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Universidade de Braslia
Instituto de Cincias Humanas
Departamento de Filosofia
SOBRE A NOO DE PHYSIS E SUAS RELAES COM A POLIS EM ANAXIMANDRO
Walter Nascimento Neto
Gabriele Cornelli (Orientador)
Braslia
Dezembro de 2011
Universidade de Braslia
Instituto de Cincias Humanas
Departamento de Filosofia
SOBRE A NOO DE PHYSIS E SUAS RELAES COM A POLIS
Monografia apresentada ao Departamento de Filosofia da Universidade de Braslia como requisito parcial para a obteno do ttulo de bacharel em Filosofia
Orientador: Gabriele Cornelli
Braslia
Dezembro de 2011
Resumo
Anaximandro provavelmente o primeiro de que temos notcia a iniciar o
questionamento no mitolgico sobre o nosso lugar no mundo, sobre a prpria existncia e
permanncia do universo e sobre as foras naturais ou teolgicas que colaboram nessa
permanncia. Tais questes rementem ideia de natureza (physis), algo envolvido com a
prpria gnese e ordenamento dos elementos que compem o universo. Essa ideia
definidora do que chamamos de filosofia Pr-socrtica e se liga fortemente s instituies
sociais nas quais ela se originou. O apeiron de Anaximandro reflete o tipo de sociedade que
comea a surgir no sculo VI a.e.c. e que, medida em que se distancia do sistema
monrquico e caminha em direo democracia, tambm se afasta do mito e ruma em
direo filosofia. Foi pela oportunidade de se espelhar em um outro tipo de forma de
controle social que os gregos desse perodo conseguiram projetar no mundo natural uma
nova forma de explicar o mundo.
Palavras-chave: Anaximandro, natureza, physis, sociedade, polis
Sumrio
1. Introduo ................................................................................................................................... 5
2. Sobre o conceito de Physis .......................................................................................................... 9
3. A physis de Anaximandro .......................................................................................................... 15
3.1. Sobre a relao entre physis, arch e apeiron .................................................................. 15
3.2. O apeiron ........................................................................................................................... 17
3.3. A origem poltica da physis ................................................................................................ 22
4. Concluses................................................................................................................................. 28
5. Referncias ................................................................................................................................ 31
Sobre a noo de physis e suas Relaes com a polis em Anaximandro Walter Nascimento Neto
5
1. Introduo Em 2006 Daniel Graham publicou seu livro1, contendo sua interpretao da tradio
pr-socrtica, no qual sugere que o pensamento cosmolgico grego do sculo VI a.e.c , de
certa forma, uma antecipao daquilo que conhecemos como Cincia Moderna. Segundo
Graham esse pensamento apresenta, pela primeira vez, vestgios de elementos de um
programa de pesquisas ainda embrionrio que, apesar de ser em muitos pontos diferentes
dos modernos programas de pesquisa, guarda semelhanas marcantes que permitem ao
historiador traar uma tradio que liga os aceleradores de partculas do sculo XXI a
pensadores da cidade-estado de Mileto, na Jnia do sculo sexto. Para Graham, tal tradio
que, na sua essncia uma maneira de explicar o cosmos, aponta para um pensador
especfico: Anaximandro de Mileto.
Ao contrrio de alguns daqueles que continuaram a tradio iniciada por
Anaximandro, o pensamento deste filsofo para ns reconstitudo mais pelas referncias
implcitas e duvidosas a ele feitas pelos comentadores tardios do que por fontes mais
seguras, qui por fragmentos conservados e testemunhos mais prximos. O que
encontramos, naquilo que Graham indica como incio do pensamento cientfico, uma rede
de testemunhos que se cruzam e se separam na forma de um tecido fino deixando mais
aberturas do que preenchimentos, mas que, apesar disso, apontam para consensos e
congruncias que nos permitem reconstruir tal incio.
Uma das fontes mais usadas para se conhecer o pensamento pr-socrtico
Aristteles. Ao contrrio de Graham ele aponta para outro iniciador do tipo de pensamento
1GRAHAM, D. W. Explaining the Cosmos: The Ionian Tradition of Scientific Philosophy. Princeton University Press, 2006.
Sobre a noo de physis e suas Relaes com a polis em Anaximandro Walter Nascimento Neto
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que d incio filosofia: Aristteles indica Tales de Mileto como o iniciador da filosofia2.
J elaborei anteriormente um estudo3 que tenta mostrar como temerrio atribuir a Tales, a
partir do testemunho de Aristteles, o fato de ter iniciado o tipo de pensamento que
chamamos de filosofia e que teria posteriormente influenciado a tradio que se segue por
Anaximandro. Apesar das lacunas, temos mais elementos para traar o incio da filosofia a
partir de Anaximandro do que a partir de qualquer outro. No s pela ordem de sucesso
dos pensadores, conforme podemos reconstituir pelos testemunhos tardios, mas tambm, e
principalmente, pela fora de vinculao com o seu presente, inovao com seu passado e
sedimentao para o futuro com o qual os vestgios do pensamento de Anaximandro
brilham por baixo do emaranhado de citaes imprecisas e implcitos denunciantes.
Essa tambm a opinio de outros comentadores contemporneos. Segundo Kirk,
Raven e Schofiled4, de Anaximandro a primeira tentativa de que temos conhecimento
para explicar racionalmente a origem do homem e do mundo. Para Jaeger5 Anaximandro
no inicia apenas a filosofia, mas tambm a teologia. Burnet6 concorda com a originalidade
do seu pensamento.
Graham, por sua vez, no se fia tanto no que teria dito Anaximandro, mas mais no
mtodo de pesquisa empregado por ele. De acordo com Graham7, o mtodo de
Anaximandro permanece em uso em toda a filosofia pr-socrtica e antecipam os vrtices
de Descartes e os tomos de Newton como ecos de modelos antigos vindos da Jnia:
2ARISTTELES. Metafsica. 2. ed. v.2. So Paulo: Loyola, 2005, A3 983b20. 3NASCIMENTO-NETO, W. O ovo filosfico e a galinha de mileto: conjecturas sobre um incio. In: CORNELLI, G. BELCHIOR, M. L. (eds). Sobre as Origens da Filosofia: primeiros ensaios. So Paulo: Editora et cetera, 2010. 4KIRK, G. S; RAVEN, J. E.; SCHOFIELD, M. Os Filsofos Pr-Socrticos. 5. ed. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkin, 2005. p. 143. 5JAEGER, W. W. La Teologa de Los Primeros Filsofos Griegos. Mexico: FCE, 1952. 6BURNET, J. A aurora da Filosofia Grega. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006. 7GRAHAM, op. cit., p. 14-18
Sobre a noo de physis e suas Relaes com a polis em Anaximandro Walter Nascimento Neto
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(...) enquanto a cincia moderna no uma pura descendente da filosofia jnica, a
filosofia jnica permanece uma antecipao impressionante da cincia moderna e
inquestionavelmente serviu como inspirao e modelo para os cientistas da modernidade
nos seus comeos8.
Graham segue aqui o modelo paleontolgico9 (eu chamaria filogentico) sugerido
por Kahn10 segundo o qual seguir a continuidade do pensamento Jnico a partir de
Anaximandro como o trabalho de um paleontlogo ao seguir a filogenia de uma espcie
por meios dos fsseis. Trata-se mais de mostrar as semelhanas entre os pensadores e a
partir da indicar o provvel momento do surgimento da uma novidade do que dar valor s
diferenas. Tal mtodo tem a vantagem de apontar a fonte comum para a diversidade da
descendncia gentica na biologia e para a diversidade de formas de pensar que se
assemelham na histria do pensamento. Segundo Kahn11, se seguirmos a linha do
pensamento grego, das bifurcaes ao ponto comum, encontraremos Anaximandro como
figura central no sculo sexto, sendo provavelmente ele quem teria deitado as linhas a
partir das quais a cincia antiga se desenvolveu e de onde teria sado a filosofia da
natureza e o estudo do mundo natural grego com suas faces caractersticas.
Se estes autores esto corretos, o estudo do pensamento de Anaximandro no s nos
aponta uma origem para parte da nossa prpria cultura cientfica ocidental e seus problemas
correlatos (como a questo do conhecimento, da verdade, da religio e do pensamento
mtico, dos limites da cincia, etc.) como tambm podemos a partir dessa origem aventurar
compreender melhor o que desta origem permanece no modo como construmos uma
8GRAHAM, op. cit., p. 17. 9GRAHAM, op. cit., p. 14-18. 10KAHN, C. H. Anaximander and the Origins of Greek Cosmology. New York: Columbia University Press, 1960. p.5 11 Ibidem, p. 5
Sobre a noo de physis e suas Relaes com a polis em Anaximandro Walter Nascimento Neto
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determinada viso de mundo maneira de um rgo vestigial que, independentemente da
sua maior ou menor funcionalidade, se impe como pista de certo tipo de filiao
epistemolgica.
So objetivos deste trabalho:
1. Compreender o significado da palavra physis no contexto da filosofia pr-
socrtica;
2. Determinar quais as caractersticas da physis em Anaximandro;
3. Compreender como a estrutura poltica da polis influencia na estrutura da ideia
de natureza em Anaximandro.
Sobre a noo de physis e suas Relaes com a polis em Anaximandro Walter Nascimento Neto
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2. Sobre o conceito de physis Os chamados filsofos gregos pertencentes ao perodo anterior influncia de
Scrates so muitas vezes denominados em conjunto como filsofos da physis. Esta
denominao, em grande parte problemtica, remonta a Plato e Aristteles. So, no seu
conjunto, denominados desta forma porque seu objeto de especulao foi, em grande
medida, a natureza e a estrutura de gerao e manuteno do universo e os elementos
envolvidos neste processo. Mesmo divergindo em muito na sua maneira de explicar o
universo, estes filsofos guardam certa unidade programtica que reside primariamente na
investigao do cosmo e de sua natureza.
Embora escrever sobre os elementos cientficos seja sempre perigoso na medida em
que invoca o perigo da anacronicidade (com relao ao termo cincia) e da simplificao
(com relao ao fato de que est se colocando no mesmo grupo filsofos to diferentes
quanto Demcrito e os Pitagricos) no h dvida de que a razo da tradio tardia ter
afirmado que muitos desses pensadores escreveram livros com o ttulo Peri Physeous reside
no fato de que todos eles tinham algo em comum: todos pensaram a respeito da physis.
Dado o seu papel central como unificador do pensamento pr-socrtico, o conceito
de physis precisa ser significado no s no seu desenvolvimento, mas tambm no seu
sentido para aquele que, segundo Graham e Kahn12, comeou tudo: Anaximandro. O
problema aqui obviamente que, como no temos o texto original, mas apenas comentrios
feitos vrios sculos depois, torna-se extremamente arriscado tentar compreender o
significado da palavra physis no pensamento de Anaximandro. Apesar disso, a partir do
mtodo filogentico mencionado acima, pode-se tentar traar o significado aproximado
12 KAHN, op. cit.
Sobre a noo de physis e suas Relaes com a polis em Anaximandro Walter Nascimento Neto
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desse termo para Anaximandro a partir do que h de comum entre pensadores posteriores
do quais temos textos.
Segundo Hadot13, a palavra physis no seu uso mais antigo demonstra seu carter
relativo porque geralmente vem acompanhada de um genitivo (nascimento de,
caracterstica de). Empdocles e Parmnides falam, respectivamente, do nascimento das
coisas14 e do nascimento do ter15. Nos tratados hipocrticos a palavra physis tambm
usada no sentido daquilo que congnito a algo, que parte das coisas e relaciona-se com
sua gnese, aqui j seu sentido comea a ser alargado para abranger as caractersticas
prprias do ser, no sentido de um ser naturalmente concebido.
no sculo V a.e.c., na sofstica, no corpus hipocrtico, em Plato e posteriormente
em Aristteles que a palavra physis comear a tomar o seu sentido absoluto como algo
relacionado ao processo de formao da natureza no sentido abstrato e absoluto e no mais
desta ou daquela natureza no sentido concreto e relativo a uma coisa ou ao resultado deste
processo. Enquanto a physis dos pr-socrticos uma natureza (em portugus com a
primeira letra minscula), para a tradio a partir de Plato ela tambm a Natureza (com a
primeira letra maiscula). Digo tambm porque Plato e Aristteles usam a palavra physis
no seu sentido relativo em alguns casos, aqui significando a natureza de uma coisa, sua
essncia, e como palavra para caracterizar o objeto das pesquisas filosficas anteriores ao
movimento sofstico e socrtico. assim que no livro X das Leis16 Plato critica os que
opem o que produzido pelo crescimento espontneo (physei) o fogo, a gua, o ar e a
terra quilo que produzido pela arte e termina por se opor a physis. Da mesma forma, para
13HADOT, P. O Vu de sis: Ensaio sobre a Histria da ideia de natureza. Loyola: So Paulo, 2006. 14DIELS; KRANZ, op. cit., 31B8; KAHN, op. cit., p. 75. 15DIELS; KRANZ, op. cit., 31B10. 16PLATO. Leis. Lisboa: Edies 70, 2004,X 889B2.
Sobre a noo de physis e suas Relaes com a polis em Anaximandro Walter Nascimento Neto
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Aristteles cada ser possui uma physis concreta que prpria sua espcie e que o
princpio de seus movimentos naturais; ao mesmo tempo a Natureza tem uma arte prpria,
interior a ela mesma e que tem por finalidade tambm ela mesma de forma que ela age
como um sbio arteso que opera de modo racional e sem desperdcio por um mtodo
prprio17. Vemos assim o incio de uma personificao da ideia de natureza que ir atingir
seu pice no helenismo tardio estoico.
Aparentemente encontramos um problema no conceito relativo de natureza no
fragmento 123 de Herclito segundo o qual a (uma) natureza ama se ocultar18. Segundo
conta Digenes Larcio19 o livro de Herclito foi depositado exatamente no templo de
rtemis de feso que est associada deusa sis, deusa que representada, na antiguidade
e no Renascimento, com um vu.
Hadot20 procedeu a uma profunda anlise filolgica do significado da sentena de
Herclito. Segundo ele o verbo amar no deve ser entendido no seu sentido contemporneo,
como uma ao relacionada vontade, mas no sentido de uma tendncia natural ou
habitual21. Da mesma forma o sujeito physis no o conjunto dos fenmenos, mas pode
significar tanto (Hadot-1) a constituio ou natureza prpria de uma coisa quanto (Hadot-2)
o processo de gnese, aparecimento e crescimento desta coisa. Hadot22 argumenta que o
fragmento 123 de Herclito apontaria, numa primeira anlise, mais para o uso do
17ARISTTELES. Do Cu, I, 4, 271A33; II, 11, 291b12; Gerao dos animais, II, 6, 744A35; Partes dos animais II, 16, 659b35; III, 1, 662A18; II, 9, 655A23; III, 2, 663A16; IV, 5, 681A12 18DIELS; KRANZ, op. cit., 22B 123: . 19LARTIOS, D. Vida e Doutrina dos Filsofos Ilustres. 2. ed. Braslia: Editora UNB, 2008, IX 6. 20HADOT, op. cit. 21HERDOTO. Histria. Braslia: Universidade de Braslia, 1988, II, 27 DIELS; KRANZ, op. cit., 68B179. 22HADOT, op. cit., p. 27-28. 23DIELS; KRANZ, op. cit., 22B1: Distinguindo cada coisa segundo a natureza e explicando como cada um se comporta [(...) (...) .].
Sobre a noo de physis e suas Relaes com a polis em Anaximandro Walter Nascimento Neto
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substantivo por Herclito no primeiro sentido do que no segundo. Por sua vez o verbo
esconder (kriptein ou kriptesthai) parece se aplicar (A) ao sentido de algo que oculta ao
conhecimento, como revela o fragmento 9324, ou (B) ao sentido equivalente a sepultar
(kalyptein)25, pois a terra oculta o corpo assim como o vu oculta a face do morto, como no
verso 245-250 do Hiptilo de Eurpedes26.
Adotando o sentido 2 (processo de gnese) para a palavra physis, como usado por
Empdocles no fragmento 827 e por Parmnides no fragmento 1028 a traduo correta seria:
o processo de gnese das coisas tem a tendncia natural de se ocultar ao conhecimento.
Assim pode-se, conforme Hadot, sugerir como outra traduo a frase a seguinte: a
natureza de cada coisa tem a tendncia natural de se ocultar ao conhecimento. Se
entendemos kriptesthai como contrrio de physis no sentido 2 temos: o que faz nascer tem
o costume de fazer perecer, gerando uma oposio entre contrrios bem ao estilo do
pensamento geral de Herclito. Hadot afirma que esta ltima traduo seria a mais prxima
quilo que caracteriza o pensamento de Herclito29 na anttese entre vida e morte tambm
presente nos fragmentos 62, 20 e 4830 e com paralelos no Ajax de Sfocles31.
24DIELS; KRANZ, op. cit., 22B93: o senhor de quem o orculo, no diz nem oculta, mas assinala [ (...) ]. 25Calipso a deusa da morte. 26EURPEDES. Media, Hiplito, As Troianas. So Paulo: Jorge Zahar, 2003. Hiplito: 250: Cubro: mas quando a morte cubrir meu corpo (: ); 27DIELS; KRANZ, op. cit., 31B8: Digo-lhe outra coisa: nenhuma das coisas mortais gerada ( ). 28DIELS; KRANZ, op. cit., 28B10: Voc saberia a origem do ter, e todas as coisas no ter ( ). 29 De fato Hadot admite uma outra possibilidade com o sentido passivo (O que nasceu tem o costume de morrer) igualmente adequada ao pensamento de Herclito. 30 DIELS; KRANZ, op. cit., 22B62, 22B20 e 22B48. 31SOFOCLES. Prometeu Acorrentado, Ajax, Alceste. So Paulo: Jorge Zahar, 1993.
Sobre a noo de physis e suas Relaes com a polis em Anaximandro Walter Nascimento Neto
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Haidel32 sublinha o termo physis claramente designativo, em Plato de Aristteles,
do tipo de filosofia pr-socrtica33. Para Heidel, na linguagem filosfica grega a physis
significa aquilo que primrio, fundamental e persistente em oposio ao que secundrio,
derivativo e transiente, aquilo que est l desde o comeo, aquilo que se encontra por baixo
das coisas (hupokeimon).
Segundo Heidel, a palavra Physis pode assumir trs grandes grupos de significado
que se subdividem: (Heidel-1) Physis como processo; (Heidel-2) Physis como a causa de
um processo; (Heidel-3) Physis como a causa final ou eficiente de um processo. No
primeiro sentido, que parece servir melhor aos pr-socrticos, a palavra comporta dois
sentidos: (a) como um processo em sentido concreto; (b) como um processo em sentido
abstrato (lei, princpio ou fora).
Voltando a Anaximandro, Simplcio34 e Hiplito35 definem, respectivamente, o
apeiron de Anaximandro como sendo uma outra natureza ilimitada (
) e um princpio (arch) das coisas que existem e que tem uma natureza ilimitada
( ... ) que, em ltima instncia, gera os cus e o
mundo. A expresso uma outra natureza ( ) relacionada a Anaximandro
reaparece no livro da Fsica36. Entretanto, no livro da Fsica37, Aristteles usa outro
sentido para a palavra ao falar dos mundos infinitos (ideia relacionada a Anaximandro),
aqui aparece a expresso todos os objetos naturais ( ). No Do
32HEIDEL, W. A. "Peri physeos: A Study of the Conception of Nature among the Pre- Socratics. Proceedings of the American Academy of Arts and Sciences 45, 1910. 33ARISTTELES, Fsica. Livro 2, 193A21; PLATO, op. cit., 891-892C. 34DIELS; KRANZ, op. cit., 12A9 35DIELS; KRANZ, op. cit., 12A11 36ARISTTELES, Fsica, Livro 3, 4, 203 37Ibidem, Livro 9, 1 250b11
Sobre a noo de physis e suas Relaes com a polis em Anaximandro Walter Nascimento Neto
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Cu38, a respeito dos vrtices de Anaximandro, ocorre a expresso alguma espcie de
movimento natural ( ). De todas essas passagens as duas primeiras
so as que os comentadores contemporneos consideram as mais prximas do pensamento
de Anaximandro, tanto que de um trecho dessa sequencia de Simplcio de onde tirado
um dos trs nicos fragmentos conhecidos de Anaximandro. Tomando ento as expresses
de Simplcio e de Hiplito como as mais seguras, a physis em Anaximandro uma natureza
(sentido relativo), algo relacionado ao apeiron (a relao pode ser de adjetivao), mas
principalmente, algo a partir do qual gerado o mundo. Daqui, podemos ento assumir
tanto o sentido 1 (na medida em que o processo que gera o mundo) quanto o 2 de Heidel
(na medida em que aquilo a partir do qual surge o processo). Apenas com esses
fragmentos no se consegue chegar a uma concluso. a sequncia do livro de Hiplito39
que ir resolver a questo quando afirma que o apeiron envolve () tudo. Assim, tal
natureza no pode ser apenas a causa do mundo, que se destaca do mundo, mas deve
permanecer influenciando o mundo, pois o envolve. Ou seja, deve ser uma natureza que
em si mesma a gerao contnua das coisas, tal como um processo.
Do que precede segue-se que, se podemos saber algo sobre o sentido da palavra
physis para Anaximandro a partir do uso da palavra pelos pr-socrticos e pela tradio
posterior, a physis, no caso de Anaximandro, toma o sentido de processo (Hedeil-1) que
gera o cosmo, embora possamos aplicar tambm a ideia de processo gerador (Heidel-2),
desde que com a ressalva de que tal processo gera e mantm, aps a gerao, aquilo a que
deu origem. Ambos os sentidos podem ser assimilados ao sentido mais geral de Hadot
(Hadot-2).
38ARISTOTTELES, Do Cu, B13, 295a7. 39DIELS; KRANZ, op. cit., 12A11/12B2.
Sobre a noo de physis e suas Relaes com a polis em Anaximandro Walter Nascimento Neto
15
Esse sentido de natureza no permanece o mesmo nos outros pr-socrticos. De
acordo com Heidel40, na physis dos pr-socrticos todos os principais sentidos esto
combinados, de forma que o principal sentido era o de soma de todas as coisas (elementos,
processos e leis csmicas).
3. A physis de Anaximandro
3.1. Sobre a relao entre physis, arch e apeiron A origem do termo arch uma das grandes questes colocadas pelo estudo
filosfico da antiguidade. No existe nenhum fragmento pr-socrtico que utiliza essa
palavra at Digenes de Apolnia e Filolau e, segundo Graham41, mesmo nestes no parece
haver o uso tcnico empregado por Aristteles. A questo principal, segundo Graham,
que a noo que Aristteles d a essa palavra envolve a atribuio de ideias como a de um
ser imutvel ou essncia, que s surge explicitamente com Parmnides, ou a distino entre
uma coisa e suas propriedades que somente aparece em Plato. Burnet42 afirma que o termo
arch puramente aristotlico e foi usado pelos comentadores posteriores a Aristteles
devido sua afirmao na Fsica de que seus predecessores ou acreditavam em um arch
(monistas) ou em vrias archai (pluralistas). Heidel43 mostrou que talvez os cosmlogos
tenham usado o termo no sentido de origem de onde as coisas particulares tirariam sua
existncia. Barnes44 usa o verbo cognato () que significa comear, iniciar, reger ou
dirigir, guiar, para entender o significado da palavra substantivada como um incio ou
origem que tambm uma regra ou princpio diretor.
40HEIDEL, op cit. 41GRAHAM, D. W. The texts of early greek philosophy: the complete fragments and selected testimonies of major presocratics. 1.v. Cambridge: Cambridge University Press, 2010, p. 39. 42BURNET, op. cit., p. 28. 43HIEDEL, W. A. On Anaximander. Classical Philology 7, 1912, p.217. 44BARNES, J. Filsofos Pr-Socrticos. So Paulo: Martins Fontes, 2003, p.22.
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Segundo Simplcio45, Anaximandro teria dito que o ilimitado o princpio (arch) e
o elemento () dos seres, tendo sido o primeiro a introduzir esse nome (apeiron)
para o princpio material. Hiplito46, no entanto, diz que Anaximandro foi o primeiro a usar
o nome arch. Barnes47 a partir disso e com base em outras anlises filolgicas conclui que
a afirmao de Simplcio mais digna de confiana do que a de Hiplito, de forma que
Anaximandro deve ter sido o primeiro a usar o termo apeiron e no arch.
De qualquer forma, embora possamos duvidar do emprego tcnico do termo por
Anaximandro, podemos crer que Anaximandro tenha entendido o apeiron no sentido de
princpio apontado por Heidel. assim que podemos, ao ler o testemunho de Aristteles na
Fsica48, compreender que todas as coisas ou so um princpio () ou derivam de um
princpio, mas o apeiron no tem um princpio, porque, caso contrrio, ele seria limitado
pelo princpio. Seguindo Aristteles, o apeiron no vem a ser nem deixa de existir porque
um princpio. Ou seja, o apeiron arch, como em Digenes Larcio49.
Entendida qual a relao entre o apeiron e arch, podemos ver mais de perto a
relao entre o apeiron e a physis. Na seo acima vimos que Simplcio e Hiplito definem
o apeiron como uma outra natureza ilimitada e um princpio das coisas que existem. Se
seguirmos o uso que esses dois comentadores do aos trs termos notamos claramente que a
physis em Anaximandro apeiron (ilimitada) e que essa physis arch. Segundo Spinelli50
o apeiron um predicativo da physis, uma qualidade desta que a arch de todas as coisas.
Segundo Spinelli, para Anaximandro, arch aquilo de onde a gerao procede para as
45DIELS; KRANZ, op. cit., 12A9; 46DIELS; KRANZ, op. cit., 12A11. 47BARNES, op. cit., nota 58, p. 89 48DIELS; KRANZ, op. cit., 12A15 49DIELS; KRANZ, op. cit., 12A1: . 50SPINELLI, M. Filsofos Pr-Socrticos: primeiros mestres da Filosofia e da cincia. 2. Ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003, p. 25.
Sobre a noo de physis e suas Relaes com a polis em Anaximandro Walter Nascimento Neto
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coisas que so e, tambm, aquilo que as coisas so e que tudo compreende ou que em si
contm, sendo o apeiron a expresso terica dessa compreenso51. Para o mesmo autor52 a
arch um princpio ordenador do qual a physis sua explicitao. Todas as coisas que
existem tm um princpio (arch) constitutivo da sua existncia, e que esse princpio a sua
natureza (physeos), ou seja, aquilo que no processo de gerao se conserva inaltervel53.
Tudo o que existe ao se mover do nascimento morte est submetido a um princpio que o
mantm sempre o mesmo, desde o comeo ao fim de sua gerao. At os deuses, segundo
Anaximandro, citado por Ccero54, estavam submetido gerao.
Assim, a physis de Anaximandro apeiron (adjetivado) ou o apeiron
(substantivado).
3.2. O apeiron Segundo Digenes Larcio55 o princpio e elemento de Anaximandro o apeiron. O
problema inicialmente colocado o de como traduzir o apeiron. Diels-Krans56 o traduziu
como ilimitado e indefinido; Kirk, Raven e Schofield57 como indefinido; Bornheim58 como
ilimitado e Spineli59 como indeterminado e indefinido do ponto de vista epistemolgico e
como ilimitado do ponto de vista ontolgico.
De todas essas tentativas, a de Spineli, que segue a de Diels-Krans, a que melhor
representa o elemento mnimo comum deixado pela tradio recente e que melhor se
adequa a outras citaes da tradio antiga. Tal elemento mnimo comum o de que tanto
51SPINELLI, op. cit., p.80. 52Ibidem, p. 35. 53Ibidem, p. 21. 54DIELS; KRANZ, op. cit., 12A17. 55DIELS; KRANZ, op. cit., 12A1. 56DIELS; KRANZ, op. cit. 57KIRK; RAVEN; SCHOFIELD, op. cit. 58BORNHEIM, G. A. Os filsofos pr-socrticos. So Paulo, Cultrix, 1998. 59SPINELLI, op. cit., p.72.
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do ponto de vista epistemolgico como ontolgico, a natureza do elemento gerado da
Natureza no abarcvel na sua totalidade. Se a tentativa epistemolgica, o apeiron deixa
mais lacunas do que preenchimentos ao no se deixar determinar. Se, por outro lado, a
tentativa ontolgica, no mbito da imaginao, a figura do apeiron que tudo envolve
maior do que a figura do prprio mundo, portanto ilimitado.
O prprio Digenes Larcio no comentrio acima registra a lacuna epistemolgica
deixada por Anaximandro. Segundo ele, Anaximandro no precisou se o apeiron o ar, a
gua ou outra coisa. Para Spinelli60, a ausncia dessa informao a primeira caracterstica
do apeiron, ou seja, sua indefinio que designa a sua indeterminao e que expressa a
carncia de um elemento perceptvel.
Spinelli afirma que o apeiron no um ente, mas apenas um termo predicativo do
princpio de Anaximandro, termo esse que evoca algo que se confunde com a ordem
natural, sem poder ser delimitado com um isto, na medida em que no se assemelha a
nenhuma espcie de matria do mundo61. pois, a expresso de uma carncia emprica de
algo que participa da constituio de todas as coisas.
Kirk, Raven e Schofield62, argumentam que no h certeza de que o prprio
Anaximandro pretendesse que o apeiron significasse exatamente o infinito. Os autores
colocam em questo se teria sido possvel a Anaximandro pensar o infinito antes das
interrogaes sobre a extenso e a divisibilidade feitas por Melisso e Zeno. provvel
ento, dizem os autores, que Anaximandro tenha tomado o sentido pr-existente, de algo
60Ibidem, p. 72. 61KIRK; RAVEN; SCHOFIELD, op. cit., p. 109. 62Ibidem, p. 109.
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19
sem fronteiras, sem limites, sem definio, algo de um carter espacial indefinido, como
ocorre no emprego da palavra em Homero63 e em Xenfanes64.
Daniel Graham65 cita quatro significados para o apeiron: (1) aquilo que no pode
ser atravessado66; (2) o ilimitado, mesmo que no tenha sido esse o sentido original pelos
motivos mencionados por Kirk; Raven e Schofield acima; (3) indeterminado; (4)
matematicamente infinito. Graham discorda que o apeiron possa significar temporalmente
ilimitado, pois a palavra apeiron nunca aparece para designar caractersticas temporais da
arch.
Ainda segundo Graham67, ao contrrio do que sugere Aristteles68, o ilimitado no
uma matria que gera as coisas do mundo, mas aquela coisa original da qual surge toda a
matria sem ser ela mesma uma matria do mundo, e que, alm de gerar, tambm envolve o
mundo como uma matriz. alguma coisa espacialmente ilimitada que existe por fora do
cosmos e que envolve e mantm o mundo69. A palavra coisa aqui s aparece por falta de
outra melhor, porque no se trata obviamente de uma coisa material, extensiva, mas de um
algo que penetra to profundamente na metafsica de Anaximandro que se recusa ao
manuseio da linguagem.
Como visto, o mundo no apeiron, mas gerado e mantido por ele. A manuteno
do mundo feita pela propriedade de envolver e ordenar que provm do apeiron. A
63HOMERO. Ilada. Trad. de Haroldo de Campos. 2v. So Paulo: Arx, 2002, I 350: Oceano infinito. 64DIELS; KRANZ, op. cit., 21B28: a terra desce indefinidamente (es apeiron) 65GRAHAM, 2006, p.29-30. 66Aqui ele se baseia em KAHN, op. cit., p. 231-239. 67GRAHAM, 2006, p. 33. 68STROKES, 1971 One and many in Presocratic Philosophy. Washington: Center fo Hellenic Studies.Citado em GRAHAM, 2006, p. 33. 69GRAHAM, 2006, p. 42.
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20
propriedade de envolvimento nos vem de Hiplito no fragmento acima mencionado70 e o
ordenamento nos chega atravs do comentrio de Simplcio71 segundo o qual o apeiron a
mesma coisa de onde saem as coisas e onde elas so, no fim, destrudas segundo a
necessidade e como punio injustia que comentem segundo a ordem do tempo.
Aristteles tambm aponta para essas duas caractersticas quando diz que o apeiron o
princpio de todas as outras coisas e que ele as envolve e dirige72.
Uma vez que o apeiron no est no mundo, a fora que provm dele e que, no
mundo, dirige-o deve ser outra que no exatamente o ilimitado. Essa fora , segundo
Simplcio73 e Aristteles74, a separao dos contrrios pelo movimento eterno. Segundo
Graham75 o que existe no nosso mundo no o ilimitado em si mesmo, mas os contrrios76.
Esses contrrios esto em conflito entre si fazendo da morte de um a vida de outro em
trocas cclicas, como a o calor do vero que sucede o frio do inverno. Em todo caso, o
ilimitado a fonte do mundo, mas no o seu substrato.
A explicao da permanncia do ilimitado fora do mundo vm de Aristteles77.
Segundo ele para que a gerao fosse contnua no mundo teria que haver uma fonte infinita
e produtos finitos, visto que, sendo as coisas do mundo limitadas, elas podem manter o
ciclo de destruio e gerao a partir da ordem imposta por algo ilimitado. Se fossem as
coisas ilimitadas, um contrrio se sobreporia ao outro e o destruiria completamente
70DIELS; KRANZ, op. cit., 12A11/12B2. 71DIELS; KRANZ, op. cit., 12A9/12B1. 72DIELS; KRANZ, op. cit., 12B3. 73DIELS; KRANZ, op. cit., 12A9/DK12B1 74ARISTTELES, Fsica, 187A12-16, 20-23 75GRAHAM, 2006, p. 42. 76Graham entende que os contrrios possam ser corpos elementares caracterizados por qualidades contrrias. 77ARISTTELES, Fsica, 208A8.
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impedindo a continuidade do ciclo e do mundo. Se o ilimitado fosse limitado seu efeito
poderia ser sobrepujado por aquilo que ele gera, dando fim ordem imposta por ele.
Na Fsica78, Aristteles afirma que Anaximandro e outros como ele acreditavam que
os contrrios existiam no () Ilimitado. Na Metafsica79 ele sustenta que no Ilimitado
existia uma mistura dos elementos. Kirk, Raven e Schofield80 acreditam que no temos,
como Aristteles, o direito de supor que os contrrios existiam no Ilimitado e se separaram
fora dele. Segundo estes autores, o Ilimitado no fora claramente definido e analisado por
Anaximandro embora provvel que seus efeitos sobre seus produtos paream ter sido.
Simplcio, em outra passagem81, afirma que, para Anaximandro, a causa do movimento e
da gerao nica, de forma que os contrrios s poderia existir fora do Ilimitado.
Diferente dos elementos do mundo, o apeiron tambm deve ser imaterial. O
problema que a Metafsica82 atribui uma tradio que comea em Tales segundo a qual h
apenas uma substncia da qual tudo surge e desaparece, de forma que no h criao de
coisas novas, apenas surgimento de elementos da fonte inicial (arch) e, o mais importante,
que essa fonte inicial material. Essa concepo a respeito da tradio pr-socrtica
chamada de Monismo Material. Aqueles filsofos que acreditaram em um nico princpio
material so monistas e os que acreditaram em vrios princpios materiais so pluralistas.
Anaximandro s vezes caracterizado por Aristteles como monista83 e s vezes como
pluralista84.
78ARISTTELES, Fsica, A4 187a20. 79ARISTTELES, Metafsica, 1 1069b20. 80KIRK; RAVEN; SCHOFIELD, op. cit., p. 130. 81DIELS; KRANZ, op. cit., 12A9a. 82ARISTTELES, Metafsica, 983b6-13; b17-21; 984a5-7. 83Ibidem, loc. cit. 84DIELS; KRANZ, op. cit., 12A16.
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Segundo Spinelli85 a afirmao de Aristteles no exclui a existncia de princpios
imateriais no empricos, alm dos materiais. Graham86 mostra evidncias de que essa
especfica tradio, que afirma que alguns pr-socrticos eram monistas materiais, e que
tem dois mil e trezentos anos, pode estar equivocada. No objetivo deste trabalho retomar
a argumentao de Graham, mas apenas apontar suas concluses. Graham prope a
substituio da concepo de Monismo Material pela Teoria Substncia Geradora (GST).
De acordo com esta, alguns dos primeiros filsofos, aqui claramente includo
Anaximandro, acreditavam em uma substncia original que num certo momento era a nica
coisa no Universo e que depois gera outras substncias que no so idnticas a ela e que,
por sua vez, morrem e geram outras substncias, sem que a substncia original perea ou
perca sua influncia sobre as substncias derivadas. Para Graham o apeiron uma
substncia geradora, imaterial, e imortal.
3.3. A origem poltica da physis Kirk, Raven e Schofield87 afirmam que Anaximandro quem pela primeira vez
coloca no jogo filosfico o conceito de substncias naturais contrrias. Esse conceito
reaparece depois em Herclito, Parmnides, Empdocles, Anaxgoras e nos pitagricos
desde Alcmon. Para esses autores, o conceito de intercmbio entre substncias contrrias
tem origem em uma metfora legalista derivada da sociedade humana. Assim como nos
conflitos humanos mediados por algum tipo de lei, a prevalncia de uma substncia sobre a
outra uma injustia, e a reao daquela injustiada sobre a que cometeu a injustia a
aplicao de um castigo, que recompe a igualdade perdida temporariamente at que uma
85SPINELLI, op. cit., p. 22. 86GRAHAM, 2006, p. 50-65. 87KIRK; RAVEN; SCHOFIELD, op. cit., p. 119.
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nova injustia seja cometida, dando continuidade ao processo que mantm a mudana sob o
comando de um ideal de justia.
Para Vernant88 o apeiron exerce um tipo de governo baseado na ideia de justia
sobre os elementos contrrios. Tal governo, salienta Vernant, no , entretanto, comparvel
a uma monarquia, como a que Zeus exerce sobre os deuses em Hesodo, ou a gua e o ar
entre outros filsofos pr-socrticos. Para Vernant o apeiron soberano maneira de uma
lei comum que impe a todos os elementos uma mesma justia (), mantendo cada
poder nos limites de seu domnio. O apeiron retira o domnio () dos elementos e o
concentra a partir de fora, de uma instncia extra-conflito, fora do mundo dos contrrios,
como a justia social que, embora exercida por um dos elementos do corpo social (o juiz)
deve permanecer acima deste e submet-lo s mesmas regras com as quais este julga89. A
gua em Tales ou o ar em Anaxmenes so retornos ao modelo monrquico, pois neles,
um dos elementos que detm o poder sobre os outros iguais. Segundo Vernant90, o que
envolve e domina todas as coisas no um dos elementos, mas algo diferente destes,
deixando todos os elementos em posio de igualdade de fora91 ( ).
Nenhum elemento monopoliza o kratos, pois o apeiron garante a permanncia e a ordem
igualitria em que as foras opostas se equilibram de forma que se uma domina em um
momento a outra dominar no seguinte pela interveno do castigo segundo a ordem do
tempo. Da o sentido eminentemente legalista do fragmento de Anaximandro92: pois
pagam castigo e retribuio umas s outras, pela injustia, de acordo com o decreto do
88VERNANT, J. P. Mito e Pensamento entre os Gregos. 2. ed. So Paulo: Paz e Terra, 1990, p. 280. 89O testemunho 17 (DK 12A17) citado acima relembra essa regra, de tal forma que at os deuses esto submetidos. 90VERNANT, op. cit., p. 277. 91ARISTTELES. Meteorologia, 340a16;KAHN, op. cit., p.187. 92DIELS; KRANZ, op. cit., 12A9/ 12B1.
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Tempo93. Ainda segundo Vernant94 o apeiron o fundo comum a todas as realidades, o
koinn.
De acordo com Kahn95 as primeiras civilizaes no tinham a noo de uma
separao entre Natureza e Sociedade. Poseidon representa a ordem do mar, mas tambm
luta contra Troia junto com os homens; Zeus lana o trovo, mas tambm pune os que
cometem perjrio. O conceito de mundo como cosmos no qual a metfora legalista aparece
data de um perodo no qual a controvrsia entre nomos e physis do sculo V ainda no tinha
se estabelecido separando os dois mbitos. Era ento natural e fcil para Anaximandro
transferir termos como justia (), castigo () e ordem () do seu uso social para
um uso mais amplo que inclui no apenas os homens e os seres vivos, mas corpos celestes e
poderes elementares tambm.
Esse tipo de metfora no permanece apenas em Anaximandro, mas ir estimular
outras formulaes em pr-socrticos posteriores. Herclito fez da Guerra o pai de todos 96
e Alcmeon97 definiu a sade como distribuio igualitria de poderes opostos, cujo excesso
ou monarquia a causa da doena. Segundo Kahn98, o uso dos opostos em explicaes
causais, como conhecido em Herclito e Alcmeon, deriva menos da noo de opostos
presente em Hesodo99 do que da nova forma de ver o mundo surgida da cosmologia
milsica, especialmente a de Anaximandro. A emergncia de opostos deriva da necessidade
de separao () e implica a emergncia do diferente, que sempre conflituoso, e
que tem que ser estabilizado pela lei comum.
93 94VERNANT, op. cit., p. 279. 95KAHN, op. cit., p. 192. 96DIELS; KRANZ, op. cit., 22B53. 97DIELS; KRANZ, op. cit., 24B4. 9898KAHN, op. cit., p. 159. 99HESODO. Teogonia. Trad. de Jaa Torrano. So Paulo: Editora Iluminuras, 1991, 1. 24.
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Alm disso, a ideia de uma justia igualitria e comum envolve uma das
formulaes mais impressionantes de Anaximandro: a de um cosmo geomtrico. Segundo
Kahn100, se no h a supremacia de um dos elementos existe ento uma igualdade de poder
que representa uma relao geomtrica que junta quantidades diferentes numa proporo
comum ( ).
Segundo o testemunho de Aristteles101 e de Hiplito102 a Terra se mantm imvel,
suspensa no ar, num certo equilbrio () pelo fato de estar a igual distncia de
todas as coisas. A terra est situada no meio ( ) e no dominada por nenhum
poder ( ). Vernant103 afirma que para Anaximandro a centralidade
da terra significa sua autonomia sobre qualquer outro poder. Herdoto104 conta que por
ocasio da morte do tirano Polcrates de Samos, o sucessor que ele havia designado,
Maindrio, recusa tomar o poder, decidindo depor o poder () no centro ( ),
proclamando a isonomia. Para Vernant105, esse paralelismo no vocabulrio parece
confirmar a hiptese de que a nova imagem esfrica do mundo tornou-se possvel pela
elaborao de uma nova imagem de sociedade. O geometrismo dessa nova imagem de
mundo parece ter sido modelado a partir da imagem que a cidade tinha de si mesma106, por
meio de um vocabulrio poltico (, , ) que exprimia as instituies
cvicas.
Esse arqutipo geomtrico do qual os legisladores colocam a cidade e os filsofos
da physis o mundo separa dois mundos: o mundo monrquico dos mitos do mundo
100KAHN, op. cit., p. 186-188. 101DIELS; KRANZ, op. cit., 12A26. 102DIELS; KRANZ, op. cit., 12A11. 103VERNANT, op. cit., p. 255. 104HERDOTO, op. cit., III, 142. 105VERNANT, op. cit., p. 255. 106VERNANT, op. cit., p. 262.
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democrtico da filosofia. Segundo Vernant107, a cidade estabelece a gora como seu centro.
A gora surge do juntar as tropas ( ) da Ilada108, o reunir o exrcito em crculo
num espao em que se d um debate poltico, como quando Telmaco rene a aristocracia
militar de taca e falando-lhes se coloca no meio da gora ( )109 no qual todos
tem o direito palavra (). Na sociedade mtica o rei est acima e o universo da
cidade composto de degraus ascendentes, nessa nova concepo o universo da cidade
composto por relaes igualitrias e reversveis baseadas no equilbrio, na simetria e a na
reciprocidade. A imagem de mundo que os jnios propem radicalmente diferente da que
existia antes no tempo de Homero ou de Hesodo110. Em Homero e Hesodo a terra um
disco achatado contornado pelo rio Oceano, tendo abaixo de si as razes e o mundo
subterrneo desordenado, acima o espao dos imortais em todas as direes a ausncia de
homogeneidade, as diferenas estruturais e de proporo. Para Anaximandro, ao contrrio,
a terra se encontra no meio do cosmo, estando distncia igual de todos os pontos ela no
tem razo para se mover em nenhuma direo. As direes no tem valor absoluto, o que
est acima tem a mesma caracterstica do que est abaixo.
Talvez aqui encontremos mais um dos condicionantes do surgimento da filosofia.
Segundo Vernant111, embora fencios e babilnicos tivessem sido to comerciantes quanto
os gregos, em nenhum deles encontramos uma gora porque, para que ela exista,
necessrio que existam condies para o debate pblico. De Slon a Clstenes, a cidade
adquire, no decorrer do sculo VI, a forma de um cosmo circular, centrado na gora112. A
107VERNANT, op. cit., p. 252. 108HOMERO, op. cit., 16.129. 109HOMERO. Odisseia. Trad. de Trajano Vieira. So Paulo: Editora 34, 2011, canto 2. 37. 110VERNANT, op. cit., p. 246. 111VERNANT, op. cit., p. 252. 112VERNANT, op. cit., p. 480.
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imagem de um mundo social regulamentado pela isonomia encontrada em Anaximandro
projetada no universo fsico. As primeiras filosofias da Jnia refletem essa atmosfera de
isonomia geomtrica em sua cosmologia. Ainda que o ideal democrtico s tenha realmente
se concretizado na Atenas do sculo V, a instituio gora j registrada na Ilada113 e na
Odissia114.
O ideal geomtrico da gora no s ir fornecer elementos para a cosmologia, mas
tambm permitir o desenvolvimento desta por meio do debate de ideias, pois as diversas
cosmologias iro se tornar, na gora, objeto de debate e se prestar crtica e controvrsia,
de modo que o as regras do jogo poltico impor-se-o como regras do jogo intelectual115 e
permitiro a formao de escolas e a disseminao do trabalho filosfico.
Tal concepo geomtrica no ficar, obviamente, restrita filosofia milsia, mas
ir repercutir no equilbrio de opostos de Anaxgoras116; nas duas formas simtricas que
preenchem a esfera de Parmnides117; na equidade de propores comuns entre os
elementos de Herclito118; na igualdade dos elementos em todas as direes de
Empdocles119; e concepo platnica120 de cosmos como equidade geomtrica. Para
Kahn121 difcil ver de onde tal concepo de um cosmos geomtrico saiu, se no da
Mileto do sec VI de onde todas as escolas filosficas gregas saram.
113HOMERO, 2002, 2.93. 114HOMERO, 2011, 2.69. 115VERNANT, op. cit., p. .481. 116DIELS; KRANZ, op. cit., 59B3/59B5. 117DIELS; KRANZ, op. cit., 28B9.4 118KAHN, op. cit., p. 188. 119DIELS; KRANZ, op. cit., 31B17.19-27. 120PLATO. Grgias, 508. 121KAHN, op. cit., p. 188.
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4. Concluses Vimos que o incio da filosofia, encarnado na figura de Anaximandro, guarda
relaes antecipadoras com o que entendemos hoje como Cincia Moderna. Anaximandro
no apenas o primeiro de que temos notcia a iniciar o questionamento no mitolgico
sobre o nosso lugar no mundo, sobre a prpria existncia e permanncia do universo e
sobre as foras naturais ou teolgicas colaboram nessa permanncia.
Tais questes rementem ideia de uma natureza de cada uma das coisas (sentido
relativo) ou de todas as coisas em seu conjunto (sentido absoluto), algo envolvido com a
prpria gnese dos elementos e que, de alguma forma, neles permanece aps a gerao
como uma fora interna ordenadora. Essa ideia, a de uma physis, aglutinadora e
unificadora de tendncias no que chamamos de filosofia Pr-socrtica e se relaciona
semanticamente com outros conceitos importantes nesse tipo de filosofia como o de
princpio (arch) e o de ilimitado (apeiron).
Anaximandro, no seu papel de iniciador, relaciona a physis de onde o universo
provm com a ideia de um algo que resiste compreenso de sua totalidade, uma ideia
relacionada com a de infinito ou ilimitado que abraa e penetra todas as coisas. Alm disso,
e mais importante para esse trabalho, tal ideia no apenas envolve, mas no seu papel de
arch tambm ordena e dirige o funcionamento do universo, a partir de fora, como instncia
extra-mundo.
na sua presena como ordenador e regulador extra-mundo que a tendncia
naturalista encontra a metfora social e a sociedade passa a servir de molde para a
compreenso do cosmos. Muito antes da separao contempornea entre o mbito natural e
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o social, resumida na crtica de Hume122 falcia naturalista, a physis naturalista emula as
regras e conflitos sociais.
A tenso dos elementos naturais contrrios espelha a tenso das foras sociais em
conflitos, a guerra do nascer e perecer dos elementos recebe o modelo de explicao da
conflito da diferena, que surge nas relaes scias toda vez que a identidade teima em no
se apresentar123 . ento que a tenso precisa ser apaziguada para que a ordem surja a
partir do eminente caos. No mbito social a ordem surge entre os elementos contrrios
atravs do pacto no qual cada elemento cede parte de seu poder a uma instncia que se
coloque acima dos deles. Essa instncia no pode pertencer ao pacto, por isso deve assumir
a figura do extra-humano, o Leviat de Thomas Hobbes124. Por isso, trata-se mais de um
pacto no modelo Hobbesiano do que no modelo de Rousseau125, porque neste o estado de
natureza no conflituoso, apenas o estado social o , enquanto que no mbito dos
contrrios de Anaximandro a diferena gentica e o conflito parte do funcionamento e da
existncia do mundo.
O apeiron de Anaximandro arch porque governo, como o a figura do
magistrado (arconte arch-onte) nas cidades gregas. O seu domnio, por sua prpria
natureza, ilimitado (es apeiron). Da mesma forma com que o juiz deve fazer surgir a
justia na sociedade o apeiron faz surgir a justia no universo, com a diferena que o juiz,
enquanto elemento social, deve invocar princpios aos quais ele mesmo est submetido
enquanto o apeiron no est submetido.
122HUME, D. Tratado da Natureza Humana. Lisboa, Fundao Calouste Gulbenkian, 2001. 123LEVINAS, E. Totalidade e Infinito. Lisboa: Edies 70, 2000. 124HOBBES, T. Leviat. So Paulo: Ed. Martin Claret, 2006. 125ROUSSEAU, J. J. O Contrato Social. So Paulo: Martins Fontes, 1999.
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A sociedade que transformada em espelho para que a natureza se mostre para
Anaximandro, no aquela estratificada pela monarquia, mas aquela geometrizada em
equidistncias cujo centro o debate pblico agortico e que prenuncia e mantm a
democracia grega. A prpria noo de debate invoca a de conflito, por exemplo, no debate
falamos em derrubar, derrotar, destruir a ideia do oponente.
Assim, o nascimento da filosofia em Anaximandro reflexo de uma nova forma de
sociedade que comea a surgir no Egeu do sculo VI. Foi pela oportunidade de se espelhar
em um outro tipo de forma de controle social que os gregos desse perodo conseguiram
projetar no mundo natural uma nova forma de explicar o mundo.
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VERNANT, J. P. Mito e Pensamento entre os Gregos. 2. ed. So Paulo: Paz e Terra, 1990.
1. Introduo2. Sobre o conceito de physis3. A physis de Anaximandro3.1. Sobre a relao entre physis, arch e apeiron3.2. O apeiron3.3. A origem poltica da physis
4. Concluses5. Referncias