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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS ANÁLISE DE UMA INTERVENÇÃO COM ABORDAGEM EM CIÊNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE NO ENSINO DE QUÍMICA JOBERT DE OLIVEIRA NEVES Orientadora: Professora Dra. Carmem Lúcia Costa Amaral Dissertação apresentada ao Mestrado em Ensino de Ciências, da Universidade Cruzeiro do Sul, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestrado em Ensino de Ciências. São Paulo 2013

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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS

ANÁLISE DE UMA INTERVENÇÃO COM ABORDAGEM EM CIÊNCIA

TECNOLOGIA E SOCIEDADE NO ENSINO DE QUÍMICA

JOBERT DE OLIVEIRA NEVES

Orientadora: Professora Dra. Carmem Lúcia Costa Amaral

Dissertação apresentada ao Mestrado em Ensino de Ciências, da Universidade Cruzeiro do Sul, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestrado em Ensino de Ciências.

São Paulo

2013

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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

ANÁLISE DE UMA INTERVENÇÃO COM ABORDAGEM EM CIÊNCIA

TECNOLOGIA E SOCIEDADE NO ENSINO DE QUÍMICA

JOBERT DE OLIVEIRA NEVES

BANCA EXAMINADORA:

Profª. Drª. Carmem Lúcia Costa Amaral Universidade Cruzeiro do Sul Presidente Prof. Dr. Rômulo Pereira Nascimento Secretaria / Conselho Estadual de Educação (CEE)

Profª. Drª Maria Delourdes Maciel Universidade Cruzeiro do Sul

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, a quem sempre recorri nos momentos de angústia e

dúvida. A certeza de que um dia chegaria ao trabalho final eram renovados todos os

dias por uma força que independia de mim.

A minha esposa Rosana, pelo grande incentivo dado em todas as decisões

tomadas em minha vida, e principalmente pelas palavras de apoio e pelo carinho

dado.

A minha filha Maíra pelo apoio irrestrito, ainda que a distância, mas sempre

presente em seus sentimentos de carinho e amor.

De modo especial, a professora Dra. Carmem pelas Contribuições, paciência,

especial atenção e contribuição, durante o processo de pesquisa, qualidade

decisivas num orientador.

Aos professores que fizeram parte da bancada, Dra. Delourdes e Dr. Rômulo,

pelos profícuos comentários fornecidos durante todo o curso, característica de quem

ama o que faz.

A professora Elizabeth, amiga querida, que abriu as portas de sua sala de

aula para que eu pudesse realizar a minha pesquisa, auxiliando-me e, muitas vezes,

deixando de lado seus compromissos para que os objetivos do meu estudo

pudessem ser atingidos.

Aos alunos do Ensino Médio, grandes interlocutores desta pesquisa, que

entre erros, acertos e tropeços muito me ensinaram.

E a todos que contribuíram direta ou indiretamente com o desenvolvimento

deste trabalho.

Este trabalho tem muito de todos vocês.

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RESUMO

Como professor da educação básica tenho observado que ainda hoje o ensino de Química mantém a visão empirista e fragmentada, sem a preocupação com as constantes mudanças sociais e tecnológicas do mundo atual. Essa fragmentação leva o aluno ao desinteresse em estudá-la, pois não vê a relação da mesma com a vida e, como consequência não percebe a sua importância para a sociedade. Muitas vezes, ele não consegue entender e opinar acerca de problemas que envolvem para sua solução conhecimentos de Química, o que os leva a aceitar opiniões alheias sem questioná-las. Acredito que uma forma de superar esse desinteresse e essa desinformação sobre a importância da Química na nossa vida é mostrar que o conhecimento científico está relacionado com ambiente tecnológico e social do aluno, ou seja, que há uma relação entre a Ciência, a Tecnologia e a Sociedade (CTS). Essa relação é estudada pelo movimento CTS, o qual vem sendo incorporado nos documentos oficiais desde a década de 1960, mas que, só a partir da década de 1990, vem sendo, muitas vezes de forma pontual, incorporado nas salas de aula. Diante disso, os objetivos desta dissertação foram investigar se a introdução da abordagem CTS nas aulas de química leva o aluno perceber a sua importância e se o auxilia na aprendizagem dos seus conteúdos. Para isso organizamos, junto a uma professora da 20 série do Ensino Médio, aulas com abordagem CTS. O conteúdo escolhido foi soluções. Essas aulas foram preparadas seguindo as recomendações de Aikinhead para uma aula com enfoque CTS. A metodologia adotada foi à pesquisa qualitativa, uma vez que analisamos o fazer pedagógico do professor e observamos os alunos. Temos dois tipos de abordagem: a ação intervenção e a observação não participante, respectivamente. Os resultados mostraram que ao ministrar as aulas a partir de uma abordagem contextualizadora, problematizadora e interdisciplinar dentro de um conteúdo específico de química, a professora conseguiu fazer com que os alunos compreendessem os conceitos relativos a esse conteúdo ao relacioná-lo com a sua realidade social, alinhado com o enfoque CTS.

Palavras chave: CTS, Ensino de Química, Soluções, Ensino Médio.

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ABSTRACT

As an elementary school teacher I have observed that even today the teaching of chemistry

keeps the empiricist and fragmented, without worrying about the constant social and

technological changes of today's world. And this fragmentation leads to disinterest the

student to study it, because it sees its relationship with life and as a result do not realize their

importance to society. Often, he can not understand and give opinions on issues that involve,

for their solution, knowledge of chemistry, and this leads them to accept opinions without

questioning. I believe that one way to overcome this indifference and misinformation that the

importance of chemistry in our lives is to show that scientific knowledge is related to the

technological and social environment of the student , ie , that there is a relationship between

Science , Technology and Society ( CTS ) . This relationship is studied by STS movement,

which has been incorporated in official documents since the 1960s, but only from the 1990s

has been often sporadically, embedded in classrooms. Therefore, the objectives of this

dissertation are to investigate whether the introduction of the STS approach in chemistry

classes takes the student realize their importance and helps you learn its contents. For this

we organize along a chemistry teacher of 20 grade of high school classes with STS

approach. The content was chosen solutions. These lessons were prepared following the

recommendations of Santos and Schnetzler for a lesson CTS. The results showed that the

teach the classes from a contextualized approach , and interdisciplinary problem-solving

within a specific content in chemistry, she managed to make the students understand the

concepts related to that content to relate it with the social reality aligned with the CTS

approach.

Keywords: CTS, Chemistry Teaching

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Foto da E. E. Tito Prates da Fonseca....

Quadro 2- Descrição dos conteúdos, temas geradores e objetivos de cada aula..

Quadro 3- Água pura e água potável...

Quadro 4- Água potável ...

Quadro 5- Reportagem

Quadro 6- Tipos de contaminantes da água.

Quadro 7- Figuras com tipos de soluções..

Quadro 8- Texto: História do suco em pó..

Quadro 9- Concentração de álcool etílico no sangue...

Quadro 10- Aplicação do calculo de densidade...

Quadro 11- Titulo em massa e titulo em volume...

Quadro 12- Cloração da água de piscina...

Quadro 13- Exercícios; expressando concentração em parte por milhão ppm..

Quadro 14- Exercícios; concentração em quantidade de matéria..

Quadro 15- Diluição de solução......

Quadro 16- Demanda bioquímica de oxigênio (DBO)....

Quadro 17- Interpretando e aplicado os conhecimentos sobres DBO..

Quadro 18- Observação das aulas da professora quanto a abordagem CTS..

Quadro 19- Temas trabalhado nas aulas..

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LISTAS DE ABREVIATURAS

ACT – Alfabetização em Ciência e Tecnologia

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEFEET – MG – Centro Federal Educação Tecnológica Minas Gerais

CEFEET – RJ – Centro Federal Educação Tecnológica Rio de Janeiro

CNPq – Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico

CTS – Ciência, Tecnologia e Sociedade

DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio

ENPEC – Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências

IAPAR – Instituto Agrônomo do Paraná

ICCE – International Conference of Chemical Education

IFRJ – Instituto Federal do Rio de Janeiro

IFSC – Instituto Federal Santa Catarina

LDB – Lei de Diretrizes e Bases

NIEPCTS – Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisa em Ciência, Tecnologia e

Sociedade

ONU – Organização das Nações Unidas

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PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais

PCNEM – Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio

UEM – Universidade Estadual de Maringá

UEPG – Universidade Estadual de Ponta Grossa

UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro

UESB – Universidade Estadual do Sudoeste de Bahia

UFF – Universidade Federal Fluminense

UFGD – Universidade Federal da Grande Dourado

UFP – Universidade Federal do Paraná

UFPEL – Universidade Federal de Pelotas

UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro

UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos

UNB – Universidade de Brasília

UNESP – Universidade Estadual Paulista

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

UNICSUL – Universidade Cruzeiro do Sul

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UNIFEI - Universidade Federal de Itajubá

UNIMEP – Universidade Metodista de Piracicaba

UNISINOS – Universidade do Vale do Rio dos Sinos

UNITAU – Universidade de Taubaté

USP – Universidade de São Paulo

UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................11

Objetivos..................................................................................................................16

CAPÍTULO 1- REFERENCIAL TEÓRICO........................................................17

1.1 – A Importância dos Conhecimentos de Química.........................................17

1.2 –MovimentoCTS................................................................................................22

1.2.1– Movimento CTS no Brasil............................................................................27

CAPÍTULO 2 – PERCURSO METODOLÓGICO...............................................31

2.1 – Abordagem Metodológica da Investigação.................................................32

2.2 – A Professora...................................................................................................32

2.3 – Os Alunos.......................................................................................................32

2.4 – A Escola..........................................................................................................33

2.4.1- Material Didático trabalhado nas aulas.....................................................

2.5 – Planejamento das Aulas................................................................................34

2.6 – Enfoque CTS nas Aulas da Professora Beth...............................................38

CAPÍTULO 3 – RESULTADOS E DISCUSSÕES.....................................................39

3.1 – Análise das Aulas da Professora Beth.........................................................39

3.2 – Avaliação da Abordagem CTS na Aprendizagem dos Alunos...................45

CAPÍTULO 4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................53

REFERÊNCIAS.........................................................................................................55

ANEXO......................................................................................................................60

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INTRODUÇÃO

Esta dissertação teve origem a partir de uma preocupação minha quanto ao

desinteresse dos meus alunos do Ensino Médio em relação à aprendizagem dos

conhecimentos de química, bem como sua incompreensão quanto à utilização dos

conhecimentos dessa ciência na sua vida.

Nas décadas de 1960 e 1970, devido ao nível de desenvolvimento da América

Latina, a educação brasileira vigente priorizava a formação de especialistas capazes

de dominar a utilização de maquinarias, ou de dirigir processos de produção,

propondo uma profissionalização compulsória como finalidade para o Ensino Médio,

visando diminuir a pressão da demanda sobre o Ensino Superior. Nesse período, o

ensino era centrado quase que exclusivamente na necessidade de fazer com que os

alunos adquirissem conhecimento científico levando em consideração apenas a

quantidade de informações que lhes era passado (modelo de ensino conteudista),

sendo este um indício de eficiência de um professor.

Neste mesmo período surgiu nos Estados Unidos e na Europa um movimento

denominado de Ciência, Tecnologia, Sociedade (CTS), onde de acordo Morin (2005)

e Reis (2004) Ciência é definida como um conjunto de conhecimentos organizado

sobre os mecanismos de causalidade dos fatos observáveis, obtidos dos estudos

dos fenômenos empíricos e está intimamente ligada ao conhecimento dos

fenômenos e a comprovação de teoria.

Tecnologia é segundo Reis (2004, apud VAZ, FAGUNDES; PINHEIRO, 2009) o

conjunto de conhecimentos científico ou empírico diretamente aplicável à produção

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ou melhoria de bens ou serviços associada a impactos socioeconômicos sobre uma

comunidade. Neste sentido, Martins (2003) descreve que o conceito de tecnologia

está diretamente ligado à produção, sobretudo, a industrial. Trata-se, pois no sentido

mais comum, da ciência da(s) técnica(s), sendo os artefatos tecnológicos a sua

imagem convencional, o que lhe confere a utilidade veiculada pelo valor material dos

seus produtos e distingue-se da técnica pelos conhecimentos científicos que utiliza.

Segundo Santos e Mortimer (2002), a tecnologia pode ser compreendida

como o conhecimento que nos permite controlar e modificar o mundo, pois consiste

em um conjunto de atividades humanas, associadas a sistemas de símbolos,

instrumentos e máquinas, visando à construção de obras e a fabricação de produtos

por meio de conhecimento sistematizado.

Dentro da prática tecnológica esses autores identificam os seguintes aspectos

da tecnologia:

Técnicos: conhecimentos, habilidade e técnicas; instrumentos, ferramentas e maquinas; recursos humanos e materiais; matérias primas, produtos obtidos, dejetos e resíduos. Organizacionais: atividade econômica e industrial: atividade profissional dos engenheiros, técnicos e operários da produção; usuários e consumidores; sindicatos.

Culturais: objetivos, sistema de valores e códigos éticos, crenças sobre o progresso, consciência e criatividade (SANTOS; MORTIMER, 2002, p. xxxxxx)

De acordo com Alonso (ver o ano e página), o movimento CTS tem como

objetivos:

� Incentivar a contextualização social dos estudos científicos por meio das interações entre ciência, tecnologia e sociedade, utilizando a tecnologia como um facilitador da conexões com o mundo real e social;

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� Desenvolver e disponibilizar os aspectos humanos, valores éticos e culturais de ciência e tecnologia;

� Ensinar democracia participativa, compromisso social e responsabilidade na tomada de decisões sobre questões de ciência e tecnologia locais e globais em contexto da vida cotidiana pessoal, pública e politica;

� Melhorar os conhecimentos e as competências de aprendizagem, pensamento critico, raciocínio logico, resolução criativa de problemas, interesses, atitudes e valores positivos e motivação para aprendizagem (necessidade de conhecer);

� Melhorar as competências de comunicação em ciência e tecnologia através da familiarização com os processos de acesso a informações e conhecimentos;

� Aumentar a alfabetização cientifica dos cidadãos para fins pessoais, sociais e culturais;

Para Vieira e Bazzo (2007) uma perspectiva de ensino que leve em

consideração esses objetivos, além de contribuir para desmitificar ideias deturpadas

a respeito do empreendimento científico, pode motivar os estudantes a expressar

suas opiniões, a argumentar e tomar decisões bem fundamentadas no que diz

respeito ao desenvolvimento científico e tecnológico e suas implicações para a

sociedade, estimulando assim, uma formação para a cidadania.

Embora no Brasil esse movimento inicialmente tenha tido uma repercussão

tímida entre os educadores do ensino de Ciências, na década de 1990 ele se tornou

mais forte e seus objetivos foram incorporados na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e

nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).

A LDB, no seu artigo 35, determina que:

O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, com duração mínima de três anos, terá com finalidade:

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I – a consolidação e aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; III – a compreensão do fundamento cientifico - tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.

Assim, a partir dessa lei e desses parâmetros, a formação do aluno passou a

ter como alvo principal, além da aquisição de conhecimentos básicos e preparação

científica, a capacidade de utilizar as diferentes tecnologias relativas às áreas de

atuação (BRASIL, 1998). No caso da Química, por exemplo, seus conhecimentos

são à base do desenvolvimento tecnológico, uma vez que a partir deles a indústria

química transforma os elementos encontrados na natureza em produtos úteis ao

homem.

Ao longo do tempo o desenvolvimento tecnológico e social trouxe novas

exigências para o ensino de Ciências, aumentando, assim, a nossa

responsabilidade, enquanto professor, na formação dos nossos alunos. Como

descreve Chassot (2006):

A nossa responsabilidade maior ao ensinar Ciência é procurar que nossos alunos e alunas se transformem, como o ensino que fazemos, em homens e mulheres mais críticos. Sonhamos que, com o nosso fazer Educação, os estudantes possam tornar-se agentes de transformações – para melhor – do mundo em que vivemos (CHASSOT, 2006, p. 31).

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Para transformar nossos alunos e alunas em agentes de transformação do

mundo que vivemos, não podemos pensar no ensino de Ciências, em particular da

química, de forma neutra, sem que se contextualize o caráter social do seu

conhecimento e desenvolva a competência de saber buscar o conhecimento.

Desenvolver no aluno a competência de saber buscar o conhecimento é

importante, porque com a velocidade do progresso científico e tecnológico e da

transformação dos processos de produção, o conhecimento torna-se rapidamente

superado, exigindo uma atualização contínua, além de colocar novas exigências

para a sua formação do cidadão.

A perspectiva é que se considere como elemento central no ensino de

Química, a formação para a cidadania, em função dos processos sociais que se

modificam. Desta forma, não há como justificar a memorização de conhecimentos,

pois estes estão sendo continuamente superado e seu acesso é facilitado pela

moderna tecnologia. O que se deseja é priorizar a ética, o desenvolvimento da

autonomia intelectual e do pensamento crítico (BRASIL, 1999).

Em 1996, no Relatório encaminhado para a Organização das Nações Unidas

para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) pela Comissão Internacional

sobre Educação para o Século XXI, coordenada por Jacques Delors e editado na

forma do livro “Educação: Um Tesouro a Descobrir" foram apresentados quatro

pilares para a Educação (BRASIL, 1999, p.29-30):

Aprender a conhecer: Prioriza-se o domínio dos próprios instrumentos do conhecimento, considerado como meio e como fim. Meio, enquanto forma de compreender a complexidade do mundo,

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condição necessária para viver dignamente, para desenvolver possibilidades pessoais e profissionais. Fim, porque seu fundamento é o prazer de compreender, de conhecer, de descobrir.

Aprender a fazer: Privilegiar a aplicação da teoria na prática e enriquecer a vivencia da ciência na tecnologia e destas no social passa a ter uma significação especial no desenvolvimento da sociedade contemporânea.

Aprender a viver: Trata-se de aprender a viver juntos, desenvolvendo o conhecimento do outro e a percepção das interdependências, de modo a permitir a realização de projetos comuns à gestão inteligente dos conflitos inevitáveis.

Aprender a ser: supõe a preparação do individuo para elaborar pensamentos autônomos e críticos e para formular os seus próprios juízos de valor, exercitar a liberdade de pensamento, discernimento, sentimento e imaginação. Aprender a viver e aprender a ser decorrem, assim, das duas aprendizagens anteriores; aprender a conhecer e aprender a fazer devem constituir ações permanentes que visem à formação de educando como pessoa e como cidadão.

Em 2008, tendo como eixo esses quatro pilares, a Secretaria de Educação do

Estado de São Paulo elaborou um currículo único para todo o Estado, o qual tem

como princípios centrais: a escola que aprende, o currículo como espaço de cultura,

as competências como eixos de aprendizagem, a prioridade da competência de

leitura e de escrita, a articulação das competências para aprender e a

contextualização no mundo do trabalho.

Com o currículo de Química, os elaboradores pretendem que o aluno do

Ensino Médio compreenda os processos químicos levando em consideração suas

aplicações tecnológicas, ambientais e sociais, de modo a tomar decisões com

responsabilidade. Para isso a aprendizagem dos conteúdos deve estar associada

aos eixos: saber fazer, saber conhecer, saber ser e saber ser em sociedade (SÃO

PAULO, 2010). Com isso, o aluno pode utilizar os conhecimentos de Química no

exercício da cidadania.

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Entretanto, como descreve Freire (2007), ainda percebemos que o ensino de

Química continua sendo fragmentado e continuísta; que este é apenas um

fragmento dentro de um todo muito maior, que é a educação crítica. Essa

fragmentação leva o aluno ao desinteresse em estudá-la, pois não vê sua relação

com a vida. O aluno não consegue, muitas vezes, entender e dar opiniões a cerca

de problemas onde seus conhecimentos são requeridos, levando-o a aceitar a

opinião dos outros sem questionar.

Diante desse problema surgiu a seguinte indagação: Será que a dificuldade

do aluno em perceber a importância da Química no exercício da sua cidadania está

relacionada com a metodologia que utilizamos em nossa sala de aula? Para

responder a essa questão desenvolvemos está dissertação, cujos objetivos estão

descrito a seguir:

OBJETIVOS

Os objetivos dessa dissertação são investigar se:

� Abordagem CTS nas aulas de Química leva o aluno perceber a sua

importância para sociedade.

� Essa abordagem auxilia e facilita a aprendizagem dos conteúdos de

Química.

Jobert, na minha versão da dissertação impressa, eu anotei que alguém pediu

que voce apresentasse os capítulos. Assim, peguei o que já estava escrito e

coloquei um pouco aqui.

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Os resultados dessa investigação estão descritas nessa dissertação que se encontra

estruturada em quatro capítulos: No capítulo 1 apresentamos uma revisão da literatura

que fundamenta está dissertação em relação à introdução da abordagem CTS nas

aulas de Química, bem como a importância dessa Ciência na formação do aluno

cidadão. No capítulo 2 apresentamos a abordagem metodológica que foi utilizada

nessa investigação. No capítulo 3 apresentamos os dados obtidos nos instrumentos

de coleta de dados e os resultados obtidos com esses instrumentos e no capítulo 4

apresentamos as considerações finais respondendo aos objetivos dessa

investigação.

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CAPÍTULO 1

REFERENCIAL TEÓRICO

Iniciamos esse capítulo descrevendo sobre a importância dos conhecimentos

de Química para a formação de um aluno cidadão e, em seguida apresentamos uma

revisão do histórico do movimento CTS no mundo e no Brasil e a fundamentação e

orientações curriculares para a abordagem CTS no Ensino de Química.

1.1 A importância dos Conhecimentos de Química

A química é a Ciência que estuda a natureza, propriedades e transformações

da matéria. Estudar como se dá essas transformações é muito importante porque a

partir delas podemos produzir os materiais encontrados, por exemplo, no nosso

lazer, na nossa alimentação e nas nossas necessidades pessoais. Ou seja, ela está

presente em vários setores de nossa modernidade, do sofisticado computador a

simples caneta esferográfica.

Como descreve Chassot (2003):

Entender a ciência nos facilita, também, contribuir para controlar e prever as transformações que ocorrem na natureza. Assim, teremos condições de fazer com que essas transformações sejam propostas, para que conduzam a uma melhor qualidade de vida. Isto é, a intenção é colaborar para que essas transformações que envolvem nosso cotidiano sejam conduzidas para que tenhamos melhores condições de vida (CHASSOT, 2003, p. 91).

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Assim, seus conhecimentos são utilizados também para explicar e auxiliar na

leitura do mundo, bem como planejar, executar e avaliar as ações de intervenção

humana na sociedade.

De acordo com Santos (2010), para que o indivíduo tenha uma participação

ativa na sociedade é necessário que ele disponha de informações que estão

diretamente relacionadas aos problemas sociais que o afeta como cidadão, e essa

participação exige dele uma postura quanto ao encaminhamento para a solução

desses problemas. Na sociedade atual estas informações passam necessariamente

pelo conhecimento químico, o qual, de certa forma, depende do avanço tecnológico.

Segundo Beltran e Ciscato (1991), a falta de conhecimentos mínimos de

Química está associada, entre outros fatores, a ênfase exagerada dada a

memorização de símbolos, nomes, fórmulas, reações, equações, teorias e modelos

que ficam parecendo não ter qualquer relação entre si, é uma forma de minimizar

esse problema seria o desenvolvimento de atividades experimentais bem

planejadas, pois as mesmas poderiam auxiliar o aluno a entender como esse

conhecimento foi e continua sendo construído.

Para esses autores, outro fator, que pode ser derivado de todos os outros e

que contribui para minimização dos conhecimentos químicos por parte dos alunos, é

a dogmatização do conhecimento científico, o qual é mostrado como algo absoluto.

Esses autores enfatizam, também, que sem um conhecimento de Química, ainda

que mínimo, é muito difícil um indivíduo conseguir posicionar-se e,

consequentemente, exercer efetivamente sua cidadania.

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Para exercer sua cidadania é preponderante que o sujeito desenvolva,

também, competências nas esferas social, cultural e política. Entre essas

competências podemos citar: capacidade de abstração, desenvolvimento,

pensamento sistêmico, criatividade, curiosidade, desenvolvimento do pensamento

divergente, capacidade de trabalhar em equipe, disposição para aceitar críticas,

saber comunicar-se (BRASIL, 1999).

Preparar o aluno para o exercício da cidadania é uma das propostas dos

Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM). Esse documento

enfatiza que o aluno, ao estudar Química, deve reconhecer e compreender, de

forma integrada e significativa, as transformações químicas que ocorrem nos

processos naturais em diferentes contextos, encontrados, por exemplo, na

atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera, e suas relações com os sistemas

produtivos, industrial e agrícola.

Desta forma, o conhecimento desta ciência não deve ser entendido como

isolado, pronto e acabado, mas como uma construção da mente humana e, portanto,

em contínua mudança. Dentro deste contexto a Química pode ser um instrumento

da formação humana que amplia os horizontes culturais e a autonomia.

Para que esse ensino possa ser um instrumento de formação humana é

necessário que sua abordagem ultrapasse a tradicional ênfase na memorização de

nomes e fórmulas. Como citado anteriormente, embora com uma aparência de

modernidade, ainda hoje a essência do ensino de Química permanece a mesma, ou

seja, priorizam-se as informações desligadas da realidade vivida pelos alunos,

levando a um ensino descontextualizado e fragmentado.

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Para romper com essa abordagem tradicional do ensino é necessário um

replanejamento do mesmo, onde o aprendizado seja conduzido de forma que os

saberes químicos não mais se restrinjam ao que tradicionalmente se atribui como

responsabilidade da disciplina de Química, mas caminhe no sentido de um currículo

que integre e articule seus conhecimentos com outras disciplinas, num processo

permanente de interdisciplinaridade. Entretanto, esse replanejamento não parece

ser uma tarefa fácil e, atualmente, é uma das preocupações dos pesquisadores

educacionais na busca por melhorias na qualidade desse ensino.

Para Santos e Schnetzler (1996) o objetivo central do ensino de Química é

capacitar o indivíduo para participar e tomar decisões criticamente, ou seja,

fundamentadas em informações ponderadas. Neste sentido, esses autores

descrevem que há necessidade do aluno adquirir conhecimento mínimo de Química

para poder participar com maior fundamentação na sociedade atual. Entretanto, a

maioria dos alunos sai da escola básica sem esse mínimo conhecimento.

Com o objetivo de fazer com que os alunos das escolas estaduais do estado de

São Paulo saiam da escola com pelo menos, esses conhecimentos mínimos e

tenham uma formação cidadã a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo

realizou, em 2008, um replanejamento do ensino de Química, ao programar um

currículo estruturado sobre o tripé: transformações químicas, materiais e suas

propriedades e modelos explicativos. De acordo com a equipe que produziu esse

Currículo, um ensino baseado nesse tripé dará uma estrutura de sustentação ao

conhecimento de Química pelo estudante especialmente se esse conhecimento se

agregar em uma trilogia de adequação pedagógica fundada em:

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� Contextualização, que se dê significado aos conteúdos e que facilite o estabelecimento com outros campos de conhecimento;

� Respeito ao desenvolvimento cognitivo e afetivo, que garanta ao estudante tratamento atento a sua formação e seus interesses;

� Desenvolvimento de competências e habilidades em consonância como os temas e conteúdos do ensino.

Estes últimos requisitos deverão capacitar os alunos a tomarem suas próprias

decisões em situações problemáticas, contribuindo, assim, para o seu

desenvolvimento como pessoa humana e como cidadão (BRASIL,1999; SÃO

PAULO, 2010).

Como descreve Santos (2010), o ensino de Química não deve estar dissociado

do contexto social. Desta forma, nós, professores de Química, devemos preparar o

aluno para que ele compreenda e faça uso das informações químicas básicas

necessárias para exercer sua participação efetiva na sociedade tecnológica, fazendo

uma leitura do mundo em que vive, além de saber fazer uso das substâncias com as

devidas precauções, identificar e compreender as informações químicas transmitidas

pelos meios de comunicação, tomar decisões diante dos problemas sociais relativos,

a Química, ou seja, ser um cidadão mais crítico.

Ensinar Química levando em consideração a formação cidadã do aluno é um

dos objetivos do movimento Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), o qual

descrevemos abaixo.

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1.2 Movimento CTS

Em meados do século XVIII, com a Revolução Industrial houve uma melhoria

da qualidade de vida da humanidade devido a passagem de um modelo de

produção capitalismo comercial para o industrial. A partir dessa revolução, o modelo

de produção econômica acelerou o desenvolvimento econômico e levou à novas

descobertas no campo da ciência e da tecnologia. Essas últimas possibilitaram o

acesso da população mundial à energia, água, cuidados com a saúde, alimentação

e melhores condições de habitação, fatores estes que contribuíram para o

crescimento populacional, mas, ao mesmo tempo, provocaram danos e alterações

ambientais.

Como descreve Hermeto (2011), foi a partir da Revolução Industrial que o ser

humano passou a tratar os recursos naturais como objetos de ganho patrimonial,

começando a dominar a natureza e a ocupar seu espaço, levando aos problemas

ambientais que temos até hoje.

Entretanto, esses problemas começaram a ser debatidos somente após a

segunda guerra mundial, no final do século XX. Nesse momento, o homem percebeu

que os recursos naturais são finitos e que seu uso incorreto pode representar o fim

de sua própria existência. Com o surgimento da consciência ambiental, a ciência e a

tecnologia passaram, também, a ser questionadas, uma vez que interferem no meio

ambiente (MELO, 2012).

O questionamento do efeito da ciência e da tecnologia sobre o meio ambiente

veio ao encontro da preocupação de um grupo de educadores com as questões

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éticas e com a necessidade de envolvimento da sociedade nas decisões públicas,

as quais estavam sob controle de uma elite que detinha o conhecimento científico.

Essa preocupação favoreceu, no âmbito educacional, o surgimento do movimento

CTS e CTSA (SANTOS; MORTIMER, 2002).

Para Vázquez (2010)

O movimento educativo CTS é um complexo conjunto de iniciativas com base em um denominador comum para destacar a relação entre Ciência, Tecnologia e Sociedade. Isto pode ser feito de várias maneiras para que os currículos CTS se distingam tanto pela quantidade de conteúdo CTS quanto por sua integração no quadro institucional de um currículo cientifico de base tradicional (VÁZQUEZ, 2010, p. 50).

Segundo Vaz, Fagundes e Pinheiro (2009), esse movimento busca entender

os aspectos sociais do desenvolvimento técnico científico, tanto em relação aos

benefícios que esse desenvolvimento possa estar trazendo, quanto às

conseqüências sociais e ambientais que poderá causar.

Se um indivíduo entender esses aspectos, poderá discutir e tomar decisões

envolvendo as relações da ciência e das tecnologias não somente nas questões

ambientais, mas também nas questões políticas, éticas, econômicas e culturais que

envolvem seus conhecimentos, rompendo, assim, o distanciamento das relações da

sociedade com questões que envolvem conhecimento científico e tecnológico. Ao

mesmo tempo, cria mecanismos que lhe possibilita participar na sociedade em

função de sua postura crítica, política, interdisciplinar e contextualizadora

(COMEGNO; KUWABARA; GUIMARÃES, 2008).

Para desenvolver esta postura contextualizadora é necessário que os

professores relacionem os conhecimentos escolares com o contexto real do aluno,

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preocupando-se não só com a construção de conceitos, mas também com os

impactos sociais relativos à aplicação da ciência e tecnologia para a formação do

cidadão (MARCONDES, et. al, 2009).

De acordo com Aikenhead (2005), no final da década de 1970 e início da

década de 1980, esse movimento estava em vigor em várias escolas de vários

lugares ao mesmo tempo. Nesse período, entre os educadores de ciência havia um

consenso acerca da necessidade de inovar a educação científica. Por exemplo, em

1971, Jim Gallagher, publicou na revista Science Education, um novo objetivo para a

ciência escolar, que era compreender a inter-relação entre ciência, tecnologia e

sociedade. Para o autor, essa compreensão seria tão importante como entender os

conceitos dos processos da ciência para futuros cidadãos de uma sociedade

democrática.

Nos anos de 1980 esse movimento sofreu influência de pesquisadores de

várias nacionalidades, entre elas, Americana, Australiana, Canadense, Italiana,

Holandesa e Inglessa, ou seja, uma corrente com tradição norte americana e outra

européia, influenciadas por diferentes circunstâncias e que foram adaptadas por

diferentes propósitos.

Auler (2002) realizou um estudo sobre essas duas grandes tradições do

movimento CTS. De acordo com esse autor, a norte americana teve por

característica concentrar-se mais nas conseqüências sociais e ambientais dos

produtos tecnológicos, nela a tecnologia é vista ou como um produto que tem

capacidade de influenciar nas estruturas e na dinâmica social, ou como os produtos

da ciência-tecnologia incidem sobre as suas formas de vida. A tradição européia tem

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como característica uma tradição de investigação acadêmica, mais que educativa ou

de divulgação, tendo como principais conhecimentos formadores de sua base as

ciências sociais, a sociologia, a antropologia e a psicologia. Coloca ênfase na

dimensão social antecedente ao desenvolvimento cientifico-tecnológico, ou seja, tem

o objetivo de descrever como os fatores econômicos, políticos e culturais contribuem

para a aceitação das teorias cientificas.

Ambas as tradições tem exercido grande influência no desenvolvimento

contemporâneo dos estudos CTS e, devido a sua predominância, outras tradições

têm caído no esquecimento, como é caso da América Latina que tem como

particularidade colocar o problema do desenvolvimento como tema central.

Para Freire (2007), o enfoque CTS tem como característica a

contextualização do ensino, ao estimular o estudo de situações reais, trabalhando

conceitos científicos e utilizando-os para a compreensão da realidade dos

fenômenos de nossas vidas, motivando os alunos a estudarem a Ciência e se

posicionarem frente às questões que requerem conhecimento científico e

tecnológico.

De acordo com Matos, Pedrosa e Canavarro (2005) o estudo de Ciências

deve integrar problemas abertos em que os alunos se envolvam, pesquisando

informação, desenvolvendo competências; onde a criatividade e o espírito crítico têm

um valor primordial. Neste contexto releva-se a importância de ensinar a resolver

problemas, confrontar pontos de vista, analisar criticamente argumentos, discutir os

limites de validade das conclusões e saber formular questões.

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Ao integrar as relações CTS no ensino, os recursos e estratégias utilizados

tornam-se relevantes para dar sentido a temas e problemas. Para Freire (2007) e

Fernandes (2011), para abordar as relações CTS em sala de aula, os professores

têm utilizado de metodologias como fóruns de debate e estudo investigativo, que

podem ser utilizados uma vez que a ciência envolve muitas controvérsias e está

intimamente ligada a assuntos comuns aos alunos, o que leva a desenvolver

posturas admitidas como positivas em relação à Ciência, Tecnologia e a Sociedade.

Firme e Amaral (2011) descrevem que fazer a opção por uma abordagem das

relações CTS representa ampliar a visão para o ensino, superando reducionismos

como, por exemplo, a ênfase unicamente nos conteúdos e a ausência de

contextualização. Portanto, devemos ter como meta um ensino que se constitua

efetivamente como instrumento para a formação do indivíduo e lhe dê autonomia no

exercício da cidadania.

Um ponto importante a considerar quando se pretende trabalhar com as

relações CTS, requer modificações no perfil tradicional da ação docente,

incorporando ao ensino uma discussão sobre as essas relações, o que dependerá

de uma mudança e renovação no seu fazer pedagógico, com o objetivo de:

Criar, no aluno, a capacidade de relacionar conceitos de diferentes áreas dos conhecimentos, estimulando o seu espírito crítico; Promover debates sociais, fomentar, nos alunos, atitudes de reconhecimento da possibilidade de melhoria de vida relativa ao desenvolvimento cientifico e tecnológico; Distinguir a dupla função da tecnociência; Atender ao estudo das relações ciência, tecnologia e sociedade considerando as demandas de uma sociedade constituídas com base na informação (BUSTAMANTE, 1997 apud FIRME; AMARAL, 2011, p.386) .

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De acordo com Lacerda (1997), é fundamental um conhecimento de base em

Ciência e Tecnologia para a formação do sujeito cidadão na sociedade. A

compreensão dos princípios científicos leva ao que chamamos de alfabetização

científica, a qual é essencial para que o indivíduo possa interpretar, compreender e

interagir, tanto socialmente quanto individualmente, em discussões, processos e

situações de natureza técnico-científica. Sem essa compreensão o exercício da

cidadania estaria comprometido, uma vez que o sujeito deve ser detentor de

conhecimentos técnicos que lhe são pertinentes.

1.2.1 Movimento CTS no Brasil

O movimento CTS surgiu no Brasil entre as décadas de 1960 e 1970,

tornando-se mais expressivo a partir do final da década de 1990, onde se percebeu

um aumento de textos que abordavam esta temática. Na década de 1990, com a

idéia de trazer para sala de aula o debate sobre as relações CTS, foram elaborados

documentos oficiais como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, PCN+).

Nos anos 2000 foram elaborados os Parâmetros Curriculares Nacionais do

Ensino Médio (PCNEM) e, mais recentemente, o Currículo de Química do Estado de

São Paulo, os quais incorporaram como um dos seus eixos, as tendências

apontadas para o século XXI para todas as áreas do conhecimento, especialmente

no ensino de Ciências, a alfabetização científica e tecnológica.

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De acordo com Chrispino (1992), um marco desse movimento no ensino de

Química foi a 9ª Conferência Internacional de Educação Química (ICCE) – Química

para um Novo Mundo, realizada em 1987, em São Paulo (SP), onde foram

apresentados trabalhos de vários educadores brasileiros. Em 1990, a Conferência

Internacional sobre Ensino de Ciências para o Século XXI: ACT - Alfabetização em

Ciência e Tecnologia, realizada em Brasília (DF) também teve como enfoque o

movimento CTS.

Somente nos últimos anos é que esse movimento vem ganhando mais força e

se consolidando (von LINSINGEN, 2007). Chrispino et al (2013) realizaram uma

pesquisa em 22 periódicos nacionais na área de Ensino de Ciências, no período de

1996 a 2010, buscando identificar os trabalhos mais citados como fontes de consulta

ou referência e encontraram oitenta e oito (88) trabalhos. Esse resultado evidencia

que a introdução das relações CTS vem ganhando espaço no cenário da educação

brasileira.

Recentemente, Abreu, Fernandes e Martins (2013) realizaram também um

levantamento nas principais revistas de pesquisa em ensino de ciências no âmbito

nacional e internacional, nas atas de encontros nacionais da área no período de

1980 a 2008 nas principais revistas de pesquisa em ensino de ciências no âmbito e

mapearam, a partir do número de citações nos artigos, os principais autores

brasileiros dentro dessa temática.

De acordo com esses autores, entre os brasileiros mais citados estão Décio

Auler, Walter Bazzo, Wildson Santos, Eduardo Mortimer e Demétrio Delizoicov. Esse

dado nos parece interessante porque de certa forma, sinaliza para o fato de que o

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campo em CTS brasileiro já apresenta referências próprias para as discussões sobre

o tema. Dentre esses autores, Auler foi o que mais se destacou. Esses mesmos

resultados foram encontrados também por Chrispino et al (2013).

Nesta pesquisa, os autores também analisaram os anais do Encontro Nacional

de Pesquisa em Ensino de Ciências (ENPEC) no período de 1997 a 2007 e

constatou que ocorreu um aumento quantitativo de trabalhos sobre CTS que se

iniciou a partir de 2003, sugerindo uma expansão e crescimento das abordagens

CTS no campo de pesquisa em ensino de ciências.

Recentemente, Santos (2012) realizou um levantamento no catálogo de

dissertações e teses com essa temática no portal da Capes (Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) até o ano de 2011 e encontrou 158

dissertações e 19 teses. Este resultado evidencia o crescente interesse dos

educadores brasileiros com essa temática.

Na última década muitas instituições também se dedicaram aos estudos das

relações CTS, surgindo, assim, vários grupos de estudos. Com o objetivo de

investigar esses grupos, Araújo (2009) realizou um levantamento dos Grupos de

Pesquisa em CTS no Brasil no Diretório dos Grupos de Pesquisa e nos currículos da

Plataforma Lattes, ambas as bases do CNPq (Conselho Nacional de pesquisa e

Desenvolvimento Científico e Tecnológico). De acordo com sua pesquisa, no ano de

2006 haviam 30 grupos, distribuídos em 15 instituições de ensino superior (públicas

e privadas). Estes grupos estavam distribuídos da seguinte forma: 19 na região

sudeste, 10 na região sul, 1 na centro-oeste e nenhum nas regiões norte e nordeste.

No ano de 2008 esse número aumentou para 42 grupos. Além dos já citados mais 5

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foram criados na região sudeste, 5 na região sul, 1 na região centro-oeste, 1 na

nordeste.

Dentre as instituições de ensino, este autor encontrou uma predominância

daquelas pertencente à região sudeste, como CEFET-RJ, CEFET-MG, IFRJ, UERJ,

UFF, UFRJ, UFSCAR, UNESP, UNICAMP, UNICSUL, UNIFEI, UNIMEP, UNITAU,

USP e 25 grupos de pesquisa. A região sul ficou em segundo lugar com 10

instituições: IAPAR, IFSC, UEM, UEPG, UFP, UFPEL, UFSC, UNISINOS, UTFPR,

UFRGS e 15 grupos. A região centro-oeste com duas instituições a UFGD e UNB e

dois grupos de pesquisa. Na região nordeste o autor encontrou somente uma

instituição a UESB (Universidade Estadual Sudoeste da Bahia) e um grupo de

pesquisa.

No ano de 2006 foi criado na Universidade Cruzeiro do Sul o Núcleo

Interdisciplinar de Estudos e Pesquisa em CTS (NIEPCTS), tendo como líder a

Profa. Dra. Maria Delourdes Maciel. De acordo com Maciel (2010) o objetivo desse

núcleo é ampliar estudos, investigações e ações formadoras que contemplem as

relações CTS no currículo, no ensino e na formação de professores.

A partir desses levantamentos podemos identificar os autores que tem

contribuído com a temática CTS e evidenciar que a mesma temática está em pleno

processo de desenvolvimento e já apresenta autores nacionais que se estabelecem

como referência para a comunidade, assim como o surgimento de publicações que

destacam essas linhas de pesquisa.

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1.2.2 ENSINO PAUTADO NA ABORDAGEM CTS

O ensino pautado nas relações CTS é uma forma de buscar uma educação

mais consciente e que possa formar, além de técnicos, cidadãos com capacidade

crítica e reflexiva sobre as consequências e benefícios dos usos da Ciência e da

Tecnologia. De acordo com Kist e Ferraz (2010) algumas questões que devem ser

abordadas nas aulas de Ciências com enfoque nas relações CTS são: as aplicações

tecnológicas, os fenômenos da vida cotidiana, fatos e aplicações científicas que

tenham uma maior relevância social e ética relacionadas ao uso da Ciência e do

trabalho científico e compreensão de sua natureza.

Para Alves e Messede (2009), a proposta de ensino em CTS, deve ter uma

abordagem que leve em consideração os contextos nos quais os problemas são

gerados, valorize o conhecimento que o aluno já traz em sua estrutura cognitiva

acerca das questões ambientais e reduza a distância entre sociedade, cidadão e

Ciência. Desta forma, os alunos se apropriam dos assuntos referentes à ciência e a

tecnologia como elemento da cultura contemporânea emitindo assim opiniões

relevantes ao próprio contexto socioambiental.

Segundo Santos (2002), abordar as relações CTS no Ensino Médio

desenvolve a alfabetização científica e tecnológica e auxilia na construção de

conhecimentos, na utilização de habilidades e desenvolvimento de valores

necessários para tomar decisões responsáveis.

Dentre os conhecimentos e as habilidades que devem ser desenvolvidas,

Hofstein, Aikenhead e Riquarts (1988 apud SANTOS; MORTIMER, 2000), incluem:

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a autoestima, a comunicação escrita e oral, o pensamento lógico e racional para solucionar problemas, tomada de decisão, aprendizado colaborativo/cooperativo, responsabilidade social, exercício da cidadania, flexibilidade cognitiva e o interesse em atuar em questões sociais (SANTOS, MORTIMER, 2000, p.5).

Para inserir uma abordagem CTS no ensino de Ciência, Santos (2007)

enfatiza também que esta deve ter uma perspectiva crítica, ampliando não só o olhar

sobre o papel da ciência e da tecnologia na sociedade, mas também a discussão em

sala de aula de questões econômicas, políticas, sociais, culturais, éticas e

ambientais relacionadas com o conteúdo que se está estudando.

No ensino de Química, por exemplo, Marcondes et al (2009) descrevem que o

desenvolvimento do planejamento de ensino não deve se restringir apenas a

seleção de conteúdos, deve transcender para a possibilidade de um ensino

contextualizado, no qual o aluno possa utilizar a química como uma ferramenta para

o entendimento das situações em que está envolvido, sejam estas de natureza

social, política, econômica e ambiental.

Para Rosa (2002, apud COMEGNO, KUWABARA; GUIMARÃES, 2008),

educar em uma perspectiva nas relações CTS, leva o educando a compreender

melhor a vida a partir dos conceitos e teorias da ciência, pois estes explicam os

fenômenos físicos e tecnológicos que nos rodeia, auxilia na compreensão do nosso

planeta e do nosso próprio corpo.

Como descrevem Comegno, Kuwabara e Guimarães (2008) educar nessa

perspectiva também auxilia não só na resolução de problemas práticos do dia-a-dia,

mas também daqueles relacionados a atividade profissional, além de contribuir para

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que o aluno a avalie, argumente e forme opinião sobre fatos tecnológicos de caráter

científico.

Para introduzir as relações CTS no Ensino de Ciência, o professor,

dependendo dos objetivos e conteúdos selecionados, bem como dos recursos e

tempo disponíveis, pode utilizar diversas atividades e estratégias como, por

exemplo, estudo de casos simulados, jogos educativos, discussão de temas sócios

científicos, criação de unidades didáticas, debates, desenvolvimento de projetos,

entre outras.

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CAPÍTULO 2

PERCURSO METODOLÓGICO

Iniciamos o presente capítulo apresentamos uma descrição dos passos

metodológicos adotados na investigação, caracterizando a professora selecionada,

os estudantes, a escola, os instrumentos de investigação, os procedimentos para o

tratamento dos dados e justificamos os procedimentos adotados durante a pesquisa.

2.1- Abordagens metodológicas da investigação

A metodologia adotada nesse trabalho foi à pesquisa qualitativa, uma vez que

analisamos o fazer pedagógico do professor e observamos os alunos. Assim, temos

dois tipos de abordagem: a ação intervenção e a observação não participante,

respectivamente

Para Ferreira e Sampaio (2005) a observação não-participante, enquanto

técnica qualitativa de investigar uma realidade caracteriza-se pelo observar as

atitudes e ações diversas dos sujeitos que estão sendo alvo de investigação, para

compreender determinada temática ou esclarecer pontos obscuros. Nesse tipo de

pesquisa o investigador não participa ativamente da situação, apenas assiste as

ações dos sujeitos para desvelar e permitir que estes tomem consciência de suas

práticas individuais e sociais. É um tipo de investigação que leva ao questionamento

da realidade em que o sujeito investigado constrói seus conhecimentos coletivos.

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Para Oliveira (1982), uma observação não participante tem como objetivo

acessar as atividades cotidianas dos sujeitos em sala de aula para coleta de dados,

com o intuito de compreender como os sujeitos da pesquisa constroem os sentidos

que são de importância para eles.

2.2- Sujeitos da pesquisa

2.2.1- A professora

A professora Elizabeth (Beth) é graduada em Química Industrial pela

Universidade Federal do Maranhão e licenciada em Química pela Faculdade

Oswaldo Cruz e Leciona na rede pública de ensino Estadual há 13 anos e trabalha

na Escola Estadual Tito Prates da Fonseca há 7 anos.

A professora Beth desconhecia o enfoque CTS. Ao lhe falar sobre o projeto

de pesquisa que estava desenvolvendo no mestrado, a mesma se mostrou muito

interessada em conhecê-lo e se propôs a participar de reuniões para estudar o

assunto e aplicá-lo em suas aulas.

Desta forma, após conversarmos ela concordou em participar de nossa

pesquisa e nos informou os dias e horários que iria ministrar as aulas de Química.

Indicou a turma com a qual mantinha boas relações afetivas e que no ano anterior

tinha sido professora.

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2.2.2- Os alunos

A turma era formada por 37 alunos do 20 ano do Ensino Médio que tinham

uma faixa etária entre 15 e 16 anos. Devido ao fato da Escola ser de inclusão, a

grande maioria é de bairros próximos à escola, formando uma turma heterogênea

quanto à classe social.

Consultando a planilha de conselho de classe verificamos quanto ao

rendimento da classe quanto ao aproveitamento, participação em classe e

comunicação com o professor, esta era considerada uma sala boa em todos os

itens. Apenas dois alunos tinham problemas de aprendizagem.

2.3- Contexto da pesquisa

A Escola Estadual Tito Prates da Fonseca (Figura 1) surgiu como uma sala de

emergência, em 1949, funcionando na Associação 19 de Novembro, na casa da

professora e então diretora, Ângela, na Rua Duplo Céu, num simples galpão de

madeira. Em 1951, mudou-se para a Av. Imirim. Nessa época já era uma escola

oficializada e mantinha, além deste endereço, duas salas funcionando na Rua Paulo

Carabet. Em 1952, foi inaugurado o prédio da escola, onde permanece até hoje, na

Rua Mendonça Junior, 611. Vila Andrade. A escola, aos poucos, foi crescendo em

popularidade e em demanda. Dezenove anos depois chegou à direção a professora

Maria Angélica Mugnai, que objetivou dar qualidade ao ensino na região, propondo

uma integração entre alunos, comunidade e professores. Nesse período

aconteceram vários projetos educacionais, tais como: Meio Ambiente; Semana Afro:

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Vida, Ética e Cidadania; Roda de Leitura; A Escola de Cara Nova; Construção da

Identidade; Viagem Nestlé pela Literatura; 500 Anos de Brasil; Pólo Cultural 2001 e

outros. Deste período até 2008, a professora Ana Serra dirigiu a escola também com

muitos projetos junto à população local. Atualmente a escola é dirigida pelo

professor Carlos Alberto Vieira, que chegou trabalhando com determinação para que

todos os alunos dos cursos Fundamental II, Ensino Médio e suplência possam ter

uma formação cidadã.

A presente pesquisa envolveu este ambiente escolar que tem suas

particularidades. É uma escola Estadual urbana e possui 20 salas de aulas, salas de

professores e de leitura, laboratórios de informática e de ciências, cozinha e quadra

esportiva. Portanto, trata-se de uma escola razoavelmente grande com um total de

110 funcionários atendendo os períodos da manhã, onde atende em média 600

alunos do Ensino Médio, a tarde 700 alunos do Ensino Fundamental e noite 350

alunos do Ensino Médio e EJA. Assim ao buscar a escola como parceira na

construção do conhecimento, sabemos que iremos lidar com o seu tempo, o seu

espaço e os seus sujeitos.

Figura 1- Foto da E.E. Tito Prates da Fonseca.

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2.4- Planejamentos das aulas

Antes de convidar a professora Beth para participar desta investigação,

mostrei-lhe o projeto e esta se interessou em participar, mas enfatizou que não tinha

conhecimento da abordagem CTS. Assim, durante o período de 2 meses realizamos

encontros semanais para estudar e discutir artigos envolvendo essa abordagem.

Após esse período de estudo, utilizamos o horário de coordenação

pedagógica para realizar o planejamento da proposta de ensino. No momento do

planejamento foi solicitado pela professora que o conteúdo onde aplicaríamos a

abordagem CTS fosse aquele que estivesse proposto no Currículo de Química do

Estado de São Paulo, e que utilizássemos o Caderno do Aluno (2ª série v. 1) e o

livro didático1.

Seguindo a orientação curricular da Secretaria da Educação do Estado de São

Paulo bem como do livro didático, o conteúdo abordado (primeiro bimestre) foi

soluções.

Após a escolha do conteúdo, estabelecemos como seria a sequência para o

ensino de Química com enfoque CTS. As aulas foram organizadas obedecendo a

sequência de etapas sugeridas por Aikenhead (1994 apud SANTOS;

SCHNETZLER, 2010, p.85) para a preparação de materiais de ensino de CTS.

� 10 Passo - uma questão social é introduzida;

1 Fonseca, Martha Reis Marques, Química: meio ambiente, cidadania, tecnologia v.2, 1 ed. São Paulo FTD,

2010.

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� 20 Passo - uma tecnologia relacionada ao tema social é analisada;

� 30 Passo - o conteúdo cientifico é definido em função do tema social e da tecnologia introduzida;

� 40 Passo - a tecnologia correlata é estudada em função do conteúdo apresentado;

� 50 Passo - a questão social original é novamente discutida.

Entretanto, como estávamos trabalhando com o Currículo do Estado de São

Paulo e os conteúdos já estavam definidos, o 30 passo foi modificado, ou seja,

partimos do conteúdo para discutir o tema social e a tecnologia associada ao tema.

Como para o componente curricular do Ensino Médio têm-se duas aulas de 50

minutos de duração, por semana, para a disciplina de Química, o planejamento foi

idealizado para um total de 22 aulas.

Uma vez que o Currículo do Estado de São Paulo foi elaborado tendo como

norteador desenvolver a habilidade de leitura e interpretação de textos, decidimos

introduzir os temas sociais a partir da leitura de textos.

No quadro 1 descrevemos os conteúdos, temas geradores e objetivos de

cada aula.

Aula Conceitos Tema Gerador

Objetivos

10 Água como solvente universal

Água pura e água

potável

Discutir o tema social água.

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20 Contexto tecnológico e

social

Água potável

Analisar e discutir as substâncias químicas utilizadas no tratamento da água e os valores de concentração máxima permitida de acordo com a Legislação vigente.

Ressaltar que o Ministério da Saúde, estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Não é CTS

Na questão social do tema, além da apostila com textos e tabelas, trabalharemos com a ocorrência de notícias sobre a contaminação da água por chumbo no ano 2000 no Rio de Janeiro.

30 e

40

Tipos de

soluções

Apresentação das soluções que fazem parte do cotidiano do aluno.

Refrigerante, gás de cozinha, ligas metálicas, soro fisiologia entre outros.

Nesta aula discutiremos o conceito de solução, apresentando os diversos tipos e enfatizando que iremos priorizar as soluções líquidas (considerando o tema inicial). Apresentaremos os conceitos de soluto, solvente, coeficiente de solubilidade, soluções saturadas, insaturadas e supersaturadas, tipos de soluções, priorizando as soluções aquosas; levando em conta que a água é o solvente universal.

50 e

60

Concentrações

História do suco em pó

Entender o conceito geral de concentração de solução, conhecer os cálculos básicos a respeito das concentrações, perceber que há várias formas para se expressar a concentração de uma mesma solução e que cada fórmula atende a uma finalidade.

70e

80

Concentração

em massa

Concentração de álcool etílico no

sangue

Compreender o conceito de concentração

Entender os efeitos da concentração de álcool no sague

90 Densidade Suco de limão Compreendera a relação entre massa e volume da solução.

100,

110,

120 e

130

Titulo em massa e titulo

volume

Soro fisiológico Compreender o conceito de concentração; compreender as unidades que expressam a composição das soluções e utiliza-las adequadamente; realizar cálculos envolvendo as diferentes unidades de concentração e aplicá-los no reconhecimento de problemas relacionados à qualidade da água para consumo.

140 e

150

Concentração ppm e ppb

Cloração da água de piscina

Compreender o conceito de concentração; compreender as unidades que expressam a composição das soluções e utilizá-las adequadamente

160 e

170

Expressando a concentração em quantidade de matéria

Conceitos e aplicação de exercícios

Fazer usos da linguagem química: construir o conceito de concentração em quantidade de matéria/ volume para ampliar a compreensão do significado da concentração

180 e 190

Diluição de solução

Suco concentrado Auxiliar o aluno na compreensão do conteúdo, levando a trabalhar suas habilidades e competências na resolução das

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questões.

200 Demanda bioquímica de

oxigênio (DBO)

Discutindo a solubilidade do

gás oxigênio em água

Compreender a importância do oxigênio dissolvido no meio aquático; construir e aplicar o conceito de DBO e relacionar informações sobre DBO para entender problemas ambientais e poder enfrentar situações.

210 e

220

Interpretação e aplicação

sobre DBO

Aplicação de exercícios

Auxiliar o aluno na compreensão do conteúdo, levando a trabalhar suas habilidades e competências na resolução das questões.

QUADRO 1- Descrição dos conteúdos, temas geradores e objetivos de cada aula.

2.4.1 Planejamento seguido pela professora Beth para as aulas de leitura de

textos

a) Seleção de alguns termos, frases ou afirmações dos textos para serem discutido

com o objetivo de mostrar que a compreensão do todo pode ser comprometida se

algumas partes não ficaram claras, que há uma diferença entre o senso comum e o

rigor científico e mostrar que o conhecimento pode gerar a autonomia e a

consciência necessária para busca de uma vida melhor em sociedade.

b) Abertura de um debate sobre os principais pontos relevantes destacados na

leitura do texto, fazer com os alunos uma tormenta de ideias e anotar no quadro

negro frases que os alunos julgam pertinentes.

c) Formular perguntas relacionadas a cada frase proposta.

d) Abrir uma discussão sobre o texto.

2.4.2 Material didático trabalhado nas aulas

Na aula 1, a professora Beth trabalhou com o texto água pura e água potável

(Quadro 2).

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Água Pura e água potável

A vida, como a conhecemos, depende de água, a substância mais abundante nos

tecidos animais e vegetais, bem como na maior parte do mundo que nos cerca. Três

quartos da superfície terrestre são cobertos de água: 97,2% formam os oceanos e os

mares; 2,11%, as geleiras e as calotas polares; e 0,6%, os lagos, os rios e as águas

subterrâneas. Essa última é a fração de água aproveitável pelo homem, que pode utilizá-la

para abastecimento doméstico, indústria, agricultura, pecuária, recreação e lazer,

transporte, geração de energia e outros.

Para abastecer 19 milhões de habitantes da Grande São Paulo é produzido 5,8 bilhões

de litros de água tratada por dia. Essa água provém dos sistemas Cantareira, Alto do Tietê

e Rio Grande. Embora a ONU recomende o consumo per capta de 110 litros de água, a

média da capital tem sido de 221 litros por dia por habitante (dados de 2008). Levando-se

em conta não só o consumo, mas também a perda de água por vazamento, desperdício e

outros, o Instituto Sócio Ambiental (ISA) está promovendo uma companha para combater o

desperdício de água.

Tanto as águas “doces” como as “salgadas” são imensas soluções aquosas, que contém

muitos materiais dissolvidos. Assim, a água na natureza não se encontra quimicamente

pura. Mesmo as águas da chuva e a destilada nos laboratórios apresentam gases

dissolvidos, como o CO2, o O2, e o N2, provenientes de sua interação com a atmosfera. É a

presença desses gases e também de sais e outros compostos que torna a água capaz de

sustentar a vida aquática, os peixes e outros seres não poderiam viver em água pura, eles

necessitam de oxigênio dissolvido na água para respiração.

Uma substância pura apresenta um conjunto de propriedades que podem ser usadas pra

a sua identificação.

QUADRO 2- Texto utilizado na aula 1.

Na aula 2 a professora Beth utilizou o texto intitulado A água potável (Quadro

3) e uma reportagem sobre contaminação da água (Quadro 4).

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A água potável

A palavra potável vem do latim potabilis, que significa “própria para beber”. Para ser

ingerida, é essencial que a água não contenha elementos nocivos à saúde. Muitas vezes,

as águas superficiais provenientes de rios, lagos ou de afloramentos naturais, destinadas

ao consumo humano ou outro fins, não apresentam a qualidade sanitária exigida. Por

essa razão, a água para consumo humano deve passar o tratamento a fim de torna-la

potável, isto é, atender a certos requisitos estéticos, tais com ser isenta de cor, sabor,

odor ou aparência desagradável, ou seja, ser própria para beber. Também pode ser

utilizada no preparo de alimentos ou para lavar louças e roupas. Deve ser ainda isenta de

substâncias minerais ou orgânicas ou organismo patogênicos que possam produzir

agravos à saúde. Assim, o critério de potabilidade é diferente do critério de pureza. A

potabilidade tem como fim o auxilio da manutenção dos seres vivos, inclusive o ser

humano. A pureza indica que a espécie química água é água somente, tem propriedades

especificas que a caracterizam como água H2O.

Atualmente, grandes problemas estão afetando o suprimento da água, como a poluição

dos rios, lagos e lençóis freáticos por resíduos industriais, agrícolas e humanos, além da

contaminação por microrganismos. Muitas vezes, essas águas contaminadas, se

ingeridas, podem causar sérios danos à saúde.

No entanto, dependendo da finalidade a que se destina, é permitida nas águas a presença

de espécies orgânicas e inorgânicas, como flúor recomendado pelos dentistas.

Quadro 3 – Texto utilizado na aula 2.

Reportagem

Uma ocorrência no Rio de Janeiro, no ano 2000, que alarmou a população, foi à série

de noticias sobre a contaminação da água por chumbo. Esse metal, na forma de Pb2+

(cátion chumbo II), havia sido detectado em amostra de água coletadas em residências

onde as tubulações ainda eram construídas de chumbo. Esse metal, no ser humano, se

deposita nos ossos, na musculatura, nos nervos e rins, provocando estados de agitação,

epilepsia, tremores, perda de capacidade intelectual, anemias e, em casos estremos, uma

doença chamada saturnismo, Atualmente, minimizou-se esse mal, pois o uso de

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tubulações de chumbo foi des do, tornando-se obrigatória a utilização de tubulações

fabricadas com cloreto de polivinila (PVC).

O alumínio é outro contaminante que agem causado temor à população, Alguns

pesquisadores creditam que sua presença na água potável pode ser aumentada caso em

seu tratamento seja utilizado o alume. O uso de panelas de alumino também pode

aumentar a quantidade desses contaminantes nos alimentos nelas processados. As

pesquisas indicam que o consumo de água potável com mais de 100 ppb (0,1 mg/L) de

alumínio pode causar danos neurológicos, como perda de memoria, e contribuir para

agravar a incidência do mal de Alzheimer. Além desses contaminantes, deve-se considerar

ainda os nitratos, O excesso de nitratos na água que bebemos pode causar, tanto em

bebês recém-nascido quanto em adultos com certa deficiência enzimática, a doença

conhecida como “metemoglobinemia” ou “síndrome do bebê azul”. Bactérias presentes no

estomago do bebê ou em mamadeiras mal lavadas em mal esterilizadas podem reduzir o

nitrato a nitrito, como mostra a equação:

Interagindo com a hemoglobina, o nitrito a oxida impedindo, dessa forma, a absorção e o

transporte adequado de oxigênio às células do organismo. Devido à falta de hemoglobina,

na sua forma reduzida e que dá a cor vermelha ao sague, o bebê é acometido de

insuficiência respiratória, perdendo a sua cor natural para uma cor azul arroxeado. Nos

adultos, essa doença pode ser controlada, pois a hemoglobina oxidada pode retornar com

facilidade à sua forma reduzida, transportadora de oxigênio, e o nitrito se oxidar novamente

a nitrato.

Contaminante da água Exemplos

Resíduos consumidores de O2 dissolvido

Resíduos de animais e vegetais; vegetais em decomposição.

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QUADRO 5- Tipos de contaminantes da água.

QUADRO 4 - Texto utilizado na aula 2.

Para a explicação desses textos a professora utilizou o quadro 5 com os tipos

de contaminantes da água.

Nas aulas 3 e 4 a professora Beth trabalhou com tipos de soluções. Para isso

utilizou as imagens apresentadas no quadro 6.

QUADRO 6 - Figura com tipo de soluções.

Nas aulas 5 e 6 a professora Beth utilizou um texto sobre a história do suco em

pó (Quadro 7).

História do suco em pó

O refresco em pó surgiu em 1927 nos EUA, criado por Edwin Perkins e sua esposa

Kitty Shoemaker, na Cidade de Hastings no Estado de Nebraska. Fascinado por

química, e decidido a inventar algum tipo de alimento, começa a misturar ingredientes

alimentícios na cozinha de sua mãe, com o intuito de criar algo que fosse útil e

inovador. No início do século XX, sua amiga de infância e futura mulher, Kitty,

apresentou-lhe uma sobremesa nova em pó, chamada Jell-O (mistura comercial de

gelatina em pó com vários sabores, na época a proprietária da Marca Jell-O era a

Agentes patogênicos Microrganismos Nutrientes vegetais Fosfatos e nitratos Compostos industriais inorgânicos

Ácidos, bases e íons de metais ( Fe2+, Hg2+, Cd2+, Cr3+, Pb2+)

Produtos industriais orgânicos Praguicidas, detergentes e petróleo Material radioativo Restos de mineração e processamento de

materiais radioativos Material em suspensão Sedimentos de erosão da terra Calor Água usada pra resfriamento na indústria

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Genesee Woodward´s Pure Food Company, atualmente pertence a Kraft). Ele ficou

encantado com a facilidade de preparo e do manuseio. Neste mesmo período, seu pai

abriu uma loja na Vila de Hendley em Furnas County, Nebraska e Perkings o

convenceu a comercializar esta nova linha de sobremesa em pó, que possuía 6

sabores diferentes.

O contato com os produtos da Jell-O, mudaria sua vida para sempre. Em 1918, casou-

se com kitty e criou um produto para ajudar as pessoas pararem de fumar, conhecido

como Nix O Tine. Com o desenvolvimento de outros produtos, e o sucesso comercial

crescente de vários deles, Perkins e sua mulher mudou-se para a Cidade de Hastings

em Nebraska em 1920, pois se encontrava nesta cidade, uma malha ferroviária que os

auxiliaria no transporte dos produtos fabricados, acelerando ainda mais seu

crescimento. Nesta mesma época, um dos produtos de grande volume de vendas, era

uma mistura líquida de bebida concentrada, chamada Fruit Smack, comercializada em

garrafas de vidro. O conteúdo e o preço popular eram mais que adequados para serem

consumidos por uma família média americana da época. Contudo, o custo do

transporte destas garrafas, aliado aos problemas da quebra das mesmas durante o

deslocamento, acabariam por incentivá-lo a criar o seu grande projeto de vida: a

criação do refresco em pó.

Perkins em 1927 criou um método para retirada do líquido do seu suco Fruit Smack,

transformando o restante da mistura em pó, facilitando o embala mento em outro tipo

de embalagem projetado e impresso por ele próprio: o envelope. O novo nome do

produto era Kool Ade, que anos mais tarde mudaria para Kool Aid. O produto foi

vendido a 10 centavos de dólar a unidade para mercearias, atacadistas, e muitos

outros mercados, em seis sabores também (tal qual Jell-O): morango, cereja, limão,

uva, laranja e framboesa. A partir de 1929, Kool-Aid começou a ser distribuídas nos

EUA para supermercados, mercearias através de Distribuidores de Alimentos. A

bebida começou a ser vendida em muitos pontos do país. No ano de 1931, os

crescimentos das vendas de Kool-Aid foram tão expressivos, que Perkins abandonou a

fabricação de todas as outras linhas, concentrando-se apenas no refresco em pó.

Mudou toda sua linha de produção para Chicago em Illinois, para se aproximar ainda

mais de fornecedores e centros de distribuição, e desta forma expandir continuamente

seus negócios. No período da Grande Depressão, corta o preço pela metade, 5

centavos de dólar, mantendo as vendas do produto. Nesta época, a maior parte dos

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lucros vinha do consumo de refresco em pó pelas crianças. Durante a Segunda Guerra

Mundial, o racionamento de ácido cítrico e dextrose, impediram qualquer expansão dos

negócios. Porém, ao final dela, as vendas aumentaram tanto, que foi necessário

investir na ampliação da fábrica. No ano de 1950, eram fabricados quase 1 milhão de

pacotes de Kool-Aid por dia.

Perkins vende sua empresa em 1953, para a General Foods Corporation (Empresa

nascida da junção da Genesee Woodward´s Pure Food Company, detentora da Marca

Jell-O que tanto Perkins admirava com a Postum Clarence Birdsey, em 1927). A partir

dai a empresa não parou mais de crescer. Ocorreram investimentos na mídia impressa

e nos lançamentos de novos sabores aos 6 originais. Em 1989, a Kraft adquiriu a

General Foods para criar a Kraft Foods, uma empresa global de alimentos, que atua

em diversos segmentos alimentícios.

Aqui no Brasil, o refresco em pó começou a ser produzido em 1961 pela General

Foods, com o nome de Ki-Suco. Em 1964, reformularam as embalagens, utilizando um

personagem já muito querido nos EUA, o Kool-Aid-Man, que nada mais era que uma

grande jarra cheia de refresco pronto para beber. Muitas mudanças ocorreram para

revitalizar a marca no Brasil, inclusive o lançamento de outras que concorreriam

diretamente com o próprio Ki Suco.

Dentre elas, a marca Tang, lançada no Brasil no ano de 1978, e que hoje é líder de

marcado, surgida em 1957, cuja mistura em pó já vinha adoçada com açúcar, não

sendo necessário acrescentar nada além da água. A marca Tang tem sido pioneira em

diversos segmentos de bebidas em pó, como a primeira a utilizar a combinação de

duas frutas (1997), a adicionar polpa de fruta em sua composição (1999), também a

primeira bebida em pó a adicionar vitaminas e ferro em sua composição (2003). O

setor de bebidas não alcoólicas é o que mais cresce no Brasil, a segunda Marca deste

segmento mais conhecida no país é a Tang a primeira é a Coca Cola. No entanto, o

refresco em pó sofre menor oscilação em vendas no mercado, e vem crescendo

consistentemente sua participação, enquanto a de refrigerantes não. Somente o

investimento em pesquisas de mercado, identificando tendências e o reconhecimento

da mudança de hábitos poderão nos dizer num futuro próximo, quais serão as bebidas

preferidas pelos consumidores.

Questionário

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1-Que tecnologias foram utilizadas ao longo dos anos para a melhoria da qualidade do suco?

2-É saudável consumirmos esses sucos diariamente ou que consequências à ingestão desses sucos podem trazer para a nossa saúde?

3-O que são conservantes e acidulantes e quais as consequências de sua ingestão

para nossa saúde?

QUADRO 7 - Texto utilizado nas aulas 5 e 6.

“Concentração do álcool etílico no sangue”

A ingestão de álcool etílico, mesmo em pequenas quantidades, diminui a

coordenação motora e os reflexos, comprometendo a capacidade de dirigir veículos ou

de operar máquinas. Antigamente o Código Nacional de Trânsito previa a penaliza

ação de todo motorista que apresentasse mais de 0,6 gramas de álcool etílico por litro

de sangue. Como essa medida não foi capaz de conter o crescente número de

acidentes de trânsito, atualmente a tolerância é zero, ou seja, o motorista que for pego

dirigindo com qualquer quantidade de álcool no sangue (identificada pelo teste do

bafômetro) pode ser multado e sofrer as penalidades previstas em lei.

A tabela a seguir mostra a concentração de álcool etílico no sangue que é atingida em

função da massa corporal, do tipo de bebida e da quantidade ingerida.

Concentração de álcool no sangue em função da massa corporal e da

quantidade e do tipo de bebida (I)

O alcoolismo é uma doença grave que não afeta apenas o doente, já que os

comportamentos do alcoólico atingem todos os que convivem com ele. O doente

desenvolve mecanismos de defesa para encobrir, de si mesmo e dos outros, sua

doença. Esses mecanismos são, na maioria das vezes, mentiras que o alcoólico diz

para não ter de lidar com seus problemas e também parta evitar o preconceito

existente contra os alcoólicos.

As pessoas que não estão familiarizadas com esses mecanismos de defesa tendem a

não identificá-los e a acreditar no que o alcoólico esta dizendo o

que só colabora com a doença e o seu desenvolvimento. Existem grupos de apoio a

alcoólicos e profissionais especializados em alcoolismo que podem ser muito úteis no

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processo de recuperação.

Devemos ter em mente que o alcoólico é uma pessoa doente e que precisa de ajuda

Riscos de acidente potencializados pelo álcool (II)

Concentração de álcool no sangue em função da massa corporal e da

quantidade e do tipo de bebida (I)

O alcoolismo é uma doença grave que não afeta apenas o doente, já que os

comportamentos do alcoólico atingem todos os que convivem com ele. O

doente desenvolve mecanismos de defesa para encobrir, de si mesmo e dos

outros, sua doença. Esses mecanismos são, na maioria das vezes, mentiras

que o alcoólico diz para não ter de lidar com seus problemas e também parta

evitar o preconceito existente contra os alcoólicos.

As pessoas que não estão familiarizadas com esses mecanismos de defesa

tendem a não identificá-los e a acreditar no que o alcoólico esta dizendo o

que só colabora com a doença e o seu desenvolvimento. Existem grupos de

apoio a alcoólicos e profissionais especializados em alcoolismo que podem ser

muito úteis no processo de recuperação.

Devemos ter em mente que o alcoólico é uma pessoa doente e que precisa de

ajuda.

Concentração de álcool no sangue em função da massa corporal e da

quantidade e do tipo de bebida (I)

O alcoolismo é uma doença grave que não afeta apenas o doente, já que os

comportamentos do alcoólico atingem todos os que convivem com ele. O

doente desenvolve mecanismos de defesa para encobrir, de si mesmo e dos

outros, sua doença. Esses mecanismos são, na maioria das vezes, mentiras

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que o alcoólico diz para não ter de lidar com seus problemas e também parta

evitar o preconceito existente contra os alcoólicos.

As pessoas que não estão familiarizadas com esses mecanismos de defesa

tendem a não identificá-los e a acreditar no que o alcoólico esta dizendo o

que só colabora com a doença e o seu desenvolvimento. Existem grupos de

apoio a alcoólicos e profissionais especializados em alcoolismo que podem ser

muito úteis no processo de recuperação.

Devemos ter em mente que o alcoólico é uma pessoa doente e que precisa de

ajuda

Riscos de acidente potencializados pelo álcool (II)

QUADRO 9- Concentração de álcool etílico no sangue. Texto utilizados nas aulas 7

e 8.

Questões sobre aplicação do cálculo da densidade (Martha Reis, página 95.)

A composição dos combustíveis automotivos mais utilizados no Brasil

(gasolina adicionada de álcool etílico anidro e álcool etílicos hidratado) pode ser

avaliada rapidamente por meio da determinação da densidade. Outro exemplo

é a concentração da solução aquosa de ácido sulfúrico, contida entre os

eletrodos de uma barreira normal de chumbo metálico e óxido de chumbo, cuja

carga também pode ser avaliada por intermédio da medida da densidade da

solução.

E como isso é feito? A densidade da solução varia conforme a quantidade de

soluto existente numa quantidade-padrão de solução - cada diferente proporção

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de soluto e de solvente utilizada dá origem a uma solução de densidade

diferente; é por isso que a densidade também é considerada uma expressão de

concentração.

A densidade (d) de uma solução é a relação entre a massa (m) e o volume (v)

dessa solução

A densidade da solução é expressa em gramas por mililitro (g/mL), mas

também pode ser expressa em g/L, g/cm3, Kg/L etc.

Quando dizemos que uma solução apresenta, por exemplo, densidade igual a

0,8 g/mL, isso significa que cada 1mL da solução tem massa igual a 0,8g

QUADRO 10- Texto, aplicação do calculo da densidade. Utilizado na aula 9.

Nas aulas 10 a 13 a professora Beth trabalhou título em massa e titulo em

volume, para isso utilizou o texto apresentado no quadro 11.

QUADRO 11- Titulo em massa e titulo em volume. Textos utilizados nas aulas 10 a

13.

Nas aulas 14 e 15 a professora trabalhou concentração em parte por milhão e porte

por bilhão utilizando o texto do quadro 12

QUADRO 12- Cloração da água de piscina

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Em seguida a professora realizou exercícios do quadro 13 sobre o tema.

QUADRO 13- Exercícios; expressando a concentração em parte por milhão, ppm

As aulas 16 e 17 trabalhou com a concentração em quantidade de matéria mol/L.

Para fazer uso dessa linguagem química a professora aplicou novamente uma lista

de exercícios, apresentado no quadro 14.

QUADRO 14- Exercícios: Concentração em quantidade de matéria. Utilizado nas

aulas 16 e 17.

Nas aulas 18 e 19 a professora Beth utilizou-se do Quadro 15 para trabalhar diluição

de soluções.

QUADRO 15- Diluição de soluções. Utilizado nas aulas 18 e 19.

Na aula 20 a professora Beth trabalhou demanda bioquímica de oxigênio,

para isso utilizou o texto apresentado no quadro 16.

QUADRO 16- Demanda bioquímica de oxigênio (DBO)

Nas aulas 21 e 22 a professora Beth trabalhou no sentido de auxiliar o aluno

na compreensão do conteúdo, trabalhando suas habilidade e competências na

resolução das questões apresentados no quadro 17

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QUADRO 17- Interpretando e aplicado os conhecimentos sobre DBO

2.5- Enfoques CTS nas Aulas da Professora Beth

Após o planejamento das aulas, acompanhei as 22 aulas da professora Beth

com o objetivo de verificar como a mesma desenvolvia suas aulas, como trabalhou

os temas, social, tecnológico, cotidiano, os conceitos químicos e a História da

ciência, bem como suas relações com a ciência, tecnologia e sociedade, dentro da

abordagem CTS. Utilizei como principal fonte de coleta de dados a observação e as

anotações orientadas pelo instrumento de caracterização da abordagem CTS em

aulas de Ciências, proposto por Santos e Schnetzler (2010) que foram os cinco

passos já descritos acima na pagina......

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CAPITULO 3

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Este capítulo tem por objetivo apresentar os dados obtidos nos instrumentos

de investigação como: observação das aulas da professora Beth e análise da

abordagem CTS na aprendizagem dos alunos.

Para a análise das observações nas aulas da professora Beth utilizamos

como categorias os cinco passos para uma aula com abordagem CTS já descritos

na página ?.

3.1- Análise das Aulas da Professora Beth

Após o planejamento da prática de ensino organizado conforme a abordagem

temáticas sugeridas por Aikenhead (1994 apud SANTOS; SCHNETZLER, 2010 p.

85) e que segue os cinco passos para que a aula tenha o enfoque CTS, ocorreu o

desenvolvimento desta prática em sala de aula. Durante este processo, alterações

no planejamento inicial se fizeram necessárias para adequar o planejamento à

realidade da escola, tais como dias sem aula e as necessidades pessoais da

professora (como licença saúde).

O quadro 18 mostra os resultados da avaliação de cada aula da professora

Beth. O X indica a presença dos passos descritos por Santos e Schnetzler.

Aulas Passo 1 Passo 2 Passo 3 Passo 4 Passo 5

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1 X

2 X X X X X

3 e 4

5 X X X X

6 X X X X

7 X X X

8 X X X

9 a 17

18 X X X

19 X X

20 X X X X

21 e 22

Quadro 18 - Observação das aulas da professora quanto à abordagem CTS.

Santos (2007) enfatiza que para considerar uma aula com ênfase em CTS é

necessário que o professor trate das inter-relações entre explicação científica,

planejamento tecnológico, solução de problemas e tomada de decisão sobre temas

práticos de importância social.

Antes de iniciar essa aula a professora solicitou aos alunos que lessem o

texto, o qual está no Caderno do Aluno. Esse texto, como pode ser observado no

quadro 3 traz uma questão social que é a importância da água na nossa vida.

Entretanto, nessa aula, ao iniciar um debate com toda a sala, a professora Beth

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percebeu que os alunos não o haviam lido. Assim, a professora solicitou que cada

aluno fizesse a leitura de um trecho do texto. Após a leitura iniciou-se novamente um

tímido debate entre os alunos, pois a maioria ficou a maior parte do tempo calada.

Na aula seguinte (aula 2) a professora Beth deu continuação ao debate e discutiu os

textos apresentados nos quadros 4 e 5, os quais estão no material didático dos

alunos..

Como pode ser observado no quadro 18, as aulas 1, 2, 5, 6, 7, 8, 18 e 20

iniciaram com a introdução de tema que traz uma questão social, extraído da prática

cotidiana dos estudantes (Passo 1), pois como descreve Saviani (1995 apud

TEIXEIRA, 2003) é na prática social, que os professores encontrarão os grandes

temas para o ensino. O processo de ensino-aprendizagem deveria começar pela

problematização, extraída da prática social.

Nas aulas 1 e 2 a professora retornou novamente a questão social e discutiu

a importância da água para a vida na terra e, novamente, a importância do

tratamento da água para o consumo humano

A abordagem dos temas sociais na perspectiva de ensino CTS tem uma

estrutura característica, que segue etapas como a introdução de uma questão social,

análise de uma tecnologia relacionada à questão social, definição de conceitos e

habilidade científica em função da tecnologia e, da questão social introduzida e, a

retomada da questão social. Esse último passo, segundo Firme e Amaral (2011)

podem contribuir de maneira efetiva para potencializar a ação social dos futuros

cidadãos com responsabilidade social.

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A introdução de uma tecnologia relacionada aos temas sociais discutidas nas

aulas descrito acima (Passo 2) foi observada nas aulas 1, 2, 5, 6 e 20.

Nas aulas 1 e 2, ao discutir com os alunos a importância da água na geração

de energia e para o abastecimento doméstico, a professora Beth introduziu duas

tecnologias associadas a esse tema, responsáveis pela geração de energia em uma

usina hidrelétrica e pelo tratamento de água para torná-la potável para o consumo

humano.

É importante enfatizar que apesar da tecnologia estar associada à ciência,

existe uma diferença entre elas, pois a ciência focaliza e enfatiza a aquisição e

compreensão do conhecimento, enquanto que a tecnologia enfatiza e focaliza os

resultados de um processo no qual foram utilizados os conhecimentos da ciência.

Desta forma, a tecnologia faz parte da relação do homem com as invenções,

inovações e novos produtos, e também com o desenvolvimento do conhecimento. O

conhecimento científico é importante para entender a natureza do mundo, enquanto

que o estudo dos usos da tecnologia e seu desenvolvimento são importantes para

modificar o mundo natural, que o homem quer e necessita (ABREU, 2001).

Na terceira e quarta aulas a professora Beth, levou para sala as imagens

apresentado no quadro 7 nas figuras 1, 2, 3 e 4, que representam os tipos de

soluções.

Nas aulas de Ciências, as imagens contribuem para uma melhor

compreensão do conteúdo e para a construção de conceitos científicos. A principal

característica da imagem é ser uma mediadora entre o sujeito e o conteúdo e se

coloca entre o sujeito e o mundo, tendo o papel de organizar as atividades

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simbólicas e estruturar o pensamento. Para Peirce (2005, apud KLEIN; LABURÚ,

2009) os processos significativos são mediados pela palavra escrita ou falada, pelos

símbolos ou gestos e sempre acontece quando alguma coisa significa algo para

alguém.

Embora trabalhar com imagens seja um recurso muito importante para o

ensino de Ciências, em particular Química, não observamos nestas duas aulas,

nenhum dos cinco passos para uma abordagem CTS, apenas o estudo dos

conceitos químicos relacionados ao cotidiano.

Quanto a definição dos conceitos de química em função do tema social e da

tecnologia introduzidas (Passo 3) podemos observar no quadro 18 que a professora

Beth conseguiu desenvolve-los nas aulas 1, 2, 5, 6, 7,8, 18 e 20.

Nas aulas 5 e 6 a professora Beth utilizou um texto retirado da internet

(Quadro 8) que contava a história do suco em pó, a substituição das garrafas que

era um problema comercial na época em que eles foram comercializados e discutiu

as consequências para a saúde da adição de substâncias tais como açúcar,

acidulante, corante e conservante nesses sucos. No final com a questão, tomar

muito suco em pó faz mal a saúde? A professora iniciou uma discussão em sala de

aula.

A tecnologia também foi abordada e discutida nestas aulas pela professora

Beth, foi empregada para melhorar o sabor e a aceitação da população em relação

ao suco em pó.

A abordagem tecnológica admite a sua centralidade nas relações sociais,

significando que o mundo social é medido não só pela ciência, mas também pela

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tecnologia e de forma cada vez mais intensiva. O quadro é de dependência

tecnológica e de dependência social, característico das novas relações do

capitalismo global. Temos que considerar a necessidade de se reduzira a distância

entre os detentores do saber científico-tecnológico e os consumidores de tecnologia

nas sociedades e entre diferentes sociedades e, por outro lado, a de superação do

abismo que contribui para o aumento da exclusão entre as culturas tecnocientíficas

e humanística no meio técnico. Interesses e pressões sociais diversos reclamam por

renovações pedagógicas e curriculares para o atendimento de novas demandas

profissionais exigidas por essas novas construções sociais (von LINSINGEN, 2006).

Nas aulas 1 e 2 a professora Beth introduziu o conceito de solução, solução

aquosa, água como solvente universal e de substâncias químicas. Nas aulas 5 e 6 a

professora Beth continuou com os mesmos conceitos, ao mostrar a adição de

açúcar, acidulantes, conservantes na composição do suco.

Quanto ao passo 4, onde a tecnologia correlata é estudada em função do

conteúdo apresentado, podemos observar no quadro 18 que a Beth conseguiu

introduzi-lo somente nas aulas 1 e 2, quando discutiu o tratamento de água, 5 e 6,

quando discutiu a utilização e conservantes na composição do suco.

Nas aulas 7 e 8 o tema gerador foi a concentração de álcool etílico no sangue

o que traz um problema social que afeta toda a sociedade. Nesta aula foi trabalhada

a dosagem, concentração de álcool no sangue em função da massa corporal e da

quantidade de bebida ingerida permitida pela lei seca. Para essa aula a professora

utilizou o texto do material do aluno (Quadro 9).

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Para finalizar a aula a professora iniciou um debate a partir da questão: o

alcoolismo deve ser considerado uma doença?

Na aula 9, bem como as que seguem 10, 11, 12, e 13, a professora Beth

trabalhou com os textos do livro (quadro 10), abordando apenas conceitos químicos,

sendo que na aula de número 9 relacionado ao cotidiano, e nas aulas 10 e 11,

conceitos químicos relacionados a tecnologia, porém elas não contemplaram

nenhum dos cinco passo

Na aula 10 a professora Beth trabalhou Título e massa e para isso utilizou o

texto apresentado no (quadro 11).

Nas aulas 14 e 15 os conceitos da unidade ppm (parte por milhão). Para isso

a professora utilizou o texto do material didático do quadro 12.

Nas aulas 18 e 19 a professora aplicou mais exercícios para auxiliar o aluno na

compreensão do conteúdo, levando a trabalhar suas habilidades e competências na

resolução das questões envolvendo diluição de soluções quadro 13.

O passo 5, a questão social original é novamente discutida, foram observadas

nas aulas 1, 2,5, 6, 7, 8,18 e 20, observado no quadro 18.

Nessas aulas a questão social levantada e discutida ficou a cargo dos

conceitos químicos que podem ser utilizados em benefício do ser humano,

retomando um debate sobre tratamento de água e a importância da água potável

para o consumo humano.

Na aula 20 a professora Beth iniciou um debate com os alunos sobre a

importância do gás oxigênio (O2) dissolvido em água para o meio aquático e

sobrevivência dos peixes, como sugerido no Caderno do Aluno quadro 16 (p.30).

Discutiu também a influência do clima na mortalidade dos peixes, devido ao

aumento de temperatura. Usou como parâmetro de qualidade da água, a presença

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de O2 dissolvido em lagos e represa. Para finalizar discutiu sobre a manutenção da

vida aquática e a necessidade de ter O2 dissolvido na água.

3.2- Avaliações da abordagem CTS na aprendizagem dos alunos

O quadro 3 mostra os temas trabalhados nas aulas de química da profa. Beth

dentro do conteúdo Soluções e com abordagem CTS.

Nas aulas 1 e 2 a professora trabalhou com o tema água pura e água potável

a partir da leitura de um texto.

Para Santos e Mortimer (2002), a abordagem do conteúdo químico é feito a

partir de temas sociais. Estes temas introduzem o conteúdo a partir de um texto

gerador, que apresenta um tema de relevância social, problematizando-o e

estabelecendo relações com determinados conceitos químicos que serão

necessários para sua abordagem. Em sequencia esses conceitos são apresentados

aos alunos.

Aulas Tema 1 Tema 2 Tema 3 Tema 4 Tema 5 Tema 6

1 X X X X X

2 X X X X X

3 X X

4 X X

5 X X X

6 X X X

7 X X X X

8 X X X X

9 X X

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10 X X

11 X X

12 X

13 X

14 X X X

15 X X X

16 X

17 X

18 X X

19 X X

20 X X X X

21

22

Quadro 19– Temas trabalhados nas aulas. Tema 1 = Social; Tema 2 = Tecnologia; Tema 3 = Saúde; Tema 4 = História da Ciência. Tema 5 = Conceito de Química; Tema 6 = Cotidiano.

Durante a leitura e interpretação do texto, a professora Beth abria um espaço

para debate de questões envolvendo temas sociais, tecnológicos, saúde, conceitos

químicos e do cotidiano.

A questão da saúde foi tratada quando a professora discutiu os valores de

concentração máxima permitida de alguns elementos na água potável (alumínio,

águas potáveis purificadas com alume) e seus efeitos sobre a saúde (por exemplo:

perda de memória, mal de Alzheimer). Essas questões levaram os alunos a vários

questionamentos, entre eles podemos citar:

Fazer comida na panela de alumínio causa mal de Alzheimer? (Aluno 1).

Sobre o bebê azul, ele vive? (Aluno 2)

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Ainda na questão sobre a saúde outro ponto debatido foi sobre a síndrome do

bebe azul e a curiosidade sobre os seres que tinham cor azul no filme Avatar.

Na questão relacionada à tecnologia a professora mostrou as tecnologias

utilizadas no tratamento de água e discutiu os conceitos de química envolvidos em

cada etapa desse tratamento.

Quanto a questão social, a professora Beth, após a leitura do texto, discutiu

com os alunos sobre a recomendação da ONU para o consumo per capita de 110

litros de água por dia por habitante e depois indagou:

Por que São Paulo tem um consumo de água (221 litros/dia) muito acima do recomendado pela ONU?

Os alunos responderam e depois levantaram discussões sobre os motivos

citados pelos alunos denominados aqui de aluno 3 e aluno 4:

As pessoas demoram muito tempo tomando banho (Aluno 3)

Deveriam lavar o carro utilizando balde de água e não utilizando a mangueira e deixando a torneira aberta (Aluno 4)

Nas aulas 3 e 4 a professora levou para a sala de aula figuras que ilustravam

soluções e questões envolvendo o cotidiano para trabalhar com os conceitos

químicos relacionados às soluções.

Durante a apresentação e discussão das figuras, algumas dúvidas foram

levantadas pelos alunos, como por exemplo:

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Nossa, o nome do gás de cozinha é butano? (Aluno 5)

O gás de cozinha é uma solução? (Aluno 6)

O soro caseiro é o mesmo do hospital? Eu posso beber o soro do hospital? (Aluno 7)

Nessa aula percebi que as ilustrações facilitaram a compreensão do conteúdo

e permitiu que os alunos estabelecessem uma relação do conteúdo com seu

cotidiano.

Para Maia e Schimin (2008), a imagem funciona como um elemento de

interação entre a língua e o indivíduo, exercendo influência na produção do sentido,

sendo que esta produção, dentro da linguagem não-verbal, dá-se de forma natural,

pois é trivial lermos as imagens mesmo sem possuir uma alfabetização prévia.

Entretanto, a imagem não traduz a palavra, ela traduz a ideia. A palavra fala da

imagem e até mesmo pode descrevê-la, mas não pode desvendar seu valor

significativo.

Nas aulas 5 e 6 a professora trabalhou com o texto História do suco em pó

(anexo 1). Durante a leitura e interpretação do texto, foram discutidas as tecnologias

envolvidas nos processos de industrialização, e desidratação e a sua origem.

Nessas aulas observei que os alunos se interessaram bastante sobre o tema e

entenderam sobre as tecnologias envolvidas na fabricação de suco em pó.

Para Pinheiro, Silva e Bazzo (2007), o enfoque CTS que vem sendo inserido

nos currículos é apenas um despertar inicial no aluno, e tem como intuito que ele

possa assumir uma postura questionadora e crítica no futuro. Neste sentido, o

ensino e aprendizagem passam a ser entendidos como a possibilidade de despertar

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no aluno a curiosidade, o espirito investigador, questionador e transformador da

realidade.

Nas aulas 7 e 8 foram utilizado o texto Concentração de álcool etílico no

sangue (anexo 1). A utilização deste texto envolveu bastante os alunos, pois a

maioria estava muito interessada, principalmente em saber sobre teor alcoólico e

suas consequências no organismo. Dois alunos indagaram a profa.

Professora a pinga de alambique tem muito álcool? (Aluno 8)

Nós bebemos Absinto com Energético nas baladas. Tem muito álcool? (Aluno 9)

A professora esclareceu essas dúvidas e, em seguida, discutiu o princípio de

funcionamento do bafômetro. Outras questões discutidas nessas aulas foram os

prejuízos que o álcool trás para a sociedade, família e os acidentes decorrentes

provocados quando as pessoas dirigem com o seu teor de álcool acima do aceitável.

Na aula 9 o tema foi suco de limão e o conteúdo de um pequeno texto sobre o

mar morto. Nessa aula a profa. trabalhou os conceitos de concentração.

As aulas 10, 11, 12, e 13 foram reservadas para resolução de exercícios. Em

todas elas foram abordados conceitos químicos, sendo que nas aulas 10 e 11 foram

abordados conceitos tecnológicos para facilitar a resolução de problemas.

Observei que os debates facilitaram na resolução dos problemas. Contudo,

observei também muita dificuldade na resolução dos exercícios que envolviam

cálculos matemáticos.

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Ao final dessas aulas a profa. Solicitou que todos observassem a

concentração nos rótulos de produtos como, por exemplo, vinagre e poluentes do ar.

Nas aulas 14 e 15 a professora. trabalhou com os rótulos trazidos pelos

alunos e, a partir dos conceitos de química, contextualizou a poluição do ar e

relacionou com problemas de saúde e social.

Para Marques et. al. (2008) um ensino mais contextualizado, relacionado com

dia-a-dia do aluno, precisa ser abordado de forma que o ajude a entender os

fenômenos químicos identificados no cotidiano, como, por exemplo, nos rótulos de

produtos que estão presentes em nosso dia-a-dia.

Nas aulas 16 e 17 a professora trabalhou os conceitos de mol, usando o

recurso de uma aula expositiva. Durante essas aulas observei que não houve

abordagem ou contextualização dos itens expostos no quadro 2, dificultando a

compreensão dos conceitos químicos pelos alunos.

As aulas 18 e 19 a professora utilizou uma tabela sobre sulfato de cobre

penta hidratado a qual consta na página 25 do Caderno do Aluno. A utilização da

tabela não estava facilitando o entendimento dos alunos. Assim, a professora Beth

utilizou o exemplo dos sucos concentrados (vendido no mercado), o que gerou uma

tormenta de ideias, relacionando o cotidiano com os conceitos químicos estudados

pelos alunos.

Na aula 20 a professora abordou os conceitos de DBO e fez a leitura e

análise do texto que consta na página 30 do Caderno do Aluno. Retomou o assunto

sobre tratamento de água e abordou questões sociais de saúde, questões

tecnológicas e os conceitos químicos. Nesta aula verifiquei que, como os alunos já

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tinham pré-requisito quanto ao oxigênio dissolvido em água, eles conseguiram

compreender os conceitos químicos.

As aulas 21 e 22 foram reservadas para a resolução de exercícios do caderno

do aluno. Não ocorreu debate e nenhuma relação com os itens acima foi observado.

CAPÍTULO 4

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ensino de Química é atualmente marcado pela busca da formação de um

aluno cidadão, ou seja, um aluno crítico e ativo dentro da sociedade em que vive.

Para isso é necessário que ele construa seus conhecimentos levando em

consideração suas relações com as tecnologias e a sociedade.

Entretanto, para isso é necessário que o professor de química estabeleça uma

relação entre o conhecimento químico e o contexto social em que o aluno está

inserido. Desta forma verificamos que a professora Beth, ao ministrar suas aulas a

partir de uma abordagem contextualizadora, problematizadora e interdisciplinar,

dentro de um conteúdo específico de química, conseguiu fazer com que os alunos

compreendessem os conceitos relativos a esse conteúdo ao relacioná-los com suas

realidades sociais, alinhado com o enfoque CTS.

Embora algumas aulas não tenham tido uma abordagem CTS, mantiveram a

estrutura do planejamento, utilizando a problematização da realidade e o espaço

aberto ao debate com temas sociais, tecnológico, saúde, história da ciência,

conceito químico e cotidiano.

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Pôde-se perceber que este tipo de abordagem facilita alcançar resultados bem

satisfatórios. A partir destas observações podemos concluir que a abordagem CTS

nas aulas de química possibilita aos alunos uma melhor compreensão de conceitos

químicos e uma maior motivação e, consequentemente, uma maior participação dos

mesmos.

Estes benefícios alcançados pelo trabalho são muito importantes, pois a

reflexão, o debate, a refutação e a troca de opiniões possibilitam que o aluno

construa o seu conhecimento, favorecendo sua formação de cidadão, o que tem

pertinência social.

Dentro deste contexto o uso das atividades diferenciadas das usadas

atualmente e que consigam compor relações entre conhecimento cientifico e o

cotidiano do aluno, devem ser incorporadas as práticas pedagógicas, pois

acrescentam ao processo de ensino e aprendizagem, além de desenvolver no aluno

atitudes e valores necessários a práticas da cidadania.

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