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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO Convergências e divergências entre o desempenho no ENEM e no Vestibular da UnB Paulo Roberto Oliveira de Faro Brasília, julho de 2013

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

Convergências e divergências entre o desempenho no

ENEM e no Vestibular da UnB

Paulo Roberto Oliveira de Faro

Brasília, julho de 2013

ii

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

Convergências e divergências entre o desempenho no

ENEM e no Vestibular da UnB

Paulo Roberto Oliveira de Faro

Brasília, julho de 2013

Agradecemos o apoio do Decanato de Ensino de Graduação da UnB (DEG) e do Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe), que forneceram os dados utilizados no presente trabalho.

iii

Paulo Roberto Oliveira de Faro

Convergências e divergências entre o desempenho no

ENEM e no Vestibular da UnB

Trabalho Final de Curso apresentado como

requisito parcial para obtenção do título de

Licenciado em Pedagogia, à Comissão

Examinadora da Faculdade de Educação da

Universidade de Brasília, sob a orientação

da Professora Doutora Girlene Ribeiro

Jesus.

Comissão Examinadora:

Prof. Dr. Girlene Ribeiro Jesus (Orientadora)

Faculdade de Educação da Universidade de Brasília

Prof.ª Dr.ª Danielle Xabregas Pamplona Nogueira (Membro)

Faculdade de Educação da Universidade de Brasília

Prof. Dr. Bráulio Tarcísio Porto de Matos (Membro)

Faculdade de Educação da Universidade de Brasília

______________________________________________________

Prof.ª Dr.a Cristina Helena Almeida de Carvalho (Suplente)

Faculdade de Educação da Universidade de Brasília

Brasília, julho de 2013

iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à minha família, minha mãe Rosemeire, meu pai

Paulo Roberto, minha irmã, meu falecido cão amigo Otto e meu atual cão amigo

Scooby. Os agradeço por tudo o que fizeram, fazem e farão por mim e por todo o

apoio. Sou o que sou graças a eles e tenho muito orgulho e que agradecer

eternamente por isso.

Agradeço também à minha namorada Leticia Figueiredo por tudo de bom

que ela é para mim.

Agradeço aos meus professores do Colégio Estadual Central do Brasil que

tanto fizeram – e ainda fazem – por nós, seus alunos. Agradeço pelo seu

engajamento na profissão, no seu papel social e o quanto nos estimularam a

continuar estudando, abrindo nossos olhos para a importância da educação e do

conhecimento. São exemplos para mim.

Agradeço à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, instituição que

me acolheu e acrescentou muito à minha formação, e também ao curso de Física –

Licenciatura da UnB que me deu oportunidade de ter um raciocínio mais lógico.

Agradeço aos professores da Faculdade de Educação da Universidade de

Brasília, em especial ao Professor Doutor Bráulio Tarcísio Porto de Matos, pelo seu

caráter, ética e profissionalismo.

Agradeço à Professora Doutora Girlene Ribeiro Jesus que, com sua

competência e paciência, me conduziu até o final deste trabalho.

Agradeço ao Decanato de Ensino de Graduação da UnB (DEG) e ao Centro

de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe), que forneceram os dados necessários

para a confecção do presente trabalho.

v

Dedicatória

Dedico à minha família, minha mãe Rosemeire e meu pai Paulo Roberto,

À minha irmã Lívia,

À minha namorada Leticia,

À minha orientadora Professora Doutora Girlene,

E dedico este trabalho a todos os professores e amigos que fizeram parte da

minha formação.

vi

OLIVEIRA DE FARO, P. R. Convergências e divergências entre o desempenho

no ENEM e no Vestibular da UnB. Brasília-DF, Universidade de Brasília/Faculdade

de Educação (Trabalho de Conclusão de Curso - Graduação), 2013.

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo analisar as convergências e divergências

entre o desempenho no ENEM e no Vestibular da UnB. Essa temática se torna

importante pela relevância que o ENEM vem assumindo na sociedade, ainda pelo

fato de a Universidade de Brasília estar em um momento de transição da

substituição do vestibular por esse exame. Os dados utilizados na pesquisa foram

cedidos pela Universidade de Brasília e são compostos por três amostras de

participantes em ambos ou em apenas um dos exames. Foram analisados os

desempenhos dos participantes que realizaram ambos os certames e foi encontrada

uma correlação significativa entre os resultados. Todavia, o resultado na redação do

ENEM não apresentou relação forte com o argumento final do Vestibular da UnB.

Quanto ao grau de dificuldade, verificou-se que o Vestibular da UnB apresentou

menor quantitativo de participantes com alto nível de proficiência do que o ENEM.

Conclui-se que, embora as provas sejam diferenciadas e possuam concepções e

objetivos diferentes, há uma relativa convergência entre os resultados das duas

provas, mas não há correlação quanto à redação.

Palavras-chave: Avaliações em larga escala; ENEM; Vestibular.

vii

Abstract

This study aims to analyze the convergences and divergences between the

performance ENEM and Vestibular UNB. This issue becomes important for the

relevance that ENEM has assumed in society, yet because of the University of

Brasília be in a transition moment of the entrance exam for this exam. The data used

in the research were provided by the University of Brasília and consist of three

samples of participants on both or only one of the tests. We analyzed the

performance of the participants who underwent both contests and found a significant

correlation between the results. However, the result in writing ENEM showed no

strong relationship with the final argument of the Vestibular UNB. The degree of

difficulty, it was found that the Vestibular UNB showed lower levels of participants

with a high level of proficiency than ENEM. It is concluded that although the evidence

is different and have different views and goals, there is a relative convergence

between the results of the two tests, but there is no correlation to the wording.

Keywords: Reviews-scale; ENEM; Vestibular.

viii

LISTA DE SIGLAS

Cespe-UnB – Centro de Seleção e Promoção de Eventos da Universidade de

Brasília

CF – Constituição Federal

ENADE – Exame Nacional de Desempenho de Estudantes

ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio

FAPERJ – Fundação de amparo à pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação

MEC – Ministério da Educação

TCT – Teoria Clássica dos Testes

TRI – Teoria de Resposta ao Item

UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro

UnB – Universidade de Brasília

UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

SINAES – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes)

SISU – Sistema de seleção unificada

ix

Lista de Tabelas

Tabela I – Quantitativo de alunos dos cursos em que houve entrada tanto pelo 1º

Vestibular de 2013 quanto pelo ENEM 2012

Tabela II – Comparação das médias, mínimo e máximo por curso

Tabela III – Melhores e piores desempenhos no ENEM

Tabela IV – Piores desempenhos

Tabela V – Exemplo de nota padronizada - Melhores resultados

Tabela VI – Quantidade de candidatos por intervalo de desempenho

Tabela VII – Índice de correlação entre as provas

Tabela VIII – Quantidade de candidatos por curso – segunda amostra

Lista de Gráficos

Gráfico I - Curvas de desempenho – Níveis de desempenho X Percentual

x

Sumário

Dedicatória ........................................................................................................................... v

Resumo ............................................................................................................................... vi

LISTA DE SIGLAS ........................................................................................................... viii

Lista de Tabelas ................................................................................................................. ix

Lista de Gráficos ................................................................................................................ ix

1. MEMORIAL ............................................................................................................... 11

2. MONOGRAFIA ......................................................................................................... 18

2.1. Introdução............................................................................................................. 18

2.1.2. Objetivos ...................................................................................................... 20

2.1.2. Hipóteses..................................................................................................... 20

2.2. Método .................................................................................................................. 20

2.2.2. Amostra ....................................................................................................... 21

2.2.2. Instrumentos ............................................................................................... 22

2.2.2. Procedimentos ............................................................................................ 22

2.2.2. Análise dos dados ...................................................................................... 23

2.3. CAPÍTULO 1: A Avaliação .................................................................................. 23

2.3.2. Histórico da avaliação ................................................................................ 25

2.3.2. A necessidade de avaliar ........................................................................... 29

2.3.2. Antecedentes da avaliação e Histórico da avaliação no Brasil.............. 30

2.3.2. Avaliações em larga escala ....................................................................... 33

2.3.2. Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) ............................................. 34

2.4. CAPÍTULO 2: Legislação e competências ........................................................ 37

2.4.2. Federalismo Cooperativo ........................................................................... 38

2.4.2. Constituição Federal .................................................................................. 41

2.4.2. LDB .............................................................................................................. 42

2.4.2. PCN e Currículo .......................................................................................... 44

2.5. CAPÍTULO 3: Análise.......................................................................................... 46

2.5.2. Resultados .................................................................................................. 46

2.6. Considerações finais ........................................................................................... 53

3. PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS ....................................................................... 55

4. Referências ............................................................................................................... 55

Anexos ............................................................................................................................... 57

11

1. MEMORIAL

Nasci no dia 4 de outubro de 1987 na cidade de Rio Grande, na entrada da

Lagoa dos Patos, a 360 quilômetros ao sul de Porto Alegre, capital do Glorioso

Estado do Rio Grande do Sul. Mas, para explicar minha vida escolar – meu

memorial, tenho que voltar um pouco no tempo.

Meu Pai, o quarto filho de onze, teve a infância e a adolescência muito

pobres. Assim, em 1979, com dezoito anos ele entrou para a Marinha do Brasil no

Corpo de Fuzileiros Navais. Minha mãe, que também passou dificuldades na

infância e adolescência, começou a trabalhar no comércio na adolescência. Ambos,

nascidos e residentes, assim como meus avós, na cidade do Rio de Janeiro.

No início de 1984, após cinco anos de namoro, se casaram e minha irmã

nasceu no fim do ano. Em 1985, meu pai foi transferido para servir à nação na

Cidade de Rio Grande. Como disse anteriormente, nasci em 1987 e, em janeiro de

1988, meu pai foi chamado de volta e minha família voltou para o Rio de Janeiro.

Em 1989, eu pedi para os meus pais para ir para a escola. Não tinha a

mínima ideia do que ela era ou representava. Meu único objetivo era ir para a escola

com a minha irmã. Eu acreditava que ia passar mais tempo com ela e ia poder

brincar com ela. Assim, com dois anos e alguns meses, fui matriculado na escola, na

série chamada “jardim I” no Colégio Cosmorama, instituição privada. Meus pais

contam que a coordenadora pedagógica da escola, no início, não queria efetuar a

matrícula por causa da minha idade. Mas, como sempre fui muito desenvolvido

fisicamente para a minha idade, quando ela me conheceu acreditou que eu estava

apto a ingressar em uma classe com crianças de 3 e 4 anos. Tenho vagas

lembranças dessa época. Mas, pelo pouco que lembro, o que eu mais fazia na

escola era desenhar.

Mesmo descobrindo que não ficaria com a minha irmã, adorava a escola. E

adorava desenhar, brincar com massinha colorida, com giz de cera e lápis de cor.

Adorava também brincar com as outras crianças, interagia muito bem com elas.

Lembro-me que uma atividade que fazia muito – e que adorava – era contornar as

letras. Estudei nesta escola dois anos, nas séries jardim I e II e quando saí de lá já

conhecia o alfabeto – sabia diferenciar as vogais das consoantes – e conhecia os

algarismos.

12

Em 1991, minha família mudou pra um bairro mais próximo do local de

trabalho do meu pai e muito distante do local residente anteriormente. Por isso,

meus pais foram obrigados a me matricular em outra escola, a “Jardim Escola

Pimpolhos”, dando continuidade ao ciclo dos “jardins” no jardim III. Era uma escola

pequena e neste período iniciou-se, de fato, a minha alfabetização em língua

materna e matemática. Mesmo quando não tinha a mínima ideia do que eram as

letras e números sempre considerei mágico o fato de as pessoas conseguirem ler e

escrever, traduzir aqueles códigos. E sempre tive vontade de aprender. Neste

período, eu tentava decifrar os “códigos” de todas as placas que eu via nas ruas.

Nesta escola eu praticava judô.

Com o seu fechamento por motivo de divergências entre seus donos, meus

pais foram, mais uma vez, obrigados a me matricular em uma nova escola. Esta

nova, uma escola de grande porte que tinha turmas de todos os níveis da educação

básica (educação infantil à terceira série do ensino médio) era o Instituto Santo

Aleixo – ISA. Nesta escola, ingressei na classe de alfabetização. Mais uma vez a

coordenação pedagógica me considerou muito novo e imaturo para ingressar na

classe de alfabetização. Eu tinha ainda 4 anos de idade e ia completar 5

praticamente no fim do ano letivo e a maior parte dos alunos desta série tinha entre

6 e 7 anos.

Depois de muita conversa e de eu ter feito uma “avaliação de nivelamento”,

fui matriculado na classe de alfabetização. Nesta escola o ensino era um pouco mais

controlado. Existiam testes, semanas de provas, provas de leitura e provas de livros

paradidáticos, obviamente, com graus de dificuldades diferentes. Possuía também

uma de feira de ciências anual, em todas as turmas e níveis de ensino.

Nesta escola existia um sistema de “ranqueamento” das notas dos alunos. Ao

final do bimestre, uma lista com o ranking das notas dos alunos era afixada ao lado

do quadro. Aquilo era estranho para mim no início. No meu primeiro bimestre nesta

escola minha colocação – e me lembro até hoje – foi 26º de 30 possíveis. Do

segundo bimestre até o fim da minha passagem por esta escola, não me lembro de

ter ficado abaixo de 4º lugar, mas também nunca fiquei em 1º.

Todos os dias enquanto a professora copiava o exercício no quadro, eu e

meus amigos já os respondíamos. O nosso objetivo era ficar mais tempo

conversando, brincando e inventando coisas. Mas sabíamos que não adiantava

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responder de forma errada, pois iríamos ter o trabalho de refazer o exercício e assim

perderíamos tempo. Assim, aprendemos a prestar a atenção na explicação,

cuidadosamente. Esse era o único jeito de perder menos tempo fazendo os

exercícios.

E assim foi na primeira, segunda, terceira e quarta séries (o que hoje em dia

corresponde aos segundo, terceiro, quarto e quinto ano).

No início do segundo semestre do ano de 1997, meu pai, a serviço da Pátria,

mais uma vez foi transferido para Rio Grande, movimentando toda a família de novo

para os Pampas. Aos meus 10 anos de idade, voltei pra o lugar onde nasci e

chegando lá constatei que não era gaúcho, pois minha base cultural era muito

diferente da cultura gaúcha.

Por motivo de proximidade da minha residência – morava afastado do centro

da cidade – fui matriculado na escola mais próxima da minha casa, a Escola

Municipal de Ensino Fundamental Mate Amargo. Cheguei no início do segundo

semestre, no meio do ano letivo e em uma turma que era praticamente a mesma

desde a primeira série.

Tudo para mim era novidade. Primeiro, pelo trajeto de ir e vir para a escola,

que eu o fazia de ônibus e sozinho. Segundo, pelo jeito das pessoas falarem e se

relacionarem, essas foram as características que mais me chamaram a atenção. E

para minha surpresa o conteúdo curricular da escola – acredito que era o mesmo do

município – era atrasado em relação ao que eu tinha estudado anteriormente na

cidade do Rio de Janeiro. Eu estudei no segundo semestre da quarta série o que já

havia estudado na terceira série, exceto uma disciplina que tratava da história do Rio

Grande do Sul e suas tradições gaúchas. Disciplina que eu adorava.

Neste momento eu não tinha estímulo para copiar o conteúdo que eu já havia

aprendido. Assim, me acostumei a não copiar as matérias, mas sim prestar a

atenção e entender o que era, como funcionava e o porquê daquele conteúdo.

Mesmo sem estímulo para copiar eu tinha vontade para ir para a escola e sozinho

efetuava os exercícios do livro didático, em sala de aula, nos intervalos ou horários

vagos.

Nesta mesma escola cursei a quinta série. Série que nos apresentam as

“ciências”. Aquela que temos muitas disciplinas.

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Na eminência de uma mudança para o centro da cidade, meus pais me

matricularam em uma escola mais próxima da minha futura residência, a Escola

Cenecista Santa Medianeira. Cursei a sexta e a sétima séries nesta escola. Era uma

escola pequena, uma turma de cada série, da quinta à oitava. Para mim não mudou

nada, só aumentou o tempo de viagem. Continuei com desempenho bom e fiz novas

amizades. No fim da sexta série, a eminente mudança foi efetuada e voltei a morar

perto da escola, mas mesmo assim precisava utilizar o ônibus como meio de

transporte.

Pensando no ensino médio, meus pais e eu decidimos mudar de escola, mais

uma vez. Matriculei-me no Instituto Estadual de Educação Juvenal Miller, na oitava

série. O objetivo era garantir uma vaga para o ensino médio. A escola era

considerada de alto nível na cidade e, como consequência, muito concorrida. Era

uma escola com mais de 1500 alunos por turno, com ensino fundamental e médio.

No começo senti uma rejeição por parte dos alunos, já que era praticamente a

mesma turma desde a primeira série do ensino fundamental. Mas, com o tempo,

consegui fazer amizades que duram até hoje. Quanto ao rendimento escolar houve

uma baixa no desempenho final em relação aos anos anteriores e confesso que o

interesse também. Mas como a média era um ponto mais baixa que as outras

escolas que eu estudei – enquanto nas outras eram sete pontos, nesta eram seis –

fui aprovado sem problemas e, e algumas matérias, consegui o mínimo de 24 pontos

para a aprovação já no terceiro bimestre. Em outras, fazia o mínimo para ser

aprovado. Hoje acredito que essa baixa está relacionada à falta de estímulo na

escola.

No começo do ano de 2002, voltamos para o Rio de Janeiro. Meu pai foi

novamente transferido. Residimos nas proximidades do bairro que residíamos

anteriormente, por isso eu tive a opção de estudar no ISA, de novo, ou em outra

escola. Eu fiz a opção pelo Colégio Estadual Central do Brasil, que ficava a 30

minutos de ônibus – sem engarrafamento – da minha casa.

Por ser um colégio que somente tem o ensino médio, a turma era uma

novidade. Tinham alunos de todos os colégios da redondeza, bairros e faixa de

renda. Este colégio tinha, em cada turno, oito turmas de primeiro ano, quatro turmas

de segundo ano, e duas de terceiro. Era considerado um colégio modelo no bairro

do Méier.

15

O quadro docente do Colégio era muito experiente e sempre, desde o

primeiro dia de aula do ensino médio, os professores se preocupavam com a nossa

formação. Sempre que podiam conversavam conosco, os alunos, com o objetivo de

nos estimular a cursar nível superior em uma instituição pública.

Poderia descrever aqui cada professor que eu tive neste colégio pois cada

um, com a sua particularidade, acrescentou de alguma forma em minha formação,

mas vou citar alguns. O primeiro é o caso do professor de matemática Enrico. Eu

tinha aula dele às quintas de tarde e sábado de manhã. Reclamava da vida de

professor em todas as aulas, do salário que ele ganhava do Estado. Para mim, ele

era um excelente professor tirando o fato de ele não ser muito presente nos

sábados, conseguia faltar mais que os alunos no sábado. Ele não precisava explicar

duas vezes. E eu, como indiquei anteriormente, nunca fui de estudar em casa, muito

menos para prova. E continuei assim. Prestava atenção na aula dele, entendia a

matéria e nem pegava no livro.

Quando fiz a primeira prova dele veio a minha surpresa: nota 1,0 ponto. Eram

dez questões, cada uma valendo 1,0 ponto. Ele corrigia a prova na presença do

aluno. Na frente da folha era o resultado e atrás eram os cálculos. Se o resultado

estivesse errado, ele nem olhava o cálculo. Aqueles que tiravam nota alta, ele

falava: - Grande cabeçudo! Aqueles que tiravam nota baixa, ele só dizia: - Tem que

estudar! E este foi o primeiro professor que me estimulou a estudar em casa. E na

segunda prova dele tirei 9,0 pontos. Para mim, não era apenas uma nota, era uma

representação do meu esforço. E assim foi em todas as outras matérias, nos três

anos que estudei neste colégio.

Outro caso de admiração é o da professora de biologia, Mara. Todo seu

empenho e dedicação, suas provas que eram “simulados” do Vestibular da UERJ, e

seguindo seus conselhos, eu e minha turma conseguimos um ótimo desempenho no

vestibular da UERJ na parte de biologia nas questões objetivas e nas discursivas.

Neste colégio eu aprendi a estudar. Os professores, cada um do seu jeito,

me induziram a estudar. E mais, além da minha família, todos eles sempre

incentivaram a continuidade dos estudos e sempre conversavam conosco, citando

exemplos de vida, sobre a importância da educação.

Neste colégio eu tive a oportunidade de participar de um projeto chamado

Programa de Pré-iniciação Científica financiado pela FAPERJ. Nesta época eu

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pretendia ser engenheiro mecânico, pois desde pequeno gosto de desmontar e

montar motores. Como não havia vaga para as engenharias, optei pela física. Neste

programa eu tive a oportunidade de conhecer de perto a vida da UERJ e descobri

que na verdade meu caminho não era a Engenharia e sim a Física.

Acredito que tive sorte na minha vida escolar. Nunca sofri nenhum tipo de

violência na escola, sempre me dei bem com os meus colegas, fiz amizades que

duram até hoje, não tenho o que reclamar de algum professor, pois procurava

entender a situação e utilizá-la de forma que ela contribuísse positivamente para a

minha formação.

Dei sorte também em estudar no Colégio Estadual Central do Brasil. Mesmo

tendo mudado de bairro, no meio do segundo ano do ensino médio, eu preferi não

mudar de colégio, seria minha sétima instituição de ensino. Fazia o sacrifício, ou

melhor, o investimento de viajar mais de 40 quilômetros para chegar e voltar do

colégio. Fazia uso de ônibus e trem, todo dia. Saía de casa às 11h para começar a

aula às 13h. A aula acabava às 18h10 e, por causa do trânsito e do volume de

pessoas, chegava em casa entre 19h40 e 20h. Hoje, quando me lembro da jornada

que eu fazia, vejo que foi de grande valia o sacrifício.

Meu primeiro Vestibular foi para a UERJ, para o curso de Física. Não passei

na primeira chamada – eram 90 vagas e minha classificação foi 110º. Contudo,

passei em segunda chamada, mas como não sabia como funcionava, perdi o prazo

da matrícula. Hoje acredito que não foi ruim isto acontecer porque provavelmente

teria que trancar o curso, iria ficar complicado manter o deslocamento, os livros e a

alimentação em uma Universidade reconhecidamente cara.

No ano seguinte, mesmo desanimado por não ter me matriculado na UERJ,

passei no vestibular, também para física, não mais para a UERJ e sim para a

UFRRJ. Era mais perto da minha residência e uma excelente universidade, coisa

que só descobri quando estava estudando lá.

Como houve uma greve muito longa em 2006, ano em que eu ingressei,

meu primeiro semestre começou muito atrasado. E neste mesmo ano, meu pai veio

transferido para Brasília. E no início de 2007 estava eu aqui. Por causa da diferença

de calendário das Universidades, minha transferência obrigatória demorou

praticamente um ano.

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Ates de iniciar o curso de Física aqui na Universidade de Brasília, tinha uma

impressão do curso, quando comecei, me decepcionei. Quando cheguei aqui em

Brasília resolvi trabalhar no comércio para conhecer pessoas, a cidade e ter minha

independência financeira. E quando minhas aulas começaram na UnB continuei

trabalhando. Péssima escolha que eu fiz, porque isto me atrasou mais ainda.

Chegou um momento do curso em que eu estava cansado, desmotivado, e saí do

emprego. Como minha irmã Lívia já estava cursando Pedagogia na Faculdade de

Educação da UnB, eu assisti algumas aulas com ela. Gostei do curso, fiz vestibular

para Pedagogia e hoje estou prestes a me formar.

Durante a minha graduação em Pedagogia me interessei primeiro pela

alfabetização de jovens e adultos. O analfabetismo é um problema que me

incomoda muito. Os meus estágios foram feitos nesta área. Mas, no terceiro

semestre cursei a disciplina Pesquisa em Educação 1 com o Professor Doutor

Bernardo Kipnis. O objetivo da disciplina é aprender, mesmo que de forma sucinta,

todos os passos de uma pesquisa em ciências sociais. Aproveitei muito a disciplina

e ela despertou em mim o interesse em pesquisar.

Assim, quando descobri a disciplina Pesquisa em Educação 2 logo me

matriculei. E nela conheci o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes

(ENADE) que compõe o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior

(SINAES). Então tive o primeiro contato com as avaliações em larga escala.

No ano de 2010 a Universidade do Brasil (UFRJ) e a Universidade Federal

Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) aboliram seus respectivos processos seletivos e, a

partir de então, utilizaram somente as notas finais do ENEM como critério de seleção

e isso me chamou a atenção. Como já havia trabalhado com essas avaliações este

ocorrido me chamou a atenção e decidi então pesquisar nesta área muito pouco

estudada.

18

2. MONOGRAFIA

2.1. Introdução

Criado no ano de 1998 com o objetivo de avaliar a qualidade da educação

nacional, o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), é aplicado aos alunos do

ensino médio em todo o país, servindo como uma ferramenta para auxiliar o

Ministério da Educação na elaboração de políticas públicas pontuais e estruturais de

melhoria do ensino brasileiro por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais

(PCNs) do Ensino Médio e Fundamental.

De sua criação até os dias de hoje, o Exame passou por diversas

modificações, tanto de definição quanto de aplicação. A principal alteração efetuada

no ENEM está em sua finalidade, que deixou de ser exclusivamente avaliativa para

se tornar seletiva.

No início eram 63 questões aplicadas apenas em um dia de prova. Nesta

época, somente algumas Universidades utilizavam uma porcentagem da nota do

ENEM, de forma complementar às notas do seu vestibular ou em alguma de suas

fases. Por isso, ele não despertava interesse da maior parte dos estudantes do

ensino médio.

Um novo modelo de prova para o ENEM foi criado em 2009. Agora com 180

questões objetivas, que foram separadas por área de conhecimento, e uma questão

discursiva, a redação. Esse caráter, próximo aos vestibulares das principais

Universidades públicas do país, já apresentava a proposta de unificar o vestibular

das universidades federais brasileiras. Além disso, o ENEM também tem como

objetivo avaliar competências, o que induz a mudanças no currículo do ensino

médio.

Atualmente (2013) a nota do ENEM também é utilizada para a concessão de

bolsas do Programa Universidade para todos (ProUni), para seleção de vagas em

universidades e faculdades públicas por meio do Sistema de Seleção Unificada

(SiSU), para concessão de Financiamento do Estudante do Ensino Superior (FIES),

para concessão de bolsas do Programa Ciência sem Fronteira, além de servir como

certificação de competências educacionais de jovens e adultos (ENCCEJA), para

pessoas maiores de 18 anos de idade.

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A importância do exame fica ainda mais clara quando observamos o

crescente número de instituições de ensino superior que estão utilizando o ENEM

como forma de ingresso. Conforme o sítio de notícias G1, acessado no dia 18 de

maio de 2013, o número de instituições que fazem parte do SiSU saltou de 51 em

2010 para 101 em 2013, com previsão de alta em 2014, saltando de 793.910

candidatos (em 2010) para 1.949.958 (em 2013), de 47.913 vagas ofertadas (em

2010) para 129.319 (em 2013). E isto tem feito com que aumente significativamente

a quantidade de participantes no ENEM.

Tendo em vista que a cada ano novas instituições públicas de ensino

superior vêm aderindo ao ENEM como forma de ingresso, a partir do 1º vestibular de

2014 a UnB passará a utilizar o ENEM como substitutivo do seu vestibular

tradicional. Até a edição de 2012 a Universidade de Brasília (UnB) vinha utilizando o

ENEM como forma de ingresso apenas para as vagas remanescentes do vestibular.

Do total de vagas disponibilizadas para os cursos de graduação da UnB, 50% são

destinadas para o ingresso no 1º semestre letivo e 50% no 2º semestre. A partir do

1º semestre de 2014 as vagas ofertadas serão distribuídas entre o ENEM e o

Programa de Avaliação Seriada da UnB (PAS). As vagas destinadas ao ingresso no

2º semestre continuarão utilizando o vestibular tradicional da UnB.

Ao aderir ao ENEM, a UnB tem analisado as diferenças e convergências

entre o seu vestibular e esse exame. Em relação às provas, a do ENEM é composta

por 180 questões objetivas de múltipla escolha, sendo 45 questões de cada área

avaliada, a saber: Linguagens, códigos e suas tecnologias, Matemática e suas

tecnologias, Ciências Humanas e suas tecnologias e Ciências da Natureza e suas

tecnologias, além de uma redação em língua portuguesa. No processo seletivo da

UnB, há questões discursivas, questões de múltipla escolha com duas e quatro

alternativas, uma prova de línguas com 30 questões, assim como a redação, que é

utilizada como critério de eliminação e seleção.

Por conta das diferentes matrizes, são diferentes as concepções utilizadas

para a elaboração das provas do ENEM e do Vestibular da UnB. Por esse motivo, é

esperado que ocorram diferenças razoáveis no desempenho dos estudantes

submetidos aos dois exames. Nesse sentido, é relevante analisar as convergências

20

e divergências de desempenho dos estudantes em função do grau de dificuldade

dessas provas.

A importância do tema é evidenciada pelo fato deste ser um assunto

atualmente em pauta na UnB, bem como em outras universidades, e pela relevância

que o ENEM vem assumindo gradativamente na sociedade brasileira. Ademais, o

presente estudo se apresenta como uma contribuição para essa área, em que ainda

há poucas referências no Brasil.

2.1.2. Objetivos

O objetivo deste trabalho é analisar as convergências e divergências de

desempenho dos estudantes submetidos ao ENEM 2012 e ao 1º Vestibular de 2013

da UnB.

Os objetivos específicos são:

Verificar a correlação entre o ENEM e o Vestibular-UnB;

Verificar as diferenças de desempenho dos candidatos convocados para

efetuar matrícula nos cursos em que houve entrada tanto pelo ENEM quanto

pelo Vestibular.

2.1.2. Hipóteses

Assim, surgem duas hipóteses: na primeira, os candidatos que obtiveram

bom desempenho no ENEM também obtiveram bom desempenho no Vestibular-

UnB, ou seja, quanto mais perto do máximo possível é a nota do ENEM, mais perto

do máximo possível é a nota do Vestibular-UnB.

Na segunda hipótese, os candidatos convocados pra efetuar matrícula nos

cursos em que houve entrada pelo ENEM – vagas remanescentes do Vestibular-

UnB – obtiveram desempenho melhor no ENEM do que os alunos do Vestibular-

UnB.

2.2. Método

A presente pesquisa foi realizada em uma abordagem essencialmente

quantitativa, de cunho correlacional, o que, obviamente, indica uma obliquidade

analítica quantitativa na análise dos dados.

21

2.2.2. Amostra

O banco de dados fornecido pelo Cespe-UnB, com todo o sigilo garantido, é

composto por três amostras. A primeira, com um total de 1.017 participantes, é

composta por cursos em houve entrada tanto pelo 1º Vestibular de 2013, quanto

pelo ENEM 2012 para as vagas remanescentes. Contém aqueles que foram

convocados para uma vaga na Universidade de Brasília ou pelo 1º Vestibular-UnB

2013 ou pelo ENEM 2012. A segunda amostra é composta por aqueles candidatos

que fizeram tanto o 1º Vestibular de 2013 da UnB quanto o ENEM 2012, mas não

necessariamente ocuparam uma vaga na UnB, apenas participaram dos dois

exames. São ao todo 6.313 candidatos. Por sua vez, a terceira amostra é composta

pelos candidatos que participaram do ENEM 2012 e se candidataram a uma vaga

remanescente do 1º Vestibular de 2013 da UnB.

Trabalhando com a primeira amostra, composta pelos cursos em que houve

entrada tanto pelo ENEM 2012 quanto pelo 1º Vestibular de 2013 da UnB, verifica-se

que em alguns cursos, por exemplo, Pedagogia, Ciências Naturais e Letras, houve

maior ingresso pelo ENEM 2012 do que pelo 1º Vestibular de 2013, conforme pode

ser visto na tabela a seguir.

Tabela 1 - Quantitativo de alunos dos cursos em que houve entrada tanto

pelo 1º Vestibular de 2013 quanto pelo ENEM 2012

Curso ENEM Vestibular Total

Agronomia 4 51 55

Artes Cênicas (Bacharelado e Licenciatura)

11 13 24

Ciências Ambientais 19 17 36

Ciências Naturais (Licenciatura) 64 5 69

Computação (Licenciatura) 22 17 39

Educação Artística — Música (Licenciatura)

4 0 4

Educação Física (Bacharelado e Licenciatura)

23 54 77

Filosofia (Licenciatura) 14 17 31

Física (Licenciatura) 11 16 27

Geografia 9 15 24

Gestão Ambiental 29 4 33

Gestão de Saúde 46 4 50

22

Gestão do Agronegócio 65 11 76

Gestão em Saúde Coletiva 27 6 33

Letras 92 72 164 Matemática (Licenciatura) 15 11 26

Museologia 9 16 25

Música (Bacharelado e Licenciatura) 4 19 23

Pedagogia 53 33 86

Química (Licenciatura) 7 16 23

Serviço Social 9 20 29

Terapia Ocupacional 23 16 39

Turismo 4 20 24

TOTAL 564 453 1017

2.2.2. Instrumentos

A prova do ENEM 2012 foi composta por 180 questões objetivas, de múltipla

escolha, com cinco alternativas, em que apenas uma opção é a resposta correta. No

primeiro dia foram aplicadas as provas de Ciências Humanas e Ciências da

Natureza e no segundo dia foram aplicadas as provas de Linguagens e Códigos,

Matemática e a Redação. Os candidatos tiveram quatro horas e trinta minutos no

primeiro dia e cinco horas e trinta minutos no segundo dia para realizar as provas.

No 1º Vestibular de 2013 da UnB no primeiro dia foram aplicadas 30 questões

de Língua Espanhola, Francesa ou Inglesa, bem como 120 itens abrangendo as

disciplinas Língua Portuguesa, Literaturas de Língua Portuguesa, Geografia, História

e Artes (Artes Cênicas, Artes Visuais ou Música), Filosofia e Sociologia, além de

uma Redação em língua portuguesa e no segundo dia foram aplicados 150 itens das

disciplinas Biologia, Física, Química e Matemática. Em ambos os dias, o tempo de

prova foi de cinco horas.

2.2.2. Procedimentos

Os dados utilizados no presente estudo foram solicitados ao Decanato de

Ensino de Graduação e ao Centro de Seleção e Promoção de Eventos, que é o

responsável pelos vestibulares da UnB. Todas as bases de dados foram cedidas

sem qualquer identificação dos candidatos e houve o estabelecimento de um

23

compromisso de sigilo ao tratar as informações, as quais foram utilizadas apenas

com finalidade de pesquisa.

2.2.2. Análise dos dados

Para comprovar ou falsear as hipóteses, foi necessária a utilização de um

software aplicativo (programa de computador) do tipo científico de análises

estatísticas aplicadas às ciências sociais, SPSS (PASW Statistics 18.0), em

português, pacote estatístico para as ciências sociais. Também foi utilizado o

Micrsoft Excel 2010, do pacote Microsoft Office 2010.

As notas do ENEM 2012 são calculadas com base na Teoria de Resposta ao

Item (TRI), e são colocadas em uma escala que pode variar de 0 a 1000. Já as do 1º

Vestibular de 2013 da UnB são calculadas com base na Teoria Clássica dos Testes

(TCT), fazendo uso de afastamentos padronizados, conforme Edital nº 1 de Abertura

do 1º Vestibular de 2013, publicado em 20 de setembro de 2012, podendo variar

entre valores negativos (até -500) e valores positivos (até +500).

2.3. CAPÍTULO 1: A Avaliação

Tendo em vista que o ENEM também é considerado uma avaliação em larga

escala, é relevante discorrer um pouco sobre as diferentes concepções e finalidades

da avaliação. Primeiramente, é importante ressaltar que a definição de avaliação é

como um axioma matemático. Trata-se de um tema de difícil definição, embora

existam muitas definições. Elas são similares, convergindo para o mesmo ponto.

Essa homogeneidade de definições vem

[...] da dificuldade de encontrar teóricos que discutam sobre

essa questão esteja relacionada com o fato de encontrarmos

na literatura muitos textos falando do “ideal” e pouco do “real”

sobre avaliação, o que causa certa angústia, pois, acredito que

devemos estudar com base na realidade e buscar alternativas

dentro da realidade em que estamos inseridos para chegar ao

ideal que almejamos. (MOREIRA, 2005, p.27)

24

A avaliação é um processo – ou parte dele – cujo objetivo final é verificar a

importância de alguma coisa, ou mérito ou desempenho de um avaliado, de um

programa, de uma política, uma ação ou de uma coisa qualquer. Assim, somos

seres que avaliam o tempo todo e essa avaliação está sempre carregada de juízo de

valor, baseado em nossas impressões e hipóteses, fundamentadas em critérios

particulares.

[...] para uma avaliação acontecer é necessário estabelecer

padrões para cada aspecto da realidade que se pretende

avaliar. O julgamento ou apreciação do mérito de cada aspecto

é feito a partir da escolha de critérios, todos com base no

padrão estabelecido. Por fim, o julgamento deve ter como

resultado uma tomada de decisão. (OLIVEIRA, 2012, p.112)

Assim sendo, existem dois grupos de avaliação, as informais e as formais.

As informais são aquelas que estão ligadas a avaliações subjetivas, com critérios

particulares, com documentação ou não e restritas a um pequeno grupo de pessoas.

Não existem nestas avaliações procedimentos pré-estabelecidos ou documentados,

porém isto não as desqualifica. Exemplos desse tipo de avaliação estão presentes

no nosso cotidiano, como decidir se vai ao trabalho utilizando transporte público ou

particular. Neste exemplo, o interessado vai avaliar, de acordo com os critérios

individuais que julgar mais importantes, qual decisão será mais vantajosa. Oliveira

(2012) sustenta ainda que essas avaliações estão presentes também dentro do

ambiente escolar. São aquelas que, mesmo documentadas (provas e trabalhos),

atingem um grupo reduzido de pessoas.

As avaliações formais são aquelas que necessitam de objetivos,

padronização de procedimentos, seleção de critérios e acordos escritos. Algumas

avaliações educacionais estão situadas nesta esfera. E dentro desta esfera, existem

ainda as avaliações internas, que são as provas e trabalhos aplicados pela própria

escola. As externas são realizadas por agentes externos à instituição escolar. Elas

não são esquematizadas, aplicadas e corrigidas pelos membros da instituição

avaliada, pessoa, programa ou coisa avaliada. Geralmente estas avaliações têm

como foco medir, no caso específico deste texto, o desempenho educacional dos

alunos ou de um determinado sistema de ensino ou de uma determinada rede. Em

geral, são avaliações realizadas em larga escala.

25

O objetivo da avaliação em larga escala, no amplo conceito de avaliação, é

obter dados que permitam compreender as diversas variáveis que podem explicar o

estado do objeto avaliado a partir de parâmetros previamente estabelecidos e do

seu contexto. Sua finalidade técnica é produzir informações periódicas que

colaborem para aperfeiçoar ou alterar o objeto estudado. Daí vem sua importância e

relevância. Especificamente aplicada na educação, outra finalidade importantíssima

é que ela permite a prestação de contas para a comunidade e serve como

parâmetro e subsídio para a tomada de decisão dos gestores educacionais ou para

as decisões políticas acerca do tema.

2.3.2. Histórico da avaliação

Percebe-se que a ação de avaliar é um ofício intrínseco ao raciocinar, ao

perceber e ao operar do ser humano. Há tempos, provavelmente desde o

surgimento do ser humano, o ato de avaliar está presente no dia a dia de formas

variadas, como por exemplo, na opinião das pessoas acerca das outras, acerca de

si, de objetos, de situações, embaçadas por conceitos, preconceitos, valores,

particulares de cada um. Consequentemente, a avaliação e o ato de avaliar no seu

sentido amplo, fazem parte da vida do ser humano e estão presentes em seu

cotidiano.

Diversos autores escrevem que as avaliações com finalidades específicas

existem desde a história antiga, com interesses estatais, a fim de selecionar o

melhor homem para atuar no serviço público. Essa medida avaliativa era comum na

Grécia antiga e na China Imperial, por volta dos anos 1200 a.C. Focando no campo

educacional, a avaliação aplicada como exame, isto é, formal, nos séculos XVII e

XVIII foi institucionalizada de duas formas diferentes (Webber; Ebel & Damrin; Dias

Sobrinho apud Garcia, 2003). A primeira, de João Amós Comênio1 (1592 – 1670)

que defendia que para disseminar a educação para todos, era necessário o uso do

exame porque ele contribuía para a melhoria do ensino ministrado pelos

professores. Assim, sua finalidade era permitir ao professor avaliar seu método de

1 Pastor Morávio, em 1657 produziu um livro chamado a Didactica Magna que tinha como proposta para o ensino,

uma educação realista e permanente; método pedagógico rápido, económico e sem fadiga; ensinamento a partir de

experiências quotidianas; conhecimento de todas as ciências e de todas as artes; ensino unificado.

26

ensino para que todos pudessem aprender, não sendo o objetivo principal classificar

o estudante. A segunda, defendida por João Batista de La Salle (1651 – 1719), o

exame era uma forma de supervisionar a aprendizagem a partir do estudante.

Assim, com a ajuda do exame, era possível o professor ter conhecimento do que os

alunos aprenderam e assim serem responsabilizados pelos resultados alcançados

por eles.

Saltando para o início do século XX, reflexo da Revolução Industrial, as

transformações na forma de produção interferiram na forma de pensar a avaliação.

Exigia-se uma avaliação objetiva e racional, esquematizada, calculada, que tudo

media e previa.

Com isso, era necessária a racionalização do processo de produção para

aumentá-la e diminuir os custos em um cenário de competição mundial. OLIVEIRA

(2012) cita que desta necessidade surge a teoria da administração científica do

americano Frederick Taylor (1856 – 1947), e as demais filosofias de gerenciamento

introduzidas por Jules Henri Fayol (1841 – 1925) e Henry Ford (1863 – 1947). Com

caráter mais formal e científico, nesta época os exames admissionais assumiram

uma face de testes.

A ideia racional matemática migrou das ciências naturais para as ciências

humanas. Assim, os novos testes eram pensados por meio de medidas

quantitativas, matematicamente comprovadas, o que os diferenciava em nível de

cientificidade. Quanto mais matemática na elaboração, mais científico era o teste.

Assim surgiu a psicometria. Este ramo da psicologia tem como área de estudo e

produção científica testes psicométricos que permitem conhecer, por meio de uma

medida, os interesses, comportamentos e a inteligência dos indivíduos.

Entre as décadas de 1930 e 1940 um norte americano chamado Ralph

Walter Tyler utiliza o termo “avaliação educacional” pela primeira vez. Ele dirigiu uma

pesquisa chamada “The Eight Year Study”. Tyler conceituou a abordagem baseada

em objetivos de avaliação educacional e assim desenvolveu parte de sua filosofia e

muitas de suas ideias são derivadas dessa pesquisa. Em seu livro Princípios

27

Básicos de Currículo e Instrução2, Tyler o dividiu em cinco seções, quatro com os

títulos em forma de pergunta. Assim, a avaliação deveria seguir esses cinco passos,

ou seja, a avaliação deveria avaliar se os objetivos educacionais foram alcançados.

E esses objetivos deveriam ser claramente definidos em um currículo, como afirmam

PINAR, W., REYNOLDS, W., SLATTERY, P., AND TAUBMAN, P.

In the first section, Tyler mentions that one of the main

problems with education is that educational programs "do not

have clearly defined purposes." These "purposes" as he

describes them should be translated into educational

objectives. This objective-based approach to evaluation is at

the core of what Tyler proposes. (PINAR, W., REYNOLDS, W.,

SLATTERY, P., AND TAUBMAN, P.,1995).

Esse pensamento foi muito utilizado nos Estados Unidos, porque atendia

bem a demanda da gestão científica, na busca pela eficiência e eficácia que utilizava

as informações fornecidas pelas avaliações como base para formular estratégias

para alcançar melhores resultados. Assim, a avaliação perde o caráter de medida e

assume um traço regulador.

Entre o final da década de 1950 e o início da década de 1970, as ideias de

Tyler foram aperfeiçoadas e a área da avaliação se tornou mais consolidada. Elas

permitiam ao Estado investir menos e obter mais desempenho, controlados e

orientados a gastar menos e produzir mais.

Na década de 1970 o debate sobre as avaliações foi ampliado. Anos antes,

o psicólogo norte americano Lee Joseph Cronbach recomendou:

mudanças nas diretrizes avaliativas e enfatizou que a avaliação

deveria ser processual para viabilizar a tomada de decisões

precisas, com relação aos currículos. (OLIVEIRA, 2012, pág.

135).

Contemporâneo de Cronbach, Michael Scriven, matemático australiano,

entendia a avaliação como um processo que deveria estar presente em todo o

processo de ensino aprendizagem. Para ele, a avaliação é uma atividade

2 Os títulos são: Que fins educacionais a escola deve procurar atingir? Como podem ser selecionadas experiências de

aprendizagem que são suscetíveis de ser útil em alcançar estes objetivos? Como podem ser organizadas experiências de aprendizagem para o

ensino eficaz? Como pode a eficácia das experiências de aprendizagem será avaliado? A quinta e última seção descreve "como uma escola ou

faculdade de pessoal pode trabalhar na construção do currículo.".

28

metodológica que incide na aglomeração e agregação das informações de

realização com um aparelho de valores contidos em uma escala - critério (padrão),

com o objetivo de produzir ou uma comparação ou uma classificação numérica, e

também a justificação, primeiramente dos instrumentos de coleta de dados,

segundo, dos valores, e por último, dos critérios selecionados.

Todos estes estudos fomentaram um grande debate sobre avaliação nos

Estados Unidos na década de 1970, levando ao surgimento do termo accountability,

que significa que o desempenho dos alunos está diretamente ligado à gestão e

utilização dos recursos públicos. Surgem também na mesma época as taxonomias.

A taxonomia mais difundida no meio das avaliações, a Taxonomia de Bloom, criada

por Benjamim S. Bloom e colaboradores, que hierarquiza os objetivos educacionais

na elaboração das avaliações. O objetivo de hierarquizar as avaliações é facilitar a

interpretação por parte dos educadores.

Da década de 1970 até hoje, as avaliações são usadas com propósitos

diagnósticos e formativos, no entanto, parte delas tem se transformado em

processos seletivos. Dessa forma, algumas delas têm se tornado insuficientes para

responder às múltiplas e complexas demandas do campo político educacional.

Segundo OLIVEIRA,

[...] há um esforço de retirar o foco técnico da avaliação,

redirecionando a discussão para a tomada de decisão no

campo pedagógico. Nesse sentido, defendia-se que os dados

quantitativos deveriam ser articulados aos qualitativos para

ampliar o olhar e as análises sobre a área da educação. Os

Estudiosos orientavam que as avaliações fossem conduzidas

por um modelo democrático e ético, pautado em atividades que

incluíssem a participação e negociação entre todos os

interessados e envolvidos no processo (gestores, diretores

escolares, professores, alunos, pais etc.) (OLIVEIRA, 2012,

pág. 137).

Assim, conclui-se que as avaliações educacionais, que surgiram como

exames, têm assumido cada vez mais um caráter seletivo ao longo do tempo, de

acordo com o momento econômico e político. Consequentemente, a avaliação

passou a ser um mecanismo essencial para o Estado, principalmente para

diagnosticar, gerenciar e fiscalizar suas políticas públicas para a educação.

29

2.3.2. A necessidade de avaliar

A necessidade de avaliar os processos e as políticas públicas vem da

necessidade da busca pela eficiência e eficácia na gestão e prestação de serviços

públicos.

As crises econômicas liberais do início do século XX forçaram a mudança

de gestão e de modelo econômico dos países, obrigando seus governos a traçar

planos e gestões estratégicas, a fim de modernizar as relações políticas,

econômicas e sociais em seu território.

O liberalismo econômico presente nesta época teorizava que o Estado

deveria apenas se limitar a garantir o bom funcionamento da economia, deixando

para o mercado a regulação social. Com a crise de 1929, os Estados acreditaram

que o mercado não era algo de regulação própria e que ele necessitava de certo

controle por parte do Estado, a fim de garantir os serviços essenciais sociais.

Assim, OLIVEIRA define esta transição como um momento em que:

[...] o ideário liberal perde credibilidade frente às várias crises

deflagradas pela concentração de riqueza, desemprego em

massa e pobreza da população, sendo, inclusive, combatido

pelos trabalhadores que começavam a se organizar na luta por

direitos. Em paralelo, ocorreu em 1917, na Rússia, a

Revolução Bolchevique que contribuiu para o enfraquecimento

da legitimidade capitalista. O conjunto desses acontecimentos

culminaria na “grande depressão” (1929-1932), considerada a

maior crise econômica mundial enfrentada, até este período,

pelo capitalismo. (OLIVEIRA, 2012, p.22)

Em decorrência, surge o modelo econômico criado por John Maynard

Keynes, ficando conhecido como o Keynesianismo, que tinha como base o contrário

do liberalismo. Enquanto no primeiro os serviços ficam a cargo do mercado, neste,

eles ficam sob responsabilidade do Estado. O Estado deixa de ser apenas o

provedor da economia e passa a fornecer, regular e fiscalizar os serviços públicos. A

ideia era movimentar a economia e diminuir o desemprego inchando o serviço

público para que este devolvesse para a sociedade serviços de qualidade.

Nesta lógica, os Estados passaram por um longo período de crescimento

econômico, de 1930 a 1970. Neste período, as grandes empresas mundiais

obtiveram altas taxas de lucros, com ganhos sociais para os trabalhadores nos

30

EEUU e na Europa Ocidental. Os países da América Latina, com a exceção de

Cuba, cresceram, acompanhando o crescimento internacional.

Consequentemente, os Estados se viram obrigados a equalizar os

interesses do livre mercado e dos trabalhadores. Democraticamente, os Estados

planejavam políticas que contemplassem seus interesses, os interesses dos

trabalhadores e os interesses do livre mercado.

Assim, um novo modelo surge: o welfare state (Estado de bem-estar social).

Nesta ordem o Estado não somente garante o bom funcionamento da economia,

como no liberalismo, e não somente garante os serviços diminuir a pobreza

populacional como no keynesianismo. Neste modelo, o Estado se torna regulatório

elaborando cada vez mais as políticas públicas visando o crescimento do mercado,

ou seja, o Estado assume a função de ser o grande fornecedor, gestor, regulador e

fiscalizador de todos os serviços para a sociedade. Não há um padrão de

implementação neste modelo. Cada país o modificou para adaptar melhor à sua

estrutura burocrática e social. E assim, os Estados puderam acompanhar a

execução dos objetivos traçados nas políticas públicas e fiscalizar os recursos com

base nos dados gerados pelas avaliações.

Com o aumento dos investimentos provocados pelo welfare state, os

Estados foram obrigados a inchar seus orçamentos. Todavia, com as crises

econômicas recorrentes das décadas de 1970 e 1980, este modelo de gestão estatal

entrou em colapso, abrindo espaço para opositores, os chamados “neoliberais”.

ANDERSON (1995) diz em seu artigo que não há como estabelecer uma

definição do neoliberalismo porque em cada país ele se apresentou de uma forma,

pela extrema direita, pela esquerda, pelo liberalismo e pela social-democracia. O

ponto em comum deles é o enxugamento dos gastos do Estado.

Consequentemente, um Estado que tem como objetivo cortar gastos utiliza de forma

ostensiva as avaliações.

2.3.2. Antecedentes da avaliação e Histórico da avaliação no Brasil

O início da década de 1980 no Brasil é marcado pelo começo da

redemocratização da política. Era preciso mudar a política econômica e o modelo de

gestão que apresentavam sinais de falência e estavam ultrapassados e obsoletos.

31

Consequentemente, a política da avaliação surge da necessidade de ter um

diagnóstico das políticas públicas estatais. OLIVEIRA diz que:

[...] Naquele primeiro momento (década de 1980), a avaliação

buscava analisar a eficácia dos programas estatais, no intuito

de torná-los melhores e mais produtivos em termos sociais.

Posteriormente, com a ascendência neoliberal, o foco da

avaliação é transferido para o controle e racionalidade

econômica [...].(OLIVEIRA, 2012, p.54)

Assim, após a Constituição Federal de 1988, os Governos instalaram

políticas públicas para implementar reformas estruturais com o objetivo de

modernizar a economia e tornar o Brasil um país em condições de competir, com

igualdade e condições, com os outros países integrantes do comércio internacional.

As avaliações em larga escala no Brasil tomam força no início da década de

1990 com a configuração do chamado “Estado Avaliador”, após a experiência

mundial com as várias concepções de gestão da sociedade, política e economia,

principalmente o liberalismo, comunismo, keynesianismo, welfare state, o Estado de

bem-estar social.

Neste momento no mundo, a figura do Estado-executor do welfare state abre

espaço para o Estado-avaliador e regulador. Assim o Brasil segue a tendência e

abandona, mesmo sem ter iniciado completamente, o welfare state. O diagnóstico

das avaliações feitas na década de 1980, o Governo Collor (Itamar Franco) iniciou

mudanças na economia e, principalmente, o Governo Fernando Henrique Cardoso,

montou políticas públicas de planejamento que exigiram do Estado um imenso

esforço e reengenharia no seu setor público.

Esta reengenharia teve a difícil tarefa de substituir a burocracia obsoleta

controladora por uma mentalidade cultural de gerenciamento com base no

planejamento estratégico fundamentado nos resultados das avaliações.

OLIVEIRA (2012) cita que as avaliações, neste processo de mudança de

gestão, são indispensáveis, pois permite ao governo “aperfeiçoar políticas,

programas e projetos; controlar os níveis de satisfação dos cidadãos pelos serviços

prestados; fundamentar e legitimar decisões políticas, especialmente aquelas que

envolvam recursos públicos; prestar conta dos serviços ofertados; responsabilizar

todos os envolvidos pelos resultados dos serviços; produzir conhecimentos e

32

informações que interessam aos governantes, técnicos e membros da sociedade

civil, política e científica”.

O principal alvo das avaliações foi o sistema educacional. Neste período, o

Saeb, recém-criado, teve sua metodologia reestruturada, interagindo e se

articulando com as demais políticas públicas.

A avaliação é uma contribuição importante para um diagnóstico da educação

e do desempenho dos alunos. Ela permite conhecer o sistema educacional e assim

modificá-lo. Com finalidade formativa, o foco das avaliações não é a atribuição de

um grau, uma nota ou conceito ao aluno. Ela é pensada com o objetivo de fornecer

ao professor e à sua formação um diagnóstico sobre o processo de ensino e

aprendizagem dos alunos nos conteúdos testados.

BONAMINO (2012) afirma que recentes pesquisas sobre as avaliações

evidenciam que há um impacto positivo do uso formativo dos resultados das

avaliações educacionais na formação dos professores e no desempenho dos alunos

e consequentemente, na qualidade da educação. O uso formativo desses resultados

permite acompanhar o progresso dos alunos e fornecer aos professores e às

atividades de formação docente informações contínuas sobre o grau de

aprendizagem e de dificuldade dos alunos, tendo em vista os conteúdos e habilidade

propostos.

Afirma ainda que estudos atuais mostram que esses dados produzidos por

testes padronizados não estão sendo apreciados de forma adequada pelo corpo

docente e pelo Estado brasileiro. Segundo pesquisa da Fundação Victor Civita, uma

parte expressiva dos docentes não tem o mínimo conhecimento do que são as

avaliações da educação básica do Brasil, para que servem e como seus resultados

podem interferir na condução do ensino.

VIANA (2009) discorre sobre o problema da interpretação e do uso dos

resultados das avaliações, afirmando que é preciso considerar se os resultados, de

fato, serão compreendidos e absorvidos pelos segmentos interessados. Em suas

palavras:

[...] há necessidade do estabelecimento de relação dialógica

entre todos os participantes; por outro lado, deve-se pensar,

igualmente, na necessidade da formação de equipes técnicas

33

capazes de analisar os dados, identificar problemas e atentar

para as implicações desses mesmos resultados na definição

das políticas públicas no campo da educação. A sociedade, por

sua vez, deve aperceber-se do significado da avaliação e das

lições que pode proporcionar para toda a comunidade, mesmo

para os segmentos que mantêm frágeis relações com o mundo

da educação. (VIANA, 2009, p. 19).

Como já citado anteriormente, as avaliações, principalmente as de larga

escala, são instrumentos que produzem dados. Neste contexto histórico o Brasil

acompanhou o mundo nas reformas e tinha aspirações no campo educacional.

Deste modo, para executar as políticas públicas para a educação, era necessário

avaliar os sistemas antes.

2.3.2. Avaliações em larga escala

Avaliações em larga escala são aquelas que, primeiramente, são aplicadas

por agentes externos ao avaliado, no caso da educação, são aquelas pensadas e

aplicadas por órgãos que não são a instituição avaliada.

As avaliações externas são também chamadas de “avaliações em larga

escala” e são feitas por meio de testes padronizados, compostos por itens de

múltipla escolha, elaborados por meio de uma matriz de referência. As avaliações

externas apresentam, basicamente, três objetivos básicos. O primeiro deles é a

definição de subsídios para a formulação de políticas educacionais. O segundo é a

possibilidade de acompanhamento ao longo do tempo da qualidade da educação,

por meio da produção de séries históricas. E o terceiro, é a produção de informações

com capacidade de desenvolver relações expressivas entre as instituições de

ensino, a família, a comunidade e as secretarias de ensino, bem como

representantes do Estado.

As avaliações em larga escala ainda produzem informações importantes, que

podem ajudar aos interessados no diagnóstico da situação educacional daquela

amostra estudada. Os indicadores importantes são a média dos desempenhos, o

desvio padrão dos desempenhos e o percentual de estudantes em cada nível da

escala de proficiência.

34

A média é importante por ser uma forma de sintetizar o resultado da escola

ou do Município ou da região ou rede de ensino avaliada, etc. e permitir

comparações entre eles. O desvio padrão dos desempenhos ajuda a identificar a

quantidade de alunos que estão naquele desvio e assim conhecer a proficiência

deste grupo. O percentual de estudantes em cada nível de proficiência fornece

informações sobre as habilidades já consolidadas pelos estudantes da rede

avaliada.

Essas avaliações em larga escala de natureza externa possuem 16 etapas e

processos, em ordem cronológica de execução, que são eles:

1. Determinação da população avaliada ou de um plano amostral;

2. Elaboração ou utilização da matriz de referência;

3. Construção dos itens;

4. Pré-testagem dos itens;

5. Análise estatística e pedagógica dos itens;

6. Montagem dos cadernos de testes;

7. Blocos incompletos balanceados;

8. Testes padronizados;

9. Questionários contextuais;

10. Aplicação dos instrumentos;

11. Processamento e constituição da base de dados da avaliação;

12. Análise dos resultados;

13. Utilização da Teoria Clássica e da Teoria da Resposta ao Item;

14. Produção de resultados;

15. Construção e Interpretação das escalas de proficiência;

16. Elaboração dos Relatórios Gerais e Pedagógicos.

Assim, uma avaliação em larga escala necessitaria ter essas características e

sua execução deveria seguir esses passos.

2.3.2. Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)

No dia 21 de junho de 2010, foi publicada no Diário Oficial da União a

Portaria Ministerial nº 807, datada de 18 de junho de 2010, que tornou pública a

35

resolução do Ministro da Educação, Fernando Haddad, que institui o ENEM como

procedimento de “avaliação cujo objetivo é aferir se o participante do Exame, ao final

do ensino médio, demonstra domínio dos princípios científicos e tecnológicos que

presidem a produção moderna e conhecimento das formas contemporâneas de

linguagem”.

No segundo artigo, fica estabelecido que os resultados do ENEM

possibilitem, primeiramente, “a constituição de parâmetros para autoavaliação do

participante, com vistas à continuidade de sua formação e à sua inserção no

mercado de trabalho”, ou seja, com os resultados do desempenho individual, o

jovem avaliado pode comparar sua média com as demais médias publicadas.

No segundo ponto do mesmo artigo, a portaria autoriza, com a necessidade

de uma legislação específica, a certificação no nível de conclusão do ensino médio,

pelo sistema estadual e federal de ensino. Isto significa que o aluno, maior de

dezoito anos, sem qualquer documentação escolar, pode se inscrever no certame e,

atingindo a média de 450 pontos nas provas objetivas e de 500 pontos na redação,

recebe, nos termos da lei, seu certificado de conclusão do Ensino Médio.

Seu terceiro ponto, estabelece que o ENEM serve de “base para a criação

de referência nacional para o aperfeiçoamento dos currículos do ensino médio”. Isto

significa que o Poder Executivo da União pode, na prática, por meio do ENEM,

forçar ou tendenciar as diretrizes dos currículos estaduais de forma que eles se

adaptem ao conteúdo do exame, ferindo a legislação e o Sistema Federativo de

Cooperação.

Na sequência, o quarto ponto garante ao participante do ENEM, sob

critérios, a participação e acesso do examinando a programas governamentais que

são o SISU e o PROUNI. O SISU, Sistema de Seleção Unificada, é um sistema

informatizado gerenciado pelo Ministério da Educação (MEC) no qual instituições

públicas de ensino superior, Universidades e Institutos, oferecem vagas para

candidatos participantes do ENEM.

Segundo o sítio do MEC, o processo seletivo do SISU é realizado duas

vezes ao ano, sempre no início do semestre letivo. A inscrição no sistema é gratuita,

em uma única etapa e é feita exclusivamente pela internet. As instituições públicas

de ensino superior que optam por participar do SISU ofertam vagas dos seus cursos

36

no sistema. Ao final do período de inscrições, são selecionados os candidatos mais

bem classificados, levando em conta a nota final do ENEM do candidato, dentro do

número de vagas ofertadas.

O Programa Universidade para Todos – PROUNI – tem como finalidade a

concessão de bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação e

sequenciais de formação específica, em instituições privadas de educação superior.

Tem como público-alvo os estudantes egressos do ensino médio da rede pública ou

da rede particular na condição de bolsistas integrais, com renda per capita familiar

máxima de três salários-mínimos.

No PROUNI os candidatos são selecionados pelas notas obtidas no ENEM,

da mesma forma que o SISU, levando em conta a qualidade e mérito dos estudantes

com melhores desempenhos e conta com um sistema de seleção informatizado e

impessoal que, segundo o Ministério da Educação, confere transparência e

segurança ao processo.

Seu quinto ponto permite que os resultados do ENEM sejam utilizados como

“mecanismo único, alternativo ou complementar aos exames de acesso à Educação

Superior ou processos de seleção nos diferentes setores do mundo do trabalho”.

Uma avaliação, por definição, não tem caráter seletivo, como os vestibulares e

concursos públicos, e que o interesse é selecionar os melhores. Isto pode

comprometer o próximo ponto, que afirma que o exame gera informações para o

desenvolvimento de estudos e indicadores sobre a educação brasileira.

Uma avaliação ou exame, em sua definição, deve servir para gerar

informações que possam trazer diagnósticos do sistema educacional. Quando o

mesmo instrumento avaliativo exerce múltiplas funções, por exemplo, avaliativa e

seletiva, incorre que o resultado poderá ser mascarado, ou seja, não traduzir

fielmente a situação daquele sistema de ensino, gerando dados equivocados,

provocando a formulação de políticas públicas incorretas, ineficazes e imprecisas.

O artigo terceiro delega a função do planejamento e implementação do

exame ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.

O INEP, como é chamado, deve “planejar e implementar o exame, assim como

promover a avaliação contínua do processo, mediante articulação permanente com

37

especialistas em avaliação educacional, com as instituições de ensino superior e

com as secretarias estaduais de educação”.

Este artigo indica que o Ministério da Educação busca a interação e a

cooperação das secretarias estaduais de educação e instituições de ensino superior.

Ficou estabelecido que o ENEM será realizado periodicamente (não há data

ou intervalo fixados), com aplicação descentralizada, em todos os municípios. A

participação no exame é voluntária, destinada aos concluintes ou egressos do

ensino médio. Fica garantida também a participação daqueles, maiores de dezoito

anos, que não tenham concluído o Ensino Médio.

São isentos do pagamento de inscrição os matriculados em instituições

públicas de ensino ou aqueles que se declararem membros de família de baixa

renda, nos termos da legislação.

O sexto artigo determina ao INEP estruturar um banco de dados e emitir

relatórios com os resultados do ENEM. Também deve produzir um boletim ao

examinando contendo informações referentes ao resultado geral e ao resultado

individual. Este banco de dados, resguardado o sigilo individual, é disponibilizado

para instituições de ensino superior, secretarias estaduais de educação e

pesquisadores.

2.4. CAPÍTULO 2: Legislação e competências

Este capítulo pretende demonstrar, subsidiado pela legislação do Estado

brasileiro, o indício de inconstitucionalidade do planejamento, aplicação, correção e

uso do ENEM como único critério seletivo para o acesso ao ensino superior nas

Instituições de Ensino Superior.

O Ministério da Educação tem prerrogativas constitucionais para nortear os

currículos da educação básica, porém impedido pela própria constituição, não pode

interferir nos conteúdos programáticos das respectivas secretarias de educação.

Com um exame nacional elaborado pelo INEP, com questões que tem como

objetivo avaliar as competências e habilidades desenvolvidas pelos alunos do ensino

médio, mesmo que elaborado de forma colaborativa com as secretarias de

educação estaduais, pode interferir e moldar o currículo estadual, interferindo na

autonomia dos Estados e suas Secretarias Estaduais de Educação.

38

2.4.2. Federalismo Cooperativo

Nossa Constituição Federal de 1988, no seu primeiro artigo, estabelece que

o Brasil seja uma República Federativa, formada pela união indissolúvel dos Estados

e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito.

COSTA, CUNHA e ARAÚJO (p.15, 2010) afirmam que “Remonta ao século

XVIII o surgimento do termo federalismo para designar a forma de organização

implantada nos Estados Unidos da América resultante da união territorial do poder

das colônias para formar um Estado”. Após a vitória da Guerra de Independência

dos EEUU, foi criada uma confederação de estados livres e independentes. Dentro

da recente confederação começaram a se manifestar os problemas relativos à

necessidade de certa força do poder central, com o objetivo de estabelecer a lei e a

ordem, que regulasse as matérias como comércio, dívidas e as relações

internacionais do país. Então, “surgiu uma solução conciliatória, pactuada,

estabelecida em convenção entre os entes confederados, que, do ponto de vista da

organização política e administrativa, mantivesse a autonomia das unidades

territoriais, ao mesmo tempo em que assegurasse a unidade nacional”, ou seja, a

federação moderna.

Atualmente não existe um modelo universal de federalismo. Em toda a

história da humanidade, os diferentes povos e suas diferentes Constituições

apresentam soluções diversas e divergências na estrutura federal adotada.

TEIXEIRA (2012) afirma que o que os federalismos têm em comum é o fato de que

uma “Constituição rígida comum dá respaldo à organização dos poderes do Estado”.

Em suma, trata-se de uma organização político-territorial do poder cuja base

é a dupla soberania: a dos entes federados (governos subnacionais), que têm

autonomia para gerir questões locais, e a do governo central (União), com a

finalidade de representar e fazer valer os interesses de toda a população do país.

Assim, o federalismo pode ser caracterizado como um pacto de um determinado

número de unidades territoriais autônomas com vistas a finalidades comuns.

No caso do Brasil, somente a Federação, a união de membros federados,

que formam uma só unidade soberana, que é o Estado brasileiro. Os estados,

unidades federadas subnacionais, gozam de autonomia, cuja relatividade se dá

dentro dos limites jurisdicionais atribuídos e especificados. Os municípios, que são

39

circunscrições administrativas dentro de um Estado, governados por um prefeito e

uma câmara de vereadores, também possuem autonomia administrativa.

A Constituição Federal brasileira define como os Poderes da União (Estado),

no seu artigo segundo, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, independentes e

harmônicos entre si. Cada poder tem sua jurisdição e descrição dos atributos e

qualidades próprias designadas e uma definição.

Assim, o Poder Legislativo Federal é exercido pelo Congresso Nacional, que

se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. A Câmara dos

Deputados é formada por representantes do povo eleitos pelos cidadãos

proporcionalmente para mandatos de 4 anos. O Senado Federal é composto pelos

Senadores, representantes dos Estados membros da Federação e do Distrito

Federal, eleitos pelos cidadãos com mandatos de 8 anos.

O Congresso Nacional dispõe e legisla sobre todas as matérias de

competência da União. Ele é responsável por dispor sobre a Constituição e suas

emendas, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias,

decretos legislativos e resoluções, competência dos Deputados e Senadores.

O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República. Compete-lhe,

entre outras funções, nomear e exonerar os Ministros de Estado e exercer, com o

auxílio dos mesmos, a direção superior da administração federal.

O Poder Judiciário Federal é composto pelo Supremo Tribunal Federal

(STF), Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Superior Tribunal de Justiça (STJ),

Tribunais Regionais Federais (TRF) e seus respectivos Juízes, os Tribunais e Juízes

do Trabalho, os Tribunais e Juízes Eleitorais, os Tribunais e Juízes Militares e os

Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. É o Poder

responsável por apaziguar as questões conflitantes na Lei, sempre à luz da

Constituição Federal.

Não se pode deixar de citar que esta definição e separação dos Poderes na

Constituição não impede a atribuição de funções secundárias pela própria

Constituição a cada um dos Poderes, de natureza complementar, sem desviar da

finalidade principal em que se baseia cada função do Poder na União.

40

Estes três poderes são independentes e harmônicos entre si, presentes nos

Estados e regidos e regulamentados por suas respectivas Constituições Estaduais.

Nos Municípios e no Distrito Federal, não existe a figura do Judiciário, no caso dos

primeiros, é competência dos Estados e no caso do segundo, é jurisdição e

competência da União.

Por conseguinte, a República Federativa do Brasil é dividida em Estados,

uma divisão política, administrativa e territorial, reunidos politicamente em união

indissolúvel conforme o caput do art. 1º da Lei Maior, tendo sua autonomia

resguardada sem, contudo, se revestirem do manto da soberania. Isto não significa

o cerceamento da autonomia dos entes federados. Apenas exige que o ente

federado molde sua capacidade política às cláusulas uniformizantes da Constituição

Federal que define o perfil político da Federação.

Segundo Cury (2006), podemos identificar na história brasileira três tipos de

federação, aliadas ao contexto do momento histórico brasileiro, segundo o nível das

relações intergovernamentais entre os entes federados:

O federalismo centrípeto se inclina ao fortalecimento do poder da União, em

que, na relação concentração/difusão do poder, predominam relações de

subordinação dentro do Estado Federal. Pode-se dar como exemplo o próprio Brasil

entre os anos 1930 e 1980, embora com uns acentos diferenciados para os períodos

específicos, como o de 1946-1964.

O federalismo centrífugo se remete ao fortalecimento do poder do Estado

membro como o da União, em que, na relação concentração/difusão do poder,

prevalecem relações de larga autonomia dos Estados membros. Pode-se assinalar

como tal a Velha República, especialmente entre 1898-1930.

O federalismo de cooperação busca um equilíbrio de poderes entre a União

e os Estados membros, estabelecendo laço de colaboração na distribuição das

múltiplas competências por meio de atividades planejadas e articuladas entre si,

objetivando fins comuns. Esse federalismo político é o registro jurídico de nossa

atual constituição.

O federalismo de cooperação surgiu com a “necessidade de atender às

demandas sociais e se constituiu como uma alternativa para a resolução de

41

problemas práticos, orientando-se pela possibilidade de desenvolver ações

compartilhadas entre os níveis de governo”, como afirmam COSTA, CUNHA e

ARAÚJO (2010). Neste sistema fica trivial o estabelecimento de objetivos comuns,

ao mesmo tempo em que há respeito às distintas formas de alcançá-los,

considerando as diferentes realidades que envolvem o território e a população de

cada ente federado. “Assim, nesse sistema, deve haver uma independência na

ação, preservando-se as peculiaridades locais”, completam.

Portanto, fica a expectativa de um planejamento comum e um trabalho

cooperativo – e não impositor – entre União, estados e municípios visando à

promoção do acesso, permanência e qualidade do ensino, neste viés do federalismo

cooperativo. Instituir um exame nacional como única forma de processo seletivo

para uma vaga em uma instituição pública de ensino superior pode, na prática, ter

um caráter impositor, ferindo o modelo federalista brasileiro.

2.4.2. Constituição Federal

A escolha do federalismo de cooperação segue o raciocínio da própria

Constituição Federal observando o imperativo socioeconômico. Este estabelece uma

lógica de descentralização dos poderes políticos. TEIXEIRA (2012) afirma que

“problemas comuns demandam uma solução conjunta, comum a todos os membros

federativos; residualmente, questiúnculas específicas repousam na competência

política deste ou daquele membro federativo em particular”.

Um dos empregos da Constituição Federal é pré-estabelecer as esferas de

atuação política e administrativa dos membros federativos, harmonizando-se os

interesses de cada ente federado, de forma que seja encontrada a melhor

combinação possível do máximo de liberdade com a necessária autoridade.

Assim, o federalismo de cooperação busca a decisão comum que satisfaça o

interesse de todos os entes federados, adaptando-a às necessidades próprias de

cada um deles, como uma mera justaposição de competências.

No artigo 21 ficam claros os pontos de competência da União, que vão da

declaração de guerra e paz até a emissão de moeda. São ao todo 23 pontos. O

artigo 22, que traz especificamente as competências privativas da União, autoriza a

42

União ou, sob o regime de uma lei complementar, os Estados, a legislar sobre 29

pontos explícitos, inclusive sobre as diretrizes e bases da educação nacional.

Na sequência, os artigos 23 e 24 da Lei Maior, que estabelecem as

competências comuns e concorrentes respectivamente, materializam o viés

cooperativo. Ficam claros os pontos em que todos os entes federados podem

legislar, sempre com a prevalência da Federação nos casos conflitantes e prevendo

as parcelas de competência da União. Por exemplo, no artigo 24, os estados podem

legislar concorrentemente com a União sobre educação, cultura, ensino e desporto.

Os Estados, Municípios e o Distrito Federal pode legislar, por meio de sua

casa legislativa, sobre os temas permitidos pela Constituição Federal. Ou seja, suas

Constituições Estaduais ou Leis Orgânicas Distritais ou Municipais legislam sobre as

competências que não lhes sejam vedadas pela Constituição Federal de 1988.

A Emenda Constitucional nº 53/2006, que altera o artigo 23, explicita que as

normas de cooperação serão fixadas por lei. Este dispositivo normativo é em prol do

equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.

Com base no princípio da separação e independência no exercício das

competências constitucionais, apesar de conjuntas serem as decisões políticas e

tendo a Constituição Federal por como fonte normativa na federação, utilizando das

leis federais, a execução é adaptada às suas próprias necessidades por cada ente

federado.

2.4.2. LDB

A nossa Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB – Lei nº 9394/96), que

regulamenta a educação no Brasil, diz que o ensino médio deve ser universal e

gratuito, inclusive para aqueles que não tiveram acesso na idade própria, ou seja,

até os 18 anos de idade.

Cabe à União estabelecer, em colaboração com os Entes Federados, as

competências e diretrizes para a Educação Básica, formada pela educação infantil, o

ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos

mínimos, de modo a assegurar formação básica comum.

43

A seção IV do Capítulo II, que trata da educação básica, da referida Lei, traz

as diretrizes do ensino médio. Ela diz que o ensino médio é a etapa final da

educação básica com duração mínima de três anos. Tem como propósito consolidar

e aprofundar os conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o

ingresso no nível superior.

O ensino médio também visa preparar o aluno para a cidadania e o trabalho,

de modo que ele tenha capacidade de se adaptar com flexibilidade a novas

condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores, sem perder de vista a

formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento

crítico.

O aluno deve se formar no ensino médio tendo a plena percepção dos

fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, sempre relacionando

a teoria com a prática, no aprendizado em cada disciplina.

Neste sentido, o currículo do ensino médio deve ser pensado e montado

pelas Secretarias Estaduais de Educação dos Entes Federados sob a orientação

das diretrizes da Lei nº 9394/96 de forma que permita ao aluno o desenvolvimento

mínimo e o cumprimento dos objetivos do ensino médio.

As diretrizes impostas pela Lei determinam que o currículo deve abordar “a

educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e

das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua

portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício

da cidadania”.

Obrigam a inclusão de uma língua estrangeira moderna, como disciplina

obrigatória do histórico do aluno. Esta língua deve ser escolhida pela comunidade

escolar. Existe a possibilidade da existência de uma segunda língua, em caráter

optativo, dentro das disponibilidades da instituição.

Como consequência, ele deve permitir a adoção de metodologias de ensino

e de avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes, ou seja, o ensino e a

aprendizagem centrada no estudante e um formato de avaliação que acompanha o

progresso dos alunos. Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação

44

devem se organizar de forma que o aluno demonstre que os objetivos do ensino

médio foram por ele cumpridos.

Essas avaliações devem permitir que os docentes tenham a possibilidade de

medir dos alunos o domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a

produção moderna e o conhecimento das formas contemporâneas de linguagem, de

acordo com o currículo.

2.4.2. PCN e Currículo

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) são um documento que tem

como objetivo nortear os currículos do Ensino Médio. Eles resultam de meses de

trabalho e de discussão realizados por especialistas e educadores de todo o país.

Segundo o INEP, “Os PCNs foram elaborados para difundir os princípios da

reforma curricular e orientar os professores na busca de novas abordagens e

metodologias”. Eles foram concebidos com o objetivo de auxiliar as equipes

escolares na execução de seus trabalhos, servindo de estímulo e apoio à reflexão

sobre a prática diária, ao planejamento de aulas, principalmente ao desenvolvimento

do currículo da escola, contribuindo ainda para a atualização profissional (MEC).

Os PCN são a referência básica para a elaboração das matrizes de referência

para os currículos e avaliações. Eles balizam um novo perfil para o currículo,

amparado em competências básicas para a entrada dos jovens na vida adulta e,

principalmente, guiam os professores no que se refere ao significado do

conhecimento escolar quando contextualizado e quanto à interdisciplinaridade,

incentivando o raciocínio e a capacidade de aprender (INEP).

Seguindo as orientações dos PCN, o currículo está sempre em construção e

deve ser compreendido como um processo contínuo que influencia positivamente a

prática do professor. Com base nessa prática e no processo de aprendizagem dos

alunos os currículos devem ser revistos e sempre aperfeiçoados.

As bases legais do PCN do Ensino médio, dizem que:

A formação do aluno deve ter como alvo principal a aquisição

de conhecimentos básicos, a preparação científica e a

capacidade de utilizar as diferentes tecnologias relativas às

áreas de atuação. [...] Propõe-se, no nível do Ensino Médio, a

formação geral, em oposição à formação específica; o

45

desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar

informações, analisá-las e selecioná-las; a capacidade de

aprender, criar, formular, ao invés do simples exercício de

memorização. (PCNEM Parte I – Bases legais, 2000, pág. 5)

Resumindo, os PCN estabelecem uma perspectiva para esse nível de ensino

que unifica finalidades até então dissociadas, numa mesma e única modalidade para

oferecer uma educação equilibrada de forma articulada, com funções equivalentes

para todos os educandos.

A LDB afirma que o ensino médio “deverá vincular-se ao mundo do trabalho e

à prática social” (Art.1º, § 2º, da Lei nº 9.394/96). Essas funções podem ser

traduzidas em quatro pontos que orientam o currículo e ele deve ser pensado a fim

de permitir e facilitar essas funções, PCNEM Parte I – Bases legais (2000):

a formação da pessoa, de maneira a desenvolver valores e competências

necessárias à integração de seu projeto individual ao projeto da sociedade

em que se situa;

o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação

ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;

a preparação e orientação básica para a sua integração ao mundo do

trabalho, com as competências que garantam seu aprimoramento profissional

e permitam acompanhar as mudanças que caracterizam a produção no nosso

tempo;

o desenvolvimento das competências para continuar aprendendo, de forma

autônoma e crítica, em níveis mais complexos de estudos.

Por fim, os PCN do ensino médio dizem que competências são essas:

De que competências se está falando? Da capacidade de

abstração, do desenvolvimento do pensamento sistêmico, ao

contrário da compreensão parcial e fragmentada dos

fenômenos, da criatividade, da curiosidade, da capacidade de

pensar múltiplas alternativas para a solução de um problema,

ou seja, do desenvolvimento do pensamento divergente, da

capacidade de trabalhar em equipe, da disposição para

procurar e aceitar críticas, da disposição para o risco, do

desenvolvimento do pensamento crítico, do saber comunicar-

46

se, da capacidade de buscar conhecimento. Estas são

competências que devem estar presentes na esfera social,

cultural, nas atividades políticas e sociais como um todo, e que

são condições para o exercício da cidadania num contexto

democrático. (PCNEM Parte I – Bases legais, 2000, pág. 11)

Os currículos devem permitir o desenvolvimento dessas competências e o

Exame Nacional do Ensino Médio deveria medi-las.

2.5. CAPÍTULO 3: Análise

Este capítulo tem como objetivo apresentar as análises dos dados, as tabelas

e os cruzamentos.

2.5.2. Resultados

Com a finalidade de verificar as diferenças de desempenho entre os alunos

que fizeram tanto o ENEM 2012 quanto o 1º Vestibular de 2013 da UnB, com o uso

da amostra 1, foram analisados os valores mínimos e máximos, bem como a média

por curso de ambos os certames. A Tabela 2, a seguir, apresenta esse comparativo

por meio dos valores nas escalas originais do ENEM (de 0 a 1000) e do vestibular

(de +/-500).

Tabela 2 – Comparação das médias, mínimo e máximo por curso

CURSO ENEM Vestibular

Máximo Média Mínimo Máximo Média Mínimo

Agronomia 686,08 667,97 649,85 323,55 49,36 -224,84

Artes Cênicas (Licenciatura e Bacharelado) 703,10 592,57 482,03 39,63 -60,74 -161,10

Ciências Ambientais 720,65 656,84 593,03 123,06 -66,41 -255,88

Ciências Naturais (Licenciatura) 670,93 572,72 474,50 215,69 -9,93 -235,54

Computação (Licenciatura) 738,10 667,83 597,55 149,54 -0,40 -150,33

Educação Artística — Música (Licenciatura) 620,38 561,64 502,90 *** *** ***

Educação Física (Licenciatura e Bacharelado) 716,60 648,17 579,73 88,18 -53,70 -195,58

Filosofia (Licenciatura) 701,18 640,77 580,35 154,09 -16,87 -187,84

Física (Licenciatura) 698,28 667,73 637,18 157,70 -23,43 -204,56

Geografia 704,55 667,69 630,83 115,36 -26,17 -167,69

Gestão Ambiental 656,60 587,48 518,35 53,95 15,56 -22,83

Gestão de Saúde 659,75 589,44 519,13 109,26 35,69 -37,88

Gestão do Agronegócio 715,08 590,98 466,88 65,60 -33,54 -132,68

Gestão em Saúde Coletiva 708,90 639,84 570,78 -104,50 -139,51 -174,51

Letras* 693,00 593,07 493,13 203,09 -23,46 -250,02

Matemática (Licenciatura) 708,98 664,66 620,33 33,73 -62,78 -159,28

47

Museologia 644,28 614,78 585,28 -39,10 -114,39 -189,69

Música (Licenciatura e Bacharelado) 602,43 549,17 495,90 50,23 -3,08 -56,38

Pedagogia 698,13 631,06 563,98 111,08 -66,76 -244,60

Química (Licenciatura) 759,73 713,83 667,93 63,26 -50,56 -164,39

Serviço Social 592,68 629,74 666,80 98,22 -83,58 -265,38

Terapia Ocupacional 641,35 596,74 552,13 246,19 44,64 -156,90

Turismo 682,65 661,67 640,68 88,87 -77,98 -244,83

MÉDIA TOTAL 683,63 629,20 569,10 91,37 -36,33 -174,84

*Curso com habilitações

*** Sem candidatos

Observa-se que a maior parte das médias dos candidatos do Vestibular-UnB

é negativa enquanto a maior parte das médias dos desempenhos do ENEM é acima

da média da prova, que é 500 pontos. O curso de Educação artística – música

(Licenciatura) não teve candidatos pelo Vestibular-UnB.

O curso com a menor média no ENEM é o curso de Música (Licenciatura e

Bacharelado), com 549,17 pontos. O curso com menor média no Vestibular-UnB não

é Música (Licenciatura e Bacharelado), é Gestão em Saúde Coletiva com nota

negativa de 139,51.

O curso de Química (Licenciatura) obteve a maior média nesta amostra no

ENEM, com 713,83 pontos, enquanto a maior média do Vestibular-UnB foi do curso

de Agronomia, com 49,36 pontos. Essa tabela já evidencia que o ENEM se

apresenta como um exame mais fácil que o Vestibular-UnB, ou seja, o desempenho

dos alunos que foram classificados pelo ENEM é superior ao desempenho dos

alunos que foram classificados pelo Vestibular-UnB.

Esses dados mostram que os candidatos convocados para efetuar a matrícula

pelo ENEM nas vagas remanescentes, obtiveram desempenho, em média, melhor

na comparação dos desempenhos dos candidatos matriculados pelo Vestibular da

UnB. Observa-se que os desempenhos dos candidatos do ENEM estão muito

próximos de sua média, enquanto os resultados do Vestibular da UnB, de um modo

geral, estão muito abaixo da sua média. Isto comprova a segunda hipótese.

A segunda amostra, formada por 6.313 candidatos que participaram dos dois

exames, foi utilizada para verificar a correlação entre os desempenhos no ENEM e

no Vestibular da UnB. O candidato com o menor desempenho no ENEM obteve nota

final de 161,56, com nota final no Vestibular-UnB de -142,43, concorrendo a uma

48

vaga pelo Vestibular-UnB para o curso de Educação Física, com título de Bacharel.

O candidato com a maior nota no Enem obteve 827,88 e 290,765 no Vestibular-UnB,

concorrendo a uma vaga no curso de Direito.

Tabela 3 - Melhores e piores desempenhos no ENEM

5 Piores desempenhos no ENEM

CANDIDATO ENEM VESTIBULAR CURSO

996 161,56 -142,43 Educação Física (Bacharelado)

1452 203,24 58,23 Comunicação Organizacional

1911 217,74 -87,53 Comunicação Social

1922 163,88 -161,85 Química (Licenciatura)

3897 184,36 -171,32 Letras — Tradução — Francês

5 Melhores desempenhos no ENEM

CANDIDATO ENEM VESTIBULAR CURSO

499 827,88 290,76 Direito

3760 816,32 304,18 Direito

3962 813,54 245,40 Direito

5226 820,72 422,87 Engenharia Civil

6170 814,12 356,77 Relações Internacionais

Ainda visando comparar o desempenho dos estudantes que fizeram o ENEM

e o Vestibular da UnB, foram selecionados os participantes que obtiveram as

melhores e piores notas em ambos os certames. O candidato com o menor

desempenho no ENEM obteve nota final de 161,56, e argumento final no Vestibular

da UnB de -142,43, concorrendo a uma vaga pelo vestibular para o curso de

Educação Física, bacharelado. O candidato com a maior nota no ENEM obteve

827,88 e 290,765 no Vestibular-UnB, concorrendo a uma vaga no curso de Direito.

Com a nota do Vestibular-UnB como referência, o candidato com o menor

desempenho obteve nota final de -283,925 e desempenho no ENEM de 486,26 e se

candidatou ao curso de Ciências Contábeis. O candidato com maior desempenho no

Vestibular-UnB obteve argumento final de 531,345 e desempenho de 784,04 pontos

no ENEM.

Tabela 4 - Piores desempenhos

5 Piores desempenhos no Vestibular

CANDIDATO ENEM VESTIBULAR CURSO

5143 486,26 -283,925 Ciências Contábeis

4011 477,18 -270,935 Direito

5193 488,12 -270,07 Medicina

49

158 536,92 -265,375 Serviço Social

2730 410,8 -261,92 Administração

5 Melhores desempenhos no Vestibular

CANDIDATO ENEM VESTIBULAR CURSO

1322 784,04 531,345 Medicina

3247 773,5 504,54 Engenharia Civil

167 803,56 482,815 Engenharia Civil

5809 803 473,115 Medicina

4787 804,28 446,445 Medicina

As duas últimas tabelas, 3 e 4, podem compor um pequeno experimento para

ajudar na análise. Assumindo 500 como média no ENEM e ao se comparar o

desempenho bruto dos piores resultados do ENEM, percebe-se que, de forma geral,

os cinco piores desempenhos do ENEM também obtiveram resultados negativos no

Vestibular-UnB, exceto um candidato.

Quando comparados os melhores desempenhos do ENEM com os resultados

do Vestibular-UnB, percebe-se que não é possível estabelecer uma tendência. Os

cinco melhores da tabela obtiveram média maior que 800 pontos no ENEM, porém

os resultados do Vestibular-UnB, mesmo que altos, variam de 290 a 422 pontos,

sendo que a maior nota do Vestibular-UnB foi 531,345 pontos.

O mesmo procedimento efetuado anteriormente, agora utilizando o Vestibular-

UnB como referencial, mostra que os menores desempenhos, com notas negativas

entre -283,925 e -261,920, obtiveram desempenho mediano no ENEM, com notas

entre 410,80 e 536,92, próximas à média, que é de 500 pontos.

Tais resultados refutam, ao menos parcialmente, a primeira hipótese, porque

mesmo os cinco piores no ENEM tendo desempenhos ruins no Vestibular-UnB, os

cinco piores desempenhos no Vestibular-UnB possuem desempenho mediano no

ENEM.

Observando os melhores desempenhos no Vestibular-UnB, fica evidente que

estes candidatos também obtiveram um bom desempenho no ENEM, com médias

próximas a 800 pontos.

As conclusões parciais são:

Os candidatos que obtiveram um alto desempenho no ENEM

mantiveram um desempenho regular no Vestibular-UnB, quando

comparados com os melhores desempenhos do certame.

50

Os candidatos que obtiveram um alto desempenho no Vestibular-UnB

mantiveram um alto desempenho no ENEM.

Os candidatos que obtiveram baixo desempenho no ENEM obtiveram

o mesmo desempenho baixo no Vestibular-UnB, em sua maioria, com

notas negativas.

Os candidatos que obtiveram baixo desempenho no Vestibular-UnB

obtiveram um desempenho mediando no ENEM.

Visando corroborar esses resultados, e a fim de facilitar as comparações, foi

necessário transformar a escala das notas. Como no ENEM a nota varia de zero a

1000 e no Vestibular-UnB as notas assumem valores positivos e negativos, a

comparação das notas se torna um pouco mais complexa e não permite uma

conclusão mais precisa.

Deste modo, com a ajuda do SPSS, foi calculada uma nota única para o

Enem, por meio da média das notas nas provas (Língua Portuguesa, Matemática,

Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Redação). Por meio da transformação

das notas em escores padronizados novas notas para o ENEM e o Vestibular-UnB

foram calculadas e colocadas em uma escala com média igual a zero e desvio

padrão igual a 1. Como ambos passaram a ter valores negativos, visando facilitar a

interpretação dos resultados foi realizada uma nova transformação linear, colocando

ambos os certames numa escala com média igual a 5 e desvio padrão igual a 1. Ou

seja, agora o trabalho será feito com notas no intervalo de zero a 10 pontos. A tabela

abaixo exemplifica os cinco melhores desempenhos, tendo como referencial o

ENEM.

Tabela 5 – Exemplo de nota padronizada - Melhores resultados

CANDIDATO ENEM VESTIBULAR CURSO

499 7,98 7,39 Direito

3760 7,81 7,50 Direito

3962 7,76 7,01 Direito

5226 7,87 8,50 Engenharia Civil

6170 7,77 7,94 Relações Internacionais

Agora, com as notas de ambos os certames transformados para a escala de 0

a 10, foi realizado um procedimento para colocar as notas em intervalos de 1 em 1

51

ponto. Uma vez categorizados todos os participantes nesses intervalos, foi

construída uma tabela de frequência por intervalo para as notas do Vestibular da

UnB e do ENEM. A próxima tabela mostra que a maioria, 55,2%, dos participantes

que fizeram o Vestibular da UnB está abaixo da média, que é 5 pontos. No caso do

ENEM, a maioria está na média ou acima dela.

Tabela 6 - Quantidade de candidatos por intervalo de desempenho

Intervalo da nota ENEM Vestibular

Frequência de candidatos

Percentual Frequência de

candidatos Percentual

0 a 0,99 26 0,4 0 0 1,00 a 1,99 12 0,2 0 0 2,00 a 2,99 86 1,4 19 0,3

3,00 a 3,99 744 11,8 912 14,4

4,00 a 4,99 2212 35 2558 40,5

5,00 a 5,99 2308 36,6 1840 29,1

6,00 a 6,99 829 13,1 730 11,6

7,00 a 7,99 96 1,5 216 3,4

8,00 a 8,99 0 0 35 0,6

9,00 a 9,99 0 0 3 0

Total 6313 100 6313 100

Gráfico 1 - Curvas de desempenho – Níveis de desempenho X Percentual

O gráfico de linhas anterior foi construído para ilustrar melhor os percentuais

de participantes do ENEM e do Vestibular em cada intervalo de notas. Como pode

ser visualizado, o percentual de participantes do ENEM e do Vestibular por faixa de

-5,0%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

40,0%

45,0%

0 a 0,99 1,00 a1,99

2,00 a2,99

3,00 a3,99

4,00 a4,99

5,00 a5,99

6,00 a6,99

7,00 a7,99

8,00 a8,99

9,00 a9,99

ENEM Vestibular

52

desempenho se assemelha, mas a distribuição no vestibular é levemente deslocada

para a esquerda, indicando se tratar de uma prova com um nível de dificuldade um

pouco maior, algo esperado por sua característica seletiva.

A próxima tabela mostra o índice de correlação r de Pearson entre a nota no

1º Vestibular de 2013 da UnB e as notas nas provas do Enem 2012. O índice de

correlação pode variar entre -1 e +1. Quando assume valores negativos a correlação

é inversa, ou seja, quanto maiores forem os valores em uma variável, menores serão

os valores na outra. Por outro lado, quando a correlação é direta, à medida em que

aumentam os valores em uma variável, também aumentam os valores na outra. Em

relação aos valores que uma correlação pode assumir, quanto mais próximos a 1,

maior relação há entre duas variáveis.

Tabela 7 - Índice de correlação entre as provas

ENEM

Nota Final Português Matemática Ciências Naturais Ciências Sociais Redação

Vestibular 0,699 0,713 0,617 0,485 0,612 0,323

Como informa a tabela, as áreas de conhecimento correlacionadas

apresentam correlações acima de 0,6, exceto a prova de Ciências Naturais. Um

dado interessante a ser observado na tabela é que a correlação entre o argumento

final do Vestibular da UnB e a prova de Redação do ENEM é baixa, especialmente

quando comparada às demais. Enquanto o índice de correlação entre o argumento

final do Vestibular da UnB e o desempenho final do ENEM é de 0,699, o da prova de

redação e de 0,323. Isso significa que, de acordo com as notas obtidas pelos

candidatos, praticamente não há relação entre elas.

Esse dado é relevante, pois a nota da redação possui caráter eliminatório no

Vestibular da UnB. Para ser classificado no Vestibular da Universidade de Brasília é

necessário ter nota maior ou igual a 4 pontos na redação. Dessa forma, só possui

argumento final no Vestibular da UnB quem obteve pelo menos 4 pontos na

redação. Por sua vez, para ser classificado no ENEM o participante apenas precisa

não zerar a prova de Redação. Isso contribui ainda mais para a maior dificuldade do

Vestibular da Universidade de Brasília.

53

2.6. Considerações finais

Mediante os resultados encontrados no presente estudo pode-se concluir que

o objetivo geral, que é analisar o desempenho dos alunos que fizeram o 1º

Vestibular-UnB de 2013 e o ENEM 2012 e compará-los, foi cumprido com êxito. A

comparação revela que o desempenho médio dos participantes do ENEM é maior –

um desvio padrão acima – que a média dos desempenhos dos candidatos do

Vestibular-UnB nas duas amostras, tanto na que possui candidatos que fizeram o

ENEM quanto naquela que possui candidatos classificados ou pelo Vestibular-UnB

ou pelo ENEM. Isto indica uma tendência de maior facilidade para o ENEM.

Por consequência, o primeiro objetivo específico foi averiguado e

comprovado. Os dados mostram que os candidatos com bom desempenho no

ENEM também obtiveram bom desempenho no Vestibular da UnB. Uma possível

explicação para esse fato é que esses eram candidatos a cursos muito concorridos.

Portanto, provavelmente têm um histórico de muito estudo e dedicação e, sendo no

ENEM ou no vestibular da Universidade de Brasília, seu empenho não seria afetado.

Quando se compara os desempenhos nos exames do grupo que obteve baixo

desempenho no ENEM, esse grupo apresenta uma tendência a ter baixo

desempenho no Vestibular da UnB. Uma explicação possível é semelhante à

explicação do caso anterior, mas neste caso a concorrência tende a ser para um

curso menos visado.

Em contrapartida, quando o foco é o grupo que tem o menor desempenho no

Vestibular da UnB, observa-se que suas notas no ENEM estão próximas do centro

da média, entre 400 e 550 pontos. Isto refuta uma possível ideia de que o

desempenho médio no ENEM pode garantir um desempenho médio no Vestibular da

UnB. Não foi possível estabelecer algum tipo de lógica, pois a amostra obtida era

heterogênea no que se refere aos cursos concorridos.

Aparentemente este grupo não teve o preparo necessário para concorrer a

uma vaga no curso superior pelo Vestibular da Universidade de Brasília. Outro fator

chamativo é que, mesmo com este médio desempenho no ENEM, este grupo não

teria conquistado uma vaga remanescente no curso pretendido, o que indica que há

uma relação entre preparo para o Vestibular da UnB e o desempenho no ENEM.

54

Com o uso das notas padronizadas, o segundo objetivo fica mais claro. Sim,

os candidatos que efetuaram a matrícula por vagas remanescentes obtiveram, em

média, desempenho um pouco melhor sobre aqueles que se classificaram pelo

Vestibular, mesmo quando a comparação é a média por curso. Como supracitado,

os dados mostram que o ENEM tende a ser mais fácil.

Como consequência, a correlação foi verificada e as hipóteses foram

confirmadas, mas, um dado interessante na pesquisa e que merece total atenção –

talvez mais que os outros – é o fato de a redação do ENEM ter índice de correlação

muito baixo com a prova do Vestibular da UnB. Por seu tratamento diferente nos

dois exames, talvez esta seja a principal diferença entre os dois certames.

Enquanto as provas das áreas de conhecimento (exceto a de Ciências

Naturais) apresentam correlações próximas de 0,6, a de redação apresenta

aproximadamente 0,3. E isto é preocupante, tendo em vista a discrepância em

relação à importância dada à prova de redação pelos dois exames.

No Vestibular da UnB, a redação é eliminatória. O candidato classificado,

aquele que concorre a uma vaga, tem nota maior ou igual a quatro na redação. Não

importa se o candidato do Vestibular da UnB tem um alto desempenho nas outras

provas, se sua nota final na redação for inferior a 4 pontos, está eliminado, o que

aumenta mais ainda a dificuldade do Vestibular da UnB em relação ao ENEM.

Enfim, verificar se o ENEM pode substituir o Vestibular com maior segurança

exige um estudo mais detalhado e profundo. Entretanto, concluo aqui que não são

certames da mesma natureza. Um, o ENEM, surgiu tendo como objetivo principal

avaliar o desempenho dos estudantes que estão saindo do ensino médio e avaliar

indiretamente a qualidade do ensino médio gerando um banco de dados para balizar

políticas públicas para a melhoria do ensino. E embora atualmente tenha assumido

muito mais a posição de processo seletivo, ainda preserva algumas características

da avaliação, especialmente a matriz de referência e o tipo de prova.

Utilizar o ENEM como única forma de ingresso no ensino superior

compromete e ignora a definição de avaliação, porque seria uma forma de

premiação, o que pode distorcer os resultados, gerando assim dados equivocados,

permitindo o surgimento de políticas públicas equivocadas.

O outro, o Vestibular da UnB tem a característica que atende ao seu objetivo,

que é selecionar pessoas por meio de seu desempenho em testes padronizados.

55

Um fator preocupante é que o uso de um exame nacional como único critério

de seleção para o ensino superior modifica os currículos dos Estados membros da

Federação de forma imperativa, ferindo a autonomia destes e os obrigando a

adoção do ENEM como única forma de avaliar seu sistema de ensino, cerceando a

prerrogativa legal de sua Secretaria de Estado da Educação para elaborar e aplicar

uma avaliação, sugerindo um caminho inverso ao processo de descentralização

imposto pela Constituição Federal de 1988. Indica uma centralização das

orientações curriculares por parte do Ministério da Educação, ferindo a autonomia

dos Estados.

Frente ao exposto, sendo os dois certames convergentes em parte dos

resultados, mas havendo divergência quanto ao nível de dificuldade das provas,

conclui-se que a substituição do vestibular do final do ano da UnB pelo ENEM

precisa vir acompanhada de uma discussão mais profunda especialmente no que

tange à redação, pois foi o ponto em que houve maior divergência entre os dois

exames.

3. PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS

Após quatro anos de graduação em pedagogia – e aproximadamente seis

anos de universidade - posso garantir que pretendo seguir carreira na área de

pesquisa e na docência. Pretendo também, além de atuar na área, conhecer outros

ramos da ciência, primeiro por afinidade e segundo para complementar o olhar

científico sobre a Pedagogia e a educação no Brasil.

Assim, pretendo contribuir ao máximo – sempre que possível – para melhorar

o ensino em nosso país, visando à qualidade, eficácia e eficiência, subsidiado por

trabalhos das mais diversas áreas do conhecimento e pela prática pedagógica.

4. Referências

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BRASIL. Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil, texto

promulgado em 05 de outubro de 1988, Secretaria Especial de Editoração e Publicações. Brasília, 2010.

56

BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação, LDB. Lei 9.394

de 20 de novembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

BRASIL, Ministério da Educação. Portaria Ministerial Número 807, datada de 18 de Junho de 2010 (Publicada no DOU no 116, Seção 1, de 21 de junho de 2010, Páginas: 71 a 72)

BONAMINO, Alícia M. C. Avaliação educacional, formação de professores e qualidade da educação básica: possíveis relações virtuosas e questões em aberto. In CUNHA, Célio da; SOUSA, José Vieira de; SILVA, Maria Abádia da (organizadores) – Universidade e Educação Básica: políticas e articulações possíveis. Brasília: Faculdade de Educação/Universidade de Brasília; Liber Livro,

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CIVATTA, Maria; RAMOS, Marise. Ensino Médio e Educação Profissional no Brasil: dualidade e fragmentação. Retratos da Escola / Escola de formação da

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VIANNA, Heraldo Marelim. Avaliações nacionais em larga escala: análises e propostas. São Paulo : DPE, 2003.

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FERRAZ, Ana Paula do Carmo Marcheti; BELHOT, Renato Vairo. Taxonomia de Bloom: revisão teórica e apresentação das adequações do instrumento para definição de objetivos instrucionais. Gest. Prod., São Carlos, v. 17, n. 2, p. 421-431, 2010.

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Anexos

Tabela 8 - Quantidade de candidatos por curso – segunda amostra

CURSO QUANTIDADE

Administração (***) 180

Agronomia 48 Arquitetura e Urbanismo (***) 163

Arquivologia 31 Artes 23

Biblioteconomia 26 Biotecnologia 81

Ciência da Computação (Bacharelado) 69 Ciência Política 106

58

Ciências Ambientais 4 Ciências Biológicas (Bacharelado e Licenciatura) 163

Ciências Contábeis (***) 115 Ciências Econômicas 89

Ciências Farmacêuticas (***) 48 Ciências Naturais (Licenciatura) 5

Ciências Sociais 76 Computação (Licenciatura) 8

Comunicação Organizacional 64 Comunicação Social 250

Desenho Industrial (Bacharelado) 55 Direito (***) 604

Educação Artística — Música (Licenciatura) 3 Educação Física (Bacharelado e Licenciatura) 38

Enfermagem - Campus Darcy Ribeiro e UnB Ceilândia 108 Engenharia – Campus Gama (**) 334

Engenharias 1064 Estatística 23

Farmácia 33 Filosofia (Licenciatura e Bacharelado) 15

Física (Bacharelado/Licenciatura/Física Computacional) 44 Fisioterapia 42

Geofísica 25 Geografia 15

Geologia 66 Gestão Ambiental 4

Gestão de Políticas Públicas 59 Gestão de Saúde 9

Gestão do Agronegócio 8 Gestão em Saúde Coletiva 3

História (Bacharelado e Licenciatura) 78 Letras 163

Matemática (Bacharelado/Licenciatura) 32 Medicina 919

Medicina Veterinária 102 Museologia 7

Música (Bacharelado e Licenciatura) 4 Nutrição 83

Odontologia 153 Pedagogia 39

Psicologia 249 Química (Bacharelado e Licenciatura) 45

Química Tecnológica 24 Relações Internacionais 225

Serviço Social 41

59

Teoria Crítica e História da Arte (Bacharelado) 13 Terapia Ocupacional 15

Turismo 20

Total Geral 6313

** A opção de entrada aos cursos de Engenharia do Campus UnB – Gama é comum a todos os candidatos. A opção específica de cada candidato selecionado no Vestibular-UnB será feita ao longo do curso, entre as opções: Engenharia Aeroespacial, Engenharia Automotiva, Engenharia de Energia, Engenharia Eletrônica e Engenharia de Software. *** Cursos para os quais o candidato concorre aos dois turnos, com preferência para o turno selecionado no momento da inscrição.

Tabela 4 - Subdivisões dos cursos

Enfermagem 60

Enfermagem - UnB Ceilândia 48

TOTAL 108

Engenharia Ambiental 87 Engenharia Civil 278

Engenharia da Computação 83 Engenharia de Produção 94

Engenharia de Redes de Comunicação 39 Engenharia Elétrica 119

Engenharia Florestal 37 Engenharia Mecânica 104

Engenharia Mecatrônica 84

Engenharia Química 139

TOTAL 1064

Letras — Espanhol (Licenciatura) 5 Letras — Francês (Bacharelado/Licenciatura) 9

Letras — Inglês (Bacharelado/Licenciatura) 36 Letras — Japonês (Licenciatura) 5

Letras — Língua Estrangeira Aplicada (Bacharelado) 12 Letras — Português (Bacharelado/Licenciatura) 55

Letras — Português (Licenciatura) 14 Letras — Português do Brasil como Segunda Língua (Licenciatura) 3

Letras — Tradução — Francês 7

Letras — Tradução — Inglês 17

TOTAL 163