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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A IMUNIDADE AOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO E A JURISPRUDÊNCIA DO STF SINAL DE ALERTA À INICIATIVA PRIVADA Por: Fulano de Tal e de Tal Alguma Coisa Orientador Prof. Anselmo Souza Rio de Janeiro 2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · sua análise. Entretanto estudiosos remontam tal fato a meados do Séc. XIX, aproximadamente em 1860, através de pequenos

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A IMUNIDADE AOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO E A

JURISPRUDÊNCIA DO STF

SINAL DE ALERTA À INICIATIVA PRIVADA

Por: Fulano de Tal e de Tal Alguma Coisa

Orientador

Prof. Anselmo Souza

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A IMUNIDADE AOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO E A

JURISPRUDÊNCIA DO STF

SINAL DE ALERTA À INICIATIVA PRIVADA

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito

Tributário e Direito Público Interno.

Por: Rodolfo da Conceição Dias de Araújo

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AGRADECIMENTOS

Precipuamente a Deus, Autor e

Consumador da minha Fé, sem o qual

eu nada poderia ser ou fazer, a minha

Amada esposa Rachel, pela confiança

depositada e pelo suporte nos

momentos difíceis e por fim aos meus

pais José e Jozilda, por acreditarem em

mim aos em todos os momentos da

minha vida.

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DEDICATÓRIA

Este ensaio é dedicado a minha amada

esposa Rachel.

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RESUMO

Objetiva-se neste artigo, demonstrar a importância de uma maior

abordagem, tanto acadêmica quanto jurídica, acerca da interpretação extensiva

dada pelo STF (Superior Tribunal Federal), as imunidades tributárias

destinadas aos templos de qualquer culto, disposta no art. 150, VI, b, §4º da

Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988 e os

perigos tal interpretação poderão causar a iniciativa privada num futuro

próximo, tendo em vista que atualmente o conceito de religião e templos

encontra-se extremamente ampliado por conta das inúmeras doutrinas

existentes no Brasil, ramificando-se estas através dos mais diferentes ramos da

iniciativa privada.

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METODOLOGIA

Para a confecção deste ensaio, foram utilizados além do conhecimento

empírico do Autor, pois o mesmo já administrou uma instituição religiosa

durante 01 ano tendo contato com várias outras instituições e com as situações

que as envolve, a leitura de livros de notórios estudiosos tanto na área da

ciência jurídica quanto na área da ciência da religião.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A Religião e o Brasil 09

CAPÍTULO II - As Imunidades Tributárias 15

CAPÍTULO III – A Iniciativa Privada 20

CAPITULO IV – O Supremo Tribunal Federal 24

CONCLUSÃO 28

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA XX

ÍNDICE XX

FOLHA DE AVALIAÇÃO XX

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INTRODUÇÃO

Este ensaio tem como principal objetivo, alertar a comunidade (cível e

jurídica), para eventuais perigos advindos da interpretação dada pelo STF

(Supremo Tribunal Federal) as imunidades relativas aos templos de qualquer

culto, por ocasião do julgamento e provimento do RExt nº 325.822-2, no qual

entendeu pela extensão dos efeitos da imunidade tributária não só ao templo

em si, mas como para todos os bens das referidas instituições.

Sabe-se que as imunidades tributárias são um preceito constitucional e

seu reconhecimento por parte do fisco, deve-se dar com todo rigor, uma vez

que dentre outras expressas no texto constitucional, são verdadeiras limitações

constitucionais ao poder de tributar. Assim, as atividades desenvolvidas pelas

instituições imunes não estão inseridas no esforço coletivo de levar dinheiro

para os cofres públicos, já que estas instituições atuam ao lado do estado

visando o desenvolvimento do bem comum, o que torna a imunidade ainda

mais relevante para o contexto nacional.

Entretanto, modernamente, tem-se observado um crescimento

avassalador nos números de templos religiosos e ainda, um crescimento

desmensurado nas modalidades religiosas, de maneira que aquilo que deveria

ser interpretado restritivamente (imunidade), torna-se bastante corriqueiro, pois

atualmente a cada esquina vemos um templo religioso, sem qualquer controle

do Poder Público, razão pela qual torna-se imprescindível uma análise

minuciosa a interpretação dada a imunidade dispensada a este grupo. Por este

motivo, para que o Estado realmente cumpra seu papel na sociedade, ele

deverá propor ao legislativo, modificações profundas nos critérios atualmente

utilizados, pois os atuais têm demonstrados inócuos e de difícil controle.

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CAPÍTULO I

A RELIGIÃO E O BRASIL

Antes de iniciarmos a analise da interpretação dada pelo Supremo

Tribunal Federal as imunidades descritas no art. 150, VI, b) da CRFB/88, faz-se

mister delinearmos o conceito de religião.

Lato sensu, a religião pode ser compreendida como um conjunto de

regras e rituais individualizados a ser utilizado por determinada categoria,

visando prestar culto a determinada divindade.

De acordo com os ilustres Doutores Giovanni Filoramo e Carlo Prandi1,

a religião se exprime como:

“Religião (do latim: "religio" usado na Vulgata, que

significa "prestar culto a uma divindade", "ligar

novamente", ou simplesmente "religar") pode ser

definida como um conjunto de crenças relacionadas

com aquilo que parte da humanidade considera como

sobrenatural, divino, sagrado e transcendental, bem

como o conjunto de rituais e códigos morais que

derivam dessas crenças”.

1.1 – O Surgimento das Principais Religiões no Brasil

Cientistas e Estudiosos buscam diuturnamente desvendar precisamente

o início da atividade religiosa no Brasil. Entretanto para efeito desta abordagem

iniciaremos esta análise a partir do Descobrimento do Brasil, ou seja,

delinearemos brevemente a história da religião, a partir do Séc. XVI com a

chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, sendo certo que

1 FILORAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo. As Ciências das Religiões. São Paulo: Paulus, 1999.

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comprovadamente a religião já se fazia presente, mesmo antes do

descobrimento, com a cultura indígena e suas crenças.

1.1.1. Catolicismo Romano

A partir do descobrimento do Brasil, os portugueses, nossos

colonizadores, iniciaram um trabalho de “reeducação indígena”, abrangendo

entre outras coisas, o ensino da Religião Oficial da Coroa Portuguesa, qual

seja o Catolicismo Romano.

Assim sendo, ainda na época do descobrimento, em meados do Séc.

XVI, a religião “oficial” passou a ser o Catolicismo Romano, tendo como um de

seus grandes ícones o Padre José de Anchieta, fundador da Cia. de Jesus.

1.1.2. O potencial sincretismo religioso no Brasil – Colônia (As religiões

africanas)

A partir do descobrimento do Brasil e sua eventual exploração, pois é

sabido que em princípio os portugueses não tinham a intenção de povoar o

continente recém descoberto, foi percebido pelo portugueses que os índios não

tinham as aptidões físicas adequadas para desenvolver o trabalho exploratório,

ao qual lhes fora proposto, razão pela qual foram conduzidos escravos do

continente africano, visando transformar-los na força motriz da exploração da

colônia e no iminente desenvolvimento da Coroa Portuguesa.

Com a vinda dos escravos para o Brasil, seus costumes deram origem a

diversas religiões, tais como o candomblé, umbanda, entre outras, pois uma

vez que se erradicavam para o trabalho, iam procriando e desenvolvendo as

regras e ritualísticas da Mãe África, sendo esta ainda uma meneira que os

mesmo encontraram para não perder sua identidade.

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Observa-se então que desde a origem do Brasil, o mesmo já se

apresentava como um terreno fértil para o sincretismo e as sem número de

manifestações religiosas que hoje encontramos em nosso País.

1.1.3. A propagação da doutrina espírita e o positivismo no Brasil

O surgimento do espiritismo no Brasil, não encontra datas exatas em

sua análise. Entretanto estudiosos remontam tal fato a meados do Séc. XIX,

aproximadamente em 1860, através de pequenos grupos, debates através da

imprensa e cartas publicadas em jornais da época.

Tal manifestação religiosa tinha grande proximidade com a obra do

francês Allan Kardec, que em 1857, sistematizou o conhecimento da doutrina

espírita em sua obra “O livro dos espíritos”. Em pouco tempo, já na década

seguinte, os primeiros exemplares desta obra apareceram em solo brasileiro.

Concomitantemente, os primeiros grupos espíritas brasileiros tomavam forma.

A doutrina espírita só foi capaz de furar o “bloqueio” da religião romana,

devido a proliferação do movimento racionalista e positivista que ganhou o

mundo na época, pois à época a efervescência pelo conhecimento

ultrapassava os limites continentais.

Modernamente, o crescimento da doutrina espírita no Brasil ganhou

novo fôlego, principalmente, ao surgimento de uma figura emblemática dessa

religião: o médium Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier. Por meio de suas

obras psicografadas, passou a popularizar ainda mais o espiritismo. Desta

forma, no Brasil encontram-se atualmente milhares de seguidores desta

religião.

1.1.4. O surgimento do Protestantismo no Brasil

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A primeira marca do protestantismo no Brasil que se tem notícia, se deu

em conjunto com a tentativa de colonização do Brasil pelos hugenotes (nome

dado aos reformados franceses) e pelos holandeses e flamengos no período

colonial.

Posteriormente, com a chegada da família real portuguesa ao Brasil e

através da abertura dos portos a nações amigas, pelo Tratado de Comércio e

Navegação, em 1810 estabeleceu-se a primeira igreja protestante no Brasil, a

saber – A Igreja Anglicana – esta subsidiada pelos comerciantes ingleses.

Posteriormente, seguindo esta tendencia os foram impladas inúmeras

igrejas de imigração, dentre elas as igrejas luteranas, que se fixaram no Brasil,

a partir de 1824.

Mas o primeiro trabalho protestante permanente, só ocorreu em 1855,

através de Robert Reid Kalley, missionário autônomo escocês, que fundou

algumas igrejas Congregacionais no Brasil.

Mais tarde, em 1859, a igreja Presbiteriana foi fundada por Ashbel Green

Simonton no Rio de Janeiro.

Pouco depois, em 1871, o primeiro grupo batista se estabeleceu no

estado de São Paulo, sendo trazida por missionários americanos, fundando-se

assim em 1907, a Convenção Batista Brasileira.

No fim da primeira década do século XX, chega ao Brasil a doutrina

pentecostal, através da instauração da Congregagação Cristã do Brasil e da

assembléia de Deus.

Porém na década de 1970, o Brasil viu nascer o movimento

neopentecostal, derivado do sincretismo observado pelas doutrinas

protestantes mais antigas, com ênfase principalmente na prosperidade, entre

estas igrejas encontram-se as Igreja Universal do Reino de Deus, fundada por

Edir Macedo, em 1977; a Igreja Internacional da Graça de Deus, fundada por

Romildo Ribeiro Soares.

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Por fim, é importante observar que recentemente cresceram as

chamadas igrejas neopentecostais com foco nas classes média e alta, observa-

se ainda que dentro desta denominações, as questões materiais ganham

tamnha relevãncia, dentre elas as construções de templos faraônicos,

aquisições de imóveis, estações de rádio, emissoras de televisão, tudo em prol

da “edificação” do reino de Deus.

É principalmente, mas não exclusivamente, para este grupo que este

ensaio se volta, observando o quão danoso para a iniciativa privada, e por via

reflexa para a sociedade, pode ser a utilização exarcebada das imunidades

tributárias.

1.1.5. Conclusão

Ante o aludido nesta breve análise, perceber-se-á que, desde seu

descobrimento o Brasil configurou-se como um território fértil para a

propagação da religião, e não somente as mencionadas neste ensaio (tendo

em vista que são as maiores), mais muitas outras religiões que acabam por

ajudar a contar a história do nosso país.

Tamanha é a importância da religião e de seus templos, que o

constituinte buscou proteger, de uma forma geral, a identidade e o patrimônio

destes grupos.

Entretanto, a partir deste ensaio, observa-se o vasto e diversificado

quadro religioso existente na Federação Brasileira, o qual se utilizado de uma

forma irrestrita e usurpada pode gerar danos irreparáveis a sociedade de uma

forma geral, mas principalmente no caso em análise, se utilizada sem uma

correta fiscalização a imunidade tributária atuará a contracenso constitucional,

garantir uma grande desigualdade tributária.

1.2 – A História da religião e a política no Brasil

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Precipuamente, ao analisarmos detalhadamente a história,

verificamos que o Brasil, desde seu descobrimento, é um país majoritariamente

católico, posto que a maioria dos brasileiros, assim se denomina2.

Entretanto, cabe ressaltar que somos um povo laico e teísta, tanto

que o próprio preâmbulo da Constituição Federal de 1988, também chamada

de a Constituição do Povo, faz menção a “proteção de Deus” acenando assim

publicamente sobre a possibilidade da interferência de um ser superior e

transcendental, sobre os brasileiros.

“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em

Assembléia Nacional Constituinte para instituir um

Estado Democrático, destinado a assegurar o

exercício dos direitos sociais e individuais, a

liberdade, a segurança, o bem-estar, o

desenvolvimento, a igualdade e a justiça como

valores supremos de uma sociedade fraterna,

pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia

social e comprometida, na ordem interna e

internacional, com a solução pacífica das

controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus

(grifo meu), a seguinte CONSTITUIÇÃO DA

REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL”.

Entretanto não podemos afirmar categoricamente que somos um

país católico romano, sob pena de invalidar o conteúdo do próprio preâmbulo,

colocando ainda em “xeque” a principiologia constitucional, pois do contrário

afirmar-se-ia a inexistência da liberdade de culto assinalada e protegida pelo

próprio texto constitucional, como cláusula pétrea.

2http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/primeiros_resultados_amostra/brasil/pdf/tabela_1_1_2.pdf).

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“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção

de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e

aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança

e à propriedade, nos termos seguintes:

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de

crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos

religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos

locais de culto e a suas liturgias;”

Porém nem sempre foi assim, visto que até a proclamação da República,

curiosamente a religião oficial do Império era, de acordo com o art. 5º da

Constituição de 1824, a “Catholica Apostólica Romana”, sendo permitida

apenas a direção e vivencia de outras liturgias dentro das residências

particulares.

“Art. 5. A Religião Catholica Apostolica Romana

continuará a ser a Religião do Imperio. Todas as

outras Religiões serão permitidas com seu culto

domestico, ou particular em casas para isso

destinadas, sem fórma alguma exterior do Templo.”

No Brasil Republicano, observou-se o início da liberdade de crenças que

temos nos dias atuais, visto que a religião do Estado foi cedendo lugar a outras

religiões, sendo a tendência mundial aqui seguida pela República brasileira.

Assim, com a proclamação da República, passamos a ser um Estado

laico, em detrimento ao protecionismo outrora dispensado ao catolicismo

romano, com o grande objetivo de tolerar em clima harmônico a pluralidade de

cultos e religiões.

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Observada esta transição entre a religião e a política no Brasil, podemos

hoje compreender um pouco melhor o posicionamento de destaque dispensado

a liberdade de credo e de pensamento.

1.3 – A Religião e a Tributação no Brasil

Antes de nos reportarmos diretamente ao Brasil, faz-se necessário

aduzir que ao observarmos o Direito Comparado, percebemos que os Estados

estrangeiros comumente buscam afastar ou minorar os efeitos tributários sobre

as religiões, ou sobre as igrejas, visando estimular a fé de seus cidadãos e

ainda por via reflexa incentivar o seu crescimento.

No caso do Brasil, após a proclamação da República, como já dito

anteriormente, o protecionismo ao catolicismo romano perdeu espaço e a

pluralidade religiosa ganhou considerável importância. Assim, diante desta

mudança demográfica, foi necessária a criação de ferramentas para

contrabalancear esta grande “derrota” institucional, visando o estabelecimento

da harmonia religiosa, tendo como marco a intributabilidade das religiões.

Por fim, deve ser salientado que a intributabilidade das religiões, entre o

período neo-republicano até a Carta Magna de 1937, se deu através de

legislação ordinário, sendo uma elevada ao status de matéria constitucional,

apenas com o advento da Constituição de 1946, sendo mantida pela

Constituição Federal de 1988, até hoje.

CAPÍTULO II

AS IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS

2.1 – O Conceito de Imunidade Tributária

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As imunidades tributárias configuram-se como uma modalidade de

limitação constitucional ao poder de tributar do Estado, tendo em vista que a

mesma minora a extensão do ente tributante, pois, através dela, certos fatos,

situações, bens ou pessoas são subtraídos do campo reservado ao exercício

da competência tributária, no sentido de impedir que as normas de tributação

incidam sobre os fatos imunizados.

O conceito das imunidades tributárias foi aperfeiçoado pela CF/1988 que

inclui, na condição de alcançar o benefício, os entes governamentais

federados, as fundações dos partidos políticos e os sindicatos de

trabalhadores, porém no que tange aos templos de qualquer culto, como já

observado anteriormente por este artigo, o status de limitação constitucional ao

poder de tributar foi dado pela Constituição de 1946.

A imunidade tributária, relativa aos impostos, encontra-se descrita no

artigo 150 da CRFB/88, que assim estabelece:

“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias

asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos

Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

VI - instituir impostos sobre:

a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;

b) templos de qualquer culto;

c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos

políticos, inclusive suas fundações, das entidades

sindicais dos trabalhadores, das instituições de

educação e de assistência social, sem fins lucrativos,

atendidos os requisitos da lei;”

d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua

impressão.

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O nobre doutrinador, Ricardo Lobo Torres3, entende as imunidades

tributárias como a intributabilidade absoluta ditada pelas liberdades

preexistentes, como se aduz da leitura abaixo transcrita:

“... A imunidade fiscal extrai o status negativus

libertatis, tornando intocáveis pelo tributo ou pelo

imposto certas pessoas e coisas, é um dos aspectos

dos direitos das liberdades, ou uma sua qualidade, ou

a sua exteriorização, ou o seu âmbito de validade.

Pouco tem a ver com a idéia de justiça ou utilidade

econômica”.

2.2 – Classificação das Imunidades

2.2.1. Imunidades subjetivas

As imunidades podem ser classificadas como subjetivas ou mistas,

quando se referem a determinadas pessoas, como por exemplos: a União, os

Estados, os Municípios, o Distrito Federal, as entidades religiosas, os partidos

políticos, as instituições educacionais sem fins lucrativos.

Tais imunidades devem ser requeridas pelos interessados e são

condicionadas à comprovação, pela pessoa imune de que determinado

patrimônio, rendas ou serviços por ela prestados vinculam-se a suas

finalidades essenciais. Decorrem da destinação e dos aspectos subjetivos da

entidade, pois transformada a destinação ou a qualidade da mesma, ela está

fora do campo da imunidade.

2.2.2. Imunidades objetivas

3 TORRES, Ricardo Lobo, Curso de direito Financeiro e Tributário, 15ª Ed. Ed. Renovar , Rio de Janeiro, 2008.

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Classificam-se como imunidades objetivas, aquelas que se referem a

determinadas coisas ou operações, isto é, exclusivamente da natureza do

objeto, como por exemplo: a imunidade dos livros, revistas, jornais.

Sobre este tema AMARO4 escreve:

“As imunidades são definidas em função de

condições pessoais de quem venha a vincular-se às

situações materiais que ensejariam a tributação (p.

ex.., a renda, em regra passível de ser tributada, é

imune quando auferida por partido político ou por

entidade assistencial que preencha certos requisitos).

Mas podem, também, as imunidades ser definidas em

função do objeto suscetível de ser tributado (p. ex., o

livro é imune), ou de certas peculiaridades da

situação objetiva (p. ex., um produto que, em regra,

poderia ser tributado, mas, por destinar-se à

exportação, é imune). Podem, assim, identificar-se

imunidades subjetivas (atentas às condições

pessoais do sujeito que se vincula às situações

materiais que, se aplicada a regra, seriam tributáveis)

e imunidades objetivas (para cuja identificação o

relevo está no objeto ou situação objetiva, que, em

razão de alguma especificidade, escapa à regra de

tributabilidade e se enquadra na exceção que é a

imunidade”..

2.3 – Histórico das Imunidades Fiscais

Inicialmente, faz-se necessário comentar que a existência de cobranças

impositivas, por determinada classe dirigente, de valores visando a

4 AMARO, Luciano. Imunidades tributárias, 1997, p.146.

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subsistência de determinada “sociedade”, já existia muito anteriormente a

formação do Estado, tal qual hoje conhecemos.

Como exemplo desta assertiva, podemos observar o Império Romano,

que coletava tributo tanto dos moradores da “metrópole” Roma, quanto dos

grupos dominados.

Porém já nesta época, verificavam-se alguns grupos privilegiados que

não contribuíam com os tributos, vez que obtinham o favor das immunitas, que

exoneravam certas pessoas e coisas, da obrigação de contribuir para a

subsistência de Roma.

Na Idade Média, as imunidades eram adstritas ao Clero e aos Nobres,

sendo a tributação livre sobre os empresários, comerciantes e classe

trabalhadora, o que acabou por culminar em grandes revoluções e nas

flagrantes mudanças históricas e sociais, no que tange ao desenvolvimento do

Estado.

Ainda, a época do Estado Patrimonial, as imunidades tributárias eram

utilizadas como um mecanismo de limitação ao poder da realeza, constituindo-

se como uma impossibilidade plena de tributação sobre o senhorio e a Igreja.

Com o surgimento do Estado Fiscal, tal conceito (imunidade) passa a

ganhar um novo significado, vez que a limitação ao poder de tributar não se

condiciona mais ao Rei e sim ao Estado como um todo. Tal imunidade surge

como um resultado das proteções individuais pré-constitucionais, que

ganharam status constitucional com o advento da Constituição Norte

americana.

No Brasil, a imunidade só aparece na Constituição de 1891, através de

Rui Barbosa, sendo sabido que este surgimento deu-se através da influência

da Constituição Americana.

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2.4 – Histórico Constitucional das Imunidades Tributárias no

Brasil

Como já relatado anteriormente, as imunidades no Brasil, só aparecem

na Constituição de 1891, entretanto como nada se dá de forma isolada, na

Constituição do Império de 1824, já surgiam aspectos embrionários das

referidas imunidades tributárias, tendo em vista a aplicação do princípio da

generalidade, pelo qual nenhum indivíduo que venha a praticar determinado

fato gerador possa se esquivar da tributação, demonstrando assim, por via

reflexa que a regra era a tributação e qualquer modalidade de exoneração

fiscal (isenção, imunidade e não incidência), compreenderiam exceções a regra

da tributação.

Encerrado o Estado Novo e a partir do advento da ´rotecionista

Constituição de 1946, tomada pelo forte espírito protecionista que se seguiu ao

período ditatorial, entendeu por bem conceder imunidade tributária para certas

categorias e atividades, inclusive os cultos religiosos.

Tais imunidades foram referendadas pelas constituições posteriores,

observando-se alguma mudança apenas a partir da Emenda Constitucional nº

18/65, quando as imunidades tributárias passaram a ser previstas

expressamente, tal qual temos hoje em nossa Constituição promulgada em

1988.

CAPÍTULO III

A INICITIAVA PRIVADA

3.1 – O Princípio da Livre iniciativa e a Iniciativa Privada

Os princípios constitucionais são um conjunto de normas que

fundamentam todas as demais normas do nosso ordenamento jurídico, razão

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pela qual estão situados em posição de superioridade visto que as normas

subordinadas não podem contrariar as normas de hierarquia superior.

3.1.1. A livre iniciativa como fundamento do Estado Democrático de Direito

Ao observarmos os princípios fundamentais do Estado brasileiro, através

da leitura do art. 1º da CRFB/88, percebemos que dentre outros a livre

iniciativa, apresenta-se como um dos pilares que regem o Estado democrático

de direito.

“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada

pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do

Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático

de Direito e tem como fundamentos:

IV - os valores sociais do trabalho e da livre

iniciativa;”

Isto posto necessária se faz uma maior compreensão do que representa a

livre iniciativa no Estado brasileiro.

O Princípio da Livre Iniciativa é considerado como fundamento da ordem

econômica, pois constitui a base sobre a qual se constrói a ordem econômica

brasileira, pois ao Estado em si, atribui-se apenas uma função supletiva na

circulação de bens e serviços quando imperativos da segurança nacional ou

ainda quando presente relevante interesse coletivo (art. 173 CRFB/88),

tornando-se assim de fundamental importância o papel da livre iniciativa, haja

vista que a esta é atribuído papel de destaque na produção ou circulação de

bens e serviços, bem como a produção de riquezas.

Importante ressaltar que traz o art. 170 da CRFB/88, alguns princípios em

que a livre iniciativa é pautada, ressaltando ainda o disposto no parágrafo único

do supracitado artigo:

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“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização

do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim

assegurar a todos existência digna, conforme os

ditames da justiça social, observados os seguintes

princípios:

I - soberania nacional;

II - propriedade privada;

III - função social da propriedade;

IV - livre concorrência;

V - defesa do consumidor;

VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante

tratamento diferenciado conforme o impacto

ambiental dos produtos e serviços e de seus

processos de elaboração e prestação; (Redação dada

pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

VII - redução das desigualdades regionais e sociais;

VIII - busca do pleno emprego;

IX - tratamento favorecido para as empresas de

pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e

que tenham sua sede e administração no País.

(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 6, de

1995)

Parágrafo único. É assegurado a todos o livre

exercício de qualquer atividade econômica,

independentemente de autorização de órgãos

públicos, salvo nos casos previstos em lei.”

Observa-se com isso um modelo econômico delineado pela liberdade de

iniciativa, que tem por finalidade assegurar a coletividade uma existência digna,

conforme a justiça social, vedadas exclusões e discriminações. Desta forma,

podemos concluir que qualquer empresa para desenvolver atividade

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econômica, submeter-se-á, independente de sua natureza, aos princípios

contidos neste artigo.

3.2 – A Iniciativa Privada e a tributação

Como já explicitado anteriormente a exploração privada da atividade

econômica é extremamente importante dentro da sociedade brasileira. Por esta

razão cabe ao Estado, garantir que o mercado interno esteja sempre aquecido,

de maneira a permitir o desenvolvimento do país.

Isto se dá pelo fato do Brasil ser um país que desenvolve o sistema

capitalista, ou seja, existe a liberdade de compra e venda, devendo o Estado,

apenas “gerenciar” o mercado, regulando-o quando necessário.

Por isso, a livre iniciativa possui um papel extremante importante dentro

do país, sendo possível dizer que sem a presença desta o próprio país perderia

a capacidade de sustentação, perdendo principalmente a renda advinda da

tributação.

É através da tributação que o Estado brasileiro equilibra-se. Tal

afirmação ainda que não agrade a ninguém, transcreve-se como a mais pura

realidade, e ainda que o Brasil esteja no caminho para livrar-se destas amarras

(fonte majoritária de renda a partir da tributação), ainda estamos um pouco

distante desta realidade.

Através dos valores percebidos pela tributação, e a maior parte desta

tributação advém da iniciativa privada, o Estado brasileiro vem buscando

equilibrar-se, vem subsidiando suas políticas públicas e ganhando papel de

destaque no cenário mundial.

Entretanto, observa-se na prática que a carga tributária desferida sobre

as empresas brasileiras, quer sejam pequenas, médias ou grandes, de certo se

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não fazem com que as mesmas estagnem em suas operações, acabam por

impossibilitar o desenvolvimento das mesmas, quer seja em mão de obra, quer

seja em tecnologia apropriada, posto que grande parte da renda das empresas

é separada para o pagamento de tributos, o que faz ainda que as mesmas

disputem eventualmente em condições desiguais com determinadas

sociedades que detém qualquer tipo de imunidade, pois estas podem abaixar

seus preços e ainda sim perceberem lucros, o que não pode acontecer mutatis

mutandis.

3.3 – A Iniciativa Privada e a Livre Concorrência

De acordo com o já citado art. 170 da CRFB/88, a livre concorrência é

compreendida como um dos pilares de sustentação da ordem econômica e

financeira do Estado brasileiro e uma vez assim compreendido, por consectário

lógico, serve de pilar também para a sustentação da iniciativa privada.

Importa frisar que, para que haja uma sociedade liberal, em outras

palavras, com a intervenção mínima do Estado faz-se necessário uma

economia forte e estável.

Nos últimos anos, mesmo diante de todas as dificuldades pertinentes ao

Brasil, adicionados a vultuosa crise mundial de 2008/2009, o Brasil tem

demonstrado, quer através de incentivos fiscais, quer através do aquecimento

da economia, que possui os atributos necessários para garantir a livre

concorrência, e por conseguinte fortalecer a iniciativa privada.

Um grande salto para consolidar tal situação no Estado brasileiro, como

já observado em outras linhas deste ensaio, seria a redução dos tributos pagos

pela iniciativa privada e a impossibilidade de participação no mercado de

“empresas” ou “sociedades civis” ou ainda “ONG´S” que gozam das

imunidades tributárias (como por exemplo igrejas que alugam templos para

festas ou ainda edifícios comerciais), uma vez que estas, por possuírem a

referida imunidade possuem a faculdade de minorar os preços, execrando a

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concorrência de uma forma desleal, configurando assim uma grande afronta a

livre iniciativa e por conseqüência a “ordem” tributária.

CAPÍTULO IV

O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Modernamente, seguindo a direção das principais cortes do mundo,

mormente aquelas que seguem o sistema da common Law, o Supremo

Tribunal Federal, vem caminhado para um sistema precedencialista (stare

decisis), porém não abandonando o direito fundamental, salvaguardado no art.

5º,XXXV CRFB/88, no qual os jurisdicionados possuem, desde que cumpridos

as condições processuais, o direito de submeter suas reclamações, ou ainda,

pretensões resistidas ao Poder Judiciário.

Desta forma, atualmente, pode-se observar um sistema misto, criando

vinculações aos órgão do Judiciário e da Administração pública, garantindo em

última análise a firme posição democrática do Estado Brasileiro.

Tal postura observou-se com maior ênfase, após a Emenda

Constitucional nº45/2004, também chamada como Reforma do Judiciário, vez

que o referido Poder, além de buscar a maior efetividade processual das

decisões por ele emanado, vem buscando também a valorização das decisões

judiciais, quer seja no controle difuso de constitucionalidade ou no concentrado,

buscando a cada dia mais consolidar a segurança jurídica do Estado brasileiro.

4.1 – O papel do STF no Judiciário Brasileiro

Dentro deste contexto, o Supremo Tribunal Federal emerge de uma

forma inovadora, deixando de ser um simples tribunal de instância superior,

zelando por seu papel fundamental, qual seja a de guardião mor e interprete da

Constituição da República Federativa do Brasil.

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4.2 – O STF e a interpretação constitucional.

Desde sua criação, com o advento da Constituição de 1891, a Suprema

Corte Brasileira tem cumprido como já dito anteriormente, importante papel

dentro do Estado Democrático de Direito Brasileiro, quer seja através do

Controle de Constitucionalidade das leis ou ainda pela interpretação da

Constituição Federal, em face de leis hierarquicamente inferiores ou até

mesmo, dos próprios ditames constitucionais.

Importa neste momento, traçarmos algumas considerações acerca de

uma das funções precípuas do Pretório Excelso no que tange a interpretação

constitucional.

Assim é que, ao interpretar a Constituição Federal, o Supremo Tribunal

Federal, utiliza-se das diversas modalidades de interpretação, buscando não só

o entendimento do constituinte originário ou derivado, mas buscando apoiar-se

na história do Estado brasileiro, buscando assim que as leis infraconstitucionais

mantenham-se no mesmo diapasão da Carta Magna e dos avanços

democráticos que a cada dia consolidam o Estado Brasileiro como um país

essencialmente democrático.

É nesta mesma abordagem que encontramos as imunidades tributárias,

não como espécies de leis infraconstitucionais, mais como anseio do próprio

constituinte originário, tendo a Suprema Corte como norteadora do alcance das

mesmas, tomando como uma das bases o histórico cultural da nação brasileira

e o desenvolvimento do Estado brasileiro.

4.2.1 O Supremo Tribunal Federal e a interpretação constitucional das

imunidades tributárias aos templos de qualquer culto

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Pudemos perceber nas linhas deste ensaio que o Brasil desde sua origem

(ainda colônia) “exala” religiosidade, desta forma não poderia a Suprema Corte,

ao interpretar as imunidades tributárias, ficar alheia a um histórico religioso tão

vultuoso e tão denso como esse.

Assim, na interpretação constitucional apresentada pelo Pretório Excelso,

a imunidade tributária aos templos de qualquer culto é considerada como uma

extensão aos direitos e garantias fundamentais do cidadão (direitos de primeira

geração), configurando como verdadeira proteção a liberdade de crença

religiosa.

Assim o é que, ao interpretar as imunidades tributárias aos templos de

qualquer culto no RE nº 325.822, de relatoria do Exmo. Ministro Gilmar

Mendes, entendeu o Supremo Tribunal Federal que intributável não é somente

o local de culto, mas também todos os bens suficientes para o desenvolvimento

da finalidade essencial das entidades religiosas, como podemos perceber com

a transcrição da ementa:

“EMENTA: Recurso extraordinário. 2. Imunidade

tributária de templos de qualquer culto. Vedação de

instituição de impostos sobre o patrimônio, renda e

serviços relacionados com as finalidades essenciais

das entidades. Artigo 150, VI, "b" e § 4º, da

Constituição. 3. Instituição religiosa. IPTU sobre

imóveis de sua propriedade que se encontram

alugados. 4. A imunidade prevista no art. 150, VI, "b",

CF, deve abranger não somente os prédios

destinados ao culto, mas, também, o patrimônio, a

renda e os serviços "relacionados com as finalidades

essenciais das entidades nelas mencionadas". 5. O §

4º do dispositivo constitucional serve de vetor

interpretativo das alíneas "b" e "c" do inciso VI do art.

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150 da Constituição Federal. Equiparação entre as

hipóteses das alíneas referidas. 6. Recurso

extraordinário provido”

Desta forma, observa-se que ao interpretar a referida imunidade a

Suprema Corte, não referenda apenas o local de culto, mas sim a própria

entidade religiosa, de maneira que se compreende, por via reflexa que tal

garantia vai além do status da imunidade, ganhando corpo de verdadeiro de

direito fundamental, sendo considerado assim imutável, pelo nosso sistema

constitucional, de acordo com o art. 60,§4º, IV CRFB/88, vez que passa a ser

considerado como cláusula pétrea.

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada

mediante proposta:

§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de

emenda tendente a abolir:

IV - os direitos e garantias individuais.

CONCLUSÃO

Diante das questões abordadas neste ensaio verifica-se que uma vez que

as entidades intributáveis, quais sejam as entidades religiosas, adentrem no

mercado, ainda que de maneira subentendida ou ainda de forma sutil, estão

estas usurpando de sua condição peculiar e ganhando extrema vantagem

sobre as empresas que compõe a iniciativa privada.

Importa observar que, tais situações não estão apenas no campo das

idéias, vez que com a facilidade de expansão proporcionada pela internet, com

a globalização e o “empreendedorismo” que avassala as crenças religiosas

atualmente, se observa de forma desmensurada a presença de igrejas e outras

denominações de culto disputando mercado com empresas especializadas,

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quer seja na aquisição de estações de rádios, rede de televisões e seus

programas, venda de acessórios entre outras modalidades, o que não se

configura como ideal, vez que a partir da benesse tributaria, possibilita que as

mesmas disputem em condições desiguais, sendo uma extrema afronta ao

princípio constitucional da isonomia, ferindo a ordem econômica nacional, o

que num futuro, não tão distante, pode vir a gerar problemas de cunho social,

moral e jurídico.

Ainda diante de um cenário de tamanha proliferação de templos, de um

sem número de religiões e denominações, diante de uma sociedade

egocêntrica e hedonista, na qual persistem a ocorrência de inúmeros abusos,

este ensaio se propõe a trazer uma reflexão sobre futuros limites a

interpretação constitucionais destas imunidades.

Verificar-se-á que, a manutenção desta abrangência interpretativa

constitucional das imunidades, pode ser esvaziada pela própria elasticidade,

criando assim uma verdadeira facilitação em detrimento da iniciativa privada e

tais entidades, vez que não raro são divulgadas notas na mídia (televisiva ou

não) sobre escândalos envolvendo entidades religiosas, justamente pelo desvio

da finalidade precípua das mesmas, valendo-se de sua boa imagem e

principalmente da boa fé dos membros e participantes destas entidades,

existindo o grande perigo da criação de blocos monstruosos de manipulação da

sociedade e da opinião pública.

Não objetiva, contudo este ensaio apregoar a extinção ou supressão da

referida imunidade tributária, mesmo porque reflexivamente se trata de cláusula

pétrea, mas tão somente trazer o assunto a discussão da comunidade jurídica,

ressaltando os principais pontos conflituosos e “pontos cegos”, vislumbrando

um debate profundo e coerente diante de assunto que, até mesmo pela

formação histórica e cultural do nosso país, configura-se como verdadeiro

“tabu” entre os brasileiros, coexistindo a máxima de que “religião não se

discute”.

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Importa que se discuta a extensão das imunidades tributárias e os perigos

advindos desta extensão, além das formas de fiscalização efetiva das rendas,

aplicações e contratos realizados pelas entidades religiosas, vez que sem

fiscalização não há controle e sem controle não há a presença do Estado, e

sem a presença do Estado, prestigiada estará a anomia.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS, Celso Ribeiro, Curso de direito constitucional, 20. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.

BETTENCOURT, Estêvão. Crenças, religiões, igrejas e seitas: quem são? 6ª Ed. São Paulo. Ed. Mensageiro de Santo Antônio

BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil, 33. ed. atualizada e ampliada, São Paulo: Saraiva, 2004. DELUMEAU, Jean (dir.). As Grandes Religiões do Mundo. Lisboa: Editorial Presença, 1997. FILORAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo. As Ciências das Religiões. São Paulo: Paulus, 1999.

Hugh T. Kerr, A Compend of Luther's Theology, p. 16.

MACHADO, Hugo de Brito, Curso de Direito Tributário, 26ª Ed. Editora Malheiros, São Paulo, 2009.. SABBAG, Eduardo, Manual de Direito Tributário, 1ª Edição, 2ª Tiragem, Ed, Saraiva, 2009.

SWEET, William Warren. American Culture and Religion. Six Essays. Dallas: Southern Methodist University Press, 1951, p. 36.

TORRES, Ricardo Lobo, Tratado de direito constitucional financeiro e tributário, v. III, 1ª Ed. Renovar 2005. ___________________, Curso de direito financeiro e tributário, 15ª Ed, Rio de Janeiro, Ed. Renovar, 2008. XAVIER, Francisco Candido 1938. BRASIL, Coração do mundo, pátria do evangelho. FEB, Rio, RJ. 28 ed., 2002.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

A RELIGIÃO E O BRASIL 11

1.1 – O surgimento das principais religiões no Brasil 12

1.2 – A história da religião e a política no Brasil 15

1.3 – A Religião e a Tributação no Brasil 15

CAPÍTULO II

AS IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS 16

2.1 – O conceito de Imunidades Tributárias 16

2.2 – Classificação das Imunidades Tributárias 18

2.3 – Histórico das Imunidades Fiscais 18

2.4 – Histórico Constitucional das Imunidades Tributárias 21

CAPÍTULO III

A INICIATIVA PRIVADA 11

3.1 – O Princípio da Livre iniciativa e a iniciativa Privada 21

3.2 – A Iniciativa Privada e a Tributação 24

3.3 – A iniciativa Privada e a Livre Concorrência 25

CAPÍTULO IV

O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 26

4.1 – O papel do STF no Judiciário 26

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3.2 – O STF e a Interpretação Constitucional 27

CONCLUSÃO 29

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 32

ÍNDICE 33

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

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