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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM O PROCEDIMENTO LICITATÓRIO SIMPLIFICADO DA PETROBRAS Por: Guiller Ecar Lacerda Orientador Professor Francis Rajzman Rio de Janeiro 2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Por: Guiller Ecar Lacerda . 3 AGRADECIMENTOS Aos professores, pelos conhecimentos compartilhados, aos colegas da turma,

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

O PROCEDIMENTO LICITATÓRIO SIMPLIFICADO DA

PETROBRAS

Por: Guiller Ecar Lacerda

Orientador

Professor Francis Rajzman

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

O PROCEDIMENTO LICITATÓRIO SIMPLIFICADO DA

PETROBRAS

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direiro Público

e Tributário.

Por: Guiller Ecar Lacerda

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AGRADECIMENTOS

Aos professores, pelos conhecimentos

compartilhados, aos colegas da turma,

por todo o apoio e a toda miinha

família.

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DEDICATÓRIA

À minha mãe por sempre estar ao meu

lado, à minha grande companheira e

eterna namorada Isabel e aos meus filhos

Arthur e Vinícius.

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RESUMO

O procedimento licitatório descrito no ordenamento brasileiro, criado

com a finalidade da obtenção da proposta mais vantajosa para a

Administração e fundado em princípios como da publicidade, moralidade e

igualdade entre os licitantes, traz bastantes desvantagens quando inserido em

um ambiente competitivo em que empresas públicas concorrem com empresas

privadas, ferindo assim o princípio constitucional da Livre Concorrência que

guia a Ordem Econômica nacional. Em face disso e objetivando dar maior

celeridade ao procedimento, além de possibilitar maior liberdade de

negociação, foi promulgado o Decreto n° 2.745/1993 que regulamentou o

Procedimento Licitatório Simplificado da Petrobras. Contudo tal procedimento

simplificado diverge bastante do descrito na lei 8666/93, sendo por isso

importante o seu estudo visando apresentar suas principais diferenças e

analisar sua constitucionalidade.

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METODOLOGIA

Para o desenvolvimento do tema aqui abordado será analisado todo o

histórico das leis relacionadas ao petróleo, as diferenças e semelhanças entre

a Lei das Licitações nº 8.666/93 e o Procedimento Licitatório Simplificado da

Petrobras, bem como os entendimentos dos tribunais a respeito do tema.

Trata-se de uma pesquisa aplicada tendo em vista a geração de

conhecimentos sobre as licitaçãoes da Petrobras.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Histórico da Legislação do Petróleo 09

CAPÍTULO II - Sociedades de Economia Mista e

as Licitações 14

CAPÍTULO III – Procedimento Licitatório Simplificado

da Petrobras 20

CAPÍTULO IV – Constitucionalidade do

Procedimento Licitatório

Simplificado 25

CONCLUSÃO 35

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 36

ÍNDICE 39

FOLHA DE AVALIAÇÃO 40

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INTRODUÇÃO

O procedimento licitatório descrito no ordenamento brasileiro, criado

com a finalidade da obtenção da proposta mais vantajosa para a

Administração e fundado em princípios como da publicidade, moralidade e

igualdade entre os licitantes, traz bastantes desvantagens quando inserido em

um ambiente competitivo em que empresas públicas concorrem com empresas

privadas, ferindo assim o princípio constitucional da Livre Concorrência que

guia a Ordem Econômica nacional. Em face disso e objetivando dar maior

celeridade ao procedimento, além de possibilitar maior liberdade de

negociação, foi promulgado o Decreto n° 2.745/1993 que regulamentou o

Procedimento Licitatório Simplificado da Petrobras.

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CAPÍTULO I

HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO DO PETRÓLEO

O petróleo (do latim petroleum, petrus, pedra e oleum, óleo) é um

recurso natural formado por uma combinação complexa de hidrocarbonetos.

As primeiras pesquisas e sondagens em território nacional datam de 1892,

sendo todas as explorações ocorridas sob o regime da livre iniciativa. Em 1938

foi iniciada a nacionalização das riquezas do subsolo, inclusive com a criação

do Conselho Nacional do Petróleo. Já em 1953, apoiado por diversos partidos

políticos e atendendo aos anseios da população, o Presidente Getúlio Vargas

promulgou a Lei n° 2.004, que decorreu de grande debate democrático e do

forte sentimento nacionalista existente na sociedade brasileira da época.

A lei federal nº. 2.004 de 1953 em seu artigo 1º estabeleceu o

monopólio da União em relação à pesquisa, lavra, refinação, transporte

marítimo e por meio de condutos, a exploração de petróleo bruto e outros

hidrocarbonetos fluidos e gases raros, tornando todas as atividades acima

relacionadas privativas da empresa criada para este fim, a Petróleo Brasileiro

S/A – PETROBRÁS, conforme descrito nos artigos 5° e 6° da referida lei, que

respectivamente criaram e estabeleceram o objetivo da então nova empresa.

Neste período somente foi destinado às empresas privadas a venda à varejo e

o transporte de produtos já industrializados, sendo igualmente deixado de fora

do monopólio da União as refinarias e as concessões de oleoduto privadas que

já existiam antes da lei. A promulgação da Constituição Federal de 1988, em

seu artigo 177, reforçou o monopólio da União quanto às atividades

relacionadas à pesquisa, exploração, produção, transporte, refino, importação

e exportação de petróleo bruto, seus derivados e gás natural de qualquer

origem, conforme incisos I a IV do referido artigo.

Em 1995, em meio ao Programa Nacional de Desestatização, foi

promulgada a Emenda Constitucional n° 9 em 10 de novembro de 1995,

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inserindo nova redação ao § 1° do artigo 177, que passou a vigorar com o

seguinte texto legal:

Art. 177 - Constituem monopólio da União:

I - a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás natural e outros

hidrocarbonetos fluidos;

II - a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro;

III - a importação e exportação dos produtos e derivados básicos

resultantes das atividades previstas nos incisos anteriores;

IV - o transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de

derivados básicos de petróleo produzidos no País, bem assim o

transporte, por meio de conduto, de petróleo bruto, seus derivados e

gás natural de qualquer origem;

V - a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a

industrialização e o comércio de minérios e minerais nucleares e

seus derivados.

§ 1º - A União poderá contratar com empresas estatais ou privadas

a realização das atividades previstas nos incisos I e II deste artigo,

observadas as condições estabelecidas em lei.

§ 2º - A lei que se refere o § 1º disporá sobre:

I - a garantia do fornecimento dos derivados de petróleo em todo o

território nacional;

II - as condições de contratação;

III - a estrutura e atribuições do órgão regulador do monopólio da

Uniãoncisos I e II deste artigo, observadas as condições

estabelecidas em lei.

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Desse modo, em vistas do que solicitava a Carta Magna, foi

promulgada em 06 de agosto de 1997 a lei nº. 9.478, que dispôs sobre a

política energética nacional e as atividades relativas ao petróleo. A referida lei

criou o CNPE – Conselho Nacional de Política Energética, que de acordo com

o artigo 2º promoveria o aproveitamento racional dos recursos energéticos do

país, e a ANP – Agência Nacional do Petróleo, órgão regulador da indústria do

petróleo, vinculado ao Ministério de Minas e Energia.

De acordo com os termos da lei, a exploração e produção de petróleo

e gás natural, anteriormente monopólios da União, passaram a ser realizados,

através de contratos de concessão, por empresas que atendam aos requisitos

técnicos, econômicos e jurídicos estabelecidos pela ANP. As atividades de

refino, transporte, importação e exportação do petróleo e processamento de

gás natural continuaram a ser estabelecidos como monopólio da União,

contudo a lei permite a realização destas atividades, mediante concessão ou

autorização, por empresas com sede e administração no Brasil, estabelecidas

sob as leis brasileiras. Ficaram reservados à Petrobras os direitos sobre cada

um dos campos que já se encontravam em efetiva produção na data da

vigência da referida lei e os blocos onde ela tenha realizado descobertas

comerciais ou promovido investimentos na exploração, conforme pode ser

verificado nos artigos 32 e 33 da lei 9.478/1997.

A partir de então, diversas empresas passaram a participar de leilões

de concessão para a exploração de blocos em que exista a oportunidade de

exploração e produção de petróleo, gás natural e seus derivados. Assim como

houve aquisição de blocos unicamente por empresas estrangeiras, em alguns

casos são formados consórcios entre diversas empresas, incluindo a

Petrobras, para a exploração dos blocos, de acordo com a quota de

participação no consórcio. Atualmente, 72 empresas exploram petróleo no

Brasil, sendo 36 delas brasileiras.

A Emenda Constitucional n° 19, de 4 de junho de 1998, ao alterar o

teor do § 1° do artigo 173, trouxe novas mudanças para a Petrobras ao

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estabelecer que as Sociedades de Economia Mista, exploradoras de atividade

econômica (no caso, a exploração e produção de petróleo e derivados),

deveriam se sujeitar ao regime jurídico próprio das empresas privadas,

incluindo as obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributárias.

Esta alteração acabou por equiparar a Petrobras às empresas

privadas, em situação isonômica quando no exercício de atividade econômica,

inclusive quanto ao princípio da livre concorrência, norteador da ordem

econômica, previsto no artigo 170, IV da Carta Constitucional. A partir de

então, a referida empresa passou a atuar como agente econômico de mercado

com atuação empresarial plena.

Contudo, a mesma Emenda Constitucional que sujeitou a Petrobras ao

regime jurídico próprio das empresas privadas, determinou também que as

licitações e contratações de obras, serviços, compras e alienações, seriam

realizadas desde que sujeitas aos princípios da Administração Pública (artigo

170, § 1°, III da Carta Constitucional). Desse modo, a Petrobras tornou-se uma

empresa sujeita ao regime jurídico as empresas privadas, ao princípio da livre

concorrência, ao procedimento das licitações para a realização de suas

contratações e aos Princípios da Administração Pública, tais como a

Impessoalidade e a Publicidade.

Objetivando prover de maior celeridade e dinamismo o procedimento

de contratação de bens e serviços pela Petrobras, respeitado o princípio da

livre concorrência e do dever de licitar, e para que as novas determinações não

impactassem no exercício de sua atividade econômica, já que o setor de

exploração e produção de petróleo tem a característica de ser extremamente

competitivo, foi promulgado em 24 de agosto de 1998 o Decreto n° 2.745, que

estabeleceu o Regulamento do Procedimento Licitatório Simplificado da

Petrobras.

A base jurídica para a edição de tal procedimento, encontra-se

estabelecido no artigo 67 da lei n° 9.478 de 1997, que determinou:

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Art. 67 - Os contratos celebrados pela PETROBRÁS, para aquisição

de bens e serviços, serão precedidos de procedimento licitatório

simplificado, a ser definido em decreto do Presidente da República.

Tal procedimento simplificado trouxe muitas divergências quanto ao

mesmo ser ou não inconstitucional, já que o artigo 173, § 1° da Constituição

Federal determinou que tal procedimento devesse ter sido criado através de

lei, e não de Decreto, como é o presente caso. Esse assunto será melhor

trabalhado em um capítulo próprio.

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CAPÍTULO II

SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA E AS LICITAÇÕES

Hely Lopes Meirelles, em sua obra Direito Administrativo Brasileiro,

assim definiu as Sociedades de Economia Mista:

Pessoa jurídica de Direito Privado, com participação do Poder

Público e de particulares em seu capital e na sua administração, para

a realização de atividade econômica ou serviço público outorgado

pelo Estado. (35ª edição, 2009, p. 373).

É aquela entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado,

criada por lei para a exploração de atividade econômica, sob a forma de

sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua maioria

à União ou a entidade da Administração Indireta, conforme descrito no artigo

5° do Decreto-lei 200/1967. As Sociedades de Economia Mista podem ser

classificadas de dois modos, de acordo com seu ramo de atuação: aquelas

que exercem serviços públicos, com atuação ampla e sujeitando-se aos

preceitos do artigo 175 da Constituição Federal; ou aquelas que exercem

atividade econômica, próprias da iniciativa privada, revestindo a forma de

empresas particulares e admitindo lucro, sujeitando-se aos preceitos

estabelecidos no artigo 173 da Constituição Federal.

Para aquelas que exercem atividade econômica, a Constituição

Federal prevê que seja criada lei onde se estabelecerá o Estatuto Jurídico das

Empresas Públicas, Sociedades de Economia Mista e suas Subsidiárias, que

também conterá normas específicas de licitação e contratação de bens e

serviços para tais tipos de empresas. Atualmente, existe no congresso nacional

o Projeto de Lei Complementar nº 238 de 2009 obejtivando regulamentar o

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artigo 173, § 1° da Constituição Federal e instituir o chamado Estatuto das

Estatais. No projeto de lei está previsto dispor sobre o regime societário das

empresas públicas e sociedades de economia mista; a função social da

empresa pública e da sociedade de economia mista e sua fiscalização pelo

Estado e pela sociedade; e toda a parte de licitações e contratos, incluindo as

fases da licitação, modalidades de licitação, inexigibilidade e dispensa. Como o

texto do referido projeto de lei complementar ainda passará por diuscussão

tanto na câmara dos deputados quanto no senado, com possíveis alterações

nos seus artigos, não iremos analisá-lo.

Assim, até seja aprovado o projeto de lei complementar

implementando o Estatuto das Estatais, as Sociedades de Economia Mista

continuam sujeitas às regras gerais estabelecidas pela Lei n° 8.666 de 21 de

junho de 1993, conforme descrito no artigo 37, XXI da Constituição Federal e

no parágrafo único do artigo 1° da lei 8.666/1993, que estabelece

expressamente que as Sociedades de Economia Mista subordinam-se ao

regime de licitações regulado pela referida lei. Vale ressaltar que tal regime é

rigoroso, formalista e burocrático, o que contraria os princípios norteadores da

ordem econômica, aos quais também estão sujeitos as Sociedades de

Economia Mista exploradoras de atividade econômica.

A lei 8.666, em seu art. 22, estabelece cinco modalidades de licitação,

que são a concorrência, a tomada de preços, o convite, o concurso e o leilão.

O que define quando uma ou outra será utilizada depende do valor da licitação

a ser realizada, o objeto da mesma e até o modo pela qual será realizada.

Além desses cinco modelos, a Medida Provisória n.º 2.026, de 04 de maio de

2000 e regulamentada pelo Decreto n.º 3.555, de 08 de agosto de 2000,

instituiu uma nova modalidade, o pregão.

A concorrência é uma modalidade de licitação utilizada para

contratações de grande valor, onde não se exige o prévio cadastro dos

interessados, desde que satisfaçam as condições prescritas pelo edital,

contando a partir de então com o prazo mínimo de 45 dias até o recebimento

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das propostas, nos casos em que contrato a ser celebrado contemplar o

regime de empreitada integral ou quando a licitação for do tipo melhor técnica

ou técnica e preço, ou no prazo mínimo de 30 dias nos demais casos. Desse

modo, a concorrência é realizada com bastante publicidade, para que seja

assegurada a participação de qualquer interessado que atenda às condições

do edital. Será obrigatória a utilização da concorrência nas licitações

internacionais, concessões de direito real de uso, serviço ou obra pública,

compra de bens imóveis e alienações de bens imóveis para as quais não tenha

sido adotada a modalidade leilão, ressalvadas algumas exceções previstas em

lei.

Na tomada de preços, deverá existir um prévio cadastro dos

interessados ou então os interessados deverão cumprir todas as condições

exigidas para o cadastramento até o terceiro dia anterior à data do

recebimento das propostas, desde que verificada a necessária qualificação, e

é utilizada em licitações com valor estimado imediatamente inferior aos

estabelecidos para concorrência. Seu objetivo é tornar o processo licitatório

mais rápido e sumário, tendo um prazo de 30 dias quando a licitação for do

tipo melhor técnica ou técnica e preço, e de 15 dias em todos os demais casos.

É utilizada nas contratações de obras, serviços e compras dentro dos limites

de valor estabelecidos em lei, podendo ser utilizadas nas licitações

internacionais, quando o órgão ou entidade licitante possuir cadastro

internacional de fornecedores.

O convite é o modelo mais simples de licitação, utilizado nas

contratações de pequeno valor, em que o objeto não tenha maiores

complexidades, onde os interessados são do ramo pertinente à licitação,

podendo ser cadastrados ou não, sendo escolhidos e convidados em no

mínimo três pela unidade administrativa. Sua convocação é feita por escrito,

através de cartas-convite, obedecendo a uma antecedência legal de cinco dias

úteis. Assim, o convite pode ser considerado a única modalidade de licitação

onde não é obrigatória a utilização de edital. Um ponto importante a ser

considerado é que a lei veda que se utilize o convite ou a tomada de preços

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para parcelas de uma mesma obra ou serviço, ou para obras e serviços da

mesma natureza e no mesmo local, que possam ser realizados conjunta e

concomitantemente, sempre que o somatório de seus valores caracterizarem o

caso de tomada de preços ou concorrência, respectivamente.

O concurso é a modalidade de licitação utilizada para escolha de

trabalhos técnicos, científicos ou artísticos, instituindo-se prêmio ou

remuneração para os vencedores, de acordo com os critérios estabelecidos no

edital divulgado na imprensa oficial. Nesta modalidade podem participar

quaisquer interessados no objeto da licitação. Normalmente é utilizado para

projetos onde a preferência é pela melhor técnica, e não pelo melhor preço.

O leilão é utilizado para a alienação de bens imóveis que foram

adquiridos através de procedimento judicial ou dação em pagamento, e ou de

bens móveis inservíveis para a Administração ou ainda legalmente

apreendidos ou penhorados pela mesma, a quem oferecer o maior lance, igual

ou superior ao valor da avaliação. O edital do leilão deve descrever os bens de

forma que possam ser bem identificados pelos interessados, que não

necessitam estar previamente cadastrados.

O pregão é a modalidade de licitação destinada à aquisição de bens e

serviços comuns promovida exclusivamente no âmbito da União, qualquer que

seja o valor estimado da contratação, em que a disputa pelo fornecimento é

feita por meio de propostas e lances em sessão pública. Como o pregão

somente poder ser promovido no âmbito da Administração Pública Federal,

não iremos discorrer mais sobre o mesmo.

Nas licitações existem três critérios para o julgamento das propostas:

o melhor preço, a melhor técnica e o melhor preço e técnica. No menor preço

o objetivo é a vantagem econômica na obtenção da obra, serviço ou compra,

sendo o objeto de rotina, a técnica uniforme e a qualidade padronizada. O

melhor técnica é utilizado para obras, serviços ou fornecimentos de alta

complexidade e especialização. Já o melhor preço e técnica combina os dois

critérios anteriores, devendo-se escolher a proposta mais vantajosa

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economicamente, mas segundo critérios mínimos de técnica exigidos no

edital.

Segundo a Decisão Normativa n° 29 do Tribunal de Contas da União,

publicado em 18 de março de 2009, existem pelo menos 23 Sociedades de

Economia Mista com administração pela União, atuando nos mais diversos

setores e vinculadas a diferentes Ministérios como o da Saúde (Hospital

Fêmina, entre outros), Minas e Energias (Eletrobras, Petrobrás, Furnas, entre

outros), Fazenda (Banco do Brasil, Banco do Nordeste, etc.), Ciência e

Tecnologia (INB), Agricultura (CEASA/MG, entre outros), Cidades (CBTU, etc.)

e inclusive à própria Presidência da República, como a Companhia Docas do

Pará, por exemplo.

Basicamente, a grande maioria das Sociedades de Economia Mista

segue os ditames da lei 8.666 de 1993, sem qualquer tipo de regulamento

próprio para operacionalizar e disciplinar o modo como são realizadas as

licitações em cada empresa, sendo apenas relevante comentar como são ou

serão realizadas as licitações em duas empresas: o Banco do Brasil e a

Eletrobrás.

O Banco do Brasil tem seu próprio regulamento que disciplina o modo

como a empresa realiza seus procedimentos licitatórios: o Regulamento de

Licitações do Banco do Brasil, publicado pelo Diário Oficial no dia 24 de junho

de 1996. Como o próprio regulamento diz em seu artigo 48, todo o

regulamento segue as diretrizes da lei 8.666/1993 em conformidade com os

preceitos constitucionais.

A única empresa que tem um tratamento diferenciado em relação aos

seus procedimentos licitatórios do mesmo modo que a Petrobrás é a

Eletrobrás. No dia 28 de maio de 2009 foi publicada a lei n°. 11.943, que entre

várias providências incluiu o § 2° na Lei n°. 3.890-A, de 25 de abril de 1961,

autorizando a criação de um procedimento licitatório simplificado por tal

empresa, que deverá ser definido em decreto do Presidente da República. Até

a realização deste trabalho, tal regulamento ainda não foi publicado, não sendo

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ainda possível compará-lo com o único hoje existente na legislação brasileira,

o Procedimento Licitatório Simplificado da Petrobrás, que será melhor

detalhado no próximo capítulo.

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CAPÍTULO III

PROCEDIMENTO LICITATÓRIO SIMPLIFICADO DA

PETROBRAS

O chamado Procedimento Licitatório Simplificado da Petrobras está

descrito no Regulamento anexo ao Decreto n° 2745/1998. Toda a estrutura de

tal procedimento está baseada nos moldes da lei 8.666 de 1993 respeitando

também os princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade,

moralidade, publicidade e eficiência, que norteiam todos os atos da

Administração. Como será verificado pormenorizadamente, as principais

mudanças deste procedimento em relação ao descrito na Lei das Licitações,

está na real simplificação de todo o procedimento, inclusão de algumas

hipóteses de inexigibilidade e dispensa, e também os critérios de escolha da

modalidade de licitação a ser utilizado. O procedimento também inova ao

trazer como balizadores das compras realizadas pela Petrobrás o princípio da

padronização impondo compatibilidade das especificações técnicas entre os

equipamentos e materiais licitados, a definição das unidades e quantidades

adquiridas sempre em função do provável consumo ou utilização e buscando

sempre condições de aquisição e pagamento semelhante às do setor privado.

No procedimento simplificado foram mantidas as cinco modalidades

de licitação já existentes. A concorrência teve seu período para publicação de

avisos unificada em 30 dias anteriores ao recebimento da proposta, tendo a

característica de também poder ser utilizada nos casos em que deveria ser

utilizada a modalidade convite, caso o titular da unidade administrativa julgar

conveniente. Na tomada de preços, não permaneceu a obrigação de se aceitar

quem demonstrar o interesse na licitação até o terceiro dia anterior ao

recebimento das propostas, permanecendo a necessidade de publicação de

aviso de edital, sendo porém o período único de 15 dias para qualquer caso.

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No convite não existe a obrigatoriedade de estender a licitação para demais

cadastrados interessados, somente participando da licitação quem for

convidado, sendo no mínimo de três. Já nas modalidades de concurso e leilão

não existem mudanças significativas em relação à lei 8.666/1993. Podemos

dizer que no tocante às modalidades de licitação, a diferença mais importante

é que o Procedimento Licitatório Simplificado não determina a escolha da

modalidade de licitação de acordo com o valor limite da contratação. Assim,

fora nos casos específicos onde o procedimento diz qual modalidade usar,

como no caso das alienações de imóveis em que somente poderá ser utilizada

a modalidade concorrência, em todos os demais casos poderá ser utilizado

discricionariamente a modalidade de licitação mais conveniente às

necessidades da Petrobras, observando-se os fatores e situações descritas no

item 3.3 do procedimento ora em estudo, que dentre outros podemos destacar

os seguintes: satisfação de prazos, peculiaridades da atividade e do mercado

de petróleo, busca de padrões internacionais de qualidade e aumento de

eficiência; além de velocidade de decisão, eficiência e presteza da operação

industrial.

Quanto às situações que ensejam a dispensa da licitação, o

procedimento da Petrobras tem um número reduzido em relação ao da Lei

8.666/1993. Enquanto a lei especifica 24 situações, o referido procedimento

traz apenas 11, contudo focadas no negócio da Petrobras. Os casos de

dispensa de licitação são aquelas circunstâncias especiais que originariamente

seriam objeto de licitação, contudo previsões legais facultam a utilização do

mecanismo licitatório. Alguns casos específicos de dispensa de licitação no

Procedimento Licitatório Simplificado da Petrobras são: em caso de

emergência, não estando previsto o prazo máximo de 180 dias para a

conclusão da obra ou serviço e tampouco a proibição de prorrogação do

referido prazo como previsto na lei 8666/1993; quando a contratação envolver

controladas ou subsidiárias da Petrobrás, com preços compatíveis com o do

mercado; quando a contratação envolver pessoas jurídicas de direito público

interno, sociedades de economia mista, empresas públicas e fundações, desde

que não existam empresas privadas que podem realizar ou fornecer os

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mesmos bens e serviços; aquisição de bens padronizados, onde não existe a

necessidade de engenharia na contratação; e na contratação de

remanescentes de obras, não estando mais restrita à ordem de classificação

da licitação originária sendo admitida ampla consulta ao mercado.

Já no tocante às situações que levam à inexigibilidade da situação,

enquanto a lei tem 03 situações que levam à inexigibilidade da licitação, o

procedimento licitatório simplificado traz 12 casos onde a licitação não é

exigível. O instituto da inexigibilidade da licitação ocorre em circunstâncias

especiais previstas em lei e verificadas no caso concreto, que impossibilitam a

competição não sendo possível a realização da licitação. A justificativa para

que existam mais casos de inexigibilidade no procedimento licitatório

simplificado, está no fato da Petrobras estar inserida em um ambiente de alta

competitividade, além de situações de caráter técnico, que dentre outros serão

verificados a seguir: contratação para patrocínio ou defesa de causas judiciais

ou administrativas; obtenção de licenciamento de software com o detentor dos

direitos autorais, desde não existam representantes comerciais; em ocasiões

de situações atípicas do mercado, onde a contratação dos bens ou serviços

por licitação não atender o princípio da economicidade, ou seja, a obtenção da

melhor proposta na relação custo-benefício; para a formação de parcerias e

consórcios para desempenho de alguma atividade fim da Petrobrás; e para a

compra de materiais ou equipamentos que possam ser fornecidos em caráter

exclusivo, sem preferência por marca, sendo neste caso necessária a

declaração de responsabilidade que caracterize a exclusividade, ou a condição

de único cadastrado, no caso de escolha da modalidade convite.

O procedimento realizado pela Petrobrás inicia-se com o registro

cadastral dos interessados em realizar serviços ou outros tipos de

fornecimento, onde é verificada a habilitação jurídica, capacidade técnica,

qualificação econômico-financeira e regularidade fiscal, para que seja expedido

o Certificado de Registro e Classificação, com validade de 12 meses. O

registro pode ser suspenso em caso de falta de cumprimento de condições

legais ou contratuais pela empresa, se a mesma tiver títulos protestados ou

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executados, tiver requerida a falência, ou no caso de apresentar desempenho

considerado insuficiente na execução de um contrato celebrado com a

Petrobrás, que será verificado através do Boletim de Avaliação de

Desempenho da empresa contratada; sendo que a empresa suspensa não

poderá celebrar contratos com a Petrobras, e para aquelas que estiverem com

contratos em curso, a Petrobras poderá pedir caução de garantia satisfatória.

O registro pode ser cancelado a requerimento do interessado, por prática de

qualquer ato ilícito, quando ocorrer declaração de inidoneidade da firma ou por

decretação de falência. Apesar de o regulamento prever o cadastro de

consórcios, o mesmo não pode ser realizado porque consórcio não é empresa

e não tem personalidade jurídica. Ainda no tocante aos consórcios apesar de

previsto, a Petrobrás não pode limitar o número de empresas que podem

participar dos mesmos, por ferir a liberdade de associação constitucional.

Durante o período do cadastramento, a Petrobrás poderá solicitar documentos

que comprovem a atual capacidade de operação da empresa, para ser

verificado se a empresa está consoante com as atualizações tecnológicas do

mercado.

O procedimento de licitação inicia-se com o titular de qualquer unidade

administrativa que indicará o objeto a ser licitado, o prazo de execução e os

recursos orçamentários previstos ou aprovados, sendo que a Comissão de

Licitação poderá solicitar quaisquer elementos adicionais para a elaboração do

edital ou carta-convite, e até mesmo devolver o pedido de licitação que não

contiver os elementos necessários. Para o edital de concorrência, dentre

outros deverá ser respeitado o princípio da igualdade entre os participantes e o

da publicidade e amplo acesso dos interessados, podendo ser dispensado às

empresas inscritas no Cadastro da Petrobras a apresentação dos documentos

necessários à habilitação. A tomada de preços será convocada por aviso, e

seu edital deverá conter, dentre outros itens, a informação de que só poderá

participar da licitação quem já estiver inscrito no registro de licitantes da

Petrobras. Já o convite será convocado através de carta expedida pelo

presidente da Comissão de Licitação ou por empregado especialmente

designado, às empresas indicadas no pedido de licitação, em número de três

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que atuem no ramo pertinente ao objeto e que estejam ou não inscritas no

registro cadastral de licitantes.

Durante o julgamento das propostas, sendo verificada igualdade

absoluta entre duas ou mais propostas, os licitantes empatados serão

convocados a apresentarem novas ofertas de preço, e se após for verificado

novo empate, a licitação será decidida no sorteio; contudo se o empate

envolver empresas nacionais e estrangeiras, as propostas dos licitantes

nacionais terão preferência sobre as internacionais. A grande novidade em

todo o procedimento licitatório simplificado é a possibilidade de que,

independente da modalidade de licitação adotada, e uma vez realizada a

classificação final, a Comissão de Licitação possa negociar diretamente com o

licitante com a proposta melhor classificada melhores condições de

fornecimento e que sejam mais vantajosas para a Petrobras, e depois

sucessivamente com as demais licitantes. Qualquer interessado que se sentir

prejudicado poderá utilizar de dois recursos, o Pedido de Reconsideração, que

deverá ser interposto perante a Comissão de Licitação, e o Recurso

Hierárquico, sendo realizado diretamente à autoridade superior; sendo que o

prazo para interposição de ambos é de 5 dias. Tanto no Pedido de

Reconsideração quanto no Recurso Hierárquico, a Comissão deverá decidir

sobre a questão no prazo de 3 dias.

O Regulamento do Procedimento Licitatório Simplificado da Petrobras

termina dispondo que assim que for editada a lei prevista no art 173, § 1° da

Constituição Federal, o procedimento em estudo deverá ser revisto naquilo que

conflitar com a nova lei. Assim, conclui-se que o procedimento simplificado irá

permanecer no ordenamento jurídico brasileiro mesmo quando da edição de

uma norma geral de licitações para as empresas estatais e, por conseguinte,

das sociedades de economia mista.

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CAPÍTULO IV

CONSTITUCIONALIDADE DO PROCEDIMENTO

LICITATÓRIO SIMPLIFICADO

A grande controvérsia gerada pela regulamentação do procedimento

licitatório simplificado gira em torno da constitucionalidade ou não do art. 67 da

Lei 9.478/1997 e consequentemente do Decreto 2.745/1998. Nesse tema não

temos corrente majoritárias, divergindo bastante a jurisprudência.

O Tribunal de Contas da União adotou postura pela

inconstitucionalidade de tal norma. Em diversos relatórios de auditoria que

geraram processos no referido tribunal, vemos um posicionamento direcionado

para a inconstitucionalidade do procedimento licitatório da Petrobras. O TCU

tem entendimento no sentido de que a Petrobras, assim como todas as

Sociedades de Economia Mista, deve seguir os preceitos da Lei 8.666/1993

até edição do estatuto previsto no art. 173, § 1° da Constituição Federal, que

dentre outros deverá dispor sobre as licitações das empresas públicas,

sociedades de economia mista e subsidiárias que explorem atividade

econômica. É também de entendimento por parte do TCU que a Constituição

Federal, dada a redação da EC 19/98, não recepcionou as disposições

contidas no art. 67 da Lei n. 9.478/97.

Afirmando que o decreto nº. 2.745/1998 é ilegal, em decorrência de

vício de incompetência devido à reserva legal, visto que a Constituição Federal

nos diz que os procedimentos licitatórios devem ser reguladas por lei,

enquanto que o procedimento da Petrobras foi regulamentado através de

Decreto. Assim, a Constituição do Brasil prevê a edição de uma lei de caráter

nacional que possibilitará a utilização de procedimento próprio, e

consequentemente mais ágil, de licitação pelas empresas públicas e

sociedades de economia mista exploradoras de atividades econômicas

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enquanto que o art. 67 da Lei 9.478/1997 é flagrantemente inconstitucional,

uma vez que delega a um decreto a regulação de matéria sujeita a expressa

reserva legal pela Constituição da República (art. 173, § 1º, III). Esses

argumentos podem ser verificados nas seguintes tomadas de contas do TCU:

TC n° 008.210/2004-7, TC 004.147/2004-3, TC 04.287/2004-4, TC n°

009.131/2003-7, dentre outras. Vale ressaltar que no julgamento das referidas

tomadas de contas, o TCU proclamou expressamente a inconstitucionalidade

da norma em estudo, revogando licitação objeto da tomada de conta, levando

a Petrobras a recorrer ao STF, através de Mandados de Segurança para que

seus procedimentos licitatórios pudessem dar prosseguimento sem prejuízos à

empresa.

O primeiro Mandado de Segurança foi o de número MS 25888 MC,

que teve como relator o Ministro Gilmar Mendes. Antes de entrar no mérito da

inconstitucionalidade da norma, o Ministro Relator posicionou-se contrário à

súmula 347, que permitia ao TCU declarar inconstitucionalidade de normas,

com o fundamento que a mesma foi revogada com a Constituição Federal de

1988, não tendo o TCU competência para declarar a inconstitucionalidade de

lei ou ato normativo. Em relação ao mérito, o Ministro Relator julgou como

sendo plausível o pedido liminar de revogação da decisão do TCU de

suspensão dos procedimentos realizados pela Petrobras devido às

conseqüências de ordem econômica e política que a empresa em questão

suportaria caso tivesse que cumprir imediatamente a decisão do TCU. O

Ministro Relator posicionou-se ainda a favor da utilização do procedimento

licitatório com base no seguinte fundamento:

A submissão legal da Petrobrás a um regime diferenciado de

licitação parece estar justificado pelo fato de que, com a relativização

do monopólio do petróleo trazida pela EC n° 9/95, a empresa passou

a exercer a atividade econômica de exploração do petróleo em

regime de livre competição com as empresas privadas

concessionárias da atividade, as quais, frise-se, não estão

submetidas às regras rígidas de licitação e contratação da Lei n°

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8.666/93. Lembre-se, nesse sentido, que a livre concorrência

pressupõe a igualdade de condições entre os concorrentes.

Após o MS 25888 MC, vários outros seguiram-se para julgamento no

STF, sempre com a mesma pretensão. Como exemplo, podemos citar o MS

25.986, Relator o Ministro Celso de Mello; MS 26.783, Relator o Ministro Marco

Aurélio; MS 26.410, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski; MS 27232

Relator o Ministro Eros Grau e MS 27796 MC Relator o Ministro Carlos Britto.

Em todos esses julgados os Ministros Relatores seguiram o entendimento do

Ministro Gilmar Mendes no MS 25888 MC, não havendo divergências no

julgamento de tais medidas de segurança.

Temos ainda o posicionamento da Advocacia Geral da União que em

seu parecer nº. AC – 15 tratou a respeito da aplicabilidade do procedimento

licitatório simplificado a subsidiárias da PETROBRÁS. Por força do § 1° do art.

40 da LC n° 73/93, a Petrobrás está obrigada a cumprir o Parecer AC-15, da

Advocacia-Geral da União, que conclui que:

5. Por outro lado, a inaplicação - por alegada inconstitucionalidade do

regime simplificado - a todo o Grupo Petrobrás, esbarra no respeito

ao princípio da presunção de constitucionalidade das leis e da

legalidade dos atos da administração até que sobrevenha decisão

judicial em contrário, sendo insuficiente a opinião do TCU a quem

cabe tão só julgar a regularidade das contas.

Neste mesmo parecer, a Advocacia Geral da União concluiu não só

pela aplicabilidade do procedimento licitatório simplificado, mas também pela

sua aplicação junto às subsidiárias da Petrobras, ainda que não sendo

expressamente descritas no Decreto n° 2.745/1998:

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4. Ora, para concluir que as subsidiárias não monopolistas ficariam à

margem do favor legal outorgado à empresa líder seria preciso ao

contrário, considerar que elas estariam então inteiramente

dispensadas do procedimento licitatório já que o tal favor se deu à

holding em razão do exercício do monopólio. Para dizer que as

empresas subsidiárias da Petrobrás, dedicadas ao comércio geral e

comum das empresas privadas e que não executam monopólio,

teriam de cumprir procedimento licitatório integral mesmo não sendo

empresas de economia mista e competindo no mercado aberto,

como sustenta a PGFN, seria necessário tê-las como integrando a

administração indireta. Ora, se ao princípio constitucional da licitação

(art. 37, c/c XXI, da CF) ficam sujeitas todas as entidades da

administração direta e indireta, ou bem as subsidiárias se acomodam

ao regime da empresa líder e integram a administração indireta por

extensão dela e podem se valer do favor legal em causa, ou bem

ficam dele inteiramente livres porque estariam fora da administração

indireta.

O que parece não derivar da adequada compreensão do sistema

constitucional de controle dos atos da administração é a ilação

despropositada de que as subsidiárias se sujeitam ao procedimento

licitatório pleno só porque a lei não as menciona quando defere o

regime simplificado à Petrobrás S/A que as controla.

Além disso, se ficarem submetidas ao controle externo do TCU (art.

71 II CF) sempre que, mesmo sem serem empresas estatais, delas

receberem bens, dinheiro ou valores públicos, a conclusão forçada é

que as subsidiárias terão seguir o regime da empresa líder, valendo

aí a expressão Petrobrás por referência ao grupo ou sistema

empresarial formalmente constituído. Ficassem elas isentas do

controle do TCU seriam, quem sabe, dispensadas de qualquer

procedimento licitatório mas nunca sujeitas ao procedimento

licitatório padrão. A lógica deste discurso afasta, assim, a objeção

fazendária e, por conseqüência, também a necessidade de Decreto

declaratório.

Em face de todas essas divergências, todos os olhos se voltam para o

julgamento do recurso extraordinário RE/441280 com Relator o Ministro

Menezes Direito, interposto com fundamento no art. 102, III, a e b, da CF, em

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que se discute a aplicação, ou não, à Petrobrás, do disposto no art. 1º,

parágrafo único, da Lei 8.666/1993. No mérito, o Ministro Relator Menezes

Direito, acompanhado pelo Ministro Ricardo Lewandowski, votaram pela

constitucionalidade da norma, com o argumento de que o constituinte visou

proteger a atividade dessas sociedades exploradoras de atividade econômica,

pondo-as sob o regime das empresas privadas, para garantir que mantivessem

o mesmo desempenho das demais empresas que atuam no mercado, de

modo a afastar qualquer mecanismo de proteção ou de privilégios. Nesse

sentido, aduziu que a submissão legal da Petrobrás a um regime diferenciado

de licitação estaria justificada pelo fato de que, com a relativização do

monopólio do petróleo trazida pela EC 9 de 1995, a empresa passou a exercer

a atividade econômica de exploração do petróleo em regime de livre

competição com as empresas privadas concessionárias da atividade, as quais

não estão submetidas às regras rígidas de licitação e contratação da Lei

8.666/1993.

Em sentido contrário, votaram o Ministro Carlos Britto e a Ministra

Cármen Lúcia, sendo que esta fundamentou sua decisão no sentido de que os

princípios constantes do art. 3º da Lei 8.666/1993 e as regras genéricas que

estruturam o instituto da licitação, aplicam-se indistintamente a todos os entes

integrantes da Administração Pública, seja direta ou indireta, não vislumbrando

obstáculo para que a Petrobras adotasse o processo licitatório; enquanto que

aquele decidiu com o fundamento de que o Decreto 2.745/1998 teria sido

publicado sem observar a imposição de reserva legal para tratamento do tema,

em decorrência disso, registrou que enquanto prevalecer essa anomalia

deveria incidir a Lei 8.666/1993 nos procedimentos licitatórios da Petrobras.

Assim, com o julgamento empatado em dois votos a dois, pediu vista aos autos

o Ministro Marco Aurélio, sendo que até a realização do presente trabalho o

STF ainda não havia chegado a uma decisão sobre o tema

Segue abaixo transcrito o até agora predominante entendimento do

STF, retirado do MS 25888 com decisão do Ministro Relator Gilmar Mendes:

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DECISÃO: Trata-se de mandado de segurança, com pedido de

medida liminar, impetrado pela Petróleo Brasileiro S.A. -

PETROBRÁS, contra ato do Tribunal de Contas da União,

consubstanciado em decisão que determinou à impetrante e seus

gestores que se abstenham de aplicar o Regulamento de

Procedimento Licitatório Simplificado, aprovado pelo Decreto n°

2.745, de 24/08/1998, do Exmo. Sr. Presidente da República. Consta

da petição inicial que o Tribunal de Contas da União, ao apreciar o

processo TC n° 008.210/2004-7 (Relatório de Auditoria), determinou

que a impetrante (Acórdão n° 1.498/2004): a) justifique, de modo

circunstanciado, a aplicação das sanções previstas no art. 87 da Lei

n° 8.666/93, garantindo prévia defesa da contratada e mantendo no

respectivo processo administrativo os documentos que evidenciem

tais procedimentos; b) obedeça ao estabelecido nos arts. 22 e 23 da

Lei n° 8.666/93 no que se refere às modalidades de licitação e seus

respectivos limites, tendo em vista o valor estimado de contratação

(fl. 48) . Contra essa decisão, a impetrante interpôs recurso de

reexame (fls. 98-105), alegando que seus procedimentos de

contratação não estariam regulados pela Lei n° 8.666/93, mas sim

pelo Regulamento de Procedimento Licitatório Simplificado aprovado

pelo Decreto n° 2.745/98, do Exmo. Sr. Presidente da República, o

qual possui lastro legal no art. 67 da Lei n° 9.478/97. Sustentou,

ainda, que o Parecer AC-15, da Advocacia-Geral da União, aprovado

pelo Exmo. Sr. Presidente da República, vinculante para a

administração pública federal, conclui que a Petrobrás e suas

subsidiárias devem se submeter às regras do citado Decreto n°

2.745/98. Ao analisar o pedido de reexame, o TCU negou-lhe

provimento (fls. 29-42), com base nos seguintes fundamentos

(Acórdão n° 1.767/2005): a) o Parecer da AGU vincula tão-somente

os órgãos do Poder Executivo, não se estendendo ao TCU; b) na

Decisão n° 633/2002 (fls. 121-177), o TCU já havia declarado a

inconstitucionalidade do art. 67 da Lei n° 9.478/97 e do Decreto n°

2.745/98, determinando que a Petrobrás observasse os ditames da

Lei n° 8.666/93; c) segundo a Súmula 347 do STF, "o Tribunal de

Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a

constitucionalidade das Leis e dos Atos do Poder Público". A

Petrobrás interpôs embargos de declaração, os quais não foram

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acolhidos pelo TCU (Acórdão n° 39/2006) (fls. 23-27). Contra essa

decisão do TCU (Acórdão n° 39/2006), a Petrobrás impetra o

presente mandado de segurança, alegando que: a) o Tribunal de

Contas de União não possui competência para declarar a

inconstitucionalidade de lei ou ato normativo. A Súmula 347 do STF

foi editada em 1963, tendo como base o art. 77 da Constituição de

1946, há muito revogado. A regra do Regimento Interno do TCU, que

prevê essa competência, não pode se sobrepor à Constituição; b) a

Petrobrás, empresa integrante da Administração Indireta, está

submetida ao princípio da legalidade e, portanto, deve cumprir o art.

67 da Lei n° 9.478/97 e o Decreto n° 2.745/98, que permanecem

vigentes, e determinam que os contratos celebrados pela impetrante,

para aquisição de bens e serviços, serão precedidos de

procedimento licitatório simplificado, afastando a aplicação da Lei n°

8.666/93. c) por força do § 1o do art. 40 da LC n° 73/93, a Petrobrás

está obrigada a cumprir o Parecer AC-15, da Advocacia-Geral da

União, que conclui que "a inaplicação (do Decreto n° 2.745/98) - por

alegada inconstitucionalidade do regime simplificado - à todo o Grupo

Petrobrás, esbarra no respeito ao princípio da presunção de

constitucionalidade das leis e da legalidade dos atos da

administração até que sobrevenha decisão judicial em contrário,

sendo insuficiente a opinião do TCU, a quem cabe tão só julgar a

regularidade das contas". d) após a Emenda Constitucional n° 9/95,

que alterou o § 1o do art. 177 da Constituição, a impetrante passou a

atuar na exploração do petróleo em regime de livre concorrência com

outras empresas. Com isso, o art. 67 da Lei n° 9.478/97 determinou

a submissão da impetrante a um procedimento licitatório simplificado,

afastando a aplicação da Lei n° 8.666/93, que estabelece um regime

de licitação e contratação inadequado para a atuação da empresa

num ambiente de livre competição. Quanto à urgência da pretensão

cautelar, a impetrante sustenta que "o não cumprimento da prefalada

decisão acarretará na aplicação das mais diversas penalidades, tais

como multas, inabilitação para o exercício de cargo ou função, e

arresto de bens, como estampado, v.g, nos arts. 45, § 1o, inc. III, 58,

incs. II, IV, VII e § 1o, 60 e 61, todos da Lei n° 8.443/92" (fl. 10).

Assim, a impetrante requer, em sede de medida liminar, a suspensão

da decisão proferida pelo Tribunal de Contas da União (Acórdão n°

39/2006) no processo TC n° 008.210/2004-7 (Relatório de Auditoria).

É o relatório. Passo a decidir. Existe plausibilidade jurídica no pedido.

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A EC n° 9/95, apesar de ter mantido o monopólio estatal da atividade

econômica relacionada ao petróleo e ao gás natural e outros

hidrocarbonetos fluidos, acabou com o monopólio do exercício dessa

atividade. Em outros termos, a EC n° 9/95, ao alterar o texto

constitucional de 1988, continuou a abrigar o monopólio da atividade

do petróleo, porém, flexibilizou a sua execução, permitindo que

empresas privadas participem dessa atividade econômica, mediante

a celebração, com a União, de contratos administrativos de

concessão de exploração de bem público. Segundo o disposto no art.

177, § 1o, da Constituição, na redação da EC n° 9/95: "§ 1º A União

poderá contratar com empresas estatais ou privadas a realização das

atividades previstas nos incisos I a IV deste artigo, observadas as

condições estabelecidas em lei". Dessa forma, embora submetidas

ao regime de monopólio da União, as atividades de pesquisa, lavra,

refinação, importação, exportação, transporte marítimo e transporte

por meio de conduto (incisos I a IV do art. 177), podem ser exercidas

por empresas estatais ou privadas num âmbito de livre concorrência.

A hipótese prevista no art. 177, § 1o, da CRFB/88, que relativizou o

monopólio do petróleo, remete à lei a disciplina dessa forma especial

de contratação. A Lei n° 9.478/97, portanto, disciplina a matéria. Em

seu artigo 67, deixa explícito que "os contratos celebrados pela

Petrobrás, para aquisição de bens e serviços, serão precedidos de

procedimento licitatório simplificado, a ser definido em decreto do

Presidente da República". A matéria está regulamentada pelo

Decreto n° 2.745, de 1998, o qual aprova o regulamento licitatório

simplificado da Petrobrás. A submissão legal da Petrobrás a um

regime diferenciado de licitação parece estar justificado pelo fato de

que, com a relativização do monopólio do petróleo trazida pela EC n°

9/95, a empresa passou a exercer a atividade econômica de

exploração do petróleo em regime de livre competição com as

empresas privadas concessionárias da atividade, as quais, frise-se,

não estão submetidas às regras rígidas de licitação e contratação da

Lei n° 8.666/93. Lembre-se, nesse sentido, que a livre concorrência

pressupõe a igualdade de condições entre os concorrentes. Assim, a

declaração de inconstitucionalidade, pelo Tribunal de Contas da

União, do art. 67 da Lei n° 9.478/97, e do Decreto n° 2.745/98,

obrigando a Petrobrás, conseqüentemente, a cumprir as exigências

da Lei n° 8.666/93, parece estar em confronto com normas

constitucionais, mormente as que traduzem o princípio da legalidade,

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as que delimitam as competências do TCU (art. 71), assim como

aquelas que conformam o regime de exploração da atividade

econômica do petróleo (art. 177). Não me impressiona o teor da

Súmula n° 347 desta Corte, segundo o qual "o Tribunal de Contas, o

exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade

das leis e dos atos do Poder Público". A referida regra sumular foi

aprovada na Sessão Plenária de 13.12.1963, num contexto

constitucional totalmente diferente do atual. Até o advento da

Emenda Constitucional n° 16, de 1965, que introduziu em nosso

sistema o controle abstrato de normas, admitia-se como legítima a

recusa, por parte de órgãos não-jurisdicionais, à aplicação da lei

considerada inconstitucional. No entanto, é preciso levar em conta

que o texto constitucional de 1988 introduziu uma mudança radical

no nosso sistema de controle de constitucionalidade. Em escritos

doutrinários, tenho enfatizado que a ampla legitimação conferida ao

controle abstrato, com a inevitável possibilidade de se submeter

qualquer questão constitucional ao Supremo Tribunal Federal,

operou uma mudança substancial no modelo de controle de

constitucionalidade até então vigente no Brasil. Parece quase intuitivo

que, ao ampliar, de forma significativa, o círculo de entes e órgãos

legitimados a provocar o Supremo Tribunal Federal, no processo de

controle abstrato de normas, acabou o constituinte por restringir, de

maneira radical, a amplitude do controle difuso de

constitucionalidade. A amplitude do direito de propositura faz com

que até mesmo pleitos tipicamente individuais sejam submetidos ao

Supremo Tribunal Federal mediante ação direta de

inconstitucionalidade. Assim, o processo de controle abstrato de

normas cumpre entre nós uma dupla função: atua tanto como

instrumento de defesa da ordem objetiva, quanto como instrumento

de defesa de posições subjetivas. Assim, a própria evolução do

sistema de controle de constitucionalidade no Brasil, verificada desde

então, está a demonstrar a necessidade de se reavaliar a

subsistência da Súmula 347 em face da ordem constitucional

instaurada com a Constituição de 1988. A urgência da pretensão

cautelar também parece clara, diante das conseqüências de ordem

econômica e política que serão suportadas pela impetrante caso

tenha que cumprir imediatamente a decisão atacada. Tais fatores

estão a indicar a necessidade da suspensão cautelar da decisão

proferida pelo TCU, até o julgamento final deste mandado de

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segurança. Ante o exposto, defiro o pedido de medida liminar, para

suspender os efeitos da decisão proferida pelo Tribunal de Contas da

União (Acórdão n° 39/2006) no processo TC n° 008.210/2004-7

(Relatório de Auditoria). Comunique-se, com urgência. Requisitem-se

informações ao Tribunal de Contas da União e à Advocacia-Geral da

União. Após, dê-se vista dos autos à Procuradoria-Geral da

República. Publique-se. Brasília, 22 de março de 2006. Ministro

GILMAR MENDES Relator

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CONCLUSÃO

Diante do exposto, vemos que desde a descoberta do petróleo em

terras nacionais o legislador nacional sempre esteve atento às peculiaridades

desse ramo de atividade, buscando de alguma forma proteger as riquezas

nacionais.

Mesmo com a relativização do monopólio estatal, sendo a Petrobras

inserido em um ambiente altamente competitivo, onde antes somente a

mesma atuava, o legislador mais uma vez tratou de fornecer subsídios para

que tal empresa pudesse exercer suas atividades em igualdade de condições

com as empresas privadas, ao permitir a criação de um Procedimento

Licitatório próprio e simplificado que atendesse ao mesmo tempo os anseios

empresariais e os princípios que norteiam o instituto da licitação.

Hoje temos um panorama ainda com muitas possibilidades, com a

criação de um procedimento bastante parecido para a Eletrobrás e a discussão

sobre a constitucionalidade do procedimento licitatório simplificado, que está

sendo julgado em sede de Recurso Extraordinário no STF, enquanto não é

promulgado o Estatuto próprio para as empresas públicas, sociedades de

economia mista e subsidiárias, previsto na Constituição Federal e denominado

Estatuto das Estatais.

Assim sendo, podemos concluir que deve-se verificar o fim social da

Petrobras e a evolução dos meios empresariais, para que as atividades de

uma empresa essencial para a economia brasileira e sul-americana não seja

prejudicada por entraves burocráticos e que por vezes trazem graves prejuízos,

desde que do mesmo modo sejam respeitados os princípios constitucionais da

moralidade, publicidade e livre concorrência, que trazem segurança jurídica à

todos os atos da Administração Pública Direta e Indireta.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 5 de Outubro de

1988.

BRASIL. Decreto n° 2.455 de 14 de janeiro de 1998. Implanta a Agência

Nacional do Petróleo - ANP, autarquia sob regime especial, aprova sua

Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e

Funções de Confiança e dá outras providências.

BRASIL. Decreto n° 2.745 de 24 de agosto de 1998. Aprova o Regulamento do

Procedimento Licitatório Simplificado da Petróleo Brasileiro S.A. -

PETROBRÁS previsto no art . 67 da Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997.

BRASIL. Lei n° 2.004 de 3 de outubro 1953. Dispõe sobre a Política Nacional

do Petróleo e define as atribuições do Conselho Nacional do Petróleo, institui a

Sociedade Anônima, e dá outras providências.

BRASIL. Lei n° 8.666 de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso

XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da

Administração Pública e dá outras providências.

BRASIL. Lei n° 9.478 de 6 de agosto de 1997. Dispõe sobre a política

energética nacional, as atividades relativas ao monopólio do petróleo, institui o

Conselho Nacional de Política Energética e a Agência Nacional do Petróleo e

dá outras providências.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 15. ed.

Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006.

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DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 19. ed. São Paulo:

Jurídico Atlas, 2006.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 35. ed. São Paulo:

Malheiros, 2009.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 23. ed.

São Paulo: Malheiros, 2007.

SÍTIOS ELETRÔNICOS

ANP espera novo modelo para exploração do pré-sal. Disponível em:

<http://www.portaldocomercio.org.br/dlg/scr/not/not.asp?D2=19194&D1=1>.

Acessado em 15 de fevereiro de 2011.

BRESCIANI, Eduardo. Câmara aprova flexibilização de licitações para a

Eletrobrás. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/

0,,MUL1058812-9356,00.html>. Acessado em 23 de fevereiro de 2011.

Lei 2004 de 3 de outubro de 1953. Disponível em: <pt.wikipedia.org

/wiki/Lei_2004_de_3_de_outubro_de_1953>. Acessado em 07 de fevereiro de

2011.

O que é o Petróleo. Disponível em: < http://www.cepetro.unicamp.br/

petroleo/index_petroleo.html >. Acessado em 10 de fevereiro de 2011.

PEIXOTO, Marco Aurélio Ventura. Modalidades de licitação: da concorrência

ao pregão. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2363>.

Acessado em 15 de fevereiro de 2011.

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Petrobras e licitação. Disponível em: < http://pontodosconcursos.com.br/

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2011.

Petróleo. Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/Petr%C3%B3leo>. Acessado

em 10 de fevereiro de 2011.

SOUSA, Rainer. História do Petróleo no Brasil. Disponível em:

<http://www.brasilescola.com/brasil/historia-do-petroleo-no-brasil.htm>.

Acessado em: 10 de fevereiro de 2011.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Histórico da Legislação do Petróleo 9

CAPÍTULO II

Sociedades de Economia Mista e as Licitações 14

CAPÍTULO III

Procedimento Licitatório Simplificado da Petrobras 20

CAPÍTULO IV

Constitucionalidade do Procedimento Licitatório

Simplificado 25

CONCLUSÃO 35

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 36

ÍNDICE 39

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Instituto A Vez Do Mestre

Título da Monografia: O Procedimento Licitatório Simplificado da

Petrobras.

Autor: Guiller Ecar Lacerda

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: