para o uso do automóvel particular, que

proporciona conforto, flexibilidade e permite viagens mais rápidas que o

transporte coletivo, mesmo em congestionamentos. O aumento do uso do

automóvel, o qual teve como conseqüência o aumento do tráfego urbano gerando

um dos principais problemas de transporte: os congestionamentos, os quais

desgastam os motoristas, reduzem a produtividade e acarretam enormes

prejuízos para muitos setores da economia (FREITAS et al., 2001).

Outro grande problema de um sistema de transporte público é a

definição de sua política tarifária, a qual visa determinar o preço dos serviços

prestados pelos agentes operacionais, isto é, determinar a contrapartida

financeira do usuário. Esta contrapartida depende da forma como o Estado e os

empregadores participam do financiamento dos serviços e da forma como certos

grupos de usuários (idosos, estudantes, deficientes físicos) tenham direito a

concessões de descontos e gratuidades (AGUIAR, 2001).

As políticas tarifárias não se limitam apenas à definição do valor da

tarifa, mas também sobre a forma como a tarifa é cobrada e as eventuais formas

de subsídios e contribuições sociais. Conforme Aguiar (2001), existem três

conjuntos de fatores ou instrumentos sobre os quais as decisões e ações da

política tarifária são realizadas:

• Nível da tarifa: os valores monetários pelos quais as tarifas são

cobradas;

• Estrutura tarifária: os elementos espaciais e funcionais que

servem de base para a cobrança da tarifa;

• Concessões especiais: os descontos e gratuidades atribuídos a

alguns grupos de usuários.

O cálculo do valor da tarifa a ser cobrada do usuário considera que,

caso não exista uma política de subsídios, o valor estabelecido deve cobrir os

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custos do sistema de transporte coletivo por ônibus. Isto é, no valor da tarifa

devem estar incluídos, além do custo de transporte daquele usuário que está

usufruindo do serviço, os custos das gratuidades (idosos e deficientes) e dos

descontos concedidos a certas classes de usuários (por exemplo, estudantes).

No Brasil, é comum utilizar-se da política de tarifa única, na qual

existe uma tarifa única cobrada independentemente da distância percorrida. Este

tipo de política tarifária cria um grande problema devido à existência de linhas

cujo percurso é longo e o usuário entra no ponto inicial e desce somente no ponto

final. Este tipo de linha é comum no trajeto da periferia para o centro das cidades.

Essas linhas longas muitas vezes não cobrem os seus custos, visto que o seu

índice de passageiros por quilômetro é muito baixo. Em um outro extremo,

existem linhas cujo índice de passageiros por quilômetros é elevado, criando

trajetos altamente lucrativos.

O custo operacional de um sistema de transporte coletivo por ônibus

urbano pode ser reduzido através de uma operação mais eficiente da frota, como

proposto neste trabalho, ou através da melhoria do sistema de transporte como

um todo. Uma redução nos congestionamentos urbanos possibilita um aumento

da velocidade média dos ônibus, reduzindo o tempo necessário para a execução

das viagens o que aumenta a utilização dos veículos devido ao aumento da

produtividade. Desta forma será necessário um número menor de veículos e de

tripulantes para operar a mesma quantidade de viagens diárias, isto reduzirá o

custo operacional do sistema de transporte coletivo por ônibus urbano.

O poder público é o órgão responsável pela definição do tipo e do

tamanho dos veículos a serem utilizados pelas empresas operadoras em cada

linha e serviço. Entretanto, não é atribuição do poder público definir a alocação

dos veículos para a realização das viagens diárias, na maioria dos casos

limitando-se a indicar a frota necessária para cada linha. Deste modo, é

interessante para o poder público reduzir a frota de veículos necessários como

uma forma de reduzir os custos operacionais e os repasses de subsídios às

empresas operadoras.

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3.2 - Profissão de motorista

A profissão de motorista é definida por Ferreira (2008) como o

profissional que guia veículos motorizados. Já o Projeto de Lei (PL) 99/07 visa a

regulamentação de um conceito mais detalhado e abrangente da profissão de

motorista, conforme observa-se a seguir.

Considera-se motorista o profissional que trabalha habilitado nos

seguintes ramos de atividade:

• Transporte de passageiros em geral (táxis, ônibus, microônibus e

vans de transporte urbano, intermunicipal, interestadual,

internacional e em fretamento e turismo);

• Transporte de cargas em geral;

• Entrega de mercadorias;

• Transportes diferenciados que atuem nas diversas categorias

econômicas (comércio, indústria, educação, saúde, esporte e

lazer);

• Operação de trator de roda, de esteira, misto ou equipamento

automotor destinado à movimentação de cargas ou execução de

trabalho agrícola, de terraplanagem, de construção ou

pavimentação, quando em via pública.

Assim, observa-se que este conceito de motorista passa a ser

bastante abrangente, contemplando diversas categorias que trabalham com

veículos automotores nos mais diversos segmentos de transportes.

Dessa forma, tendo em vista a abrangência dos ramos de atividade

desse profissional e sua importância para o país, foi instituída em setembro de

1997, pelo Congresso Nacional a Lei nº 9.503 do Código de Trânsito Brasileiro,

estabelecendo, no seu primeiro artigo, aquela que seria a maior de suas

diretrizes, a de que o “trânsito seguro é um direito de todos e um dever dos

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órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito”. Medida esta de caráter

disciplinador e punitivo para contrapor à realidade que é o caos atual do trânsito

brasileiro que afeta diretamente o transporte público do país. (BRASIL, 1997)

Segundo a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP)

(1999), o Brasil é um dos campeões mundiais em acidentes de trânsito. Cerca de

30 mil pessoas morrem por ano e 120 mil adquirem deficiências irreversíveis. O

desrespeito às leis de trânsito e à impunidade constituem fatores importantes para

o aumento desses índices. Ainda segundo a ANTP (1999), a educação no trânsito

é primordial e não deve ficar circunscrita aos programas dos órgãos de trânsito,

mas incorporá-la ao ensino fundamental.

Considerando o relato, pode-se afirmar que o motorista,

independentemente do tipo de veículo que ele conduz, está exposto a um risco de

acidentes muito grande e isto gera muita insegurança no desenvolvimento do

trabalho ou na vida do próprio. Além disso, não pode-se deixar de relatar a

responsabilidade que o profissional motorista, principalmente o condutor de

ônibus tem sobre a vida dos passageiros.

De acordo com Oliveira e Pinheiro (2007), os problemas de trânsito

são, de fato, um assunto complexo, pois não englobam apenas os motoristas e o

descumprimento das leis, mas também um conjunto de determinantes para sua

ocorrência, tais como: a cultura vigente na organização, as políticas internas e as

condições de trabalho, uma vez que aqueles condutores, no momento em que

estão na direção, além de serem cidadãos, são empregados, com direitos e

deveres.

Assim, as condições de saúde e de trabalho dos motoristas de

transporte coletivo urbano são fatores importantes de dimensionamento da

qualidade de vida dos centros urbanos, visto que estes fatores urbanos e de

integração social contribuem para o aumento do estresse, inclusive o do trânsito.

A condição de trabalho imposta ao profissional interfere no estado psicofisiológico

do mesmo, podendo levar a irritabilidade, insônia e distúrbio de atenção.

(BATTISTON et al, 2006)

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Diversas situações às quais ficam expostos esses profissionais

podem ser vistas como geradoras de estresse e favorecem maior dispersão da

atenção do condutor, como situações ocorridas em seu entorno (o ônibus) e com

o trânsito, podendo levar à diminuição de sua capacidade de reagir às demandas

específicas da condução do veículo. Tais comportamento inadequados no

trânsito, como frear bruscamente, parar fora do ponto de ônibus, dirigir acima da

velocidade permitida, fazer ultrapassagens perigosas por causa de atrasos nas

viagens de condutores, colocam em risco a vida dos motoristas e dos passageiros

que necessitam deste tipo de transporte. (SILVA, 2005)

Especificamente com relação a motoristas de ônibus urbanos e suas

condições de trabalho, no Brasil, existem relativamente, poucos estudos, dentre

eles, destaca-se as pesquisas realizadas por Sato (1991), em que é feita uma

análise qualitativa da penosidade no trabalho desses motoristas, destacando que

poucas profissões são reconhecidas como penosas, estando a desses

profissionais entre elas.

Na profissão de motoristas de ônibus, vários fatores interferem na

sua qualidade de vida sendo estes, muitas vezes desconhecidos ou não

percebidos pelos profissionais. No ato de dirigir, as exigências são tanto mentais

como motoras, e ambas são de grande relevância para o bom desempenho de

suas atividades.

Os fatores de risco que podem associar-se à profissão de motorista

devem ser modulados e entendidos inicialmente com uma adequada análise da

tarefa e da atividade, investigando também o posto de trabalho e as medidas

antropométricas dos trabalhadores. No entanto, Oliveira e Pinheiro (2007)

descreve alguns fatores de risco que podem ser relacionados a várias profissões,

inclusive as de motoristas de ônibus.

• Permanência no estar sentado por longos períodos, que favorece

a fadiga e aumenta a sobrecarga nos mais diversos segmentos

corporais;

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• Crescente aumento de tarefas motoras finas e de exigência

mental;

• Pressão administrativa para melhorar a qualidade dos serviços;

• Horários e percursos a cumprir

• Condições ambientais desfavoráveis (chuva, neblina, calor e frio)

• Ritmo excessivamente intenso (trânsito) que afeta quase sempre

o equilíbrio orgânico, causando dor, estresse, insatisfações e

aborrecimentos.

Tendo em vista o dinamismo da profissão de motoristas de ônibus, é

importante salientar que todos esses fatores afetam o relacionamento homem-

trabalho, e favorecem o aparecimento de doenças físicas e psíquicas, dentre os

quais o estresse.

3.3 – Qualidade de vida no trabalho relacionada à saúde

Fazendo uma revisão crítica a cerca dos estudos relacionados à

saúde do motorista de ônibus, Silva (2005) observa que os problemas mais

apresentados por esses profissionais relacionam-se a aspectos coronários e

gastro-intestinais. Segundo o autor, esses distúrbios, em especial os coronários,

geralmente surgem entre profissionais com aproximadamente aos 40 anos de

idade. Um aspecto preocupante refere-se ao fato da frequência desse tipo de

problema entre os motoristas de ônibus ser elevada, em relação a outras

profissões como motorista de carga (caminhão) ou de determinados profissionais

de escritórios. Nesse contexto, o autor concluiu que o estresse no trabalho pode

ter um papel significativo na etiologia de muitos problemas de saúde dos

motoristas.

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Estudo sobre o trabalho dos motoristas vem sendo realizados no

Brasil desde 1976 e se relacionam às condições desfavoráveis dessa profissão.

No estudo de Ramos (1991), realizada com motoristas na cidade do Rio de

Janeiro, foram constatados muitos problemas relacionados à manutenção dos

veículos, inexistência de condições sanitárias, pausa de descanso inadequado e

trânsito.

Em Nova York, Almeida (2002) realizou um estudo do potencial risco

à saúde associado à ocupação de motoristas de ônibus. A pesquisa, com 376

motoristas, avaliou os riscos à saúde associada com a ocupação:

“(...) os resultados demonstraram, através da análise da

cauda de morte dos motoristas de ônibus urbanos em

relação a outros motoristas, maior incidência de todos os

tipos de cânceres (destaque maior para o de esôfago),

desordens mentais, psiconeuróticas e distúrbios da

personalidade e doença isquêmica do coração”. (RAMOS,

1991, p. 57)

Sato (1991), em seu trabalho, investigou o risco de distúrbios

psiquiátricos menores entre motoristas e cobradores do sistema de ônibus urbano

na cidade de São Paulo, e concluiu que:

“(...) entre as questões relativas à ocupação de motorista de

ônibus, é discutida a responsabilidade com manobras

difíceis, que muitas vezes devem ser realizadas, o trabalho

de embarque e desembarque de passageiros(as) e questões

ambientais, como barulho e poluição, e ainda identificou que

as situações de maior incômodo referiam-se, às

responsabilidades financeiras, tais como pagar as multas de

trânsito, pagar peças quebradas do ônibus e consertos

resultantes de acidentes ou colisões com ônibus” (SATO,

1991, p. 71)

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Nesse contexto, observa-se a complexidade e diversidade de

problemas enfrentados pelos motoristas de ônibus urbanos, problemas estes que

afetam diretamente a saúde e qualidade de vida desses profissionais.

3.4 – Produtividade da mão-de-obra X QVT

Aumentar a produção com menos esforço humano tem sido por

longo tempo um objetivo da indústria. O interesse no projeto dos sistemas de

trabalho para converter práticas de trabalho humano às máquinas foi um fator

contribuinte para a Revolução Industrial.

Desde então, o desenvolvimento não tem sido constante, mas

confia-se fortemente na mecanização e automação para elevar a produtividade e

desenvolver a força humana efetivamente (FROST, 2003).

Segundo Limongi-França (2004), o melhor caminho para alcançar a

produtividade é planejar áreas de trabalho de forma que os trabalhadores não

tenham que alcançar objetos e se deslocar além de certos limites, pois se as

limitações e capacidades do homem forem respeitadas na sua atividade de

trabalho, isso proporcionará um desempenho mais criativo, mais inteligente e,

portanto, mais eficiente.

Sampaio (2005) evidencia a importância do homem na produtividade

e na produção, porque a automação, know–how, instalações e programações

representam investimentos fáceis de obter por processos comerciais; o homem,

todavia, precisa ser tratado como na verdade é, na condição de igualdade,

possuindo predicados próprios e condições intrínsecas para sua vivência. Será,

portanto, muito difícil modificá-las, e bem mais fácil, conduzi-las.

Frost (2003, p.12) classifica os fatores que influenciam a

produtividade em dois grandes grupos: o dos relacionados ao “conteúdo do

trabalho” e o dos relacionados ao “contexto do trabalho”. Frost ainda afirma que:

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"A qualificação da mão-de-obra não influencia de modo

direto à produtividade, a despeito do menor nível de

instrução dos trabalhadores brasileiros, sugerindo que

produtividade advém mais dos métodos utilizados, do que da

execução do trabalho em si. Ao mesmo tempo, afirma que

algumas empresas nacionais têm atingido melhorias

expressivas de produtividade, utilizando a mão-de-obra hoje

disponível, a partir de treinamento e avanços

organizacionais" (FROST, 2003, p.18).

As duas afirmações, ainda que um pouco contraditórias,

demonstram a importância da qualificação do trabalhador, afinal, o que seriam os

métodos utilizados senão o modus operandi1 pelo qual o trabalho é desenvolvido,

ou sua execução por parte do trabalhador?

De acordo com Sampaio (2005), o aumento da produtividade pode

ser considerado através do capital e, ou do trabalho. Pelo capital, o aumento da

produtividade ocorre graças à aquisição de máquinas e equipamentos mais

produtivos. Por meio do trabalho, o aumento da produtividade é alcançado por

meio de técnicas de estudo de métodos de trabalho, que conseguem fazer com

que o operário produza mais, trabalhando e fatigando-se menos.

Segundo Limongi-França:

"A produtividade da força de trabalho terá de ser

considerada em simultaneidade com o equacionamento de

uma série de variáveis, tais como mercado, novas

aplicações tecnológicas, matéria-prima, mudanças

organizacionais, mudanças nos conteúdos dos cargos,

novas abordagens de mercado, facilidades e dificuldades de

mão-de-obra, competitividade, escassez de recursos

1 Modo de Operação.

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diversos, que impõem iniciativas criativas e inovadoras"

(LIMONGI-FRANÇA, 2004,p.17).

Um ambiente de trabalho agradável pode melhorar o relacionamento

interpessoal e a produtividade, assim como reduzir acidentes, doenças,

absenteísmo e rotatividade do pessoal, e por conseqüência elevar a qualidade de

vida no trabalho. Fazer do ambiente um local agradável para se trabalhar tornou-

se uma verdadeira obsessão para as empresas bem-sucedidas (CHIAVENATO,

2005).

Assim, afirma Sampaio (2005) que, com o aumento da

competitividade, a busca da satisfação dos clientes e a necessidade de melhorar

os processos internos fazem com que as organizações realizem uma análise de

seus procedimentos. Cada vez mais se destacam as preocupações dos governos,

empresários e sindicatos em melhorar a segurança, a saúde e as condições do

meio ambiente de trabalho.

Para realizar essas melhorias, é necessário um planejamento que

permita a participação da alta administração e dos colaboradores para encontrar

as soluções práticas e economicamente viáveis.

Drucker (2003) defende que organizações dediquem muita atenção

à saúde e ao bem-estar de todos os seus trabalhadores. Isso é fundamental,

particularmente nas organizações baseadas no conhecimento, pois é a

produtividade individual que torna produtivo o sistema.

Frost (2003) observa que os administradores brasileiros raramente

pensam em saúde e bem-estar. Destaca que uma saúde emocional precária

prejudica a vitalidade das relações e afeta diretamente o desempenho das

pessoas.

E, ainda este mesmo autor coloca que:

"Como é possível obter desempenho no trabalho quando

não existe um sentimento de bem-estar consigo ou com a

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empresa? Conclui que ambientes de trabalho tóxicos

inevitavelmente reduzem o desempenho e afetam a

produtividade. Uma organização que se preocupa com a

saúde de sua força de trabalho descobrirá que isso tem

implicação direta nos funcionários, que servem seus clientes

com entusiasmo e lidam com problemas e oportunidades

com confiança e criatividade" (FROST, 2003, p.22).

Frost (2003) afirmam que a qualidade, de um modo geral, é um

importante fator de competitividade nas organizações. O planejamento para a

qualidade torna-se problemático, principalmente em função dos altos níveis de

rotatividade e absenteísmo da mão-de-obra.

Conforme Chiavenato (2005), a qualidade de vida no trabalho (QVT)

tem sido utilizada como indicador das experiências humanas no local de trabalho

e do grau de satisfação das pessoas que desempenham o trabalho, e isso implica

um profundo respeito pelas pessoas.

Todavia, para alcançar níveis elevados de qualidade e

produtividade, as organizações precisam de pessoas motivadas, que participem

ativamente nos trabalhos que executam e que sejam adequadamente

recompensadas pelas suas organizações. Dessa forma, a competitividade

organizacional e, obviamente, a qualidade e produtividade, passam

obrigatoriamente pela QVT.

A iniciativa de promover projetos visando à satisfação pessoal dos

colaboradores cresce cada vez mais no mercado de trabalho, de microempresas

a grandes corporações multinacionais. Num futuro próximo, o que diferenciará

uma empresa da outra, será a qualidade de vida de seus colaboradores, bem

como o clima que predomina no local de trabalho, diminuindo a importância do

tamanho da empresa e ressaltando a produtividade e a qualidade, resultantes do

bem-estar organizacional (LIMONGI-FRANÇA, 2004).

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As doenças crônicas têm um impacto significativo na produtividade e

aumentam os custos de assistência médica. Antigamente, acreditava-se que a

perda na produtividade estava associada somente às faltas ao trabalho. Sabe-se,

atualmente, que isso também acontece quando se comparece ao trabalho com

algum problema de saúde. Todos já sentiram pessoalmente as dificuldades de se

manter o ritmo normal de trabalho quando se está com algum problema de saúde.

(FROST, 2003).

De acordo com Frost (2003), podem-se aceitar basicamente dois

conceitos de presenteísmo:

"O primeiro que envolve uma visão em saúde ocupacional,

utilizado particularmente na Europa, que reflete a propensão

do trabalhador em permanecer trabalhando, mesmo doente,

havendo uma relação com a organização e as condições de

trabalho. O segundo mais utilizado nos Estados Unidos, é

resumido por Larry Chapman como a extensão (mensurável)

em que os sintomas, condições e doenças afetam

negativamente a produtividade no trabalho de pessoas que

decidem permanecer no trabalho. Desse modo, essa visão

tem caráter individual, e visa abordar cada situação visando

à melhoria da produtividade, analisando as condições de

saúde relacionadas ao presenteísmo, mas não se devem

deixar de avaliar as questões básicas relacionadas à

estrutura, à organização do trabalho e às relações

interpessoais" (FROST, 2003).

Frost (2003) coloca que há uma década, os autores Kaplan e

Norton, definiram o Balanced Scorecard2 como uma ferramenta para avaliar o

2 É uma técnica que visa a integração e balanceamento de todos os principais indicadores de desempenho existentes em uma empresa, desde os financeiros/administrativos até os relativos aos processos internos, estabelecendo objetivos da qualidade (indicadores) para funções e níveis relevantes dentro da organização, ou seja, desdobramento dos indicadores corporativos em setores, com metas claramente definidas.

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desempenho da empresa em consonância com a missão, visão e valores. Os

autores propuseram quatro perspectivas: financeira, cliente, processos internos e

pessoas. Nesse quarto critério, que efetivamente é por onde se deve começar,

consta algo como qualidade de vida no trabalho.

É muito provável que funcionários motivados, capacitados e bem

remunerados, passem a ter um desempenho acima da média, reduzindo custo,

apresentando melhores soluções aos clientes e gerando como desdobramento

maior vitalidade financeira, que, mais do que nunca, pode significar a

sobrevivência da empresa (FROST, 2003).

A duração da jornada de trabalho, a carga horária semanal de

trabalho, as pausas e os intervalos têm relação direta com a segurança e a saúde

do trabalhador. Uma jornada excessiva de trabalho provoca um desgaste físico

muito maior, o que por si só é um fator de predisposição a uma série de doenças.

As fadigas física e psíquica levam, ainda, a um aumento da

ocorrência de acidentes de trabalho.

Por outro lado, quanto mais longa a jornada de trabalho, tanto maior

será a exposição do trabalhador aos agentes agressivos que podem estar

presentes no ambiente de trabalho, aumentando, assim, a probabilidade do

aparecimento de doenças profissionais.

De acordo com a Secretaria de Educação Física e Desportos:

"As pausas e intervalos durante a jornada de trabalho, o

intervalo entre uma jornada e outra e o repouso semanal

remunerado, são muito importantes para todas as

ocupações, mas são particularmente necessários nas

atividades e operações que se faz, muitas vezes, pelo

estabelecimento de pausas programadas durante a jornada

de trabalho e também através da adoção de um ritmo de

trabalho compatível com a capacidade humana" (BRASIL,

1991).

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Todavia, para se alcançar melhoria e aumento da produtividade

pessoal e da organização, devem-se investir no potencial humano, por meio de

programas que visem à melhoria da qualidade de vida no trabalho (QVT),

incluindo os benefícios tanto para os colaboradores quanto para a empresa.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os principais fatores que fundamentaram esta conclusão foram

identificados pela falta de atividade física regular, por apresentarem baixa

frequência de lazer e por adotarem uma alimentação inadequada. Por outro lado,

foram classificados como favoráveis apenas os fatores ligados a relacionamento

familiar e social.

Apesar da predominância dos fatores desfavoráveis que vem

propiciando um baixo nível de estresse na maioria destes profissionais, ficou

evidenciado que o status e a responsabilidade da profissão, à necessidade do

emprego em vista do cenário de crise econômica, participam como contrapontos

favoráveis, provocando um retardamento de um provável agravamento da

condição de saúde desses motoristas. Isto fica mais evidente considerando que

uma parcela menor destes profissionais já apresenta níveis de estresse

moderado, sinalizando de forma preocupante um avanço dos efeitos nocivos

deste mal.

Outro aspecto importante constante a considerar é que apesar de

baixo o nível de estresse, o nível de vulnerabilidade é moderado, tornando-se um

fator preocupante, podendo agravar caso não sejam tomadas medidas rápidas

que possam reverter esse quadro.

No que se refere a qualidade de vida, foram apresentados aspectos

moderadamente favorável ao quadrante profissional e extremamente desfavorável

quanto ao quadrante saúde. As razões dos aspectos favoráveis foram justificadas

pela existência de um bom convívio social e familiar. Quanto aos aspectos

moderados do quadrante profissional, muitos se consideram satisfeitos

profissionalmente.

No tocante a saúde, esta se mostrou desfavorável, ficou

caracterizado a não adoção de ações preventivas, conduta esta que poderia

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contribuir para redução ou eliminação de estresse em longo prazo. De fato,

percebe-se há preocupação desses profissionais com relação a este aspecto,

porém ficou evidenciado que na verdade, muitos não adotam práticas da

prevenção de doenças e melhoras a saúde e a qualidade de vida. Isso mostra

que ao afirmar que a saúde está associada especificamente à ausência da

doença, e não ao equilíbrio do bem estar físico, mental ou social.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO ............................................................................................ 1

RESUMO............................................................................................................ 2

METODOLOGIA ................................................................................................. 3

SUMÁRIO........................................................................................................... 4

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 5

CAPÍTULO I

ORIGEM E EVOLUÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO ............... 7

1.1 – Origem do conceito de trabalho ................................................................ 7

1.2 – O trabalho e sua história ........................................................................... 8

1.3 – Conceituando qualidade de vida ............................................................. 13

1.3.1 - Evolução da qualidade de vida nas organizações ................................ 15

1.3.2 - Efeitos da QVT no ambiente de trabalho .............................................. 17

CAPÍTULO II

ESTRESSE ...................................................................................................... 19

2.1 - Definição de estresse ............................................................................... 19

2.2 – Causas do estresse ................................................................................. 22

2.3 – As fases do estresse ............................................................................... 26

2.4 - Estresse ocupacional ............................................................................... 29

CAPÍTULO III

QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO DO MOTORISTA DE

TRANSPORTE COLETIVO URBANO ............................................................. 35

3.1 - O Sistema de Transporte Coletivo ........................................................... 35

3.2 - Profissão de motorista.............................................................................. 39

3.3 – Qualidade de vida no trabalho relacionada à saúde ............................... 42

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3.4 – Produtividade da mão-de-obra X QVT .................................................... 44

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 51

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ....................................................................... 53

ÍNDICE ............................................................................................................. 58

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

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