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UNIVERSIDADE CORPORATIVA: Um Estudo de Caso sobre a Modernização das Formas Pós- Fordistas de Qualificação da Força de Trabalho no Setor Energético SHEILA DO CANTO CARVALHO SILVEIRA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE - UENF CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ NOVEMBRO – 2006

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UNIVERSIDADE CORPORATIVA:

Um Estudo de Caso sobre a Modernização das Formas Pós-Fordistas de Qualificação da Força de Trabalho no Setor

Energético

SHEILA DO CANTO CARVALHO SILVEIRA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE - UENF

CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ NOVEMBRO – 2006

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UNIVERSIDADE CORPORATIVA:

Um Estudo de Caso sobre a Modernização das Formas Pós-Fordistas de Qualificação da Força de Trabalho no Setor

Energético

SHEILA DO CANTO CARVALHO SILVEIRA

Dissertação apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologia, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção de título de Mestre em Engenharia de Produção.

Orientador: Prof. Luís Antônio Cardoso da Silva

CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ NOVEMBRO – 2006

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UNIVERSIDADE CORPORATIVA:

Um Estudo de Caso sobre a Modernização das Formas Pós-Fordistas de Qualificação da Força de Trabalho no Setor

Energético

Dissertação apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologia, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção de título de Mestre em Engenharia de Produção.

Aprovada em 01 de novembro de 2006

Comissão Examinadora:

________________________________________________________ Prof. Luís Enrique Valdiviezo (Doutor, Eng. Produção) – UENF

________________________________________________________ Prof. André Laino (Doutor, História) – UENF

________________________________________________________ Profa. Marília Medeiros (Doutor, Sociologia) – UFF

________________________________________________________ Prof. Luís Antônio Cardoso da Silva (Doutor, Eng. Produção) –

UENF Orientador

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DEDICATÓRIA

Ao meu pai, Antonio Carlos e a minha irmã Fabiana.

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AGRADECIMENTOS

A DEUS, Pai todo poderoso, criador dos céus e da Terra e a seu filho Jesus

Cristo, que morreu por mim, estabelecendo a vida eterna;

Ao meu marido Wendel, pelo constante apoio, compreensão, paciência e

dedicação no término deste trabalho;

Aos meus pais, Antonio Carlos e Vânia, Maria Rita e aos meus irmãos

Fabiana, Rômulo e Thales, pela enorme torcida e confiança depositada;

Ao meu amigo e professor Luís Antônio Cardoso, sempre com sua boa

vontade, paciência, dedicação e confiança, orientando-me nos caminhos corretos

para a conclusão deste trabalho;

A minha amiga Denise e aos demais amigos do curso de Pós-graduação,

pelo especial carinho e amizade;

À UENF/FENORTE, pela concessão da bolsa de pesquisa que viabilizou a

realização desta dissertação;

A todos que, de uma maneira direta ou indireta contribuíram para o

desenvolvimento e realização deste trabalho.

Muito obrigada a todos!

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................. 01 CAPÍTULO 1 – A CONFIGURAÇÃO DO CAPITALISMO

CONTEMPORÂNEO: Uma Breve Análise das Transformações sobre a Produção e o Trabalho

1.1 – A Crise do Fordismo ....................................................................... 10 1.2 – As Transformações Econômicas... ................................................. 20

CAPÍTULO 2 – AS ORGANIZAÇÕES NA ERA DO CONHECIMENTO: Em

Busca de uma Nova Forma Inteligente de Organização........ 30

2.1 – A Era do Conhecimento e a Busca de um Novo Modelo de Gestão na Organização Produtiva .................................................. 31

2.2 – O Surgimento das Organizações Qualificantes ... .......................... 34

2.3 – A Aprendizagem Organizacional de Peter Senge........................... 37 2.4 – As Cinco Disciplinas ....................................................................... 39

2.4.1 – Domínio Pessoal ................................................................. 41 2.4.2 – Visão Compartilhada ........................................................... 44 2.4.3 – Modelos Mentais ................................................................. 46 2.4.4 – Aprendizagem em Equipe ................................................... 46 2.4.5 – Pensamento Sistêmico........................................................ 48

CAPÍTULO 3 – AS UNIVERSIDADES CORPORATIVAS COMO

ELEMENTO DE APOIO DAS ORGANIZAÇÕES QUALIFICANTES ....................................................................... 51

3.1 – A Criação da Universidade Corporativa.......................................... 51 3.2 – As Mudanças no Centro de Treinamento e Desenvolvimento ........ 56 3.3 – A Importância da Universidade Corporativa como Diferencial

Competitivo ..................................................................................... 60 3.4 – A Universidade Corporativa como Fator-Chave no

Funcionamento das Organizações Qualificantes ............................ 62 3.4.1 – Os Dez Princípios-Chave para as Organizações

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Qualificantes ............................................................................. 63

CAPÍTULO 4 – A EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE PETROBRAS........... 67

4.1 – O Desenvolvimento dos Recursos Humanos ................................. 68 4.2 – Estrutura Organizacional da Universidade Petrobras ..................... 73 4.3 – Programa de Formação .................................................................. 77 4.4 – Plano de Competências.................................................................. 81

CONCLUSÃO .................................................................................................. 91

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 96

ANEXOS........................................................................................................ 102

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ÍNDICE DE FIGURAS, QUADROS, TABELAS, PLANILHAS E GRÁFICOS

FIGURAS

FIGURA 1 – A Coerência do Aparelho Produtivo..............................................20

FIGURA 2 – Representação Metafórica do Conceito de Modelo Produtivo ......24

FIGURA 3 – O Modelo Pós-Industrial ...............................................................28

FIGURA 4 – Modelo de Organização com Sistema de Aprendizado ................38

FIGURA 5 – As Capacidades Centrais de Aprendizado ...................................40

FIGURA 6 – Organograma Petrobras ...............................................................69

FIGURA 7 – A Formação de Recursos Humanos no Decorrer dos Decênios ..72

FIGURA 8 – Estrutura Organizacional da Universidade Petrobras ...................74

FIGURA 9 – Competências e Plano de Desenvolvimento ................................83

FIGURA 10 – Competências Técnicas..............................................................84

FIGURA 11 – Etapas do Processo de Desenvolvimento da Capacitação dos

Empregados......................................................................................................89

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QUADROS

QUADRO 1 – As Organizações em Transição..................................................35

QUADRO 2 – Criação da Universidade Corporativa no Brasil ..........................53

QUADRO 3 – Principais Componentes da Mudança no Sentido de Aprendizagem

Baseada no Desempenho.................................................................................58

QUADRO 4 – Diferenças entre o Departamento de Treinamento e Desenvolvimento

e a Universidade Corporativa............................................................................59

QUADRO 5 – Comparação do Processo Treinamento X Aprendizagem..........86

QUADRO 6 – Universidade Tradicional X Universidade Corporativa ...............87

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RESUMO

Resumo da dissertação apresentada ao CCT/UENF como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências de Engenharia

UNIVERSIDADE CORPORATIVA: um estudo de caso sobre a

modernização das formas pós-fordistas de qualificação da força de

trabalho no setor energético

Sheila do Canto Carvalho Silveira

Outubro de 2006

Orientador: Luís Antônio Cardoso

Área de Concentração: Engenharia de Produção

Esse trabalho tem como objetivo o estudo do surgimento das universidades

corporativas especificamente no contexto da indústria do petróleo, relacionando-as

às mudanças ocorridas no pós-fordismo, bem como todo o mecanismo de

preparação da força de trabalho na sociedade do conhecimento. Verificamos que a

crise do modelo hegemônico de produção fordista ocasionou mudanças

significativas no cenário capitalista mundial. Essa crise resultou em novas formas

de gerir a produção e o trabalho no contexto empresarial e impulsionou as

organizações a buscarem novas formas para se manterem competitivas. As

universidades corporativas surgiram nesse contexto com uma abordagem eficaz

voltada para o alinhamento das estratégias organizacionais. Para tanto, foi

desenvolvida uma pesquisa de caráter descritivo e analítico na intenção de

demonstrar que as universidades corporativas são formas de manutenção das

organizações qualificantes.

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ABSTRACT

Summary of the dissertation presented to CCT/UENF as part of the requirements to

obtain the Master Degree in Sciences (M. Sc.) of Engineering, in the area of

Production Engineering

CORPORATE UNIVERSITY: A Case Study about the Modernization of

the Post-Fordist Forms of the Qualification of the Workforce in the Energy

Branch

Sheila do Canto Carvalho Silveira

October 2006

Advisor: Luís Antônio Cardoso

Major Area: Production Engineering

This work aims to study the appearance of the corporate universities, specifically in

the context of the oil industry, taking in account the post-fordist changes as well as

the mechanisms of qualification of the workforce in the learning society. We verify

that the crisis of the fordist hegemonic model of production brought hard changes in

the world capitalism. The fordist crisis generated a new way of managing production

and work and forced organizations to look new forms of holding competitivity.

Corporate universities appeared in this context, with a new approach concerned to

the alignment of the organizational strategies. Through a descriptive and analytical

research we intend to demonstrate how corporate universities are forms of

sustainability of the learning organizations.

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INTRODUÇÃO

Apresentação

Esse trabalho tem como objeto de estudo a análise do surgimento e do

desenvolvimento das novas estruturas formativas do processo de qualificação da

força de trabalho no setor petrolífero brasileiro, advindas a partir do processo

contemporâneo de reestruturação industrial, em específico, aquelas relacionadas

com o modelo das organizações qualificantes e das universidades corporativas.

Compreendemos que o fenômeno das organizações qualificantes enquanto

um novo modelo de organização do trabalho oriundo do complexo processo de

transformação da base econômica e produtiva a partir dos anos 70 constitui-se um

papel fundamental para a sobrevivência das empresas.

Essa dissertação se desenvolve a partir dos estudos sobre o desenvolvimento

de recursos humanos na Petrobras, bem como um entendimento sobre as inúmeras

mudanças que ocorrem nessa área.

Com o intuito de apontar as mudanças ocorridas em termos de organização

do trabalho que contribuíram para a implementação do processo de aprendizagem

organizacional na indústria petrolífera, surgiram as seguintes indagações:

Por que se torna fundamental às organizações esse novo modo de

gerir o trabalho inteligente?

Seria esse novo modo de produção capitalista uma nova forma de

alavancar o conhecimento dos trabalhadores a fim de gerar uma aprendizagem

organizacional?

O que contribui para a criação do modelo de universidade corporativa?

Apesar de serem cabíveis muitas outras indagações, salientamos que esse

trabalho preocupar-se-á em esclarecer, nas páginas que se seguem, os motivos do

aparecimento das organizações qualificantes e a posterior criação do modelo de

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universidade corporativa, em específico no setor de energia.

Origens da Pesquisa, Contextualização da Problemática e Construção das Hipóteses Ao concluir o curso de Administração na Universidade Federal Fluminense –

UFF, voltei meu interesse para o aprofundamento de meus estudos para os

assuntos relacionados ao desenvolvimento organizacional da produção e do

trabalho. Assim, com a finalidade de ampliar minha formação acadêmica, busquei

uma maior aproximação junto à UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense

Darcy Ribeiro, uma vez que nessa Instituição havia em funcionamento um Programa

de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia, com concentração na área de

Engenharia de Produção.

Uma vez inscrita no curso de mestrado, aproximei-me das pesquisas no

âmbito dos estudos organizacionais e do trabalho, então, um campo de estudos

investigado pelo Prof. Dr. Luís Antônio Cardoso. Isto posto, fui agregada a sua

equipe de pesquisa, ora denominada NUGESTO – Núcleo de Estudos em Gestão

Estratégica do Trabalho e das Organizações, no qual o pesquisador ampliava uma

linha de pesquisa dedicada ao estudo das análises e dos efeitos do pós-fordismo

sobre as sociedades contemporâneas.

Dentre as várias pesquisas dirigidas pelo Prof. Dr. Luís Antônio Cardoso nesse

Núcleo de Estudos, voltei meu interesse para estudar o desenvolvimento do modelo

de formação profissional nas principais indústrias brasileiras. Assim, o grupo de

pesquisa me proporcionou a ampliação dos contatos e relacionamentos que

conferiram um melhor aprofundamento do estudo da temática do surgimento e do

desenvolvimento das novas estruturas formativas do processo de qualificação de

trabalho na indústria do petróleo.

Além do fato que o setor petrolífero apresenta grande importância, bem como

também apresenta uma posição de destaque e de grande interesse para nossa

Universidade, procurei realizar essa dissertação, uma vez que se denota uma

carência de estudos dedicados ao processo de modernização das práticas

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gerenciais e dos novos mecanismos organizacionais introduzidos nesse complexo

produtivo. A partir dessas constatações, pude perceber a riqueza do campo, bem

como a sua viabilidade para a realização do estudo.

Já tendo encontrado um tema, bem como um objeto para a pesquisa, faltava-

me apenas estruturar o contexto da problemática e da construção da hipótese.

Neste sentido, esbocei, juntamente com o orientador, a problemática dessa

pesquisa. De fato, encontrei, na crise do fordismo, bem como os seus efeitos sobre

a sociedade do trabalho, o ponto de partida para o trabalho. Essa descrição está

esboçada nas linhas seguintes:

Nos últimos anos, muitos dos autores que se dedicam ao estudo da economia

mundial e do desenvolvimento do trabalho e das organizações nesse cenário, têm

trazido ao debate acadêmico a denúncia de que o mundo vem passando por um

quadro de profunda instabilidade e de constantes mudanças, sejam de ordem

econômica, política, social, bem como de outras.

Em decorrência da aceleração dessas mudanças, pode se perceber que as

organizações estão agindo e reagindo a esses movimentos.

As oscilações, as mudanças ocorridas e que ainda ocorrem na economia

podem ser explicadas principalmente pelo desenvolvimento ocasionado pela

competitividade global. Essa luta pela sobrevivência mercantil tem levado muitas

empresas a adotar formas alternativas de gestão da produção e do trabalho para se

tornarem competitivas ou mesmo para se manterem no mercado.

No taylorismo/fordismo, outrora, a mecanização combinada com o mecanismo

repetitivo do gesto controlava o homem. Os empregados eram totalmente vistos

como apêndices do sistema maquinal e direcionados apenas a atingir cotas de

produção, sem o uso pleno da imaterialidade dos trabalhadores.

No cenário econômico dinâmico atual, o preço, o produto e o serviço não são

mais apenas os únicos diferenciais competitivos. A crescente velocidade das

transformações impõe um novo horizonte de visão para as pessoas e para as

organizações, traçando novos paradigmas. Todavia, precisa-se atentar para o fato

de que o desenvolvimento tecnológico por si só não será suficiente para sustentação

de vantagem competitiva nas organizações. A rápida evolução tecnológica, com

impactos no ambiente organizacional, vem provocando grandes transformações nos

modos de trabalhar, dentre estas, a maior qualificação dos empregados.

Cada vez mais a competitividade passa a depender da forma eficaz de

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gerenciar o conhecimento. Por isso, as empresas buscam indivíduos com

habilidades particulares e com capacidade de se antecipar às mudanças.

Portanto, as organizações cientes da importância do conhecimento nesse

mundo globalizado estão impelidas a buscar e manter uma força de trabalho em

processo permanente de aprendizagem.

É nesse contexto, pois, que surgem e se desenvolvem as novas formas de

organização do trabalho construídas sobre a noção da organização qualificante.

Para romper com a rigidez da ordem anterior, que dispensava o potencial inteligente

do trabalhador, essas novas formas se apropriam do trabalho vivo inteligente,

transformando-o numa poderosa ferramenta de alavancamento da inovação, da

produtividade e da competitividade.

Hoje, percebe-se como a evolução da forma de pensar e organizar a

produção e o trabalho, bem como o aumento da competitividade vêm propiciando ao

homem utilizar sua imaterialidade, toda sua criatividade e inovação. Portanto, a

aprendizagem contínua, com todo o aparato de criação e disseminação do

conhecimento nas organizações são formas de vantagem competitiva sustentável.

Muitas empresas têm adotado esse novo estilo de organização, de caráter

eminentemente mais sistêmico e inovador.

As organizações de tipo qualificante, por sua vez, dependem da apropriação

contínua do saber operário e da conversão dos saberes tácitos da organização em

novas formas de aprendizado contínuo. É nesse contexto, pois, que surge a

universidade corporativa.

Na realidade, essas instituições surgem como motores do desenvolvimento

das novas formas de organização do trabalho baseadas no paradigma qualificante.

São elas que vão preparar o trabalhador, explorar seu conhecimento, sua reserva de

saberes, de modo a identificar suas melhores aptidões e competências de forma a

alimentar um novo tipo de organização, baseada nessa exploração contínua da

inteligência, da criatividade do trabalhador, para com o desenvolvimento pleno da

produtividade dos empreendimentos do capital.

É, pois, sobre essa discussão que definimos a situação problema de nosso

trabalho de pesquisa da seguinte forma: visto que as novas formas organizacionais

desenvolvidas nessa nova fase do capitalismo, que ora denominamos pós-fordismo,

em específico, aquelas desenvolvidas sob o paradigma da organização qualificante

reforçam a necessidade de intensificação do desenvolvimento das competências e

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das habilidades individuais e do conhecimento, então, como se daria o percurso

dessa nova atividade formativa do trabalhador da indústria petrolífera através do

novo paradigma de formação denominado universidade corporativa?

A hipótese básica desse trabalho parte do pressuposto que as empresas,

nesse novo paradigma produtivo, buscam se organizar no sentido de acelerar ainda

mais o processo de acúmulo de conhecimentos fundamentais à realização de suas

estratégias empresariais.

Uma dessas formas refere-se à utilização de modelos organizacionais

voltados para o aprendizado organizacional.

Diante dos desafios impostos pelo novo cenário econômico, destacamos que

as estruturas formativas baseadas no modelo das universidades corporativas

funcionam como alavancas para o desenvolvimento de novas formas

organizacionais de aprendizagem que procuram apropriar e utilizar o conhecimento

tácito dos trabalhadores como ferramenta de alavanca do desenvolvimento

competitivo da organização.

E, para poderem manter essa fonte de apropriação do conhecimento tácito,

as organizações procuram desenvolver novos canais de concretização dessa ação.

É nesse sentido, pois, que nascem e se desenvolvem as Universidades

Corporativas.

Essas, por sua vez, têm como papel fundamental preparar o terreno para a

apropriação do capital intelectual dos trabalhadores e sua conversão em ações em

prol de toda a organização.

Itinerário da Pesquisa e Metodologia

A pesquisa proposta tem um caráter descritivo/analítico, e o seu desenho

metodológico, pode ser dividido em dois momentos distintos:

Um primeiro, no qual procuramos buscar ferramentas teóricas, capazes de

auxiliar na construção de nossa argumentação. Para tal, fez-se recurso aos

materiais bibliográficos existentes sobre o tema em estudo; assim, nos

concentramos no levantamento de material via pesquisa bibliográfica aos acervos

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particulares ou universidades, livros, textos, sites, artigos, revistas, entre outros.

Um segundo momento, posterior, no qual nos concentramos na obtenção de

informações junto aos principais colaboradores ligados à área de desenvolvimento

de recursos humanos da Petrobras, e de referencial bibliográfico complementar.

A pesquisa de campo, por sua vez, teve o seguinte roteiro: os contatos com a

Petrobras tiveram início em outubro de 2004, a partir de uma solicitação enviada ao

gerente geral da Universidade Petrobras. Porém, devido a uma série de problemas

internos da Instituição, visto que a empresa estava passando por uma

reestruturação, tivemos que esperar. Isso, de fato, atrasou em muito a nossa

pesquisa. Em fevereiro de 2005 conseguimos agendar uma visita técnica para início

do mês de março. Fomos recepcionados pelo coordenador de publicidade, que

mostrou extrema boa vontade em nos receber. Com esta pesquisa in loco, pudemos

visitar todas as dependências da Universidade Petrobras e obter as informações

necessárias para a confecção do escopo teórico dessa pesquisa. Assim,

procuramos viabilizá-la através de um modelo de entrevista semi-estruturada ou

aberta. Portanto, nossa intenção era obter as informações de que precisávamos e

ao mesmo tempo deixar o interlocutor livre para abordar outras questões dentro do

assunto em pauta. Tinha como característica muito mais como uma conversa

informal do que como uma entrevista propriamente dita. Dessa maneira,

conseguimos combinar perguntas abertas que davam margem a opiniões e/ou

informações extremamente relevantes, as quais não constavam no roteiro de

entrevista. Destacamos que recebemos revistas, livros e muitas informações na

visita à Universidade Petrobras imprescindíveis para o término desta dissertação.

Além disso, parte de dados sobre a Universidade Petrobras também foram obtidos

junto a outras publicações e outras fontes primárias e secundárias já existentes.

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Estruturação Final e Conteúdo do Trabalho

Além dessa introdução, procuramos organizar a dissertação em quatro

capítulos, uma conclusão final e bibliografia, além, de vários anexos.

No primeiro capítulo, denominado “A Reconfiguração do Capitalismo

Contemporâneo: uma breve análise das transformações sobre a Produção e o

Trabalho”, procurou-se mostrar uma discussão acerca da crise do fordismo nos anos

70. Procurou-se evidenciar, do ponto de vista teórico, o conjunto de mudanças

significativas na economia e na produção capitalista, bem como seus resultados nas

novas formas de organização da produção e do trabalho.

No segundo capítulo, intitulado “As transformações nas Organizações Pós-

Fordistas: a busca de uma nova ordem produtiva”, procurou-se descrever o

surgimento de uma nova organização produtiva, voltada para o conhecimento ativo e

contínuo nas organizações, baseada no conceito de organização qualificante.

No terceiro capítulo, denominado “As Universidades Corporativas como

Elemento de Apoio ao Desenvolvimento das Organizações Qualificantes”

demonstramos como as universidades corporativas servem de base para a

manutenção das organizações qualificantes.

No quarto e último capítulo “A Experiência da Universidade Petrobras”

descrevemos a experiência da implantação do modelo da universidade corporativa

na empresa estudada.

Finalmente, para fechar o trabalho, discorremos uma conclusão, na qual

relatamos uma descrição pormenorizada das idéias apresentadas em cada capítulo,

bem como um fechamento e sugestões para futuros trabalhos.

Considerações Finais

Diante do que foi exposto ao longo do trabalho, acreditamos que essa

pesquisa tenha cumprido seus objetivos e obrigações relativas às exigências

necessárias para a obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia de

Produção, na UENF.

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Embora o trabalho apresente de modo claro e definido a temática proposta,

gostaríamos de esclarecer que ele não se encerra nessas páginas e que novos

trabalhos poderão ser concretizados a partir dele, mesmo porque esse tema em

estudo é ainda um tema de caráter inédito, com, muito poucas contribuições

científicas.

Gostaria de finalizar essa introdução com a idéia de que, muito embora esse

trabalho deixe transparecer que exista uma conclusão acerca da realidade estudada,

ela não é definitiva e não encerra, em si, a realidade na qual vivemos e criamos,

independente de nossa vontade. Essa síntese, é apenas uma pequena conclusão

dela.

Também, gostaríamos de salientar o fato de que, muito embora esse trabalho

seja fiel aos cânones da Ciência, siga os passos e as regras do jogo científico, ele

não é perfeito. Nele existem limites pessoais, mas que são superados pela nossa

boa intenção, fidelidade científica, honestidade e dedicação.

Eis, portanto, a nossa dissertação.

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CAPÍTULO 1

A RECONFIGURAÇÃO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO:

Uma Breve Análise das Transformações sobre a

Produção e o Trabalho

Esse capítulo tem como objetivo analisar as mudanças estruturais nas

economias capitalistas, de modo a oferecer subsídios teóricos para o entendimento

da reconfiguração da organização produtiva que ora norteia nosso trabalho.

Ao apresentar a evolução do processo de trabalho em termos de suas

transformações históricas sobre o capitalismo, tem-se o divisor de águas

fundamental, que é o fato de que não há, no modo de produção, uma maneira única

e acabada de organizar a produção e o trabalho, como têm mostrado as

experiências fordistas no decorrer do século XX.

De modo a elucidar e entender essa nova fase em que se encontra o mundo

capitalista de um surgimento de um novo modelo produtivo dotado de uma nova e

maior estabilidade estrutural, já que, conforme salienta Cardoso1, o fordismo teria

sucumbido, faremos no primeiro momento uma descrição sobre a crise do fordismo.

Na seção seguinte, faremos uma breve análise sobre as transformações

econômicas advindas da sociedade pós-industrial, bem como uma análise do novo

modelo de produção capitalista voltado para as formas sócio-técnicas.

1 CARDOSO, L.A. Após-Fordismo e Participação: Reestruturação Produtiva Contemporânea e a Nova Racionalização do Trabalho na Indústria Automobilística. 2001. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.geocities.com/lacardosobr> Acesso em: 10 mar. 2005.

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E, finalmente, faremos uma breve conclusão a fim de relacionar o trabalho em

questão com o estudo de caso.

* * *

1.1 – A Crise do Fordismo

Na administração taylorista/fordista, o trabalho e o conhecimento eram

suficientes para um bom resultado nos negócios. Como visto na literatura, a relativa

estabilidade do ambiente externo permitia a separação entre a concepção e

execução do trabalho. Aos níveis estratégicos e táticos cabia a responsabilidade de

analisar, interpretar, comandar e atribuir tarefas ou atividades ao nível operacional.

O fordismo tinha uma forma característica de regulação que estaria associada

com os fatores internos de desenvolvimento que levam o modelo ao seu sucesso.

Portanto, como demonstra CARDOSO2, inspirado em Boyer & Durand 3, ao longo

dos anos 60, 70 o próprio modo de racionalização da produção torna o modelo

contra-produtivo. Pode-se destacar:

I. em primeiro lugar, a forma de racionalização destinada a desenvolver o sistema

torna-se um mecanismo contra-produtivo. As formas de se racionalizar e

mecanizar a produção geram uma insuficiente mobilização dos saberes

operários, uma crise do trabalho, uma sub-utilização do capital e uma rigidez do

sistema, o que acarreta uma diminuição da produtividade do trabalho e

deterioração global. O princípio de conceber, produzir e organizar criam custos

importantes de mudança de modelo bem como uma lentidão de reações à

conjuntura, que determinam ao modelo uma capacidade de responder a um

mercado mutante em volume e composição. A idéia de produção nos moldes

do sistema just-in-case acabam por gerar uma insuficiente diversificação e

acarretam uma lenta capacidade de reação e, por outro lado o princípio da

produção de bens estandardizados de qualidade média a um custo decrescente

2 Ibid., p. 58-59. 3 Cf. BOYER, Robert; DURAND, Jean-Pierre. L’Après-Fordisme. Paris, Syros, 1998.

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levaria a uma negação da diversificação e das exigências de qualidade sobre

os mercados em vias de renovação;

II. em segundo, os princípios da organização fordista da produção tornam-se

extremamente limitados aos avanços da economia e do mercado. A produção

em série aplicada à grande empresa face a uma demanda incerta e automação

flexível acarretam importantes perdas de parcelas de mercado. A rígida

centralização do sistema de decisões acaba por gerar atrasos em reações

importantes e incapacidades de controle da informação, o que leva a uma crise

do modelo de gestão, ineficácia e inchamento das hierarquias intermediárias. A

integração vertical da empresa suscita problemas de controle e de organização

e desestabilização pelas novas técnicas, o que conduz a uma perda de controle

do processo de inovação. As relações de sub-contratação, por sua vez chegam

aos seus limites, gerando insuficientes investimentos em P&D e formação

profissional, o que acarreta uma deterioração das relações grande

empresa/subcontratantes.

III. por último, a relação salarial fordista cujas forças ou pontos de atratividade

acabam por se transformar em fraquezas potenciais para o sistema. A rígida

divisão do trabalho e a especialização extrema geram aumentos de custos de

controle e de organização, a recusa da disciplina fordista (absenteísmo, rotação

da mão-de-obra, etc...), a rigidez na alocação de tarefas, acabam por levar a

uma crise do trabalho e da produtividade. A polarização do trabalho na

hierarquia, gerando a perda (ou não-utilização) dos saberes operários e as

tensões internas nas empresas, acaba por estabelecer uma incapacidade no

controle das novas máquinas e equipamentos eletrônicos. O controle

hierárquico e as incitações financeiras conduzem à recusa das novas gerações

(melhor formadas e com diferentes aspirações profissionais) ao sistema, o que

desencadeia tensões sobre os custos e à queda da rentabilidade.

Esses fatos de acontecimentos descritos acima são os fatores geradores para

a decadência do fordismo enquanto um modelo hegemônico de sustentação do

modo de produção capitalista.

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12

Desta forma, as empresas acreditavam que a aprendizagem não tinha

importância para os operários, pois a eles, só cabia realizar o seu trabalho. Nos

trechos abaixo, Heloani sustenta essa posição:

“Um exemplo ilustrativo seria o da aplicação dos elementos essenciais da

administração científica ao ofício de pedreiro. Assim, caberia à direção

desenvolver cientificamente as ferramentas e as condições de trabalho. A

partir daí, o departamento de planejamento realizaria a seleção e o

treinamento, em que os que se “recusassem” a adotar os novos métodos ou

fossem “incapazes” de segui-los seriam dispensados”4.

“As práticas de seleção e treinamento reafirmam explicitamente esse

espaço pedagógico de adestramento dos corpos no interior da empresa. O

ritmo e a maximização do uso do tempo são apresentados como

“assistência” e “auxílio” ao trabalhador para desempenhar melhor a sua

tarefa. Ao mesmo tempo, esse espaço se direciona para implicitamente

extrair e manter a maior intensidade de trabalho possível”5.

Ainda corrobora Georges Friedmann, nos anos 40, ao revelar que o modo de

produção fordista prejudicava a aprendizagem nas organizações, além de limitar o

desenvolvimento das habilidades do trabalhador.

“Não nos surpreendamos que, ao observarmos o trabalho cotidiano na linha

de montagem, encontramos inúmeros exemplos de fragmentação de tarefas

e declínio da aprendizagem, mesmo considerando-se os diversos setores

produtivos. Trata-se de uma política consciente de muitos gerentes, que

agem assim com conhecimento de causa. Um deles, em uma grande

fábrica inglesa de automóveis, nos disse: “Nós tentamos reduzir as diversas

habilidades e competências ao mínimo.” Muitos outros gerentes pensam

assim, sem formular o seu pensamento, mas agem desta maneira”6.

Apesar de o modelo taylorista/fordista de organização do trabalho apresentar

um controle rígido sobre os indivíduos ao fragmentar o trabalho em tarefas

específicas e repetitivas, esse modelo foi seguido durante anos.

4 HELOANI, Roberto. Organização do Trabalho e Administração. uma visão multidisciplinar. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2000. 5 Ibid., p. 28-29. 6 FRIEDMANN, G. Le travail en miettes. Paris: Éditions Gallimard, 1964.

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13

Portanto, o taylorismo e o fordismo foram vistos como modelos hegemônicos

da gestão da produção capitalista no século XX até o período do pós-guerra.

Assim, os quase trinta anos de expansão do capitalismo (1945-1972) tiveram

como paradigma de produção ou modo de acumulação do capital o fordismo. Esse

período se caracteriza por uma gestão científica da organização do trabalho que se

constitui num modelo de desenvolvimento social, político e econômico, que igual não

se teve até hoje, com característica de uma regulação institucional do trabalho.

No fim dos Trinta Anos Gloriosos do Fordismo, no início dos anos 70, o

modelo hegemônico de acumulação capitalista começou a ruir.

Cardoso revela, em seu trabalho, que a crise do fordismo ou, para alguns

autores, ruptura do fordismo, expressa a denúncia ou afirmação de que existe uma

mudança significativa no comportamento das forças produtivas capitalistas no

mundo7.

No decorrer dos anos 70, temos um rico e intenso debate acadêmico com o

intuito de identificar a mudança da forma de racionalizar o modo de produção

capitalista.

Nesse contexto de acirrado debate sobre o fordismo e sua crise, a fim de

encontrar soluções para a crise dos anos setenta, uma escola de pensamento

desenvolvida na França se destaca como uma das mais sólidas abordagens ao

longo dos anos setenta. Trata-se da Escola Francesa de Regulação8, por

estabelecer de modo geral uma crítica à crise da economia de meados dos anos

setenta.

Os autores entendem que o capitalismo está dividido em períodos específicos

de estabilidade socioeconômica seguidos de períodos de crise. Portanto, o sistema

capitalista não permite que haja períodos contínuos de estabilidade e de

crescimento. Ao contrário, o capitalismo gera crises que requerem uma

reestruturação e o estabelecimento de novos mecanismos de estabilidade. De

acordo com os regulacionistas, a estabilidade é obtida através da criação de regimes

de acumulação e um modo de regulação. Cada período histórico é definido por um

regime de acumulação e por um modo de regulação a ele relacionado.

7 CARDOSO, L.A. 2001, p. 24. 8 Essa Escola, também conhecida como Teoria da Regulação ou Escola Regulacionista, surge no decorrer da década de 70, na França, a partir das contribuições críticas de Michel Aglietta, Robet Boyer, Alain Lipietz e outros. Para um maior aprofundamento sobre a Escola, ver: BRAGA, Ruy. A Nostalgia do Fordismo. São Paulo, Xamã, 2003; CARDOSO, L.A. 2001. op. cit.

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14

O regime de acumulação estabelece condições favoráveis que permitem a

reprodução do processo de acumulação de capital (transformação da produção) e a

manutenção de níveis aceitáveis da ordem socioeconômica capitalista (trabalho

social) em um determinado período histórico.

Desse modo, na visão dos regulacionistas, esse regime de acumulação pode

assumir formas extensivas e formas intensivas. Entende-se por regime de

acumulação extensivo, quando há crescimento de capital, seja através da extensão

da jornada de trabalho, da intensificação do trabalho e do aumento quantitativo da

força de trabalho. E por regime de acumulação intensivo quando, através de uma

inversão crescente em capital constante, (seja para reorganizar o trabalho, inserir

novos arranjos produtivos), criam-se as condições necessárias a um aumento da

produtividade e do consumo de massas. Portanto, se faz necessário ao regime de

acumulação um modo de regulação, pois contribui para um conjunto de normas e

instituições que dão suporte ao regime de acumulação.

Em sua evolução histórica, ora o capitalismo apresenta o modo de regulação

competitivo, que vai ser determinado pela livre-concorrência, através do controle do

processo de trabalho e pela determinação de preços e salários e ora pelo modo de

regulação monopolista, baseado na gestão científica, em um sistema oligopolista de

preços e no estabelecimento da relação salarial através da negociação coletiva entre

sindicatos, organizações empresariais e o Estado, modelo este, no qual se regula

socialmente o modo de consumo.

Conforme descrevem esses teóricos da regulação9, podemos entender as

distintas fases ou modos de desenvolvimento do capitalismo como:

I. durante quase todo o decorrer do século XIX, predomina um modo de

regulação competitiva governado por um regime de acumulação extensivo, o

qual se baseia na intensificação do trabalho e numa enorme expansão

geográfica do sistema. Não obstante, ao conservar aos trabalhadores uma

considerável faculdade de controle sobre o trabalho, em um contexto marcado

por uma competência sangrenta entre as empresas, os empresários não se

animam a assumir inversões de risco que possam inovar o processo

produtivo. Porém, o principal obstáculo para o desenvolvimento reside numa

escassa demanda, já que até no início do século XX, a classe operária é

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15

capaz de obter os meios necessários para sua reprodução fora do circuito da

produção de mercadorias, geralmente através de seus vínculos com o mundo

rural. Em outras palavras, no modo de consumo predominam as relações não-

mercantis;

II. nas primeiras décadas do século XX surge um regime de acumulação de tipo

intensivo, como conseqüência de mudanças técnicas e da introdução dos

métodos tayloristas de racionalização do trabalho. Uma vez que este regime,

todavia, está condicionado por um modo de regulação competitivo, em termos

de relação salarial, o modo de desenvolvimento não se logra, do mesmo

modo, institucionalizar o consumo massivo de produtos que requerem a

expansão industrial. Assim, pois, a desproporção entre as instâncias dos

meios de produção e de produção de artigos de consumo, passa a se

acentuar uma vez que as mesmas forças que revolucionam o processo de

trabalho e permitem tecnicamente a produção em massa, são as que reduzem

a demanda efetiva, ao restringir o incremento dos salários. A contradição entre

a crescente produtividade e a regulação de tipo competitivo durante o período

entre as duas guerras mundiais conduz, por assim dizer, à crise estrutural de

1930, a qual se define como uma crise de sobre-inversão e subconsumo;

III. como conseqüência da luta de classes dos anos 30, emerge um modo de

regulação monopolista, o qual permite o pleno florescimento das

potencialidades da acumulação intensiva e a resolução das contradições das

etapas anteriores, ao criar condições para o consumo de massas. A partir da

Segunda Guerra Mundial, se socializa, em boa medida, a distribuição do

ingresso através de uma série de mecanismos tripartites entre os

representantes do capital, do trabalho e do Estado, através dos quais, regula-

se a relação salarial, o sistema fiscal, o gasto público, etc...

Conforme observou Aglietta10, nessa terceira fase, que se consolida no

fordismo, dar-se-à um novo estágio de regulação do capitalismo e do regime de

acumulação intensiva, no qual a classe capitalista intenciona gerir a reprodução 9 BRENNER, R.; GLICK, M. The Regulation Approach: theory and history. In: New Left Review, (188), jul. - aug., 1991. p. 45-119. apud CARDOSO, L. A. 2001, p. 44.

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16

global da força de trabalho assalariada através da íntima articulação das relações de

produção e mercantis, por meio das quais, os trabalhadores assalariados adquirem

seus meios de consumo. O fordismo é, pois, o princípio de uma articulação do

processo de produção e do modo de consumo que instaura a produção em massa,

chave da articulação do trabalho assalariado.

Lipietz11, por sua vez, destaca que um modelo de desenvolvimento pode ser

analisado sob três aspectos diferentes, formando um tripé: um modelo de

organização do trabalho (paradigma tecnológico ou modelo de industrialização), um

regime de acumulação e um modo de regulação.

Como vimos, na terceira fase do Capitalismo temos a personificação do

fordismo. O modelo de desenvolvimento proposto por Lipietz afirma o pensamento

central da Escola, no qual ele entende que o paradigma industrial fordista teve a sua

hegemonia em determinado momento histórico, de se organizar a produção e o

trabalho no capitalismo. Ou seja, o fordismo, enquanto um modelo de

desenvolvimento das forças produtivas capitalistas sustenta-se em três bases. A

primeira baseia-se em um paradigma tecnológico ou modelo de industrialização

expressos pelo modo da organização do trabalho. A segunda baseia-se em um

determinado regime de acumulação específico, expresso através de determinados

princípios macroeconômicos que estabelecem a compatibilidade entre normas de

produção e normas de consumo. E a última, em um determinado modo de

regulação, expresso nas formas de ajustamento entre os comportamentos

individuais e o próprio regime de acumulação.

Estabelece-se a máxima da regulação do desenvolvimento capitalista: um

contínuo ajuste entre o consumo massivo e o crescimento da produtividade12,

permitindo, assim, a nova organização do trabalho alcançar importantes ganhos de

produtividade13.

O novo modelo de desenvolvimento que teve origem na América do Norte e

expandiu-se depois de 1945 por todos os países industrializados14 tem como fator

de sucesso o comprometimento através de negociações entre sindicatos e

empresas privadas. Desta forma, as empresas buscam aumentar a produtividade

10 cf. AGLIETTA, M. A theory of capitalist regulation : the US Experience. London, New Left Books, 1979 apud CARDOSO, L.A. 2001, p. 44-45. 11 LIPIETZ, Alain. Audácia: uma alternativa para o século XXI. São Paulo: Nobel, 1991. 12 CARDOSO, L.A. op. cit., p. 45. 13 GOUNET, Thomas. Fordismo e Toyotismo na Civilização do Automóvel. São Paulo: Boitempo, 1999. 14 Ibid., p. 60.

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por meio da intensificação do trabalho enquanto os trabalhadores e seus sindicatos

procuram incorporar ao salário os ganhos de produtividade. Desta forma, o

compromisso social fordista realizava uma correspondência entre crescente

produção em massa e crescente consumo de massa. Sendo conhecido em todo o

mundo pós-guerra como o American Way of Life, um modelo produtivista e

“hedonista”, que favorece a felicidade por meio de um número crescente de

mercadorias consumidas por todos15.

A harmonia ou a possibilidade de funcionamento relativamente estável do

compromisso fordista por um período considerado como a Idade de Ouro do

Capitalismo16 decorre da articulação entre um dado regime de acumulação com um

determinado modo de regulação. Tão grande foi essa harmonia, que o grande

compromisso fordista e a virtuosa configuração mundial sob a hegemonia americana

começaram a mostrar fissuras pelo fim dos anos sessenta17. No final dos anos 60

surgiram indícios de que o modelo de desenvolvimento industrial fordista começava

a enfrentar sérias dificuldades em sua reprodução. No âmbito da estrutura produtiva,

as formas organizacionais fordistas não conseguiam mais obter ganhos de

produtividade devido aos limites técnicos do modelo de produção. O aumento dos

custos de produção e dos salários, o declínio na produtividade e a saturação dos

mercados são alguns dos fatores que conduziram ao final do fordismo.

Na visão dos regulacionistas, a crise é estrutural, no qual o tripé que sustenta

o modelo fordista se fragiliza, o que contribui para uma ruptura na regularidade do

sistema. Boyer descreve quatro fatores fundamentais que marcam a vinculação do

capitalismo fordista a essa crise estrutural18.

I. em primeiro lugar, a intensa divisão do trabalho no interior das fábricas torna-

se um mecanismo essencialmente contraprodutivo. Ao longo das décadas de

60 e 70, percebe-se um decréscimo dos ganhos de produtividade, ao passo

que a resistência operária aos excessos do taylorismo, ou administração

científica, tende a um aumento progressivo. Por outro lado, observa-se um

15 LIPIETZ, A., op. cit., p.32. 16 Ibid., p. 27. 17 Ibid., p. 41. 18 BOYER , Robert. The Search for Labour Market Flexibility. Oxford, Clarendon, 1988. p. 199-203. apud CARDOSO, L.A. 2001, p. 46. Optamos pela abordagem de Boyer por considerá-la de melhor compreensão e mais próxima da interpretação que pretendemos dar, a este assunto, no presente trabalho.

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conseqüente decréscimo dos investimentos, o que acarreta mais ainda um

decréscimo da produtividade;

II. em segundo lugar, a contínua expansão da produção em massa e a busca

progressiva de economias de escala cada vez maiores levou a uma crescente

globalização da produção e das vendas. Intensifica-se a competição entre os

diferentes países e os mercados domésticos são invadidos, tornando a gestão

econômica em nível nacional uma atividade progressivamente difícil;

III. em terceiro lugar, o fordismo leva a um aumento crescente dos gastos sociais,

uma vez que a lógica da produção em massa não se aplica aos setores de

consumo coletivo, tais como a educação, saúde e serviços. Tal condição

estabelece que o custo relativo desses setores tende a um aumento constante,

levando, assim, ao desequilíbrio econômico e às pressões inflacionárias nas

economias;

IV. e, finalmente, os modelos de consumo do trabalhador fordista,

economicamente próspero tendem a mudar de forma gradual. Uma maior

variedade e novos valores de uso é demandada e, esses, não podem ser

satisfeitos e realizados pelos meios convencionais da produção

estandardizada.

As limitações apresentadas acima indicam que, a partir dos anos de 1970, o

padrão fordista de organização industrial prevalecente nas indústrias passou a se

defrontar com dificuldades em gerar dinamismo ao sistema. Desde então, as

empresas têm buscado reestruturar-se de modo a recuperar o crescimento, o que

colabora para as significativas mudanças no panorama econômico mundial.

Gounet19 esclarece muito bem quando afirma que, se o fordismo está em

crise, é porque deve ser substituído por um novo modelo de desenvolvimento, como,

aliás, insinuam os êxitos da Alemanha e do Japão.

Conforme salienta Cardoso20, houve uma mescla do modelo de produção

fordista com o aparecimento das formas de organização da produção industrial tais 19 GOUNET, op. cit., p. 63.

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como o toyotismo, a japonização, a niponização, o fujitsuísmo, o ohnoísmo, o

sonyismo, o neotaylorismo, o neofordismo, o pós-taylorismo, o pós-fordismo, bem

como outras que denunciam a necessidade de interpretação das mudanças

ocorridas.

Ainda comenta o autor que, do ponto de vista histórico-social, percebe-se que

desde o período marcado pelo final da década de 60 e o início da de 70, dão-se em

intensa velocidade, significativas mudanças no panorama econômico mundial. O

êxito industrial do Japão e, posteriormente, de outros países do sudeste asiático,

supõe um reordenamento dos mercados mundiais, como toda uma sorte de

mudanças relacionadas a nível internacional. Ao mesmo tempo, as inovações

tecnológicas, primeiro com a introdução da micro-eletrônica e, logo após, com a

biotecnologia e os novos materiais, implicaram também uma reestruturação

crescente nas indústrias de serviços. Toda esta amplitude de mudanças ainda não

suficientemente assimiladas dá lugar a diferentes tipos de análise e, frente ao

desafio de novos competidores, novas indústrias de ponta, novas tecnologias, novas

demandas por qualificação passam a não mais suportar as velhas formas de

organização do trabalho e da produção.

A reestruturação nas indústrias tem consistido no estabelecimento de

inovações tecnológicas, com a introdução da micro-eletrônica, com a biotecnologia,

com os novos princípios manufatureiros, através do uso de tecnologias de

informação e de novos arranjos organizacionais.

A grande força da teoria da regulação é que, além de oferecer uma

explicação bastante coerente e sólida acerca da crise do regime fordista, ela não é

determinística, e considera que há várias fases na história do capitalismo, na qual, o

processo de crescimento econômico capitalista está sempre em transformação,

necessitando de muitos atores e autores para interpretá-la e mudá-la.

Portanto, é exatamente sobre as transformações econômicas e produtivas do

modo de produção capitalista advindas da crise do fordismo que centramos nossa

atenção no decorrer do trabalho.

20 CARDOSO, L.A. op.cit., p. 23-24.

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20

1.2 – As Transformações Econômicas

Como forma de suprir as necessidades oriundas do antigo sistema fordista de

produção, foram inseridas diversas formas de trabalho nas organizações.

Portanto, a partir dos anos 80, a organização produtiva passa a ser formada

por novos processos de natureza sócio-técnica, os quais são resultante da influência

dos mercados dos bens e dos serviços e pelo mercado das tecnologias disponíveis,

que não cessam de ser continuamente transformadas pelo progresso técnico e pelas

relações sociais que lhe são inerentes.

Segundo Durand, essa nova era, ora designada pós-fordista, caracterizar-se-

ia não pela afirmação de um único modelo de produção hegemônico, mas sim pelo

surgimento de novos modelos produtivos.

Esses novos modelos produtivos por sua vez, seriam compostos de todo um

conjunto de princípios sócio-técnicos, tal como nos mostra a figura 1.

FIGURA 1 A Coerência do Aparelho Produtivo

mercado de trabalho

mercado dos bens e serviços

procedimento

sócio-técnico

envolvimento

no trabalho

Vida fora do trabalho

sindicalismo relações profissionais

hierarquia

sistema de remuneração

generalização do fluxo contínuo

organização dtrabalho

o

Integração na empresa estendida

Integração P&D industrialização

Integração funcional

Fonte: BOLLIER, G. et DURAND, C. 1999. p. 31. apud CARDOSO, L.A. 2001, p. 51.

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21

Essa organização produtiva é composta de quatro diferentes dimensões, as

quais têm como objetivo garantir sua eficácia21.

a) a primeira é dada pela integração entre pesquisa e desenvolvimento

(P & D) e a industrialização. Com o advento da economia aberta à

competição, o Estado, cuja função anterior era garantir essa relação

de sustentação e apoio, perde seu papel central. Assim, a função

dessa dimensão é procurar garantir de modo rápido e preciso a

proposição de novos produtos nos mercados competitivos;

b) a segunda, reside na integração funcional das empresas. Com o

intuito de garantir e manter sempre elevada a eficácia do aparelho

produtivo, tanto em termos de custo, qualidade e produtividade, as

empresas buscam as chamadas reorganizações de fundo de

natureza sócio-técnica. Essas visam à eliminação da separação

clássica entre os serviços e as funções dos processos produtivos,

bem como ao recurso às tecnologias de informação e da

comunicação. A engenharia simultânea constitui-se como uma

dessas vias de integração, bem como a aproximação dos serviços de

produção e comercialização, a mobilização dos trabalhadores em

torno de um projeto comum e do aumento das competências no

trabalho;

c) a terceira, na chamada integração da empresa estendida ou reticular.

Isto é, as relações entre os demandantes e os fornecedores passam

a ser estruturadas como um sistema de satélites que tende a se

escalonar em diversos níveis descendentes. O objetivo desse tipo de

prática reside na redução dos custos pela externalização das funções

industriais (fabricação, industrialização, concepção, etc...). Ainda

assim esse tipo de integração é complementada com integração

funcional nas empresas, o que aumenta de forma significativa a

complexidade global da organização produtiva;

21 Ibid., p. 52.

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22

d) a quarta e última dimensão, refere-se à generalização do fluxo

contínuo. Esse tipo de fluxo emergente dos princípios da produção

enxuta não objetiva somente a redução dos estoques, mas sim a

mobilização intensiva dos trabalhadores na pesquisa contínua das

causas das disfunções e da origem dos estoques na linha de

produção. Por outro lado, o fluxo contínuo permite regular a

intensidade do trabalho de forma melhor adequada, além de garantir

uma relativa redução da linha hierárquica e uma conscientização

ilusória, nos trabalhadores, de uma maior autonomia no trabalho.

A segunda componente do aparelho produtivo seria a relação salarial. Essa

possui quatro componentes principais - a organização do trabalho, as relações

hierárquicas, o sistema de remuneração e a natureza das relações sindicais (figura

1), cujo resultante é o maior ou menor envolvimento do trabalhador na atividade do

trabalho. Essa implicação é vista como um importante fator de eficácia do trabalho

na relação com a organização produtiva. Suas componentes são assim

entendidas22:

a) a organização do trabalho é uma componente dependente das

exigências técnicas da organização produtiva e das qualificações

disponíveis sobre o mercado de trabalho;

b) as relações hierárquicas são uma componente que guarda uma

estreita dependência da cultura da empresa e com o mercado de

trabalho;

c) o sistema de remuneração aparece como uma ferramenta técnica a

qual representa uma política da empresa, em estreita relação com o

mercado de trabalho (nível das remunerações, efeito do mercado de

trabalho local/nacional/internacional, grau de segmentação, formas de

emprego, modos de flexibilidade interna e externa, etc...);

22 Ibid., p. 53.

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23

d) a natureza das relações sindicais refere-se a todo o conjunto das

ações e memória histórica local ou nacional do movimento sindical e

ao papel do Estado nas relações profissionais aí incluídas, o nível de

intervenção, as taxas de sindicalização, o nível da capacidade reativa

dos sindicatos, o grau de representatividade, o nível de organização

de compromissos produtivos, etc...

No modelo produtivo, o nível micro social é formado pela estreita e integrada

relação entre a organização produtiva e a relação salarial.

De modo diverso, no conceito de modelo produtivo, os paradigmas postos em

prática, em todo e qualquer nível, podem influir na estabilidade ou coerência do

modelo e impor suas transformações (descoberta, substituição ou modificação) aos

outros paradigmas existentes23.

Ainda sim, de modo a continuar a compreensão do modelo produtivo,

analisamos o seu nível macro-social. Esse é composto pelo mercado de trabalho,

pelo mercado dos bens e serviços e pelo Estado24.

O mercado dos bens e serviços, uma das dimensões mais importantes desse

nível, compreende a oferta e a demanda que lhe são inerentes. A oferta é uma

variável que funciona em relação direta com a organização produtiva do nível micro-

social. A esse mercado estaria relegado o papel de impulsionar a circulação das

mercadorias, seja pela intensiva troca entre a oferta dos bens e serviços produzidos

e a demanda oriunda das empresas e da população consumidora.

O mercado de trabalho, que congrega em si a grande massa da oferta de

trabalho e de emprego, é, em grande parte, dependente da conjuntura econômica,

da demanda de bens e serviços e da demanda do aparelho produtivo.

O Estado, por sua vez, teria um papel central nesse nível e atua no papel de

coordenador e regulador das ações empreendidas em relação aos mercados. Em

relação ao mercado de bens e serviços, esse realiza um importante papel em

assegurar a oferta, na sustentação da pesquisa pura e aplicada, da pesquisa e do

desenvolvimento orientada às empresas, da organização do território e suas

influências sobre os bens e serviços (custo, disponibilidades dos bens e serviços),

da organização das políticas monetárias (volume monetário interno, política de

23 DURAND, J. –P. Le Nouveau Modèle Productif. In: BOLLIER, G. et DURAND, C. La Nouvelle Division du Travail. Paris, L'Atelier, 1999. p. 29-30, apud CARDOSO, L.A. 2001, p. 50. 24 CARDOSO, L.A. op. cit., p. 54.

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24

câmbio), da gestão da política fiscal e tributária, do controle sobre a

desregulamentação econômica, e da organização das empresas e de seu

posicionamento nos mercados. No lado da demanda dos bens e serviços, percebe-

se suas ações também no que concerne à distribuição dos benefícios indiretos

(educação, saúde, política social, etc...), bem como nas práticas mais gerais de

fixação de níveis salariais de fomento ao emprego, bem como outras de natureza

reguladora.

FIGURA 2 Representação Metafórica do Conceito de Modelo Produtivo

ESTADO

Desempregados

Ativos assalariados

Aposentados

Não assalariados

Necessidades das empresas

procedimento

sócio-técnico

envolvimento

no trabalho

Vida fora do trabalho

sindicalismo relações profissionais

hierarquia

sistema de remuneração

generalização do fluxo contínuo

organização do trabalho

mercado de trabalho

Integração na empresa estendida

Integração P&D industrialização

Integração funcional

mercado dos bens e serviços

Oferta de bens e serviços

Fonte: DURAND, J.-P., op. cit. In: BOLLIER, G. & DURAND, C. 1999. p. 40 apud CARDOSO, L.A. 2001, p. 56.

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25

Ao descrever a composição de um modelo produtivo, destacando o seu nível

macro e micro, pode-se compreender o funcionamento final do modelo, tendo como

base a figura 2.

Na descrição dessa figura, pode-se perceber que a eficácia do modelo

produtivo é dada através da relação existente entre a organização produtiva e a

relação salarial.

Assim esse ajuste interno das forças sociais e técnicas para a busca da

coerência do modelo seria a determinante maior das diversas formas também

sociais e técnicas da produção, que são manifestas através de novas tecnologias de

produção, novas formas e tipos de empresas e organizações, novas tecnologias de

gestão dos recursos - técnicos, financeiros, humanos, entre outros, da produção,

novas formas de racionalização da produção e do trabalho, novas formas de

organização do trabalho, novos compromissos entre o capital e o trabalho, novas

formas de sindicalismo e relações profissionais, bem como muitas outras de mesma

natureza.

Portanto, o modelo de produção pós-guerra vai se configurar como um

modelo de produção voltado estritamente para as formas sócio-técnicas. O tempo

inteiro, a organização produtiva vai procurar uma combinação, vai confrontar-se com

a relação salarial até encontrar um equilíbrio.

Para os autores existe um núcleo central, que vai ser dado pela existência de

procedimentos sócio-técnicos que são tecnologias mescladas com o que eles

chamam de envolvimento no trabalho ou participação dos trabalhadores. Ou seja, o

termo sócio-técnico seria a combinação das tecnologias de base sócio-técnica com

novas tecnologias de gestão de base participativa.

Entretanto, na década de oitenta, emerge uma série de tentativas de um

modelo substituto ao paradigma industrial fordista. Dentro do regime industrial,

temos a introdução de mecanismos de gestão alternativos e fundados na difusão da

aprendizagem organizacional, de desenvolvimento das competências de base e de

arquitetura organizacional destinados a estabelecer a performance e a

competitividade a um médio e longo prazo.

Como descreve Cardoso25, a transição das décadas de oitenta e noventa é

que vai realmente anunciar a legitimação da instalação de um novo paradigma

produtivo. Nesse período, vai apresentar-se uma toda série de princípios de

25 Ibid., p. 60-61.

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26

organização e de relação salarial, cujo objetivo vai se constituir como uma solução

aos limites do fordismo, sendo assim vistos:

I. No conjunto de princípios: otimizar a produtividade global dos fatores

(equipamentos, trabalho, matérias-primas, estoques, etc...); integrar

pesquisa, desenvolvimento, organização da produção e rede de vendas;

produzir apenas o que vende, em função de uma observação contínua e

detalhada dos mercados; produzir bens diferenciados de qualidade elevada

e a custos decrescentes.

II. Na organização produtiva: inserção da demanda no processo produtivo –

produção de massa de produtos diferenciados; descentralização completa

das decisões relativas à produção e redução da hierarquia intermediária;

inserção em redes e operações de parceria a fim de beneficiar os ganhos de

especialização e de coordenação; ampliação temporal dos contratos de

subcontratação como forma de promover a qualidade e a inovação.

III. Na relação salarial: recomposição das tarefas de produção, manutenção,

controle da qualidade e gestão; sinergia entre um nível mínimo de educação

e uma formação profissional, de modo a maximizar a competência; política

de recursos humanos voltada para o desenvolvimento da lealdade e da

competência dos trabalhadores.

Destarte, o conjunto de princípios que seria o ambiente macroeconômico

(mercado de trabalho) mais o aparelho produtivo, como visto, e entendido como

sendo a combinação entre a organização produtiva e a relação salarial, vão entrar

em sinergia, confrontando-se entre si e configurar-se em um novo modelo produtivo,

dotado de uma nova e maior estabilidade estrutural.

Portanto, com os novos modelos produtivos, muitas técnicas fordistas foram

deixadas para trás. Com isso, houve a introdução de uma nova equipe de trabalho

nas empresas, com um líder, de uma quase-integração horizontal e de um

desenvolvimento das redes de subcontratados, de modo a desenvolver os produtos

e os novos procedimentos gerenciais.

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27

Todavia, é a própria relação salarial que deve recomposta, uma vez que não

mais as tarefas determinam o status e a remuneração do trabalho mas, muito pelo

contrário, a competência, a lealdade e a vontade de se engajar em um processo de

inovações permanentes26.

Nesses moldes, o novo modelo produtivo é viabilizado, combinando esses

diversos efeitos estruturais da produção, fato este que lhe garante uma melhor forma

de responder às imposições externas com uma utilização mais eficaz das

competências dos trabalhadores e dos equipamentos27.

A partir dos anos oitenta, percebe-se, na história contemporânea do

capitalismo, uma série de modelos produtivos que, na realidade, não se configuram

como modelo dominante, porém é uma tentativa de ensaios e erros como forma de

se manterem estáveis por um longo período no tempo.

Portanto, depois da crise do fordismo, o capitalismo procura ferramentas para

tornar-se firme. No entanto, isto é praticamente impossível. Torná-lo firme é difícil:

mas havia possibilidade de continuar vivo e por um período indefinido, e a maneira

encontrada de fazer isso foi com a inserção de modelos voltados para as formas

sócio-técnicas de trabalho, através da maior participação dos indivíduos nas

organizações. Isso ocorreu nas organizações pós-industriais. Elas oferecem mais

espaço ao desenvolvimento dos indivíduos e valorizam o conhecimento produzido

por eles como fonte de criação de valor.

Logo, nesse novo modo de produção, fruto da reestruturação do modo

capitalista de produção, a fonte de produtividade está relacionada a toda forma de

geração de conhecimentos, pois valorizar a capacidade de refletir e processar

informações dos indivíduos aumentaria a capacidade de processamento de

informações.

Com isso, tem-se uma nova forma de organização do trabalho, voltada para a

valorização dos indivíduos, de modo a valorizar a aprendizagem e a autonomia

como elementos importantes.

Na figura 3, temos algumas características relativas ao modelo de

organização pós-industrial.

26 Cf. BOYER, R. et DURAND, J. - P. L’ Après-Fordisme. Paris, Syros, 1998. p. 12. apud CARDOSO, L.A. 2001. p. 61. 27 CARDOSO, L.A. op. cit., p. 62.

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28

FIGURA 3

O Modelo Pós-Industrial

O MODELO PÓS-INDUSTRIAL

• Predominância do setor terciário.

• Globalização.

• Maior concorrência e competição entre as empresas.

• Predomínio da tecnologia de informação garantindo rapidez nas

comunicações (internet, telefonia digital, satélite, redes interativas).

• Processamento de informações como mecanismo de geração de

valores e vantagem competitiva para as organizações.

• Mecanização de trabalhos rotineiros antes atribuídos ao homem.

• Desregulamentação e descentralização.

• Aumento da complexidade dos sistemas sociais e técnicos.

• “Aprendizagem organizacional”.

• Racionalidade limitada – formas de pensamento múltiplas, diversas

racionalidades e “visões de mundo”.

• Autonomia dos indivíduos.

• Novas e diversas formas de organização do trabalho e da produção.

Fonte: adaptado de MOTTA, Fernando C. P.; VASCONCELOS, Isabella F. G. de. Teoria Geral da Administração. São Paulo: P. T. Learning, 2006.

O modelo de organização pós-industrial implica mudanças nas formas de

comportamento nas organizações, gerando inovação e um envolvimento cada vez

maior do indivíduo.

Como modo de suprir as necessidades oriundas da crise da base produtiva,

foram encontradas formas mais flexíveis de organização do trabalho e de gestão do

trabalho nas organizações que foram assumidas pelo capitalismo contemporâneo.

São elas: just-in-time, sistema de gestão da qualidade - ISO 9000, o Kaisen,

terceirização, estrutura horizontal, o gerenciamento participativo, reengenharia,

benchmarking e outras.

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29

É justamente sobre esse aspecto que doravante voltaremos nossos esforços,

no sentido de melhor compreendê-lo.

* * *

Esse capítulo serviu para identificar os motivos que levaram à derrocada do

modelo de produção fordista, bem como o surgimento de novas formas de

organização e produção do trabalho.

Portanto, procuramos descrever como as transformações advindas do velho e

acabado modelo fordista tiveram como conseqüência a introdução de novos

modelos produtivos e novas formas de organização e de produção.

Na intenção de compreender as diversas formas encontradas para torná-lo o

sistema capitalista dinâmico, centramos nossa atenção para a nova forma de

organização do trabalho e da produção baseada no conceito de organização

qualificante, capítulo seguinte.

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CAPÍTULO 2

AS ORGANIZAÇÕES NA ERA DO CONHECIMENTO:

Em Busca de uma Nova Forma Inteligente de Organização

No capítulo anterior, pudemos analisar e compreender as inúmeras

transformações do capitalismo contemporâneo. Discutimos a transição do Fordismo

ao Pós-Fordismo de modo a elucidar esse fenômeno da história capitalista. De

acordo com os autores citados, a partir da ruptura que se tem com o modelo fordista

de desenvolvimento industrial, passam a existir novas formas da organização da

produção do trabalho.

Esse capítulo tem, pois, como objetivo, explicar as transformações nas

organizações produtivas pós-fordistas e também o surgimento de uma nova forma

de organização, calcada na perspectiva do conhecimento e da imaterialidade.

Pretendemos discutir os fatores que impulsionaram a mudança da era

industrial taylorista-fordista para a era do conhecimento.

No que concerne à era do conhecimento, entendemos ser essa a peça-chave

para o aprendizado ativo e contínuo nas organizações. É que, com o advento dessa

era, temos todo um aparato de técnicas, métodos e teorias como subsídios para as

organizações qualificantes.

Por fim, apontamos as cinco disciplinas propostas por Senge como forma de

alavancar o conhecimento organizacional.

* * *

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31

2.1 – A Era do Conhecimento e a Busca de um Novo Modelo de Gestão na Organização Produtiva

Ao tomarmos como referência as formulações teóricas discutidas até o

presente momento, defrontamo-nos com as seguintes indagações:

• Até que ponto pairam as reestruturações que ocorrem sobre a produção e o

trabalho?

• Quais são as novas formas de racionalização do capitalismo a partir dos anos

80?

Desde os primeiros anos do Século XX, tivemos a introdução dos métodos

taylorista-fordistas, que se tornaram mundialmente conhecidos através das

inovações tecnológicas e organizacionais de seus seguidores. Portanto, a partir de

1970 tornou-se cada vez mais evidente a incapacidade do fordismo, em manter o

sistema produtivo funcionando de modo eficaz.

Segundo Lipietz28, a tese sustentada pela Escola Regulacionista Francesa

tentou explicar essa crise estrutural partindo do pressuposto de que os inúmeros

choques macroeconômicos causados pela grande crise do petróleo, nos anos 70,

abalaram sobremaneira a economia mundial e, em conseqüência disso, seguiu-se

uma crise geral da produtividade e uma conseqüente queda da lucratividade e da

taxa de acumulação.

O autor afirma ainda que o compromisso fordista entrou em crise sob todos os

aspectos: baixa de rentabilidade do modelo produtivo fordista, internacionalização

dos mercados e da produção comprometendo a regulação nacional, revolta dos

produtores diante da alienação do trabalho e diante da onipotência da hierarquia e

do Estado, aspiração dos cidadãos a maior autonomia, omissões crescentes diante

da solidariedade administrativa, dentre outros.

Com o advento da crise do fordismo, fez-se necessário o surgimento de uma

nova ordem produtiva, baseada em uma ordem sócio-técnica, caracterizada pela

flexibilidade e integração, voltada para incorporar e harmonizar fatores tanto de

natureza técnica quanto sociais na produção.

Portanto, pode-se constatar que o marco inicial para estruturar e formalizar a

produção e o trabalho nas indústrias foi o fordismo. Após esse desenvolvimento

28 LIPIETZ, 1991, passim.

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32

histórico da racionalização do trabalho, em fins da década de 70 e, ao longo dos

anos 80, os sistemas industriais passaram por um processo de modernização

através da introdução de novas tecnologias. Com a introdução da tecnologia

eletrônica, tecnologia de informação, novas formas de gestão da produção voltadas

para um modelo mais flexível, mais integrado e mais participativo, os métodos de

gerir a produção taylorista-fordistas não prevaleceram mais hegemônicos como

outrora. A mudança na organização da produção, implica em uma nova forma de

mão-de-obra. A nova forma da gestão da produção exige a qualificação do

trabalhador, a utilização das competências, enfim a uma nova utilização da força de

trabalho.

A partir da crise do paradigma técnico-econômico que caracterizou o período

industrial, surgem as bases para o paradigma das tecnologias da informação.

Nesse novo cenário, verificam-se o advento da era da informação, a

aceleração do processo de automação e informatização, o nascimento e

crescimento da biotecnologia, dentre outros.

A era da informação caracteriza o advento da era do conhecimento ou

economia do conhecimento. Esta nova era caracteriza-se pela busca à informação,

construção de novas competências e qualificações.

Pode-se explicar essa mudança do paradigma técnico-econômico em função

de dois fatores. O primeiro concerne à importância do estudo das competências

humanas como processo de desenvolvimento da sociedade. Nesse sentido, o

aprendizado e o conhecimento constituem-se um elemento analítico importante. O

outro fator é decorrente do primeiro, pois, a organização da produção depende do

uso do conhecimento. Sendo assim, faz-se necessário o surgimento de uma nova

era, chamada era do conhecimento.

Dessa forma, o conhecimento é colocado como principal insumo e o

aprendizado como principal processo no contexto atual de reestruturação técnico-

econômica.

Meister29, salienta que a economia do conhecimento pode ser entendida

como um conceito abstrato, mas é essencialmente o modo de administrar as

informações no trabalho. A economia do conhecimento exige saber contínuo para

desenvolver habilidades complexas.

Nesse início de século, denominado era do conhecimento, pode ser

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33

entendido como sendo mais uma das formas de racionalização da produção

capitalista. As organizações estão adaptadas à era do conhecimento, na qual a

capacidade de interpretar rapidamente as informações complexas, dar sentido a elas

e agir passa a ser fonte de criação de valor.

Por sua vez, Fleury & Fleury30 apontam três fatores geradores de mudança no

contexto atual capitalista. São eles: a passagem de um regime de mercado

vendedor para mercado comprador, a globalização dos mercados e da produção e o

advento da economia baseada em conhecimento.

Ao mencionar esses três fatores cabe-nos aqui ressaltar as diferenças entre

ambos. Quanto ao regime de mercado vendedor para mercado comprador, pode-se

perceber que, até a década de 70, as regras eram estabelecidas somente pelo

mercado produtor ou vendedor, pois, a demanda era maior que a oferta, toda a

produção era consumida. Em meados da década de 70 prevaleceu o inverso. A

oferta tornou-se maior que a demanda, o que contribuiu para o excesso da

capacidade produtiva. Desta forma, o mercado tornou-se comprador e os clientes e

compradores passaram a ditar as regras. Nesse contexto, as organizações aderem

ao princípio de qualidade nos produtos e serviços e passam a preocupar-se com o

cliente. A competitividade aumenta e as empresas procuram uma nova maneira de

estabelecer-se. Inicia-se um intenso processo de reestruturação.

Quanto à globalização dos mercados e da produção, diz respeito à

homogeneização dos mercados. Assim, como os mercados são globais, o padrão de

consumo torna-se global, ou seja, semelhantes aos diferentes países.

Quanto ao advento da economia baseada em conhecimento, destaca-se que

o conhecimento é o principal fator de produção nos dias atuais.

Portanto, conclui-se que o sistema econômico não se baseia mais nos

recursos tradicionais como: terra, capital e mão-de-obra e sim no conhecimento.

Um novo mercado de trabalho está surgindo, relacionado à emergência da

sociedade do conhecimento, que exige competências, qualificação, flexibilidade,

audácia e disponibilidade para o trabalho contínuo.

É para esse aspecto que doravante voltaremos nossa atenção.

29 MEISTER, C. Jeanne. Corporate Universities: Lessons in Building a World-Class Work Force. Mc Graw Hill. 1997. 30 Maiores detalhes, ver em FLEURY, Afonso; FLEURY, Maria T. Leme. Estratégias empresariais e formação de competências: um quebra-cabeça caleidoscópio da indústria brasileira. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2004.

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2.2 - O Surgimento das Organizações Qualificantes Conforme visto anteriormente, a passagem da era industrial para a era do

conhecimento gerou forte impacto no comportamento das organizações. Antes a

produção era padronizada e centralizada, a tecnologia com automatização rígida e o

trabalhador rotinizado. Atualmente, temos os novos modelos de produção voltados

para a flexibilidade, diversificação e autonomia.

Segundo Cardoso, essa nova visão de empresa significa a realização de um

novo modelo de gestão no qual a tecnologia e o homem, bem como a organização

do trabalho, passam a conviver em um intenso processo de simbiose31. Ainda,

destaca o autor, há diversas formas assumidas pela empresa pós-fordista, dentre

elas: a organização qualificante ou a empresa que aprende.

Também destaca as principais transformações no que concerne à

organização do trabalho, tais como: a introdução e a difusão das metodologias de

qualidade e das tecnologias de gestão de pessoal e de tipo participativo, além do

modelo de competência.

Ressalta-se a literatura de Meister32 ao explicar o surgimento da

aprendizagem organizacional. Para a autora, o ambiente de trabalho está passando

por transformações. Ao passar pelo processo de reestruturação e reengenharia nos

anos 80 e 90, as corporações americanas estão anos adiante, competindo no

mercado global. As corporações de hoje são voltadas para o aprendizado e são

menos hierárquicas do que eram há uns 10 ou 15 anos.

Salienta, ainda, que uma das maiores transformações de longo alcance dessa

revolução dos negócios americanos é que as corporações do século XXI são

fundamentalmente muito diferentes do que dominou a paisagem dos negócios

americanos durante os anos 1950 e 1960. Ao comparar a hierarquia corporativa das

últimas décadas, o surgimento da organização é distinto por ambigüidade, menor

limite, e velocidade na comunicação entre a organização e empregados,

fornecedores e clientes.

Meister diferencia a organização vertical de uma organização horizontal.

Mostra que atualmente, as organizações optam pela flexibilidade, pela estrutura

horizontal, caracterizada por decisão descentralizada. Na luta pela competição,

estão em questão, a velocidade e a eficiência. A nova organização do século XXI 31 CARDOSO, L. A. op. cit., p. 265.

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35

valoriza o trabalho em equipe e não o individualismo no trabalho. Destaca, também

por trabalhar em um sistema global, ou seja, em um mercado aberto e não fechado,

local.

Com a mudança no ambiente industrial, as estruturas verticalizadas e

altamente centralizadas cedem espaço para estruturas horizontalizadas e

amplamente descentralizadas.

Como forma de suprir as necessidades desse novo perfil da gestão da

produção, surgem as organizações qualificantes, também conhecidas como

organizações de aprendizagem.

O aprendizado e as habilidades sempre foram importantes. Com as

mudanças tecnológicas e alterações freqüentes da demanda de mercado,

resultantes de uma série de forças que atuam conjuntamente sobre o ambiente

macroeconômico, tornaram o conhecimento a condição sine qua non que garante a

sobrevivência da empresa.

Pode-se observar no quadro 1, as diferenças e transições entre as

organizações das décadas passadas e as organizações do século XXI.

QUADRO 1 As Organizações em Transição

Modelo Antigo Protótipo do Século XXI

Organização Hierarquia Rede de sociedade e alianças

Missão

Desenvolver a maneira atual de fazer negócios

Valor criativo

Líder Autocrático Inspirativo Mercado Local Global

Vantagem Custo Tempo

Tecnologia Ferramentas para desenvolver a mente

Ferramentas para desenvolver a colaboração

Força de trabalho Homogêneo Diversas

Processo de trabalho Diversas funções

Equipe de trabalho interfuncionais

Expectativa do trabalhador

Secundário

Desenvolvimento pessoal

Treinamento e educação

Tarefa das instituições de ensino superior

Tarefa das organizações empresariais

Fonte: adaptado de MEISTER, op. cit., p. 3.

32 MEISTER, 1997, op. cit., p. 1-2.

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36

O quadro 1 mostra o perfil da organização neste século, quando o valor é

criado através do capital humano. A mudança de paradigma na gestão da produção

baseado na eficiência e economia de escala para o conhecimento é a essência das

organizações no século XXI. Pode-se dizer que trabalho e aprendizagem são as

mesmas coisas, porém com ênfase no desenvolvimento para a capacidade

individual de aprender do trabalhador. Estas mudanças organizacionais exigem

mudança comportamental do trabalhador e requerem dele, habilidades e papéis

completamente novos.

Ao abordar o surgimento das organizações de aprendizagem, faz-se

necessário elucidar o referencial teórico. Tem-se como ponto de partida os autores

pioneiros, tais como, Chrys Argyris e Peter Senge.

Destarte, faz-se necessário ressaltar que, no final da década de 70, Chrys

Argyris foi o precursor do que hoje conhecemos como Organizações de

Aprendizagem ou Aprendizagem Organizacional.

Segundo Argyris33, os executivos profissionais são muito hábeis no

aprendizado que ele caracteriza como single-loop e que se refere à solução de

problemas, tendo como foco a identificação e a correção de erros. É importante

corrigir problemas, mas não é suficiente. É necessário refletir criticamente sobre o

próprio comportamento e as ações, questionando o modo e as razões de se fazer

algo de uma determinada maneira. Também define esse modo de aprendizado

como double-loop, e sugere que é necessário as organizações desenvolverem essa

capacidade.

Desde os anos 70, tem-se abordado o tema das organizações de

aprendizagem, mas somente a partir da década de 90, especificamente com a obra

de Peter Senge34, foi que a expressão learning organization35 tornou-se conhecida

por grande parte das organizações, inclusive as organizações brasileiras.

Segundo Peter Senge36, a organização que aprende tornou-se um importante

33 ARGYRIS, apud ALPERSTEDT, Cristiane. As Universidades Corporativas no contexto do ensino superior. 2001. Tese (Doutorado em Administração) - Programa de Pós-Graduação em Administração, FEA/USP, São Paulo. 34 SENGE Peter M. The Fifht Discipline. the art and practice of the learning organization. New York: Doubleday Currency, 1990. 35 Entende-se por learning organization as organizações de aprendizagem. 36 SENGE, Peter M. A Quinta Disciplina: arte e prática da organização que aprende. 13 ed. São Paulo: Best Seller, 2002.

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37

modismo37 de administração da primeira década de 90.

Portanto, muitas organizações perceberam a necessidade de se tornarem

organizações de aprendizagem. Corroboram essa idéia Galer e Van Der Heijden38

quando dizem que, se o ambiente de negócios muda mais rapidamente do que o

tempo de resposta natural da organização, a aceleração do aprendizado pode

tornar-se um meio de os gerentes aumentarem suas habilidades em criar os

resultados desejados.

As organizações gerenciam o conhecimento através da aprendizagem

organizacional. E como referência básica sobre o processo de aprendizagem

organizacional dar-se-á no item seguinte destaque à obra de Peter Senge, já

mencionada.

2.3 - A Aprendizagem Organizacional de Peter Senge

O que distinguirá fundamentalmente as organizações que aprendem das

organizações controladoras e autoritárias tradicionais será o domínio de

determinadas disciplinas básicas39.

Assim sendo, vale a pena mencionar a contribuição de vários autores40 para a

construção da obra “A quinta disciplina”, de Peter Senge.

Essa seção será desenvolvida com base em uma palestra apresentada pelo

autor Peter Senge na Expo Management 200241 e na leitura do livro já mencionado.

Senge42 comenta que o sucesso de uma empresa vai depender de sua

capacidade de expansão de aprendizado, envolvendo todos os membros da

organização. Deixa-se de lado a visão de que a solução para os problemas é

37 Senge entende por modismo a cobertura da imprensa especializada em negócios, pelo número de conferências organizadas e pelo reconhecimento de instituições de prestígio como a American Management Association. 38 GALER. G; VAN DER HEIJDEN, K. The learning organization: how planners create organizational learning. MarKeting Intelligence & Planning. V.10. n. 6. 1992. 39 SENGE, op. cit. p. 39. 40 Em seu livro “A Quinta Disciplina”, Senge faz uma série de agradecimentos aos seus amigos. Dentre eles, Arie de Geus, Chris Argyris, Jay W. Forrester, entre outros. Esses autores, dentre outros, já haviam abordado sobre organizações que aprendem e colaboraram com o desenvolver das cinco disciplinas elaboradas por Senge. Para maiores informações ler: Ibid., p. 9. 41 Learning Organization. Produção de HSM Group. São Paulo: ExpoManagement. 2002. Apresenta Peter Senge. 1 DVD. 42 SENGE, 2002, p. 37-39.

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38

exclusividade da alta gerência. Parte-se do princípio de que todos são aprendizes,

pois o ato de aprender faz parte da natureza humana. Para ele, o domínio de

determinadas disciplinas básicas é o que distinguirá as organizações que aprendem

das organizações controladoras e autoritárias. As disciplinas são vistas como

caminhos de desenvolvimento para aquisição de determinadas habilidades ou

competências. Trata-se de um corpo de teoria e técnica que deverão ser dominadas

e colocadas em prática.

Observa-se que o papel das organizações no aprendizado de seus

funcionários vem se ampliando cada vez mais. A educação corporativa focaliza o

desenvolvimento do quadro de pessoal com vistas à obtenção de resultados nos

negócios. Trata-se de um modelo de treinamento diferenciado, estruturado tanto

para transmitir conhecimentos específicos sobre assuntos nos quais os funcionários

apresentam algumas deficiências quanto preparar esses funcionários para os

desafios vindouros.

A organização que aprende é habilidosa na criação, aquisição, transferência

de conhecimento e na modificação de seu comportamento para refletir o novo

conhecimento e as novas idéias. A figura 4 nos mostra a base dos modelos

adotados pelas organizações como sistemas de aprendizagem. Ou seja, o sistema

de aprendizado organizacional nada mais é do que a união do modelo descritivo,

baseado em cultura, experiência e centro de competência e o modelo normativo,

baseado em melhores práticas e processos comuns.

FIGURA 4 Modelo de Organização com Sistema de Aprendizado

DESCRITIVO

(Como e onde ocorre o aprendizado)

Orientação do Aprendizado Estilo de

Aprendizado

NORMATIVO

(O que promove o aprendizado)

Fatores Facilitadores = Sistema de

Aprendizado Organizacional

Baseado em: Cultura, experiência e centro de competência

Baseado em: Melhores práticas, processos comuns

Fonte: NEVIS, E.C.; DIBELLA, A.J.; GOULD, J.M. Understanding Organizations as Learning Systems, 1996.

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39

Segundo Senge43, a principal justificativa de que as organizações que

aprendem existem e são possíveis é o fato de que, no fundo, somos todos

aprendizes. E mais, as organizações que aprendem são possíveis não só porque a

aprendizagem faz parte da natureza humana, mas porque adoramos aprender.

Assim, a aprendizagem está presente em nós, principalmente nos momentos em

que temos um objetivo em comum, que é muito maior que o objetivo individual.

Ao transcender a questão do conhecimento, diagnosticou que muitas

empresas têm deficiência de aprendizado. Para superar o problema e ampliar a

capacidade de aprender, propôs a organização que aprende, através de um modelo

de fácil compreensão. Para ele, as organizações que aprendem desenvolvem a

capacidade do aprendizado ativo e adaptativo, sendo competitiva a origem da

obtenção de vantagem.

2.4 - As Cinco Disciplinas

As cinco disciplinas propostas por Senge consistem em conceitos que são

trabalhados durante o processo de implementação, com o intuito de estimular

potenciais intrínsecos no interior de cada um, bem como desenvolver habilidades e

visões que irão garantir a eficiência do processo organizacional.

O elo entre o aprendizado individual e o aprendizado organizacional é um dos

principais objetivos do estudo das disciplinas que constituem a base das

organizações que aprendem. Isto se justifica pelo fato de que as disciplinas

estimulam padrões mais abrangentes de pensamento, as pessoas expandem

continuamente sua capacidade de criar os resultados que realmente desejam e dão

liberdade à aspiração coletiva, de forma que as pessoas aprendam juntas as artes

de como aprender.

A figura 5 mostra um conjunto de capacidades centrais de aprendizado as

quais as organizações devem desenvolver em seus trabalhadores, a fim de

aumentar a capacidade de aprendizagem no ambiente de trabalho. Ao unir os três

domínios de aprendizado (aspiração, conversa de reflexão e compreensão da

complexidade), as organizações estão integrando a aprendizagem e o trabalho.

FIGURA 5

43 Ibid., p. 38.

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40

As capacidades centrais de aprendizado

FIGURA 5

ASPIRAÇÃO • Domínio Pessoal • Visão Compartilhada

CAPACIDADES CENTRAIS

DE APRENDIZADO

COMPREENSÃO DA COMPLEXIDADE • Pensamento Sistêmico

Fonte: Learning Organization. PrApresenta Peter Senge. 1 DVD.

Para que se construa

as aptidões que tais organiza

as áreas de conhecimento

habilidades são descritas

apresentadas a seguir. Porta

os gerentes devem:

1. desenvolver o domínio

2. questionar os modelos

3. permitir-se uma visão

4. dominar a aprendizage

5. praticar o pensamento

Vale a pena notar q

autoritarismo, não existindo

toda a organização, pois não

realização, de crescimento in

organizações só mudarão a

agir dentro de si mesmo, sen

44 Learning Organization. ProduçãPeter Senge. 1 DVD.

CONVERSA DE REFLEXÃO • Modelos Mentais • Aprendizagem em Equipe

odução de HSM Group. São Paulo: ExpoManagement. 2002.

m organizações que aprendem, é necessário entender

ções devem possuir, ou seja, descobrir as habilidades,

e os caminhos para o desenvolvimento. Essas

através das cinco disciplinas essenciais que serão

nto, para desenvolver uma organização que aprende,

pessoal;

mentais;

compartilhada;

m em equipe;

sistêmico.

ue as organizações tradicionais são marcadas pelo

formas para o desenvolvimento de aprendizagem por

foram criadas para atender às necessidades de auto-

dividual e de reconhecimento profissional. Portanto, as

sua forma de pensar se mudarem a forma de pensar e

do um ato pessoal. Conforme Senge44, aprender é algo

o de HSM Group. São Paulo: ExpoManagement. 2002. Apresenta

Page 52: UNIVERSIDADE CORPORATIVA: Um Estudo de Caso sobre a ... · ... criador dos céus e da Terra e a seu filho ... QUADRO 2 – Criação da Universidade ... linha de pesquisa dedicada

41

pessoal, no final das contas aprender é sempre pessoal.

Veremos adiante quais os caminhos que uma organização precisa passar

para tornar-se uma organização que aprende.

Faz-se necessário compreender que um processo de aprendizagem é um

processo em que um aprendiz passa de não saber algo que quer fazer para ser mais

capaz de fazer algo que quer fazer. Aprender é um processo de aumentar nossa

capacidade.

2.4.1 - Domínio Pessoal Vimos que, a aprendizagem organizacional só ocorre quando há a

aprendizagem individual, pois as organizações de aprendizagem só existirão se

houver pessoas determinadas a aprender.

Dentre os três domínios de capacidades de aprendizado abordados, um deles

merece destaque nesta seção. Referimo-nos ao domínio Aspiração, que tem como

características básicas o domínio pessoal e a visão compartilhada.

Pode-se entender que domínio pessoal são as aspirações pessoais. É saber

responder às seguintes perguntas: o que importa realmente na minha vida? Onde

estou com relação ao que quero? E concluir que, quando criamos os resultados que

realmente procuramos, estamos descobrindo o domínio pessoal. Esses resultados

alcançados são a resposta à pergunta: o que quero criar? E consequentemente,

domínio pessoal é um processo de aprendizagem contínua.

A disciplina do domínio pessoal é o aumento da capacidade de aprendizagem

individual. Começa com aprender a aprender para deslanchar a capacidade de

aprendizagem. Deve ser considerada como um dos elementos fundamentais para a

construção de uma organização que aprende.

Afirma Senge, que aprender não significa adquirir mais informações, mas sim

expandir a capacidade de produzir os resultados que realmente queremos na vida45.

Também salienta que a justaposição da visão (o que queremos) e uma

imagem nítida da realidade atual (onde estamos com relação ao que queremos)

45 SENGE, op. cit., p. 168.

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42

geram o que chamamos de tensão criativa: uma força que tenta unir os dois,

causada pela tendência natural de tensão para se buscar uma solução. A essência

do domínio pessoal é aprender a gerar e sustentar a tensão criativa em nossas

vidas.

Portanto, para desenvolver o domínio pessoal, será necessário entender que

o domínio pessoal é uma disciplina, em que se tem uma série de práticas e

princípios que devem ser aplicados para serem úteis no decorrer do processo.

Esse é o primeiro passo para desenvolver a capacidade de aprendizagem em

uma organização. Ao entender o domínio pessoal como uma disciplina que deve ter

uma prática contínua, pode-se ir para as outras etapas, as quais são: visão pessoal,

tensão criativa, conflito estrutural. Estas etapas são as estruturas que possibilitam e

caracterizam a disciplina do domínio pessoal. São elas:

VISÃO PESSOAL – O maior erro em definir visão é dizer que são as

metas e os objetivos. A visão pessoal pode ser definida como a razão

de viver de uma pessoa. Portanto, uma visão pessoal é a resposta às

perguntas: O que quero criar? O que importa para mim? Desta forma,

se não sei o que importa para mim, não consigo realmente responder

para mim o que quero criar. E assim, não existe a visão. Por isto, o

domínio pessoal deve ser uma disciplina, pois é um processo contínuo

pelo qual enfocamos e re-enfocamos continuamente o que realmente

queremos, isso é a verdadeira visão. E o que distingue uma pessoa da

outra em termos de altos níveis de domínio pessoal é exatamente a

definição da visão pessoal.

TENSÃO CRIATIVA – A tensão criativa pode ser chamada de hiato.

Está situada entre a visão pessoal e a realidade. É exatamente a força

que entra em ação no momento em que reconhecemos uma visão que

bate de frente com a realidade atual. Portanto, a tensão criativa é o

hiato entre a visão e a realidade e que resulta em uma fonte de energia

criativa. A tensão criativa surge ao vermos claramente onde queremos

estar (visão pessoal) e a resposta em relação aonde estamos

(realidade atual). Muitos confundem tensão criativa com tensão

emocional, mas dominar a tensão criativa é um processo de auto-

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43

controle e auto-confiança, enquanto as emoções negativas, como

ansiedade, tristeza, desestímulo, falta de esperança e preocupação só

colaboram para a redução e o desaparecimento da visão. Deste modo,

pode-se aliviar a tensão emocional através do controle ou da

desistência da visão. Ao optar pelo controle e entender a tensão

criativa, terá o domínio desta. Contudo, somente as pessoas criativas,

usam o hiato ou a tensão criativa entre a visão e a realidade atual, a

fim de atingir as metas e os resultados que almejam, pois o fracasso é

apenas uma limitação. Por fim, Senge confirma que ter domínio sobre

a tensão criativa transforma nossa forma de enxergar o fracasso. O

fracasso é simplesmente uma limitação, um indício do hiato existente

entre a visão e a realidade atual. O fracasso é uma oportunidade de

aprendizagem sobre imagens imprecisas da realidade atual, sobre

estratégias que não funcionaram como o esperado, sobre a clareza da

visão46.

CONFLITO ESTRUTURAL – Esse tipo de conflito impede o alcance

das metas, pois trata-se de uma estrutura de forças conflitantes, que

nos puxam em direção ao que queremos e, ao mesmo tempo, afastam-

nos daquilo que queremos. Para Fritz47, existe dentro de praticamente

todos nós uma crença dominante de que não conseguiremos realizar

nossos desejos. Essa crença trata-se de um subproduto quase

inevitável do processo de crescimento: Como as crianças, nós

aprendemos quais são as nossas limitações. As crianças aprendem

limitações essenciais à sua sobrevivência. Muitas vezes, porém, tal

aprendizado é generalizado. Dizem-nos constantemente que não

podemos ter ou fazer determinadas coisas, e por isso, às vezes

acabamos assumindo que somos incapazes de ter o que queremos.

Mas, podemos mudar nossas crenças à medida que desenvolvemos

nosso domínio pessoal. Sendo assim, o exercício principal para que se

consiga praticar e ter o domínio de forma que o conflito estrutural

46 SENGE, op.cit., p. 181. 47 FRITZ, R. The Path of Least Resistance. Nova York, Fawcett-Columbine, 1989. apud SENGE, 2002, p. 183.

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44

ocorra será através do compromisso com a verdade e controle do

subconsciente, o que é essencial no processo de aprendizagem.

A partir da prática do domínio pessoal, as mudanças graduais começam a se

manifestar dentro do indivíduo. Enfim, a prática da disciplina do domínio pessoal,

permite que os valores pessoais sejam motores que impulsionam a pessoa à

definição de objetivos com propósitos. Assim, a percepção do real e a visão do

desejado é uma tensão que gera a energia necessária que faz a pessoa sentir-se

parte do processo e, deste modo, aprender a expandir as capacidades pessoais. A

organização que permite e incentiva a busca pelo domínio pessoal trabalha com

pessoas que criam e mudam a realidade.

2.4.2. Visão Compartilhada

Ao voltar à figura 5, percebe-se que o domínio aspiração inclui a disciplina do

domínio pessoal e a disciplina da visão compartilhada. Como vimos anteriormente, a

aspiração significa viver nas perguntas: O que importa para mim? O que importa

para nós? O que estamos realmente tentando criar? E como, a visão é uma resposta

a esta pergunta, podemos dizer que a distinção entre uma visão pessoal e uma

visão compartilhada é a diferença entre o que eu quero criar e o que nós queremos

criar. As visões compartilhadas não existem se não houver um ambiente onde as

pessoas reflitam, falem, se conheçam e se entendam em termos de suas visões

pessoais. Portanto, visões pessoais e visões compartilhadas andam juntas.

Enquanto as visões pessoais são as aspirações pessoais, as visões compartilhadas

são as aspirações coletivas.

Numa organização em que os seus funcionários compartilham a visão

pessoal, consequentemente eles se compromete com a visão compartilhada.

Quando um grupo de pessoas compartilham objetivos, estão assumindo o

comprometimento mútuo. Desta forma, estão aperfeiçoando a aprendizagem em

equipe que é um dos aspectos fundamentais de uma organização que aprende. Vale

ressaltar que, não existe uma organização que aprende se não houver a visão

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45

compartilhada, em que os funcionários deixam de pensar como a sua empresa e

passam a pensar a nossa empresa. Há uns quinze anos, muitas organizações

declaravam sua visão organizacional. Porém, falharam, pois a visão declarada não

compreendia todos os níveis organizacionais. Ou seja, muitos funcionários não

tinham a mesma visão.

Apesar disso, as visões compartilhadas devem ser criadas a partir das visões

pessoais. A participação e o comprometimento fazem com que as pessoas almejem

à visão.

Para que as organizações incentivem em seus funcionários a visão

compartilhada, é preciso compartilhar continuamente as visões pessoais. O ponto

negativo será exatamente esta mudança, na qual terá que compartilhar com todos

os níveis organizacionais, a visão e não apenas estabelecer metas. Além de ser um

processo demorado em função das interações entre as visões pessoais no qual

exige conversas constantes e principalmente em saber ouvir as outras idéias.

Assim, a visão compartilhada transforma-se em uma força ativa somente

quando as pessoas acreditam que podem contribuir para a transformação da

realidade atual.

Conclui muito bem Senge ao dizer que, quando os integrantes de uma

organização começam a aprender como as políticas e ações existentes, estão

criando sua realidade atual, cria-se um solo novo e mais fértil para o

desenvolvimento da visão. Surge uma nova fonte de confiança, que resulta de uma

compreensão mais profunda das forças que dão forma à realidade atual e dos

pontos de alavancagem para influenciar essas forças48.

Por fim, a disciplina da visão compartilhada é representada por organizações

que se importam com as visões pessoais de seus integrantes e as compartilham, o

que gera a visão compartilhada. Tudo isto em prol do desenvolvimento da visão.

2.4.3. Modelos Mentais

48 SENGE, op. cit., p. 259.

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46

Como mostra a figura 5, o domínio conversa de reflexão abrange a disciplina

dos modelos mentais e a disciplina da aprendizagem em equipe. Logo, as perguntas

relacionadas à conversa de reflexão são: Como funciona o conflito? O que acontece

quando o chefe diz algo e o subordinado não concorda? O que acontece quando a

maravilhosa estratégia em que a equipe de gerência trabalhou nos últimos seis

meses não faz sentido algum para o pessoal da linha de frente?

Cabe-nos aqui abordarmos a disciplina dos modelos mentais. Logo, a

definição de modelo mental mencionada será a do autor Argyris49, de Harvard, que

trabalha com modelos mentais e aprendizagem organizacional há uns trinta anos. O

autor revela que os modelos mentais, embora não se comportem (sempre) de forma

coerente com suas teorias esposadas (aquilo que dizem), as pessoas comportam-se

de forma coerente com suas teorias-em-uso (seus modelos mentais).

Portanto, os modelos mentais determinam a forma como agimos e sempre

serão diferentes quanto à forma de enxergarmos o mundo ao nosso redor. Claro que

daí surge o conflito, pois as pessoas pensam diferente. Não se pode viver sem os

modelos mentais. Em primeiro lugar, deve-se ter consciência de nossos modelos

mentais e, em segundo, aprender a condicionar nosso comportamento.

Pois, na realidade, tendemos a não ter consciência de nossos modelos

mentais porque normalmente não estamos conscientes, e eles frequentemente

condicionam nosso comportamento50. Deste modo, os modelos mentais influenciam

o que fazemos, pois interferem no que vemos.

2.4.4. Aprendizagem em Equipe Conforme nos mostra a figura 5, o domínio conversa de reflexão também

inclui a disciplina da aprendizagem em equipe.

Para Senge, a aprendizagem em equipe é o processo de alinhamento e

desenvolvimento da capacidade de criar os resultados que seus membros realmente

49 ARGYRIS, C. Reasoning, Learning and Action: individual and organizational. San Francisco: Jossey-Bass, 1982. apud SENGE. p. 201-202. 50 Learning Organization. Produção de HSM Group. São Paulo: ExpoManagement. 2002. Apresenta Peter Senge. 1 DVD.

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47

desejam51. Ela baseia-se na disciplina do desenvolvimento da visão compartilhada.

Baseia-se também no domínio pessoal, pois as equipes talentosas são compostas

de indivíduos talentosos. No entanto, visão compartilhada e talento não bastam. O

mundo está repleto de equipes com indivíduos talentosos que compartilham uma

visão durante algum tempo, mas que não conseguem aprender. A grande banda de

jazz tem tanto talento e uma visão compartilhada (mesmo que eles não a discutam),

porém, o que realmente importa é que os músicos sabem como tocar juntos.

Assim, à medida que as organizações se tornam mais complexas, cada vez

mais as estruturas grupais vêm tomando importância, principalmente nas

organizações que aprendem onde a renovação do interesse pelo trabalho em grupo

se manifesta com maior intensidade.

Vale ressaltar que a aprendizagem em equipe produz a aprendizagem mútua

entre os integrantes e também desenvolve com maior rapidez a aprendizagem

individual, pois o trabalho em grupo proporciona o desenvolvimento das capacidades

individuais.

Segundo Marx, o trabalho em grupo está centrado na flexibilidade de

alocação de trabalhadores, o que, por sua vez, favorece fluxos mais rápidos de

informação entre trabalhadores e gerentes, aproveitamento de sugestões de

melhoria e a aprendizagem contínua tanto do indivíduo como da organização52.

Portanto, a aprendizagem em equipe apresenta três fatores cruciais. O

primeiro diz respeito à necessidade de a equipe pensar reflexivamente sobre os

assuntos complexos, em que precisam aprender a utilizar o potencial de muitas

mentes a fim de serem mais inteligentes do que uma mente só.

O segundo fator está relacionado com a necessidade de ação inovadora e

coordenada das equipes. Cada membro de equipe deve complementar as ações dos

outros membros.

O terceiro e último fator crucial é que a equipe que aprende deve estimular

continuamente outras equipes através da disseminação das práticas e habilidades

da aprendizagem em equipe de forma mais ampla.

A aprendizagem em equipe envolve o desenvolvimento contínuo entre o

diálogo e a discussão, e entre a prática e o desempenho.

No que concerne à discussão e ao diálogo, muitos membros de equipes

51 SENGE, op. cit., p. 263. 52 MARX R. Trabalho em grupos e autonomia como instrumentos da competição: experiência internacional, casos brasileiros, metodologia da implantação. São Paulo: Atlas, 1997.

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48

diante de um conflito perdem o controle por não saberem lidar com as diferenças

pessoais; logo a disciplina da aprendizagem em equipe exige muita prática e

desempenho. Na realidade, exige-se um processo contínuo entre a prática e o

desempenho. Deste modo, não existem métodos para formar equipes capazes de

aprender em conjunto, todavia sabemos que, quando os resultados esperados são

alcançados, houve a aprendizagem em equipe.

2.4.5. Pensamento Sistêmico

Segundo Senge53, o pensamento sistêmico é a quinta disciplina, pois integra

as outras, já descritas anteriormente, fundindo-as em um corpo coerente de teoria e

prática. Sem o pensamento sistêmico, não há o incentivo e nem os meios para

integrar as disciplinas de aprendizagem. Ele é, pois, a pedra fundamental que

determina como as organizações que aprendem pensam a respeito do seu universo.

Por conseguinte, todas as cinco disciplinas propostas pelo autor envolvem um

processo contínuo de aprendizagem.

Nesses tempos, o pensamento sistêmico é mais necessário do que nunca,

pois nos tornamos cada vez mais desamparados diante de tanta complexidade. É

que não existe uma única causa para os problemas. Da mesma forma, as

organizações entram em colapso, já que são incapazes de reunir em suas diversas

funções as habilidades e capacitações para criar um todo produtivo.

A disciplina do pensamento sistêmico possibilita às outras disciplinas uma

mudança de mentalidade, de ver as partes para ver o todo, de considerar as

pessoas como reativas para considerá-las pró-ativas, deixando de reagir ao

presente para criar o futuro. Portanto, a mudança de mentalidade envolve dois

aspectos. São eles:

Inter-relacionamentos, em vez de cadeias lineares de causa-efeito.

Processos de mudança, em vez de simples fotos instantâneas.

53 SENGE, op. cit., . p. 45 e 100.

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49

Para isso, o pensamento sistêmico conta com uma reestruturação do modo

como pensamos e agimos. Portanto, para o domínio da disciplina do pensamento

sistêmico é necessário compreender os círculos de causalidade e o feedback que

moldam a forma de enxergarmos o mundo.

O círculo de causalidade corresponde aos círculos que envolvem cada

situação, pois tendemos a enxergar as situações, os problemas, enfim, a vida, em

linhas retas, quando deveríamos atentar para os inter-relacionamentos, para os

círculos que envolvem cada situação. Ao agimos desta forma, estamos criando um

círculo ou loop de relacionamentos de causa-efeito, chamado de processo de

feedback, em que passamos a enxergar os círculos ao invés das linhas retas da

causalidade.

Portanto, o processo de feedback é o elemento básico da disciplina do

pensamento sistêmico. Existem dois tipos de feedback, que são o feedback de

reforço e o feedback de equilíbrio.

O processo de feedback de reforço são os propulsores do crescimento. Ou

seja, situações em que as coisas estão crescendo significam que o feedback de

reforço está em ação. No entanto, também pode-se produzir declínio acelerado,

quando pequenas quedas se acumulam, transformando-se em quedas cada vez

maiores. O processo de feedback de equilíbrio entra em ação sempre que existe um

comportamento orientado para uma meta, sendo o fator motor para o alcance da

meta desejada.

Por fim, para que as cinco disciplinas mencionadas sejam implementadas

com sucesso, é necessário que a organização funcione de maneira inteiramente

nova e diferente, precisando pensar e trabalhar em conjunto, a fim de adquirir novas

idéias e aprender mais rápido com as mudanças.

* * *

Nesse capítulo, foram abordadas as profundas transformações produtivas

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50

que se verificaram nas organizações nestas últimas décadas.

Também mencionamos que, nesse início de século, ora denominado de Era

do Conhecimento, mais do que nunca, o termo aprendizagem encontra uma grande

significância para as pessoas e para as organizações.

Dessa forma, fez-se necessário mencionar o surgimento das organizações

qualificantes, já que obter o conhecimento é a pedra fundamental de qualquer

organização.

Portanto, destaca-se a aprendizagem organizacional de Senge com as cinco

disciplinas que representam individualmente um corpo significativo de teoria e de

métodos de gestão, como forma de subsídios para a sustentação das organizações

qualificantes.

O próximo capítulo versará sobre a necessidade da criação da universidade

corporativa nas organizações, de modo a compreender a sua importância como

novo padrão para as organizações, bem como o surgimento das organizações

qualificantes, como a força motriz de seu aparecimento e de sua sustentação.

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CAPÍTULO 3

AS UNIVERSIDADES CORPORATIVAS COMO ELEMENTO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO

DAS ORGANIZAÇÕES QUALIFICANTES

Nesse capítulo, será discutido o surgimento das universidades corporativas e

suas caracterizações, enfocando a contribuição do departamento de treinamento e

desenvolvimento e todos os fatores contribuintes neste processo. Também será

discutida a importância do modelo da universidade corporativa diante da

necessidade de aumentar a capacidade competitiva e o fenômeno da aprendizagem

nas organizações resultantes das Organizações Qualificantes. Por fim, será

demonstrado que as universidades corporativas funcionam como um elemento

motor para o funcionamento das organizações qualificantes.

* * *

3.1 – A Criação da Universidade Corporativa

A busca pela sobrevivência nas organizações nos mostra uma série de

mudanças no ambiente organizacional. Dentre as principais, destaca-se a educação

contínua dos funcionários como um fator relevante para a manutenção da vantagem

competitiva.

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52

Percebe-se que a era do conhecimento impõe um imperativo vital para as

organizações em que o conhecimento sem a prática contínua pela busca do saber

se torna obsoleto.

Além disso, muitas organizações perceberam que somente as formações

realizadas pelas universidades tradicionais não atendiam às demandas do mercado,

por fornecer um estudo com uma visão sistêmica dos processos.

Também perceberam que o tradicional departamento de treinamento e

desenvolvimento não é suficiente para suprir as necessidades do mercado. Sendo

assim, nascem as universidades corporativas voltadas a desenvolver os talentos

humanos na gestão das empresas.

Cabe-nos aqui, em primeiro lugar, elucidar a evolução histórica do fenômeno

das universidades corporativas. Para tal, temos como principal referência aos dados

transcritos abaixo o apoio bibliográfico das literaturas americana e brasileira e

pesquisas eletrônicas.

Conforme demonstra a literatura sobre o tema, o conceito de universidade

corporativa surgiu nos Estados Unidos da América no início da segunda metade do

século XX.

Na década de 50, temos o estabelecimento da primeira universidade

corporativa pela General Eletric de Crotonville, conhecida como General Eletric

Management Development Institute, em 1955.

Durante os anos 1950, 1960 e 1970, grandes e pequenas empresas

estabeleceram cursos para ensinar os seus profissionais a desempenhar melhor a

sua atividade. Essas infra-estruturas educacionais dentro das corporações,

proliferaram nos Estados Unidos e tornaram-se as bases do que hoje se conhece

por universidades corporativas.

Na década de 70, temos a publicação do primeiro livro sobre universidades

corporativas, pela Carnegie Foundation for the Advancedment of Teaching. Esse

livro definiu os colégios corporativos como entidades educacionais que foram

iniciadas por organizações cujo principal objetivo não era educacional. Sob esta

definição, bastante abrangente e vaga, todo e qualquer centro de treinamento

institucional se qualificaria como colégio corporativo.

Na década de 80, temos um novo ciclo de desenvolvimento das

universidades corporativas adotadas por corporações de alta tecnologia, com

investimentos significativos em pesquisa e desenvolvimento. No início elas eram

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53

pouco mais do que centros destinados a melhorar as habilidades dos seus técnicos.

Nos anos 90 em diante, temos a criação das universidades corporativas no

Brasil. Como veremos no quadro 2.

QUADRO 2 Criação da Universidade Corporativa no Brasil

INDÚSTRIA ANO

Albert Einstein 1991

Accor, Xérox 1992

Abramge, Fiat 1995

Mc Donald’s, Motorola 1997

SESI, Transportadora Americana 1998

Metro-SP, Unimed, Brasil Telecom, Natura, Carrefour, Datasul, Iesa/Inepar,

Leader 1999

Sabesp, Unisys, Petrobras 2000

Rede Bahia, Caixa Econômica Federal, Alcoa, Facchini 2001

Citibank, Correios, Banco do Brasil, Embratel 2002

Sadia, Serpro, Vale do Rio Doce, Eletronorte, BNDS 2003

Fonte: adaptado de <http://www.educor.desenvolvimento.gov.br> Acesso em: 20 jun. 2006.

Conforme descrevem as diversas literaturas sobre o tema, desde que a

General Eletric criou a Management Development Institute em Crotonville, no ano de

1955, a epidemia na busca pelas universidades corporativas só foi concretizada a

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54

partir dos anos 80, como promoção de aprendizado e desenvolvimento dos

funcionários de uma organização.

Até este momento, entende-se que a universidade corporativa significava

uma forma de suprir o conhecimento dos executivos de alto escalão, pois, as ditas

universidades corporativas existentes na época tinham o objetivo de promover

cursos para a preparação de executivos para assumir cargos estratégicos na

empresas, como ocorreu na General Eletric, em 1955.

Portanto, o surgimento das universidades corporativas como um meio no qual

proporciona a busca pela aprendizagem contínua como uma forma de manterem as

organizações de aprendizagem de Peter Senge em pleno funcionamento ocorreu

somente a partir dos anos 80.

No contexto da crise do fordismo é que realmente se verifica uma mudança

de perspectiva na qual a universidade corporativa passa a ser vista na prática como

forma de subsídio para o aprendizado contínuo e de desenvolvimento do novo

modelo de organização do trabalho, baseado na exploração do conhecimento como

elemento de formação de valor nas organizações.

De acordo com o estabelecido por Meister, o autor Nell Eurich estima em sua

obra, em 1985, que nesta data existiam pelo menos 400 negócios com um edifício

ou campus rotulado por colégio, universidade, instituto ou centro de educação.

Meister prevê que, em 1997, existem mais de 1000 universidades corporativas nos

Estados Unidos54.

Ainda salienta que, nos Estados Unidos, muitas empresas determinadas a se

tornar líderes de mercado na economia global, lançam suas universidades

corporativas como forma de garantir vantagem competitiva sustentável por meio do

aprendizado permanente, fazendo dessas universidades um complemento

estratégico para educar não só os funcionários, mas também clientes, fornecedores,

parceiros e a comunidade. Hoje já é considerável o número de empresas com

universidades corporativas nos Estados Unidos.

Em seu livro Educação Corporativa – A Gestão do Capital Intelectual Através

das Universidades Corporativas, Jeanne Meister desenvolveu um modelo a partir de

54 NELL, Eurich. Corporate Classrooms: The carnegie foundation for the advancement of teaching. Princeton: P. U. Press, 1985. apud MEISTER, J. (1999) Educação Corporativa: A Gestão do Capital Intelectual Através das Universidades Corporativas. Tradução de Maria Cláudia S. R. Ratto. São Paulo: P. M. Books. 1999. p. 20.

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55

pesquisa realizada em nível mundial com cinqüenta empresas que possuíam

universidades corporativas, levantando sua filosofia, funcionamento, objetivos e

programas oferecidos.

As empresas pesquisadas encontram-se em diferentes estágios de

maturidade, havendo programas de treinamento consolidados, que abrangem

clientes e fornecedores, nas mais estabelecidas (Motorola University, Disney

University e General Eletric Crontoville), e outras, há poucos anos, como o Bank of

Montreal Institute for Learning. Essas unidades apresentam-se ainda em diversos

formatos e tamanhos: algumas, como Dell University, assumiram o formato virtual,

enquanto outras, como a Mototola University, possuem unidades físicas espalhadas

pelo mundo.

A Motorola percebeu que a competitividade global está transformando

rapidamente a qualidade dos produtos em uma mera característica comum. Os

concorrentes estão alcançando o nível de qualidade da Motorola, o que reduz sua

força competitiva. Nessas condições, a vantagem competitiva precisa ser substituída

por responsabilidade, adaptabilidade e criatividade, ao mesmo tempo em que a

capacidade de aprendizagem organizacional está tornando-se o maior diferencial

para manter a distância dos concorrentes.

A Motorola atua, há mais de 20 anos, como um agente de mudanças. Para

alcançar o pretendido nível de qualidade, chamado Seis Sigma, a empresa tornou-

se tão obcecada pela qualidade de produção e tão concentrada internamente, que

perdeu de vista o cliente e suas necessidades de mudança. Essa focalização

defeituosa provocou resultados negativos na satisfação dos clientes. Daí para a

baixa lucratividade foi apenas um pulo.

Como toda organização que aprende rapidamente, a Motorola aprendeu com

seus erros. Procurou uma reinvenção de si mesma, usando a infra-estrutura de

treinamento como o carro-chefe da mudança organizacional. Passou a focalizar o

meio ambiente competitivo externo. Dois aspectos foram realçados na

aprendizagem organizacional da Motorola. O primeiro é o forte vínculo entre o

conteúdo e o estilo de seus programas de treinamento e estratégias empresariais.

Os executivos articularam um novo objetivo estratégico (como redução do ciclo de

tempo, aperfeiçoamento do trabalho em equipe ou integração maior com os clientes)

e passam a desenvolver treinamentos para apoiar as iniciativas estratégicas

diretamente. O segundo aspecto da aprendizagem organizacional na Motorola é o

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56

modo como ela se estende por toda a cadeia de valores da empresa. A empresa

quebrou as barreiras corporativas de todos os tipos que existiam entre seus

departamentos ou entre a empresa e seus clientes e fornecedores. Ela ministra

cursos especiais para seus clientes e fornecedores e até para seus futuros

funcionários.

A espinha dorsal da infra-estrutura de aprendizagem organizacional da

empresa é sua famosa Universidade Motorola (UM). Atualmente, podemos

caracterizar a Universidade Motorola como uma organização de soluções de

desempenho, orientada pelos objetivos estratégicos dos negócios da Motorola, bem

como pelos clientes, fornecedores e parceiros em todo o mundo.

No Brasil, como mostra o quadro 2, tem-se o surgimento das universidades

corporativas a partir dos anos 90, com a Albert Einstein, Fiat, Motorola, Mc Donald´s,

Petrobras, entre outras.

Vale a pena ressaltar que não existe uma fonte precisa de quantas empresas

brasileiras adotaram as universidades corporativas em seus negócios, segundo os

autores sobre o tema.

No contexto atual brasileiro, podemos destacar a necessidade de uma

unidade responsável pela transmissão da missão e visão das empresas, de

desenvolver um programa de treinamento e capacitação dos funcionários, tendo por

base a realidade local da empresa. Isto explica o fato de muitas empresas brasileiras

aderirem ao que chamamos de universidades corporativas.

Portanto, nesta busca pela competitividade, as organizações devem criar

ambientes favoráveis para o desenvolvimento e manutenção da aprendizagem

contínua.

3.2 – As Mudanças no Centro de Treinamento e Desenvolvimento Tal como vimos no capítulo anterior, as organizações qualificantes

demandam mudanças nos processos de treinamento e desenvolvimento. Isto

contribui para o surgimento das universidades corporativas.

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57

As universidades corporativas se consolidam como peça fundamental para a

disseminação da educação contínua nas organizações. Para isso, promovem

mudanças no sistema de capacitação profissional com o objetivo de alinhar as

estratégias de negócios e as competências das organizações, a fim de desenvolver

as competências dos indivíduos e a busca contínua do saber.

Segundo Fleury & Fleury, os processos de treinamento e desenvolvimento

assumem novos contornos, criando-se inclusive em algumas empresas o conceito

de universidade corporativa: o ponto-chave desse conceito é que todo o processo de

desenvolvimento das pessoas deve estar alinhado à definição das estratégias de

negócio e competências essenciais da organização. E, por fim, em termos do

sistema de remuneração, algumas empresas começam a desenvolver modelos

próprios, estabelecendo os níveis de competência e a compensação condizente com

cada nível55.

Portanto, constata-se uma mudança de paradigma entre o clássico centro de

treinamento e desenvolvimento das empresas e o surgimento da universidade

corporativa, uma vez que a formação da universidade corporativa requer o

desenvolvimento das competências essenciais do indivíduo.

Dentre os vários tipos e definições existentes de competências56, destacamos

as competências essenciais, pois, conforme Eboli57, significam aprendizagem

coletiva nas organizações, especialmente no que diz respeito a coordenar

habilidades e integrar múltiplas capacitações tecnológicas.

Dessa forma, Meister afirma que as universidades corporativas surgiram

como complemento estratégico do gerenciamento do aprendizado e

desenvolvimento dos funcionários de uma empresa58.

Como veremos adiante, ocorreram grandes mudanças no departamento de

treinamento e desenvolvimento. Isso permite a participação não somente a nível

gerencial, mas a participação de toda a cadeia de indivíduos de uma organização no

processo. E mais: o aprendizado não acaba na sala de aula, estendendo-se pela

organização.

55 Fleury & Fleury, 2004, p. 79-80. 56 Para maiores detalhes sobre os diversos conceitos de competências ver a obra já mencionada de Fleury. 57 EBOLI, Marisa. Gestão do conhecimento como vantagem competitiva: o surgimento das Universidades Corporativas. FEA/USP. 58 MEISTER, op. cit., 1999.

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58

Com base no quadro 3, percebe-se que com a introdução das universidades

corporativas os treinamentos estão voltados para as necessidades organizacionais,

já que nelas existe uma reestruturação no ambiente organizacional para o aprender

a aprender. Desta forma, possibilita aos indivíduos adquirir novas competências.

QUADRO 3

Principais Componentes da Mudança no Sentido da Aprendizagem Baseada no Desempenho

Departamento de Treinamento

Universidade Corporativa

Reativo Foco Proativo

Fragmentada & descentralizada Organização Coesa & centralizada

Tático Alcance Estratégico

Pouco/Nenhum Endosso/ Responsabilidade

Administração e funcionários

Instrutor Apresentação Experiências com várias tecnologias

Diretor de treinamento Responsável Gerentes de unidades de negócio

Público-Alvo amplo/profundidade limitada Audiência Currículo personalizado por

famílias de cargo Inscrições abertas Inscrições Aprendizagem no momento

certo Aumento das qualificações profissionais Resultado Aumento no desempenho no

trabalho Opera função administrativa Operação Opera unidades de negócios

Vá para o treinamento Imagem Universidade como metáfora de aprendizado

Ditado pelo departamento de treinamento Marketing Venda sob consulta

Fonte: MEISTER, op. cit., p. 23.

Também se verifica que um departamento de treinamento e desenvolvimento

de uma empresa tende a ser reativo, descentralizado e serve a um maior número de

público-alvo. Neste caso, os programas de treinamento são voltados para alguma

necessidade de um departamento específico.

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59

Enquanto a universidade corporativa tem orientação proativa e centralizadora para o

encaminhamento de soluções de aprendizagem para cada negócio dentro da

empresa, assim, os programas de treinamento são permanentes e orientados com

visão para o futuro, a fim de antecipar e estabelecer melhorias organizacionais,

ainda que direcionadas para cada negócio dentro da empresa.

Outra análise refere-se às habilidades técnicas; no que tange aos tradicionais

departamentos de treinamento e desenvolvimento, percebe-se um direcionamento

em torno das habilidades técnicas necessárias ao trabalho. Em contraposição, as

universidades corporativas não se limitam às habilidades técnicas para o trabalho.

Elas oferecem todo um aparato de exploração do saber, fornecendo aos

funcionários o conhecimento dos valores, culturas, clientes, fornecedores,

concorrentes da organização e as competências básicas para o sucesso

organizacional.

Para Eboli59, as diferenças entre os departamentos de treinamento e

desenvolvimento e as universidades corporativas podem ser compreendidas com

base no quadro 4.

QUADRO 4 Diferenças entre o Departamento de Treinamento e Desenvolvimento e a

Universidade Corporativa Departamento de Treinamento Tradicional

Universidade Corporativa

Habilidades Objetivo Competências Críticas

Aprendizado Organizacional

Foco Aprendizado Organizacional

Tático Escopo Estratégico

Necessidades Individuais Ênfase Estratégias de Negócios

Interno Público Interno e Externo

Espaço Real Local Espaço Real e Virtual

Aumento das Habilidades Resultado Aumento do Desempenho

59 EBOLI, Marisa. (org.) Universidades Corporativas: educação para as empresas do século XXI. São Paulo. Schmukler, 1999.

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60

Fonte: EBOLI, Marisa. (org.) Universidades Corporativas: educação para as empresas do século XXI. São Paulo. Schmukler, 1999. Portanto, o departamento de treinamento e desenvolvimento não se

caracteriza da mesma forma como na organização fordista, onde a reprodução do

trabalho e o capital era suficiente para garantir a sobrevivência da organização.

Assim sendo, surgem os centros de treinamento e desenvolvimento nas

organizações, voltados para desenvolver as habilidades específicas em todos os

níveis organizacionais.

Nas universidades corporativas, os programas de aprendizagem são

proativos, centralizados e estratégicos. Estar sempre à busca do conhecimento é o

lema destas universidades, pois sem o conhecimento não há meios de desenvolver

e assimilar novas informações.

3.3 - A Importância da Universidade Corporativa como Diferencial Competitivo

A guerra entre os mercados, a luta pelo desenvolvimento econômico aumenta

progressivamente. Desta forma, muitas organizações buscam soluções para driblar

a competição e a concorrência. Já vimos que, com a nova fase atual, entendida

como a era do conhecimento, a competitividade é focada como uma das principais

ameaças à sobrevivência das organizações.

Em face da globalização e das inovações tecnológicas, muitas organizações

lutam para responder a um ambiente complexo e mutável. Soma-se a isto a

obsolescência do conhecimento, o que contribui para o papel primordial do fator de

produção, deixando para trás o capital e a mão-de-obra.

Então, o conhecimento passou a ser o único recurso-chave. Os demais

fatores de produção, sob a ótica econômica, não desapareceram, mas perderam um

pouco de sua importância.

Além disso, com a alta competitividade e a necessidade de reestruturação do

modelo dos programas de treinamento e desenvolvimento, tornou-se necessário um

novo ambiente organizacional caracterizado por profundas mudanças, a fim de

garantir a sobrevivência da organização.

Observa Porter que, para obtenção e manutenção de uma vantagem

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61

competitiva, há necessidade de uma estratégia corporativa que leve em conta uma

política de recursos humanos, que permita a transferência interna de conhecimentos

e de qualificações, que esteja também alinhada às competências essenciais da

organização e que seja eficaz no processo de qualificação, para desenvolver,

manter e identificar pessoas que incorporem competências essenciais60.

Dessa forma, as organizações são impulsionadas a valorizar a educação,

pois, há anos o fornecimento da educação era limitado ao setor acadêmico, e em

detrimento das necessidades impostas pela era do conhecimento, as organizações

são levadas a promover a educação continuada aos funcionários. A fim de qualificar

e especializar as pessoas continuamente no mundo dos negócios, já que o

conhecimento é a pedra fundamental para a manutenção da vantagem competitiva.

As empresas são levadas a reconhecer a realidade inexorável do mundo

contemporâneo – a necessidade de atualizar os conhecimentos dos indivíduos. Daí,

as organizações, no delineamento de suas políticas de pessoal, dar ênfase cada vez

maior à educação continuada para desenvolver em seus funcionários um

ajustamento estratégico de competências e necessidades61.

Uma vez que as empresas dependem de um quadro gerencial capaz de

manter o ranking no mercado, essa manutenção deve-se às definições das

habilidades e competências dos indivíduos. Cabe então às universidades

corporativas prover as necessidades de aprendizado contínuo dos funcionários.

Destarte, as universidades corporativas são eficazes veículos para o

direcionamento e desenvolvimento dos talentos humanos às estratégias

empresariais.

Por conseguinte, as universidades corporativas são decorrentes da sociedade

do conhecimento, no qual exigem da organização a formação e o desenvolvimento

de seu pessoal, para que se promova a gestão do conhecimento organizacional.

Vale a pena destacar, conforme descrito por Eboli62, os motivos que levam

uma empresa a implementar sua própria universidade corporativa.

60 PORTER apud DENGO, Normélio. Universidades Corporativas: modismo ou inovação. 2001. Dissertação (Mestrado Profissional em Administração) – Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 61 BAYMA, Fátima. Educação a distancia e educação corporativa (1994). In: BAYMA, Fátima, (org). Educação Corporativa. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. p. 22 62 EBOLI, Marisa. Gestão do Conhecimento como vantagem competitiva: o surgimento das universidades corportaivas. FEA/USP

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62

Os dirigentes realmente acreditam que conhecimento e habilidades

formarão a base da vantagem competitiva;

A imagem perante consumidores, clientes e fornecedores quando se

abrem as portas da Universidade Corporativa também para o público

externo;

Executivos do alto escalão se envolvem muito mais com o processo de

treinamento, desenvolvimento e aprendizagem, tornando-o mais

efetivo. A antiga área de T&D, que era centro de custos, transforma-se

em centro de lucros;

A universidade corporativa entendida como um sistema de

desenvolvimento de pessoas pautado pela gestão por competências

melhora o diálogo sobre o papel da educação em ajudar todos dentro

da empresa a colaborarem para que os objetivos organizacionais

sejam atingidos.

Percebe-se que, em muitas organizações, as universidades corporativas são

vistas como um fator crucial e diferenciador para o sucesso. Apesar de ainda haver

o olhar reativo, muitas organizações estão caminhando para a fase pró-ativa, no

qual deter e fornecer conhecimento contínuo aos funcionários é a base para o

sucesso organizacional.

Enfim, cabe às organizações, através das universidades corporativas,

promoverem aos funcionários o chamado talento humano, entendido como

motivação, habilidades, competência, conhecimento, criatividade, qualificação, entre

outros atributos do mesmo gênero.

3.4 - A Universidade Corporativa como Fator-Chave no Funcionamento das Organizações Qualificantes

Vimos que o papel da universidade corporativa é promover a aprendizagem

contínua aos funcionários, para que eles cumpram as estratégias empresariais e a

manutenção da empresa. Também abordamos que os centros de treinamento e

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63

desenvolvimento são os responsáveis pelo fornecimento das competências

essenciais aos indivíduos em sintonia com as estratégias organizacionais.

Daí surgem as seguintes perguntas: Como funciona a universidade

corporativa? As universidades corporativas são decorrentes das organizações

qualificantes? Como a universidade corporativa se estrutura para fornecer e garantir

a educação continuada?

A sustentação das universidades corporativas reside no funcionamento das

organizações qualificantes mencionadas anteriormente. A organização que aprende

de Peter Senge, através da prática das cinco disciplinas, estimula o aprendizado

individual e organizacional.

Cabe-nos aqui mencionar os dez princípios-chave do modelo da universidade

corporativa, descritos por Meister63. Na realidade, esses princípios são apoiados nas

cinco disciplinas de Senge e têm por objetivo servir de apoio às organizações

qualificantes.

Embora as organizações sejam diferentes em muitas formas e tamanhos, os

princípios e objetivos são basicamente os mesmos. Por isso, serão descritas através

dos princípios de Meister, as idéias-chaves para que a aprendizagem em uma

organização seja contínua.

3.4.1 - Os Dez Princípios-Chave para as Organizações Qualificantes O primeiro princípio significa oferecer oportunidades de aprendizagem que

dêem sustentação às questões empresariais mais importantes da organização.

Desta forma, será através do modelo de universidade corporativa a base para a

disseminação do conhecimento nas organizações. Isto acontece em inúmeras

corporações, dentre elas, o Bank of Montreal Institute of Learnig que vincula seus

programas de aprendizagem à orientação estratégica do banco, através do

programa conhecido como Learning for Sucess. Portanto, devido ao ritmo das

mudanças dentro do setor bancário e a necessidade rápida de evolução e alteração

dos papéis, o programa Learning for Sucess garante aos funcionários as

qualificações e o conhecimento de que precisam para melhorar o serviço ao cliente

63 MEISTER, 1999, passim.

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64

e aumentar a participação do banco no mercado.

O segundo princípio constitui em considerar o modelo da universidade

corporativa como um processo e não necessariamente um espaço físico destinado à

aprendizagem, pois a essência da universidade corporativa é aumentar a aptidão do

funcionário para a aprendizagem, tentando incorporar em cada um deles um

comprometimento e o acesso a uma aprendizagem contínua para atingir os objetivos

estratégicos da organização. Para isto, não é necessária a existência de um espaço

físico, mas muitas organizações que aderiram ao modelo de universidade

corporativa possuem espaço físico destinado à promoção da aprendizagem em

todos os níveis organizacionais.

O terceiro princípio consiste em elaborar um currículo básico em torno dos

três Cs, que são exatamente: desenvolver a cidadania corporativa, proporcionar uma

estrutura contextual para a empresa; criar competências básicas entre os

funcionários no ambiente de negócios.

• A cidadania corporativa não se refere ao papel desempenhado pela

empresa-cidadã junto à comunidade. Meister64 explica o sentido de que

se incute em todos os níveis de funcionários a cultura, os valores, as

tradições e a visão da empresa. Segundo a autora, o que se busca,

nesse conceito de cidadania, é uma forte identificação e assimilação

dos valores da empresa, a exemplo da relação entre os funcionários e

as empresas, no Japão.

• A estrutura contextual propicia condições para que todos os

funcionários tenham noção dos negócios da empresa, seus clientes,

concorrentes e também das melhores práticas das empresas de

primeira linha que determinam os padrões de excelência.

• O currículo de uma universidade corporativa oferece aos funcionários o

treinamento em várias competências básicas, as quais sustentam e

ajudam a definir a vantagem competitiva da organização. Essas

competências serão trabalhadas a fim de desenvolver as competências

específicas para a organização.

O quarto princípio diz respeito ao treinamento da cadeia valor. Treinar a

cadeia de valor significa treinar os funcionários, os fornecedores, os clientes e as

64 MEISTER, op. cit., p.91.

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65

principais universidades tradicionais na criação contínua de oportunidades de

aprendizagem e desenvolvimento.

O quinto princípio reside em evoluir do treinamento conduzido pelo instrutor

para treinamentos que utilizem vários meios. Estes vários meios consistem nas

ferramentas e técnicas fornecidas pelas universidades corporativas. São eles:

laboratórios, bibliotecas, videoconferências, sala multimídia, entre outros.

O sexto princípio recai sobre os líderes, no qual devem atuar como

facilitadores da aprendizagem, uma vez que o treinamento tradicional utiliza

profissionais do lado de fora da empresa, que apenas apresentam toda a sua

sabedoria e vão embora.

Sendo assim, faz-se necessário que os treinamentos sejam conduzidos por

profissionais internos que conheçam a realidade da organização para disseminar o

conhecimento aos funcionários e atingir as metas organizacionais.

O sétimo princípio significa passar da alocação de verbas organizacionais

diretamente na universidade corporativa para um sistema de venda por parte da

universidade corporativa. Isto possibilitará que a universidade corporativa obtenha

recursos próprios e os administre.

O oitavo princípio consiste em assumir como foco global o desenvolvimento

de programas de aprendizagem. Esses programas de aprendizagem são muitas

vezes realizados por equipes de trabalho que são enviadas a outros países com o

objetivo de adquirir as melhores práticas e incorporá-las a suas funções

organizacionais.

O nono e penúltimo princípio consiste na criação de um sistema de avaliação

dos resultados e dos investimentos da universidade corporativa. Este sistema deve

contemplar o impacto nos seguintes focos:

Foco financeiro, que inclui o balanço patrimonial da organização;

Foco no cliente e no processo;

Foco na renovação e no desenvolvimento;

Foco no ser humano.

O décimo e último princípio é fácil de ser entendido, já que este trabalho paira

neste argumento, que recorre à utilização da universidade corporativa para a

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obtenção da vantagem competitiva pela organização. Podemos perceber que ao

aplicar esses princípios mencionados acima, as organizações estão trabalhando

com as cinco disciplinas de Senge. Portanto, as organizações que estão aplicando

esses princípios básicos da universidade corporativa criam um sistema de

aprendizagem contínua em que toda a organização aprende e trabalha com novos

processos e novas soluções.

* * *

Ao chegarmos ao final deste capítulo, encerramos o referencial teórico deste

trabalho, abordando desde a história do pensamento taylorista-fordista até as mais

recentes e atuais formas de aprendizagem organizacional.

Resta ainda analisar em quais pontos destacados até este momento se

encaixa a empresa em estudo.

Portanto, o próximo capítulo dedicar-se-á à análise de um estudo de caso de

uma empresa brasileira do setor energético que adotou o princípio produtivo da

organização qualificante e que, doravante, criou uma universidade corportativa em

sua estrutura, de modo a dar sustentação a esse novo modelo de organização.

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CAPÍTULO 4

A EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE PETROBRAS

Nos capítulos precedentes discutimos todo o marco conceitual deste trabalho,

o qual embasa o nosso estudo de caso. Assim, discutimos a crise do fordismo, a

necessidade do surgimento de uma organização voltada para a exploração do

trabalho inteligente, e, consequentemente, o surgimento das universidades

corporativas como instrumento de suporte a essa exploração.

Doravante, de modo a validar nossa discussão teórica, tomamos como objeto

de análise o caso da Universidade Corporativa Petrobras, o qual, de certo modo

evidencia a forma como uma organização do setor estratégico de exploração e

geração de energia, que responde à crise estrutural do capitalismo, toma a dianteira

e estrutura uma nova forma de capacitação de seus recursos humanos, fundada

nesse novo paradigma.

A descrição e análise de sua experiência é o que veremos nessas páginas

que se seguem.

* * *

O caso da Companhia de Petróleo Brasileiro Petrobras merece destaque pela

amplitude e relevância dentro de um contexto de negócios complexo no qual se

insere. Além disso, essa empresa vem se posicionando como uma das maiores

companhias de petróleo do mundo, o que fortalece cada vez mais sua presença

internacional.

Criada pela Lei 2004, de 03 de outubro de 1953, a Petróleo Brasileiro S.A –

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Petrobras, é uma sociedade anônima de capital aberto, que atua de forma integrada

e especializada nos seguintes segmentos da indústria de óleo, gás e energia:

exploração e produção, refino, comercialização, transporte e petroquímicas,

distribuição de derivados, gás natural e energia.

Ao longo do ano de 2006, a companhia anunciou sua auto-suficiência em

petróleo. Dessa forma, a companhia é líder em tecnologia de águas profundas,

produz à profundidade de 1.886 metros, explora quase 3 mil metros, é a 14ª

empresa de petróleo do mundo no ranking da publicação Petroleum Intelligence

Weekly e seu valor de mercado já ultrapassou US$ 100 bilhões. Em 2005, o lucro

líquido de R$ 23,7 bilhões foi recorde, sendo superior a 40% ao do exercício de

200465.

Portanto, esses resultados são frutos do empenho de toda a força de trabalho

da companhia e a capacitação de seus profissionais.

4.1 - O Desenvolvimento dos Recursos Humanos

Historicamente, a Petrobras, considerada a maior empresa brasileira, investe

no desenvolvimento e capacitação de seus empregados, desde a criação da

companhia na década de 50.

O novo modelo da estrutura organizacional da companhia é representado por

quatro áreas de negócio, que são: Exploração e Produção (E&P), Abastecimento,

Gás e Energia e Internacional, duas de apoio – Financeira e Serviços, e as unidades

corporativas ligadas diretamente ao presidente.

Essa estrutura é bem representada na figura 6 que se segue:

65 Ver Anexo H.

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FIGURA 6 Organograma Petrobras

Fonte: Disponível em: <http://www.petrobras.com.br> Acesso em: 15 mar. 2006.

Na estrutura da empresa, destacamos a existência do CENPES, que é o

Centro de Pesquisas da Petrobras e possui uma das mais avançadas tecnologias do

mundo.

Desde o seu surgimento, a Petrobras encontrou dificuldades de encontrar

pessoal capacitado para atuar no setor. Portanto, já na década de 30, a empresa

investe fortemente para complementar a formação de seus funcionários.

Vale ressaltar que a preparação da formação profissional dos brasileiros para

a indústria petrolífera começou mesmo antes da criação da Petrobras, no tempo do

Conselho Nacional do Petróleo (CNP). Em 1938, época da criação do CNP, o

conhecimento era todo importado mediante a contratação de técnicos estrangeiros.

Logo após a comprovação da existência de petróleo em solo brasileiro, no

município de Lobato, na Bahia, em 1939, o CNP enviou os primeiros técnicos

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brasileiros para treinamento especializado nos Estados Unidos. Alguns desses

pioneiros iniciaram também a implantação dos primeiros cursos de petróleo no

Brasil, através de convênios com a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e

Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ).

Com a aprovação da Lei 2004 de 03 de outubro de 1953, que criava a

Petrobras, em agosto de 1955, foi fundado o Centro Nacional de Aperfeiçoamento e

Pesquisas de Petróleo (CENAP).

Coube à Petrobras a tarefa de suprir, pelos meios mais adequados e a tempo

necessário, as deficiências do sistema educacional brasileiro para qualificar os

técnicos que atendessem às suas necessidades e que substituíssem a contratação

de técnicos estrangeiros66.

Desse modo, a companhia estruturou o órgão que deu início às atividades de

Desenvolvimento de Recursos Humanos, as quais tinham por objetivo preparar o

pessoal técnico, em quantidade e qualidade suficientes para acompanhar o ritmo do

desenvolvimento.

O CENAP era um órgão dedicado à formação e ao desenvolvimento de

recursos humanos e às pesquisas em exploração e produção de petróleo. O CENAP

desempenhou um importante papel para a viabilização da Petrobras até 1966,

quando foi desmembrado.

Dessa forma, as atividades de ensino e aperfeiçoamento passaram para o

Serviço de Pessoal (SEPES) e as atividades de pesquisa ficaram a cargo do Centro

de Pesquisas e Desenvolvimento (CENPES).

A partir de 1966, o SEPES passou a atuar no T&D por intermédio da Divisão

de Ensino (DIVEN) e dos dois Centros de Treinamento a ela subordinados, um no

estado da Bahia e outro no estado do Rio de Janeiro. O Centro de Treinamento da

Bahia sempre teve a atuação mais voltada para a área de E&P, com os cursos de

formação e reciclagem no segmento de Engenharia de Petróleo, enquanto o Centro

de Treinamento do Rio de Janeiro dedicou-se prioritariamente às áreas de refino,

equipamentos e informática. Esses dois Centros de Treinamento solucionaram

temporariamente o problema de formação de mão-obra especializada.

A partir de 1982, a área de geociências migrou do Centro da Bahia para o

Centro do Rio de Janeiro.

A partir de 1974, os dois Centros de Treinamento tiveram diversas

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denominações ao longo do tempo, em função dos diferentes vínculos e das

alterações no organograma da companhia:

• 1974 a 1987 - SEN-RIO (Setor de Ensino do Rio de Janeiro) e SEN-BA

(Setor de Ensino da Bahia)

• 1987 a 2000 – CEN-SUD (Centro de Desenvolvimento de Recursos

Humanos Sudeste) e CEN-NOR (Centro de Desenvolvimento de

Recursos Humanos Norte-Nordeste)

A quebra do monopólio do petróleo pela Lei 9.478 de 06 de agosto de 1997

contribuiu para um intenso processo de competitividade na companhia. Soma-se a

isto, a interrupção no processo de contratação de profissionais no início do governo

Collor, em 1990. O processo de admissão de funcionários só foi acontecer a partir

do ano de 2000.

O ambiente competitivo e as instabilidades quanto à admissão no quadro de

pessoal determinaram o início de uma série de mudanças internas na Petrobras.

Devido às dificuldades ocorridas nesta época pela área de recursos humanos,

esses anos foram de grande importância para se repensar a atividade de DRH na

companhia.

No início de 2000, inaugura-se um novo ciclo de formação de recursos

humanos, que tinha sido interrompido em 1990. Neste ano, a reestruturação geral da

companhia atinge a área de DRH através da reorganização do SEREC, que passa a

ser área de Recursos Humanos (RH). O DRH passa a ser Universidade Corporativa

Petrobras com sede no Rio de Janeiro e composta do Núcleo Bahia e a DIDEN –

Divisão de Desenvolvimento de Recursos Humanos67.

Entretanto, com a reestruturação da companhia em 2000, os dois Centros de

Treinamento, juntamente com a DIDEN (Divisão de Desenvolvimento de Recursos

Humanos) do então Serviço de Recursos Humanos deram origem ao atual modelo

de universidade conhecida como Universidade Corporativa Petrobras.

A Petrobras já vinha atuando há algum tempo de forma próxima ao modelo

denominado universidade. Com a criação da Universidade Corporativa, novo passo

foi dado. Mas faltavam ainda alguns pontos que caracterizavam o modelo, tais como

estreitar o vínculo institucional até o mais alto nível da companhia, o que ocorreu em

66 CALDAS, Jorge Navaes. Uma História De Sucesso: 50 anos de desenvolvimento de recursos humanos. 1 ed. Petróleo Brasileiro S/A – Petrobras, 2005. p. 12. 67 Ibid., p. 102.

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janeiro de 2005, quando a Diretoria Executiva aprovou a nova estrutura –

denominada Universidade Petrobras – após intenso trabalho de reorganização do

DRH68.

Com isso, o quadro de formação de funcionários se desenvolveu paralelo à

própria evolução da companhia e podemos observar com base na figura 7, o

decorrer da atividade de DRH na companhia.

FIGURA 7

A Formação de Recursos Humanos no Decorrer dos Decênios

1955 – 1965 Absorção do Conhecimento vindo do Exterior

1966- 1975 Adaptação ao Conhecimento e a Descoberta da Bacia de Campos

1976 – 1985 Desenvolvimento Tecnológico e Investimento em Pós-Graduação

1986- 1995 Profissionais Especializados em Diversas Áreas

Fonte: Autoria própria

1996 – 2005 Auto-Suficiente em Petróleo e a Criação da Universidade Petrobras

Percebe-se que, no decorrer da sua história, a companhia reconhece e

investe no capital humano. E, nesses últimos anos, com o processo de

reestruturação da companhia deslanchado com a crise internacional do fordismo, o

objetivo central tem sido aumentar o nível de integração entre as habilidades

humanas e os conhecimentos técnicos de forma a contextualizar os negócios da

empresa e as exigências da sociedade.

Com isso, nasce a Universidade Petrobras que tem o objetivo de dotar a

empresa de uma unidade estratégica de educação corporativa, agente de mudança

da cultura da empresa e que contribuirá para a viabilização de seus objetivos

estratégicos.

A Universidade Petrobras foi criada a partir do entendimento de que, nessa

nova era do capitalismo, no qual o trabalho inteligente é mais do que necessário

para a geração de valores, o desenvolvimento das competências é essencial para o

sucesso da empresa. Dessa forma, o projeto da Universidade Petrobras tem por

68 Ibid. p. 104.

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73

objetivo alinhar as atividades acadêmicas às estratégias da companhia. Com isso,

representa o principal órgão da empresa para treinamento e desenvolvimento dos

talentos e competências dos funcionários.

4.2 – Estrutura Organizacional da Universidade Petrobras

Conforme vimos anteriormente, no início de 2005, a Diretoria Executiva

aprovou a nova estrutura, que passou a ser chamada de Universidade Petrobras.

Isto se deu após intenso trabalho de reestruturação do DRH, com o intuito de

atender às demandas de uma companhia no caminho da liderança na América

Latina e com o desafio de torná-la uma empresa de energia com forte presença

internacional.

Tal como se pode ver no organograma seguinte da figura 8, a nova estrutura

da Universidade Petrobras compõe quatro escolas de Ciências e Tecnologias, sendo

uma voltada para Exploração e Produção, outra para o Sistema de Abastecimento

(refino, logística e comercialização), e outra para Gás e Energia e a quarta escola

engloba a Engenharia e outras tecnologias como a tecnologia de informação e

materiais.

A nova estrutura conta ainda com uma Escola de Gestão de Negócios,

contemplando as áreas de Gestão de Pessoas e Processos, Gestão Empresarial

com ênfase na área econômico-financeira, Responsabilidade Social, Segurança e

Meio Ambiente, e formação profissional, onde se concentrarão os programas para

empregados de nível médio. Interessante notar a necessidade da Escola de Gestão

e Negócios, de formar profissionais para enfrentar os desafios de um mercado

altamente estruturado e competitivo.

Também estabeleceu a criação de três campi de atuação, onde treinam cerca

de mil pessoas por dia nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador.

Vale a pena mencionar que a reestruturação da Universidade Petrobras

proporciona condições adequadas para a capacitação da força de trabalho da

companhia, de modo que ela possa ser capaz de atender aos desafios estratégicos

estabelecidos para 2015.

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74

FIGURA 8 Estrutura Organizacional da Universidade Petrobras - 2005

Fonte: Caldas, op. cit, p. 103.

Enfim, temos o DRH que, dentre as inúmeras funções, cabe-lhe promover a

educação empresarial corporativa. Isso é realizado através da Universidade

Petrobras.

Dessa nova estrutura organizacional, cabe as Escolas de Ciência e

Tecnologia e a Escola de Gestão de Negócios promoverem a contextualização do

conhecimento.

A Escola de Ciência e Tecnologia busca a capacitação no estado da arte,

visando manter atualizado e elevado o padrão de conhecimento científico e

tecnológico de forma a contribuir para o alcance dos objetivos estratégicos da

Companhia, nas áreas de E&P, ABAST, Gás e Energia, Petroquímica, TI,

Engenharia, Materiais e CENPES. São as seguintes as atribuições69:

1. Planejar, racionalizar, coordenar, executar e avaliar o desenvolvimento

de Recursos Humanos da Petrobras, focalizando esforços

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75

educacionais na busca da excelência na formação de competência

técnica para alcançar os objetivos estratégicos da Companhia;

2. Promover o treinamento e o desenvolvimento em sua área de

abrangência, no sentido de fomentar a formação e a retenção de

profissionais, numa busca permanente da melhoria do nível de ensino

que justifique o investimento realizado;

3. Formar e desenvolver os profissionais da Companhia promovendo a

gestão do conhecimento (geração, assimilação, difusão e aplicação do

conhecimento organizacional), através de um processo de

aprendizagem ativa e contínua, que estimule também o auto-

desenvolvimento e a integração das comunidades técnicas;

4. Pesquisar e desenvolver tecnologias educacionais voltadas aos

processos de aprendizagem da Companhia;

5. Buscar o estado de arte e multiplicar os conhecimentos relativos às

mudanças e inovações de caráter científico e tecnológico produzidas

em âmbito nacional e internacional, que possam ser usadas em

benefício da Petrobras, contribuindo para que o país alcance destaque

tecnológico nas atividades relacionadas à indústria do óleo, gás e

energia;

6. Produzir e incentivar a produção de trabalhos técnicos, livros e material

instrucional de alta qualidade para a companhia visando à preservação

da memória técnica da Petrobras;

7. Prestar consultoria educacional para as áreas de abrangência da

Escola de Ciências e Tecnologias.

Como exemplo concreto de aplicação do modelo, foi lançado em dezembro

69 Ibid., p. 105 - 106.

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76

de 2004 o Programa de Formação de Mestres e Doutores nas Áreas de Engenharia

de Processos, de Produtos e de Equipamentos da Área de Downstream. Serão

formados 120 mestres e 40 doutores, até 2008, objetivando saltos tecnológicos,

notadamente em processos, produtos, equipamentos e meio-ambiente.

A Escola de Gestão e Negócios tem por finalidade oferecer capacitação em

gestão, de modo a atender às necessidades de expansão seletiva da Companhia,

dos negócios do petróleo, da integração da cadeia produtiva, de processos, de

pessoas e equipes multiculturais, num contexto global, complexo e altamente

competitivo, nas áreas de Gestão, Negócios, Pessoas e Funções Corporativas. São

atribuições desta Escola70.

1. Estudar o estilo brasileiro de administrar, identificar as semelhanças ou

diferenças entre as diversas regiões brasileiras, como é cotejá-lo com

outros países, de forma especial com outros países da América Latina;

2. Intercambiar conceitos e práticas com profissionais, instituições de

ensino e pesquisa num trabalho conjunto na efetivação de um

processo de gestão próprio.

Antes de seguir com outro tópico, faz-se necessário mencionar sobre as

atribuições da Universidade Petrobras e o Desenvolvimento de Recursos Humanos

em termos de atividade de educação corporativa.

A Universidade representa a instância corporativa da atividade, com

abrangência para todo Sistema Petrobras, clientes e fornecedores, e com

atribuições focadas no estratégico e nos projetos que garantem a integridade da

empresa. Além desta, existem outras tantas instâncias menores espalhadas pelo

Brasil e nos países onde a empresa mantém investimento direto. Subordinadas a

uma Unidade de Negócios ou compartilhadas regionalmente, têm atribuições no

âmbito dessas localidades e devem fazer a consolidação inicial e análise crítica do

conjunto de PDI, encaminhando à Universidade somente aquilo que se encaixa nas

atribuições desta última71. 70 Ibid., p. 106 - 107. 71 PINTO, André L. de S. Alves. In: BAYMA, Fátima (org). Educação Corporativa: desenvolvendo e gerenciando competências. São Paulo: P. P. Hall, 2004.

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77

Destarte, a Universidade é responsável pela concepção de projetos voltados

para a educação corporativa que visem a atender às estratégias da empresa e são

importantes para manter a integridade da mesma.

Já a área de Desenvolvimento de Recursos Humanos está voltada para

projetos que visam atender às necessidades individuais ou específicas de

determinada Unidade de Negócio.

4.3 – Programa de Formação

As experiências com ensino à distância, na Petrobras, começaram há cerca

de 30 anos. Dentre as diversas modalidades, podem ser relacionadas as principais

iniciativas em ordem cronológica72.

• Módulos Instrucionais (1975) - Trata-se de ensino baseado

principalmente em material impresso. Nesta modalidade está o Projeto

Acesso voltado para formação nos níveis fundamental e médio. Em

três décadas, o projeto formou mais de 4.000 empregados;

• Vídeo Treinamento (1981) - Alguns treinamentos passaram a ser

gravados e disponibilizados em vídeos. Faziam, em geral parte de

programa de capacitação presencial;

• Teleconferências (1989) - Transmissão via satélite de eventos

educativos ocorridos em auditórios da Petrobras ou da Embratel e

distribuídos para outros auditórios da Embratel. Era conhecida como

“TV Executiva” e voltava-se principalmente para o público gerencial;

• Manuais Eletrônicos (1994) - Manuais técnicos desenvolvidos ou

adquiridos para uso através de computadores. Hoje estão disponíveis

na Intranet;

72 Cf. CALDAS, 2005.

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78

• TBC (1995) - Treinamento Baseado em Computador que precedeu o

e-learning. Inicialmente era distribuído principalmente em CDs;

• Videoconferência (1997) - Um conjunto de salas distribuídas nas

diferentes unidades da Empresa, que atende também eventos com fins

educativos, além das reuniões de trabalho. Além de eventos de curto

prazo, atende parte significativa de alguns cursos de especialização.

• Comunidades Virtuais (1998) - Comunidades de prática e de

aprendizagem trocam experiências, informações e discutem temas

específicos em ambiente acessível na Intranet;

• Web Based Training – WBT (1999) - A web passou a ser utilizada para

treinamentos baseados em computador;

• Campus Virtual (2001) - Implantação de plataforma web na Intranet

para uso de e-learning por toda a Companhia. Pode ser acessada por

grande parte das estações de trabalho no território nacional. Na área

internacional atende estações conectadas à rede corporativa;

• TV Universitária (2001) - Pontos de TV via satélite distribuídos nas

diferentes unidades do território nacional e América Latina. Hoje já está

acessível na Colômbia e Bolívia e encontra-se em fase de testes na

Argentina. A programação, 24 horas por dia e 7 dias por semana, trata

de temas técnicos, além de temas relacionados à gestão empresarial e

ao auto-desenvolvimento. Grande parte da programação é produzida

na empresa e inclui vídeo-aulas, mesas redondas, documentários,

seminários, dentre outros formatos;

• WebTV Corporativa (2003) – É a TV Universitária disponível na mesa

do colaborador através da Intranet. Está acessível em grande parte das

estações de trabalho no território nacional.

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79

No presente, três mídias suportam a grande maioria dos projetos: a

videoconferência para projetos de longa duração, por meio da qual realizamos em

1997 o primeiro curso de mestrado multiponto do mundo por videoconferência, numa

parceria com a UFSC; o Campus Virtual, como denominamos a nossa estrutura de

e-learning, que conta hoje com quase 500 cursos on-line, e a TV Universitária, com

4 canais permanentes exclusivamente voltados para a aprendizagem corporativa73.

A Universidade Petrobras introduziu o conceito de desenvolvimento

profissional diferenciado, aliado ao modelo de capacitação e treinamento

tradicionais. Oferece cursos de especialização com diversas modalidades de

atendimento: cursos de formação, cursos de aperfeiçoamento e reciclagem,

especialização, mestrado e doutorado.

Portanto, um novo modelo de universidade é estruturado para atender às

atividades de formação, aperfeiçoamento, especialização e pós-graduação dos

profissionais da Petrobras no Brasil e no exterior.

Conforme demonstra Brito, gerente geral da Universidade Petrobras os

objetivos dos programas de formação da UP são74:

• Complementar a formação acadêmica com as técnicas e disciplinas inerentes

às atividades da Petrobras;

• Estimular o desenvolvimento da postura de empreender no exercício das

funções técnicas e/ou executivas, visando à inovação e à formação de uma

cultura de resultados.

• Desenvolver a capacidade crítica para a análise, acompanhamento e

aprimoramento dos processos, das metodologias e instrumentos de gestão;

• Ampliar o potencial profissional e agregar valor ao desempenho dos

participantes;

73 PINTO, André Luis de Souza Alves. In: BAYMA, Fátima (org). Educação Corporativa: desenvolvendo e gerenciando competências. São Paulo: P. P. Hall, 2004. 74 Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Apresenta III Oficina de Educação Corporativa. Disponível em: <http://www.educor.desenvolvimento.gov.br>. Acesso em: 15 jun. 2006.

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80

• Desenvolver habilidades de liderança, trabalho em equipe e subsidiar o

processo de auto desenvolvimento;

• Avaliar a adequação do perfil dos candidatos ao perfil desejado pela empresa.

Esse processo culminou no novo modelo de gestão e no desenvolvimento de

programas de adequação e retenção de talentos, abrindo espaço para os

empregados desenvolverem seu potencial e criatividade.

Portanto, a Universidade Petrobras promove a formação profissional através

do programa de formação, que é constituído por profissionais de nível superior

recém-admitidos sem exigência de experiência prévia que passam até um ano em

sala de aula, na Universidade Petrobras, antes de começarem a trabalhar

efetivamente. Em um dos três campi da Universidade, aprimoram suas

competências técnicas e adquirem conhecimentos organizacionais, contextuais e

vivenciais (estágios práticos) sobre a indústria de Petróleo75.

A Universidade Petrobras desenvolve desde cursos para formação das

habilidades necessárias à instalação da indústria de petróleo no país, até a

implantação de programas de mestrado e doutorado em parceria com Universidades

brasileiras.

O corpo docente da Universidade Petrobras é composto por 60 professores

permanentes (13 doutores, 28 mestres e 19 especialistas)76.

75PETROBRAS. Recursos Humanos. Universidade Petrobras. Disponível em: <http://www2.petrobras.com.br/portal/petrobras.htm>. Acesso em: 20 jul. 2006. 76PETROBRAS. Relações com o investidor. Relatório Anual. Disponível em:

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81

4.4 - Plano de Competências

Os programas de educação continuada desenvolvidos pela Universidade

Petrobras estão baseados no desenvolvimento do plano de competências. Para

tanto, as competências estão divididas em dois grupos: as competências chamadas

individuais e as técnicas. A Universidade é responsável pela criação de projetos de

capacitação, para adequar as competências individuais identificadas no Plano

Estratégico do Sistema Petrobras e são basicamente:

• Atuação Estratégica – Capacidade de formular os planos de ação orientados

para o êxito das estratégias da Petrobras. Pressupõe a capacidade de ajuste

constante dos planos em função da evolução dos cenários e seu impacto no

posicionamento competitivo da empresa;

• Capacidade de Decisão – Capacidade de agir com rapidez e flexibilidade na

tomada de decisões. Inclui a habilidade de assumir riscos tomando decisões em

situações incertas, adversas e ambíguas;

• Criatividade – Capacidade de desprender-se de paradigmas e modelos

mentais pré-existentes, interpretar situações e criar soluções não usuais. Inclui o

incentivo ao surgimento de novas idéias, avaliação de sua viabilidade e

implementação. Pressupõe espírito crítico e questionador;

• Foco no cliente – Capacidade de identificar e entender as necessidades dos

clientes e dos mercados, atuais e potenciais, para que seja possível se antecipar

e desenvolver novas oportunidades para a empresa e fortalecer as relações já

existentes. Implica levar em conta as características relevantes dos produtos e

serviços que agregam valor para o cliente e intensificam sua satisfação;

• Iniciativa – Capacidade de agir prontamente sem depender de instruções

alheias e atuar com determinação em situações de crise. Inclui ter um espírito

empreendedor realizando ações para criar novas oportunidades ou evitar crises

futuras; <http://www2.petrobras.com.br> Acesso em: 20 jul. 2006.

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• Liderança de Pessoas – Capacidade de inspirar, motivar, desenvolver e

conduzir pessoas para o alcance de metas de alto desempenho. Inclui manter

um ambiente de colaboração e uso de pleno potencial de cada membro da

equipe, em alinhamento com as estratégias da empresa;

• Negociação – Habilidade de obter condições e resultados satisfatórios para

as partes envolvidas em um processo de negociação. Pressupõe ter empatia

para identificar os reais interesses da outra parte e saber comunicar

oportunamente os seus, estabelecendo acordos de benefício mútuo;

• Orientação para Resultados – Capacidade de alcançar e superar resultados,

utilizar de forma eficiente os recursos e criar valor para a empresa. Pressupõe o

uso de mecanismos de acompanhamento e avaliação das atividades e dos

resultados também econômico-financeiros;

• Visão Sistêmica – Capacidade de agir considerando a integração entre as

áreas da empresa e o ambiente externo, facilitando a colaboração e sinergia

entre eles. Inclui o estímulo à colaboração e sinergia entre as unidades

organizacionais.

Essas competências individuais representam o Gerenciamento de

Desempenho do Líder (GDL) da Companhia e são identificadas e implementadas

para a superação dos hiatos. Ou seja, os gerentes são avaliados anualmente por

meio do GDL num modelo de avaliação de 360°. O resultado é o perfil de cada um

dos gerentes segundo as nove competências individuais descritas acima, que é

confrontado com o perfil requerido para a posição que ele ocupa, gerando alguns

hiatos que servem de base para a elaboração do Plano de Desenvolvimento do

Líder (PDL). Como podemos ver na figura 9.

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FIGURA 9

Competências e Plano de Desenvolvimento

GDP Gerenciamento de Desempenho

de Pessoal

PDI

PDRHE

PDL

GDL Gerenciamento de Desempenho

do Líder

Plano Estratégico do Sistema Petrobras

CompetênciasIndividuais

n

5

9

Competências

Técnicas

Fonte: PINTO, André Luis de Souza Alves. In: BAYMA, Fátima (org). Educação Corporativa: desenvolvendo e gerenciando competências. São Paulo: P. P. Hall, 2004.

As competências técnicas, tal como nos mostra a figura 9, estão em

elaboração para a maioria das áreas de negócio e funções corporativas da

companhia e correspondem às seguintes áreas descritas a seguir:

• Tecnologia de Abastecimento – Capacidade de inovação e desenvolvimento

de tecnologias de refino, transporte e logística de petróleo e derivados;

• Tecnologia de Exploração e Produção – Capacidade de inovação e

desenvolvimento de tecnologias de exploração e produção de petróleo;

• Tecnologia de Gás e Energia – Capacidade de inovação e desenvolvimento

de tecnologias para utilização energética do gás natural, implementação de

energias renováveis e otimização de eficiência energética.

Vale ressaltar que, tanto as competências técnicas quanto as competências

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individuais são aplicadas a gerentes e empregados. Esta junção de competências

forma o Gerenciamento de Desempenho de Pessoal (GDP), no qual anualmente são

fornecidas as metas negociadas entre o gerente imediato e o empregado. Daí forma-

se o mapa de competências, onde o gerente imediato pode assinalar as atividades

de cada empregado e concluir o seu Plano de Desenvolvimento Individual (PDI).

Basicamente, existem duas formas de proceder ao mapeamento de

competência dentro de uma organização:

• Foco no posto de trabalho ou;

• Foco nas atividades.

Os levantamentos ora em andamento dentro da Petrobras têm adotado esta

última orientação, isto é, foco na atividade. Assim, os processos-chave: exploração,

produção, refino..., recursos humanos etc. – são desdobrados em subprocessos e,

finalmente, em atividades. Para cada atividade são identificados as habilidades e os

conhecimentos associados77, como podemos observar na figura 10.

FIGURA 10 Competências Técnicas

Processo-chave

Subprocesso

Atividade

Descrição das HABILIDADES e

CONHECIMENTOSnecessários

Fonte: PINTO, André Luis de Souza Alves. In: BAYMA, Fátima (org). Educação Corporativa: desenvolvendo e gerenciando competências. Fundação Getulio Vargas, São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004.

77 PINTO, André Luis de Souza Alves. In: BAYMA, Fátima (org). Educação Corporativa: desenvolvendo e gerenciando competências. Fundação Getulio Vargas, São Paulo: P. P. Hall, 2004. p. 155 - 162.

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Portanto, o plano de desenvolvimento da Petrobras para alcançar o plano

estratégico é composto do estudo das competências individuais e das competências

técnicas e então traçados o Gerenciamento de Desempenho do Líder (GDL) em

Plano de Desenvolvimento do Líder (PDL) e o Gerenciamento de Desempenho de

Pessoal (GDP) em Plano de Desenvolvimento Individual.

O Plano de Competências a nível internacional é composto de ações de

desenvolvimento relacionadas aos diferentes PDL e PDI, porém com realização fora

do país. Podemos observar a sigla PDRHE na figura 9, que significa Plano de

Desenvolvimento de Relações Humanas no Exterior.

Percebe-se que, desde o início das atividades, a Companhia teve a

preocupação em investir fortemente para complementar a formação profissional dos

seus funcionários. Muitos deles foram enviados para cursos de especialização no

exterior e também foram criados os cursos internos e outros em convênios com

instituições de ensino no Brasil.

Portanto, as universidades corporativas no Brasil estão se transformando em

uma importante arma para empresas que querem se manter no mercado. Elas

permitem que o profissional desenvolva competências de sustentação para as

principais estratégias das companhia, tendo como finalidades principais desenvolver,

armazenar e transmitir o conhecimento necessário ao sucesso permanente da

empresa.

A Universidade Petrobras desempenha papel fundamental no processo de

desenvolvimento e capacitação de seus empregados, o que explica a transformação

da área de treinamento da empresa em um processo de educação continuada,

conforme apresentado no quadro 5 a seguir.

Inicialmente o modelo de atuação da área de treinamento na empresa estava

baseado na consolidação de necessidades dos empregados, necessidades estas

que eram consolidadas por um representante corporativo de cada área de negócio.

Com a Universidade Corporativa, o modelo adotado passa por uma reestruturação

deste processo.

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QUADRO 5

Comparação do processo treinamento x aprendizagem

ELEMENTO TREINAMENTO APRENDIZAGEM

CONTEÚDO Melhora as competências técnicas

Constrói um núcleo de competências

METODOLOGIA Aprendendo ouvindo Aprendendo fazendo e ouvindo

PÚBLICO Cada empregado Empregados, clientes, fornecedores e sociedade

DOCENTES Professores externos e consultores

Gerentes, professores externos e consultores

FREQUÊNCIA Eventual Contínuo e sempre inovando

OBJETIVOS Desenvolver competências individuais

Desenvolver competências críticas para a empresa

ÊNFASE Reativa, aprendizado individual

Pró-ativa, aprendizado organizacional

ORGANIZAÇÃO Staff, fragmentada e descentralizada

Unidade de Negócio, integrada e centralizada

ESCOPO Tático Estratégico

RECURSOS INTERNOS Pouco ou nenhum Gerentes e empregados

PRODUTO Padrão e conduzido por instrutor

Orientado para as estratégias e baseado em experiência e tecnologia

RESPONSÁVEL Diretor de treinamento Gerentes das Unidades de Negócio

RESULTADO Aumento das habilidades pessoais

Aumento do desempenho no trabalho

LOCAL Espaço físico real Espaço físico real e virtual

IMAGEM Vá e faça um treinamento Processo contínuo de aprendizagem

Fonte: Disponível em: <http://www.educor.desenvolvimento.gov.br/arquivos/palestras> Acesso em: 16 jun. 2006.

Portanto, com a reestruturação da Petrobras, e com a criação da

Universidade Corporativa Petrobras, que mais tarde passou a chamar-se

Universidade Petrobras, direcionou-se a análise e o planejamento às necessidades

de capacitação individual dos funcionários, com base nas estratégias e diretrizes da

empresa.

Vale salientar a importância da Universidade Tradicional para a formação de

pessoas e, com a criação da Universidade, esta importância se torna ainda maior

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pela demanda que será acrescida por conta das parcerias a serem desenvolvidas

para o desempenho de um processo de educação continuada pelas empresas.

Ao analisar o quadro 6, verifica-se que a Universidade Tradicional e a

Universidade Corporativa se complementam.

QUADRO 6 Universidade Tradicional x Universidade Corporativa

CARACTERÍSTICA UNIVERSIDADE TRADICIONAL

UNIVERSIDADE CORPORATIVA

COMPETÊNCIAS

Desenvolve aquelas essenciais para o mercado de trabalho

Desenvolve aquelas essenciais ao sucesso do negócio da empresa

APRENDIZAGEM

Baseada em sólida formação conceitual e universal

Baseada pela gestão de competências

SISTEMA EDUCACIONAL

Formal Pautado pela gestão de competências

ENSINAMENTO

Crenças e valores universais

Crença e valores da empresa

CULTURA

Desenvolve cultura acadêmica

Desenvolve cultura organizacional

RESULTADO

Forma cidadãos competentes para o sucesso de instituições e comunidade

Forma cidadãos competentes para o sucesso da empresa, dos clientes, fornecedores, empregados e acionistas

Fonte: Disponível em: <http://www.educor.desenvolvimento.gov.br/arquivos/palestras> Acesso em: 16 jun. 2006.

As características da Universidade Petrobras, conforme representado no

quadro 5, está baseada na construção de programas de educação continuada que

visem a atender às estratégias da Petrobras.

O processo de identificação de hiatos até o atendimento as demandas de

educação continuada dependem de algumas etapas, as quais são identificadas e

apresentadas na figura 11, logo abaixo78.

• Determinação de hiatos de competências: passa pela identificação das

diretrizes estratégicas e resultados que a Petrobras irá atingir, desdobrando

78 Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Apresenta III Oficina de Educação Corporativa. Disponível em: <http://www.desenvolvimento.gov.br>. Acesso em: 15 jun. 2006.

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estas orientações e diretrizes para as competências necessárias de serem

mantidas e desenvolvidas. O hiato a ser superado está então relacionado ao

quanto precisaremos atuar para a superação do “gap” de competência

identificado para cada empregado;

• Desenvolvimento de conteúdo: é a definição das ações a serem

empreendidas para a eliminação dos hiatos de competência, passando pela

definição do tipo de capacitação, como por exemplo: curso, evento,

treinamento no trabalho, estágio, leitura de livro, etc. O desenvolvimento do

conteúdo e definição de entidades e formas de conteúdo;

• Definir necessidades individuais: é a associação dos projetos disponíveis

com os hiatos de competências a serem superados e, a partir dos mesmos, a

elaboração de programas de desenvolvimento individuais;

• Atender às necessidades: é o processo de consolidação dos planos de

desenvolvimento individuais (PDI’s) e a viabilização dos projetos de educação

continuada, conforme demanda apresentada;

• Retroalimentação: é o processo de avaliação dos eventos, registro de ações

de desenvolvimento, verificação de fechamento de hiatos de competência,

alimentação de uma base de conhecimento para melhoria do processo como

um todo.

Dessa forma, o processo de desenvolvimento de capacitação dos

funcionários da Petrobras é realizado através da identificação de hiatos até o

atendimento às demandas de educação continuada.

O programa de desenvolvimento irá propiciar aos gerentes e empregados a

partir da identificação dos hiatos de competência, atuarem nos cursos, treinamento

no trabalho, eventos a serem realizados para a superação do hiato de competência.

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FIGURA 11

Etapas do Processo de Desenvolvimento da Capacitação dos Empregados

RETROALIMENTAÇÃO

DETERMINAR HIATOS

DESENVOLVER CONTEÚDO

DEFINIR

NECESSIDADES INDIVIDUAIS

ATENDER

NECESSIDADES

Fonte: Disponível em: <http://www.desenvolvimento.gov.br/arquivo/sti/publicações> Acesso em: 16 jun. 2006.

A Universidade Petrobras faz parte de uma estratégia da empresa no sentido

de permanentemente valorizar os empregados, alinhando os esforços individuais às

estratégias da empresa, com base em um modelo estruturado de gestão de

competências.

É nesse sentido que a empresa se alinha, isto é, entra em consonância com a

nova ordem produtiva advinda com o pós-fordismo.

* * *

Esse capítulo teve por finalidade apresentar o caso da Universidade

Petrobras visando corroborar nossos argumentos teóricos, precedentemente

apresentados.

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90

Doravante, concluiremos o nosso trabalho apresentando uma síntese das

idéias aqui discutidas, bem como lançando uma pauta para novos desafios na

investigação do caso em tela.

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CONCLUSÃO

“Os novos modelos produtivos que ora surgem não são o fim da história. Muito pelo contrário, são movimentos sociais advindos do próprio movimento histórico dos homens e, cuja história, ainda muito se tem por revelar, para ser realizada e escrita.”

(CARDOSO, L.A., In: Aprés-fordisme et participation. Lille. Septentrion, 2002)

A título conclusivo, retomamos, nesse momento, o argumento que motivou a

realização desse estudo, procurando, de forma sucinta, rever os caminhos que

estruturaram esse trabalho.

Ao longo dessas páginas, apresentei uma análise do aparecimento e do

desenvolvimento das novas estruturas formativas do processo de qualificação da

força de trabalho, no setor petrolífero brasileiro, ocorridas a partir do processo

contemporâneo de reestruturação produtiva industrial, em específico, aquelas

relacionadas com o modelo da organização qualificante e das Universidades

Corporativas.

A crise do fordismo, deslanchada a partir dos anos 70, trouxe grandes

transformações econômicas na produção e no trabalho. Essa crise revela a história

do homem, seus movimentos sociais e as inúmeras formas de sobrevivência em um

mundo movido pelo Capital. Desde então, o sistema capitalista procura encontrar um

novo regime de crescimento, o que torna necessário o surgimento de uma nova

ordem produtiva.

A fase posterior ao fordismo vai ser caracterizada pela existência de novos

modelos produtivos, pelo uso da flexibilidade e da integração, tanto para a

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incorporação quanto para a harmonização de fatores de natureza técnica e social na

produção.

Essa nova visão de empresa que se realiza no pós-fordismo significa a

realização de um novo modelo de gestão no qual a tecnologia e o homem, bem

como a organização do trabalho passam a viver em um processo dinâmico de

dependência.

Dentro das diversas formas flexíveis de organização da produção e do

trabalho encontradas para a manutenção ativa do capitalismo contemporâneo,

entendemos ser a organização qualificante a mais representativa, por atender à

necessidade principal da organização de se manter competitiva face ao ambiente

econômico turbulento das últimas décadas.

A organização qualificante é habilidosa na criação, aquisição, transferência de

conhecimento e na modificação de seu comportamento para refletir o novo

conhecimento e as novas idéias.

Vale lembrar que, no contexto do sistema taylorista/fordista de produção, não

havia o processo de aprendizagem na forma como o encontramos em nossos dias,

ou seja, que levasse o trabalhador a pensar. Na verdade, o treinamento da época

era voltado para a criação de trabalhadores mecanizados sob a égide do mecanismo

repetitivo do gesto, com atos padronizados e hábitos burocratizados, os quais

tinham como objetivo alcançar a máxima produtividade para as empresas.

Em pleno século XXI, Era marcada pela sociedade do conhecimento e da

tecnologia, é imprescindível às empresas saber lidar com a capacidade de

pensamento do ser humano. Como forma de sustentação das organizações

qualificantes, surge o modelo de aprendizagem organizacional de Peter Senge nos

anos 90, que se baseia no domínio das cinco disciplinas fundamentais para o

desenvolvimento da aprendizagem organizacional contínua.

As cinco disciplinas são vistas como caminhos de desenvolvimento para

aquisição de determinadas habilidades ou competências que deverão ser

dominadas e colocadas em prática.

Além das cinco disciplinas de Peter Senge, é necessária para a sustentação

das organizações qualificantes nas organizações a criação do modelo de

Universidade Corporativa.

Dessa forma, a Universidade Corporativa é uma ferramenta eficaz para a

aprendizagem organizacional e contínua. Resultam disso as diferenças existentes

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entre um Centro de Treinamento e Desenvolvimento e a Universidade Corporativa.

A Companhia pesquisada tem passado por significativas reestruturações,

devido ao seu ambiente macroeconômico. Entretanto, essas características são

observadas ao nosso redor. Isto resultou em mudanças significativas em sua

estrutura organizacional, o que acarretou a criação e a disseminação de novos

conhecimentos.

A Universidade pesquisada reflete, e, em até certo ponto, com total fidelidade,

o referencial teórico mencionado no trabalho. Com isso, podemos dizer que a

empresa em pesquisa, bem como outras estudadas, mas não abordadas nesse

trabalho, souberam compreender o significado de uma Universidade Corporativa. Ao

analisar e comparar a teoria sobre o tema com a Universidade em estudo, vemos

que a empresa tem-se adaptado ao conceito das cinco disciplinas de Peter Senge e

ao modelo de Universidade Corporativa proposto por Jeanne Meister.

Além disso, o modelo de Universidade Corporativa surgiu do mesmo modo

que as várias teorias da organização do trabalho. Nos últimos anos, percebe-se uma

mudança nos modos de trabalhar, nos quais a competitividade depende cada vez

mais da forma eficaz de gerenciar o conhecimento.

A educação corporativa da Universidade em estudo constitui um ciclo de

eterna mudança, envolvendo objetivos estratégicos, cultura organizacional, com a

evolução permanente de atitudes e crenças e o desenvolvimento de habilidades e

conhecimentos através da definição do mapa de competências.

O papel da Universidade Petrobras no aprendizado de seus funcionários vem

se ampliando cada vez mais. A educação corporativa adequa-se para o

desenvolvimento do quadro de pessoal, com vistas à obtenção de resultados nos

negócios, através de um modelo de treinamento diferenciado, estruturado tanto para

transmitir conhecimentos específicos sobre assuntos nos quais os funcionários

apresentam algumas deficiências quanto para preparar esses funcionários para os

desafios vindouros através do contínuo aprendizado.

Portanto, o grande diferencial da Universidade Petrobras está em oferecer

treinamento e desenvolvimento voltados para a aprendizagem contínua e

permanente baseados em conceitos da atualidade em educação corporativa.

Assim, a Universidade Petrobras não só concilia os objetivos estratégicos da

companhia ao desenvolvimento educacional dos funcionários, como também,

contribui para a consecução final das metas estabelecidas.

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Isto posto, começo as considerações finais com a seguinte afirmação: uma

Universidade Corporativa terá sempre e como vimos na Universidade em estudo, um

conceito teórico e real definido como sendo uma parte da organização que tem

como atividade fim trabalhar a aprendizagem contínua de seus funcionários de modo

a alcançar os objetivos estratégicos.

É certo que, com a criação da Universidade Corporativa, a empresa mantém

uma força de trabalho em processo permanente de aprendizagem. Mais do que isso,

a Universidade Corporativa é uma solução para a aprendizagem contínua e para o

sucesso organizacional.

Embora a literatura adotada esteja no auge, a implantação da Universidade

Corporativa na empresa em estudo é algo completamente novo, principalmente no

que consiste ao desenvolvimento de competências.

Embora o estudo apresente um nível considerável de abrangência e

consistência, cabe ressaltar que a preocupação com a presente dissertação se

restringiu em analisar o desenvolvimento das organizações qualificantes após a

reestruturação produtiva do capitalismo contemporâneo.

Devemos destacar que ocorreram limitações no que concerne a algumas

restrições de informações na companhia em estudo. No entanto, a empresa

demonstrou receptividade e interesse em fornecer algumas informações, que foram

preciosas para o fechamento deste trabalho.

Antes de finalizá-lo, gostaríamos de fazer ainda algumas sugestões para uma

nova agenda de pesquisa. As mudanças no mundo contemporâneo indicam que as

relações são transitórias e o indivíduo deve se ajustar ao ambiente instável através

de novas oportunidades de aprendizado e desenvolvimento. Desta forma, seguem

abaixo algumas sugestões:

Um novo estudo sobre as constantes instabilidades econômicas da

era do conhecimento, no qual caiba ao indivíduo gerir sua carreira

buscando novas oportunidades de aprendizado e desenvolvimento

para sua manutenção no mercado de trabalho;

Outra indicação diz respeito ao fato do tema em pesquisa não ter como ponto

final esse estudo. Portanto, vários trabalhos poderão ser desenvolvidos, tais como:

uma análise sobre as diversas universidades corporativas existentes no Brasil, e

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seus desdobramentos e feitos sobre a classe trabalhadora.

Assim, encerramos esse trabalho, com a certeza de que não esgotamos

totalmente a temática estudada.

Oxalá surjam novos debates e novas pesquisas, pois é assim que a Ciência

se move, e, é o que vislumbramos nessas linhas finais!

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ANEXOS

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ANEXO A – Edifício Horta Barbosa – EDIHB

Universidade Petrobras

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ANEXO B – DRH Petrobras 50 anos

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ANEXO C – Instalações da Universidade Petrobras

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ANEXO D – Equipe Universidade Petrobras

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ANEXO E – Ensino a Distância

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ANEXO F – Missão/Visão Petrobras

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ANEXO G – Estrutura Funcional

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ANEXO H – Brasil auto-suficiente em petróleo

É com orgulho que a Petrobras anuncia 2006: Brasil auto-suficiente em

petróleo. E assim será por muitos anos, porque a auto-suficiência será

sustentável, garantida pelas atuais reservas de óleo e gás, e pelos projetos de

produção em terra e mar.

Esses resultados só foram possíveis graças ao grande esforço

tecnológico da Petrobras, que criou um centro de pesquisas, o Cenpes,

promoveu a capacitação de seus técnicos e estimulou o desenvolvimento da

indústria nacional. Hoje, a companhia é líder em tecnologia de águas

profundas, produz à profundidade de 1.886 metros, explora quase 3 mil metros

e, por duas vezes, recebeu o prêmio máximo do setor de petróleo, o OTC

Distinguished Achievement Award.

A Petrobras é a 14ª empresa de petróleo do mundo no ranking da

publicação Petroleum Intelligence Weekly e seu valor de mercado já

ultrapassou US$ 100 bilhões. Em 2005, o lucro líquido de R$ 23,7 bilhões foi

recorde, e os investimentos somaram R$ 25,7 bilhões.

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ANEXO I – Evolução Efetivo Mensal Empregados Treinados X Efetivos

Em 2001 não inclui empregados da REFAP SA. (*) Segundo semestre de 2002. Atualização Anual Última atualização: dezembro 2005

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ANEXO J – Escolaridade da Petrobras Treinados no exterior

Atualização Anual Última atualização: dezembro 2005

(*) Segundo semestre de 2002 Atualização Anual Última atualização: dezembro 2005

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ANEXO L – Recursos Humanos Petrobras

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ANEXO M – Capacitação de Profissionais

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ANEXO N - O desafio é a nossa energia

Os recursos humanos das companhias de petróleo estão muito

escassos neste momento. Rangel identificou que: “A falta de reposição de

mão-de-obra para atividades relacionadas a Petróleo e Gás está preocupando

algumas das maiores companhias do setor. Levantamentos feitos pela British

Petroleum e a Shell mostram que 50% da força de trabalho da indústria estarão

aposentadas em um prazo de dez anos. Para resolver o problema, as

empresas estão investindo cada vez mais em treinamento e educação, além de

se esforçarem para atrair a atenção dos jovens estudantes e procurarem

soluções criativas para reconquistar quem já está fora do mercado”.

O futuro decênio que se inicia no próximo ano está repleto de desafios

para área de DRH da Petrobras. Após 50 anos de existência, estamos diante

de um quadro de dificuldades de mesma magnitude de quando começamos.

Sem dúvida é mais um desafio que a Companhia irá vencer tal e qual

sempre fez. Esta é nossa convicção, esta é nossa história.

Cinqüenta anos se passaram. Conquistas das pessoas e da empresa.

Brasileiros que criaram e construíram uma empresa integrada de petróleo. Dos

pioneiros até agora, valeram as decisões das pessoas que entregaram seu

projeto de vida à Petrobras. Valeram as decisões dos dirigentes que

propuseram e implantaram uma política de investimentos sistemáticos na

formação e na educação continuada de um corpo técnico imbatível.

Valeram as decisões dos dirigentes que mantinham e incrementaram os

recursos de toda ordem para assegurar a continuidade de um processo

educacional no estado da arte, em todos os campos das ciências e tecnologias

da indústria de petróleo.

Para os próximos cinqüenta anos de DRH, fica-nos a mensagem de

otimismo e objetividade dos pioneiros, dos homens da visão de um Leopoldo

Miguez de Mello, de um Antonio Seabra Moggi, e de tantos outros que, com

pertinácia e descortino, trabalharam intensamente e lideraram equipes

brilhantes e laboriosas.

Estamos certos de que o futuro nos reserva uma celebração ainda muito

mais festiva, ao final destes próximos cinqüenta anos. Talentos não faltam aos

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quadros da Petrobras. Visão estratégica e empreendedora tem sido a marca da

cultura empresarial desta Companhia e a decisão clarividente dos nossos

dirigentes maiores aponta, hoje, para desafios que instigam a capacidade

criadora e inspiram as vocações dos vitoriosos de amanhã.

Já estão conosco aqueles que vão dar continuidade a esta história de

sucesso. Estão aqui entre nós, prontos para investirem no próprio

desenvolvimento; prontos para receberem os conhecimentos dos que já

contribuem há mais tempo. Estão aprendendo tudo isto com os consagrados

mestres que dão vida à Universidade Petrobras, transmitindo seu saber, sua

experiência e seu entusiasmo pela Petrobras.

A Universidade Petrobras e seu salutar convívio com as interfaces com o

CENPES, com o E&P, com o ABAST, com a Engenharia, com a TI e com todas

as áreas da Companhia e do Sistema Petrobras, vai assegurar o espaço, o

lócus, os recursos didáticos e o ambiente para que os talentos se

desenvolvam. A Universidade Petrobras será o grande instrumento estratégico

com que a Petrobras vai continuar contando, nas próximas décadas, para fazer

face aos arrojados desafios que nos oferecem o Plano Estratégico 2015 e o

Plano de Negócios 2010.

Heitor Chagas de Oliveira Gerente Executivo de Recursos Humanos

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