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Universidade Católica de Brasília UCB Escola de Educação, Tecnologia e Comunicação Curso de Letras Trabalho de Conclusão de Curso TUPINISMOS E AFRICANISMOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: REFLEXÕES SOBRE O PRECONCEITO LEXICAL Karina Arruda de Jesus Prof.ª Dra. Carolina Coelho Aragon Resumo: O presente trabalho tem como objetivo analisar possíveis preconceitos lexicais existentes em palavras de origem Tupi e Banto no Dicionário Houaiss da língua portuguesae no Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. Para tanto, a análise baseia-se em pressupostos teóricos relacionados à constituição lexical brasileira, o processo de produção de dicionários brasileiros e a contribuição das línguas indígenas e africanas para o português usado no Brasil, fatores esses que influenciaram na construção dos verbetes analisados. A pesquisa em questão procura reforçar a contribuição das línguas indígenas e africanas no processo de constituição da língua nacional do Brasil e constatar possíveis preconceitos existentes nos significados atribuídos a algumas palavras oriundas das línguas supracitadas. Para isso, serão observados os verbetes que apresentam significação vinculada a fatores históricos, levando em consideração as vertentes de expressão do preconceito lexical. Por conseguinte, conclui-se que há marcas preconceituosas relacionadas à raça e à classe social nas palavras de origem indígena e africana. Palavras-chave: Preconceito. Léxico. Dicionário. Contribuição linguística. Etimologia. TUPINISM AND AFRICANISM IN BRAZILIAN PORTUGUESE: REFLECTIONS ON LEXICAL PREJUDICE Abstract: The present paper aims to analyze possible lexical prejudices existing in the Houaiss dictionary of the Portuguese language and in the New Aurelian dictionary of the Portuguese language originated by the Tupi and Banto languages. In this sense, the analysis is based on theoretical assumptions related to the Brazilian lexical construction, the process of producing Brazilian dictionaries and the contribution of the indigenous and African languages to the Portuguese used in Brazil, which influenced the construction of the entries analyzed. The research in question seeks to reinforce the contribution of the indigenous and African languages in the formation process of the national language of Brazil and to verify possible prejudices existing in the meanings attributed to some words from the above mentioned languages. Consequently, the entries that have significance linked to historical factors will be observed, taking into account the expressions of lexical prejudice. For this reason, we concluded that there are marks related to race and social class prejudice in the words of indigenous and African origin. Keywords: Prejudice. Lexicon. Dictionary. Linguistic contribution. Etymology.

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Universidade Católica de Brasília – UCB Escola de Educação, Tecnologia e Comunicação Curso de Letras Trabalho de Conclusão de Curso

TUPINISMOS E AFRICANISMOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: REFLEXÕES SOBRE O PRECONCEITO LEXICAL

Karina Arruda de Jesus

Prof.ª Dra. Carolina Coelho Aragon

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo analisar possíveis preconceitos lexicais existentes em palavras de origem Tupi e Banto no “Dicionário Houaiss da língua portuguesa” e no “Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa”. Para tanto, a análise baseia-se em pressupostos teóricos relacionados à constituição lexical brasileira, o processo de produção de dicionários brasileiros e a contribuição das línguas indígenas e africanas para o português usado no Brasil, fatores esses que influenciaram na construção dos verbetes analisados. A pesquisa em questão procura reforçar a contribuição das línguas indígenas e africanas no processo de constituição da língua nacional do Brasil e constatar possíveis preconceitos existentes nos significados atribuídos a algumas palavras oriundas das línguas supracitadas. Para isso, serão observados os verbetes que apresentam significação vinculada a fatores históricos, levando em consideração as vertentes de expressão do preconceito lexical. Por conseguinte, conclui-se que há marcas preconceituosas relacionadas à raça e à classe social nas palavras de origem indígena e africana.

Palavras-chave: Preconceito. Léxico. Dicionário. Contribuição linguística. Etimologia.

TUPINISM AND AFRICANISM IN BRAZILIAN PORTUGUESE: REFLECTIONS ON LEXICAL PREJUDICE

Abstract: The present paper aims to analyze possible lexical prejudices existing in the Houaiss dictionary of the Portuguese language and in the New Aurelian dictionary of the Portuguese language originated by the Tupi and Banto languages. In this sense, the analysis is based on theoretical assumptions related to the Brazilian lexical construction, the process of producing Brazilian dictionaries and the contribution of the indigenous and African languages to the Portuguese used in Brazil, which influenced the construction of the entries analyzed. The research in question seeks to reinforce the contribution of the indigenous and African languages in the formation process of the national language of Brazil and to verify possible prejudices existing in the meanings attributed to some words from the above mentioned languages. Consequently, the entries that have significance linked to historical factors will be observed, taking into account the expressions of lexical prejudice. For this reason, we concluded that there are marks related to race and social class prejudice in the words of indigenous and African origin. Keywords: Prejudice. Lexicon. Dictionary. Linguistic contribution. Etymology.

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1 INTRODUÇÃO

O período colonial brasileiro foi marcado pela miscigenação dos povos que aqui

habitavam, fazendo com que a cultura brasileira se manifestasse de diversas

maneiras em todo o território. Devido a isso, muitos traços da cultura indígena,

portuguesa e africana foram incorporados à cultura brasileira como um todo,

proporcionando características singulares para a nossa sociedade.

Por isso, este trabalho visa fazer um breve histórico da constituição lexical da língua

portuguesa no Brasil, levando em consideração o processo de gramatização do

português brasileiro, objetivando verificar as contribuições das línguas indígenas e

africanas na formação do vocabulário do português brasileiro. Além disso, busca-se

analisar possíveis alterações de significado no léxico com relação ao seu significado

etimológico, bem como preconceitos lexicais. Observada a construção da língua

falada no Brasil, será possível verificar a influência linguística e cultural que as línguas

do contexto colonial tiveram para a formação do vocabulário e da sociedade

brasileira.

Percebe-se na língua portuguesa usada no Brasil uma manifestação de traços

culturais que conviveram no território na época colonial. Há em nossa língua um

grande número de palavras etimologicamente derivadas de línguas indígenas,

principalmente do tronco linguístico Tupi. Além disso, há também contribuições das

línguas africanas. Segundo Castro (1983), a maior influência africana para o

português do Brasil é originada das línguas do tronco Banto, pois foram as que mais

contribuíram devido à quantidade de empréstimos integrados ao português do Brasil.

Dessa forma, as seções deste trabalho estão segmentadas de modo a

contextualizar a análise; por isso, as primeiras seções abrangem conteúdo

relacionado ao contexto linguístico no período colonial, isso inclui a presença de

outras línguas no território e suas contribuições para o português. Além disso, tratar-

se-á brevemente da gramatização do português brasileiro e o processo de produção

de dicionários, e, posteriormente, serão abordadas algumas vertentes relacionadas ao

preconceito lexical. Assim, as últimas seções serão destinadas à análise dos verbetes

com o intuito de reforçar a contribuição linguística indígena e africana e verificar a

existência de preconceito nos verbetes em questão.

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2 A CONSTITUIÇÃO LEXICAL BRASILEIRA

Sabe-se que a língua portuguesa foi inserida em território brasileiro no século XVI

por meio das conquistas ultramarinas realizadas pela Coroa Portuguesa. O processo

de colonização fez com que o território brasileiro expandisse e, consequentemente,

ocasionou a difusão da língua portuguesa. Sendo assim, nas subseções abaixo,

iremos compreender mais sobre essa expansão e a constituição do português do

Brasil.

2.1 A FORMAÇÃO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO

A grandiosidade da expansão marítima, organizada pela Coroa Portuguesa, resultou

no que hoje conhecemos como o maior país em dimensões territoriais de língua

portuguesa, onde vive o maior número de falantes dessa língua (ILARI E BASSO,

2014).

Anteriormente à chegada dos colonizadores, as línguas indígenas predominavam no

território brasileiro. Com a colonização, os portugueses adotaram algumas medidas

para a comunicação com os indígenas utilizando as línguas dos nativos e, somente

após a chegada de Marquês de Pombal, o português foi oficialmente implantado na

colônia. Assim, até a época do Império brasileiro, o português conviveu com

diferentes falares.

Inicialmente, as línguas dos nativos eram utilizadas para a catequização. No entanto,

devido ao contexto linguístico, “[...] os religiosos empenhados na catequese adotaram

a partir do século XVI a política da língua geral” (ILARI E BASSO, 2014, p.62). No

Brasil, as línguas gerais foram criadas a partir do contato do português com línguas

de tronco tupi e usadas amplamente em diversos contextos linguísticos.

O Tupi (neste caso, nos referimos à língua geral) era um fator importante para os

portugueses, pois era a língua utilizada para a comunicação com os nativos e também

um instrumento para os colonizadores alcançarem seus objetivos religiosos e

políticos, uma vez que,

Atuando segundo os sentidos da colonização, a política das línguas gerais acarretou, por sua vez, a tupinização da colônia. Isso significa que o modelo tupi foi imposto como o paradigma étnico e linguístico, e como instrumento de unificação da colônia (BORGES, 2001, p. 202).

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A disseminação da língua geral durante o processo de colonização contribuiu para o

silenciamento das diferenças linguísticas existentes na colônia brasileira,

caracterizando, assim, mais uma forma de dominação dos portugueses. O uso das

línguas gerais perdurou por dois séculos, porém, “[...] em 1757, um decreto de

Marquês de Pombal proibiu seu uso em contexto escolar e impôs o português como

língua do ensino na colônia” (ILARI E BASSO, 2014, p.64).

Apesar da proibição da língua geral e do extermínio de vários povos indígenas, as

línguas nativas, sobretudo o Tupi, deixaram marcas significativas no português do

Brasil, tendo em vista o rico arcabouço linguístico do nosso idioma. A influência mais

expressiva é visível em nosso léxico que possui inúmeros vocábulos originados das

línguas indígenas, os quais identificam e singularizam diversos aspectos relacionados

à fauna, flora, alimentação e topografia brasileira. Palavras como “mandioca”, “taioba”,

“siri” e “Maragogi” são alguns dos termos provenientes de línguas indígenas

presentes no vocabulário dos brasileiros.

Outra contribuição para a diferenciação e enriquecimento do português do Brasil foi

a presença das línguas africanas, trazidas para o território brasileiro devido ao tráfico

de escravos provenientes dos mais diversos territórios africanos, falantes de línguas

diversas advindas, principalmente da família Cua e Banto. Castro (1967) afirma que o

intenso tráfico de negros resultou no convívio das culturas africana e portuguesa,

entretanto, apesar de os escravos serem obrigados a falar português, a fala era

mesclada por palavras africanas. O predomínio da língua portuguesa foi efetivado

após a fase de convívio entre as diferentes línguas e da vinda da Coroa Portuguesa

ao Brasil (ver seção 2.2). Apesar de toda represália, as línguas de origem africana

deixaram marcas significativas.

Castro (1967) defende que não houve influência africana no português do Brasil,

caso contrário, falaríamos uma espécie de dialeto crioulo. De fato, o que existiu e

permanece viva na língua portuguesa do Brasil é a contribuição vocabular das línguas

africanas. Bonvini (2002) afirma que os termos de origem africana são empréstimos

que, posteriormente, foram integrados ao português, como vemos a seguir:

Contatos regulares entre línguas africanas e a língua portuguesa precederam ou acompanharam, na África ou fora da África, o fenômeno do empréstimo, de maneira que hoje se deve levantar a hipótese de que certos empréstimos atestados no Brasil são de fato apenas empréstimos de segunda ou talvez terceira geração (BONVINI, 2002, p. 148-149).

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Dessa forma, as palavras africanas contribuíram também para a diferenciação do

português falado no Brasil e em Portugal, uma vez que algumas palavras africanas,

pertencentes ao vocabulário dos escravos, foram apropriadas pelo português do

Brasil de tal forma que termos utilizados pelos portugueses foram substituídos por

termos africanos. Por isso, a contribuição vocabular africana se faz presente em

nossa língua por meio de palavras de uso corrente, como “macumba”, “minhoca”,

“samba” e “caçula”1.

Independentemente do processo que inseriu os termos de origem africana no

português, é indiscutível a interferência das línguas africanas na formação da

sociedade e na constituição lexical brasileira. As contribuições culturais e linguísticas

africanas estão presentes na cultura brasileira, fato notório quando se leva em

consideração as expressões lexicais, a literatura e a música do Brasil.

Podemos, assim, observar que a situação linguística predominante no período de

implementação do português no Brasil foi o multilinguismo2, pois “[...] vivia no Brasil

uma população nativa estimada em seis milhões de indígenas. [...] esses indígenas

falavam cerca de 340 línguas, que [...] pertenciam a troncos linguísticos muito

diferentes entre si” (ILARI E BASSO, 2014, p.60). Por isso, entende-se que o

multilinguismo já existia no Brasil antes da chegada da língua portuguesa e de línguas

africanas, as quais ampliaram o fenômeno do multilinguismo já existente no território

brasileiro.

2.2 GRAMATIZAÇÃO BRASILEIRA DO PORTUGUÊS: O PROCESSO DE

PRODUÇÃO DOS DICIONÁRIOS BRASILEIROS

O convívio da língua portuguesa com as línguas dos nativos foi significativo para a

situação linguística brasileira. Com a chegada da família real portuguesa, o quadro

linguístico do Brasil, que apresentava uma variedade de línguas indígenas, línguas

africanas e a língua do colonizador, foi modificado pelo crescente número de falantes

do português. E a obrigatoriedade do ensino da língua portuguesa ressaltou o intuito

dos colonizadores de imposição sob os nativos. (ORLANDI E GUIMARÃES, 2001).

1 De acordo com Castro (1983) há um grande número de empréstimos vocabulares de origem Banto integrados ao português, isso resultou na substituição de algumas palavras portuguesas. A palavra “caçula”, por exemplo, é usada pelos brasileiros para designar o filho mais novo, entretanto, a designação portuguesa para filho mais novo é “benjamin”, esse fato demonstra substituição de alguns termos de origem portuguesa. 2 Entende-se por multilinguismo determinada situação em que convivem no mesmo território línguas diferentes.

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A vinda da família real implicou mudanças importantes para a colônia, como a

criação da imprensa brasileira e da Biblioteca Nacional, além de um novo espaço para

falar o português. Dessa forma, a língua portuguesa no Brasil ganhou uma unidade,

pois se tornou a língua da capital do reino português. Contudo, em meio às mudanças

políticas significativas, os movimentos nacionalistas passam a reivindicar uma

identidade nacional, a qual relaciona-se à língua, pois essa funciona como

identificador de uma nação: a atribuição de uma identidade e de uma língua nacional

é a porta de entrada para o processo de gramatização brasileira.

De acordo com Auroux (2009), a gramatização faz parte do saber linguístico de

determinada língua, sendo esse um processo histórico construído em um espaço

temporal, ou seja, o saber metalinguístico 3 de uma língua não é constituído

espontaneamente, mas, sim, por um processo de construção cotidiana. Para o autor,

a gramatização corresponde à segunda revolução tecnológica do saber

metalinguístico. Isto é, “por gramatização deve-se entender o processo que conduz a

descrever e instrumentar uma língua na base de duas tecnologias, que são ainda hoje

os pilares de nosso saber metalinguístico: a gramática e o dicionário” (AUROUX,

2009, p. 65). Dessa forma, o processo de gramatização no Brasil tem início no final do

século XIX com a publicação de inúmeros trabalhos constituintes de um saber

linguístico, como, por exemplo, a gramática e o dicionário.

Segundo Orlandi e Guimarães (2009), a instrumentação do português no Brasil faz

parte de um novo espaço de produção linguística, devido ao fato de, por exemplo, a

gramática no Brasil se afastar do modelo tradicional do português europeu. Além

disso, a gramatização está relacionada ao ensino do português com a fundação do

Colégio Dom Pedro II, uma vez que a escolarização influenciou na crescente

produção de gramáticas e dicionários.

O crescente número de publicações desses instrumentos linguísticos responde,

então, ao apelo nacionalista de uma identidade brasileira por meio da implantação de

nomenclaturas - principalmente após a criação da Nomenclatura Gramatical Brasileira

(NGB) - justamente por apresentarem um lugar para a língua no Brasil, reconhecendo

um espaço brasileiro na língua portuguesa. Fato que contribuiu para a diferenciação

do uso da língua pelos colonizados e colaborou para a construção de uma identidade

nacional.

3 Conhecimento sobre a estrutura e o funcionamento das línguas.

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Complementando o processo de gramatização, o dicionário, como parte integrante

desse processo e objeto de análise deste trabalho, apresenta suas especificidades de

produção. De acordo com Auroux (2009), o dicionário, como um instrumento

linguístico, prolonga a fala natural porque permite ao falante o acesso às formas que

não estão na competência e na gramática internalizada dele, auxiliando o falante por

ser algo exterior a ele.

Nunes (2002) também afirma que o saber linguístico e sua produção estão

relacionados a um contexto histórico que influencia diretamente na forma como são

elaborados os instrumentos do saber, no caso, o dicionário. Na situação brasileira, o

contato com os colonizadores europeus deu início à produção de dicionários e fez

com que as formas dicionarísticas fossem únicas, pois o início dessa produção foi

baseado em um saber enciclopédico que buscava explicação e sentido para o novo

contexto.

Logo, o início do saber dicionarístico brasileiro se apresenta nas listas de palavras

com descrições, comentários e traduções de termos da língua indígena, da natureza e

da própria colonização, como uma tentativa de estabelecer referências com Portugal.

“Na Época Colonial, a dicionarização realizou-se nas regiões de fronteira ou contato.

A região da ‘costa do Brasil’ era apontada pelos jesuítas como local de gramatização

[...]” (NUNES, 2002, p. 108).

Para Nunes (2002), a administração territorial e as formas de governança foram

fatores influentes na produção de instrumentos linguísticos, pois partem da

administração as decisões sobre as políticas linguísticas. Assim, com “a política

linguística da colonização”, os dicionários bilíngues português-tupi, produzidos pela

Companhia de Jesus, foram primordiais para a colonização, uma vez que serviram

como apoio e ferramenta para a catequização.

Na Monarquia, a necessidade de atribuir uma identidade aos brasileiros resultou nos

dicionários bilíngues do tupi antigo, estabelecendo uma relação histórica do português

com o tupi, contribuindo também para identificação do brasileiro e de seus

antepassados, os índios. Já o período Republicano é marcado pela publicação de

dicionários sobre brasileirismos, sendo a fala do povo brasileiro o objeto principal de

análise. Nesse mesmo período, a Academia Brasileira de Letras (ABL) é inaugurada e

“[...] teve um papel fundamental na formação de lexicógrafos, na concepção de

projetos dicionarísticos e na normatização ortográfica” (NUNES, 2002, p.111).

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Vale ressaltar que a produção de dicionários também foi uma consequência da

urbanização da colônia, uma vez que o crescimento urbano implicou no avanço da

escolarização, na criação de instituições importantes e, consequentemente, no

aumento do público leitor.

3. O DICIONÁRIO E O LÉXICO

As subseções abaixo dedicam-se a elementos relacionados especificamente ao

léxico e ao dicionário, por isso, trabalharemos no âmbito da lexicologia e lexicografia.

Segundo Barbosa (1992, p.152), a distinção entre essas ciências está na estrutura

metodológica, uma vez que a lexicografia se ocupa da “compilação, classificação,

análise e processamento” do léxico, o que resulta na produção de dicionários, objeto

de análise deste trabalho; enquanto a lexicologia formula teorias para descrever e

analisar o léxico, ou seja, é um estudo científico do léxico.

3.1 A ESTRUTURA DO DICIONÁRIO

Além de fatores sociais e históricos, existe uma estrutura organizacional que envolve

a construção dos dicionários, como a ordem e características específicas das

entradas lexicais e dos verbetes e as informações técnicas: classes de palavras, data

do primeiro registro das palavras, definições, informações gramaticais e etimológicas.

Segundo Correia (2009, apud CRUZ, 2013, p. 2), o dicionário apresenta duas

estruturas organizacionais: a macroestrutura ˗ o conjunto de elementos que

constituem o dicionário como um todo, formada por entradas lexicais, prefácio,

introdução, etc. ˗ e a microestrutura, que representa as informações contidas nos

verbetes, iguais para todos em cada dicionário.

Para nossa pesquisa será necessário definir algumas dessas informações, pois, até

o momento falou-se de léxico e vocabulário, e a partir de agora, o termo verbete fará

parte da análise do trabalho. Ao procurarmos no dicionário o significado de alguma

palavra, seguimos a ordem alfabética para encontrá-la, e a entrada lexical refere-se a

cada palavra registrada por ordem alfabética antes de sua acepção.

Já o verbete, que faz parte da microestrutura do dicionário e mantém relação com a

entrada lexical, indica o conjunto de significados, acepções, exemplos e explicações

atribuídos a cada palavra dicionarizada.

3.2. PRECONCEITOS E O LÉXICO

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O dicionário é resultado da construção histórica e social de uma língua, e a língua,

enquanto produto social, está em constante transformação para acompanhar a

evolução da sociedade em que é falada. Isto demonstra que o dicionário está

suscetível a mudanças, uma vez que reúne as palavras de uma língua (NUNES,

2010).

Por isso, Nunes (2010) afirma que as palavras não têm um sentido eterno, já que os

sentidos sofrem alterações no contexto de enunciação4 e ao longo do tempo. Outro

fator analisado pelo autor é de que há lacunas observáveis nos dicionários, as quais

dizem respeito à presença ou à ausência de algumas palavras que compõem o léxico

da língua. Entendemos por léxico o conjunto de palavras, o vocabulário de uma

língua, assim, os dicionários podem apresentar determinadas palavras e excluir

outras, inserir palavras atuais e atualizar o significado de formas lexicais já

dicionarizadas conforme a exigência e evolução social.

Desta maneira, o léxico de uma língua representa a sociedade e o modo como essa

visualiza o mundo ao seu redor, e por ser a língua uma construção história, é possível

observar no léxico determinados preconceitos sociais, uma vez que

Em qualquer língua encontram-se, pois, inúmeras palavras e expressões lexicais que denotam os estereótipos dessa sociedade e, ao mesmo tempo, os preconceitos associados, pelos membros dessa comunidade linguística, a cada grupo, minoritário ou não (CORREIA, 2006, p. 156).

Sabe-se que o preconceito pode se manifestar em diversas ordens: racial, sexual,

étnico, religioso, entre outros; e a discriminação pode ser realizada e percebida por

meio do léxico, tanto pelo significado que o falante concede às palavras e o uso

efetivo que fazem dela para designar ou discriminar grupos que apresentam

características específicas, quanto ao significado dicionarístico atribuído ao léxico.

Correia (2006) afirma que o preconceito pode se manifestar linguisticamente de duas

formas: (1) pelo léxico, ou seja, o significado que os falantes atribuem às palavras; e

(2) pelo dicionário, o que implica a postura do lexicógrafo5 na seleção de elementos

que irão compor a definição. Por isso, para a autora, a posição do lexicógrafo é

fundamental para a construção ou perpetuação de determinados preconceitos, pois,

4 Segundo Fiorin e Discini (2013) a enunciação corresponde ao ato de produzir enunciados, é a passagem da língua para a fala, a realização concreta da língua. A enunciação diz respeito ao que é dito, onde, quando e por quem é dito, assim o enunciado (aquilo que é dito) pode apresentar marcas da enunciação: a pessoa que fala, o tempo e o espaço em que se fala, “a enunciação é a instância do ego, hic et nunc (eu, aqui e agora, em latim) ” (FIORIN E DISCINI, 2013, p. 183). 5 Aquele que elabora o dicionário, autor de dicionário.

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ao elaborar as definições, escolhe-se descrever a forma como os falantes visualizam

as palavras ou estabelecer o uso politicamente correto do léxico.

Portanto, as palavras que, de alguma forma, caracterizam ou rementem a grupos

que sofrem algum tipo de preconceito ou discriminação normalmente apresentam em

suas definições tom pejorativo, associações e estereótipos negativos. Contudo, o

nosso objetivo não é julgar a posição do lexicógrafo, muito menos restringirmo-nos a

um tipo específico de preconceito, mas observá-los à medida que se manifestarem

nos dicionários escolhidos para este artigo (ver seção 4.1).

4. METODOLOGIA

4.1 OBJETIVO GERAL

O presente artigo tem como objetivo analisar os possíveis preconceitos existentes nos

verbetes de origem Tupi e Banto encontrados no “Novo dicionário Aurélio da língua

portuguesa” e no “Dicionário Houaiss da língua portuguesa”.

4.1.2 Objetivos Específicos

Analisar o significado do léxico de etimologia indígena e africana;

comparar os significados dos verbetes nos diferentes dicionários;

verificar os preconceitos lexicais referentes à definição e à escolha de termos

pelo lexicógrafo;

observar, quando possível, o contexto histórico da palavra analisada.

4.2 A PESQUISA

Usaremos dicionários diferentes para a análise dos verbetes, um com autoria de

Aurélio Buarque de Holanda Ferreira e outro de Antônio Houaiss, ambos publicados em

2009. Assim, optamos por esses dicionários, uma vez que apresentam dados

consistentes para a análise da perspectiva que cada autor revela na escolha de termos

para a construção dos verbetes.

A escolha por esses dicionários não é aleatória. Tanto o Aurélio quanto o Houaiss são

dicionários popularmente conhecidos e utilizados pela sociedade brasileira,

principalmente no contexto escolar.

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Dessa forma, a análise será realizada comparando as definições dos verbetes

apresentadas pelas duas publicações, para que, assim, possamos concluir se os

dicionários, uns dos mais conhecidos no Brasil hoje, contribuem para a perpetuação de

preconceitos e estigmas sociais, que passam, na maioria das vezes, despercebidos

pelos leitores. Vale ressaltar que não será utilizado todo o verbete disponível nas obras

para a análise, buscou-se destacar e inserir no quadro de análise apenas as acepções

pertinentes para a discussão dos objetivos deste artigo.

A análise será segmentada em duas partes. Primeiramente, será analisado o léxico de

etimologia Tupi composto pelas palavras “caipira”, “caboclo” e “caiçara”. Em seguida,

será analisado o léxico de origem africana, composto pelas palavras: “capoeira” e

“moleque”. A palavra “capoeira” tem etimologia controversa, mas é viável inclui-la no

léxico de origem africana devido ao teor histórico que a envolve.

Sendo assim, a escolha dessas palavras para análise justifica-se pelo uso corriqueiro

por grande parcela da sociedade brasileira e reforçam o fato de que as línguas presentes

no contexto de colonização foram grandes contribuintes para a singularidade do

português do Brasil.

5. RESULTADOS E ANÁLISE

A seguir, será analisado separadamente o léxico de etimologia indígena e africana. Ao

longo da análise, utilizaremos alguns autores que não foram previamente mencionados

apenas para tratarmos da discussão etimológica ou histórica.6

5.1 LÉXICO DE ETIMOLOGIA TUPI

Caipira

Dicionário Houaiss Dicionário Aurélio

caipira adj. 1 que vive no campo ou na roça; roceiro 2 que tem hábitos e modos rudes, ger. devido a pouca instrução ou escasso convívio social 6 indivíduo natural ou habitante de região rural 7 indivíduo simplório, ger. habitante do campo, de pouca instrução e modos pouco refinados ʘ ETIM orig.contrv., prov. do tupi ʘ SIN/ VAR caboclo, caburé, caiçara, jeca-tatu

caipira S.2 g. 1. Bras. S. Habitante do campo ou da roça, particularmente os de pouca instrução e de convívio e modos rústicos e canhestros. Adj. 2 g. 3. Bras. Diz-se do caipira (1); biriba ou biriva, matuto, sertanejo. 4. Bras. Pertencente ou relativo a, ou próprio de caipira (1); biriba ou biriva, jeca, matuto, roceiro, sertanejo. 5. Bras. Diz-se do indivíduo sem traquejo social; cafona, casca-

6 Deste momento em diante, todas as vezes que mencionarmos os dicionários Aurélio e Houaiss, estaremos nos referindo às publicações do ano de 2009.

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grossa.

Nunes (2010) afirma que as palavras estão suscetíveis à mudança de sentido ao

longo do tempo, por isso, depreendemos que, com o decorrer do tempo, foram

atribuídos outros sentidos para o “caipira”, muitos deles pejorativos. De acordo com o

dicionário etimológico de Cunha (1978), a documentação da palavra “caipira” é tardia e

a evolução histórica é baseada na hipótese da transformação da palavra “caipora”.

Segundo Brandão (1983), o caipira não era escravo do senhor de terra, como o índio

ou negro. Esse fato o afastava da cultura dos civilizadores, entretanto, apesar de não

ser escravo, o caipira não era bem visto socialmente, pois era tido como resultado de

uma combinação biológica de raças ruins, ou seja, era o lavrador sem terra própria,

mestiço, por isso os relatos apresentam o caipira como indigente e ignorante.

Sendo assim, a visão do homem caipira apresentada pelos dicionários é construída a

partir dos princípios do homem urbano, dessa forma, estabelece-se uma caricaturada

do habitante do campo. “Caipira” é então descrito como o homem da roça, simples, de

hábitos rudes, sendo o oposto à civilização, portanto, o caipira não possui os atributos

de uma pessoa civilizada, uma vez que seus hábitos e costumes fazem parte de uma

realidade distante do padrão estabelecido pela urbanização (BRANDÃO, 1983).

Observamos dessa maneira que a acepção 1 apresentada nos dois dicionários

identifica o caipira como aquele que habita regiões em que não há urbanização, no

campo ou na roça, assim o caipira é caracterizado pelo o lugar onde vive.

Através do convívio em sociedade, sabemos que o caipira apresenta hábitos

simplórios, e que muitos não tiveram acesso à educação escolar, pois precisaram

iniciar as atividades trabalhistas precocemente. Houaiss apresenta o caipira como

indivíduo simples na acepção 7.

Entretanto, a definição apresentada pelo dicionário Aurélio, na acepção 1, impõe um

fato que não pode ser generalizado, de que a pouca instrução e o pouco convívio social

implicam em um sujeito caipira, é como se o sujeito deixasse de ser um habitante do

campo (com bons modos) para se tornar uma pessoa rude. Parece-nos que os

atributos negativos são necessários para ser caipira. Já o dicionário Houaiss, na

acepção 2, associa os modos rudes como uma consequência da pouca instrução, ou

seja, o caipira não necessariamente é um sujeito sem educação, sem instrução e

grosso, há a possibilidade de ele conviver socialmente, mas em geral apresenta modos

rudes por não ter tido instrução, sendo assim, a definição não impõe o modo rude ao

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caipira.

Apesar das escolhas diferentes para a construção dos verbetes, os dicionários

apresentam marcas preconceituosas em relação à palavra em questão. Os adjetivos

atribuídos, como “jeca”, “cafona” e “casca-grossa” têm caráter depreciativo com relação

ao sujeito que vive no campo, uma vez que as definições desses adjetivos são

negativas. Por exemplo, Houaiss (2009, p.1130) define “jeca” como aquele “que habita

o meio rural; caipira 3 que revela mau gosto, falta de refinamento; cafona, ridículo”. Já o

Aurélio (2009, p. 359) define “cafona” como “[...] tudo aquilo que é reputado como de

mau gosto, 3 caipira”. Assim, observa-se que adjetivos pejorativos caracterizam o

habitante do campo.

Aurélio insiste no distanciamento do caipira da sociedade, reforçando ainda mais o

estigma de que esse não sabe lidar com o fator urbano, por isso, podemos notar a

influência e a postura do lexicógrafo ao definir uma palavra. Correia (2006) afirma que

uma das formas de manifestação do preconceito linguístico é por meio da escolha de

elementos que irão compor a definição. Nesse verbete, observamos um

posicionamento mais neutro do dicionário Houaiss, justamente por apresentar termos

favoráveis a uma definição relacionada mais ao ambiente do que ao sujeito,

destacando o âmbito rural, ao contrário do Aurélio, que traz acepções marcadas por

adjetivos pejorativos, dando foco ao sujeito.

Caboclo

Dicionário Houaiss Dicionário Aurélio

caboclo s.m. 1 indivíduo nascido de índia e branco (ou vice-versa), de pele acobreada e cabelos negros e lisos 3 qualquer mestiço de índio; tapuio 4 indivíduo (esp. habitante do sertão) com ascendência de índio e branco e com os modos desconfiados 4.1 caipira, roceiro, matuto 10 REL nas religiões ou seitas afro-brasileiras, desing. genérica dos espíritos de ancestrais indígenas brasileiros que supostamente surgem nas cerimônias rituais e que foram idealizados, já no sXX, segundo os modelos de orixás da teogonia jeje-nagô e do Indianismo literário da fase romântica ʘ SIN/ VAR como adj.: ver sinonímia de caipira e mestiço

Caboclo [Do tupi.] S.m. Bras. 1. Mestiço de branco com índio; cariboca, carijó. 2. Antiga denominação do indígena. 3. Caboclo¹ (1) de cor acobreada e cabelos lisos; caburé, tapuio. 4. V. caipira (1) 5. Pej. Pessoa desconfiada. 8. Restr. Bras. Rel. Qualquer encantado que personifique um mito indígena, ou o próprio índio brasileiro.

Cunha (1978) afirma que o termo caboclo era inicialmente a designação para o índio

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em geral, aculturado e que vivia com o branco. Com o decorrer do tempo e das lutas

travadas entre holandeses e portugueses, os índios passam a ser vistos como inimigos,

bárbaros e traidores, por essa razão o termo “caboclo” adquire sentido pejorativo.

“Posteriormente, e ainda com sentido injurioso, o termo passou a designar o mestiço de

branco com índia. Em meados do séc. XIX caboclo adquire a acepção, ainda viva hoje,

de homem do sertão, caipira, roceiro” (CUNHA, 1978, p.80).

Não acreditamos que a acepção 1, nos dois dicionários, apresente uma definição

imbuída de estigmas sociais ou preconceitos, por isso, vamos nos atentar aqui para as

relações feitas entre o termo “caboclo” e os sinônimos apresentados. Nota-se que a

primeira definição dada a caboclo é aquele que provém da mistura da raça branca e

indígena, mas também podemos encontrar o significado como a mistura de brancos e

negros. A acepção 1 esclarece quem o caboclo realmente é: aquele oriundo da relação

entre branco e índio, representante de uma mistura, ou como mostra a acepção 2 do

Aurélio, o próprio índio.

Entretanto, nas acepções 4.1 do Houaiss e 4 e 5 do Aurélio há relação do caboclo

com termos estigmatizados, como “caipira”. Dessa forma, podemos interpretar que, ao

longo da relação histórica do colonizador com o índio, foram sendo criados outros

sentidos para o caboclo, o índio e aqueles que nascem da mistura entre as raças.

Através do nosso conhecimento sobre os hábitos e a história do índio brasileiro,

podemos interpretar que o modo de vida desse está relacionado com o do sujeito

caipira, consequentemente, as atribuições dadas ao caipira recaem sobre o caboclo.

Subentende-se que o índio, o mestiço e o caboclo também podem ser caracterizados

como rudes, sem educação ou alheios ao convívio social. Além disso, a definição de

caboclo está relacionada diretamente à raça, portanto, as relações ou sinônimos

apresentados associam a mistura racial com características estigmatizadas ou

pejorativas.

Percebemos que a definição da palavra “caboclo” tem uma explicação histórica para

ter sentido depreciativo atualmente, além de a escolha lexicográfica influenciar à

propagação de uma imagem depreciativa do indivíduo advindo de mistura racial, sabe-

se que esses sentidos são também consequência da construção histórica e social

brasileira. Auroux (2009) afirma que o dicionário, como um produto da gramatização, é

resultado de um processo de construção cotidiana e histórica, assim, os fatores que

cerceiam a realidade irão influenciar na construção dos dicionários e nos verbetes.

Tanto é que o sentido pejorativo do termo “caboclo” é resultado dos conflitos entre os

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índios, holandeses e portugueses.

Caiçara

Dicionário Houaiss Dicionário Aurélio

caiçara s.m. B. infrm. 9 homem ordinário; malandro, vagabundo ♦ s.2g. RJ SP 10 caipira, matuto 11 praiano, natural ou habitante do litoral (freq. o que vive de

modo rústico, esp. da pesca) ■ adj.

2g.s.2g. 12 relativo a Cananeia SP ou o que é seu natural ou habitante ʘ ETIM tupi kaaiˈsa ‘cerca de ramos’ ʘ SIN/VAR ver sinonímia de caipira

caiçara. [Do tupi] S.f. 7. Bras. Cerca tosca de troncos e galhos, em torno de uma roça, para impedir a entrada do gado. 8. Bras. Recesso onde o caçador se embosca. • 10. Bras. Malandro, vagabundo. • S. g. 11. Bras. RJ SP V. caipira (1). 12. Bras. SP V. praiano¹ (1). 13. O natural ou habitante de Cananeia (SP).

Outro termo que apresenta significados diversos é “caiçara”. Notamos que há

designações diferentes para a palavra, em que uma abrange o sujeito caiçara — foco

da nossa análise — e outra relacionada a uma cerca de proteção.

Adams (2000) afirma que “caiçara” é a designação para o curral feito para cercar

peixes na água com galhos de árvores, e que com o passar do tempo, o termo passa a

identificar os moradores de comunidades litorâneas.

Ainda segundo a autora, o caiçara também faz parte daqueles que advêm da

miscigenação de raças, do branco e do índio. Dessa maneira está inserido na cultura

caipira e carrega traços do caboclo. Nota-se que o fator racial tem grande destaque em

todas as palavras analisadas de etimologia Tupi e correlaciona historicamente os

termos analisados até o momento, apresentando significados similares.

As acepções 10 do Houaiss e 11 do Aurélio já identificam o caiçara como uma

variação do caipira. O caiçara, assim como o caipira tem um estilo de vida simples,

rústico, sem convívio com a urbanização, produz para o próprio sustento e exerce suas

atividades afastado dos centros urbanos. A diferença entre ambos consiste no tipo de

atividade praticada por cada um.

Com relação ao preconceito, notamos que a escolha de termos para a construção dos

verbetes é marcada por vocábulos como “vagabundo” e “malandro”, os quais estão

presentes nas acepções 9 do Houaiss e 10 do Aurélio. Tendo em mente as análises

anteriores, o caipira e o caboclo são frutos da miscigenação racial, observou-se

também que o índio, em determinado período, passa a ser o inimigo. Já o negro e seus

costumes nunca foram bem vistos. Assim, a nosso ver, o caiçara parece ser uma

variação cultural da mestiçagem.

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Vale ressaltar que recentemente a novela “Sol Nascente” 7 apresentou a cultura

caiçara, suas atividades e uma parcela de seus hábitos, mostrando para o público um

povo rico culturalmente. Isto nos leva a acreditar que uma parte da sociedade urbana

atual não visualiza o sujeito caiçara de forma negativa e provavelmente as pessoas não

têm conhecimento de tantas definições apresentadas para a palavra em questão.

Assim, contradizendo a definição dicionarística, a novela mostrou positivamente o

sujeito caiçara com seu comportamento prestativo, honesto e trabalhador.

Vimos anteriormente a afirmação de Correia (2006) em relação ao preconceito lexical,

o qual pode se apresentar de duas formas: por intermédio do significado atribuído pelo

falante e pela escolha de elementos lexicográficos para construção do verbete, nota-se

que nesse verbete a figura negativa que recai sobre o sujeito caiçara é resultado da

escolha de elementos dos autores dos dicionários.

5.2 LÉXICO DE ETIMOLOGIA AFRICANA

Capoeira

Dicionário Houaiss Dicionário Aurélio

³ capoeira s.m. 1 B negro que viva na ²capoeira (‘mato’) e assaltava viajantes s.f. 2 arte marcial de ataque e defesa introduzida no Brasil por escravos bantos; capoeiragem [Atualmente praticada como jogo e esporte.] 3 vida de capoeira (‘lutador de rua’), valentão, desordeiro 5 p.ext. obsl. malandro típico do sXIX, esp. no Rio de Janeiro, Bahia e Recife, lutador de rua que usava a capoeira (‘arte marcial’), armado de navalha ou faca, para combater bandos rivais ou provocar desordens públicas

capoeira ² S.f. 3. Bras.Cap. Jogo acrobático constituído por movimentos • S. 2 g. 4. Cap. Capoeirista. ◊ Capoeira grossa. Bras. N.E. Terreno roçado quase todos os anos, e no qual a vegetação quase não passa de arbustos e ervas. Capoeira regional. Cap. Modalidade de capoeira criada por Mestre Bimba (Manuel dos Reis Machado [1899-1974]), e que amplia os conceitos da capoeira tradicional, adicionando-lhe novas possibilidades de golpes, ritmos, sistematização de treinamento, etc.

A capoeira, conhecida atualmente, possui um contexto histórico baseado na

escravidão brasileira. A situação do escravo negro foi marcada pela violência

constante praticada na forma de castigo, tortura e humilhação, métodos utilizados

para controlar o sistema de escravidão. Entretanto, a imposição do colonizador, o

trabalho forçado e as condições de vida sub-humana resultaram na indignação e

7 Novela dirigida por Walter Negrão, Suzana Pires e Júlio Fisher, apresentada pela Rede Globo entre os dias 29 de agosto de 2016 e 21 de março de 2017.

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resistência dos negros que se rebelavam contra as circunstâncias fugindo ou

cometendo suicídio (MELLO, 2002).

Segundo o autor supracitado, as fugas e a criação dos quilombos8 foram elementos

importantes para o surgimento da capoeira, pois a necessidade de proteção contra a

opressão sofrida fez com que os negros criassem uma técnica de ataque e defesa

para confrontos com os capatazes. Por esse motivo, os praticantes da capoeira foram

perseguidos, além de representarem uma ameaça ao regime escravagista. Além

disso, a passagem da capoeira do espaço rural para o urbano fez com que a

repressão contra a prática aumentasse, pois era associada à violência, malandragem

e badernas.

Mello (2002) afirma ainda que, no início da república, os capoeiristas foram

severamente perseguidos, recebendo sanção no código vigente à época. Ademais,

“a criminalização da capoeira teve um grande aporte nas teorias de Darwin sobre o

social, que indicava a inferioridade biológica da raça negra” (MELLO, 2002, p. 4). É

notório que os fatores históricos e raciais estão presentes nas definições

dicionarísticas atuais.

Essa contextualização histórica é importante para análise a fim de situarmos as

definições apresentadas, uma vez que essas expõem fatores relacionados à história

brasileira. Percebemos que o dicionário Houaiss traz para sua definição as

particularidades presentes no histórico escravagista da capoeira, porém não cita o

escravo. A acepção 1 apresenta o negro que vivia no mato, e relaciona o termo

“capoeira” com o local de mato baixo. Por outro lado, também apresenta

negativamente o negro acrescentando o fato de assaltarem os viajantes, apesar de os

relatos históricos consultados para esta análise não confirmarem tal prática.

As acepções 3 e 5 do dicionário Houaiss estão relacionadas à transição dos

capoeiristas para os centros urbanos, mostrando a capoeira como uma prática de

desordem, baderna, associada à violência. Vimos no contexto histórico da capoeira

sua relação com a malandragem, e Houaiss expõe esse fato caracterizando o

malandro como aquele que vivia em determinadas regiões e praticava capoeira,

provocando desordem pública. Dessa forma, o lexicógrafo perpetua o contexto

histórico negativo da capoeira ao expor os fatos que ocorreram no início de sua

8 Local no meio da mata para onde iam e se abrigavam os negros fugitivos.

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prática, diferentemente do dicionário Aurélio que não traz nenhuma acepção

relacionada aos aspectos negativos aqui discutidos.

Aurélio apresenta a capoeira como prática esportiva criada pelos negros, ou seja, a

visão atual da capoeira como jogo ou luta. Ressalta também outro sentido da palavra,

considerando-a como o espaço físico de mato. Entende-se que a definição do

dicionário Aurélio não reforça o aspecto negativo por definir a capoeira de maneira

descriminalizada e incorporada ao esporte. Além disso, nota-se que a história reflete

no léxico e em seu significado, que fatores políticos, sociais e raciais são

perpetuadores de estigmas e preconceitos antiquados, mas que se fazem presentes

nos dias atuais.

O escravo negro pertencia a uma camada popular da sociedade, dessa forma, a

capoeira foi também um movimento de afirmação da cultura e da identidade negra

(MELLO, 2002). Sendo a capoeira criada no contexto escravagista, em que os negros

eram vítimas de diferentes tipos de abuso, pode-se entender a negatividade

relacionada ao esporte destacada no dicionário Houaiss como resultado da

discriminação racial sofrida pelo negro, presente até os dias atuais.

Por fim, percebe-se que a história influencia na significação atribuída às palavras e

que, desta forma, é uma escolha do lexicógrafo dar ênfase a fatores negativos que

não condizem com a realidade atual.

Moleque

Dicionário Houaiss Dicionário Aurélio

Moleque s.m. 1 menino novo, de raça negra ou mista 2 B garoto de pouca idade 3 B menino criado à solta; menino de rua 4 B garoto travesso 5 B pessoa brincalhona, trocista, engraçada 6 B indivíduo sem integridade, capaz de procedimentos e sentimentos vis; canalha 15 que é dado a travessuras; traquinas 16 que tem mau caráter; velhaco ʘ ETIM quimb.mulekeˈ garoto, filho pequenoˈʘ SIN/ VAR ver sinonímia de canalha, diabo e pulha

moleque¹ [Do quimb. mu'leke, 'menino'.] S.m. 1. Negrinho. 2. Bras. Canalha, patife, velhaco. 4. Bras. Menino de pouca idade. 6. Bras. CE Pop. V. diabo (2) 8. Afric. Jovem doméstico (4): “Agora estava ali havia três meses. Moleque da cozinha e de ajudar às limpezas. Lavar a loiça, varrer a casa, puxar o lustro, deitar polimento na mobília...” (Guilherme de Melo, A Estranha Aventura, p.189.)

Como mencionado anteriormente, Castro (1983) afirma que muitos termos da língua

portuguesa trazida para o Brasil foram substituídos por termos africanos, palavras

como “moleque” e “caçula” são exemplos desse fato.

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Quanto à etimologia da palavra “moleque”, observamos que nas duas definições

acima o significado é correlato, identificando “moleque” como garoto, menino ou o

filho pequeno. Essa palavra tem origem na língua africana Quimbundo e, segundo

Bonvini (2002), é um termo integrado ao português, trazido pelos escravos falantes da

língua supracitada.

No entanto, nota-se que as acepções apresentadas são pouco associadas à

etimologia. Nas acepções 1 e 2 do dicionário Houaiss e na 4 do Aurélio ainda há

relação com o significado na língua africana de menino novo, mas a acepção 1 dos

dois dicionários evidencia certo preconceito associado à figura do negro, pois o termo

“moleque” não é designado para indicar um menino de cor branca, mas, sim, o

menino de raça negra ou mista.

Apesar de haver acepções que correspondam com a etimologia da palavra, a

maioria dos significados expostos são pejorativos e imbuídos de preconceitos. Sabe-

se que a figura do negro nunca foi bem vista no passado, assim, tudo que tinha

relação com esse era negativado, e possivelmente por isso o termo “muleke” utilizado

pelos escravos foi adquirindo outros sentidos, sendo muitos deles pejorativos.

Dessa forma, a palavra que serve para identificar o menino mais novo, atualmente

possui significados grosseiros e depreciativos como “canalha” e “mau caráter”,

presentes na acepção 6 do Houaiss e 2 do Aurélio. Além disso, os falantes utilizam

esse termo para adjetivar pessoas com comportamentos infantis. Houaiss, nas

acepções 4 e 5, também apresenta “moleque” como um indivíduo brincalhão,

engraçado e que é dado a travessuras, ou seja, aquele que faz coisas de menino.

Dessa maneira, percebemos que os sentidos depreciativos foram incorporados ao

longo do tempo e os próprios falantes perpetuam a negatividade semântica por

relacionar o termo “moleque” às atitudes de meninos novos ou crianças.

Correia (2006) afirma que a postura do lexicógrafo é fundamental para a

perpetuação de preconceitos ou para estabelecer o uso politicamente correto do

léxico. Assim, percebemos que o preconceito presente na palavra “moleque” é

também motivado pela escolha dos lexicógrafos ao selecionar termos como

“negrinho” e “menino novo de raça negra”, uma vez que, atualmente, os falantes

utilizam a palavra “moleque” para indicar uma pessoa de qualquer raça, pois o termo

está relacionado ao comportamento e não à etnia.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da análise realizada pode-se concluir que as línguas indígenas e africanas

contribuíram para a constituição e singularidade da língua portuguesa no Brasil por

inserirem no vocabulário palavras únicas, as quais enriqueceram o acervo lexical

brasileiro.

Quanto à alteração de significado, percebe-se a mudança de sentido em alguns

termos oriundos das línguas em questão com relação ao seu significado etimológico.

Assim, constata-se a evolução semântica dos verbetes devido a fatores como história e

política. Além disso, verificamos que há marcas preconceituosas nos verbetes

relacionadas principalmente à raça e à posição social, e que o contexto histórico é

referência para a construção dos verbetes, ainda que, atualmente, a significação não

corresponda ao passado.

Percebemos também a relação estreita dos falantes e sua influência sobre a

significação das palavras de sua língua, e que tanto os falantes quanto os lexicógrafos

são figuras fundamentais para a perpetuação de preconceitos, estigmas e

discriminação.

Por fim, ao analisar palavras corriqueiras para os falantes do português no Brasil,

observou-se a contribuição das línguas supracitadas na construção do léxico e da

sociedade brasileira, visto que a língua atua como identificador de uma nação.

Ademais, analisar a etimologia e o histórico das palavras faz com que se entenda

melhor a construção dos seus significados.

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